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C ontabilidade Financeira

Contabilidade Financeira
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desde que sejam respeitados os direitos do Autor, conforme determinam a
Lei n.º 9.610/98 (Lei do Direito Autoral) e a Constituição Federal, art. 5º, inc.
XXVII e XXVIII, "a" e "b".

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Sistema de Bibliotecas da UNIFACS Universidade Salvador - Laureate
International Universities)

P426c

Peralta, Telma Martins

Contabilidade Financeira/ Telma Martins Peralta. –


Salvador: UNFACS, 2013.

378 p. ; 18,3 x 23,5cm.


ISBN 978-85-8344-004-8

1. Contabilidade financeira. 2.Contabilidade I. Título.

CDD:657.3
Apresentação
Prezados alunos,
Dando continuidade à trajetória evolutiva do nosso
plano de aprendizado, neste semestre vamos estudar a
Contabilidade Financeira.
Por que a denominação Contabilidade Financeira? Logo
veremos.
Na disciplina anterior – Contabilidade Introdutória –
tivemos a oportunidade de conhecer o Balanço Patrimonial,
demonstrativo contábil que mostra a “saúde” do patrimô-
nio das entidades, e aprendemos os primeiros passos de sua
elaboração. Nesta disciplina vamos aprofundar um pouco
mais nosso conhecimento dessa tão importante demonstra-
ção contábil e agregaremos a ele mais um demonstrativo, a
Demonstração do Resultado do Exercício (DRE).
O Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultados
são demonstrativos fundamentais no processo de gestão e
controle dos patrimônios das entidades e a Contabilidade
Financeira vai propiciar a compreensão dos seus conteúdos
e de suas estruturas, além de introduzir conceitos básicos de
análise financeira desses demonstrativos.
A disciplina terá como objetivo geral:

Propiciar o conhecimento e a prática das técnicas uti-


lizadas para a escrituração dos fatos contábeis, no con-
texto de financiamento das operações e investimentos
e consequente elaboração do Balanço Patrimonial e da
Demonstração do Resultado. Isso, buscando o embasa-
mento teórico-prático necessário para a utilização da
Contabilidade Financeira como instrumento fundamental
de análise da situação patrimonial e do desempenho das
organizações e de atendimento às disposições legais.

Ao término do estudo da disciplina, teremos apren-


dido a:

1. Utilizar o método das partidas dobradas para a escri-


turação dos fatos contábeis mais comuns como com-
pra e venda de mercadorias, produtos e serviços,
provisões, depreciações, amortizações, etc., identifi-
cando-os como origens ou aplicações de recursos.
2. Elaborar o Balanço Patrimonial (BP), analisando os
aspectos financeiros relacionados às mutações do
patrimônio, sob a perspectiva de financiamentos e
investimentos, e respectivos reflexos no resultado
das organizações.
3. Elaborar a Demonstração do Resultado do Exercício
(DRE) e analisar o desempenho da organização
com base nesse demonstrativo, entendendo a sua
correlação com a evolução do patrimônio e com o
Balanço Patrimonial.
4. Elaborar a Demonstração dos Fluxos de Caixa
(DFC) e correlacioná-la com a DRE, de forma a
compreender quanto do resultado gerado no perí-
odo realmente já se transformou em caixa para a
entidade e qual o grupo de operações contribuiu
para o consumo ou geração desse caixa.

Para atingirmos tais objetivos, vamos organizar nosso


estudo da seguinte forma:

Aula 1: Contabilidade Financeira – conceito, definições e uti-


lização no processo decisório.
Aula 2: Principal origem de recursos – Lucro.
Aula 3: Provisões contábeis e despesas que não afetam o cai-
xa.
Aula 4: Demonstração do resultado do exercício.
Aula 5: Outras Origens de recursos – Passivos Circulantes e
Não Circulantes.
Aula 6: Principais Aplicações de Recursos – Ativos Circulan-
tes e Não Circulantes.
Aula 7: Aplicações de Recursos – Estoques e Operações com
Mercadorias.
Aula 8: Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC.

Muita coisa nova e interessante nos espera. Vamos lá?

Profa. Geni Vanzo


Importante: Os links para sites contidos neste livro podem ter
expirado após a sua última edição, em novembro de 2013.
S umário

(1) Contabilidade Financeira: conceito, defi-


nições e utilização no processo decisório, 19
1.1 O que é Contabilidade Financeira?, 23
1.2 Contabilidade Financeira no processo de-
cisório, 24
1.3 Origens e aplicações de recursos: decisões
financeiras, 32
1.3.1 Decisões de financiamento e de inves-
timento, 32
1.3.2 Decisões financeiras e Balanço Patri-
monial, 34
1.3.3 Recursos próprios e de terceiros, 37
( 2 ) Principal origem de recursos: o lucro, 43
2.1 Lucro como principal fonte de recursos, 47
2.2.Regimes de apuração do resultado, 56
2.2.1 Regime de caixa, 58
2.2.2 Regime de competência, 59
2.2.3 Despesas pegas antecipadamente, 64
2.2.4 Receitas recebidas antecipadamente e
resultados de exercícios futuros, 67
2.3 Apuração do resultado, 70

(3) Provisões contábeis e despesas que não


afetam o caixa, 81
3.1 Provisões: conceitos e efeitos no resultado, 85
3.1.1 Diferença entre provisões contábeis e
previsões/estimativas, 87
3.1.2 Constituição de provisões, 90
3.1.3 Reversão de provisões e de perdas
estimadas, 96
3.1.4 Principais provisões, 99

( 4 ) Demonstração do resultado do exercício , 133


4.1 Reconhecimento de receitas e despesas
conforme as IFRS, 138
4.1.1 Receita bruta de vendas, 144
4.1.2 Deduções da receita bruta, 146
4.1.3 Deduções da receita operacional líqui-
da, 154
4.1.4 Despesas e outras receitas operacionais,
162
4.1.5 Outras receitas e outras despesas, 166
4.1.6 Outras Deduções, 170
( 5 )Outras origens de recursos: passivos
circulantes e não circulantes, 185
5.1 Revisão de conceitos, 189
5.1.1 Passivo exigível, 189
5.1.2 Registro e avalição dos passivos, 192
5.2 Fornecedores, 195
5.3 Obrigações fiscais, 198
5.4 Outras obrigações, 199
5.4.1 Adiantamentos de clientes, 200
5.4.2 Contas a pagar, 201
5.4.3 Ordenados e salários a pagar, 202
5.4.4 Encargos sociais a pagar e FGTS a
recolher, 202
5.4.5 Dividendos a Pagar, 203
5.4.6 Ajuste ao Valor Presente, 205
5.4.7 Outras Obrigações a Pagar, 207
5.5 Empréstimos e Financiamentos, 207
5.5.1 Registro contábil de empréstimos e de
financiamentos, 208
5.5.2 Registro contábil de financiamentos
bancários a curto prazo, 213
5.5.3 Outras obrigações por empréstimos e
financiamentos, 215
5.6 Debêntures e Outros Títulos de Dívida, 218
5.6.1 Debêntures, 218
5.6.2 Notas Promissórias (Commercial
Papers), 219
5.7 Provisões , 220
( 6 ) Principais aplicações de recursos: ativos
circulantes e não circulantes, 227
6.1 Revisão de conceitos, 232
6.1.1 Ativo Circulante e não Circulante, 232
6.1.2 Registro e avaliação dos ativos, 235
6.2 Caixa e Equivalentes de Caixa, 237
6.2.1 Definição, 237
6.2.2 Fundo Fixo de Caixa, 239
6.2.3 Caixa Flutuante, 241
6.2.4 Pagamento e Recebimentos com Che-
ques Pré-datados, 242
6.2.5 Contas Bancárias, 245
6.3 Aplicações Financeiras, 247
6.3.1 Aspectos gerais: classificação, avalia-
ção e escrituração, 247
6.3.2 Aplicações em Ouro, 251
6.4 Títulos em Cobrança Bancária, 251
6.5 Contas a Receber, 254
6.5.1 Aspectos gerais: classificação, avalia-
ção e escrituração, 254
6.6 Investimentos Permanentes, 267
6.6.1 Classificação, 267
6.6.2 Avaliação, 268
6.7 Imobilizado (Ativos Fixos), 268
6.7.1 Classificação, 268
6.7.2 Avaliação, 270
6.7.3 Escrituração, 270
6.8 Intangíveis, 273
6.8.1 Classificação, 273
6.8.2 Avaliação, 274
6.8.3 Escrituração, 274
( 7 ) Estoques e operações com mercadorias , 281
7.1 Conceitos de Estoque e sua Importância
na Gestão Financeira, 286
7.1.1 Conceitos, 286
7.1.2 Gestão financeira e gestão de estoques, 287
7.2 Inventários: Periódico e Permanente, 289
7.2.1 Inventário periódico, 290
7.2.2 Inventário permanente, 291
7.3 Avaliação dos Estoques, 292
7.3.1 Apuração do custo dos estoques, 292
7.3.2 PEPS – Primeiro que entra é o primeiro
que sai , 294
7.3.3 Custo Médio Móvel, 295
7.4 Impostos e Contribuições nos Estoques, 297
7.4.1 ICMS sobre Compras, 297
7.4.2 IPI sobre Compras, 300
7.4.3 PIS/COFINS sobre Compras, 300
7.5 Compras de Mercadorias, 300
7.5.1 Fretes sobre compras, 301
7.5.2 Bonificações recebidas , 301
7.5.3 Abatimento sobre Compras, 302
7.5.4 Devolução de Compras, 303
7.5.5 Descontos Comerciais Obtidos, 304
7.5.6 Descontos Financeiros Obtidos, 305
7.5.7 Adiantamentos a Fornecedores, 305
7.6 Vendas, 307
7.6.1 Fretes sobre Vendas, 311
7.6.2 Vendas com Cartões de Crédito, 311
7.6.3 Descontos Comerciais, 312
7.6.4 Bonificações Concedidas, 314
7.6.5 Devolução de Vendas, 315
7.6.6 Abatimentos sobre Vendas, 318
7.6.7 Descontos Financeiros Concedidos, 319
7.6.8 Adiantamentos Recebidos de Clientes, 320
7.7 Mercadorias em Consignação, 321
7.8 Quebras ou perdas de estoques, 326
7.9 Resultados com mercadorias, 327

(8) Demonstração dos fluxos de caixa –


DFC , 335
8.1 Antes de começar, 340
8.1.1 Objetivos e alcance, 341
8.2 Definições, 342
8.2.1 Componentes de caixa e equivalentes
de caixa , 343
8.2.2 Atividades operacionais, 344
8.2.3 Atividades de investimento, 345
8.2.4 Atividades de financiamento, 347
8.2.5 Outras Definições, 347
8.3 Elaboração e apresentação da DFC, 351
8.3.1 Método direto, 352
8.3.2 Método indireto, 365
8.3.2 Método indireto, 365
(1)

Contabilidade Financeira:
conceito, definições e utilização
no processo decisório
Olá prezados alunos,
Bem-vindos à primeira aula de Contabilidade Finan-
ceira! Vamos juntos “abrir” a porta que nos levará a mais um
estágio do nosso aprendizado!
O sucesso de toda tarefa depende, quase sempre, de
como a iniciamos. Planejarmos como alcançar nosso objetivo
é o primeiro passo para conduzirmos nossas ações de forma
produtiva. Mas para planejar é preciso saber o que se quer
alcançar.
Em cada uma das nossas aulas iremos estabelecer obje-
tivos intermediários que nos levarão à consecução do objetivo
geral pretendido. Vamos acompanhar se realmente estare-
mos cumprindo esses objetivos intermediários para não ter-
mos surpresas no final do nosso percurso. Mas como faremos
isso? Esse acompanhamento requer que saibamos:
1º Ler com atenção os objetivos propostos no início da
aula;
2º Analisar se, no decorrer da aula, os objetivos pro-
postos estão sendo alcançados e, na hipótese de não
estarmos seguros sobre isso, retornar até o último
ponto sobre o qual estamos certos de ter conseguido
atingi-los e revermos a nossa compreensão do conte-
údo. Este será o momento de esclarecer dúvidas, pes-
quisar a bibliografia indicada, trocar experiências com
os colegas, enfim, “de correr atrás”.
3º Analisar com total comprometimento com a rea-
lidade se, ao final da aula, os objetivos iniciais foram
atingidos.
Quer mais dicas de como estudar? Consulte o site:
http://www.brasilescola.com/dicas-de-estudo/
Então, vamos começar estabelecendo os objetivos que
pretendemos alcançar com esta aula, dentro do contexto do
nosso objetivo geral.

Objetivos de aprendizagem
‚‚Entender o que é Contabilidade Financeira e por que ela
recebe esse nome.
‚‚Conhecer as principais definições relacionadas à
Contabilidade Financeira.
‚‚Compreender a utilização da Contabilidade Financeira
no processo decisório das entidades.
22
Contabilidade Financeira

Com esse propósito, organizamos a Aula 1 em seis


tópicos:
1.1 O que é Contabilidade Financeira
1.2 Contabilidade Financeira no processo decisório1

1. Processo decisório: processo que leva a uma tomada de decisão.


1.3 Origens e aplicações de recursos: decisões
financeiras
1.3.1 Decisões de financiamentos e investimentos
1.3.2 Decisões financeiras e Balanço Patrimonial
1.3.3 Recursos próprios e de terceiros

Bom estudo a todos!

1.1

O que é Contabilidade
Financeira?
Existem várias justificativas para a denomina-
ção “Contabilidade Financeira” que, por sua vez, origina a
expressão “Demonstrações Financeiras”. Entre essas justifi-
cativas, pode-se destacar:
• A escrituração contábil, assim como os respecti-
vos relatórios e demonstrativos gerados pela contabili-
dade, deve ser elaborada em moeda. Ou seja, o caráter
financeiro está intrínseco à contabilidade;
• Os demonstrativos contábeis, também conhecidos
como Demonstrações Financeiras, são imprescindíveis
23
para a gestão financeira das entidades.
Contabilidade Financeira: conceito,
definições e utilização no processo
decisório

Ricardino (2005), ao estudar as classificações que con-


ferem à Contabilidade a denominação como financeira ou
gerencial, concluiu que não há informações precisas sobre as ati-
vidades abrangidas por tais denominações. Esse autor entende
que toda a contabilidade pode ser considerada “financeira”, visto
que suas informações são expressas em termos monetários.
Outra característica que remete a essa denominação
é o fato de que o Balanço Patrimonial, uma das três princi-
pais demonstrações financeiras de uma entidade, segundo
Stickney e Weil (2009, p. 37), “apresenta uma fotografia dos
investimentos de uma empresa (ativo) e do financiamento
desses investimentos (passivo e patrimônio líquido) em uma
data específica”. Ora, financiamentos e investimentos são
operações essencialmente financeiras e, portanto, justificam
que se denomine a fonte que originou as informações do
Balanço Patrimonial como “financeira”.
Popularmente, é comum, ainda, utilizar-se Contabilidade
Financeira como sinônimo de Contabilidade Geral, justamente
pelo caráter financeiro da escrituração e das demonstrações
contábeis.
Muito bem. Já sabemos o que é Contabilidade
Financeira, mas para que ela serve?

1.2
Contabilidade Financeira no
processo decisório
Quando estudamos a Contabilidade Introdutória
aprendemos que a Ciência Contábil é o principal instru-
24 mento a ser utilizado para a gestão de uma entidade. É por
meio das informações geradas pela Contabilidade, embasa-
Contabilidade Financeira

das pela estrutura teórica da Ciência Contábil que se torna


possível apurar, analisar e controlar o patrimônio e o respec-
tivo desempenho das entidades.
No mundo em que vivemos, o desenvolvimento das
sociedades está atrelado ao desempenho das organizações
que compõem a economia dos países e é possível avaliar a
importância da Contabilidade como responsável por regis-
trar, compilar e analisar as informações sobre essas organi-
zações, com ou sem fins lucrativos. Daí o caráter social da
Ciência Contábil, classificada como Ciência Social Aplicada.
Não temos razão ao sentir orgulho da profissão que escolhe-
mos? Afinal, são os profissionais contábeis os responsáveis
por esse instrumento essencial para o desenvolvimento eco-
nômico e social da sociedade, em termos mundiais.
Bem, chega de confete. Vamos continuar.
No tópico anterior foi mencionado que uma das justi-
ficativas para a denominação Contabilidade Financeira era,
justamente, o fato de um dos principais demonstrativos con-
tábeis – o Balanço Patrimonial – retratar, em um momento
específico, os investimentos (ativos) e os financiamentos (pas-
sivo e patrimônio líquido) das entidades. Com base nesse
demonstrativo contábil, podem-se tomar diversas decisões
que dizem respeito ao patrimônio.
Stickney e Weil (2009, p. 37) afirmam que o Balanço
Patrimonial permite que o usuário da informação contábil
possa responder a diversas perguntas sobre a posição finan-
ceira de uma empresa como, por exemplo, sobre o comporta-
mento dos prazos de suas dívidas (financiamentos) e dos seus
investimentos.
Observe o Balanço Patrimonial da TAM (Transportes
Aéreos Meridionais) em 31/03/2012 e em 31/03/2011:
25
Demonstração Consolidada do Balanço Patrimonial (BP)
Contabilidade Financeira: conceito,
definições e utilização no processo
decisório

Ativo 31/03/2012 31/03/2011


valores em milhões de reais (M) (3m) (3m)
Ativo Total 15.743,6 M 14.560,8 M
Ativo Circulante 4.925,7 M 4.357,6 M
Caixa e Equivalentes de Caixa 553,6 M 564,3 M
Aplicações Financeiras 1.344,0 M 1.325,7 M
Contas a Receber 2.125,8 M 1.897,3 M
Estoques 220,1 M 208,7 M
Tributos a Recuperar 411,4 M 108,0 M
Despesas Antecipadas 0,0 M 0,0 M
Outros Ativos Circulantes 270,8 M 253,7 M
Ativo Não Circulante 10.818,0 M 10.203,2 M
Ativo Realizável em Longo Prazo 852,4 M 693,8 M
Imobilizado 9.372,6 M 8.863,4 M
Intangível 592,9 M 645,9 M
Critério de consolidação Consolidada Consolidada
Critério de elaboração IFRS

Passivo e Patrimônio Líquido 31/03/2012 31/03/2011


valores em milhões de reais (M) (3m) (3m)

Passivo Total 15.743,60 M 14.560,80 M


Passivo Circulante 5.191,00 M 4.908,90 M
Fornecedores 566,00 M 565,70 M
Obrigações Fiscais 368,60 M 310,80 M
Empréstimos e Financiamentos 2.021,80 M 1.446,20 M
Outras Obrigações 2.234,70 M 2.586,10 M
Passivo Não Circulante 8.335,30 M 6.892,10 M
Empréstimos e Financiamentos 6.838,70 M 5.693,60 M
Outras Obrigações 1.113,00 M 779,30 M
Tributos Diferidos 108,50 M 213,40 M
Provisões 275,10 M 205,80 M
Patrimônio Líquido Consolidado 2.217,30 M 2.759,80 M
Capital Social Realizado 819,90 M 819,90 M
Reservas de Capital 145,80 M 129,10 M
Reservas de Lucros 530,00 M 895,60 M
Lucros/Prejuízos Acumulados 100,6 M 127,7 M
26
Ajustes de Avaliação Patrimonial 577,90 M 584,80 M
Ajustes Acumulados de Conversão 0,00 M 0,00 M
Contabilidade Financeira

Outros Resultados Abrangentes 0,00 M 0,00 M


Participação dos Acionistas Não 43,00 M 202,70 M
Controladores

Critério de consolidação Consolidada Consolidada


Critério de elaboração IFRS IFRS
FONTE: Econoinfo – Informações para Investidores. Disponível em: http://www.eco-
noinfo.com.br/demonstracoes-financeiras/balanco-patrimonial?ce=TAMM - 18/07/2013
Vamos destacar algumas informações importantes
para a nossa análise, tomando por base o período encerrado
em 31/12/2012:

Ativo Total = R$15.743,60


Ativo Circulante = R$4.925,70
Ativo Não Circulante = R$10.818,00
Imobilizado = R$9.372,60
Passivo Total = R$15.743,60
Passivo Circulante = R$5.191,00
Passivo Não Circulante = R$8.335,30
Patrimônio Líquido Consolidado = R$2.217,30

Observando esses dados, o usuário da informação con-


tábil poderia obter, facilmente, respostas para as seguintes
questões sobre a posição financeira da TAM na data analisada:
• O financiamento das operações da empresa é feito,
prioritariamente, por recursos obtidos a curto ou longo
prazo?
Resposta: Os financiamentos/dívidas de longo prazo
da TAM, na data sob exame, demonstrados no Passivo Não
Circulante (R$8.335,30), representam 52,9% do total de finan-
ciamento, correspondente a R$15.743,60 (Passivo Total). Em
outras palavras, do total de recursos captados (capital de ter-
ceiros + capital próprio), mais da metade (52,9%) deverá ser
“devolvido” aos financiadores a longo prazo.
27
Mas porque essa informação é importante? Ela pode
indicar, por exemplo, que a empresa não precisará de valores
Contabilidade Financeira: conceito,
definições e utilização no processo
decisório

significativos de caixa a curto prazo para honrar o pagamento


de suas obrigações. Esse tipo de informação é fundamental
para o gestor financeiro ou, até mesmo, para os fornecedores
que poderão decidir sobre o prazo que poderão conceder para
que a empresa pague suas obrigações, entre outras diversas
conclusões que podem ser extraídas dessa informação.
Se essa primeira informação for combinada com a aná-
lise do Ativo (R$4.925,70) e do Passivo (R$5.191,00) Circulantes,
isto é, valores que podem representar entradas de caixa a curto
prazo, combinados com os valores que representarão saídas de
caixa, também a curto prazo, pode-se observar que, aparen-
temente, as entradas de caixa não serão suficientes para fazer
face às saídas de caixa no mesmo prazo.
• Onde e de que forma estão sendo investidos os
recursos obtidos pelos financiamentos de longo prazo?
Resposta: É interessante observar que as aplicações
de recursos em investimentos, também de longo prazo, são
bastante significativas. O valor do Imobilizado, que é de
R$9.372,60, representa 86,6% das aplicações de longo prazo
(Ativo Não Circulante) que, por sua vez, é mais da metade
(68,7%) do total das aplicações dos recursos (Ativo Total).
A combinação dos resultados obtidos na análise desses
três itens permite concluir que:
• Há um “descasamento” entre os financiamentos e os
investimentos de longo prazo. Para 52,9% de financiamen-
tos de longo prazo, observa-se a existência de 68,7% de
investimentos também de longo prazo. Ou seja, os inves-
timentos em ativos realizáveis (possíveis de se transfor-
mar em caixa) a longo prazo superam as dívidas de longo
prazo, podendo indicar que, em algum momento, poderá
faltar “fôlego” para saldar tais dívidas.
28
• O investimento de longo prazo está concentrado,
basicamente, em ativos imobilizados, isto é, em ati-
Contabilidade Financeira

vos que deverão participar do processo produtivo por


um longo tempo. Isso pode significar que o “descasa-
mento” indicado no parágrafo anterior pode não ser
tão importante, visto que se espera que tais investi-
mentos gerem resultados operacionais a curto prazo,
traduzíveis em entradas de caixa.
• Os investimentos de longo prazo podem estar afe-
tando a capacidade de a empresa saldar suas obrigações
de curto prazo (liquidez), observando-se também um
“descasamento” entre o Ativo e o Passivo Circulantes.
Vamos entender melhor esse processo no gráfico abaixo:
TAM TRANSPORTES AÉREOS MERIDIONAIS
BALANÇO PATRIMONIAL
Aplicações Aspectos ORIGENS (FI-
(investimentos) financeiros (caixa) NANCIAMEN-
Entradas Saídas TOS) PASSIVOS
Ativos (R$) (R$)
(R$) (R$)
GERAM CAIXA

CURTO PRAZO
GERAM SAÍDA
DE CAIXA NO
NO CURTO
Circulante

Circulante
PRAZO

Passivo
Ativo

4.925,60 4.925,60 5.191,00 5.191,90


Ativo Não Circu-

LONGO PRAZO
GERAM SAÍDA
DE CAIXA NO

Passivo Não
Circulante
lante

10.818,00 8.335,30 8.335,30


OU SERVIÇOS
PRODUTOS
Imobilizado

GERAM

9.372,60
Consolidado
CAIXA NO
Circulantes
Ativos Não

Patrimônio
LONGO
GERAM

Líquido
PRAZO
Outros

1.445,40 1.445,40 2.217,30

Total 15.743,6 TOTAL 15.743,60

29
Tais conclusões são particularmente interessantes para
o gestor financeiro que deve suprir as deficiências de caixa,
Contabilidade Financeira: conceito,
definições e utilização no processo
decisório

mas também são fundamentais para os outros gestores, visto


que eles devem decidir sobre o nível dos investimentos em
bens de capital (Imobilizado), sobre o processo produtivo que
deverá sustentar as vendas, sobre as campanhas de marke-
ting que devem alavancar as vendas de tal forma que seja
possível gerar caixa no momento desejado, sobre os prazos
a serem concedidos aos clientes nas vendas a prazo e assim
por diante. É uma “cadeia” de procedimentos, cujas decisões
devem ser tomadas em cima das informações geradas pela
Contabilidade Financeira.
No exame simples e rápido desses dados, pode-se per-
ceber que uma informação isolada pode não representar muita
coisa, mas que, ao combiná-la com outras informações obtidas
no próprio Balanço Patrimonial ou em outras demonstrações,
é possível estabelecer correlações e conclusões necessárias e
imprescindíveis ao processo de tomada de decisão.

