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Preâmbulo 

As presentes normas estabelecem as regras gerais da Fase Intermunicipal do Concurso Nacional de 
Leitura (CNL) da Comunidade Intermunicipal do Oeste, organizada pelo município de Arruda dos 
Vinhos ‐ Biblioteca Municipal Irene Lisboa, a ter lugar no dia 14 de abril de 2021, pelas 10:00, as 
provas escritas (online), e no dia 16 de abril de 2021, pelas 10:00, as provas orais (online). 

1. Objetivos 

A  fase  intermunicipal  do  CNL  destina‐se  a  apurar  2  alunos,  por  cada  nível  de  ensino,  para 
participarem na fase final deste concurso. 

2. Condições gerais de participação 

A participação na Fase Intermunicipal do CNL está aberta a todos os alunos, de todos os níveis de 
ensino, apurados pelas bibliotecas municipais da RIBO, da Comunidade Intermunicipal do Oeste, e 
inscritos no Sistema de Informação do Plano Nacional de Leitura. 

Todos  os  participantes  deverão  ter  autorização  expressa  dos  seus  encarregados  de  educação  e 
deverão  entregar  na  Biblioteca  Municipal  do  concelho  da  sua  residência  uma  declaração  de 
autorização para captação/difusão de imagens e captação/difusão de voz, até ao dia 19 de março. 

3. Categorização dos concorrentes 

Os concorrentes serão repartidos pelos quatro ciclos: 

 Alunos do 1.º ciclo do ensino básico (1.º, 2.º, 3.º e 4.º anos de escolaridade); 
 Alunos do 2.º ciclo do ensino básico (5.º e 6.º anos de escolaridade); 
 Alunos do 3.º ciclo de escolaridade (7.º, 8.º e 9.º anos de escolaridade); 
 Alunos do ensino secundário (10.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade). 
 

 
 

4. Obras selecionadas para as provas 

4.1 As obras selecionadas para as provas escritas, nas diversas categorias são: 

 1.º ciclo: O Morcego bibliotecário, de Carmen Zita Ferreira (Trinta por uma linha); 
 2.º ciclo: Sem rede, de Margarida Fonseca Santos (Fábula); 
 3.º ciclo: O rapaz dos sapatos prateados, de Álvaro Magalhães (Asa); 
 Secundário: Fahrenheit 451, de Ray Bradbury (Saída de Emergência). 
 

4.2 A componente de leitura da prova oral incidirá em excertos da obra literária da escritora Irene 
Lisboa, natural do concelho de Arruda dos Vinhos (Anexo 1). 

5. Apuramento dos finalistas 

A Fase Intermunicipal do Concurso Nacional de Leitura da Comunidade Intermunicipal do Oeste é 
constituída por duas etapas e os procedimentos são os mesmos para todas as categorias. 

5.1 Provas escritas 

As  provas  realizar‐se‐ão  nas  Bibliotecas  Municipais  ou  nas  Bibliotecas  Escolares  dos  respetivos 
concelhos. 

Deverá ser assegurado um computador por candidato, com ligação à internet, devendo ser usado, 
preferencialmente, o browser Google Chrome. 

A prova terá início às 10:00 e terá a duração máxima de 40 minutos. 

A  prova  consistirá  num  questionário  automático  do  Google  Forms  e  será  constituída  por  20 
questões de escolha múltipla e uma de desenvolvimento, cuja extensão é compreendida entre 30 
a 100 palavras (mínimo 30 e máximo 100), sobre o conteúdo do livro selecionado para cada nível 
de ensino. 

Após a conclusão da prova, o concorrente deverá submetê‐la e avisar o vigilante que terminou. 
 

A  prova  tem  caráter  eliminatório.  Em  caso  de  empate,  será  tido  em  consideração  o  tempo  de 
realização  da  prova.  Caso  o  empate  se  mantenha,  será  avaliada  a  resposta  à  pergunta  de 
desenvolvimento. 

Os resultados serão publicados no website do município de Arruda dos Vinhos (https://www.cm‐
arruda.pt/) e na rede social Facebook do Centro Cultural do Morgado. 

Apurar‐se‐ão, para a etapa seguinte, 5 concorrentes de cada nível de ensino (os que obtiverem a 
melhor classificação), sendo estes denominados “alunos finalistas”. 

5.2 Prova oral 

As  provas  realizar‐se‐ão  nas  Bibliotecas  Municipais  ou  nas  Bibliotecas  Escolares  dos  respetivos 
concelhos. 

As provas orais são realizadas através da plataforma zoom e têm início às 10:00. 

Os concorrentes do 1.º ciclo são os primeiros a realizar a prova, seguindo‐se os do 2.º ciclo, os do 
3.º ciclo e, finalmente, os do secundário. 

Será enviado, atempadamente, aos concorrentes o convite/link de acesso à sessão. 

Os concorrentes devem ter a câmara de vídeo ligada durante a prova e devem estar identificados 
com o primeiro e último nome. 

As provas serão transmitidas em direto através do Facebook do Município de Arruda dos Vinhos  

A prova oral será constituída por duas componentes: 

1)  Prova  de  Leitura  Expressiva  ‐  Cada  concorrente  fará  a  leitura  em  voz  alta  de  um  dos  textos 
escolhidos aleatoriamente no momento, para o seu nível de ensino. O desempenho será avaliado 
de acordo com os seguintes parâmetros: dicção, ritmo, expressividade.

2) Prova de Argumentação – Resposta, com a duração máxima de 2 minutos, a uma questão aberta 
colocada pelo júri sobre a obra definida para o seu nível de ensino. O desempenho será avaliado, de 
acordo com os seguintes parâmetros: fluência, expressividade, correção, argumentação e clareza. 
 

Todos os concorrentes, acompanhantes e público são convidados a assistir online à realização da 
Prova Pública. 
 

6. Concorrentes Apurados 

Serão  apurados  para  a  Fase  Final  do  CNL  os  dois  concorrentes  de  cada  nível  de  ensino  mais 
pontuados, na Prova Pública. 

7. Júri 

O  Júri  é  constituído  por  três  elementos,  que  acompanharão  todo  o  processo  de  avaliação  dos 
concorrentes nas provas escritas e orais.  

Para  a  correção  das  provas  escritas  serão  requisitados  voluntários  com  formação  superior. 
Compete ao Júri realizar a prova de leitura expressiva e argumentação oral. 

O Júri é soberano e das respetivas decisões não cabe recurso. 

8. Prémios 

Serão atribuídos prémios aos 2 alunos finalistas de cada nível de ensino. 
Todos  os  alunos  e  escolas  concorrentes  terão  direito  a  lembranças  e  a  um  Certificado  de 
Participação. 

9. Dúvidas e Omissões 

As dúvidas e omissões que se suscitarem na aplicação das disposições das presentes normas serão 
resolvidas pelos elementos do Júri. 

 
 

ANEXO 1 

Excertos a sortear na Prova de Leitura Expressiva 

 
Categoria: I Ciclo 

Etapa: Leitura expressiva 

Texto I 

A PATA RAINHA 

  Uma pata saiu do seu charco e andava a esfregar o bico pelas ervas, quando dá com um 
pedacinho  de  lata  a  luzir.  Parece‐lhe  coisa  de  muita  valia  e  põe‐no  na  cabeça.  Depois  vai‐se 
mostrar às outras patas. 

