Você está na página 1de 54

1

Para adquirir a imersão eixo


com 4 mil reais de desconto

clique aqui

2
“Estamos quase que anestesiados pelo
dia-a-dia, anestesiados pelos afazeres:
acordamos, trabalhamos, cuidamos dos
filhos, vamos ao culto, à missa, à igreja.

No fundo parece haver uma desconfiança,


uma certa instabilidade, uma certa euforia,
uma euforia reacional e reativa de quem
sabe que não tem um eixo, de quem sabe
que não tem um centro, e precisa dar uma
justificativa muito periférica e secundária
para a própria vida. Isso é uma das grandes
tragédias do ser humano.”

i ta l o m a r s i l i

3
4
índice
O segundo dia da sua morte............................. 7

exercício......................................................... 25
resumo............................................................. 26

Sua ferramenta de aperfeiçoamento


se chama trabalho.......................................... 28

exercício ......................................................... 42
resumo............................................................. 43

5
6
I

O segundo dia da
sua morte.

7
Nos anos de experiência do meu consultó-
rio, que não foram poucos (quase dez anos aten-
dendo pessoas todos os dias, ouvindo histórias
de alegria, de sofrimento, de desejo), uma gran-
de parte dessas histórias — aqui teremos de
falar claramente com todo o amor do mundo,
mas não poderemos atenuar certas questões
se quisermos percorrer o itinerário que pre-
tendemos percorrer ao longo destes dois dias
aqui no Eixo — era de pessoas perdidas.

Perdidas em que sentido?

Muitas vezes não no sentido profissional,


porque eu atendia gente que tinha emprego.
Não também no sentido familiar, porque eu
atendia gente que tinha família. Nem sequer
estou falando no sentido religioso, porque eu
atendia gente que já praticava sua religião a sé-
rio havia muitos anos. Atendi, inclusive, muitas
freiras e sacerdotes. Atendi profissionais mui-
to bem-sucedidos, mães de famílias às vezes
numerosas, pessoas sem nenhum problema

8
de traição. Mas elas eram perdidas num senti-
do quase inominado, num sentido que não se
pode dizer ao certo, num sentido impalpável,
por assim dizer.

Não digo que seja o caso de cada um de vo-


cês, porém foi o caso de muita gente que eu
encontrei ali. Isso às vezes não era percebido
no primeiro momento justamente porque nós
estávamos quase que anestesiados pelo dia-a-
-dia, anestesiados pelos afazeres: acordamos,
trabalhamos, cuidamos dos filhos, vamos ao
culto, à missa, à igreja. No fundo parecia haver
uma desconfiança, certa instabilidade, cer-
ta euforia, uma euforia reacional e reativa de
quem sabe que não tem um eixo, de quem sabe
que não tem um centro, e precisa dar uma jus-
tificativa muita periférica e secundária para a
própria vida. Isso é uma das grandes tragédias
do ser humano, sem querer ser alguém que co-
meça de modo pessimista, falando as coisas
ruins da vida, mas eu preciso pontuar esses as-
suntos.

A primeira coisa que eu quero que vocês

9
anotem — e logo agora de manhã eu vou pro-
por um exercício — é algo que eu via muito
claramente no consultório: essa falta de eixo,
essa queda, sobretudo essa queda, essa falta de
centro é do tamanho do nosso orgulho, ela é do
tamanho da nossa soberba. Isso é importante
vocês anotarem e vai na contramão de grande
parte do que ouvimos hoje dos nossos colegas
muito bem intencionados. Olha, hoje não é dia
de falar mal de ninguém, de entrar em comba-
te com ninguém, não é isso. Hoje é dia de fazer-
mos um mergulho absolutamente mais pro-
fundo, então precisaremos tocar em lugares de
fato mais profundos.

Existe certa euforia no tratamento do que


é a vida humana quando precisamos afirmar,
reafirmar e afirmar novamente de modo his-
térico que somos maravilhosos, que somos ca-
pazes. Eu ouço muitos colegas tanto da área
da psicologia como da área do coach dizerem
para jamais falarmos palavras negativas sobre
nós mesmos, porque isso atrai coisas ruins, e
isso fica muito no campo da superstição. O que
eu encontrei em dez anos de trabalho sério no

10
meu consultório é exatamente o inverso, exa-
tamente o oposto. E, na verdade, a antropolo-
gia tradicional e as técnicas de ascética tanto
religiosas quanto profanas nos indicam que, se
desconhecemos o tamanho do nosso orgulho,
o tamanho da nossa soberba, a queda sempre
será muito grande.