Importante
As análises foram realizadas somente para efeitos didá-
ticos, tomando-se por base um número restrito de dados
e, portanto, não devem ser consideradas absolutas ou
conclusivas.

Assim como a análise do Balanço Patrimonial per-


mite inferir importantes informações sobre o patrimônio
da entidade, as características dos seus financiamentos/ori-
gens e de seus investimentos/aplicações de recursos, a análise
de outros demonstrativos contábeis complementa e diversi-
fica tais informações. A Demonstração do Resultado, por
exemplo, vai retratar o desempenho da entidade, por meio
da demonstração de suas receitas e despesas, ou seja, do
seu resultado positivo (lucro) ou negativo (prejuízo), gerado
30 pelos seus investimentos e financiamentos de recursos. A
Demonstração dos Fluxos de Caixa2, por outro lado, vai per-
Contabilidade Financeira

mitir a análise do que foi gerado pelas operações da entidade,


o que permite decisões importantes sobre as suas finanças
(investimentos e fontes de financiamento).

2. Fluxo de Caixa: compreende as entradas e as saídas de numerário do caixa da entidade e suas


respectivas destinações.
Resumindo:
As análises financeiras só podem ser feitas com base
em dados históricos?

A Contabilidade Financeira gera informações funda-


mentais para a tomada de decisão de seus usuários. Tais
informações dizem respeito, basicamente, aos financia-
mentos/origens e aos investimentos/aplicações de recursos
(Balanço Patrimonial), assim como aos resultados gerados
por eles (Demonstração do Resultado), e às entradas e às
saídas de dinheiro, isto é, ao fluxo de caixa (Demonstração
do Fluxo de Caixa) que financiamentos, investimentos,
receitas e despesas representam para a entidade.

Será que analisar acontecimentos já passados pode


auxiliar as decisões de forma efetiva? E se os gestores qui-
serem saber o que pode ocorrer no futuro, mediante esta ou
aquela decisão, a Contabilidade Financeira também será útil?
Sabe-se que a Contabilidade registra e elabora as
demonstrações com base em fatos já ocorridos. A análise
dos demonstrativos gerados, por conseguinte, será base-
ada em acontecimentos passados, o que, absolutamente,
não invalida a sua utilidade para efeito de tomada de deci-
sões. É fundamental analisar o que já ocorreu para efeito
de controle e, também, para a percepção de tendências.
Para tanto, a Contabilidade Financeira, como já vimos, é a
principal ferramenta.
Mas e com relação às decisões que vão afetar o futuro 31

das entidades? Neste ponto a Contabilidade Financeira


Contabilidade Financeira: conceito,
definições e utilização no processo
decisório

começa a confundir-se com a Contabilidade Gerencial que


será nosso objeto de estudo em futuro próximo. A maio-
ria dos conceitos e das técnicas utilizadas na Contabilidade
Financeira também é aplicável à elaboração e à análise de
Demonstrações Contábeis projetadas para datas futuras, em
função da construção de cenários que se deseje alcançar.
Para concluir, vamos retomar alguns termos que foram
estudados até aqui, tendo em vista a importância deles para
o entendimento e para a ratificação dos conceitos que serão
vistos a seguir:
• Financiamentos = Origens de Recursos
▪▪ Origens de Recursos = Capital de Terceiros +
Capital Próprio
−− Capital de Terceiros = Recursos resultantes de
financiamentos concedidos à entidade por terceiros.
Passivo (Obrigações)
−− Capital Próprio = Recursos resultantes dos inves-
timentos realizados na entidade, pelos sócios ou
acionistas. Patrimônio Líquido

▪▪ Origens de Recursos = Passivo + Patrimônio


Líquido
• Investimentos = Aplicações de Recursos
• Aplicações de Recursos = Ativo
• Fluxo de Caixa = Entradas e saídas de numerário
do caixa

1.3

O rigens e aplicações de
32 recursos: decisões financeiras
Contabilidade Financeira

1.3.1 Decisões de financiamentos e de


investimentos
A viabilização das atividades de uma entidade está
diretamente relacionada a dois grandes grupos de decisões
que são tomadas de forma contínua, a saber:
• Captação de recursos financeiros que irão “finan-
ciar” suas operações; e
• Aplicação dos recursos captados, de forma a obter
os resultados desejados.
Segundo Assaf Neto (2009, p. 43), “os montantes deter-
minados por essas decisões, assim como suas diferentes
naturezas, estão apurados nos ativos (investimentos) e passi-
vos (financiamentos) contabilizados pela empresa”.
Do sucesso dessas decisões dependerá a estabilidade
e a consequente continuidade da entidade e, portanto, elas
não podem ser tomadas isoladamente. Tanto a captação como
a aplicação dos recursos têm que estar correlacionadas, uma
vez que são interdependentes. A análise feita no tópico ante-
rior sobre os financiamentos e os investimentos de recursos
a longo prazo é um exemplo típico dessa interdependência.
Outro detalhe importante, também ressaltado na análise
feita anteriormente, é o nível de imobilização dos investimen-
tos, ou seja, quanto dos recursos captados deve ser investido
em ativos fixos, aqueles que vão contribuir para o processo
produtivo, visto que o retorno financeiro desses investimen-
tos somente será observado no decorrer do ciclo operacional e
dependerá, fundamentalmente, do custo dos passivos corres-
pondentes, isto é, do custo dos respectivos financiamentos.
Para uma posição de equilíbrio finan-
ceiro, torna-se essencial uma adequa-
ção entre a maturidade dos passivos e 33
a capacidade de geração de caixa dos
Contabilidade Financeira: conceito,
definições e utilização no processo
decisório

ativos. Uma decisão de empréstimo de


curto prazo direcionado para financiar
bens de natureza permanente, por ex-
emplo, sinaliza uma deterioração da
estabilidade financeira da empresa,
tornando-a dependente da renovação
da dívida circulante para manter os
ativos de longo prazo (ASSAF NETO,
2009, p. 44).
O desempenho das entidades, portanto, está atrelado
à correta gestão dos financiamentos e dos investimentos rea-
lizados. O retorno que os investimentos (Ativos) são capazes
de gerar ao serem confrontados com os custos dos respecti-
vos financiamentos é que proporcionará (ou não) os resulta-
dos financeiros esperados.
As decisões financeiras, ao terem como foco a estabili-
dade e a continuidade da empresa, estarão garantindo, tam-
bém, as expectativas de retorno do investimento realizado
pelos sócios ou acionistas e, por conseguinte, a atratividade
de novos investimentos e a valorização da empresa.

1.3.2 Decisões financeiras e balanço


patrimonial
Tomando por base, mais uma vez, o Balanço
Patrimonial da TAM (Transportes Aéreos Meridionais) trans-
crito de forma simplificada, verifica-se que esse demonstra-
tivo propicia a observação clara das fontes dos recursos e das
respectivas aplicações:
TAM - TRANSPORTES AÉREOS MERIDIONAIS
BALANÇO PATRIMONIAL
APLICAÇÕES ORIGENS
(INVESTIMENTOS) (FINANCIAMENTOS)
ATIVOS (R$) PASSIVOS (R$)
Ativo Passivo
4.925,60 5.191,90
Circulante Circulante
Ativo Não Passivo Não
10.818,00 8.335,30
34 Circulante Circulante

Imobilizado 9.372,60
Contabilidade Financeira

Outros Ativos Patrimônio


não 1.445,40 Líquido 2.217,30
Circulantes Consolidado
Total 15.743,60 TOTAL 15.743,60
Origens de Recursos (Financiamentos)
• Recursos de Terceiros = R$13.526,30 (Passivo
Circulante e Não Circulante)
• Recursos Próprios = R$2.217,30
Total de Origens de Recursos = R$15.743,60
Aplicações de Recursos (Investimentos)
• Aplicações em Imobilizados = R$9.372,60
• Outras Aplicações = R$6.371,00
Total das Aplicações de Recursos = R$15.743,60

Vamos fazer uma pausa para relembrarmos alguns


conceitos já vistos anteriormente e que nos ajudarão a fixar
melhor esse assunto. Examinemos o Balanço Patrimonial
simplificado da Luz Azul Materiais Elétricos Ltda.:
LUZ AZUL MATERIAIS ELÉTRICOS LTDA
BALANÇO PATRIMONIAL
PASSIVOS + PATRIMÔNIO
ATIVOS (R$)
LÍQUIDO (R$)
Ativo Circulante Passivo Circulante

Bancos - Conta Passivo Não


70.000,00
Movimento Circulante

Ativo Não Circulante 1.445,40 Patrimônio Líquido


Capital Social
Capital Subscrito 100.000,00
(-) Capital a Realizar - 30.000,00
Total 70.000,00 TOTAL 70.000,00

35
Trata-se do Balanço de abertura da empresa e ele nos
mostra que:
Contabilidade Financeira: conceito,
definições e utilização no processo
decisório

• O Capital Social representa uma “origem” de recur-


sos (captação) decorrente do investimento dos sócios
na empresa.
• O recurso captado/originado do investimento dos
sócios está “aplicado” no Ativo representado pela
conta Bancos - Conta Movimento.
Além disso, podemos destacar que:
−− O valor de R$70.000,00 na conta Bancos - Conta
Movimento é um Ativo, pois satisfaz as condições
para ser assim classificado:
• É um Direito;
• Está sob o controle da empresa;
• É representável em moeda; e
• É um benefício presente com condições de
gerar benefícios futuros.
−− O valor do Capital Social é o investimento feito
na empresa pelos proprietários e, portanto, deve
figurar como Patrimônio Líquido no lado direito
do Balanço Patrimonial, chamado de Passivo, de
acordo com a Lei das Sociedades por Ações.
−− O valor do Capital Subscrito – R$100.000,00 – é
aquele que foi pactuado no Contrato Social de cons-
tituição da empresa, retratando o compromisso
assumido pelos sócios.
−− O valor do Capital a Realizar – R$30.000,00 – é o
valor que falta ser integralizado pelos sócios.
−− O valor líquido do Capital Social é de R$70.000,00,
representando a contrapartida do depósito bancário
efetuado pelos sócios na conta corrente da empresa
e registrado na conta Bancos - Conta Movimento.
36 Para completar nossa seção flash back, vamos relembrar
como seria o lançamento contábil que originou esse Balanço
Contabilidade Financeira

Patrimonial, em razonetes:
Bancos - Conta
Capital Subscrito Capital a Integralizar
Movimento
D C D C D C
100.000 70.000 30.000

100.000 70.000 30.000

As unidades de capital social de uma empresa Limitada


(LTDA) são representadas pelo que mesmo?
Consulte o site: http://www.portaldoempreendedor.gov.
br/legislacao/sociedade-empresaria-limitada

1.3.3 Recursos próprios e de terceiros


Já vimos que o desempenho de uma entidade está
condicionado uma boa gestão dos seus financiamentos e
investimentos. Os custos dos financiamentos devem ser con-
frontados com as expectativas de retorno dos investimentos
(Ativos), sendo que ele dependerá de diversas variáveis, nem
sempre controláveis pelos gestores, pois dependem de forne-
cedores, mercado, políticas econômicas etc. Já os custos dos
financiamentos se submetem a um menor número de variá-
veis e se condicionam, primeiramente, a duas modalidades:
37
recursos originados de terceiros (credores) e recursos pró-
prios, provenientes de sócios ou acionistas.
Contabilidade Financeira: conceito,
definições e utilização no processo
decisório

O custo de recursos de terceiros é representado pela


remuneração – juros e outras despesas financeiras – combi-
nada com o credor (terceiro). É chamado de custo de capital
de terceiros.
O custo do capital próprio é representado pelo lucro
distribuído ao sócio ou ao acionista, na forma de dividendo
que, percentualmente, costuma ser maior do que o custo
pago pelo capital de terceiros. Entretanto, há que se ressaltar
que a remuneração do capital próprio somente se efetivará na
ocorrência de lucros que, inclusive, podem ser reinvestidos
na empresa com custo zero.
Outra variável importante a se considerar em relação ao
custo dos financiamentos é o prazo, visto que, quanto maior
ele for, maior também será a tendência de encarecer tal custo.
Nunca é demais repetir, no entanto, que a gestão dos
custos somente será eficaz quando feita em conjunto com o
que se espera obter de retorno dos investimentos.
Bem, parece que esgotamos os assuntos que nos pro-
pusemos a estudar neste aula. Será? Claro que não. Apenas
começamos. Para sedimentar o que aprendemos, vamos bus-
car mais conhecimento nos sites recomendados e na biblio-
grafia indicada.
Antes de encerrarmos esta aula vamos refletir se con-
seguimos alcançar nossos objetivos.

Objetivos de aprendizagem
‚‚Entendemos o que é Contabilidade Financeira e por que
ela recebe esse nome?
‚‚Já conhecemos os principais conceitos e definições rela-
cionados à Contabilidade Financeira?
‚‚Compreendemos a utilidade da Contabilidade Financeira
38 no processo decisório das entidades?
Contabilidade Financeira

Se cumprimos a nossa missão, podemos ir em frente!


Para a próxima aula vamos estudar um assunto que interessa
a todo mundo: o “lucro”!
Vamos relembrar?
Nesta primeira aula pudemos estudar o que é Contabili-
dade Financeira, por que ela é assim denominada, e qual
é a sua utilidade. Pudemos, ainda, entender que ela auxi-
lia o gestor na tomada de decisões de caráter financeiro e
que, por consequência, reflete no desempenho das entida-
des. Para tanto, a Contabilidade Financeira, por meio de
seus demonstrativos, possibilita a realização de análises
importantes que levarão os gestores a gerir o patrimônio
das entidades de forma adequada.
Aprendemos, ainda, que a gestão do patrimônio está
diretamente relacionada às decisões sobre financiamen-
tos e investimentos e que são representados no Balanço
Patrimonial, respectivamente, no Passivo/Patrimônio
Líquido (origens) e no Ativo (aplicações).
Também foi ressaltado que a gestão dos financiamentos e
dos investimentos deve ocorrer de forma interdependente,
com foco nos custos e nos retornos que possam produzir.

Qu estões pa r a r e f l e x ão
Analise o texto abaixo e, com base no conteúdo teórico
estudado, responda as seguintes questões:

1. Quais fatores levam as empresas a buscarem recur-


39
sos no mercado de capitais por meio da emissão de
novas ações?
Contabilidade Financeira: conceito,
definições e utilização no processo
decisório

2. Esses recursos obtidos pelas empresas são origens


ou aplicações?

3. Em termos de custos de financiamento, quais as


vantagens e desvantagens desse tipo de captação?
Empresas fazem abertura de capital para crescer e
investir
Cerca de 130 empresas brasileiras iniciaram oferta pública de ações de
2004 até hoje.
A oferta pública inicial de ações (também conhecida como
IPO, na sigla em inglês) é um processo utilizado pelas
empresas para captar recursos para expandir suas ativi-
dades, ter um referencial de seu valor, profissionalizar a
gestão da companhia ou mesmo como uma alternativa
para a sucessão, no caso de uma empresa familiar. Na
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
(FEA) da USP um estudo pesquisou as companhias brasi-
leiras que abriram seu capital na Bolsa de Valores entre os
anos de 2004 e 2010, período marcado pelo maior número
de IPOs da história recente do País.

Os resultados indicam que as em-


presas que abriram o capital foram
aquelas que vinham investindo sig-
nificativamente no seu crescimento
e/ou aquelas que vinham aumentan-
do o seu endividamento e encon-
tra-ram na abertura de capital uma
alternativa para adequar a sua estru-
tura de capital (diminuir a relação
de dívida versus capital próprio).

Conta o administrador Bruno Cals de Oliveira, responsá-


vel pelo estudo de mestrado Fatores determinantes para
abertura de capital de empresas brasileiras, orientado pelo
professor Roy Martelanc.
A pesquisa de Cals mostrou que as empresas encontra-
ram na abertura de capital uma boa opção para continuar
40 investindo e crescendo. “Além disso, as empresas que ini-
ciaram a negociação de suas ações apresentaram maior
Contabilidade Financeira

nível de rentabilidade, aproveitando uma janela de opor-


tunidade do mercado para fazer seu IPO”, conta ele. Cerca
de 130 companhias brasileiras abriram seu capital entre
2004 e 2011 — 64 delas o fizeram durante o ano de 2007,
estabelecendo um recorde.

Disponível em: http://www.usp.br/agen/?p=89248. Acessado em


19/07/2013.
L e i t u r a s r ecom e n da da s
IUDICIBUS, S. et al. Manual de contabilidade societária. São
Paulo: Atlas, 2010.

MADEIRA, D. K. Análise das demonstrações contábeis. Ma-


naus: UNINORTE/CED, 2009. Disponível em: http://conteudo.
unp.br/ebooks_ead/Analise_Demonstracoes_Contabeis.pdf

LIN K S INDICADOS
Abertura de Capital (IPO): Um caminho para o crescimento
[Workshop Completo]: http://www.endeavor.org.br/videos/es-
trategia-crescimento/workshops/abertura-de-capital-ipo/aber-
tura-de-capital-um-caminho-para-o-crescimento-workshop-
-completo?gclid=cmi68m3pvlgcfzrj7aodquoasg

Glossário de termos contábeis: http://www.portaldecontabili-


dade.com.br/glossario.htm

REFER ÊNCIAS
ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços. 8 ed. São
Paulo: Atlas, 2009.

RICARDINO, A. Contabilidade gerencial e financeira. São


Paulo: Atlas, 2005.
41
STICKNEY, C. P.; WEIL, R. L. Contabilidade financeira. São
Contabilidade Financeira: conceito,
definições e utilização no processo
decisório

Paulo: Cengage Learning, 2009.


(2)

P rincipal origem de recursos:


o lucro
Olá prezados alunos,
Continuando nossa trajetória de aprendizado da
Contabilidade Financeira, nesta aula teremos a oportuni-
dade de conhecer os detalhes da principal fonte de recursos
de qualquer entidade – o LUCRO. Aliás, esta é uma fonte em
que todos nós gostamos de “beber” não é mesmo?
Em uma economia capitalista como a que vivemos, o
lucro é intensamente perseguido, embora alguns autores pre-
firam concentrar suas análises no que o lucro representa em
termos de fluxos de caixa positivos, ou seja, em entrada efe-
tiva de dinheiro no caixa da entidade. Goldratt (2008), por
exemplo, construiu uma teoria chamada Teoria das Restrições
(Theory of Constraints – TOC), baseado no princípio de que a
“meta” de uma empresa é “ganhar dinheiro” e não somente
obter lucro.
Popularmente, costuma-se afirmar que “um negócio
só é bom quando dá lucro” ou, ainda, que “saímos no lucro”
quando obtemos resultados positivos em alguma situação. Na
realidade, existem diversas conotações para a palavra lucro e,
nesta aula, vamos conhecer como se apura o lucro contábil e a
sua importância enquanto fonte/origem de recursos.
Mas, seguindo nossa linha de trabalho, vamos relem-
brar que é necessário planejar como iremos conduzir esse
aprendizado. Primeiramente, vamos estabelecer os objetivos
de aprendizagem que queremos alcançar. Ao final desta aula,
deveremos ser capazes de:

Objetivos de aprendizagem
‚‚Entender por que o lucro é a principal origem de recur-
sos para uma entidade;
‚‚Apurar o resultado contábil de uma entidade, utilizando
os regimes de caixa e de competência, de acordo com os
princípios contábeis; e
‚‚Apropriar o resultado apurado ao patrimônio da
entidade.

Para alcançar esses objetivos, esta aula será estrutu-


rada da seguinte forma:
2.1 Lucro como principal fonte de recursos;
46 2.2 Regimes de apuração do resultado:
2.2.1 Regime de caixa
Contabilidade Financeira

2.2.2 Regime de competência


2.2.3 Despesas pagas antecipadamente (diferidas)
2.2.4 Receitas recebidas antecipadamente e resulta-
dos de exercícios futuros
2.3 Apuração do resultado

Bom estudo a todos!


2.1

Lucro como principal fonte de


recursos
Em nossa última aula tratamos da importância da ges-
tão dos financiamentos e dos investimentos de uma entidade,
enfatizando que a sua continuidade depende, prioritaria-
mente, do sucesso dessa gestão. Ressaltamos, ainda, que a
gestão dos custos dos financiamentos, juntamente com a
dos retornos dos investimentos, é fator fundamental para a
obtenção desse sucesso.
Estudamos também que os custos de financiamen-
tos diferem dependendo da origem dos recursos que podem
advir de terceiros (recursos ou capital de terceiros) ou de
sócios ou acionistas (recursos ou capital próprio).
Muito bem! Mas qual é a melhor fonte de recursos?
Qual desses recursos é o de menor custo? Os recursos pró-
prios ou os recursos de terceiros? A resposta é: depende.
Assaf Neto (2009, p. 47) afirma que “(...) em situação de
certa estabilidade e equilíbrio econômico, o capital próprio é
47
mais caro que o capital de terceiros”. Tal afirmação, segundo
Assaf (2009, p. 47), deve-se ao fato de que a remuneração paga
Principal origem de recursos: o lucro

pelo capital de terceiros constitui uma despesa financeira


(juros e taxas) e, portanto, pode ser deduzida da base de cál-
culo do imposto de renda, enquanto que o lucro não tem esse
mesmo tratamento fiscal.
Entretanto, outros fatores devem ser considerados para
determinar se é mais ou menos vantajoso para uma entidade
captar recursos com terceiros ou com os sócios/acionistas,
como o prazo de financiamento. Financiamentos mais longos
tendem a ter seu custo encarecido. Além disso, as taxas de
juros embutidas em financiamentos de curto prazo, por
exemplo, obrigações com Fornecedores, não são consideradas
como despesas financeiras e, portanto, não se beneficiam do
tratamento fiscal acima citado. Por outro lado, o sócio ou acio-
nista somente é remunerado diante da ocorrência de lucros
que, dependendo do tempo em que permaneceu na empresa,
pode ter gerado benefícios financeiros significativos.
Enfim, a situação ideal, como sempre, é dada pelo equi-
líbrio entre o capital de terceiros e o capital próprio.
Mas voltemos ao lucro. O lucro gerado por uma empresa
pertence aos seus proprietários, ou seja, aos seus sócios ou
acionistas. Ele representa a remuneração, o retorno do inves-
timento que eles fizeram na empresa. Entretanto, quando
parte desse lucro/remuneração permanece na empresa, ele é
incorporado ao patrimônio sem custo algum.
A figura a seguir demonstra o que ocorre quando o
lucro ou parte dele não é distribuído aos sócios ou acionistas:

PASSIVO
ATIVO
E PL

Capital de Diversos
Aplicação
terceiros
48
os
Lucro
cr os
Lu trib endo

u
Contabilidade Financeira

L tid
dis ivid
cro uíd s)
(D

Re
s

Capital
os

Aplicação
Próprio (PL)
Capital
Aplica-
Origens
ções Investimentos
dos proprietários

Fonte: MARIO N (2006, p. 81), adaptado.


Marion (2006, p. 80) afirma que “a parcela do lucro não
distribuída aos proprietários (mas retida na empresa) é o que,
na verdade, fortalece a situação econômica” da entidade.
Como já mencionado anteriormente, existe mais de um
significado para o termo “lucro”, entretanto, o que nos inte-
ressa a esta altura do nosso estudo é o lucro contábil, cujos efei-
tos no patrimônio, exemplificados na figura acima, podem
ser observados no Balanço Patrimonial.