  Eu  sou  a  rainha,  eu  sou  a  rainha!  grasna  ela.  Mas  logo  achou  mesquinho  o  charco  e  as 
companheiras que tinha e resolveu ir correr mundo. 

  De  coroazinha  na  cabeça  foi  andando,  foi  andando…  até  que  que  encontrou  um  cão. 
Pareço‐te bem? perguntou‐lhe ela. Olha que estás em presença de uma rainha! 

  Muito bem, respondeu‐lhe imediatamente o cão. 

  Achas, achas? E tu gostarias de ser meu mordomo? 

  Decerto. Nem maior honra eu podia esperar! 

  O cão era coxo, o que o não impediu  de seguir a pata. Demais a mais o andar desta era 
vagaroso e solene. Puseram‐se ambos a caminho. 

  A  pata,  como  rainha  que  se  supunha,  ou  era,  tratou  logo  de  lançar  tributos  a  todos  os 
bicos que encontrava e nunca mais se incomodou com a pitança. Galos, perus, galinhas e patos, 
tudo vivia subordinado à senhora pata. E ela ociosa e regalada. 

Irene Lisboa 

In “Queres ouvir? Eu conto” 

 
 

Categoria: I Ciclo 

Etapa: Leitura expressiva 

Texto II 

AI… AI… AI... 

  Enfim,  consigo  entrar  no  castelo,  mas  estou  cansada.  É  dia  de  festa.  Repicam  sinos  por 
todos os lados; há muitos ecos… Vou de mirante para mirante, tudo me assombra; mas estremeço 
ao ouvir a voz do vento, que nunca me larga. Ele que diz? Não sei, endoidece‐me. Vejo as portas 
todas fechadas e atiro‐me de uma janela abaixo. 

  Perdeste‐me! 

  O meu grito que já conheço: perdeste‐me, perdeste‐me. 

  Na minha queda a bolsa que trazia à cinta abre‐se. Caem‐me as moedas e eu desperto à 
luz  de  mil  estrelas.  Fico  a  vê‐las  descer.  Por  fim  apagam‐se  e  eu  encosto‐me  a  uma  parede. 
Refulgente. É a Lua, oiço que dizem. 

  Truz, truz, truz. 

  Tirei as últimas flores que tinha na cabeça e fiz com elas um ramo. 

  Truz, truz, truz. Estou a bater à porta da Lua. 

  Abram à pobrezinha, tenham dó… 

  Descerra‐se uma porta redonda. Lá dentro cantam. O jacto de luz que me vem à cara é tão 
intenso que eu fecho os olhos. De mãos para a frente vou andando. Mas sempre a dizer: tenham 
dó… 

  Conduzem‐me, amparam‐me. 

  Que cantos! Que vozes! 

  Abro  os  olhos,  mas  de  repente  fecho‐os.  É  lá  possível?  Vou  pela  mão  de  um  rei.  Estou 
tonta, estou perdida. 

  Salvaste‐me, adorada. É isto que ele me diz. 

  Como hei‐de eu levantar os olhos se do seu riso e da sua cara é que me vem toda aquela 
luz? 

  Sou tão feliz! Ia eu a dizer, de contente, quando ele me aperta ao coração. 
 

  Nisto acordo. 

  Ai… ai… ai… que pena não ser mais um sonho! 

Irene Lisboa 

In “Queres ouvir? Eu conto” 

 
 

Categoria: I Ciclo 

Etapa: Leitura expressiva 

Texto III 

FIGURITOS FIGURÕES 

  Estavam três figuritos do tamanho de um palmo ou, vá lá! De palmo e meio, a conversar. 
Sentado cada um em sua abóbora, de perna cruzada. 

  Eu, eu cá… sinto‐me capaz de espantar os ratos todos de uma casa! 

  E então eu? De rebentar um cavalo, aqui onde me vêem! 

  E eu? Ora, ora, ora… de conquistar um trono! 

  Ao cabo de quantos dias? Pergunta o primeiro. 

  De três, responde o último. 

  Três, diz também o do meio. 

  Discutiram,  saltaram  das abóboras  abaixo,  tornaram‐se  a  empoleirar  nelas  e  chegaram  à 


conclusão de que três dias bastavam, de que era boa a conta. 

  O primeiro figurito, todo lépido, deixa a sua abóbora e desata a correr. Sai da horta, chega 
à porta da caseira e, como a visse fechada, agacha‐se e entra pela gateira. 

  O segundo dirige‐se para a cavalariça, e o terceiro toma o rumo da estrada. 

  Mal o primeiro se vê debaixo de telha ciranda à busca de um poiso. 

  Acaba ele de se esconder atrás de um pote, entra a caseira com a filha. Vinham ambas a 
conversar  e  diz  a  mãe  para  a  rapariga:  tu  arrumas  lá  dentro  que  eu  dou  aqui  uma  volta.  Esta 
cozinha, esta cozinha! Temos de acautelar tudo, por via dos ratos! 

  O nosso figurão, sem tugir nem mugir, ouvia‐as e ria lá com os seus botões: 

  Os ratos, os ratos! Mal vocês sabem… 

   

Irene Lisboa 

In “Queres ouvir? Eu conto” 

 
 

Categoria: I Ciclo 

Etapa: Leitura expressiva 

Texto IV 

A FILHA DA FEITICEIRA 

  Era uma vez uma feiticeira, que tinha uma filhinha. 

  Isto custa a crer, mas assim mesmo é que é: para a feiticeira não havia outro sol nem outra 
lua, a sua filha eram os seus amores.    

  Todas  as  noites,  quando  tinha  de  sair  para  cumprir  o  fadário,  dava  um  suspiro:  Filha  do 
meu  coração!  e  aproximava‐se  da  menina.  Enfiava‐lhe  o  saquinho  do  sono  pela  cabeça  e  dizia 
muito baixo, com toda a doçura: dorme, dorme, até eu voltar, meu amor, dorme. 

  Cavalgava depois uma vassoira velha, que era um frangalho de palma, e saía pela chaminé. 
Nos ares, a voar já, bradava: por cima de toda a silva, por baixo de toda a oliva! E só no outro dia 
voltava. 

  Isto se dava em todos os dias, ou por outra, em todas as noites. 

  Parte  ela  de  uma  vez,  à  desabalada  por  aqueles  fraguedos  fora,  sempre  aos  brados:  por 
cima  de  toda  a  silva,  por  baixo  de  toda  a  oliva!  Quando  um  mendigo,  destes  que  andam  de 
saquitel  e  manta,  lhe  aporta  ao  casebre.  Estava  uma  noite  fria,  começavam  os  lobos  a  uivar.  O 
mendigo, a tremer, levanta o trinco da porta, mete a cabeça… 

  Oh! Gente não há? diz ele. E é uma casa asseada. Poisa a um canto a farrapada que trazia, 
a ela se encosta e adormece. Acordou, ainda mal luzia o buraco. Olha a uma banda, olha a outra, 
vê um saquito novo poisado, muito bem cheio, agarra nele e parte. 