Que queda é essa? Essa queda é o que cha-


mamos no final das contas de sofrimento. E
que sofrimento é esse? O sofrimento muitas
vezes é difuso, sem nome, como que um bolo —
e desculpem-me o exemplo vulgar e trivial —,
um bolo coberto por chantili, por um glacê ou
por uma pasta americana, [que seriam na rea-
lidade uma cobertura] de dinheiro, de alegria,
de euforia, de felicidade, de família bonita.
Mas no fundo sabemos que falta alguma coisa.
E aqui eu não quero provocar falando que falta
algo na vida de vocês, porque vocês podem es-
tar muito seguros de que não falta nada.

Este, então, é o primeiro exercício, sem o


qual não podemos continuar, e eu já vou di-
zer qual é. Nós aqui já começamos a visualizar

11
alguns pontos: quanto maior o orgulho de si,
quanto maior a soberba de si, quanto maior o
desconhecimento de si, mais grave, mais pro-
fundo será o sofrimento, mais desorientado
na vida você estará, por mais que você tenha
uma orientação externa. E tudo o que eu quero
evitar aqui, nestes dois dias em que estaremos
bastante unidos, é certa superficialidade, uma
histeria, uma euforia. Eu estarei com vocês fa-
zendo os mesmos exercícios. O que eu quero
evitar aqui é essa dispersão mental que mise-
ravelmente — anotem isso — pode se prolon-
gar por toda uma vida.

Se temos um dia disperso, não há problema,


faz parte do jogo: haverá um dia em que acor-
daremos com dor de cabeça, em outro com dor
de barriga, em outro em que estaremos muito
preocupados com nossas contas bancárias. O
meu grande medo e o meu trabalho sobretu-
do dentro do consultório é fazer com que não
acordássemos assim todos os dias, porque se
acordarmos assim todos os dias no fim de uma
vida inteira teremos uma vida dispersa.

12
Então, aqui vai o primeiro exercício, que
é doloroso, estranho e desanimador no pri-
meiro momento. Mas não comecem com essa
bobeira de querer animação a todo instante
— desculpem-me falar assim claramente —,
não estamos no show da Xuxa, nós não somos
as paquitas, querendo animação e alegria. Nós
queremos uma coisa muito séria da vida, e te-
remos de descobrir que coisa séria é essa, que
por enquanto tem nome abstrato para alguns;
para outros sequer tem nome. Para as pessoas
que são religiosas isso seria conhecer a Deus.
Para as que não são religiosas seria deixar um
legado, encontrar a felicidade. Neste momento
não importa. Eu quero que essa resposta seja
dada de modo consistente no último dia ou
mesmo ao longo dos nossos encontros.

O nosso primeiro exercício é doloroso, e


muitos de vocês terão uma rejeição por dois
motivos. Primeiro, porque é repugnante mes-
mo. Segundo, porque pode ser traumático. Mas
eu preciso que vocês façam o itinerário que eu
propus muitas vezes para muitas pessoas no
consultório. Eu não sei se vocês estão com papel

13
e lápis na mão, ou se vão usar o evernote, mas
precisamos de uma base para fazer anotações.
O primeiro exercício é repugnante porque pre-
cisaremos nos imaginar no segundo dia após a
nossa morte, e eu vou fazer isso também.

Apesar de vocês me verem muitas vezes no


Instagram, no YouTube, um pouco mais expan-
sivo, falador, eu preciso de algum modo me co-
locar em silêncio para produzir algum material
escrito. Existem aquelas pessoas que são mais
sangüíneas e precisam produzir escrevendo e
depois têm de corrigir o texto. Isso não faz di-
ferença nenhuma aqui, não temos um itinerá-
rio necessário, cada um pode fazer de um jeito.
Fiquem comigo agora. Como vamos fazer isso?
Eu vou dizer o modo que eu vou fazer e depois
o modo como vocês podem fazer.

Vamos precisar pensar muito seriamente


no segundo dia da nossa morte. E eu não que-
ro que pensemos na morte do ponto de vista
metafísico, do ponto de vista religioso, niilista,
do sentido; vamos fazer uma coisa muita mais
crua, muito mais cruel, muito mais repugnan-

14
te.

Nós vamos pensar no nosso corpo e só no


nosso corpo.

Vamos pensar em como estaremos no se-


gundo dia. Em geral, no segundo dia ainda es-
taremos sendo velados e preparados para ser-
mos enterrados. Ou estaremos no crematório,
ou na capela mortuária com os nossos familia-
res e amigos. Dependendo da vida que levamos,
estaremos mesmo sozinhos com uma alma ca-
ridosa da pastoral daquelas senhoras que fi-
cam nos cemitérios velando os cadáveres sem
família, as pessoas que foram inúteis, de quem
ninguém foi se despedir. Nós vamos imaginar
nosso corpo morto e vamos escrever sobre ele.
E para que isso possa ser feito, vamos nos olhar
no espelho antes. E eu recomendo vocês se
olharem no espelho sem blusa, não nus, senão
seria algo muito cruel, muito cru.