Receitas
(-)
Despesas
=

. Lucro = Receitas > Despesas


Resultado . Prejuízo = Receitas < Despesas

O lucro contábil ou lucro econômico é o resultado positivo


da diferença entre as receitas e as despesas de um determi-
nado período. Quando se trata de entidade sem fins lucrati-
vos, ao invés de lucro, utiliza-se a denominação superávit.
49
Quando o resultado é negativo, ou seja, quando as des-
pesas são maiores que as receitas, este é chamado prejuízo e, no
Principal origem de recursos: o lucro

caso de entidades sem fins lucrativos, recebe o nome de déficit.


O resultado também é chamado rédito por alguns
autores.
Vamos relembrar alguns conceitos já estudados sobre
receitas e despesas, isto é, sobre as contas de resultado.

Contas de Resultado
• São as contas que registram as receitas e as despe-
sas da entidade;
• Servem de base para a apuração do resultado das
organizações e para a elaboração da Demonstração do
Resultado do Exercício – DRE.
De acordo com a Resolução CFC nº 1374/2011 do
Conselho Federal de Contabilidade que aprovou a Estrutura
Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório
Contábil-Financeiro emitido pelo Comitê de Pronunciamentos
Contábeis (CPC), os elementos de receitas e de despesas são
definidos como segue:
(a) Receitas são aumentos nos benefícios econômicos
durante o período contábil, sob a forma da entrada de
recursos ou do aumento de ativos ou diminuição de
passivos, que resultam em aumentos do patrimônio
líquido, e que não estejam relacionados com a contri-
buição dos detentores dos instrumentos patrimoniais;
(b) Despesas são decréscimos nos benefícios econômi-
cos durante o período contábil, sob a forma da saída
de recursos ou da redução de ativos ou assunção de
passivos, que resultam em decréscimo do patrimônio
líquido, e que não estejam relacionados com distribui-
ções aos detentores dos instrumentos patrimoniais.

50 Despesas
Despesas podem ser relacionadas a gastos, desembol-
Contabilidade Financeira

sados ou devidos pela entidade, necessários ao desenvol-


vimento de suas atividades e que reduzem o patrimônio.
Exemplos: salários, aluguéis, combustíveis, transportes,
impostos, etc.
Gastos são todos os “sacrifícios de recursos” feitos pela
entidade para a obtenção de bens ou serviços. O pagamento
dos gastos pode ocorrer à vista (desembolso imediato) ou,
também, a prazo (dívida/obrigação).
Além de despesas ou custos (que mais tarde, também
se transformarão em despesas), os gastos podem se transfor-
mar em investimentos.
Os custos são aqueles gastos necessários para se produzir
bens ou serviços. Exemplos: matéria-prima, aluguel da fábrica
etc. Tais custos se transformarão em despesas quando os bens
ou serviços produzidos forem vendidos, ou seja, quando tais
bens ou serviços se transformarem em receitas. Isso ocorre
em função da premissa de que para que uma receita possa ser
gerada é necessário o consumo de recursos (despesas).
Para melhor ilustrar esse conceito, vamos utilizar como
exemplos uma Instituição de ensino (Escola Luz do Saber) e
uma fábrica de alimentos (Pão Nosso):
• A Escola Luz do Saber foi criada para prestar ser-
viços de ensino e, portanto, suas receitas serão gera-
das pela prestação desses serviços. Ministrando aulas e
outros serviços relacionados à educação, a escola estará
obtendo receitas. Em que momento? No momento em
que ela “entregar” o serviço que se comprometeu a pres-
tar. Geralmente, em tal atividade as receitas estão atre-
ladas a um período mensal (mensalidades escolares),
caracterizando a referida entrega do serviço. Para entre-
gar/prestar o serviço, a escola precisou efetuar gastos. 51

Exemplos de gastos da Escola Luz do Saber que podem


Principal origem de recursos: o lucro

estar relacionados com a prestação de serviços de ensino


e, portanto, podem ser classificados como custo dos ser-
viços prestados: aluguel do prédio da escola; energia elé-
trica consumida nas instalações da escola; salário dos
professores; serviço de limpeza das instalações; salário
dos serventes; água consumida nas instalações; e todos
os demais gastos sem os quais não seria possível prestar
o “serviço de ensino” da forma como foi contratado com
o cliente. Tais custos foram necessários para que a escola
prestasse o serviço para o qual ela foi criada. Sem eles, ela
não conseguiria prestá-los.
Receitas Entrega de serviços

Custos necessários para a prestação


Despesas
dos serviços

• A Indústria de Alimentos Pão Nosso foi criada para


produzir alimentos e, portanto, suas receitas são gera-
das pela venda dos produtos fabricados (pães, bolos
etc.). Fabricando e vendendo seus produtos, a indústria
estará obtendo receitas. Em que momento? Quando
vender seus produtos. Para fabricá-los e vendê-los a
indústria precisou realizar gastos.

Exemplos de gastos da Indústria de Alimentos Pão


Nosso que podem estar relacionados com a produção
dos alimentos e, portanto, podem ser classificados como
custo dos produtos: aluguel da fábrica; energia consu-
mida da fábrica; mão de obra direta (pessoal envolvido
diretamente com a produção); matéria prima; salários dos
supervisores; embalagens; depreciação dos equipamentos
da fábrica; e todos os demais gastos sem os quais não seria
52 possível produzir os produtos a serem comercializados.
Contabilidade Financeira

Receitas Venda dos produtos

Custos necessários para a produção


Despesas dos produtos
Sobre a confrontação entre as receitas e as despesas
correspondentes, a Resolução CFC nº 1374/2011 destaca:
As despesas devem ser reconhecidas
na demonstração do resultado com
base na associação direta entre elas e
os correspondentes itens de receita.
Esse processo, usualmente chamado
de confrontação entre despesas e recei-
tas (regime de competência), envolve
o reconhecimento simultâneo ou com-
binado das receitas e despesas que re-
sultem diretamente ou conjuntamente
das mesmas transações ou outros even-
tos. Por exemplo, os vários componen-
tes de despesas que integram o custo
das mercadorias vendidas devem ser
reconhecidos no mesmo momento em
que a receita derivada da venda das
mercadorias é reconhecida (Resolução
CFC nº 1374/2011, item 4.50)

Muito bem! Acabamos de entender a diferença que


existe entre “custos e despesas”, sendo somente uma dife-
rença temporária, visto que todos os custos serão despesas,
mais cedo ou mais tarde. Mediante o que aprendemos, pode-
mos, inclusive, afirmar que:

Despesa pode ser entendida como todo o “consumo” de


bens ou de serviços necessários à obtenção de receitas,
53
direta ou indiretamente.
Principal origem de recursos: o lucro

As despesas que decorrem das atividades normais da


entidade, ou seja, daquelas atividades para as quais a enti-
dade foi criada (atividades do negócio), são chamadas de
Despesas Operacionais.
As despesas eventuais, que não decorrem das ativida-
des normais da entidade e que, portanto, não têm caráter ope-
racional, são chamadas de Perdas. Exemplos: perdas geradas
na venda de ativos imobilizados; perdas de estoques ocorri-
das por enchentes, etc.
Despesas que decorrem dos juros ou multas prove-
nientes das obrigações da entidade (empréstimos, financia-
mentos etc.) são chamadas de Despesas Financeiras.
Outro tipo de gasto de fundamental importância e que
não pode ser confundido com as despesas é aquele que repre-
senta os investimentos realizados pela entidade. Investimento
é todo gasto que deverá trazer benefícios futuros. Será um
Ativo da organização até que se transforme em custo ou des-
pesa. Exemplo: aquisição de veículo cujo desgaste é contabili-
zado como despesa de depreciação.

Reconhecimento das Despesas


Os critérios para reconhecimento, ou seja, para regis-
tro contábil das despesas, também foram estabelecidos pela
Resolução CFC nº 1374/2011, podendo ser assim resumidos:
Regra geral: Despesas devem ser reconhecidas de
acordo com o regime de competência quando:
• Surgir um decréscimo nos futuros benefícios eco-
nômicos, seja por diminuição de um Ativo (bens e
direitos) ou aumento de um Passivo (obrigações).
• O respectivo valor possa ser determinado em bases
confiáveis (razoável certeza).
54
Outros critérios de reconhecimento:
• Despesas devem ser reconhecidas:
Contabilidade Financeira

1. Com base na associação direta entre elas e os


correspondentes itens de receita (confrontação
entre despesas e receitas – competência). Exemplo:
custo dos produtos vendidos.
2. Quando a confrontação só puder ser feita de
modo geral e indireto, as despesas devem ser reco-
nhecidas com base, de forma sistemática e racional.
Exemplo: depreciações e amortizações de Ativos.
3. Imediatamente, quando um gasto não produ-
zir benefícios econômicos futuros ou quando não
forem classificáveis como Ativos.
4. Quando um Passivo é incorrido sem o corres-
pondente reconhecimento de um Ativo.

O que é uma “despesa incorrida”?


Despesas incorridas são aquelas de competência do perí-
odo de apuração, relativas a bens empregados ou a ser-
viços consumidos nas transações ou operações exigidas
pela atividade da empresa, tendo sido pagas ou não.
Disponível em: http://www.receita.fazenda.gov.br/pessoa-
juridica/dipj/2005/pergresp2005/pr242a264.htm

Receitas
Receitas são recursos recebidos ou a receber provenien-
tes das atividades da entidade e que aumentam o patrimônio.
Exemplos: vendas de mercadorias, produtos ou serviços, recei-
tas de aluguéis, receitas de juros etc.
As receitas que resultam das operações da entidade,
ou seja, que são derivadas da realização das atividades para
as quais a entidade foi criada, são denominadas Receitas
Operacionais.
As receitas provenientes de aplicações financeiras e 55
que representam uma alternativa para a utilização de recur-
Principal origem de recursos: o lucro

sos financeiros excedentes às necessidades imediatas de caixa


da entidade, bem como aquelas receitas auferidas em função
da cobrança de juros ou de taxas incidentes sobre as opera-
ções, são chamadas de Receitas Financeiras.
Quando a entidade aufere receitas que não resultam
das suas operações, isto é, receitas eventuais de caráter não
operacional, elas são denominadas como Ganhos. Exemplo:
ganho na venda de ativo imobilizado.
Reconhecimento das Receitas
As receitas, de acordo com as determinações da
Resolução CFC nº 1374/2011, devem ser reconhecidas de
acordo com o regime de competência quando:
• Resultarem em um aumento de benefícios econô-
micos futuros, seja por aumento de um Ativo (bens e
direitos) ou redução de um Passivo (obrigações).
• O respectivo valor possa ser determinado em bases
confiáveis (razoável certeza).
Iudícibus et al (2010, p. 487) enfatizam que “não se pode
esquecer que, para o registro da receita, é necessário estar ela
‘ganha’, o ativo recebido deve ser realizável e serem conheci-
das ou calculáveis as despesas a ela relacionadas”.
Cabe ainda ressaltar que, em obediência ao regime
de competência, o reconhecimento da receita (e também do
custo) de contratos de longo prazo deve ocorrer à medida
do progresso físico dos mesmos, utilizando-se o método de
porcentagem de acabamento. Para saber mais sobre esses
contratos, consulte o Pronunciamento Técnico CPC 17 (R1),
do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, aprovado pela
Resolução CFC nº 1411/12.

2.2
56
Contabilidade Financeira

R egimes de apuração do
resultado
Revistos importantes conceitos relacionados às contas
que permitem a apuração do resultado, pode-se estabelecer
uma relação entre tais resultados e a gestão dos financiamen-
tos e investimentos das entidades.
Pudemos observar que o lucro é apurado mediante a
confrontação entre as receitas e as despesas corresponden-
tes e que, quando este permanece na empresa, aumenta o seu
patrimônio, sendo uma excelente fonte de recursos, ou seja,
excelente fonte de financiamento das operações.
Por outro lado, também observamos que os gastos que
a entidade realiza para fazer face às suas operações podem
ser custos, despesas ou investimentos. Quando os custos
tornam-se despesas, ou seja, são reconhecidos no resultado,
quando da ocorrência das receitas correspondentes e, quando
investimentos, permanecerão no Ativo até que sejam reali-
zados por consumo, desgaste (depreciação), perda de valor
(amortização) ou venda. Isso significa dizer que, enquanto
os gastos não forem apropriados ao resultado, eles permane-
cerão no Ativo como aplicações das quais se espera retorno
suficiente para cobrir os custos de financiamento (origens de
recursos) das operações.
Continuando, vamos conhecer ou relembrar as for-
mas pelas quais é possível apurar os resultados das entida-
des de acordo com os fins para os quais se pretenda utilizar
tal informação.
O resultado (lucro ou prejuízo) das entidades pode
ser apurado de duas formas, de acordo com o fim a que se 57
destine.
Principal origem de recursos: o lucro

• Pelo regime de caixa; e


• Pelo regime de competência.
O que é regime?
Neste caso, regime diz respeito às normas que norteiam o
registro contábil.

Cada uma dessas formas de apuração terá uma utili-


dade específica em termos de gestão financeira. O regime de
caixa, por exemplo, relaciona o resultado “diretamente” ao
fluxo de caixa, enquanto que o regime de competência, privi-
legiando aspectos econômicos, relaciona o resultado ao patri-
mônio das entidades.
Antes de estudarmos os regimes de apuração do resul-
tado, vale destacar que tal apuração, assim como a geração
de qualquer outra informação originada pela contabilidade,
sempre estará condicionada a um período de tempo deter-
minado (mês, ano, trimestre etc.). Usualmente, tais períodos
recebem as seguintes denominações:
• Exercício Social - É o espaço de tempo (12 meses) em
que as pessoas jurídicas apuram seus resultados; ele
pode coincidir, ou não, com o ano-calendário ou ano
civil, de acordo com o que dispuser o estatuto ou o con-
trato social. Perante a legislação do imposto de renda, é
chamado de período-base (mensal ou anual) de apura-
ção da base de cálculo do imposto devido.
• Período contábil - Espaço de tempo escolhido para cal-
cular a situação patrimonial da empresa. Normalmente
é de um ano, para efeitos societários ou fiscais, mas
pode ser menor para efeitos gerenciais.
• Período base - É o período de tempo delimitado pela
legislação tributária (mês, trimestre ou ano), compre-
58
endido em um ano-calendário, durante o qual são apu-
rados os resultados das pessoas jurídicas e calculados
Contabilidade Financeira

os impostos e contribuições.
• Ano base - Período base de um ano (uso fiscal).
• Ano calendário - É o período de doze meses consecuti-
vos, contados de 1o de janeiro a 31 de dezembro (uso fiscal).

2.2.1 Regime de caixa


O regime de caixa consiste em computar no resultado
da entidade:
Receitas – somente quando efetivamente recebidas (entradas
de caixa);
Despesas – somente quando efetivamente pagas (saídas de
caixa).

A apuração do resultado pelo regime de caixa tem cará-


ter eminentemente gerencial (gestão do fluxo de caixa),
podendo ser utilizado para fins fiscais, quando expressa-
mente permitido pela legislação correspondente.

2.2.2 Regime de competência


Tendo como escopo o Princípio da Competência, o
regime de apuração de resultado por competência é univer-
salmente adotado e é um critério aceito e recomendado pela
legislação fiscal.
Usualmente chamado de confrontação entre despesas e
receitas, o regime de competência, segundo a Resolução CFC
nº 1374/2011 (4.50) “envolve o reconhecimento simultâneo ou
combinado das receitas e despesas que resultem diretamente
ou conjuntamente das mesmas transações ou de outros even-
tos”. Além disso, o regime de competência considera que:
• Receitas devem ser reconhecidas no período em
que são geradas, independentemente de recebimento.
Exemplo: Receita de Vendas de Mercadorias 59

Nesse exemplo, a receita será registrada no momento da


Principal origem de recursos: o lucro

venda, se à vista, em contrapartida com a conta Caixa e,


se a prazo, em contrapartida com a conta Duplicatas a
Receber, ou seja, o registro da receita independe de seu
recebimento efetivo.
• Despesas devem ser reconhecidas no perí-
odo em que forem CONSUMIDAS/INCORRIDAS/
UTILIZADAS, independentemente de pagamento.
Exemplo: Despesas Administrativas
Nesse exemplo, a despesa será registrada no momento
da sua ocorrência. Se à vista, em contrapartida com a
conta Caixa e, se a prazo, em contrapartida com a conta
Contas a Pagar, ou seja, o registro da despesa inde-
pende de seu pagamento efetivo.

Qual é a diferença entre os resultados apurados pelo


regime de caixa e pelo regime de competência?
Ambos representam a diferença entre as receitas e despe-
sas da entidade, certo? O que os diferencia é, exatamente,
o “momento” do reconhecimento das receitas e das des-
pesas. Enquanto o regime de caixa relaciona as receitas e
despesas com as entradas e saídas de caixa, o regime de
competência relaciona as receitas e despesas aos períodos
em que elas efetivamente ocorreram, independentemente
de recebimento (receitas) ou pagamentos (despesas).

Vamos ver isso na prática?


A Luz Azul Comércio de Materiais Elétricos Ltda. rea-
lizou as seguintes operações no mês de maio de 20XX:
• Vendeu estoques de material elétrico por R$10.000,00
à vista;
• Vendeu estoques de material elétrico por
R$12.000,00 a prazo;
• Pagou antecipadamente a despesa de aluguel do
60
mês de junho, no valor de R$2.000,00;
• Provisionou a folha de pagamentos relativa ao mês
Contabilidade Financeira

de maio, no valor total de R$3.500,00, a ser paga aos


funcionários no quinto dia útil do mês de junho.
Com base nesses dados, vamos apurar o resultado do
mês de maio de 20XX, pelos regimes de caixa e de competência:
LUZ AZUL COMÉRCIO DE MATERIAIS ELÉTRICOS LTDA
APURAÇÃO DO RESULTADO EM MAIO DE 20XX

REGIME DE CAIXA REGIME DE COMPETÊNCIA


R$ R$
Receitas de Vendas 10.000 Receitas de Vendas 22.000
Despesas de Aluguel (2.000) Despesas de Salários (3.500)
RESULTADO 8.000 RESULTADO 18.500

Vamos analisar esses resultados:


• No regime de caixa não foram consideradas as
receitas de vendas a prazo (R$12.000,00), visto que
ainda não foram recebidas, não geraram “entradas”
de caixa, e nem as despesas com salários (R$3.500,00),
visto que estas ainda não foram pagas, não gerando
“saídas” de caixa.
• No regime por competência foram consideradas as
receitas e as despesas incorridas no período, ou seja,
receitas de R$22.000,00 e despesas de R$3.500,00.
E a despesa de aluguel do mês de junho que já foi paga,
não será contabilizada? Claro que sim, mas não no
resultado, pois não diz respeito ao período de apura-
ção, que é o mês de maio. Essa despesa, paga anteci-
61
padamente, ficará contabilizada como Ativo até o mês
seguinte, período real da sua ocorrência.
Principal origem de recursos: o lucro

• O resultado gerado pelo regime de caixa (R$8.000,00)


traduz a disponibilidade real do caixa ao final do perí-
odo. É uma informação importantíssima para a gestão
do caixa da entidade.
• Por outro lado, o resultado pelo regime de com-
petência demonstra a capacidade econômica que a
empresa tem para gerar resultados. Em outras palavras,
o patrimônio da empresa será acrescido, efetivamente,
em R$18.500,00, independentemente da disponibili-
dade de caixa.
A análise do resultado por esses diferentes ângulos é
fundamental, de acordo com o tipo de decisão que se pre-
cise tomar com base neles. Por exemplo: se o gestor finan-
ceiro precisa saber se terá dinheiro suficiente para saldar seus
compromissos do mês seguinte, isto é, decisões financeiras
de curtíssimo prazo, deverá recorrer ao resultado apurado
pelo regime de caixa; já, se o gestor precisa tomar decisões
que envolvam a capacidade de continuidade da empresa, ou
decisões de financiamento ou investimento, deverá recorrer à
demonstração do resultado pelo regime de competência.
Ambas têm a sua importância, mas em Contabilidade,
como já mencionado, somente se pode aplicar o regime de
competência para registro das receitas e das despesas.
Para melhor ilustrar, vamos trabalhar uma questão
formulada no Exame de Suficiência do Conselho Federal de
Contabilidade – CFC 02/12:
Uma sociedade empresária apresentou as informações
abaixo do mês de agosto de 2012.
Receitas realizadas e não recebidas: R$150.000,00
62 Despesas pagas antecipadamente e não incorridas:
R$110.000,00
Contabilidade Financeira

Receitas realizadas e recebidas: R$220.000,00


Despesas incorridas e não pagas: R$90.000,00
Receitas recebidas antecipadamente e não realizadas:
R$130.000,00
Despesas incorridas e pagas: R$85.000,00
Utilizando o Princípio da Competência, o valor do
resultado do período é um lucro de:
a) R$155.000,00.
b) R$195.000,00.
c) R$315.000,00.
d) R$325.000,00.
A resposta correta dessa questão é a alternativa “b)
R$195.000,00”. Como se chega a ela?
O enunciado da questão exige a utilização do Princípio
da Competência para se apurar o resultado do período, con-
sequentemente, este deve ser apurado pelo “regime de com-
petência”. O primeiro passo, portanto, é analisar quais contas
de receitas e despesas foram efetivamente realizadas ou incor-
ridas, pois esta é a regra básica imposta por essa regime de
apuração:

RECEITAS REALIZADAS DESPESAS INCORRIDAS


R$ R$
Receitas realizadas Despesas incorridas
150.000 90.000
e não recebidas e não pagas
Receitas realiza- Despesas incorri-
220.000 85.000
das e recebidas das e pagas
Total de
Total de Receitas
370.000 Despesas 175.000
Realizadas
Incorridas
Total de Receitas 63
370.00
Realizadas
Principal origem de recursos: o lucro

Total de Despesas
(175.000)
Incorridas
Resultado do Período
195.000
(Lucro)

Muito bem! Resolvemos a questão corretamente, mas e


as linhas do enunciado da questão que não foram utilizadas,
Despesas Pagas Antecipadamente e Não Incorridas e Receitas
Recebidas Antecipadamente e Não Realizadas? Nos próxi-
mos tópicos vamos estudá-las!
2.2.3 Despesas pagas antecipadamente
Segundo Iudícibus et al (2010, p.96):
As aplicações em despesas do exercí-
cio seguinte são classificadas no Ativo
Circulante e geralmente representam
uma parcela não muito significativa,
em comparação com os demais ativos,
motivo pelo qual, no Balanço, são nor-
malmente apresentados pelo seu valor
total3 .