  A manhã cresce, tudo clareia. 

  Já o pobre ia longe e o vento lhe tinha desfeito as pegadas quando a feiticeira volta do seu 
fado.  Pelo  costume,  saía  pela  chaminé  e  entrava  pela  porta.  Louca,  a  galope,  chega  e  arreia  logo 
vassoira. Mas o coração dá‐lhe um baque. A porta do casebre encostada? Entra de repelão. 

  Menina! Chama. Ninguém lhe responde. 

Irene Lisboa 

In “Queres ouvir? Eu conto” 

 
 

Categoria: I Ciclo 

Etapa: Leitura expressiva 

Texto V 

A FLAUTA MÁGICA 

  Um homem e uma mulher viviam sem cuidados no seu buraco. 

  Ele  era  ferreiro,  trabalhava  com  gosto  e  ia  amealhando  o  seu  vintém.  Ela,  toda  asseada, 
toda mexida, trazia a casa que nem um espelho. 

  Mas  começa  o  homem  a  notar  que  de  manhã  lhe  aparecia  feito  o  trabalho  de  véspera 
encetado, e diz assim para a mulher: 

  Queres saber uma coisa? Ando cá com umas suspeitas… 

  Umas suspeitas, umas suspeitas! Umas suspeitas de quê, homem? 

  Não sei, ando intrigado. Aqui há coisa, a forja está enfeitiçada. 

  Deixa  estar  que  eu  hei‐de  saber,  responde‐lhe  a  mulher.  E  na  noite  seguinte  levanta‐se, 
atira com uma saia pelas costas, sem fazer bulha, e vai‐se pôr à espreita. Pelo buraco da fechadura 
descobria a oficina toda. 

  A mulher esfregava e tornava a esfregar os olhos porque não podia crer no que via. 

  Martelos,  tenazes  e  malhos  tudo  num  virote.  As  ferraduras  jogadas  ao  ar,  os  pregos 
acessos,  o  fole  sempre  a  resfolgar,  a  bigorna  esbraseada…  e  no  meio  disto  tudo  uns  diabinhos 
vivos a ganir e aos saltos. Rebolavam‐se, guinchavam, faziam caretas… eram engraçados. 

  A mulherzinha, assarapantada, queria persignar‐se mas não era capaz, não atinava com a 
testa. Quando voltou para a cama pôs‐se aos safanões ao marido, mas ele tinha sono e mandou‐a 
dormir. No outro dia é que então desabafou com todo o espalhafato. 

  Precisamos de mandar benzer a casa, precisamos de mandar benzer a casa, dizia ela. 

Irene Lisboa 

In “Queres ouvir? Eu conto” 

 
 

Categoria: II Ciclo 

Etapa: Leitura expressiva 

Texto I 

O VENTO 

     Diz‐se  que  um  dia...o  Sol  e  o  Vento  andavam  a  brincar  às  escondidas.  O  Vento  empurrava  as 
nuvens,  que  tapavam  a  cara  do  Sol.  O  Sol  esbraseava‐as,  derretia‐as  e  tornava  a  luzir.  O  Vento 
sossegava, mas sempre a resmungar. Nisto andavam… 

      E uma velhota, que muito bem entendia estes manejos do Vento e do Sol – do ladrão do Vento 
e do macaco do Sol, como ela dizia – contou a seguinte história a um neto que tinha. 

     Mas  antes  de  a  contar,  sentada  à  porta,  com  a  cabeça  do  rapazito  no  regaço,  a  ver  se  ele 
dormia, assim lhe disse: não te fies de um nem maldigas do outro! Sem eles que seria do mundo? 

       E para ver se chamava o sono ao neto, começou: 

      O  Vento  veio  ao  mundo  num  reino,  num  reino  de  que  se  perdeu  o  nome.  Não  sabias?  E  era 
muito  estimado,  alegre,  até  bonito.  Vivia  com  os  pais.  No  palácio  destes  havia  uma  torre  que 
chegava ao céu. 

       Os primeiros passos do Vento foram dados nela, para cima e para baixo. E já eram pesados. Os 
pais bem lhe recomendavam: cuidado, Vento” Este era o seu nome, que nunca perdeu. Ainda hoje 
o tem. Cuidado, não te aleijes! Mas o Vento, que já era travesso, nunca sossegava e cada vez batia 
mais com os pés. Foi crescendo e mostrando bem o que havia de vir a ser: turbulento, ambicioso e 
brigão. 

        Um belo dia o Vento abandona os pais. E tal sumiço levou que a torre caiu e o reino se desfez 
(tanto que já ninguém sabe onde eles ficaram) e o seu próprio rasto se perdeu. 

           Se perdeu, não digo bem, emendou a velha; porque por onde ele passava… É o Vento, é o 
Vento, diziam todos. Ah! ladrão! Mas ele nunca tornava atrás. Parece que tinha de dar a volta ao 
mundo;  era  o  seu  fado.  Debulhava  as  espigas,  torcia  os  ramos,  quebrava  as  canas  dos  milhos, 
encrespava  as  águas  e  chegou  a  derrubar  à  punhada  as  mais  velhas  árvores  que  havia.  Rugia, 
assobiava, era indomável.   

Irene Lisboa 

In “Queres ouvir? Eu conto” 

 
 

Categoria: II Ciclo 

Etapa: Leitura expressiva 

Texto II 

MARIA‐A‐MACHA 

  Uma mulher tinha sete filhas. 

  Sete filhas! 

  Uma delas seria bruxa… 

  Mas não, nenhuma dava indícios disso. Só a mais nova, sem ser por artes, é que cresceu 
tanto que parecia chegar ao céu. 

  Maria‐a‐Macha  lhe  chamaram.  E  a  rapariga  para  não  desdizer  do  apelido  jogava  o  eixo 
ribaldeixo, andava aos ninhos com os rapazes, mandava pedras, pintava o diabo. 

  Maria, quando tomarás tu assento? lhe dizia a mãe apoquentada. 

  Ainda é cedo, mãe, ainda é cedo! lhe respondia ela. 

  Maria‐a‐Macha foi crescendo, e tanto cresceu que levantando um braço tirava os figos que 
eram postos a secar no telhado. 

  Não  gostava  de  coser  nem  de  arrumar  a  casa;  romper  o  fato  pelas  silvas,  às  amoras, 
moinar, dormir, era todo o seu regalo. 

  Maria‐a‐Macha não levava bons jeitos, mas como tinha muita força ninguém a contrariava. 

  Chegou  a  mulher.  Entrava  e  saía  sem  nunca  dar  contas  em  casa,  comia  por  sete  e 
estragava por dez. 

  A mãe ralava‐se: ai, que filha esta! meu Deus, que castigo o meu! 

  Ó minha mãe, disse‐lhe ela um dia. 

  Que é, filha? 

  Nada, não é nada… 

  Diz lá, filha, desafoga, anda. 

  Maria queria falar, mas sentia‐se embaraçada. 

  É que eu, sim, a mãe bem sabe… 
 

  Maria queria namorar, no fim de contas, ter o seu noivo, como as irmãs. 

  Eu sou muito feia, sim, vossemecê acha?… 

  Não, filha, nunca achei… 

  Bom, bom, não ponha mais na carta! era isso que eu queria saber. 