O primeiro exercício é tirar a blusa, ficar com


o rosto descoberto e olhar-se por um tempo no
espelho. Olhando para a cor dos nossos olhos,

15
para a tez da nossa pele, para as nossas veias —
se olharmos bem, veremos veias que aparecem
nos braços —, para os nossos peitos — alguns
homens têm pêlos, outros não, as mulheres
têm os seios e a vascularidade que aparece. E
façam esse exercício calmamente, procurando
os traços de vida, as rugas. Vamos fazer como
na semiologia médica: vamos começar da ca-
beça para baixo. Vamos olhar para o cabelo, se
já está caindo ou não, para essa cara que Deus
nos deu. Vamos olhar para a nossa testa, para
os traços que revelam a nossa história. As pes-
soas mais novas do grupo ainda não têm essas
pautas na testa, as pessoas mais avançadas já
as apresentam na testa. Depois as nossas so-
brancelhas. E algumas mulheres vão olhar a
falsidade de suas sobrancelhas, porque são
pigmentadas. Depois os cílios, e algumas mu-
lheres vão ver a falsidade dos próprios cílios,
porque estão esticados fio a fio. A rugas aqui
em baixo [dos olhos], a ponto do nariz, a boca
e os dentes, se são verdadeiros, se são falsos, se
estão amarelados — os meus dentes de baixo
estão absolutamente nojentos e pigmentados
pelo charuto —, depois a barba, o pescoço, e

16
continuando a descer e a olhar.

Para que nós vamos nos olhar? Trata-se de


um ato de vaidade? Não. É porque faremos um
segundo movimento. Nós vamos nos olhar vi-
vos fisicamente. E aqui está o ponto. Lembram-
-se de que eu falei que, quanto maior a soberba,
quanto mais alto o nosso orgulho, mais difícil
será encontrarmos o nosso eixo? Enquanto
nos olhamos pode entrar na nossa mente uma
série de pensamentos confusos sobre a nossa
beleza, sobre a imperfeição do nosso corpo. E
no segundo movimento mataremos esse orgu-
lho, essa soberba, essa vaidade.

Eu recomendo vocês fazerem isso por no


máximo cinco minutos, porque é muito difícil
nos concentrarmos no nosso próprio corpo.
Novamente, não fiquem nus nesse primeiro
momento, não quero que vocês fiquem sem a
parte de baixo da roupa, só sem a blusa. Ok?
Olhem-se no espelho por cinco minutos, pro-
curando-se, encontrando-se. Vistam-se, colo-
quem a blusa de novo, vão até a mesa de vocês
e aí entra a parte repugnante e terrível da his-

17
tória, que é se imaginar deitado naquela caixa
somente um pouquinho maior que nós. E aqui
começa a parte produtiva do exercício.

Esse talvez seja o exercício mais difícil no


sentido literário do nosso programa, depois
eles se tornarão um pouco mais concretos. Mas
eu preciso desse primeiro exercício literário. O
que eu estou chamando de exercício literário?
Vocês vão escrever sobre vocês, mas não é para
falar ainda sobre os seus sonhos, suas frustra-
ções, sobre quem vocês não foram. Vocês vão
se imaginar no segundo dia de sua morte, por
comparação, a cor do seu rosto, a cor do seu lá-
bio, a sua expressão, se seus olhos estão incha-
dos, fechados ou não. Para quê? Para que todos
nós, sem nenhum tipo de vaidade ou soberba,
encontremos nesse primeiro momento do eixo
o limite material de nossas vidas.

Relembrem aquele princípio: se não conhe-


cemos o limite, não conhecemos a coisa. Se eu
não conheço os limites materiais do celular
que está na minha mão, eu não tenho nenhum
celular, eu tenho uma fantasia. Se não conhe-

18
cemos o limite, não conhecemos a coisa. E aqui
estamos fazendo uma construção desde baixo
até chegarmos ao limite para superior para po-
dermos tocar no eixo. Então, eu não virei com
fanfarras nem com palavras de auto-afirma-
ção. Nós usaremos as técnicas que eu empre-
guei no consultório por quase dez anos e essas,
sim, dão resultados. E aqui serão muito mais
expressivas.

Não esperem sair daqui sem dor, não espe-


rem não chorar ou não ter uma crise no meio
do nosso programa. Vocês precisam confiar e
continuar, porque é assim mesmo. Provavel-
mente isso vai acontecer comigo também. O
nosso primeiro momento é de limite, porque é
muito difícil — prestem atenção nisto aqui! —
que nós consigamos tocar no sentido se esta-
mos muito apegados às riquezas. E eu sequer
estou falando das riquezas materiais: não estou
falando do seu carro, do seu apartamento, da
sua bolsa Prada. Quando falamos de riqueza,
como falam também as Sagradas Escrituras,
que é mais fácil um camelo passar pelo bura-
co de uma agulha do que o rico entrar no reino

19
dos céus, não estamos falando de dinheiro.