Tais ativos, ainda segundo os mesmos autores, men-


cionando o artigo 179 da Lei nº 6404/76 – Lei das Sociedades
por Ações, referem-se a aplicações de recursos que, “normal-
mente, não serão recebidas em dinheiro nem representam
bens fisicamente existentes, como é o caso de peças, mate-
riais etc.”.
Ainda segundo o artigo 179 – I da Lei nº 6404/76, os
recursos aplicados em despesas do exercício seguinte serão
classificados no Ativo Circulante, representando despesas
que serão futuramente apropriadas como, por exemplo, alu-
guéis, seguros, assinaturas de periódicos, comissões etc. Para
Greco e Arend (2012, p. 64), tais antecipações não se tratam de
um “Ativo Circulante no sentido verdadeiro, pois não é con-
versível em meios de pagamentos, mas, sim, em algo que se
64
situa como uma pendência a ser retificada”.
Nem sempre, no entanto, os valores registrados com
Contabilidade Financeira

despesas antecipadas representam desembolso imediato de


recursos. Há casos, como prêmios de seguros parcelados, por
exemplo, em que tal registro estará representando valores a
pagar a curto prazo. Agora complicou. Se são valores a pagar
porque estão no Ativo? Vejam só: tratam -se de aplicações
em despesas que ainda serão incorridas, mas que já foram

3. Grifo nosso.
efetivamente “contratadas” pelo compromisso formal assu-
mido com a respectiva seguradora. Utilizemos a seguinte
situação para exemplificar um desses casos:
• A Luz Azul Comércio de Materiais Elétricos Ltda.
contratou um seguro com a Seguradora XYZ, no valor
total de R$50.000,00 para cobrir possíveis riscos de
sinistros com um dos veículos de sua frota, nas seguin-
tes condições:
1. Vigência do seguro: de 01.07.XX a 30.06.XX – 12
meses
2. Valor do prêmio de seguro contratado, a ser
pago em 4 parcelas iguais: R$6.000,00
3. Data da contratação: 29.06.XX
4. Vencimento da primeira parcela: 30.06.XX
Vejamos como seria feita a contabilização correspon-
dente:
• Na data da contratação (29.06.XX):
Despesas Antecipadas a Seguros a Pagar - R$6.000,00
Obs.: Lançamento pelo valor total do prêmio de seguro
contratado
• Na data do pagamento da primeira parcela (30.06.XX)
Seguros a Pagar a Caixa ou Bancos - R$1.500,00
65
Obs.: O mesmo lançamento será feito quando forem
pagas as parcelas subsequentes.
Principal origem de recursos: o lucro

• Na data em que se configurou a ocorrência do primeiro


período coberto pelo seguro, ou seja, da realização da despesa
correspondente, de acordo com o regime de competência.
Despesas de Seguros a Seguros a Pagar - R$500,00
Obs.: O valor equivalente a 1/12 do valor total (6.000 /
12) foi calculado de forma proporcional ao período de vigên-
cia do seguro. Todos os meses, até 30.06.XX, deverá ser repe-
tida a apropriação da despesa correspondente.
Podemos trabalhar o entendimento da despesa anteci-
pada “clássica”, ou seja, aquela que realmente foi paga antes
de seu vencimento, utilizando o exemplo já citado anterior-
mente, em que observamos a ocorrência de uma despesa
de aluguel paga nessa condição. Ela foi refletida no resul-
tado apurado pelo regime de caixa, mas não afetou o resul-
tado pelo regime de competência, pelo menos não no mês do
pagamento.
Como a despesa se referia ao período seguinte, no
regime de competência, ela só afetará o resultado do período
respectivo. Entretanto, ocorreu uma saída de caixa que deve
ser contabilizada, independentemente da despesa ainda não
ter ocorrido. O lançamento contábil seria:
Despesas Antecipadas de Aluguel a Caixa
Utilizemos outro exemplo prático para entender
melhor esse tipo de despesa:
• A Indústria de Alimentos Pão Nosso adquiriu, no
mês de junho/20XX, um lote de 10.000 folhas de papel
sulfite pelo valor de R$500,00, com a finalidade de
utilizá-las para a impressão geral de documentos e
relatórios dos seus departamentos administrativos.
O pagamento ao fornecedor, Papelaria Kalunga, foi
feito à vista na data da aquisição. No final do mês, a
Contabilidade constatou o consumo de 30% do estoque
66
de papel e fez a correta apropriação do respectivo valor
em conta de Despesa Administrativa.
Contabilidade Financeira

Ativo Despesas
Despesas Antecipadas Ativo Caixa Administrativas
c/ Material Escritório Material de Escritório
(A) 500 150 (B) 500 (A) (B) 150

(A) Compra de papel sulfite, conforme NF 1200 - Kalunga - tem natureza de um INVES-
TIMENTO
(B) Quando o material é consumido pelos departamentos, este é alocado como DESPESA
Contabilização:
(A) Para a Indústria de Alimentos Pão Nosso, a aqui-
sição do lote de papel sulfite, inicialmente, é um inves-
timento a ser registrado como Despesas Antecipadas
– Material de Escritório. Trata-se, neste momento, de
um Ativo que deverá gerar resultados futuros. Como o
pagamento do papel foi feito à vista, ocorreu um desem-
bolso, representado pelo lançamento na conta Caixa;
(B) O consumo do papel sulfite, pelos departamentos
administrativos da indústria de Alimentos Pão Nosso,
constitui uma despesa administrativa com material de
escritório, uma vez que esse consumo não faz parte da sua
atividade operacional principal que é “fabricar alimentos”.
Constata-se, então, que sempre que ocorrer a aquisição
de Ativos (Investimentos) que irão se tornar despesas futu-
ras, desde que não representem custos de produção de bens
ou serviços, elas deverão ser diferidas pelo tempo no qual
forem consumidas/utilizadas.
A apropriação, no resultado, dessas despesas pagas ante-
cipadamente, deverá ocorrer no período ao qual elas se refe-
rem, de forma proporcional ao consumo ou utilização efetiva.

2.2.4 Receitas recebidas antecipadamente e 67


resultados de exercícios futuros
Principal origem de recursos: o lucro

Conceitualmente, existe certa confusão na interpreta-


ção e no registro do que possa ser considerado como receitas
recebidas antecipadamente ou receitas diferidas.
As receitas recebidas antecipadamente podem ter sua
origem na obrigação de entrega de bens ou serviços, como
os adiantamentos recebidos de clientes por conta da entrega
de um produto no futuro. Tais adiantamentos não são “recei-
tas” na acepção da palavra, pois a sua realização está condi-
cionada à “entrega” do produto ou serviço, portanto, deverão
ser registradas como uma obrigação no Passivo (Circulante
ou não Circulante), de acordo com o prazo das operações.
Neste caso, o adiantamento recebido deve ser contabilizado
na seguinte forma:
Caixa ou Bancos a Adiantamentos de Clientes
Observa-se que, na realidade, trata-se somente de um
adiantamento recebido e que se transformará em receita no
futuro. Há situações, no entanto, em que o valor recebido
não está condicionado à entrega de qualquer bem ou serviço,
constituindo-se uma antecipação real de receita.
Exemplo: Receitas de aluguéis recebidas antecipada-
mente, no valor de R$10.000,00. Nesse caso, assim deveria ser
feita a contabilização:
Caixa ou Bancos a Receitas Diferidas ou Receitas
Antecipadas (Passivo) - R$10.000,00
As receitas, assim classificáveis, realmente constituirão
resultados de exercícios futuros de acordo com o Princípio da
Competência. Por essa razão, permanecerão registradas no
Passivo e somente deverão ser apropriadas ao resultado no
período ao qual corresponderem.
No exemplo citado, a apropriação ocorreria da seguinte
forma:
68 Receitas Diferidas ou Receitas Antecipadas a Receita
de Aluguéis - R$10.000,00
Contabilidade Financeira

Obs.: Apropriação da receita ao Resultado do período.


Mas veja que estamos falando de “resultados” de exer-
cícios futuros e já aprendemos que resultado diz respeito à
diferença entre receitas e despesas. Isso significa que as recei-
tas devem ser reconhecidas pelo seu valor “justo”, ou seja,
pelo seu valor real. Assim, o valor da receita deve ser dedu-
zido dos eventuais custos que lhe dizem respeito.
Utilizando o exemplo anterior, vamos supor que a
empresa locadora deva pagar uma taxa pactuada com a
administradora do imóvel locado, correspondente aos servi-
ços de administração desse imóvel, no valor de R$1.000,00.
O valor real da receita de aluguel, líquido dessa despesa
necessária ao seu recebimento, seria igual à diferença entre
a receita e a despesa respectiva, isto é R$9.000,00, represen-
tando o “resultado” correspondente. Vejamos as contabiliza-
ções complementares:
Despesas Diferidas (Passivo)(1) a Encargos a Vencer
(Passivo) - R$1.000,00
Obs.: (1) Conta retificadora/redutora da conta Receitas
Diferidas ou Receitas Antecipadas, no Passivo Circulante ou
Não Circulante, de acordo com o prazo correspondente.
Despesas Administrativas a Despesas Diferidas
(Passivo) - R$1.000,00
Obs.: Apropriação da despesa ao Resultado do Período.
Encargos a Vencer a Caixa ou Bancos - R$1.000,00
Obs.: Pagamento da taxa de administração.
Podemos concluir, então, que temos duas situações no
que se refere a receitas recebidas de forma antecipada:
• Aquelas que estão vinculadas à entrega de bens ou
serviços e que, no momento do recebimento, na ver-
dade, ainda não representam receitas, mas, obrigações; e
• Aquelas que não estão vinculadas a qualquer 69

entrega de bens ou serviços e que, realmente, portanto,


Principal origem de recursos: o lucro

representam receitas de exercícios/períodos futuros.


Nesse caso, tais receitas devem ser deduzidas das des-
pesas necessárias à sua geração, quando houver.
2.3
Apuração do resultado
A apuração do resultado é um processo em que se reú-
nem, em uma só conta transitória, todas as contas de receitas
e despesas, movimentadas em um determinado período, com
o propósito de apurar a ocorrência de lucro ou prejuízo nesse
mesmo período. Vamos rever alguns dos procedimentos bási-
cos que compõem esse processo.
A técnica de apuração de resultados envolve:
• A criação de uma conta transitória, geralmente
denominada Apuração do Resultado;
• A transferência de todos os saldos das contas
de receitas e despesas para a conta da Apuração do
Resultado;
• A apuração do lucro ou prejuízo contábil antes do
cálculo e da contabilização dos impostos e das contri-
buições incidentes sobre o lucro;
• A provisão dos impostos e das contribuições inci-
dentes sobre o lucro;
• A transferência das contas de despesas de impostos
e contribuições incidentes sobre o lucro para a conta de
70
Apuração de Resultado;
• O encerramento da conta de Apuração de Resultado
Contabilidade Financeira

e a transferência do resultado apurado para a conta


de Lucros ou Prejuízos Acumulados no Patrimônio
Líquido.
A apuração do resultado de um determinado período
é realizada mediante a utilização dos saldos apresentados no
Balancete de Verificação. Assim, vamos aproveitar e também
rever o que já foi aprendido sobre esse relatório contábil.
A Luz Azul Comércio de Materiais Elétricos Ltda.
apresentou o seguinte Balancete de Verificação em 31/12/XX:
BALANCETE DE VERIFICAÇÃO EM 31/12/XX
LUZ AZUL MATERIAIS ELÉTRICOS LTDA.
CONTAS SALDO ANTERIOR
ATIVO DEVEDOR CREDOR
CIRCULANTE 8.500
Caixa 300
Bancos - Conta Movimento 1.500
Duplicatas a receber 2.200
Estoque de mercadorias para revenda 4.000
Material de escritório 500
NÃO CIRCULANTE 10.000 800
Imóveis 10.000
Depreciação acumulada 800
TOTAL DO ATIVO 18.500 800
PASSIVO
CIRCULANTE 1.800
Fornecedores 1.000
Contas a pagar 500
Salários a pagar 300
TOTAL DO PASSIVO
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Capital 10.000
Lucros acumulados 2.600
TOTAL DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO 12.600
TOTAL DO PASSIVO E DO
14.400
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
CONTAS DE RESULTADO 71
Receita de vendas 18.400
Principal origem de recursos: o lucro

Custo das mercadorias vendidas 12.000


Despesas administrativas 1.000
. Salários 300
. Aluguéis 500
. Material de escritório 50
. Energia elétrica 80
. Depreciação 70
Despesas de vendas 1.850
Despesas financeiras 250
TOTAL DAS CONTAS DE RESULTADO 15.100 18.400
TOTAIS 33.600 33.600
Partindo do pressuposto de que incidirá imposto de
renda e contribuição social sobre o lucro, a uma alíquota de
15% e 9%, respectivamente, vamos apurar o LAIR – Lucro
Antes do Imposto de Renda – e as Contribuições sobre o
Lucro e provisionar ambos os encargos.
Receitas de vendas Custo Merc Vendidas Despesas Financeiras
(a) 18.400 18.400 SI SI 12.000 12.000 (b) SI 250 250 (c)

Salários Aluguéis Material de Escritório


SI 300 300 (d) SI 500 500 (e) SI 50 50 (f)

Energia Elétrica Depreciação Despesas de Vendas


SI 80 80 (g) SI 70 70 (h) SI 1.850 1.850 (i)

IRPJ e CSLL a Recolher Imposto de Renda PJ Contr. Social s/ Lucro


792 (j) (j) 495 495 (k) (j) 297 297 (l)

Apuração do Resultado
72 (b) 12.000 18.400 (a)

(c) 250
Contabilidade Financeira

(d) 300 Cálculo IRPJ


(e) 500 3.300 x 0,15 = 495
(f) 50 Cálculo CSLL
(g) 80
3.300 x 0,09 = 297
(h) 70
(i) 1.850
LAIR 3.300 BASE DE CÁLCULO IRPJ/CSLL

(k) 495
(l) 297
15.892 18.400 SUBTOTAIS
Podemos, agora, levantar o segundo Balancete de
Verificação e contabilizar a transferência do lucro final para
o Patrimônio Líquido, “encerrando” o período e fechando o
Balanço Patrimonial:

BALANCETE DE VERIFICAÇÃO EM 31/12/XX


– 2º BALANCETE LUZ AZUL MATERIAIS ELÉTRICOS LTDA.
SALDO MOVIMEN- SALDO
CONTAS
ANTERIOR TAÇÃO FINAL
DEVE- CRE- DÉBI- CRÉDI- DEVE- CRE-
DOR DOR TOS TOS DOR DOR
ATIVO
CIRCULANTE 8.500 - - 8.500 -
Caixa 300 - - 300 -
Bancos Cta.
1.500 - - 1.500 -
Movimento
Duplicatas a receber 2.200 - - 2.200 -
Estoque Mercadorias 4.000 - - 4.000 -
Material de escritório 500 - - 500 -
NÃO CIRCULANTE 10.000 800 - - 10.000 800
Imóveis 10.000 - - 10.000 -
Depreciação
800 - - 800
acumulada
TOTAL DO ATIVO 18.500 800 - - 18.500 800
PASSIVO
CIRCULANTE 1.800 - - - 2.592
Fornecedores 1.000 - - - 1.000
Contas a pagar 500 - - - 500 73
Salários a pagar 300 - - - 300
Principal origem de recursos: o lucro

IRPJ e CSLL a
- - 792 - 792
Recolher
TOTAL DO PASSIVO 1.800 - 792 - 2.592
PATRIMÔNIO
LÍQUIDO
Capital 10.000 - - - 10.000
Lucros acumulados 2.600 - - - 2.600
TOTAL DO PATRI-
12.600 - - - 12.600
MÔNIO LÍQUIDO
TOTAL DO
PASSIVO E DO
14.400 - 792 - 15.192
PATRIMÔNIO
LÍQUIDO
CONTAS DE
RESULTADO
Receita de vendas 18.400 18.400 - - -
Custo das Mercador-
12.000 - - 12.000 - -
ias Vendidas
Despesas
1.000 - - 1.000 - -
administrativas
. Salários 300 - - 300 - -
. Aluguéis 500 - - 500 - -
. Material de
50 - - 50 - -
escritório
. Energia elétrica 80 - - 80 - -
. Depreciação 70 - - 70 - -
Despesas de vendas 1.850 - - 1.850 - -
IRPJ - - 495 495 - -
CSLL - - 297 297 - -
Despesas financeiras 250 - - 250 - -
APURAÇÃO DO
- - 15.892 18.400 15.892 18.400
RESULTADO
TOTAL DAS
CONTAS DE 15.100 18.400 35.084 35.084 - -
RESULTADO
TOTAIS 33.600 33.600 35.084 35.876 34.392 34.392

74 Agora, vamos encerrar o resultado do período e trans-


feri-lo para o patrimônio da Luz Azul Materiais Elétricos
Contabilidade Financeira

Ltda.
Apuração do Resultado
(b) 12.000 18.400 (a)

(c) 250
(d) 300 Lucros Acumulados
(e) 500 2.508 (m)
(f) 50
(g) 80 2.508 SF
(h) 70
(i) 1.850
(k) 495
(l) 297
297 2.508 (m)

Finalmente, podemos fechar o Balanço Patrimonial:

BALANÇO PARTRIMONIAL EM 31/12/XX (Em milhares)


LUZ AZUL MATERIAIS ELÉTRICOS LTDA.
PASSIVO E
ATIVO R$ PATRIMÔNIO R$
LÍQUIDO

CIRCULANTE 8.500 CIRCULANTE 2.592

Caixa 300 Fornecedores 1.000


Bancos Cta. Movimento 1.500 Contas a pagar 500
Duplicatas a receber 2.200 Salários a pagar 300
75
IRPJ e CSLL a Re-
Estoque Mercadorias 4.000 792
colher
Principal origem de recursos: o lucro

TOTAL DO
Material de escritório 500 2.592
PASSIVO
PATRIMÔNIO
NÃO CIRCULANTE 9.200
LÍQUIDO
Imóveis 10.000 Capital 10.000
Depreciação acumulada (800) Lucros acumulados 5.108
TOTAL DO
PATRIMÔNIO 15.108
LÍQUIDO
TOTAL DO ATIVO 17.700 TOTAL 17.700
Terminamos, assim, de estudar o que pretendíamos
nesta aula, mas será que conseguimos alcançar os objetivos
iniciais propostos? Chegou a hora daquele momento de refle-
xão, superimportante na evolução do nosso aprendizado.
Não podemos deixar nenhuma dúvida pendente para poder-
mos evoluir com segurança!

Objetivos de aprendizagem
‚‚Entendemos porque o lucro é a principal origem de
recursos para uma entidade?
‚‚Somos capazes de apurar o resultado contábil de uma
entidade, utilizando os regimes de caixa e de competên-
cia, de acordo com os princípios contábeis?
‚‚Sabemos como apropriar o resultado apurado ao patri-
mônio da entidade?

Se respondemos positivamente a essas pergun-


tas, podemos continuar. Na próxima aula nos aguarda um
assunto muito importante no que se refere às análises finan-
ceiras necessárias para a tomada de decisão. Vamos conhecer
as provisões contábeis e as despesas que não afetam o caixa
das entidades.

76 Vamos relembrar?
A nossa segunda aula permitiu que entendêssemos o
Contabilidade Financeira

lucro como a principal fonte de recursos de uma empresa,


posto que, quando este permanece, mesmo que em parte,
na entidade ele pode ser utilizado nas operações sem
qualquer custo financeiro.
Se compreendemos a importância do lucro, foi preciso
relembrar como fazer para apurá-lo e, assim, revimos
vários conceitos interessantes sobre as contas de resultado
– Receitas e Despesas –, além de verificarmos como apu-
rar os resultados pelos regimes de caixa e de competência.
Vimos também quando podemos utilizar esses diferentes
tipos de apuração de resultados.
Antes de inserir o lucro ao patrimônio de uma empresa
hipotética, precisamos rever, também, como se processa a
apuração de resultado, visualizando os saldos das contas
e a movimentação contábil nos Balancetes de Verificação.
Finalmente, depois de apurado o resultado, provisiona-
mos os impostos e as contribuições devidos sobre o lucro
e “fechamos” o Balanço Patrimonial.

Qu estões pa r a r e f l e x ão
O miniartigo transcrito a seguir aborda, de forma bas-
tante interessante, o tema que acabamos de estudar. O autor
sugere formas de reinvestir o lucro na empresa, ressaltando
aspectos importantes que podem resultar dessa decisão.
Após leitura atenta do artigo, procure responder às seguintes
questões. Será uma forma de checar o quanto você entendeu
sobre o conteúdo estudado.

1. Quando o autor se refere a “saldo positivo” de lucro,


ele está se referindo a que tipo de lucro: aquele apu-
rado pelo regime de competência ou aquele apurado
pelo regime de caixa?

2. Por que o autor enfatiza que é “obrigação” do gestor


77
manter parte do lucro reinvestido na empresa?
Principal origem de recursos: o lucro

3. Você sabe o que é capital de giro? Pesquise a


respeito.

Assim, alguns empresários já programam investimen-


tos de médio e longo prazo, aplicando parte do lucro
da empresa em investimentos bancários ou imóveis, no
intuito de ampliar sua atuação no futuro.
Disponível em http://exame.abril.com.br/pme/dicas-de-
-especialista/noticias/como-reinvestir-o-lucro-da-sua-
-empresa. Acessado em 21/07/2013.
Você sabia?
Como reinvestir o lucro da sua empresa?
Os três caminhos mais comuns são reinvestir em capi-
tal de giro, na estrutura da empresa ou a longo prazo -
Editado por Priscila Zuini. Respondido por Maurício
Galhardo, especialista em finanças
Saber distinguir “saldo positivo” de “lucro” é importante,
pois assim entenderemos se uma empresa realmente está
gerando bons resultados ou se simplesmente está pas-
sando por um período bom de caixa.
Quando realmente é determinado que a empresa gera
lucros, é preciso definir como e quando fazer a distribuição.
Os três caminhos mais comuns são reinvestir em capital de
giro, na estrutura na empresa ou no longo prazo.
É sempre bom manter certa quantia em dinheiro (ou em
investimentos de curto prazo) para eventuais necessidades.
Quando uma empresa cresce e assume contratos maiores,
vale reestudar o fluxo de caixa para prever possíveis faltas.
Assim, para períodos de caixa baixo, ter uma reserva pos-
sibilitará passar por estes momentos sem sufocos e sem
utilizar de dinheiro de terceiros (pagando juros, consequen-
temente). Para empresas novas, que sentem mais a sazona-
lidade, ou que ainda não possuem um bom planejamento
financeiro, vale guardar certo capital de giro pelo menos
até entender o mercado e conhecer seus altos e baixos.
Seja em máquinas, veículos, modernização de sistemas
ou treinamento da equipe, é sempre bom manter uma
empresa atualizada, moderna, com equipamentos novos
78
e confiáveis. Isso garantirá satisfação dos clientes, confia-
bilidade nos processos produtivos, aumento (ou garantia)
de vendas e uma imagem de empresa próspera, tanto aos
Contabilidade Financeira

clientes quanto aos colaboradores.


Pode-se dizer que é “obrigação” de qualquer gestor man-
ter parte do lucro de uma empresa reinvestido nela pró-
pria. É o ideal para empresas mais antigas, tradicionais ou
que atendam um público exigente por tendências.
Quando uma empresa faz pagamentos regulares de divi-
dendos/lucros aos seus sócios, isso também pode ser
considerado um reinvestimento. Satisfeitos, os sócios cos-
tumam alavancar o negócio ainda mais, muitas vezes
fazendo a injeção de capital na própria empresa, seja
em novos departamentos ou filiais em outras cidades.
LEITURAS RECOMENDADAS
FRITZEN, G. L. Um estudo sobre a destinação legal do lucro
dentro de uma empresa. REVISTA TECAP, Rio de Janeiro,
v.3, n.3, p. 50-58. 2009. Disponível em: http://revistas.utfpr.
edu.br/pb/index.php/CAP/article/view/929/540

SCHERER, L. M.; MARTINS, E. Manutenção de capital e dis-


tribuição de dividendos. Rev. FAE, Curitiba, v.6, n.2, p.65-83,
maio/dez. 2003. Disponível em:

http://www.fae.edu/publicacoes/pdf/revista_da_fae/fae_v6_
n2/06_Luciano%20e%20Elis.pdf

LIN K S INDICADOS
www.cfc.org.br
www.receita.fazenda.org.br

REFER ÊNCIAS
GOLDRATT, E. M.; COX, J. A meta. 2 ed. São Paulo: Nobel,
2002.

GRECO, A.; AREND, L.. Contabilidade: teoria e prática bási-


79
cas. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
Principal origem de recursos: o lucro

IUDÍCIBUS, S. de et al. Manual de contabilidade societária.


São Paulo: Atlas, 2010.

MARION, J. C. Contabilidade empresarial. 12 ed. São Paulo:


Atlas, 2006

NETO, A. A. Estrutura e análise de balanços. 8 ed. São Pau-


lo: Atlas, 2009.
(3)

P rovisões contábeis e despesas


que não afetam o caixa
Olá prezados alunos,
Mais uma porta no nosso trajeto! Esta já é a terceira,
estamos evoluindo.
Na aula anterior revimos os conceitos e o tratamento
das contas de resultado, isto é, receitas e despesas. Destas,
podemos inferir que receitas, em algum momento, represen-
tarão entradas de caixa e que despesas, ao contrário, repre-
sentarão saídas de caixa.
Nesta aula vamos aprender que nem sempre as despe-
sas afetarão diretamente o caixa da entidade, como também
iremos aprender a usar corretamente o termo “provisões”,
cujo uso, por muito tempo, não retratou corretamente o sig-
nificado da palavra e que, atualmente, em função da adoção
de normas contábeis internacionais deve retratar o que real-
mente representam.
E que importância tem isto na Contabilidade
Financeira? Enorme! Vejam só, se o objetivo é tomar decisões
de cunho financeiro, ao analisarmos o resultado de uma enti-
dade, bem como os seus passivos (obrigações com terceiros),
ao identificarmos quais são os valores que não irão significar
saídas de caixa, saberemos que o fluxo financeiro não será
afetado por tais valores, o que nos permitirá tomar decisões
mais seguras.
Muito bem. Mas antes de estudarmos esse assunto tão
importante e interessante, vamos estabelecer nossos objeti-
vos. Ao final desta aula, deveremos ser capazes de:

Objetivos de aprendizagem
‚‚Entender qual a diferença entre “provisões” e
“previsões”;
‚‚Usar corretamente o termo “provisão” de acordo com o
seu real significado;
‚‚Contabilizar as principais provisões contábeis;
‚‚Conhecer e contabilizar as principais despesas que não
afetam o caixa.