  Tanto fez e tanto andou Maria‐a‐Macha que se espalhou que ela queria namorar, ter um 
noivo como as demais. 

Irene Lisboa 

In “ Queres ouvir? Eu conto” 

 
 

Categoria: II Ciclo 

Etapa: Leitura expressiva 

Texto III 

OS PRÍNCIPES GÉMEOS 

  Havia um rei ‐ no tempo dos príncipes e dos reis – que tinha dois filhos gémeos. 

  Tempos tão esquecidos, quase ignorados! mas tão dilatados… capazes de ir de lés a lés da 
nossa fantasia, de entrar em todas as cabeças, de abranger todas as idades, desde as mais remotas 
até agora… 

  Pois  nesse  tempo  vivia  um  rei  em  seu  belo  reino  com  a  rainha  e  dois  filhos gémeos  que 
tinha. Dois formosos mancebos, amorosos e inteligentes. 

  Ora o rei não sabia a qual deles havia de legar o trono e o ceptro. Lançar o caso à sorte dos 
dados, por exemplo? Não lhe parecia bem. 

  Entrementes  calhou  montear‐se  um  javali  nas  matas  reais.  O  rei  e  os  dois  filhos,  que 
tomavam parte na caçada, apartaram‐se sem premeditação. E o rei, subitamente iluminado, achou 
azada a ocasião de fazer a sua escolha. Sacou da buzina de caça e soprou nela três vezes. Era um 
sinal de apelo conhecido. 

  Ainda o eco da buzina ia de quebrada em quebrada e já os dois príncipes, cada um de seu 
lado, acorriam ao chamamento do pai. Este, interdito, não soube que lhes explicar e mandou‐os 
continuar a batida. 

  Os dois filhos riem e partem sem a menor sombra de suspeita. 

  Manda‐lhes depois o rei um belo bolo que trazia de merenda, mas incógnito, pela mão de 
uma mendiga. Agora, sim, se havia de saber quem a sorte designaria. 

  Termina a caçada com muitas peripécias e algazarra, como era sempre o hábito e recolhe‐se 
a  real  comitiva  ao  palácio.  Houve  um  banquete,  com  muitas  iguarias  e,  ao  fim  um  dos  príncipes 
declara: mas bolo como o que recebemos das mãos de uma mendiga é que não há. 

  Qual de vós, qual de vós? apressa‐se o rei a perguntar. 

  Os irmãos entreolham‐se e logo respondem: ambos. 

Irene Lisboa 

In “ Queres ouvir? Eu conto” 
 

Categoria: II Ciclo 

Etapa: Leitura expressiva 

Texto IV 

MINHA MÃE, QUE LINDAS TERRAS! 

  Tinham deitado um burro à margem, um burro velho. Que carga de ossos tão triste! 

  O seu dono, velho também, o senhor Joaquim, largou‐o para as bandas da ribeira. Foi‐se 
embora e nem uma palavra lhe disse: Fica‐te! Triste! Qualquer coisa análoga, uma despedida. E o 
burro ajoelhou, de trôpego. Depois levantou‐se e ainda afocinhou brandamente na erva fresca das 
bordas. Era tarde. O tempo alisara. O céu, muito alto, estava todo azul. E o Tonito, da parte baixa 
das regadas, despontou com as suas ovelhas e a meia dúzia de cabras. Cantava. Andava ansioso 
por uma gaita de beiços, e por isso cantava, para as modas lhe não esquecerem. 

  Olha,  não  querem  lá  ver?  é  o  burro  do  ti  Joaquim!  E  arrumou‐lhe  uma  pedrita,  por 
brincadeira,  a  modo  de  se  entreter.  Pedrita  que  lhe  acertou.  E  dali  se  pôs  o  burro  a  correr,  a 
correr…  E  o  Tonito  sem  poder  fechar  a  boca  de  espanto.  Não  querem  lá  ver  o  burro  velho  do  ti 
Joaquim? De longe lhe arruma outra pedra. E o burro mete‐se à água.  

  Esta agora? Não querem lá ver? Que é do burro do ti Joaquim? 

  Desaparecera. 

  O Tonito já não quer saber das ovelhas nem das cabras. 

  Eh! Ruço. Eh! Ruço. Este era o nome do burro. 

  Ia  o  rapaz  doido  pelas  bordas  do  rio,  com  os  olhos  perdidos  na  água,  quando  vê  dois 
pombos brancos, dois pombos sem igual, a bater as asas todas molhadas e a subir para o ar. E dois 
peixes mareados, sem igual também, a nadar contra a corrente, a subir e a levantar o cachão. 

  Ai, minha mãe do céu! E o Tonito volta para trás. Junta o gado, pega na capa e caminha 
para a palheira. 

  A mãe chega‐se e pergunta‐lhe: então já tornaste? 

  Pois não havia de tornar? O burro do Ti Joaquim, o burro velho meteu‐se à água. 

  E daí?  

  E dele saíram, que eu vi, dois pombos a voar e dois peixes a nadar? 

  Estás tolo, rapaz? 
 

Irene Lisboa 

In “Queres ouvir? Eu conto” 

 
 

Categoria: II Ciclo 

Etapa: Leitura expressiva 

Texto V 

JOANICO 

  Esta é a verdadeira história de Joanico. Deixem‐ma contar com vagar.  

  Joanico levou muito tempo a criar‐se. 

  Não sais da casca! lhe dizia a mãe. 

  Mas saiu. Tanto assim que entrou a falar e a fazer caretas. Crescer é que não crescia. Ficou 
tão  pequenino  que  aos  dez  anos  parecia  ter  apenas  cinco,  ou  ainda  menos.  Chegou  aos  vinte  e 
cobria‐o o ridículo.  

  Joanico era muito desajeitado.  

  Filho, que havemos de fazer de ti? perguntava‐lhe ora o pai, ora a mãe. 

  Ele nunca dava resposta. A sua vida era andar em casa e no campo sempre aos pulinhos. 
Divertido era ele! 

  Ó mulher! tu sabes? diz um dia o pai para a mãe, sabes que ando a pensar cá numa coisa? 

  Pois não sei, homem! desembucha! 

  É que o nosso filho se anda a perder, e nós não temos outro.  

  Falas bem. 

  Ó mulher, e se nós comprássemos umas cabrinhas para o entreter? 

  Dizes bem. Mas ele também podia ir ao bonico. 

  É verdade! inda não me tinha lembrado! 

  Depois desta conversa passou Joanico a ter emprego. Ora apanhava bonico, ora guardava 
as  cabras.  Como  era  alegre,  cantava  sempre,  e  também  sabia  dançar.  Aquelas  ribeiras  retiniam 
com a sua alegria. Cortava canas, fazia delas gaitas e todo o santo dia folgava. 

  Joanico era amorável e gostava de ajudar a mãe, mas sem ele mesmo querer só partia e 
desperdiçava. 

  Joanico, está quieto! Joanico, vai‐te embora! era ela. 
 

  E lá se ia ele pela porta do quintal atrás das cabritas ou com a lata do bonico na mão. 

  Triste da minha vida! Queixava‐se ele. Tivesse eu outras mãos! 