A primeira riqueza com a qual podemos nos


confundir é a riqueza viva que vemos no espe-
lho. Porque o limite final de sua vida será frio,
amarelado, fedido e repugnante. Então, para
começar, o apego a essa riqueza, que a maior
parte das pessoas chama de vida, mas daqui a
pouco veremos que a vida não é isso, o apego
ao sangue circulando, vamos colocar assim,
é o primeiro obstáculo que nos impede de ter
uma visão clara sobre o sentido, sobre o eixo,
sobre nós mesmos. Esse é o primeiro exercí-
cio. Vamos olhar o sangue circulando, a nossa
coloração, e vamos nos esvaziar desse sangue
circulando, nos esvaziar desse ar trocado nos
nossos pulmões. Porque é muito difícil entrar
no reino do sentido para aqueles que confiam
na própria riqueza. E eu estou falando de mim
também, não só de vocês. Quando confiamos
nessa riqueza, como fica difícil entrar no reino
do sentido!

É necessário passar por certa expiação, não


me referindo a sofrimento, mas a esse tirar o

20
sangue, olharmo-nos mortos no caixão. Esse é
o primeiro movimento. E nós vamos narrar tal
experiência. Vocês vão precisar fazer isso lite-
rariamente. Alguns vão me falar que são enge-
nheiros, que há anos não escrevem um texto
cursivo, escrevem só números, que não sabem
escrever mais, que são matemáticos, que só es-
crevem fórmulas. Vocês vão ter de tentar fazer
isso para mim. Vocês podem fazer isso tanto
desde dentro — o que seria pior — como desde
fora. Façam desde fora, é mais fácil do ponto de
vista literário.

Esse “desde dentro” e “desde fora” significa


que vocês podem fazer a narração como se es-
tivessem percebendo a morte dentro de si ou
podem narrar como se fosse um primo seu que
está lá os observando. Escrevam um texto de
dois ou três parágrafos. Como vocês estão ali?
Porque a primeira riqueza que precisaremos
nos livrar para chegarmos ao reino do sentido
é a riqueza do sangue circulando. Nós morre-
mos, e ou a vida faz sentido diante da morte
ou não faz sentido absolutamente. O primeiro
confronto é esse.

21
Assim começamos o Eixo, a nossa provoca-
ção: o encontro do limite material, a expiação
no sangue, a comparação do seu corpo vivo com
o seu corpo morto, para ele se instalar no rei-
no do sentido. Nós todos aqui vamos fazer isso,
eu também vou. Mais uma vez eu reitero: não
sei se perceberam com essa primeira pancada
do dia, eu vou precisar idealmente que vocês
fiquem em silêncio ao longo da nossa jornada.
Vocês vão conseguir? Vamos tentar ficar em si-
lêncio. Eu não gostaria que vocês tentassem, e
sim que vocês realmente ficassem em silêncio.
Se vocês encontrarem o incômodo do silêncio,
não cedam neste primeiro momento. Parem
para pensar: esta é só a nossa primeira inter-
venção, teremos várias outras. Não sei se todo
mundo se atentou para o fato de que teremos
um encontro de madrugada, então será um dia
desgastante. Vocês vão reparar que o trabalho
intelectual é o mais desgastante que existe,
mais ainda que o físico. Saímos mais cansados
do trabalho intelectual do que do trabalho físi-
co. Provavelmente sairemos daqui mais cansa-
dos do que se corrêssemos uma maratona.

22
As pessoas estão me perguntando se podem
fumar. Podem sim, podem tomar um banho
também se quiserem. Eu peço somente um es-
pírito de recolhimento, então não dá para fa-
zer atividade física, ir para a academia, pois
ficaria muito difícil de fazer silêncio. Vocês po-
dem achar que duas horas e meia é muito tem-
po para esse exercício, mas não é. Se quiserem
fazer o exercício direito, esse tempo não será
suficiente.

Vamos lá, é o nosso primeiro exercício, nem


sempre haverá exercício, às vezes eu vou pas-
sar uma leitura, uma reflexão, mas agora eu
preciso que vocês produzam um texto. Se vo-
cês se sentirem seguros e confortáveis, podem
mandar o texto para mim, que eu vou lê-lo. Al-
gumas pessoas não vão se sentir seguras e con-
fortáveis por mil motivos, mas aqui obviamen-
te temos o compromisso total com a discrição
e segurança. Nada disso será usado para coisa
nenhuma. Somente eu vou ler. Mas não é obri-
gatório enviar, somente quem quiser mesmo.

23
Então encerramos aqui a nossa primeira in-
tervenção. Fiquem com Deus.

24
25
exercício

Olhar-se sem camisa no espelho, reparando


nos traços, nas feições, na cor da pele, na cor
dos olhos, em tudo o que dá sensação de vivo.
Depois imaginar-se no segundo dia após sua
morte e, por comparação, escrever como você
está no caixão. Escrever detalhadamente o que
você vê em ambos os casos.