84
Com esses propósitos, esta aula será estruturada da
Contabilidade Financeira

seguinte forma:
3.1 Provisões: conceito e efeitos no resultado
3.1.1 Diferença entre provisões contábeis e
previsões/estimativas
3.1.2 Constituição de provisões
3.1.3 Reversão de provisões e de perdas estimadas
3.1.4 Principais provisões
• Perdas estimadas para créditos de liquidação
duvidosa
• Provisão para ajuste ao valor de mercado ou ao
valor justo
• Ajuste ao valor presente
3.2 Despesas que não afetam o caixa
3.2.1 Depreciação do Imobilizado
3.2.2 Amortização e Exaustão

Bom estudo a todos!

3.1

P rovisões: conceitos e efeitos no


resultado
Provisão caracteriza o ato de prover alguma coisa, ou
seja, abastecer com algum tipo de recurso ou, em outras pala-
vras, reservar recursos. Em Contabilidade, o significado não
é diferente, provisionam-se recursos quando se tem conheci-
mento de que eles serão necessários no futuro.
85
As “provisões”, segundo Greco e Arend (2012, p. 387),
representam: Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa
Parcelas consideradas despesas, destinadas a cobrir
perdas prováveis ou estimadas pela não realização de valores
registrados em contas do Ativo, ou que representam obriga-
ções específicas, a serem cumpridas no futuro, lançadas em
contas do Passivo.
Fica claro nessa definição que as provisões para
fins contábeis não só abrangem as reservas de recursos
para saldar as obrigações futuras, como também aque-
les recursos necessários para cobrir possíveis perdas de
valor dos ativos.
Flash back
Lembram-se das Contas Redutoras ou Retificadoras do
Ativo?
Algumas contas do Ativo têm a função de “deduzir”, dos
saldos de outras contas do mesmo grupo, valores que se
destinam a ajustar esses saldos de forma que, obedecendo
ao Princípio da Prudência, os respectivos ativos sejam
demonstrados pelo seu menor valor. Tais contas são cha-
madas de “redutoras” ou “retificadoras”.

Até pouco tempo atrás, o termo “provisão” foi ampla-


mente utilizado na contabilidade para referência e regis-
tro de qualquer obrigação ou, ainda, na redução de ativos
para ajustes a seu menor valor, conforme preconizado por
Greco e Arend, citados no parágrafo anterior. Alguns exem-
plos seriam: Provisão para Pagamentos a Efetuar; Provisão
para Perdas por Desvalorização; Provisão para Créditos de
Liquidação Duvidosa etc. Entretanto, o processo de con-
vergência para as Normas Internacionais de Contabilidade
(IFRS), oficialmente iniciado com a emissão da Lei nº 11.638,
de dezembro de 2007, requer que se ajuste velhos hábitos a
86
concepções mais modernas e que, no caso em questão, real-
Contabilidade Financeira

mente, melhor informem o usuário da informação contábil.


Assim, seguindo os conceitos internacionais, expres-
sos particularmente no Pronunciamento Técnico CPC
25 – Provisão e Passivo e Ativo Contingentes, do Comitê
de Pronunciamentos Contábeis, o termo “provisão”, na
Contabilidade, deve referir-se apenas aos passivos (obriga-
ções) com prazo ou valor incerto (estimados). Para os valores
que representam a redução de ativos, registrados nas contas
redutoras, deve-se adotar a expressão “perdas estimadas”.
Desta forma, a conta Provisão para Créditos de Liquidação
Duvidosa, por exemplo, passa a ser chamada por Perdas
Estimadas para Créditos de Liquidação Duvidosa.
3.1.1 Diferença entre provisões contábeis e
previsões/estimativas
Na realidade, como já vimos, as provisões contábeis,
como “provimento” de recursos, considerando sua definição
“ao pé da letra”, poderiam dizer respeito a obrigações já cons-
tituídas (líquidas e certas) ou, ainda, a obrigações ou a passi-
vos cujo valor está sendo estimado, isto é “previsto”, sem que
se tenha absoluta certeza da sua ocorrência. Entretanto, há
que se distinguir as seguintes situações:
a) Contas a pagar - são passivos a pagar por conta de
bens ou serviços fornecidos ou recebidos e que tenham
sido faturados ou formalmente acordados com o for-
necedor, isto é, obrigações reais já assumidas. Ou seja,
não há o que se falar em reserva de recursos, visto
que se trata de uma obrigação conhecida que deve ser
efetivamente paga (passivos genuínos). Estas não são
verdadeiras provisões, uma vez que já são obrigações
reais, onde se subentende que o provimento de recur-
sos para pagamento já deve estar previsto no fluxo de
caixa da entidade, visto que não há incerteza sobre a
87
necessidade da respectiva liquidação.
b) Provisões derivadas de apropriações por compe- Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa
tências – são obrigações já existentes que, para aten-
dimento ao Princípio da Competência, são registradas
no período a que se referem, mas para pagamento
futuro. Assim como as contas a pagar são obrigações
que podem ser consideradas reais, visto que o grau
de incerteza nesses casos é absolutamente irrelevante,
pode-se, então, afirmar que também não são verdadei-
ras provisões. Alguns exemplos: salários, 13º salário,
férias, encargos sociais etc. que deverão ser registra-
dos como Salários a Pagar, 13º Salário a Pagar, Férias a
Pagar, Encargos Sociais a Pagar etc.
c) Provisões destinadas a cobrir possíveis obriga-
ções futuras, sobre as quais se tenha razoável certeza
da liquidação – são provisões constituídas, utili-
zando-se valores estimados, destinadas a fazer face
a “possíveis” obrigações futuras, mas que ainda não
são obrigações constituídas. Por exemplo, no caso de
processos trabalhistas em andamento se tem razoável
certeza de que a maioria das causas trabalhistas são
ganhas pelo reclamante, o que obriga que a possibi-
lidade de a entidade ter que pagar o valor estimado
correspondente seja registrado contabilmente, ou seja,
“provisionado”. Essa, sim, caracteriza uma provisão na
acepção completa da palavra. A entidade estará pro-
visionando recursos diante da “quase certeza” de que
ocorrerão desembolsos futuros.
Iudícibus et al (2010, p. 333), assim explica o que deve
ser considerado como provisão: “as provisões podem ser dis-
tinguidas de outros passivos quando há incertezas sobre os
prazos e sobre os valores que serão desembolsados ou exigi-
88 dos para sua liquidação”.
É correto afirmar, portanto, que:
Contabilidade Financeira

• Os valores que correspondem a perdas estimadas


pela não realização de ativos (contas redutoras) devem
ser tratados como: PERDAS ESTIMADAS (Ex.: Perdas
estimadas para créditos de liquidação duvidosa).
• Os valores resultantes de obrigações reais (con-
tas a pagar e provisões derivadas de apropriações por
competência) devem ser tratados como: VALORES A
PAGAR (Ex.: Férias a pagar).
• Provisões sobre as quais há incertezas sobre os pra-
zos e os valores de realização devem ser tratadas como:
PROVISÕES (Provisão para riscos trabalhistas).
Neste ponto, vale ressaltar um assunto que não será
estudado a fundo neste momento, mas que deve ser abordado
por estar correlacionado às provisões. Trata-se dos “passivos
contingentes”.
A palavra contingência nos remete à possibilidade de
que alguma coisa venha ou não a acontecer, isto é, uma situa-
ção de incerteza. Por conseguinte, entende-se que um passivo
contingente é uma obrigação que pode se concretizar. Neste
caso, tais passivos não são reconhecidos contabilmente. Em
outras palavras, não serão constituídas provisões para passi-
vos contingentes. Ora, mas por que, se as provisões são cons-
tituídas justamente quando há incertezas sobre os prazos e os
valores de realização de uma obrigação?

“O termo ‘contingente’ é utilizado para passivos e ativos


não reconhecidos em virtude de sua existência depender
de um ou mais eventos futuros incertos que não estejam
totalmente sob o controle da instituição”. Iudícibus et al
(2010, p. 333).

O Pronunciamento Técnico CPC 25, em seu Apêndice


89
C, fornece o seguinte exemplo (10-A) de passivo contingente
que, em um primeiro momento não é reconhecido, mas, que Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa
mais tarde, torna-se apto para ser considerado como provisão:
Exemplo – Caso judicial: Após um casamento em
20XX, dez pessoas morreram, possivelmente pela inges-
tão de alimentos envenenados, oriundos de produtos
vendidos pela entidade. Procedimentos legais são instau-
rados para solicitar a indenização da entidade, mas ela
disputa o caso judicialmente. Até a data da autorização
para a publicação das demonstrações contábeis do exer-
cício findo em 31 de dezembro de 20XX, os advogados
da entidade aconselham que é provável que a entidade
não será responsabilizada. Entretanto, quando a entidade
elabora as suas demonstrações contábeis para o exercício
findo em 31 de dezembro de 20XX, os seus advogados
aconselham que, dado o desenvolvimento do caso, é pro-
vável que a entidade será responsabilizada.
(a) Em 31 de dezembro de 20XX
Obrigação presente como resultado de evento passado
que gera obrigação, baseado nas evidências disponíveis
até o momento, em que as demonstrações contábeis foram
aprovadas, não há obrigação como resultado de eventos
passados.
Conclusão – Nenhuma provisão é reconhecida. A ques-
tão é divulgada como passivo contingente, a menos que a
probabilidade de qualquer saída seja considerada remota.
(b) Em 31 de dezembro de 20XX (ano seguinte)
Obrigação presente como resultado de evento passado que
gera obrigação – Baseado na evidência disponível, há uma
obrigação presente. Saída de recursos envolvendo benefícios
futuros na liquidação – Provável.

90 Conclusão – Uma provisão é reconhecida pela melhor estima-


tiva do valor necessário para liquidar a obrigação.
Contabilidade Financeira

As condições para que uma provisão seja reconhecida


contabilmente serão discutidas no próximo tópico.

3.1.2 Constituição de provisões


O Pronunciamento Técnico CPC 25, em seu item 14,
determina que uma “provisão” somente deve ser reco-
nhecida quando atender às seguintes condições, de forma
cumulativa, ou seja, “todas” devem ser atendidas ao
mesmo tempo:
(a) a entidade tem uma obrigação pre-
sente (legal ou não formaliada) como
Uma resultado de um evento passado;
(b) seja provável que será necessária
provisão deve
uma saída de recursos que incorporam
ser reconhe- benefícios econômicos para liquidar a
cida quando: obrigação; e
(c) possa ser feita uma estimativa con-
fiável do valor da obrigação.

Se essas condições não forem satisfeitas, nenhuma pro-


visão deverá ser reconhecida.
O que é uma obrigação presente? É a obrigação que pos-
sui evidências disponíveis de que é provável que ela venha a
existir.
O que é um evento passado? É aquele evento/aconteci-
mento que tem condições de criar obrigações. Entende-se que
uma obrigação é criada quando a sua liquidação for obrigató-
ria, isto é, quando a entidade não tem outra alternativa a não
ser liquidar a obrigação.
O que é probabilidade de saída de recursos? É a possibili-
dade sobre a qual se tem razoável certeza de que será necessá-
ria a saída de recursos que incorporem benefícios econômicos 91

(ativos representados por dinheiro, bens ou direitos) para a


Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa
liquidação da obrigação.
O que é estimativa confiável? É a estimativa que resulta
de um conjunto de possibilidades possíveis previstas pela
entidade para a mensuração do valor a ser provisionado, con-
siderando os riscos e as incertezas envolvidas. Será constitu-
ída pela melhor estimativa de desembolso para a liquidação
da obrigação na data do Balanço.

Mensuração do valor da provisão ou perda estimada


Já vimos que o “valor estimado” deverá represen-
tar a melhor estimativa de desembolso para a liquidação da
obrigação, mas como determinar qual é a melhor estimativa?
O Pronunciamento Técnico CPC 25 assim esclarece:
As incertezas que rodeiam o valor a ser
reconhecido como uma provisão são
tratadas por vários meios de acordo
com as circunstâncias. Quando a pro-
visão a ser mensurada envolve uma
grande população de itens, a obriga-
ção é estimada ponderando-se todos os
possíveis desfechos pelas suas proba-
bilidades associadas. O nome para esse
método estatístico de estimativa é “val-
or esperado”. Portanto, a provisão será
diferente dependendo de a probabili-
dade de uma perda de um dado valor
ser, por exemplo, de 60 por cento ou de
90 por cento. Quando houver uma es-
cala contínua de desfechos possíveis, e
cada ponto nessa escala é tão provável
como qualquer outro, é usado o ponto
médio da escala (CPC 25, item 39).

O mesmo item do citado pronunciamento fornece o


seguinte exemplo (adaptado pela autora):

Uma entidade vende bens com uma garantia segundo a


qual os clientes estão cobertos pelo custo das reparações
de qualquer defeito de fabricação que se tornar evidente
92 dentro dos primeiros seis meses após a compra. Se forem
constatados defeitos menores em todos os produtos ven-
Contabilidade Financeira

didos, a entidade irá incorrer em custos de reparação cor-


respondentes a R$1 milhão. Se forem constatados defeitos
maiores em todos os produtos vendidos, a entidade irá
incorrer em custos de reparação de R$4 milhões. A expe-
riência passada da entidade e as expectativas futuras
indicam que, para o próximo ano, 75 por cento dos bens
vendidos não terão defeito, 20 por cento dos bens vendi-
dos terão defeitos menores e 5 por cento dos bens vendi-
dos terão defeitos maiores.

Assim, a entidade irá avaliar a probabilidade de uma


saída para as obrigações de garantias como um todo. O valor
esperado do custo das reparações é:
Cálculo do Valor Estimado
75% do custo de reparação
(75 % x 0) de bens vendidos que não
terão defeito, ou seja zero.
+
20% do custo de reparação
(20 % x R$1 milhão) de bens vendidos que apre-
sentarem defeitos menores.
+
5% do custo de reparação de
(5 % de R$4 milhões) bens vendidos que apresen-
tarem defeitos maiores.
=

R$400.000
= Valor “estimado” da
provisão

Essa pode ser considerada a melhor estimativa de valor


do desembolso necessário a ser feito face à liquidação da
obrigação presente na data do Balanço.

Como ficaria a contabilização dessa provisão? Vamos lá:


Despesas com Provisão 93
Conta de
D para Reparos de Bens R$400.000
Resultado
Vendidos
Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa
Provisão para Reparos de Conta de
C R$400.000
Bens Vendidos Passivo
Valor referente ao provisionamento de
custos de possíveis reparos em bens
vendidos

Como ficaria esse lançamento em razonetes? Veja a


seguir.
Despesas c/ Provisão Provisão para reparos
p/ Reparos de Bens
D C D C
400.000 400.000

400.000 400.000

Constituímos uma provisão, certo? Mas, no caso de


uma perda estimada, como seria a respectiva contabilização?
Vamos supor a seguinte situação:
Uma entidade tem Duplicatas a Receber, contabiliza-
das em seu Ativo, no valor de R$800.000. Historicamente, ao
longo dos últimos três anos, foi constatada uma inadimplência
média de 20% do total das Duplicatas a Receber nesses perí-
odos. Assim, em obediência aos princípios contábeis, a enti-
dade irá constituir uma conta redutora do ativo Duplicatas a
Receber, a fim de demonstrá-lo pelo seu menor valor, ou seja,

94
aquele valor que, provavelmente, será efetivamente recebido.
Primeiramente, vamos calcular qual seria o valor da
Contabilidade Financeira

perda estimada:
20% x 800.000 = 160.000

Agora vamos contabilizar esse valor:

Despesa com Perdas


Estimadas com Crédi- Conta de
D R$160.000
tos de Liquidação Resultado
Duvidosa
erdas Estimadas com
Conta de
C Créditos de Liquida- R$160.000
Ativo
ção Duvidos
Valor referente a perdas estimadas
para créditos de liquidação duvidosa
E os razonetes?
Despesas c/ Perdas Perdas Estimadas
Estimadas p/ Créditos p/ Créditos de Liq
de Liq Duv Duvidosa
D C D C
160.000 160.000

160.000 160.000

No Balanço Patrimonial teríamos:

Duplicatas a Receber R$800.000


(-) Perdas Estimadas para Créditos de
(R$160.000)
Liquidação Duvidosa

Mais adiante vamos voltar a conversar sobre essa pos-


sível perda com créditos de liquidação duvidosa.

Reavaliação do valor das provisões


95
As provisões constituídas devem ser reavaliadas
em cada data de Balanço e ajustadas para refletir, exa- Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa
tamente, a melhor estimativa de desembolso para liqui-
dação nessas datas. Quando necessário, as provisões
devem ser revertidas, parcial ou integralmente ou, ainda,
complementadas.
No exercício seguinte recalcula-se o valor das perdas
estimadas e realiza-se nova constituição, após a realização
das perdas efetivas por meio da baixa dos créditos realmente
não recebidos, como veremos em “perdas estimadas para cré-
ditos de liquidação duvidosa”.
3.1.3 Reversão de provisões e de perdas
estimadas
As reversões das provisões e das perdas estimadas
decorrem das respectivas reavaliações realizadas periodica-
mente. Quando não foram utilizadas, tais provisões ou per-
das estimadas devem ser revertidas a crédito do resultado
e, quando for o caso, constitui-se nova provisão ou perda
estimada.
Vamos voltar ao exemplo anterior e supor que, ao final
do período, somente foram gastos R$320.000 do valor provi-
sionado para reparos em bens vendidos.
Como ficaria o lançamento contábil da reversão de
parte da provisão anteriormente constituída?
(refazer)
1 – Baixa da provisão pelo valor efetivamente gasto:

Provisão para Reparos de Conta de


D R$320.000
Bens Vendidos Passivo
Conta de
C Caixa ou Bancos R$320.000
Ativo

96 Valor referente ao pagamento de reparos


de bens vendidos
Contabilidade Financeira

2 – Reversão “parcial” da provisão originalmente


constituída:

Provisão para Reparos de Conta de


D R$80.000
Bens Vendidos Passivo
Receita de Reversão de Conta de
C R$80.000
Provisões Resultado
Valor referente à reversão parcial da pro-
visão constituída para custos de reparos
em bens vendidos

Vejam os razonetes:
Provisão para reparos
Caixa
de Bens
D C D C
320.000 400.000 320.000

80.000

Provisão para Reparos Receita de Reversão


de Bens de Provisões
D C D C
320.000
400.000 80.000
80.000

80.000

Da mesma forma, após a reavaliação do valor de uma


perda estimada, em se constando mudanças no valor origi-
nalmente contabilizado, deve-se proceder a reversão parcial
ou total desse valor.
97
Vamos supor que no exemplo dado anteriormente,
relativo a perdas estimadas para a carteira de Duplicatas a Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa
Receber, o setor de cobrança da entidade foi extremamente
eficiente e 30% dos possíveis inadimplentes pagaram seus
débitos dentro do período base. Conclui-se que metade da
perda estimada foi desnecessária. Assim, é preciso reverter
esse valor da perda estimada excedente.
Vamos calcular qual seria esse valor:

Perdas estimadas = R$160.000,00


Valor dos débitos liquidados pelos inadimplentes = 30% x
160.000 = R$48.000,00
Valor da perda estimada realizada = 160.000 – 48.000 =
R$112.000,00
Portanto, R$48.000 é o valor da perda estimada a ser
revertido.
Vamos contabilizar?
1 – Pelo recebimento dos créditos:
Conta de
D Caixa R$400.000
Ativo
Conta de
C Duplicatas a Receber R$400.000
Ativo

Recebimento de duplicatas a receber


de diversos clientes

2 – Pela reversão parcial das perdas estimadas:


Perdas Estimadas para
Conta de
D Créditos de Liquida- R$48.000
Ativo
ção Duvidos
Receita de Reversão de Conta de
C R$48.000
Provisões Resultado
Valor referente à reversão parcial de
provisão constituída para créditos de
liquidação duvidosa

98
Os razonetes seriam os seguintes:
Contabilidade Financeira

1 – Pelo recebimento dos créditos:

Caixa Duplicatas a Receber


D C D C
48.000 800.000 48.000

752.000
2 – Pela reversão parcial da perda estimada
Perdas estimadas
Receita de Reversão
para Créditos de Liq
de Provisões
Duvidosa
D C D C
48.000 160.000 48.000

112.000 48.000

3.1.4 Principais provisões


Sempre que ocorrerem eventos que justifiquem a cons-
tituição de provisões ou o ajuste do valor de ativos pela cons-
tituição de perdas estimadas, elas devem ser realizadas em
função do que dispõe o Princípio da Prudência.
São exemplos de provisões:
• Provisão para garantias de produtos, bens ou
serviços;
• Provisão para riscos fiscais;
99
• Provisão para riscos trabalhistas;
• Provisão para danos ambientais causados pela Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa

entidade;
• Provisão para penalidades por quebra de contratos;
• Provisão para contratos de construção;
• Provisão para ajuste ao valor de mercado;
• Provisão para ajuste ao valor presente; entre outras.
• São exemplos de perdas estimadas:
• Perdas estimadas para créditos de liquidação
duvidosa;
• Perdas estimadas em estoques;
• Perdas estimadas para redução ao valor realizável
líquido;
• Perdas estimadas por valor não recuperável de ati-
vos imobilizados; entre outras.
Vamos destacar algumas dessas provisões e perdas
estimadas para ilustrar o nosso estudo.

Perdas estimadas para créditos de liquidação duvidosa


Como visto anteriormente, a constituição de perdas
estimadas para créditos de liquidação duvidosa condiciona-
-se à existência da incerteza do recebimento pela entidade
das suas contas a receber.
Há que se ressaltar que tais perdas são “estimadas”, ou
seja, não são ainda efetivas, razão pela qual a legislação fis-
cal não permite a sua dedução na base de cálculo do Imposto
de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido das
empresas.
Tal estimativa, no entanto, deve ser feita em consonân-
cia do que é previsto pelas normas internacionais e, também,
100 em função do Princípio Contábil da Prudência.
O conceito que embasa a constituição de tal perda,
Contabilidade Financeira

segundo Iudícibus et al (2010, p. 57), “é inerente à estimativa


do valor recuperável do ativo”, visando atender à valorização
da informação ao usuário da contabilidade, demonstrando o
real valor que se espera obter em termos de benefícios econô-
micos futuros pelo ativo correspondente.

Mensuração
A mensuração do valor a ser contabilizado como per-
das estimadas em créditos de liquidação duvidosa está con-
dicionada às peculiaridades de cada empresa. Geralmente
são estudadas as situações que envolvem os clientes já em
inadimplência ou, ainda, que já estejam prestes a serem
declarados inadimplentes, além de outros aspectos relativos
à probabilidade ou não de recebimentos dos créditos como,
por exemplo, experiências já ocorridas ou outras mudanças
no contexto de atuação da entidade.
Como se pode perceber, deve ser feita uma “seleção”
dos casos que possam ser considerados na composição do
valor da perda.

Contabilização
Contabilmente, as perdas com estimativas de crédito
de liquidação duvidosa contemplam as seguintes situações:
• Constituição da perda estimada (já estudada no
item 3.1.2);
• Reversão da perda estimada quando constituída
em excesso, buscando adequá-la ao valor efetivamente
perdido (já estudada no item 3.1.3);
• Realização da perda estimada quando a entidade
considerar que os créditos aos quais ela se refere real-
mente não serão recebidos, ou seja, são incobráveis; e 101

• Baixa dos créditos como perdas efetivas do período


Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa
quando o valor da estimativa já constituída tenha sido
inferior às perdas realmente incorridas.
Vamos exemplificar as três últimas situações, visto que
as duas primeiras já foram demonstradas.