Irene Lisboa 

In “Queres ouvir? Eu conto” 

 
 

Categoria: III Ciclo 

Etapa: Leitura expressiva 

Texto I 

A ESTRELA AZUL 

  Eu só tinha pai, que pouco a pouco se ia desinteressando de mim. O resto da gente da casa 
eram umas mulheres más e vaidosas. Umas intrusas! 

  O  meu  tempo  corria  como  o  tempo  corre…  ao  acaso.  Nada  me  pertencia  já.  Bastarda  a 
casa, bastardos os ares respirados nela. Quantos anos teria eu então? Doze, treze, catorze. Até o 
gosto de vestir perdi porque tudo me retiravam; de vestir e de andar limpa e bem pregada. Só a 
imaginação  me  sustinha.  A  imaginação,  digo:  isto  que  aos  jovens  compensa  de  muitas  faltas,  da 
ternura, das satisfações, dos desejos realizáveis, de pequenas e de grandes coisas. 

  Com  essa  imaginação,  que  ninguém  me  podia  roubar,  eu  via  fantásticas  coisas  e  amava 
outras não menos fantásticas, inatingíveis: as estrelas, os rouxinóis, os heróis das lendas, a água… 

  Amava‐os, perseguia‐os de sonhos e de pequenas efabulações. 

  À noite, noites quentes e noites frias, tinha muitos delírios sentimentais: considerava a lua 
uma maravilha mortal, maravilha inigualável, e deixava‐me gelar de olhos fitos nela. 

  De  dia  corria  as  bordas  da  ribeira  a  ver  os  pássaros,  os  saltinhos  da  água  e  a  descobrir 
flores.  Dessa  idade  me  ficou  a  ideia  da  nobreza  das  violetas  silvestres  e  da  fragrância  dos 
junquilhos. 

  A gente do campo, mulheres e homens, que me sabiam desprezada, tinham certo respeito 
pela minha pessoa, espreitavam‐me sem me insultar. 

  Assim, neste viver, eu compunha, ideava histórias coisas… e uma delas foi a da 

              estrela azul 

………………………………………………………………………………………………………………………………………………………... 

  Ninguém  me  vê.  Que  é  delas?  Não  sei.  Deste  lado, as  luzes  apagadas.  Estará  tudo  lá  em 
baixo. 

  Que  noite!  Que  noite!  Que  linda  noite!  Tudo  calado  no  pátio,  também.  Saio,  encosto  a 
porta da vidraça. Hoje não há luar. O jardim é pequeno e a mim só me apetece correr. O buxo já 
está orvalhado, é frio. Mas que cheiro! Da baunilha e da lúcia‐lima… 
 

  Nada se ouve. As estrelas brilham, relampejam. Mais, cada vez mais. Vou andar pelo meio 
do buxo de cabeça levantada. Só para as ver. 

  Pequeninas, ó minhas lindezas… Tu, princesa do Sião; tu, princesa do mar; tu, flor da vida; 
tu,  oiro  a  arder…  tu,  minha  sem‐nome,  primeira  entre  todas,  amiga  do  meu  coração…  ó  estrela 
azul! 

Irene Lisboa 

In “ Uma mão cheia de nada outra de coisa nenhuma” 

 
 

Categoria: III Ciclo 

Etapa: Leitura expressiva 

Texto II 

A MAÇàDE OIRO 

  Enfim, enfim… O cavaleiro chega debaixo da macieira apetecida e colhe a maçã de oiro. 

  A macieira estava carregadinha delas e todas eram de oiro, mas só uma de oiro maciço. E 
foi àquela que ele lançou mão. Que sorte, que felicidade! 

  Nisto,  o  grande  portão  do  pomar  das  macieiras,  aberto  de  par  em  par,  fechou‐se  com 
enorme  estrondo.  E  os  perseguidores  do  cavaleiro  afortunado,  que  eram  muitos,  a  cavalo 
também, de lanças em riste e aos gritos, dão voltas inúteis e desesperadas.  

  O  cavaleiro,  defendido  por  muros  altíssimos  e  em  poder  da  maçã  rara,  desmonta‐se  e 
sossega. Quer sossegar, desprezar os inimigos, mas são tantos os brados, as ameaças e os insultos 
que o sangue lhe referve. Afivela a couraça, de que já se tinha alijado, mede a lança, atira com a 
maçã de oiro à terra e corre, lançando o seu pregão. 

  A  maçã  abre‐se  instantaneamente  ao  meio  e  dá  saída  a  tantos  e  tão  belos  guerreiros 
armados e equipados, que os muros do pomar ficam guarnecidos deles numa extensão infinita.  

  E começa a batalha… Quem a comanda é o feliz guerreiro. Uma batalha dura e rápida. 

  Os  vencidos,  do  lado  de  lá  dos  muros,  fogem  à  doida  e  os  vencedores,  risonhos  e 
contentes, dispersam a seu bel‐prazer. O cavaleiro afortunado convida‐os então para uma vida de 
armas, mas eles sorriem‐lhe e não aceitam. 

  Torna o senhor da maçã de oiro a ver‐se sozinho. Desarma‐se e limpa o suor. Como já era 
a  hora  da  sesta,  adormece.  Sonha  então  que  aquele  pomar  ainda  era  maior  que  um  quinto  do 
mundo e que lhe pertencia. Quando acorda, cheio de sede, estende o braço para a sua direita e 
não faz mais que pegar na maçã de oiro, intacta. Tem receio de a tornar a arrojar no chão. Dá‐lhe 
voltas sobre voltas, sempre indeciso, e torna a pô‐la a seu lado. Quem lhe há de ali aparecer, sem 
ele esperar, vinda debaixo das macieiras carregadas? Uma donzela formosa. Traz os cabelos soltos 
e dois cavalos à rédea, muito bem arreados. 

  Diz‐lhe ele: nobre donzela, onde ides? 

Irene Lisboa 

In “ Uma mão cheia de nada outra de coisa nenhuma” 
 

Categoria: III Ciclo 

Etapa: Leitura expressiva 

Texto III 

A BAILARINA 

  Era  uma  vez  uma  bailarina,  mas  uma  bailarina  de  papelão,  daquelas  que  mexem 
simultaneamente os braços e as pernas. Nunca se cansava, e era bonita, bonita a valer. Tinha saias 
de papel frisado. 

  Um dia penduraram‐na numa parede. 

  O rapazito (como se chamava ele?) Gustavo, que costumava ir àquela casa, adorava‐a, mas 
ninguém o sabia. Nem a tia mais velha nem a mais nova. Julgava‐o ele. 

  Entrava  na  sala,  dizia  duas  palavras  aos  gatos  de  veludo  que  estavam,  um  de  cada  lado  do 
espelho, com belos olhos de contas de vidro a olhar para ele, dava mais uns passos e levantava o braço. 
Anda cá tu, minha beleza! Tirava a bailarina do prego e zás‐que‐zás, zás‐que‐zás…  

  Ela  dançava,  levantava  as  pernas  de  lado,  dava  aos  braços…  Que  tentação!  Gustavo, 
puxava‐lhe freneticamente pelo cordel. Dança, minha menina, dança! mais, mais, mais! 