26
resumo

Os sofrimentos das pessoas são, geralmen-


te, reflexos da falta de sentido, de um eixo em
sua vida. Para alcançarmos um eixo, para ter-
mos um sentido íntimo e próprio para a nos-
sa vida é preciso nos livramos do apego a toda
e qualquer riqueza deste mundo. E a primei-
ra riqueza, a riqueza mais basal com a qual
podemos nos distrair é a do sangue que cir-
cula em nós, a riqueza do corpo humano.

Neste primeiro momento, para nos livrarmos


dessa amarra, é proposto um exercício para to-
marmos consciência da limitação dessa rique-
za primeira e nos desapegarmos de qualquer
orgulho, de qualquer vaidade e de qualquer so-
berba, que nos puxam e nos impedem de ter-
mos um eixo.

27
28
II

Sua ferramenta de
aperfeiçoamento
se chama trabalho.

29
O O ponto central da vida humana é o que
fazemos, que é chamado de trabalho. O nosso
segundo exercício é bastante prático e direto:
eu preciso que vocês simplesmente escrevam
mais uma vez — lembrem-se que será um es-
forço e depois eu lhes darei um retorno sobre
isso também — no que vocês trabalham. A pri-
meira coisa é simples assim.

Como vamos conduzir isso? Da seguinte


forma: se a sua formação for de contador, mas
você trabalha fazendo brownie, então escreva
sua formação e com o que você trabalha. Tão
simples quanto isso. Agora vamos investigar
um pouco a natureza do trabalho. Eu já falei
isso em outro lugar, aqui vamos nos aprofun-
dar para não nos enganarmos.

O trabalho ocupa, via de regra, na vida de


uma pessoa normal em torno de 70% do dia.
Então, ou alcançamos um sentido profundo e
próprio do trabalho ou seremos pessoas muito
frustradas na vida. Encontraremos uma falta

30
de sentido absoluto em quase tudo que fizer-
mos. Assim, das duas uma: ou você está muito
satisfeito com o seu trabalho ou você está total-
mente insatisfeito com ele.

A partir de hoje, para mim e para vocês isso


vai se tornar algo irrelevante, porque acabamos
de fazer o exercício anterior da morte. Enten-
dam: quase tudo nesta vida tem um elemento
profundo de ilusão psíquica. O que é a ilusão
psíquica? Trata-se de um conjunto de proje-
ções que fazemos na nossa cabeça, baseadas
em muito poucas coisas da realidade, baseadas
em um desejo romântico que jamais vai acon-
tecer. É muito duro declarar isso, mas aconte-
ce em vários domínios [da vida]. Falaremos dos
outros domínios daqui a pouco, porém no tra-
balho isso é muito comum. A pessoa que lar-
gou o emprego público porque tinha o sonho
de empreender. Tudo bem. Entretanto isso é
o que menos importa na vida. O que importa
no final das contas para encontrarmos o eixo
e para que saiamos daqui de algum modo anti-
frágeis... O que é o antifrágil?

31
Antifrágil é um conceito, do qual eu gos-
to apesar de ser um pouco vulgar, do profes-
sor Nassim Taleb, que tem um livro chamado
Antifrágil. Na obra ele diz que, independente-
mente do caos instalado na vida, algumas pes-
soas melhoram. E por que isso acontece? Por
que, quanto mais caos, quanto mais confusão,
quanto mais porrada, quanto mais complica-
ção, mais a pessoa melhora? Por que uns são
assim e outros são exatamente o contrário? Só
há um único motivo para uma pessoa ser as-
sim,:a pessoa antifrágil não olha mais o mundo
com ilusões, ela já entendeu que neste mundo
existe uma casca de confusão, de bagunça, de
instabilidade, de falsidade e já não está mais
apegada a isso, ela está apegada a uma outra
dimensão. Então, independentemente do caos
que haja aqui, ela está atada a outro lugar.

O primeiro exercício que faz com que al-


guém se torne antifrágil é o de um trabalho re-
alizado com sentido. Qual o sentido do traba-
lho? Não importa se você está desempregado, o
que importa é que todo mundo deve trabalhar.
Alguém pode dizer que não trabalha ainda, só

32
estuda. Olha, estudar é um trabalho. Outra pes-
soa pode dizer também que não trabalha por-
que resolveu cuidar da casa, dos filhos, do ma-
rido. Como assim você não trabalha? Não diga
isso! Você é a pessoa que mais trabalha neste
grupo aqui. E se você não trabalha [direito],
shame on you! Você deveria estar trabalhando
[melhor]. O estudante também que não estuda
direito, só mais ou menos, shame on you! Ou-
tra pessoa ainda pode dizer que tem emprego,
mas não trabalha direito também.