1. Realização da perda estimada quando a entidade conside-


rar que os créditos aos quais ela se refere realmente não serão
recebidos, ou seja, são incobráveis.
No exemplo trabalhado anteriormente, foi consti-
tuída uma perda estimada no valor de R$160.000,00, tendo
sido revertida posteriormente ao valor de R$48.000,00,
permanecendo um saldo de perdas estimadas no valor de R$
112.000,00. Os créditos a receber de alguns clientes, no valor
de R$83.000,00, computado nesse saldo, foi considerado inco-
brável, ou seja, não há qualquer possibilidade de recebimento
pela entidade em questão. Isso significa que a perda deixou
de ser “estimada” e passou a ser “realizada”, isto é, tornou-se
uma perda real. Vejamos como seria a contabilização:
Perdas Estimadas para
Conta de
D Créditos de Liquida- R$83.000
Ativo
ção Duvidosa
Conta de
C Duplicatas a Receber R$83.000
Ativo
Valor da realização de perdas estima-
das referentes a créditos incobráveis

Usando razonetes:
Perdas Estimadas
Provisão para reparos
para Créditos de Liq
de Bens
Duvidosa
D C D C
48.000 48.000
160.000 800.000
83000 83.000
102
Contabilidade Financeira

29.000 669.000

2. Baixa dos créditos como perdas efetivas do período quando


o valor da estimativa já constituída tenha sido inferior às per-
das realmente incorridas.
Ao final do ano base, a nossa entidade concluiu que a
sua carteira de duplicatas a receber, na realidade, tinha um
número maior de créditos “podres”, ou seja, de créditos sem
condições de recebimento, cujo valor de R$55.000,00 excedia
o saldo das perdas estimadas. Nesse caso, considerando que
se trata de perda real, o valor excedente deverá ser levado
diretamente ao resultado do período, da seguinte forma:
Valor das perdas efetivas = R$55.000,00
(-) Saldo das perdas estimadas = (R$29.000,00)
Valor a ser contabilizado como perdas do período =
R$26.000,00
Despesas de Vendas/
Conta de
D Perdas com créditos de R$26.000,00
Resultado
liquidação duvidosa
Perdas Estimadas para
Conta de
D Créditos de Liquidação R$29.000,00
Ativo
Duvidosa
Conta de
C Duplicatas a Receber R$55.000,00
Ativo
Valor da realização de perdas efetivas com
créditos incobráveis

Os razonetes seriam estes:


Perdas Estimadas Perdas Efetivas com
para Créditos de Liq Duplicatas a Receber Créditos de Liq
Duvidosa Duvidosa
D C D C D C 103
48.000 160.000 800.000 48.000 26.000
83.000 83.000
29.000 55.000 Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa

614.000 26.000

Provisão para ajuste ao valor de mercado ou a valor


justo
Embora muito usada em finanças, a expressão “valor
de mercado” passou a fazer parte do cotidiano contábil com
maior intensidade muito recentemente, assim como a expres-
são “valor justo” (fair value), introduzida juntamente com as
normas internacionais de contabilidade. Em alguns momen-
tos, essas expressões podem se confundir e significarem a
mesma coisa.
O valor de mercado é aquele valor que um mercado
estaria disposto a pagar por um ativo ou a aceitar para a liqui-
dação de um passivo em qualquer data. Assim, subentende-
-se que para que algo seja avaliado a valor de mercado deve
“existir” um mercado ativo, o que nem sempre ocorre.
O valor justo é o valor de uma transação justa realizada
com terceiros à organização, sem qualquer tipo de favoreci-
mento, isto é, o quanto alguém de fora da organização estaria
disposto a pagar por um ativo, ou aceitar para a liquidação de
um passivo, sem qualquer tipo de concessão. Na realidade, é
também um valor de mercado, mas independe da existência
de um mercado ativo, pois pode ser apurado de outras for-
mas, como em técnicas de apreçamento4. Assim, pode-se afir-
mar que, quando houver mercado, o valor justo será o mesmo
que o praticado nesse mercado.
104
Muito bem. Mas quando se faz provisão para valor
Contabilidade Financeira

de mercado ou valor justo? Em situações muito específicas.


Por enquanto, a título de exemplo, vamos estudar somente a
hipótese dos estoques de matérias-primas e outros materiais
utilizados na produção. Outras situações serão estudadas no
curso, mais à frente.
No caso dos estoques citados, o § 1º do artigo 183 da Lei
nº 6.404/76, alterado pela Lei nº 11.941/08, determina que eles
tenham seus valores ajustados de forma a refletirem o seu
valor justo: “preço pelo qual possam ser repostos, mediante
compra no mercado”, o que significa preço de reposição, ou

4. Técnicas de apreçamento são técnicas de atribuição de preços


seja, o quanto tais estoques custariam se fossem adquiridos
no mercado na data do Balanço.

Importante:
‚‚O ajuste do valor dos estoques somente será contabili-
zado quando o valor justo for MENOR que o valor contábil.
‚‚Deverá ser apurado o custo de reposição de CADA mate-
rial componente do estoque.

Na ocorrência de um valor justo menor que o valor


contábil, este deverá ser ajustado por meio de uma provisão.
Essa provisão a valor de mercado dos estoques é chamada
Perda Estimada para Redução ao Valor Realizável Líquido.

Por que valor realizável líquido?


Porque alguns estoques, para serem realizados/vendidos,
incorrem em despesas como comissões, fretes, taxas, con-
cessão de descontos etc.
O valor realizável líquido é o valor justo descontado de
todas as despesas necessárias para a realização dos bens
componentes do estoque.

105
Bem, vamos ver como funciona na prática?
Imagine que uma indústria moveleira tem em seus Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa
estoques os seguintes materiais:
or unitário abaixo
Diferença de val-
Valor realizável
Custo unitário

Quantidade

do mercado
Custo total
Materiais

líquido

PARAFUSOS 1,80 1.500 2.700,00 1,50 0,30


GRAMPOS 0,60 2.000 1.200,00 0,65 -
PREGOS 0,50 3.000 1.500,00 0,60 -
Somente os parafusos apresentam valor de mercado menor
que o valor contábil do custo: R$0,30 por peça. Calculemos, então,
o valor da perda estimada para a redução do valor do estoque de
parafusos ao valor realizável líquido respectivo:

Valor unitário

Valor contábil
Quantidade
de mercado

provisão ≠
Valor total
(mercado)
Materiais

Valor da
PARAFUSOS 1,50 1.500 2.250,00 2.700,00 450,00

Portanto, o valor a ser contabilizado como perda esti-


mada para redução do valor do estoque é de R$450,00, uma
vez que, para os demais itens do estoque não houve a MENOR
diferença entre o valor do custo e o valor de mercado.
Vamos contabilizar?
Despesa com Perda
Estimada para Conta de
D R$450,00
Redução ao Valor Resultado
Realizável Líquido
Perda Estimada para Conta de
106 C Redução ao Valor R$450,00 Ativo
Realizável Líquido (Redutora)
Contabilidade Financeira

Valor estimado para perdas na


redução do valor dos estoques ao
valor realizável líquido

O ajuste ao valor justo também é aplicável a outros ati-


vos que, como já foi mencionado, serão estudados no seu devido
tempo. O objetivo, a esta altura do nosso aprendizado, é conhecer
esse importante conceito para a gestão financeira das entidades.

Ajuste ao valor presente


Outra expressão corriqueira na área de finanças –
Ajuste ao Valor Presente. Vamos ver o que ela significa para
a Contabilidade.
Iudícibus et al. (2010, p. 103) faz a seguinte afirmação:
A contabilidade sempre teve um de-
safio quando se trata de evidenciar a
essência das operações referindo-se à
apuração dos resultados das empresas,
considerando os juros embutidos nos
preços das transações a prazo em rela-
ção aos correspondentes preços à vista.

Sabemos que em qualquer transação a prazo SEMPRE


haverá a cobrança de juros embutida no respectivo valor.
É importante conhecer tal valor, visto que ele afeta tanto o
resultado quanto os ativos das entidades. Como isso ocorre?
Imagine uma entidade que vende seus produtos a
prazo. Obviamente ela vai embutir o custo financeiro do
prazo concedido ao cliente no custo do produto. Já vimos
anteriormente que, ao vender um produto, a contrapartida
correspondente é a conta de Receita de Vendas, a primeira
conta que aparece na Demonstração do Resultado e que
representa a principal fonte de receitas de qualquer empresa.
Para visualizarmos melhor, vamos supor que a indús-
tria moveleira citada anteriormente vendeu, a prazo, em
107
determinado período, móveis para escritório no valor de
R$600.000,00, sendo que R$100.000,00 correspondem aos
Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa
juros embutidos na operação. Vamos contabilizar essa venda:

Conta de
D Duplicatas a Receber R$600.000,00
Ativo
Receita Bruta de Conta de
C R$600.000,00
Vendas Resultado

Valor referente à venda de móveis


para escritório
O custo dos produtos vendidos foi de R$300.000,00,
portanto, seria assim contabilizado:

Conta de
D Estoques R$300.000,00
Ativo
Custo dos Produtos Conta de
C R$300.000,00
Vendidos Resultado

Valor referente ao custo dos produtos


vendidos no período

Na Demonstração do Resultado, teríamos a seguinte


representação:
Receita Bruta de Vendas R$600.000
(-) Custo dos Produtos Vendidos (R$300.000)
Lucro Bruto R$300.000
A primeira análise que qualquer usuário da informa-
ção contábil faria seria em cima do quanto a entidade está
obtendo de receita na sua principal atividade – venda de pro-
dutos. Ela é uma indústria que foi criada para obter resul-
tados positivos “fabricando móveis” e não obtendo receita
financeira de juros, pois não é uma instituição financeira.
108
Assim, o referido usuário não conseguirá perceber que
Contabilidade Financeira

naquela receita informada como sendo de vendas, existe um


valor de R$100.000,00 que, na realidade, não provém da ativi-
dade “fabricar móveis”. Esta é a primeira distorção!
Outra distorção no resultado: o custo dos produtos
vendidos que está sendo confrontado com a receita é o custo
da atividade, não embute juros e, portanto, tal confrontação
está distorcendo o lucro bruto.
Sabendo-se que os juros representam a cobrança pela
diferença do valor do dinheiro no tempo, pode-se afirmar
que os preços cobrados em transações como essas não corres-
pondem ao valor “efetivo” dessas transações.
Como fazer, então?
Nas operações de curto prazo, os juros embutidos não
costumam ser relevantes e, portanto, tais distorções são ima-
teriais, mas, em operações de longo prazo, tendem a ser mais
significativas. Assim, nessas operações de longo prazo, ou
ainda, nas operações de curto prazo, mas com valores de juros
significativos, a Lei nº 6.404/76, alterada pela Lei nº 11.638/07,
determina que “os elementos do ativo decorrentes de opera-
ções de longo prazo serão ajustados ao valor presente, sendo
os demais ajustados quando houver efeito relevante”.
Tudo bem, entendemos, mas para ajustar tais operações
temos, primeiro, que entender o que é VALOR PRESENTE
(VP), certo?

Presente = HOJE, portanto, valor presente é o valor da


transação, que teria juros embutidos pelo respectivo prazo
da operação, trazido ao valor de hoje, ou seja, sem esses
juros. Em outras palavras, valor presente = valor de hoje.

Se utilizarmos o exemplo anterior, qual seria o valor


presente daquela transação?
Grosseiramente, uma vez que não conhecemos a taxa
109
de juros utilizada e nem o prazo das transações, pode-se afir-
mar que o valor presente da operação é: Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa

R$600.000,00 (valor da venda) - R$100.000,00 (valor dos


juros) = R$500.000,00 (VP)

Em situações reais, a determinação do ajuste ao valor


presente requer, basicamente, as seguintes informações:
1. O valor do fluxo futuro de caixa (entradas e saídas
de caixa ocorridas por conta do ativo ou passivo
analisado);
2. A data em que o fluxo futuro de caixa vai ocorrer;
3. A taxa de desconto a ser utilizada para o cálculo do
valor presente.
A taxa de desconto corresponderá à taxa efetiva da
transação ou, nos casos em que essa taxa não for indicada,
utiliza-se uma taxa de mercado aplicável, praticada em tran-
sações semelhantes.
O ajuste ao valor presente da nossa transação seria
contabilizado, no momento da venda, da seguinte forma:

Receita Bruta de Conta de


D R$100.000,00
Vendas Resultado
VP – Receita Conta de
C Financeira Comercial a R$100.000,00 Ativo
Apropriar (Redutora)

Valor referente ao ajuste ao valor pre-


sente de vendas a prazo do período

Assim, no Balanço Patrimonial teríamos a seguinte


representação no Ativo

Duplicatas a Receber R$600.000,00


(-) VP – Receita Financeira Comercial a Apropriar (R$100.000,00)
110
Contabilidade Financeira

À medida que transcorre o prazo da operação, a receita


financeira correspondente ao ajuste ao valor presente vai
sendo apropriada de acordo com o regime de competência:

Pelo valor
VP – Receita
da parcela Conta de
D Financeira Comercial a
mensal dos Ativo
Apropriar
juros
Receita Financeira Conta de
C Idem
Comercial Resultado
Valor referente à apropriação de re-
ceita financeira comercial no período
Vimos um exemplo sobre uma conta de Ativo, mas e
para as contas de Passivo, o ajuste ao valor presente também
é aplicável? Sem dúvida! Se a entidade tem uma obrigação,
cujo valor contempla juros embutidos, deverá efetuar o ajuste
da mesma forma.
Para exemplificar, vamos supor que uma entidade
adquiriu uma máquina a prazo no valor total de R$27.865,00,
correspondente a cinco parcelas iguais de R$5.573,00. Os
juros embutidos correspondem a uma taxa de 20% ao ano.
Quando descontamos os juros do valor total, trazendo-o ao
seu valor presente, temos que o seu valor real na data da com-
pra é de R$20.000,00, ou seja, o valor dos juros corresponde a
R$7.865,00. Vamos contabilizar esse ajuste:

Conta de
Máquinas (pelo valor
D R$20.000,00 Ativo Não
presente)
Circulante
Conta de
Encargos Financeiros a
D R$7.865,00 Passivo
Decorrer
(Redutora)
Conta de
C Financiamentos R$27.865,00
Passivo 111
Valor referente ao ajuste ao valor pre-
sente na compra de máquina a prazo Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa

No Passivo do Balanço Patrimonial as contas seriam


demonstradas como segue:

Financiamentos R$27.865,00
Encargos Financeiros a Decorrer (R$7.865,00)

À medida que transcorre o prazo do financiamento,


o encargo financeiro correspondente ao ajuste ao valor pre-
sente vai sendo apropriado de acordo com o regime de
competência:
Pelo valor
Despesa de Encargos
da parcela Conta de
D Financeiros sobre
mensal dos Resultado
Financiamentos
juros
Conta de
Encargos Financeiros a
C Idem Passivo
Decorrer
(Redutora)
Valor referente à apropriação de en-
cargos financeiros sobre financiamen-
tos no período

Os procedimentos ora estudados conferem mais qua-


lidade à informação contábil, visto que as Demonstrações
Contábeis apresentam maior valor preditivo, possibilitando
que o usuário da informação a utilize de forma útil no pro-
cesso de tomada de decisões.

Quer ficar por dentro de assuntos do mercado financeiro?


Conviver melhor com essas expressões: valor justo, valor
de mercado, valor presente etc.? Navegue no site: http://
g1.globo.com/economia/mercados/

112
Despesas que não afetam o caixa
Contabilidade Financeira

Quando pensamos em despesas, a primeira coisa que


nos vem à cabeça são os gastos, não é mesmo? Em nossa aula
passada, inclusive, fizemos exatamente essa relação entre gas-
tos e despesas! Mas vejam só: se retomarmos o conceito que
é dado pela Resolução CFC nº 1374/2011 do Conselho Federal
de Contabilidade que aprovou a Estrutura Conceitual para
Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro
emitido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC,
veremos que as despesas não representam só “gastos”. Vamos
analisar o que nos diz esse normativo:
Despesas são decréscimos nos benefícios
econômicos durante o período contábil,
sob a forma da saída de recursos ou da
redução de ativos ou assunção de pas-
sivos, que resultam em decréscimo do
patrimônio líquido, e que não estejam
relacionados com distribuições aos de-
tentores dos instrumentos patrimoniais5.

O conceito de despesa deixa claro que ela pode repre-


sentar, além da saída de recursos (gastos), a redução de ati-
vos e, também, a assunção de passivos (compras a prazo para
consumo) que, principalmente, representam “decréscimo do
patrimônio líquido”.
Justamente porque as despesas refletem um decrés-
cimo do patrimônio é que elas merecem tanta atenção por
parte dos gestores e demais interessados na análise do desem-
penho das organizações.
Neste tópico vamos estudar as despesas que não afe-
tam o caixa das entidades, ou seja, aquelas despesas que
representam reduções de ativos. E quais seriam elas?
Nos tópicos anteriores desta aula vimos algumas des-
sas despesas – as provisões e perdas estimadas – que não
constituem saídas de caixa, mas que reduzem os ativos e o
113
patrimônio líquido das entidades. Tais despesas são cons-
tituídas com a finalidade de reduzir os ativos a seus valo- Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa
res realizáveis, proporcionando maior transparência às
Demonstrações Contábeis e, portanto, maior confiabilidade
nesses demonstrativos por parte dos seus usuários.
Neste tópico, vamos estudar mais algumas despesas
que também não representam saídas de caixa, mas, sim, o
desgaste ou a amortização de ativos que, por outro lado, irão
reduzir os ativos que se referem a seus valores realizáveis.
Como comentamos ligeiramente no início, conhecer
essas despesas é de fundamental importância para diversos

5. Grifo nosso
fins de análise, mas, sobretudo, no que se refere à gestão finan-
ceira das organizações. Tanto é assim, que elas são expurgadas
do cálculo de um dos indicadores financeiros mais utiliza-
dos atualmente – o EBITDA – Earning Before Interest, Taxes,
Depreciation and Amortization que, traduzido literalmente
para o português, significa “lucro antes dos juros, impostos,
depreciação e amortização”, o qual vamos aprender a usar
futuramente. Por ora, vamos conhecer tais despesas.

Está curioso? Quer saber um pouco mais sobre o EBITDA


antes de estudarmos esse assunto? Consulte o site: http://
www.valor.com.br/valor-investe/o-estrategista/2876970/
apos-abusos-calculo-do-ebitda-agora-e-lei

Depreciação do Imobilizado
Os bens do Ativo Imobilizado têm um tempo limi-
tado de durabilidade, exceto os terrenos que não têm limi-
tação para sua vida econômica. Todos os demais sofrem
desgaste pelo uso ou outras intercorrências como, por
exemplo, obsoletismo, muito comum em equipamentos
114
de alta tecnologia.
Contabilidade Financeira

Assim, sempre considerando que os ativos devem ser


demonstrados pelo seu valor realizável, o desgaste pelo uso
ou o esgotamento gradual da vida econômica desses ativos
deve ser refletido na contabilidade. Por outro lado, conside-
rando que tal desgaste contribui para a geração das receitas
da entidade, eles devem ser confrontados com tais receitas na
demonstração dos resultados.
Exemplo: O desgaste da máquina na preparação da
terra para a plantação deve, necessariamente, ser computado
na apuração do resultado em função da sua contribuição para
a geração da receita na venda do produto final obtido.
A seguir, podemos observar um exemplo de obsoles-
cência muito comum no caso de bens que envolvem tecno-
logia. Dependendo do segmento de atuação da entidade, ela,
necessariamente, deverá trocar seus equipamentos, periodi-
camente, em função da necessidade de acompanhar sua evo-
lução tecnológica.
Exemplo de obsolescência: Evolução de equipamentos.
Sobre o assunto, a legislação determina que:
A diminuição do valor dos elementos
dos ativos imobilizado e intangível
será registrada periodicamente nas
contas de: (a) depreciação, quando cor-
responder à perda de valor dos direitos
que têm por objeto bens físicos sujeitos
a desgastes ou perda de utilidade por
uso, ação da natureza ou obsolescência
(...) (Lei nº 6.404/76, art. 183 § 2º).

Ressalte-se que a legislação não menciona percentu-


ais ou qualquer outra regra para que seja apurado o valor do
desgaste, ela cita somente “perda de valor”, de onde se pode
depreender que qualquer outro parâmetro de medida que não
seja o desgaste efetivo do bem pelo uso, ação da natureza ou 115
obsolescência tem outros fins que não o de retratar o valor rea-
lizável do ativo, como os percentuais determinados pela legis- Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa
lação fiscal. Tais percentuais têm efeito exclusivo na apuração
de tributos e não devem se sobrepor às normas contábeis.

IMPORTANTE: Não confundir legislação fiscal com


Normas Contábeis!

Assim, os valores a serem depreciados devem ser men-


surados de forma a retratar a perda do benefício econômico
que o bem é capaz de gerar ao longo do tempo, trazendo o
ativo respectivo ao seu valor realizável na data do Balanço.
Evidentemente que deve ser considerada a relação entre o
custo e o benefício de se manter um critério apurado na men-
suração desses valores, além de sua materialidade quando
comparados com os percentuais permitidos pela legislação
fiscal para esse cálculo.

Valor depreciável
Para determinar o valor a ser depreciado, deverá ser
considerado o valor estimado da vida útil econômica do bem
e seu valor residual6, considerando as condições gerais do
respectivo uso, as características técnicas e outros fatores que
possam influenciar essa estimativa.
O valor a ser apropriado a título de depreciação de
cada bem do Ativo Imobilizado deve ser determinado pela
diferença entre o valor de custo do bem e o seu valor residual.
Tal valor deverá ser apropriado, periodicamente, no decorrer
da vida útil estimada do bem.
O valor residual e a vida útil de um ativo imobili-
zado devem ser reavaliados, no mínimo, uma vez por ano,
regularmente.
116
A estimativa de vida útil econômica de um bem do
Contabilidade Financeira

Imobilizado é definida tomando-se por base o tempo de utili-


dade esperada para o ativo que, segundo Iudícibus et al (2010,
p. 249), pode ser traduzida no:
• Período de tempo durante o qual a entidade espera
utilizar o ativo; ou
• Número de unidades de produção ou unidades
semelhantes que a entidade espera obter pela utiliza-
ção do ativo.

6. Valor residual é o valor que a entidade espera obter por um ativo ao final da sua vida útil, líquido
dos custos necessários para a sua venda, com razoável certeza.
O Pronunciamento Técnico – CPC 27 – Ativo
Imobilizado cita a necessidade de se considerar os seguintes
fatores na determinação da vida útil de um ativo:
• Uso esperado, avaliado com base na capacidade de
produção física esperada do ativo;
• Desgastes físicos normais relacionados a fatores
operacionais como uso em vários turnos, manutenção,
reparos, entre outros;
• Obsolescência técnica ou comercial por mudanças
ou melhorias na produção ou demanda pelo produto
gerado pelo ativo;
• Limites legais, contratuais ou semelhantes ao tempo
de uso do ativo (leasing, por exemplo).

Métodos de cálculo da depreciação


Mensurado o valor depreciável do item do Imobilizado,
deve-se adotar um dentre os vários métodos para calcular a
depreciação a ser contabilizada periodicamente. O método
escolhido também deve ser revisado, no mínimo, anual-
117
mente. A seguir, vamos estudar os métodos mais tradicionais
para o cálculo da depreciação.
Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa

Método das quotas constantes


Esse método é utilizado pela grande maioria das
empresas, sendo conhecido como método linear. Sua apu-
ração consiste em dividir o valor depreciável pelo tempo de
vida útil do bem, sendo representado pela seguinte fórmula:

Depreciação = (Valor de custo do bem - valor residual) ÷


vida útil

Exemplo: Suponha um bem do Imobilizado com as


seguintes características:
• Custo = R$10.000,00
• Vida útil estimada = 5 anos, correspondente a 60
meses
• Sem valor residual estimado
A quota mensal de depreciação será: R$10.000,00 ÷ 60
= R$166,67 a.m.

Método da soma dos dígitos dos anos


Esse método é outra forma, também linear, de calcular
a depreciação. Sua apuração consiste em:
• Soma dos algarismos que compõem o número de
anos de vida útil do bem;
• Determinação do valor da depreciação anual utili-
zando uma fração em que o denominador é a soma dos
algarismos, obtida em (a), e o numerador corresponde
a (n) no primeiro ano, (n-1) no segundo ano, (n-2) no
terceiro ano e assim por diante, adotando-se para “n” o
número total de anos de vida útil esperada.
Exemplo: Utilizando os mesmos dados do exemplo
anterior, tem-se:
Vida útil de 5 anos => 1 + 2 + 3 + 4 + 5 = 15 (denomina-
dor da fração)
118
Frações: 5 / 15; (5 - 1) / 15; (5 – 2) / 15; (5 – 3) / 15; (5 – 4) / 15
Contabilidade Financeira

Ano Fração Valor depreciável Depreciação anual


1 5 / 15 10.000 3.333,33
2 (5 - 1) / 15 10.000 2.666,67
3 (5 – 2) / 15 10.000 2.000,00
4 (5 – 3) / 15 10.000 1.333,33
5 (5 – 4) / 15 10.000 665,67

Como pode ser observado na tabela acima, trata-se de


um método que contempla valores maiores de depreciação no
início da vida útil do bem e valores menores para o seu final,
partindo do pressuposto de que os bens, quanto mais novos,
menos precisam de manutenção e reparos.
Método de unidades produzidas
Trata-se de um método que tem por base uma estima-
tiva do número total de unidades que devem ser produzidas
pelo bem a ser depreciado. A quota anual é calculada utili-
zando a seguinte fórmula:

Quota de no de unidades produzidas no ano X


Depreciação =
Anual no de unidades estimadas a serem
produzidas durante a vida útil do bem

O resultado obtido será uma fração que representará o


percentual de depreciação a ser aplicado no ano. É um método
de aplicação restrita, visto que exige estimativas nem sempre
possíveis de serem realizadas com todos os tipos de bens.