  Gustavo foi crescendo e a bailarina sempre na parede. Coitadita, mas não se sabe como, 
envelhecia…  Desbotaram‐lhe as saias, encheu‐se de riscos. E esqueceu, tornou‐se esquecida. Nem 
alegre nem triste, porém sempre de braços no ar e de pernas penduradas. 

  Lá veio um dia mais tarde em que Gustavo tornou a reparar nela. Já ele era um tamanhão.  

  Como a bailarina das tias o tinha entretido! E riu‐se desdenhoso. Antigamente tinha uma saia 
cor‐de‐rosa. A carinha dela é que ainda era bonita. Até lhe lembrava a da bailarina do Salão Foz. 

  Que bailarina! Como ela dançava! Dava às pernas e aos braços quase como aquela. 

  Ele ia tornar a experimentar. Não estava ninguém, a porta encostada… tirou a boneca para 
baixo e, como antigamente, sentou‐se no chão. 

  Já não tinha cordel para se puxar, bolas! Levantou‐lhe um braço, depois o outro. Juntou‐
lhe as mãos. A marota tinha graça! Como a outra… Mas a do Foz corria de cá para lá e dava umas 
palmadas e umas gargalhadas que alegravam toda a gente. Quando ela se ria riam‐se todos. Havia 
de ir tornar a vê‐la. 

Irene Lisboa 

In “ Uma mão cheia de nada outra de coisa nenhuma” 
 

Categoria: III Ciclo 

Etapa: Leitura expressiva 

Texto IV 

AS MOIRAS 

  Este caso contava‐se na minha terra, terra de mar. Havia quem nele acreditasse. 

  A minha terra é banhada por um rio, a que ninguém dá nome, e pelo mar. Creio que já se 
lhe  não  conhece  a  origem;  é  muito  antiga.  Tanto  que  as  ruas  velhas,  quase  todas  elas  o  são, 
cobertas  de  areia  aos  altos  e  aos  baixos,  quando  sofrem  conserto  mostram  buracas  que  antes 
abriam para subterrâneos, caminhos escondidos, do tempo dos moiros, a que chamam fojos. 

  Mas  não  é  dos  moiros  que  ainda  hoje  lá  se  fala.  É  das  moiras.  Há  tanta  memória  delas! 
Ditos e receios… Até os pescadores quando traziam do mar os covos vazios se queixavam  delas: 
não fossem as moiras! Marfadas! Condenadas! 

  Quem vinha a desoras para o povo também espalhava medos: 

  À meia‐noite é que elas aparecem. Põem‐se a pentear e a cantar, têm uns cabelos muito 
compridos! sentadas nas rochas… Vê‐las é a nossa perdição! 

  Mas vossemecê viu? Perguntavam. 

  Ninguém  tinha  visto,  porém  todos  sabiam  que  era  verdade.  E  que  em  certas  ocasiões  as 
badaladas da meia‐noite soavam por toda a banda, por cima das alfarrobeiras e das amendoeiras, no 
chão e no ar. Alguma estava para acontecer! E por culpa das moiras. À meia‐noite era certo… ah! lá 
isso era! virem elas de corrida pelo rio abaixo até o mar. E até havia quem dissesse que ao dar do 
meio‐dia era o mesmo. E acreditavam, mas ninguém vira. Sabia‐se apenas que elas eram muito belas 
e  que  cantavam.  Quem  lhes  quebrasse  o  encanto  ficava  a  poder  mais  que  um  rei.  Que  elas  ainda 
possuíam riquezas fabulosas! Ou então… ficaria um seu escravo. 

  Isto era o que se dizia. Até de uma vez aparece um rapaz desconhecido a correr pela praia 
fora, com os cabelos muito bastos e soltos, o olhar vago e a sorrir. Quem seria quem não seria… 
Foi‐se  juntando  povo  à  roda  dele  e  as  perguntas  a  chover.  Mas  ele  só  dava  as  mãos,  abanava  a 
cabeça e sorria. Por fim deixaram‐no fugir e ficaram murmurando: é um desgraçado. 

Irene Lisboa 

In “Uma mão cheia de nada outra de coisa nenhuma” 

 
 

Categoria: III Ciclo 

Etapa: Leitura expressiva 

Texto V 

O CAIXÃO DE CRISTAL 

  Eu devia ser lançada ao mar num caixão de cristal, como rezam as histórias… e fui.  

  O mar baloiçava‐me. 

  Quem jamais teve esta sensação? 

  Baloiçava‐me.  Eu  ia  estendida  ao  comprido  e  de  olhos  muito  abertos,  perfeitamente 
imóvel. O meu caixão era cómodo. E foi correndo, seguindo. Lá muito longe, no mar alto, começou 
a  ser  sacudido  e  perdeu  de  todo  a  calma.  Entrou‐me  o  medo  no  coração  e  olhei  para  os  lados. 
Terríveis animais do mar se batiam à minha roda. Eu via eminentes espadas, medonhas, de água 
viva, e sentia uma chocalhada azoadora. 

  Quem jamais teve esta sensação? 

  O  mar  até  perdera  a  cor,  aquele  azul  e  aquele  verde  que  nos  encantam.  Era  baço  e 
sombrio, coberto de espuma suja e escamudo como um peixe. Mas não sei como tive um impulso 
salvador e escapei‐me. Tornei a correr e a seguir livre de perigo. Pelo mar fora, sempre de olhos 
abertos, um murmurinho muito doce me embalava. 

  Quem jamais teve esta sensação? 

  O meu caixão era de puro cristal, transparente. A todo o momento me parecia que o mar e 
o céu se juntavam para me engolirem. Era uma ilusão, uma curiosa ilusão. 

  Cobras  de  água,  muito  longas  e  esguias,  enlaçavam‐se  no  meu  caixão.  Eu  não  as  temia. 
Suportava‐lhes  bem  o  olhar  e  sorria  quando  as  via  desfalecer.  De  outras  vezes  perseguiam‐me 
cisnes monstros, de asas em canoa. Eram espíritos castigados, eu sabia‐o. Tanta coisa sabia, de ter 
ouvido  em  terra,  aos  serões!  E  os  saltos  e  cabriolas  dos  peixes,  uns  que  voavam,  outros  que 
mergulhavam, outros que deslizavam… uns em forma de leque, outros de palma, outros de fuso… 
nem sei! Nada me cansava; tudo maravilhas! 

  Ai, quem jamais teve destas sensações?   

  Não sei como, uma corrente talvez, me trouxe para a costa. Choveram estrelas e eu entrei 
a bordejar no meio delas. Mas a chuva de estrelas era do sol… raiara a manhã. Vi grandes rochas 
entrando pelo mar dentro. O meu caixão evitava‐as. Passei ao rés de um castelo. Três donzelas de 
luto  estavam  ao  mirante.  Choravam.  Quis  mandar‐lhes  beijos.  E  elas  viram‐me.  Coitadas, 
debruçaram‐se a acenar‐me, todas aflitas.  
 

Irene Lisboa 

In “ Uma mão cheia de nada outra de coisa nenhuma”  

              
 

Categoria: Ensino Secundário 

Etapa: Leitura expressiva 

TEXTO I 

Hoje não posso dizer, como aqui há dias: anda um espírito comigo… 

  E a que pretexto o dizia? Não me lembro. 