Então, primeira coisa que vocês têm de fa-


zer, não importa a ocupação, seja estudante,
seja dona de casa, seja um emprego que você
tenha de sair de casa, é escrever que vão tra-
balhar todos os dias por meia hora como vocês
nunca trabalharam em toda a sua vida. Então,
vocês vão aprender a dividir o seu tempo, por-
que vocês são iguais a mim há uns anos atrás.
Fazemos as coisas meio confusos, sem dar re-
sultado e acabamos nos perdendo. Imaginem
que vocês são psicólogos, vão pegar meia hora
de um paciente e estarão totalmente ali, com
presença total no seu trabalho.

33
Alguém pode me falar que não está me enten-
dendo porque é dona de casa. Você está enten-
dendo, sim. Você tem suas atividades: arrumar
a casa, organizar as coisas dos filhos, fazer as
comprar. Por meia hora você estará totalmen-
te ali, sem WhatsApp, sem Instagram, o que é
muito difícil para nós hoje em dia. Sem pensar
em outra tarefa, vocês estarão focados no tra-
balho. É por muito tempo? Não. Vocês podem
colocar no despertador meia hora. É assim que
se conquista a vida.

Agora, imaginem fazendo isso por um ano,


aumentando cinco minutos por dia. Vocês se
tornarão imbatíveis no fim do ano, porque vo-
cês vão conseguir trabalhar oito horas por dia
mesmo. E uma pessoa que trabalha mesmo
oito horas por dia encontra um tremendo sen-
tido para a vida dela, porque nada lhe escapou.
Algumas pessoas aqui foram meus alunos pre-
senciais e me viram dar aula durante oito, dez
horas. Isso não se conquista do dia para a noi-
te, isso leva anos de treinamento.

34
Então façam o seguinte: vocês vão escrever
a sua formação, o que vocês fazem. Depois vão
escrever se estão pensando em mudar de tra-
balho, se estão satisfeitos ou não. E agora come-
ça o nosso exercício, o exercício da sinceridade
total. Vocês vão escrever o quão sério estão le-
vando o seu trabalho.

Eu não quero aquelas técnicas vulgares, por


exemplo, de pontos fortes, pontos fracos. Isso
não nos interessa, vocês já sabem fazer isso.
Aqui estamos dentro de uma imersão narrati-
va, algo que tem muito mais força e poder se
for bem conduzido dentro desse ambiente de
recolhimento. Este meu trabalho é analítico de
aprofundamento para podermos sair daqui, de
fato, com outra força muito diferenciada.

Quando vocês escreverem se pensam em


trocar de trabalho, vocês vão me dizer também
o quão dedicados são no emprego atual. Uma
questão que pode surgir é alguém falar que não
é dedicado ao trabalho porque não gosta dele.
Desculpem-me, mas isso não existe. Nós não
gostamos daquilo que não dominamos ou da-

35
quilo que não estamos fazendo seriamente. So-
mos capazes de gostar de qualquer coisa, desde
que vire uma chave, e é essa chave que eu quero
que vire agora na cabeça de vocês.

Deixem-me falar algo maluco para vocês:


nós somos capazes de gostar de um campo de
concentração. E quando eu falo gostar, enten-
dam, não é aceitar, não é se resignar, é gostar
mesmo daquela realidade. Essa é a virtude do
antifrágil, a capacidade de gostar de qualquer
coisa. Isso não tem nada a ver com comodismo,
vocês vão entender daqui a pouco. Seremos o
contrário do comodista, o contrário do resig-
nado, o contrário do cordeirinho, o contrário
do que aceita qualquer coisa, o contrário do
que acha bom estar na miséria, seremos o con-
trário disso tudo. Só que muitas vezes nós par-
timos daí, ou nos afundamos aí. E uma das cha-
ves para virar é essa meia hora de atenção total
no seu trabalho.

Então, qual o nosso trabalho hoje no Eixo?


O nosso trabalho aqui é de aprofundamento e
imersão. Eu espero que ninguém aqui tenha

36
entrado para descansar, para tirar férias. Te-
mos de sair daqui moídos, cansados, extenua-
dos, nervosos se for o caso, mas que tenhamos
trabalhado.

Então, o nosso exercício é uma narrativa ana-


lítica sobre o trabalho de lembrança, de memó-
ria. Por que vocês vão escrever isso sobre o seu
trabalho? Para que, quando vocês forem tra-
balhar, vocês se lembrem de que a maior parte
das vezes que vocês rejeitam o seu trabalho não
tem a ver com o trabalho em si, tem a ver consi-
go. E é uma falsa ilusão — porque existem ilu-
sões verdadeiras e profundamente poderosas
—; é uma ilusão falsa uma pessoa querer mu-
dar de trabalho sem ter se dedicado realmente
a ele. Há problema querer mudar de trabalho?
Nenhum. Mas vocês têm de ser minimamente
honestos. E aí reside o ponto de frustração de
muitas pessoas.