Método de horas de trabalho


Este método baseia-se na representação da estimativa
de vida útil do bem em horas de trabalho, sendo que para o
cálculo da quota anual é utilizada a seguinte fórmula:

Quota de no de horas de trabalho no período X


Depreciação =
Anual no de horas de trabalho estimadas 119
durante a vida útil do bem

Como vimos, há várias formas de calcular o valor Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa

da depreciação e aqui abordamos somente algumas delas.


Vamos, então, aprender como contabilizá-la:
Pelo valor da Conta de
Despesas de parcela men- Resultado
D Depreciação (ou Cus- sal da quota (ou de Ativo,
tos de Produção7) de deprecia- quando for
ção custo)
Depreciação Conta de
C Idem
Acumulada Resultado

Valor referente à quota de depreciação


do período
Experimente fazer a contabilização em razonetes!7
Aspectos importantes relativos à depreciação do Ativo
Imobilizado
Vamos salientar alguns aspectos que merecem espe-
cial atenção:
• A depreciação de um bem deve ser reconhecida a
partir do momento em que o Imobilizado a ser depre-
ciado está “disponível para uso”, ou seja, está no local
e nas condições necessárias para começar a funcionar.
• Quando o bem deixar de pertencer ao Ativo
Imobilizado, ou seja, quando não for mais utilizado no
processo produtivo e for destinado à venda, a respec-
tiva depreciação deve parar de ser reconhecida.
• A vida útil do bem deve ser reavaliada periodicamente
e as quotas de depreciação ajustadas, quando necessário.
Vimos que as despesas de depreciação não afetam
o caixa da entidade, no que se refere à contrapartida como
saída de caixa, mas vale salientar que alguns autores defen-
dem outra posição. Iudícibus et al (2010, p. 248), por exem-
plo, defende que, indiretamente, afeta sim, visto que houve
120
uma saída de caixa para aquisição do bem que está sendo
Contabilidade Financeira

depreciado e que tal saída deve ser recuperada pelas receitas


geradas pela empresa. Mas não vamos entrar no mérito dessa
discussão por enquanto. O fato é que, usualmente, as análises
financeiras consideram tais despesas como não representati-
vas de saídas de recursos.

Amortização e Exaustão
• Amortização
O significado do termo amortização, aqui utilizado,

7. Custos de Produção: quando se tratar de bens utilizados diretamente na produção de bens ou ser-
viços, a depreciação deve compor o custo desses bens ou serviços.
não deve ser confundido com o que se usa quando se paga
uma parcela de qualquer dívida, isto é, com “amortização
de dívidas” ou quaisquer outros. A amortização que vamos
estudar agora diz respeito à perda de valor do capital apli-
cado em certos direitos.
O artigo 183, § 2º, da Lei nº 6.404/76, já citado anterior-
mente, define em seu item “b”, o que vem a ser a amortização
de que vamos tratar, determinando que:
A diminuição do valor dos elementos
dos ativos imobilizado e intangível será
registrada periodicamente nas contas
de: (...) (b) Amortização, quando cor-
responder à perda do valor do capital
aplicado na aquisição de direitos de
propriedade industrial ou comercial e
quaisquer outros com existência ou ex-
ercício de duração limitada, ou cujo ob-
jeto sejam bens de utilização por prazo
legal ou contratualmente limitado (...)
(Lei nº 6.404/76, art. 183 § 2º).

No que se refere à diminuição dos elementos dos ativos


imobilizados, já foi estudada a depreciação, restando, portanto,
os elementos do ativo intangível. Vamos defini-lo só para com-
121
preendermos quando estarão ou não sujeitos à amortização.
Oportunamente, voltaremos a estudá-lo em detalhes.
Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa
Os ativos intangíveis, como o próprio nome sugere,
são ativos que não são visivelmente identificáveis. O
Pronunciamento Técnico – CPC 04 – Ativos Intangíveis
o define como sendo um “ativo não monetário identificá-
vel sem substância física”, em outras palavras, sem “corpo”.
Normalmente, representam os direitos citados no artigo 183,
anteriormente mencionado. São exemplos de intangíveis:
marcas e patentes, softwares, direitos de exploração de ser-
viços públicos mediante concessão ou permissão do Poder
Público, fundo de comércio adquirido, entre vários outros.
A amortização ou não de uma ativo intangível está
condicionada à sua vida útil:
• Ativo com vida útil definida (vida útil conhecida) –
amortizável (amortization approach);
• Ativo com vida útil indefinida (ilimitada ou impos-
sível de determinar de maneira confiável) – não amorti-
zável, mas sujeito a testes de recuperação (impairment
approach).
Nosso foco, portanto, são os ativos intangíveis com
vida útil definida, sujeitos a amortização.
O valor amortizável do ativo intangível é o seu custo,
partindo-se do pressuposto de que tal ativo não terá valor
residual. Abaixo destacamos os pontos importantes que cons-
tam do item 97 do CPC 04, já citado, que normatiza o trata-
mento dos ativos intangíveis:
• O valor amortizável do ativo intangível deve ser
apropriado, sistematicamente, ao longo da sua vida
útil;
• A amortização é iniciada a partir do momento em
que o ativo intangível estiver disponível para uso,
quando for o caso;
122 • A amortização deverá cessar quando o ativo intan-
gível correspondente for classificado como mantido
Contabilidade Financeira

para venda ou na data de sua baixa, o que ocorrer


primeiro;
• A despesa de amortização deve ser reconhecida no
resultado.

Métodos de cálculo da amortização


O método de amortização a ser utilizado deve refle-
tir o padrão de consumo pela entidade dos benefícios eco-
nômicos futuros que serão gerados pelo ativo intangível
respectivo. Se esse padrão de consumo não for possível de
ser determinado, a amortização deve ser feita utilizando
o método linear, ou seja, dividir o valor amortizável pelo
tempo da vida útil determinada.
Em outras palavras, uma entidade adquire um ativo
intangível esperando que ele gere benefícios econômicos
futuros, aliás, essa é uma das condições básicas para que um
bem ou direito seja considerado como ativo, certo? O padrão
de consumo desse benefício dependerá da sua natureza. Por
exemplo, uma entidade adquire o direito de utilizar a marca
de um produto por tempo determinado. O padrão de con-
sumo desse direito dependerá de como a entidade pretende
explorar essa marca.
Quanto ao método linear, este é bem transparente.
Vamos exemplificar utilizando um ativo intangível muito
comum em todas as empresas – softwares. Supondo que uma
entidade adquira um software específico para as suas ativi-
dades com prazo de vida útil de dois anos por R$50.000,00. A
quota de amortização mensal corresponderá a:
R$50.000,00 ÷ 24 meses = R$2.083,33
A contabilização da quota de amortização seria a
seguinte:
123
Despesa de Conta de
D R$2.083,33
Amortização Resultado Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa
Amortização Conta de
C R$2.083,33
Acumulada Ativo

Valor referente ao ajuste à quota de


depreciação do período

Com relação aos ativos intangíveis com vida útil inde-


finida, voltaremos a eles no decorrer do curso.
• Exaustão
A exaustão é aplicada a ativos representados por recur-
sos naturais, como minas, jazidas etc. Tais recursos, à medida
que são explorados, se exaurem, ou seja, se desgastam.
O objetivo da exaustão, segundo Iudícibus (2010, p.
251), é “distribuir o custo dos recursos naturais durante o
período em que tais recursos são extraídos ou exauridos”.

Método de cálculo da exaustão


Para o cálculo do valor a ser contabilizado como exaus-
tão, utiliza-se o método de unidades produzidas/extraí-
das. Encontra-se o percentual correspondente a extração do
recurso natural no período em relação à possança8. Esse cál-
culo pode ser representado pela seguinte equação:

Extração do período
Quota de
=
Exaustão %
Possança total

Encontrado esse percentual, ele deve ser aplicado ao custo


de aquisição ou de prospecção dos recursos naturais explorados.
Exemplo: Suponhamos que em determinado ano, uma
mineradora extraiu 10.000 toneladas de minério de ferro de
sua mina, cuja possança total era de 100.000 toneladas. Vamos
calcular o percentual de exaustão:
124
10.000 t ÷ 100.000 t = 10%
Contabilidade Financeira

Aplicando esse percentual ao valor contábil das jazidas


de R$50.000,00, tem-se:
R$50.000,00 x 10% = R$5.000,00 – valor da quota de
exaustão do período.
Contabilizando:

8. Possança: termo utilizado em geologia para representar a espessura de um estrato geológico (cada
uma das camadas de rochas sedimentares); capacidade de produção de uma mina ou jazida.
Conta de
D Despesa de Exaustão R$5.000,00
Resultado
Conta de
C Exaustão Acumulada R$5.000,00
Ativo

Valor referente à quota de exaustão do


período

Muito bem, encerramos o que pretendíamos estudar


nesta aula. Quantos conceitos novos e importantes, não é?
Antes de finalizarmos, vamos, como de hábito, refletir sobre
o que aprendemos e verificar se alcançamos ou não os objeti-
vos propostos no início da aula.

Objetivos de aprendizagem
‚‚Entendemos a diferença entre “provisões” e “previsões”?
‚‚Aprendemos como usar corretamente o termo “provi-
são”, de acordo com o seu real significado?
‚‚Sabemos contabilizar as principais provisões contábeis?
‚‚Conhecemos e sabemos contabilizar as principais despe-
sas que não afetam o caixa?

125
Se ficou alguma dúvida, não siga adiante! Volte e tente
sana-la antes de começar a Aula 4. Mas, se está confortável com Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa
o aprendizado até aqui, vamos em frente. Na aula 4 o desafio
será elaborarmos juntos um demonstrativo contábil de funda-
mental importância para a avaliação do desempenho da enti-
dade – a Demonstração do Resultado do Exercício – DRE.
Vamos relembrar?
Nesta aula, foram abordados conceitos importantes que
auxiliam em diversas análises sobre o patrimônio e a
gestão financeira das entidades.
Vimos os conceitos de provisões e a sua diferença em
relação às previsões para cumprimento de obrigações e
constatamos que:
- Os valores que correspondem a perdas estimadas pela
não realização de ativos (contas redutoras) devem ser tra-
tados como: PERDAS ESTIMADAS;
- Os valores resultantes de obrigações reais (contas a
pagar e provisões derivadas de apropriações por compe-
tência) devem ser tratados como: VALORES A PAGAR;
e que
- As provisões sobre as quais há incertezas sobre os pra-
zos e os valores de realização devem ser tratadas como:
PROVISÕES.
Também conhecemos os conceitos e aprendemos a con-
tabilizar a constituição e a reversão de algumas perdas
estimadas e provisões, entre elas a de Perdas Estimadas
para Créditos de Liquidação Duvidosa, uma das mais
conhecidas.
Na sequência, estudamos também os conceitos de valor
justo e de valor presente que, por sua vez, são causas de
126 ajustes que, assim como as perdas estimadas e as pro-
visões, têm por finalidade trazer ativos e passivos aos
Contabilidade Financeira

seus valores efetivos de realização na data do Balanço


Patrimonial.
Por fim, foram abordadas as despesas que, assim como as
provisões constituídas e as perdas estimadas, não afetam
diretamente o caixa, como a depreciação, a amortização
e a exaustão.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO E
AUTOAVALIAÇÃO
Para consolidar os conceitos sobre PECLD – Perdas Estima-
das com Créditos de Liquidação Duvidosa –, vamos resolver
uma questão de concurso público. Mas, veja só, o aprendiza-
do autônomo, para ser produtivo e eficaz, requer que desa-
fiemos nossas dificuldades, o que significa que não devemos
olhar a solução antes de tentarmos resolver a questão. Assim,
resista bravamente à tentação de olhar a resposta!

Dica: Para resolver a questão use razonetes, pois facilita


o raciocínio.

Prova: ESAF - 2012 - Receita Federal - Analista Tributário da Re-


ceita Federal - Prova 2 - Área Informática. Disciplina: Contabilidade
Geral. Assuntos: Perdas Estimadas com Créditos de Liquidação Du-
vidosa - PECLD (antiga PDD)

A empresa Confiante Ltda. apresenta a seguinte movimenta-


ção com créditos a receber e clientes:
• No balanço de 2010, em 31/12: tinha créditos a rece- 127
ber de R$2.800,00 e provisão para perdas prováveis de
R$84,00. Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa

• Durante o exercício de 2011, contabilizou o recebi-


mento de créditos R$980,00; a baixa por não recebimento
R$120,00; a incorporação de novos créditos a receber
R$1.700,00; o desconto de duplicatas no banco R$500,00.
Em 31/12/2011, para fins de balanço, deverá fazer um nova
provisão para perdas prováveis, no montante de:

a) R$51,00
b) R$84,00
c) R$87,00
d) R$102,00
e) R$171,00

Solução:
Vamos montar os razonetes e fazer os lançamentos contábeis
dos eventos indicados no enunciado:
Contas a PECLD Bancos Conta
Receber Movimento
(SI) 2.800 980 (1) (2) 84 84 (SI) (1) 980
(3) 1.700 120 (2) 51 (5) (4) 500

(SI) = Saldo Inicial (2010) (SF) = Saldo Final

Receitas de Duplicatas Despesas


Vendas Descontadas com PECLD
1.700 (3) 500 (4) (2) 36
(5) 51

128

(SF) 87
Contabilidade Financeira

No balanço de 2010, em 31/12, havia créditos a receber de R$


2.800,00 e provisão para perdas prováveis de R$84,00. Portan-
to, esses são os saldos iniciais (SI) de 2011.
Acompanhe os débitos e os créditos pelos números indicados
em cada lançamento:
(1) Em 2011, recebimento de créditos R$980,00;
(2) Em 2011, baixa por não recebimento R$120,00;
• Aqui, tem-se que foi efetuada uma baixa de crédito
incobrável de R$120,00, ou seja, houve uma perda real
de R$120,00. Ora, parte desse total já era uma perda
estimada -R$84,00, portanto, essa estimativa deve ser
baixada. Veja que, na realidade, essa perda foi consti-
tuída em 2010 e, portanto, foi computada no resultado
daquele ano.
• Mas o valor baixado foi de R$120,00, certo? Isso sig-
nifica que, se der o total de R$84,00, refere-se a des-
pesas de 2010. A diferença, isto é, R$36,00, refere-se a
despesas de 2011, razão pela qual deve ser apropriada
para débito da respectiva conta.
(3) Em 2011, incorporação de novos créditos a receber
R$1.700,00;
(4) Em 2011, desconto de duplicatas no banco R$500,00;
(5) Em 2011, constituição de perdas estimadas no valor de
R$51,00.
Sabe-se que o percentual de perdas estimadas utilizado pela
entidade é de 3%. Esse percentual aplicado pelos créditos in-
corporados em 2011 representa o valor de R$51,00, portanto,
este é o valor que deve ser contabilizado relativo às perdas
estimadas sobre esses novos créditos.
129
R$1.700,00 x 3% = R$51,00
Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa

Assim, conclui-se que o total de perdas estimadas constituí-


das em 2011 corresponderá a:

R$36,00 (créditos já baixados) + R$51,00 = R$87,00

A alternativa correta, portanto, é a “c) R$87,00”

E aí? Acertou?
Sim? Parabéns!
Não? Refaça passo a passo os seus cálculos para saber onde
errou.
LEITURAS RECOMENDADAS
DOMINGUES, J. C. de A.; GODOY, C. R. Redução ao valor
recuperável de ativos: um estudo nas empresas do setor pe-
trolífero mundial. Revista de Educação e Pesquisa em Con-
tabilidade. v. 6, nº 4 (2012). Disponível em: http://www.repec.
org.br/index.php/repec/article/view/306/679

LIN K S INDICADOS
www.cfc.org.br
www.cpc.org.br
www.receita.fazenda.org.br

REFER ÊNCIAS
GRECO, A.; AREND, L. Contabilidade: teoria e prática bási-
cas. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

IUDÍCIBUS, S. et al. Manual de contabilidade societária. São


Paulo: Atlas, 2010.

130
MARION, J. C. Contabilidade empresarial. 12 ed. São Paulo:
Atlas, 2006
Contabilidade Financeira
Provisões contábeis e despesas que não afetam o caixa
131
(4)

D emonstração do resultado do
exercício
Olá prezados alunos,
Vamos abrir mais uma porta?
Vocês notaram que não fechamos nenhuma, só abri-
mos? Sabem por quê? Porque a Contabilidade, como toda
ciência ou área do conhecimento, deve estar sempre sendo
estudada, atualizada! Além disso, estamos só começando a
nossa trajetória nessa área fascinante! Estamos nos prepa-
rando para abrir cada vez mais portas de conhecimento para
nos tornarmos profissionais de alto nível, certo?
Somos iniciantes no estudo da Ciência Contábil, mas,
vejam só, esta já é nossa quarta aula – metade da primeira
parte do caminho.
Nesta aula, vamos dar continuidade ao que já apren-
demos sobre o “resultado” das entidades. Já sabemos que
uma entidade pode obter lucro ou prejuízo ou, ainda, supe-
rávit ou déficit, se não tiver fins lucrativos, de acordo com o
desempenho apresentado em determinado período. O rela-
tório ou demonstrativo contábil que retrata esse desempe-
nho, por meio da sua representação na forma de contas de
receitas e de despesas, é a Demonstração do Resultado do
Exercício – DRE.
O Balanço Patrimonial das entidades nos dá condi-
ções de entender e analisar o comportamento dos respectivos
patrimônios, mas, para avaliarmos quais são os resultados
que estão sendo gerados por esses patrimônios, precisamos
complementar nossa análise como a DRE, pois nela sabe-
remos o quanto a entidade está auferindo de receitas com
a venda de seus produtos, por exemplo, ou quanto ela está
tendo de custos nas suas operações, entre outros importan-
tes detalhes.
Nossos objetivos nesta quarta aula serão:
136

Objetivos de aprendizagem
Contabilidade Financeira

‚‚Conhecer e aplicar as normas de reconhecimento de


receitas e despesas de acordo com as Normas Brasileiras
de Contabilidade, já em consonância com as Normas
Internacionais de Contabilidade – IFRS;
‚‚Conhecer o escopo básico da Demonstração do Resultado
do Exercício;
‚‚Calcular o Custo das Mercadorias Vendidas – CMV;
‚‚Conhecer as características de cada subgrupo de contas
representadas na DRE;
‚‚Elaborar a Demonstração do Resultado do Exercício
– DRE

Visando conduzir o aprendizado de forma sequen-


cial e lógica na busca desses objetivos, a aula será assim
estruturada:
4.1 Reconhecimento de Receitas e Despesas conforme
IFRS
4.1.1 Receita bruta de vendas
4.1.2 Deduções da receita bruta
IPI – Imposto sobre Produtos Industriali-
zados
Vendas canceladas e devoluções
Descontos incondicionais e abatimentos
Tributos incidentes sobre vendas
4.1.3 Deduções da receita operacional líquida
CPV - Custo dos Produtos Vendidos
CSP - Custo dos Produtos Prestados
CMV - Custo das Mercadorias Vendidas
4.1.4 Despesas e outras receitas operacionais
Despesas com vendas
Despesas financeiras
Receitas financeiras
137
Despesas administrativas

Demonstração do resultado do exercício


Outras despesas operacionais
Outras receitas operacionais
4.1.5 Outras receitas e outras despesas
4.1.6 Outras deduções
CSLL e IRPJ
Participações e contribuições sobre o lucro

Preparados? Então, vamos lá!
Bom estudo a todos!
4.1

R econhecimento de receitas e
despesas conforme as IFRS
Reconhecer receitas ou despesas de acordo com as
IFRS – Normas Internacionais de Contabilidade, nada mais
é do que aplicar corretamente as Normas Brasileiras de
Contabilidade, visto que, salvo poucas exceções, já contem-
plam, praticamente na íntegra, aquelas normas. A referência
às IFRS visa somente destacar esse momento importante que
a área contábil está vivendo, ressaltando que o dia a dia da
contabilidade já deve estar sendo conduzido com a certeza de
que estamos inseridos nesse ambiente internacional.
Reconhecer dados no Balanço Patrimonial ou na
Demonstração do Resultado, segundo o disposto na
138
Resolução CFC nº. 1374/11, que aprovou o Pronunciamento
Contabilidade Financeira

Conceitual Básico “Estrutura Conceitual para Elaboração e


Apresentação das Demonstrações Contábeis”, emitido pelo
CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis), consiste na
incorporação nesses demonstrativos de itens que se enqua-
drem na definição de “elemento” e que satisfaçam os respec-
tivos critérios de reconhecimento.
Calma. Parece difícil, mas não é! Temos que nos acos-
tumar com a linguagem utilizada nos normativos contábeis
e legais.
Primeiro vamos entender o que vem a ser um
“elemento” de uma demonstração contábil. O Balanço
Patrimonial, nosso velho conhecido, por exemplo é composto
de Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido, certo? Pois bem, esses
são os elementos que o compõem.
Agora ficou fácil responder quais são os elementos da
Demonstração de Resultado, não é? Vamos pensar juntos: o
resultado de uma entidade é composto de receitas e despesas,
logo, se queremos demonstrar esse resultado, teremos que
fazê-lo demonstrando os seus componentes, ou seja, os seus
elementos – receitas e despesas.
Muito bem. Quando a norma cita que “reconhecimento
é o processo de incorporação dos elementos” no demonstra-
tivo contábil, ela está querendo dizer, no caso da DRE, que
“reconhecimento é incorporar as receitas e as despesas na
demonstração do resultado”. Mas, basta “incorporar” sim-
plesmente? Não! Esses elementos têm que satisfazer outras
condições, primeiro para serem classificados como recei-
tas ou despesas (o que já estudamos na Aula 2) e, segundo,
devem atender aos seguintes requisitos, de acordo com o item
4.38 da citada Resolução:
(a) Seja provável que algum benefício econômico futuro
139
associado ao item (Ativo, Passivo, Receita ou Despesa)

Demonstração do resultado do exercício


flua para a entidade (entradas de bens ou direitos) ou
flua da entidade (saídas de bens ou de direitos); e
(b) Que o item tenha custo ou valor que possa ser men-
surado com confiabilidade9 10.
Então, no que se refere à Demonstração do Resultado,
o que a norma diz é que devem ser demonstradas as recei-
tas e despesas que significarão entradas ou saídas de recur-
sos e que devem ser mensuradas de forma completa, neutra
e livre de erro.
Viu como não é difícil?
Mas, por que não dizer logo com palavras simples e
objetivas? Porque essa é a linguagem formal dos normativos

9. A informação é confiável quando ela é completa, neutra e livre de erro.


10. O texto da norma foi adaptado pela autora para melhor entendimento.
e precisamos nos acostumar com ela, sabermos interpreta-la.
Iremos conviver com ela o resto de nossas vidas e ela não
vai mudar. É por isso que é importante lermos muito e nos
aprimorarmos na interpretação de textos, além de estudar-
mos Contabilidade.
Para demonstrar as receitas e despesas na DRE, deve-
-se, também, seguir alguns critérios, assim descritos na
Resolução do CFC nº. 1374/11:
As receitas e as despesas podem ser
apresentadas na demonstração do re-
sultado de diferentes maneiras, de
modo a serem prestadas informações
relevantes para a tomada de decisões
econômicas. Por exemplo, é prática
comum distinguir os itens de receitas
e despesas que surgem no curso das
atividades usuais da entidade daqueles
que não surgem. Essa distinção é feita
considerando que a origem de um item
é relevante para a avaliação da capaci-
dade que a entidade tem de gerar caixa
140
ou equivalentes de caixa no futuro. Por
exemplo, atividades incidentais como
Contabilidade Financeira

a venda de um investimento de longo


prazo são improváveis de voltarem a
ocorrer em base regular. Quando da
distinção dos itens dessa forma, deve-se
levar em conta a natureza da entidade e
suas operações. Itens que resultam das
atividades usuais de uma entidade po-
dem não ser usuais em outras entidades
(Resolução CFC nº. 1374/11 – item 4.27).