  Mas esse espírito, que vive comigo e quase me é estranho, que me manda vibrar e pensar, que 
é precioso e ordinário, efervescente e desanimado, esse espírito abandonou‐me hoje. 

  Há bocado ouvia sentada, como tantas vezes, o passar dos automóveis. Impressionava‐me 
molemente aquele seu raspar violento, que lembra um sopro rijo contra o chão. Este passar dos 
automóveis e este som são um sinal de época. O nosso tempo já não é caracterizado pelo apito 
das fábricas, é‐o por esta correria dos automóveis. 

  O apito das fábricas é secante, vem do tempo dos romances realistas. É ainda a imagem de uma 
vida moderna, dura, mas sem transportes nem furor. A própria melancolia do apito aborrece… 

  A passagem do automóvel já tem outro espírito. O automóvel vai e todo o ar corre como 
ele, fica agitado por ele… 

  Comecei a dar por isto em Bruxelas. Solitária, ouvia aquele rumor dos carros em carreira e 
achava que o mundo se atirava por caminhos que eu desconhecia. Com o sopro deles, repentino e 
bufado  contra  o  chão,  tudo  me  parecia  correr  e  desaparecer  no  meio  de  um  alvoroço,  de  uma 
pressa e de uma inconsciência que eu não tinha… e que invejava!  

  Aqui, continuo a ouvir o mesmo som. E não deixo de achar que nele se encerra toda uma 
poesia nova. 

  Mas  não  é  ver  automóveis  que  mais  me  impressiona,  é  ouvi‐los.  Ouvi‐los  passar  e  saber 
que os não acompanho, que entre mim e o que eles são ou representam há hiatos… Saber que o 
mundo  de  hoje  tem  as  qualidades  daquele  sopro,  que  tem  a  alma  daquele  varrer  de  estradas 
rapidíssimo, ou o que quer que é, detido lá não se sabe onde… 

  Há certas horas da tarde em que os automóveis são mais consecutivos. Eles vão… e eu fico 
para os ouvir e para os servir. Servi‐los com toda a minha imaginação de sedentária! 

Irene Lisboa 

In “Solidão” 
 

Categoria: Ensino Secundário 

Etapa: Leitura expressiva 

TEXTO II 

  A Adelina tinha trabalhado em minha casa. Foi até curiosa a maneira de nós nos virmos a 
conhecer. Eu tinha tomado uma beiroa para o serviço, uma rapariga que não me sabia fazer nada, 
nem lavar os azulejos da cozinha e me dava caldo verde deslavado a todas as refeições. Por cima 
disto ainda curtia pelos cantos do nariz comprido ou com suspiros as saudades de uma sobrinhita, 
na realidade sua filha apanhadiça, que lhe tinha ficado lá na terra. 

  Ora, todo o tempo que eu passava fora de casa a minha Maria, assim se chamava ela, se 
entretinha a estudar a rua e a vizinhança naturalmente para espairecer. Ninguém lhe podia levar a 
mal.  Mas  as  novidades  mal  encobertas  que  ela  depois  me  dava  dos  enterros  e  das  disputas  das 
mulheres  do  beco,  do  mariquinhas  do  criado  do  primeiro  andar  e  outras,  interessavam‐me  tão 
pouco e aborrecia‐me tanto achar sempre o trabalho por fazer que decidi restituí‐la à sua terra. De 
mais a mais eu ia tomando o hábito de ralhar, coisa feia e incómoda...Em suma, no nosso segundo 
mês  de  convivência  ambas  nos  sentíamos  um  pouco  fartas  uma  da  outra.  A  mim  nem  as  suas 
conversas com o gato, como se ela o quisesse educar, me davam já vontade de rir. Um dia em que 
decidi lavar os vidros do meu quarto é que o caldo se acabou de entornar...Eu explico: 

  Como ela me parecia sempre uma arara e não tinha força nenhuma nos braços subi eu ao 
escadote. As janelas eram altas. A rapariga pegou num esfregão e pôs‐se a lavar distraidamente a 
pedra da varanda. Molhava o chão e parava a olhar… Eu vi‐a de cima. Era a hora do carteiro andar 
na  sua  ronda  da  manhã  e  de  haver  muitas  entradas  e  saídas  na  tenda  do  Fortunas  mesmo  em 
frente.  As  mulheres  dos  marítimos,  que  abundavam  na  rua,  falavam  da  loja  para  fora,  davam 
gargalhadas  ou  ralhavam  com  os  filhos;  os  moços  da  padaria  voltavam  com  as  gigas  vazias.  A 
minha Maria gozava com todo este espetáculo. Mas quando viu o carteiro não quis saber de mais 
nada;  começou  pst‐pst...e  eu  zanguei‐me.  Vai  ela  larga  o  esfregão  onde  o  tinha  descansado, 
levanta‐se e declara‐me que se vai embora. Pois que fosse!, disse‐lhe eu. E foi. Nunca mais ouvi 
falar dela. Sim, creio que ouvi dizer que tinha voltado para a sua terra (…). 

  Depois  daquele  seu  repente  decisivo  ao  pé  do  escadote  arrumou  os  seus  trapitos,  veio 
despedir‐se de mim com ar sério e lá marchou com certeza para casa da tia. Ia sem saudades. 

Irene Lisboa 

In “Esta cidade” 

 
 

Categoria: Ensino Secundário 

Etapa: Leitura expressiva 

TEXTO III 

  Helena  e  a  companheira  depois  de  descansadas  retomaram  o  seu  caminho.  Foram 


seguindo sempre a par do Trancão pela estrada ensoalhada e funda. Bucelas ainda era longe a a 
paisagem ia perdendo a sua graça. O calor apertava. O rio quase seco era bordeado de casarões 
em ruínas, outrora florescentes fábricas. 

  A ruína dos edifícios no campo não oferece o mínimo encanto; Helena notava‐o. 

  Por  fim  um  lugarejo  lá  foi  surdindo,  separado  em  dois  pela  estrada.  Também  ali  deviam 
parar.  Bateram  ao  portão  de  uma  casa  de  muitas  varandas,  de  uma  grandeza  rústica  em 
decadência. Entraram para a sala de espera, onde ao cabo de longo tempo lhes apareceram duas 
damas enfeitadas. Eram as donas da casa e falavam com paixão da vida de Lisboa (…). 

  As damas palavrosas e perscrutadoras obrigavam Helena a pensar se parecia mais velha ou 
mais nova do que realmente era. 

  Terminada a visita, as duas raparigas prosseguiram a sua viagem. A Páscoa tardia coincidia 
como em certos anos acontece com os princípios de Verão. 