Não há problema nenhum em vocês que-


rerem mudar de trabalho, desde que por dois
ou três anos tenham trabalhado presentes ali,
muitas horas presentes, especializando-se, fa-

37
zendo o que vocês têm de fazer. Isso serve para
tudo. Agora eu quero que vocês sejam honestos
comigo: vocês têm trabalhado direito?

O trabalho tem algumas funções. O traba-


lho tem de ser uma ocasião de encontro com
a virtude. Melhorar por meio do trabalho. Se
vocês querem ser antifrágeis e seu trabalho é
chato, vocês vão dar glória a Deus, porque se o
seu trabalho é chato ele vai lhes dar a virtude
da paciência. Se o seu trabalho é agitado, olha
que bom, ele vai lhes dar as virtudes da tempe-
rança e da calma. Se o seu trabalho é com lou-
cos, que coisa boa, ele vai lhes dar as virtudes
da centralidade e da sabedoria. Então, isso é o
que vocês vão pegar do seu trabalho: qual o de-
safio dele? Ele é monótono? Ele é agitado? Ele é
difícil? Vocês vão escrever isso do seu trabalho
e apontar do outro lado a sua reclamação, que
é a reclamação da vida: “eu não quero deixar
de ser preguiçoso”, “eu não quero deixar de ser
mole”, “eu não quero deixar de ser irado”, “eu
não quero deixar de ser sensual”. Essa é a luta.

Porque o trabalho dói? Porque a primeira

38
ocasião de encontro do homem com o trabalho
é aquilo o que nossas avós já falavam: o traba-
lho dignifica o homem. Essa primeira ocasião
é a melhora pessoal que o trabalho realiza em
nós, e é por isso que o trabalho incomoda. O
trabalho denuncia que temos de sair do ponto
A e ir para o ponto B. E isso incomoda, porque
muitas vezes nós queríamos somente ganhar o
nosso dinheiro. Mas essa é uma visão muito er-
rada, o trabalho tem pouco a ver com dinheiro.
Às vezes até ganhamos dinheiro trabalhando,
mas não é uma regra. Se vocês solucionarem
isso que eu acabei de explicar, em quatro ou
cinco anos estarão ganhando dinheiro.

O segundo ponto do trabalho é melhorar os


outros por meio do próprio trabalho. Não so-
mente nos melhorar. Em relação a nós é muito
óbvio quando é posto desse jeito que eu estou
falando. E quando eu digo os outros, eu não me
refiro somente ao cliente, ao paciente, mas so-
bretudo às pessoas que estão do nosso lado. E
não faz nenhuma diferença estarmos de qua-
rentena. No nosso trabalho podemos ligar
para os nossos parceiros, para os nossos ami-

39
gos, para os fornecedores. Façam uma ligação
de vídeo. E agora eu vou passar um script bem
simples.

Não achem que eu vou lhes passar exercí-


cios que vocês não vão conseguir fazer. Eu es-
tou aqui para facilitar a vida de vocês, porque
a maioria das pessoas se enrola por não saber
o que falar quando liga para um sócio, para um
amigo, para o chefe, para o subordinado. Vão
ligar para quê? O script é simplesmente as-
sim: vocês vão fazer a chamada de vídeo, a li-
gação vai começar e vocês vão dizer “Oi, fula-
no, tudo bem? Estou te ligando para saber se
está tudo bem contigo. Está precisando de al-
guma coisa?”. Entenderam ou não? É simples
assim. É isso que estabelece vínculo e conexão.
Não existe nada de mirabolante na vida ― pou-
cas coisas, na verdade. Sigam tais conselhos.
Abram o WhatsApp, façam a ligação por vídeo,
perguntem se a pessoa precisa de algo, de algu-
ma ajuda.

Entendam: a pessoa do outro lado não está


prova é perguntar se fazem isso com você. As

40
pessoas ligam do nada e perguntam como você
está, se você está precisando de alguma coisa?
As pessoas fazem isso com vocês? Não. Então
isso não é trivial, não é simples. Isso é um cari-
nho brutal. Olha, isso resolve a vida da pessoa
que está do outro lado, ela vai ficar surpresa,
sem reação. Entenderam a função do trabalho?
Se a dona de casa me falar de novo que não tra-
balha, eu vou lhe esmagar com um abraço vir-
tual. Você trabalha! Então, você vai ligar para
aquela amiga sua que tem o mesmo trabalho
que você, mas não é para fazer fofoca, ficar fa-
lando mal dos maridos, do preço da carne, é
para fazer a pergunta do script que eu dei. E se
essa pessoa para quem você perguntou se pre-
cisa de ajuda disser que precisa? Aí você a aju-
da, caramba! É aí que a história fica boa.

