No capítulo 1 que se refere a violência no Islamismo, os autores fazem uma análise sobre a história e a tradição da religião islâmica, dentro do contexto das guerras santas, no que abrange a violência e tendo como base referencial o Alcorão. O que nos propõe uma reflexão sobre como e porque impacta as sociedades nos dias atuais. Começa-se abordando como a representação das notícias de “grupos islâmicos” nos veículos de informação carrega o estigma da violência, provocando um receio na população do ocidente e muitas vezes ocasiona uma noção generalizada e equivocada a respeito do Islamismo. No processo de formação desta religião não havia uma unicidade religiosa, na qual houve desconfianças e resistências, devido a diversidade de crenças das tribos locais. No entanto, naquela região, em Meca já se acreditava em um Deus Alá, que todos seria descendentes de Abraão e foi a ideia que orientou a fundação da religião Islâmica por Maomé. Este teria tido uma visão em que o anjo Gabriel lhe teria revelado a sua missão profética. Quando iniciou a sua pregação religiosa, Maomé foi expulso de Meca e depois de um tempo retornou, foi quando se iniciou a primeira expedição mulçumana. Dentro deste contexto, percebemos a necessidade da religião islâmica se autoafirmar e se impor como uma religião. Vale ressaltar a propagação do nacionalismo, foi importante para a consolidação do sentimento que muitas vezes resguardavam a identidade, cultura e a tradição do povo árabe. Segundo os autores este mesmo nacionalismo que se preservava a ideia de união, foi se alterando e perdendo sua essência, gerando um nacionalismo que exclui, que gera preconceitos, que impõe, que legitima a violência. Claramente foi se deturpando da ideia inicial. Na religião islâmica o alcorão, serve como constituição, lei moral e civil para os mulçumanos, e é uma forte característica de como há uma relação intrínseca entre religião e a política. Neste livro sagrado, são abordadas diversas narrativas que servem de ensinamento para seus seguidores. Segundo os autores, é um livro passivo de diversas interpretações, que podem ser consideradas muitas vezes confusas contraditórias, porque os versículos e narrativas contidos neles não podem ser analisados ao pé da letra, separado da sua cadeia histórica, pois poderão ser passivos de equívocos. No caso da mulher, muitas vezes eleva-se sua dignidade e em outras as limitam e as mantêm submissas aos seus esposos. Porém, cabe lembrar que a situação de submissão da mulher naquela época, vai além do pensamento islâmico, é uma herança da sociedade patriarcal em que estavam inseridas e consequentemente estas características, estão presentes em outras religiões também. Contudo, o islamismo ainda tentava ser um proposta de evolução do pensamento humano em relação a dignidade de mulher. No alcorão, a figura de Deus aparece como ser misericordioso, mas também violento. Neste livro sagrado, se aborda como algumas leis podem parecer justificar ou legitimar ações violentas de cunho pedagógico, ou seja, transmitindo um ensinamento, o Deus que ensina é o mesmo que pune. Porém, esse caráter pedagógico sobre o uso da força, também foi sendo deturpado, instituindo assim um fundamentalismo e uma violência gratuita, até mesmo por sentimentos pessoais ou para manutenção do poder, desvirtuando assim, da intenção primária do profeta e do próprio Alcorão. É importante salientar que é muito complexo pegar um versículo isolado do alcorão isolado do contexto histórico para aplica-lo. De acordo com os autores, na origem do Islã, o profeta priorizava a justiça social e considerava esta de valor moral superior à defesa da propriedade, o que não possui nenhuma preponderância nos dias atuais. No que concerne a Tolerância com outras religiões, o Alcorão não proibia e enfatizava o pagamento do tributo, nos territórios. Pregava tanto o Cristianismo quanto o Judaísmo como sendo verdadeiras religiões reveladas. A respeito da guerra santa, é definida como jihad, embora não seja o termo mais adequado. Sendo o grande Jihad o esforço individual, autoconhecimento para se manter dentro dos limites do Alcorão. E o Pequeno Jihad, que tem embasamento na defesa e expansão da religião. Levando em consideração o momento histórico que surgiu, a violência fez parte do seu processo de consolidação e hoje grupos, como o Estado Islâmico, se apropriam da interpretação que querem muitas vezes equivocadas para legitimar suas ações.