  Helena ia andando e cismando nas duas damas da casa velha. A companheira contou‐lhe a 
vida delas. Eram as Fadistas (nome de família). Ainda tinham pai, que não aparecia a ninguém. No 
seu tempo casara com uma lavradeira muito rica, feia e baixinha, de quem teve aquelas duas filhas 
e dois filhos. O mais velho fora sempre um grande bêbado e veio a morrer doido. No fim de vida só 
andava  de  casa  para  o  Telhal  e  do  Telhal  para  casa.  O  mais  novo  estragou  a  parte  da  herança 
materna  em  poucos  meses  e  depois  casou  com  uma  varina  de  Lisboa,  que  tinha  muito  oiro.  As 
irmãs nunca a receberam. Mas ele deu cabo do arranjo da mulher num abrir e fechar de olhos, e 
ela teve de pedir o divórcio. Das irmãs, a mais velha desmanchou um casamento rico já depois de 
pedida. O pai foi então ter com a mãe do noivo a ver se ela consertava as coisas, mas a mulher 
negou‐se. Como o irmão e uma prima da rapariga já tinham enlouquecido, o pai teve medo e não 
a  obrigou  a  casar.  O  noivo  era  lavrador.  Ficou  tão  desesperado  no  dia  em  que  a  rapariga  o 
desenganou  que  saiu  de  casa  dela,  encontrou  na  rua  uma  sua  vizinha,  uma  pobre  mulher 
desprezível, já com anos e perguntou‐lhe: Ó Mariana, queres tu casar comigo? E com esta é que se 
casou. Bem se ralou a Fadista! O que ela queria era vida em Lisboa e luxo. Naquela casa não havia 
quem  não  esbanjasse.  O  pai  em  vida  da  mulher,  que  era  quem  lá  tinha  mão  na  lavoira,  só  se 
importava com carros, cavalos e toiradas… 

  E assim conversando Helena e a companheira chegaram a Bucelas. 

Irene Lisboa 

In “Esta cidade” 
 

Categoria: Ensino Secundário 

Etapa: Leitura expressiva 

TEXTO IV 

  Dia de excursão. 

  As mais novas aborreciam‐me. Um pouco… 

  Foi  minha  companheira  a  Edith,  sempre  tão  tímida  e  tão  delicada.  E  sempre  vestida  de 
preto. A sua presença, o seu acanhamento de se manifestar e de nos contradizer, fazem‐me supor 
a mim rude, ousada. 

  Mas que manhã! E que claridade! 

  Metemo‐nos por um bosque como só a minha fantasia criava antigamente para os contos 
e para as lendas. 

  Estes  pinheiros  do  Norte,  sombrios  e  densos,  sobem  de  um  chão  tão  musgoso,  tão  fino, 
tão  crivadinho  de  flores!  Mas  a  sua  folhagem  entremeia‐se  com  a  dos  arbustos  mais  tenros, 
arbustos que a luz do Sol só parece trespassar e fazer empalidecer. E tanta violeta, já nos fins de 
Maio!  É  enternecedor.  Parece  que  nos  olham,  disse  a  Edith.  É  verdade.  Têm  um  ar  aberto, 
pasmado. Flores de coração à mostra… 

  A  impressão  que  eu  tinha  era  de  estar  sentindo  um  prazer  antigo.  De  quando  o  mundo 
ainda era novo para mim… de quando toda a minha fantasia e o meu gozo de vida se abriam em 
céus, em figuras de nuvens e de pássaros… 

  Descansámos.  É  destes  lugares  em  que  se  descansa  que  geralmente  nos  ficam  mais 
lembranças. 

  Víamos as folhas tremer, fazer‐nos uma espécie de acenos sem bulha… Um bater tão leve 
que parecia que era o sol que pesava nelas e não o vento. 

  Recomeçámos a marcha e tudo se agitou. Até o vento voltou. Por felicidade, nem vivalma! 
Doce  solidão…  Uma  tranquilidade!  Uma  limpidez!  A  pura  alma  da  manhã.  Uma  real  harmonia 
preestabelecida. O espírito do bosque plasmava‐se subtilmente  com o nosso. O bosque vivia… e 
convidava‐nos  à  simplicidade,  à  virginização.  Caminhávamos  quase  sorrindo.  Não  havia  troncos 
importunos, só braços e laços a desatar. Ouvia‐se um pássaro, outro… 

  Andámos  perdidas,  mas  não  nos  inquietámos.  Por  fim  sempre  descortinámos  o  lago 
redondinho, em cujas margens a nossa gente acampava. E a doce Edith cessou de repetir com os 
seus olhos azuis muito juntos, ou muito agudos: c’est magnifique, c’est merveilleux. 

 
 

Irene Lisboa 

In “Solidão” 

 
 

Categoria: Ensino Secundário 

Etapa: Leitura expressiva 

TEXTO V 

  Se  não  fui  a  todas  as  festas  do  sítio,  como  me  tinha  proposto  para  conhecer  gente  e 
arraiais,  não  faltei  pelo  menos  à  da  Senhora  da  Ajuda.  É  uma  festa  imemorial  e  das  de  maior 
respeito.  A  riqueza  desta  Senhora  anda  de  boca  em  boca.  Conta‐se  que  até  notas  de  conto  lhe 
pregam no manto. Dos cordões de ouro já nem se faz menção. 

  Mas para se poder ir à festa começa‐se por se andar em cata de burros. 

  Neste ano a festa calhou a um domingo. Mau dia. Toda a gente ia à vila ou à festa… Mas 
enfim,  prometidos  uns  quantos  burros,  ficou  assente  irmos  até  à  Ajuda.  A  senhora  Teodora,  o 
marido  e  a  neta  acompanhavam‐nos.  A  senhora  Teodora  ia  pagar  uma  menina  de  cera  à  santa, 
porque a  neta lhe  tinha  escapado ainda não havia  muito  tempo de  uma  doença que  nem nome 
tinha! 

  Pobre  Teodora...se  ela  resgatasse  a  sua  própria  vida  a  poder  de  cera  nem  uma  loja  de 
cereeiro em peso lhe bastava. 

  A partida é às sete, tinha‐lhe eu dito. E creio que às seis já ela estava mais os seus dois nas 
Pontes à nossa espera. Mas só partimos às nove. Uns burros faltaram, outros tiveram de ser ainda 
arreados pelos donos, que andavam não se sabia por onde; nem todos se desembaraçaram, houve 
o arranjo da merenda… 

  Partirem às sete o mais tardar, por via do calor! Tinham‐nos dito umas saloias. 

  E é longe? perguntava‐lhes eu. 

  Lá isso é, sempre é um bocadito… mas não passavam disto, não davam distâncias certas. 

  Bem, partimos. Os burros não chegaram para o rancho, mas a gente crescida revezava‐se 
neles, e quem de vez em quando ia a pé acompanhava muito bem a andadura asinal. 

  A manhã estava lindíssima, calma e fresca. Os sítios que nós estávamos habituados a ver 
cá de baixo ganhavam mais beleza vistos de perto: grandes encostas de vinhas, vales fundos e uma 
grande largueza à nossa frente, descoberta de todas as voltas da má estrada(…). 

  Chegámos à Ajuda ainda não devia ser meio‐dia. É um lugar grande, dividido pela estrada. 
Sai‐nos logo à frente uma rapariga toda galharda: 

  Venham  para  a  minha  corda!  E  pousava  a  mão  confiada  na  arreata  do  burro  mais 
dianteiro. Era de Martim Afonso. 
 

Irene Lisboa 

In “Apontamentos” 

Nota: Todos os excertos respeitam a grafia das várias publicações, anterior ao AO. 

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