Evitem mandar mensagem. Mandem men-


sagem só para perguntar se vocês podem ligar.
A pessoa vai pensar que vocês querem algum
favor, mas vocês oferecerão ajuda. Olhem a di-
mensão superior do trabalho. E se a pessoa estu-
dar? É a mesma história, porque a pessoa pode
estar com uma dúvida que você pode sanar. Vo-

41
cês podem ser mais específicos também, per-
guntando se a pessoa precisa de alguma ajuda
no trabalho dela. Agora, há trabalhos com mui-
ta demanda, que lhes deixam muito ocupados.
Essa é parte passiva do trabalho, que vocês têm
de estar presentes. E há a outra parte, que é a
que vocês vão atrás do trabalho, em que vocês
querem melhorar sobretudo os seus colegas, o
seu chefe, não os clientes, não os pacientes. Isso
é um desafio. Só que a primeira vez que vocês
fizerem isso, vocês resolveram o problema do
trabalho. Com isso o trabalho encaixa na sua
vida. Isso faz a chave virar. Isso não tem a ver
com familiares e amigos, de quem tratarei de-
pois. Coragem! Anotem, ponham isso na agen-
da. Isso precisa se tornar uma atividade diária.

Durante este segundo exercício, eu preciso


que vocês fiquem mesmo em silêncio, sem se
dispersarem com WhatsApp, com Instagram.
Façam a lista dos desafios do seu trabalho e do
que vocês têm de conquistar. E façam também
a lista da semana para quem vocês vão ligar,
com quem vocês se preocupam, com quem vo-
cês deveriam se preocupar. E o que é isso tudo?

42
Com isso estamos saindo de nós mesmos. En-
contramos sentido para a vida fora da substân-
cia confusa que é o nosso peito e a nossa cabe-
ça, ela vai ficando robusta, antifrágil. Qualquer
situação de caos se torna benévola para nós.

Encerramos por aqui, pessoal.


Fiquem com Deus.

43
exercício

Escrever a sua formação e o seu trabalho.


Listar os desafios existentes no trabalho e con-
trapô-los com as virtudes alcançadas pela su-
peração deles.

Escrever se você está satisfeito ou não com o


seu trabalho, o quão dedicado você é a ele. Por
último, fazer outra lista de pessoas relaciona-
das ao seu trabalho para quem você ligará.

44
resumo

Um trabalho normal ocupa um tempo con-


siderável da vida de uma pessoa. É preciso en-
tão que ela encontre um significado profundo
e verdadeiro nessa atividade, senão ela se frus-
trará. A chave para encontrar esse significado
da vida no trabalho não é gostar ou não do que
se faz, mas dedicar-se integral e realmente a
ele. Claro que isso é gradativo: começa-se con-
centrando-se profundamente por meia hora
e aumenta-se a cada dia. Com essa concentra-
ção, você passará a ter uma vida cada vez com
menos dispersão e se tornará um antifrágil, ou
seja, alguém que não se deixa levar por ilusões,
que não se abala com a confusão do mundo,
com o caos ao seu redor.
O trabalho serve para o melhoramento pes-
soal não somente seu, mas de quem vive ao seu
redor também. Seu, quando você supera os de-
safios imposto por ele e conquista certas virtu-
des.

45
Das outras pessoas, quando você toma pos-
se da parte ativa do trabalho e busca ajudar os
seus colegas sendo-lhes solícitos, ligando para
eles todos os dias e perguntando se eles preci-
sam de ajuda em algo.

46
47
Estes foram os primeiros dois passos de
uma escalada de 12 degraus, que é feita
em 2 dias e 1 madrugada, naquilo que eu
chamei de imersão eixo.

A escalada completa é a seguinte:

48
49
Quem fez essa escalada, transformou o
sofrimento em tesão de viver,
e diz o seguinte:

50
“Depois que você termina o
curso e olha pro valor dele, o
investimento fica insignificante.“
GISELE

51
“Eu tô recomendando esse
curso para todo mundo! Eu tô
entrando na quinta década da
minha vida e já fiz curso pra
cacete e esse curso do Eixo é o
melhor que eu já fiz.

Não é um curso, é uma


transformação.“

TARCÍSIO

52
“Eu já fiz vários retiros de silêncio
e fui para o Eixo com uma
expectativa enorme. Realmente,
é algo que vai muito além e
realmente algo muito maior. (...)
Você vai colher os frutos dessa
imersão por muito tempo!

STEFANO

53
Se você também quer
encontrar o eixo da sua vida
e transformar o sofrimento
em tesão de viver usando
uma técnica comprovada
e usada desde CEO’s de
grandes empresas à mães
de família, inscreva-se
hoje numa das turmas da
imersão eixo

clique aqui

54

Você também pode gostar