Desse texto, pode-se ressaltar, principalmente:

• A priorização de informações relevantes, o que sig-


nifica que devem merecer destaque informações que
sejam relevantes para a tomada de decisões. As infor-
mações irrelevantes podem ser demonstradas em uma
única linha, não merecendo maior destaque; e
• A distinção entre as receitas e as despesas que
resultam das atividades da entidade daquelas que não
resultam dessas atividades, ou seja, receitas e despesas
de caráter operacional distintas das receitas e despesas
não operacionais.
Essas duas características nos fornecem as primeiras
premissas do escopo básico da Demonstração do Resultado,
isso é, nela devem ser destacadas as informações relevantes
e as receitas e as despesas operacionais devem ser demons-
tradas separadamente das não operacionais. Da junção das
disposições dos normativos contábeis e da Lei nº 6.404/76,
resultou o escopo/modelo completo que iremos estudar a
seguir, lembrando que:
• A Demonstração do Resultado do Exercício – DRE
evidencia a composição do resultado de uma entidade
em um período determinado, normalmente, o exercí-
cio social. Para efeitos gerenciais, o resultado corres-
141
ponderá ao período que atenda às necessidades do

Demonstração do resultado do exercício


usuário da informação.

Como as receitas e despesas que


compõem a DRE estão contabilizadas
de acordo com o regime de competên-
cia, por consequência tal demonstração
também representará o resultado apu-
rado de acordo com esse regime. Ou
seja, apresentará as receitas e as despe-
sas independentemente do respectivo
recebimento ou pagamento.

• A legislação societária e tributária determina que a


DRE seja elaborada, anualmente, por ocasião do encer-
ramento do exercício social da entidade.
Escopo / modelo da Demonstração do Resultado do Exercício
- DRE
DEMOSNTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO
GRUPOS/CONTAS Períodos/
Exercícios
Atual Anterior
RECEITA OPERACIONAL BRUTA
Vendas
Receita com Prestação de Serviços
(-) IPI Faturado
REDUTORAS DA RECEITA OPERACIONAL
BRUTA
(-)Devoluções de Vendas
(-)Abatimentos sobre Vendas
(-)Desconto Comercial Concedido
(-)Impostos sobre Vendas
RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA
(-)Custo das Mercadorias Vendidas
(-)Custo dos Produtos Vendidos
(-)Custo dos Serviços Prestados
LUCRO (PREJUÍZO) OPERACIONAL BRUTO
142
(-)Despesas com Vendas
(-)Despesas Administrativas
Contabilidade Financeira

(-)Outras Despesas Operacionais


Outras Receitas Operacionais
LUCRO (PREJUÍZO) ANTES DO RESULTA-
DO FINANCEIRO
(-)Despesas Financeiras
Receitas Financeiras
LUCRO (PREJUÍZO) OPERACIONAL LÍQUIDO
(-)Outras Despesas
Perdas de Capital
Outras Receitas
Ganhos de Capital
RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DA
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO
(-)Contribuição Social sobre o Lucro
RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTESDO IM-
POSTO DE RENDA SOBRE O LUCRO (LAIR)
(-) Imposto de Renda sobre o Lucro
RESULTADO DO EXERCÍCIO APÓS IMPOST
DE RENDA
(-) Participações sobre o Lucro
LUCRO (PREJUÍZO) LÍQUIDO DO EXER-
CÍCIO
Lucro por ação

O modelo básico apresentado é aplicável a todas as enti-


dades, exceto àquelas que têm regulação própria, como as ins-
tituições financeiras, de seguros etc. Importa ressaltar, ainda,
que cada entidade irá utilizar as contas que melhor repre-
sentam suas atividades. Por exemplo, uma empresa comer-
cial irá utilizar a conta Custo das Mercadorias Vendidas para
demonstrar os seus custos, ao invés de Custos dos Produtos
Vendidos, que é próprio das indústrias que fabricam seus
próprios produtos.
Outro ponto que merece destaque é a “ordem” em que
143
as contas são apresentadas. Essa ordem apresenta um caráter

Demonstração do resultado do exercício


“dedutivo”, em seu sentido vertical, isto é, de cima para baixo.
RECEITA OPERACIONAL BRUTA

. Vendas
. Receita com Prestação de Serviços
. (-) IPI faturado

REDUTORAS DA RECEITA
OPERACIONAL BRUTA

(+) Devoluções de Vendas


Demonstração
Dedutiva (a conta
(-) Abatimentos sobre Vendas posterior vai sendo
deduzida da conta
anterior)
(+) Desconto Comercial Concedido

(-) Impostos sobre Vendas

144
RECEITA OPERACIONAL
Contabilidade Financeira

LÍQUIDA

Vamos, agora estudar cada um dos elementos da


Demonstração do Resultado do Exercício – DRE.

4.1.1 Receita bruta de vendas


Receita bruta de vendas, receita bruta de vendas de
produtos e serviços, receita operacional bruta, são denomi-
nações atribuídas às receitas que resultam da principal ativi-
dade da entidade, ou seja, sua atividade fim.

Atividades fim
Indústria => atividade fim = fabricar produtos
Comércio => atividade fim = comprar e revender
mercadorias
Serviços => atividade fim = prestação de serviços
Por que receita bruta?
Quando se estabelece um preço para produtos, mer-
cadorias ou serviços, eles devem prever a incidência dos
impostos que são cobrados do cliente, porém repassados
ao Governo. Vamos exemplificar isso de uma forma sim-
ples, supondo que uma indústria está atribuindo o preço
do seu produto:

Custos de fabricação R$120,00


Margem de Lucro desejada R$80,00
Impostos não cumulativos cobrados destacadamente
R$25,00
Preço do produto R$225,00

Nesse caso, a receita “bruta” da venda do produto


corresponderá ao valor total cobrado do cliente, entretanto,
parte desse valor – os impostos = R$25,00 – não representa
145
o “produto” em si, mas, sim, um valor que não ficará com a

Demonstração do resultado do exercício


indústria, pois será repassado ao Governo. Não se trata de
uma receita de venda verdadeira. Nesse caso, a indústria é
um mero agente arrecadador, visto que ela cobra do cliente e
repassa para o fisco.
Assim, o valor da receita bruta deve ser ajustado para
demonstrar a receita “real” que decorre das vendas de produ-
tos ou serviços. São dois tipos de ajustes:
• Redutores dos componentes da receita bruta;
• Deduções da receita bruta;
A Lei nº 6.404/76 determina, em seu artigo 187, itens I e
II, que a receita bruta das vendas e dos serviços, as deduções
das vendas, dos abatimentos e dos impostos e, também, sua
receita líquida, deverão ser discriminadas na Demonstração
do Resultado do Exercício.
No próximo tópico vamos estudar os elementos mais
comuns que ajustam a receita bruta de vendas ou receita ope-
racional bruta.

4.1.2 Deduções da receita bruta


IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados<peso4>
Esse imposto inclui-se no tipo de ajuste classificado
como redutor direto da receita bruta, pois assim prevê a legis-
lação fiscal quando determina que:
Na receita bruta não se incluem os
impostos não cumulativos, cobrados,
detalhadamente, do comprador ou
contratante (imposto sobre produtos
industrializados) e do qual o vendedor
dos bens ou prestador de serviços seja
mero depositário (Lei nº 8.981/95 – art.
31 § único).

E qual a diferença em relação às demais deduções?


Outra definição também imposta pela legislação fiscal e
146
societária define receita líquida como sendo a receita bruta
diminuída das vendas canceladas, dos descontos concedi-
Contabilidade Financeira

dos e dos impostos que incidem sobre as vendas. Se o IPI não


se inclui na receita bruta, significa que ele deve ser reduzido
dela, antes que ela seja assim classificada.
Vamos ver como isso funciona na contabilidade.
Quando uma indústria compra, para produzir seus
produtos, matéria-prima ou outros insumos sujeitos à
tributação pelo IPI, o imposto pago ser-lhe-á ressarcido,
sendo considerado um direito a receber, um ativo, por-
tanto.
Suponha que uma indústria tenha adquirido
R$500.000,00 em materiais e sobre esse valor incidiu 20% de
IPI e 18% de ICMS. Veja como ficaria a contabilização:
Conta de
D Estoques R$500.000,00
Ativo
Impostos a recuperar – Conta de
D R$100.000,00
IPI Ativo
Impostos a recuperar - Conta de
D R$90.000,00
ICMS Ativo
Conta de
C Fornecedores R$690.000,00
Passivo
Valor referente à compra de materiais para
estoques e registro dos tributos a serem
recuperados

Foram vendidos, no mesmo período, produtos a prazo


no valor de R$1.500.000,00, tendo sido cobrado IPI de 15%11 e
ICMS de 18%. Veja os lançamentos contábeis:

Contabilizando o faturamento:
Conta de
D Clientes R$500.000,00
Ativo
Conta de 147
C Receita Bruta de Vendas R$1.995.000,00
Resultado

Demonstração do resultado do exercício


Valor referente ao faturamento bruto do
período

Contabilizando o IPI:
Conta de
IPI sobre Faturamento Resultado
D R$225.000,00
Bruto (Redutora da
Receita Bruta)
Obrigações Fiscais – IPI a Conta de
C R$225.000,00
Recolher Passivo
Valor referente ao IPI incidente sobre o
faturamento bruto do período

11. IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados): imposto cujas alíquotas diferem de acordo com
produto.
Contabilizando a recuperação do IPI:
Obrigações Fiscais – IPI a Conta de
D R$100.000,00
Recolher Passivo
Impostos a recuperar – Conta de
C R$100.000,00
IPI Ativo
Valor referente à recuperação de IPI inci-
dente sobre faturamento bruto

Tem-se, então, que a entidade deverá recolher


R$125.000,00 de IPI, após compensado o valor do imposto
pago por ocasião da compra dos materiais. Vamos ver essas
contabilizações em razonetes:
Compra de materiais
Impostos a Recu-
Estoques Fornecedores perar (IPI)
(1) 500.000 690.000 (1) 100.000 100.000 (4)

Impostos a Re-
148
cuperar ICMS
(1) 90.000
Contabilidade Financeira

Venda de produtos e compensação do IPI


Receita Bruta de Receita Bruta de
Clientes Vendas Vendas
(2) 1.995.000 1.995.000 (2) (4) 100.000 225.000 (3)

125.000

IPI sobre
Faturamento
Bruto
(3) 225.000
O recolhimento do IPI se dará pelo valor líquido, ou
seja, o valor devido pela entidade, compensado com o valor
de crédito ao qual ela tem direito e que corresponde ao
imposto que ela própria pagou quando adquiriu os materiais
para fabricar os seus produtos. Vamos, então, contabilizar o
recolhimento do IPI:
Obrigações Fiscais – Conta de
D R$125.000,00
IPI a Recolher Passivo
Bancos - Conta Conta de
C R$125.000,00
Movimento Ativo
Valor referente ao recolhimento e IPI
incidente sobre faturamento bruto

Obrigações
Bancos Conta
Fiscais IPI a
Movimento
Recolher
(5) 100.000 225.000 125.000 (5)

125.000

149
Vejam como ficaria na Demonstração do Resultado do

Demonstração do resultado do exercício


Exercício:

DEMOSNTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO


GRUPOS/CONTAS PERÍODOS/
EXERCÍCIOS
Atual Anterior
RECEITA OPERACIONAL BRUTA
Vendas 1.995.000
Receita com Prestação de Serviços -
(-) IPI Faturado (225.000)

Vendas canceladas e devoluções


As vendas canceladas e as devoluções referem-se à
anulação de valores já registrados com receita bruta de ven-
das, em virtude de cancelamentos ou devoluções e que não
representem perdas ou ganhos decorrentes dessas operações.
Utilizando o exemplo anterior, vamos supor que tenha
ocorrido um cancelamento de vendas no valor de R$12.000,00.
Contabilizando:

Vendas Canceladas
Conta de
D (Redutora da Receita R$12.000,00
Resultado
Bruta de Vendas)
Conta de
C Clientes R$12.000,00
Ativo

Valor referente ao cancelamento de


vendas no período

Vendas
Clientes
Canceladas
(6) 12.000 1.995.000 12.000 (6)

Descontos incondicionais e abatimentos


150
A legislação fiscal considera como descontos incondi-
cionais somente as parcelas redutoras do preço de venda que
Contabilidade Financeira

constem da nota fiscal de venda de bens ou da fatura de ser-


viços, desde que não dependam de nenhum evento posterior
à data da venda para serem concedidos.
Já os abatimentos, correspondem aos valores redutores
do preço de venda que não figuram da nota fiscal e tiveram
sua origem em acontecimentos posteriores à sua emissão.
Como, por exemplo, avarias em mercadorias.
Vamos supor, no nosso exemplo, que tenha sido conce-
dido um desconto comercial de R$500,00 a um determinado
cliente. Veja a contabilização:
Desconto Comercial
Concedido - (Redutora Conta de
D R$500,00
da Receita Bruta de Resultado
Vendas)
Conta de
C Clientes R$500,00
Ativo
Valor referente a desconto comercial
concedido a cliente

Desconto Comer-
Clientes
cial Concedido
(7) 500 1.995.000 12.000 (6)
500 (7)

Tributos incidentes sobre vendas


Os tributos incidentes sobre as vendas, de caráter não
151
cumulativo, também deverão ser deduzidos da receita bruta,

Demonstração do resultado do exercício


visto tere implícita a natureza de recuperabilidade, ou seja,
poderão ser compensados com os tributos correspondentes
devidos pela entidade. São os mais comuns:
• ISS – Imposto sobre Serviço
• ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
de Serviços
• PIS / PASEP E COFINS – Programa de Integração
Social / Programa de Formação do Patrimônio do
Servidor Público e Contribuição para o Financiamento
da Seguridade Social
No nosso exemplo, vimos que existe uma cobrança de
ICMS no valor de R$270.000,00 (R$1.500.000,00 x 18%). No
momento da venda, teríamos a seguinte contabilização:
Contabilizando o ICMS:

Conta de
Resultado
ICMS sobre Fatura-
D R$270.000,00 (Redutora
mento Bruto
da Receita
Bruta)
Obrigações Fiscais – Conta de
C R$270.000,00
ICMS a Recolher Passivo
Valor referente ao ICMS incidente
sobre o faturamento bruto do período

Contabilizando a recuperação do ICMS:

Obrigações Fiscais – Conta de


D R$90.000,00
ICMS a Recolher Passivo
Impostos a recuperar Conta de
C R$90.000,00
– ICMS Ativo
Valor referente à recuperação de ICMS
incidente sobre faturamento bruto
152

Contabilizando o recolhimento do ICMS


Contabilidade Financeira

Obrigações Fiscais – Conta de


D R$180.000,00
ICMS a Recolher Passivo
Bancos - Conta Conta de
C R$180.000,00
Movimento Ativo
Valor referente ao recolhimento do ICMS
incidente sobre faturamento bruto

Para melhor entendimento das movimentações nas


contas, vejam os razonetes:

ICMS sobre Obrigações Impostos a


Faturamento Fiscais ICMS a Recuperar
Bruto Recolher ICMS
(8) 270.000 (9) 90.000 270.000 (8) (1) 90.000 90.000 (9)
(10) 180.000
Bancos Conta
Movimento
125.000 (2)
180.000 (10)

Os procedimentos contábeis em relação aos demais tri-


butos são os mesmos.

Demonstração do Resultado do Exercício


Vamos ver agora como está ficando a nossa
Demonstração do Resultado do Exercício.

DEMOSNTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO


GRUPOS/CONTAS PERÍODOS/
EXERCÍCIOS
Ante-
Atual
rior
RECEITA OPERACIONAL BRUTA 153
Vendas 1.995.000 -

Demonstração do resultado do exercício


Receita com Prestação de Serviços -
(-) IPI Faturado (225.000)
REDUTORAS DA RECEITA OPERACIONAL
-
BRUTA
(-)Devoluções de Vendas (12.000) -
(-)Abatimentos sobre Vendas - -
(-)Desconto Comercial Concedido (500) -
(-)Impostos sobre Vendas (270.000) -
RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 1.487.500 -

Muito bem, avançamos até o subtotal do grupo receita


operacional líquida. Vamos fazer uma pausa para entender-
mos o que ele significa.
Já sabemos que a Receita Operacional Bruta, também
chamada por Receita Bruta de Vendas, representa o total das
vendas realizadas pela entidade no período, incluindo os
tributos incidentes sobre tais vendas. O termo receita bruta
já deixa transparente que ela inclui “tudo” que diz respeito à
composição do preço de venda.
Após a linha que registra a receita bruta, foram fei-
tas as deduções necessárias para que essa receita fosse apre-
sentada pelo seu valor real, ou seja, o quanto realmente de
receita foi obtido com a venda do produto, desconsiderando
os tributos que estão nela embutidos. Isso, porque a entidade
é mera “repassadora” desses tributos; ela os cobra do cliente
para, em seguida, repassa-los ao Governo.
Também foram feitas as deduções relativas às vendas
canceladas e cujo valor estava compondo o total da receita
bruta. Nada mais lógico, pois, se a venda deixou de existir, ela
não deve ser demonstrada como receita. Essa dedução não é
feita diretamente da conta de receita bruta, em função de pre-
servar a qualidade da informação. Da mesma forma, o des-
conto concedido aparece numa conta redutora da receita bruta.
154
Podemos concluir, então, que a receita operacio-
nal líquida representa a receita da operação de venda, sem
Contabilidade Financeira

nenhum outro componente que a distorça.

4.1.3 Deduções da receita operacional líquida


Vimos anteriormente que a Demonstração do
Resultado se apresenta de forma dedutiva, ou seja, as contas
vão sendo deduzidas daquelas que a precedem, de maneira a
representar cada grupo de resultado, tornando a informação
mais clara para o usuário.

RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA


(-) Custo das Mercadorias Vendidas
(-) Custo dos Produtos Vendidos
(-) Custo dos Serviços Prestados
LUCRO (PREJUÍZO) OPERACIONAL BRUTO
As contas a serem deduzidas da Receita Operacional
Líquida representam os custos que foram necessários para
produzi-la. Já comentamos na Aula 2 que qualquer receita
requer que se consuma recursos para a sua geração. Não
se pode obter receita de venda sem fabricar produtos,
adquirir mercadorias ou prestar serviços e essas ativida-
des envolvem custos. Na DRE, tais custos, já apropriados
ao resultado da entidade como despesa são “confrontados”
com as receitas respectivas.
Para darmos continuidade ao exemplo com o qual vie-
mos trabalhando, vamos supor que a nossa entidade, além
de fabricar seus produtos, também compra e revende merca-
dorias. Isso é muito comum no mundo empresarial. Assim,
vamos determinar que, no período em estudo, ela incorreu
em Custos de Produtos Vendidos no valor de R$592.000,00 e
Custos de Mercadorias Vendidas de R$350.000,00.
Então, vamos conhecer melhor esses custos?
155

Demonstração do resultado do exercício


Custo dos Produtos Vendidos – CPV
O custo dos produtos vendidos é apurado utilizando-
-se os saldos do grupo de contas denominado Estoques. Esse
grupo de contas será estudado ainda nesta aula.
O valor do CPV é obtido mediante a seguinte equação
geral:

CPV = EiPP + CPP - EfPP

Sendo:
EiPP = Estoque inicial de produtos prontos
CPP = Custo dos produtos prontos
EfPP = Estoque final de produtos prontos
No nosso exemplo, temos:

EiPP = R$1.100.000,00
CPP = R$340.000,00
EfPP = R$848.000,00

Apurando o CPV:

CPV = R$1.100.000,00 + R$340.000,00 – R$848.000,00


CPV = R$592.000,00

O valor do CPV deve ser transferido da conta Estoques


de Produtos Prontos para o Resultado, da seguinte forma:

Custo dos Produtos Conta de


D R$592.000,00
Vendidos – CPV Resultado
Estoque de Produtos Conta de
C R$592.000,00
Prontos Ativo
156
Valor referente à apropriação do custo
dos produtos vendidos no período
Contabilidade Financeira

Em razonetes:
Custos dos Produtos Estoque Produtos
Vendidos Prontos
592.000 1..100.000 592.000
340.000

848.000

Para se chegar ao valor do custo dos produtos prontos


(CPP), primeiramente se apura os custos da matéria prima
consumida no período da seguinte forma:

CMP = Ei + Co – Ef
Sendo:
• CMP = Custo da matéria-prima
• Ei = Estoque inicial de matéria-prima
• Co = Compras de matéria-prima
• Ef = Estoque final de matéria-prima
Além do custo das matérias-primas consumidas na
produção, o custo dos produtos prontos envolve uma série de
outros insumos, como mão de obra direta, custos indiretos
(aluguéis, energia etc.), encargos sociais sobre mão de obra
direta, outros materiais e demais custos. Assim, a apuração
do CPP – Custo dos Produtos Prontos – pode ser realizada
mediante a seguinte equação:

CPP = EiPFF + CMPi + MO Dir. + Enc. Soc. s/ MO + GGF +


Depr. Ind. + CIF + MD – EfPFF

Sendo: 157

• CPP = Custo dos Produtos Prontos

Demonstração do resultado do exercício


• EiPFF = Estoque inicial de Produtos em Fase de
Fabricação
• CMP = Custo da matéria-prima (apurado conforme
tópico anterior)
• MO Dir. = Mão de obra direta
• Enc. Soc. s/ MO = Encargos sociais sobre mão de obra
• GGF = Gastos gerais de fabricação
• Depr. Ind. = Depreciação industrial
• CIF = Custos indiretos de fabricação
• MD = Materiais diretos
• EfPFF = Estoque final de Produtos em Fase de
Fabricação
Parece complexo, mas vamos traduzir isso em núme-
ros. Para ficar mais claro, vamos supor que uma indústria de
brinquedos apresente os seguintes valores:

Valores
Estoque de Produtos em Fabricação
(R$MIL)
Estoque inicial de produtos em fase de
800
fabricação
Custo da matéria-prima 400
Mão de obra direta 200
Encargos sociais sobre mão de obra
100
direta
Gastos gerais de fabricação 80 = R$1000,00
Depreciação industrial 20
Custos indiretos de fabricação 130
Materiais diretos 70
Subtotal 1.800
Estoque final de produtos em fase de #???
1.460
fabricação

158

INDÚSTRIA DE BRINQUEDOS
Contabilidade Financeira

+ Custo
dos produ-
tos
- =
Estoque Estoque final
=
inicial em em
R$1.000,00
fabricação fabricação
R$800,00 R$1.460,00

Produtos
Prontos
R$340,00

Os produtos, antes de ficarem “prontos”, passaram


pela fase de fabricação e, portanto, estavam registrados como
Estoque de Produtos em Fase de Fabricação (R$800,00);
Se partirmos do saldo inicial dessa conta e agre-
garmos a ele todos os demais custos necessários a deixa-
-lo pronto (matéria-prima, mão de obra, etc.), teremos todos
os custos do período, certo? O que já estava lá (saldo ini-
cial = R$800,00), mais o que foi agregado (custos do perí-
odo = R$1.000,00). Mas, essa soma (R$1.800,00) é diferente do
saldo final do estoque de produtos em fase de fabricação (R$
1.460,00), ela é maior! Por quê? Porque uma parte dos produ-
tos já ficou pronta e, portanto, não estão mais em fabricação
e foram transferidas para o estoque de produtos já acabados.
Essa diferença é, justamente, o valor do custo desses produ-
tos que já ficaram prontos (R$340,00). O saldo de R$1.460 ,00
representa o custo dos produtos que ainda permanecem em
fabricação, ou seja, não ficaram prontos.
Aplicando-se a equação simplificada, temos:

CPP = R$800,00 + R$1.000,00 - R$1.460,00 = R$340,00


159

Demonstração do resultado do exercício


Custo dos Serviços Prestados – CSP
A apuração do custo dos serviços prestados requer
que tais custos sejam escriturados em contas apropriadas de
forma a facilitar a sua determinação, ao final do período cor-
respondente. Genericamente, quando não houver controle
individual de custos por serviço, pode-se utilizar o mesmo
critério já visto, trabalhando com saldos iniciais e finais:

CSP = SiSA + CSP – SfSA

Onde:
• CSP = Custo dos Serviços Prestados
• SiSA = Saldo Inicial de Serviços em Andamento
• CSp = Custos de Serviços do Período
• SfSA = Saldo Final dos Serviços em Andamento

Custo das Mercadorias Vendidas – CMV


As empresas comerciais, ou seja, aquelas que compram
mercadorias para revenda apuram o custo das mercadorias
vendidas, segundo a mesma sistemática já apresentada:

CMV = Ei + Co – Ef

Onde:
• CMV = Custo das Mercadorias Vendidas
• Ei = Estoque inicial de mercadorias
• Co = Valor líquido das compras de mercadorias no
período
• Ef = Estoque final de mercadorias
Exemplificando, temos que a Indústria de Brinquedos
160
que está servindo de base para o nosso estudo. Além de fabri-
car, também compra e revende mercadorias, isto é, brinque-
Contabilidade Financeira

dos. Vamos apurar o CMV do período sob análise, partindo


dos seguintes dados:12
Estoque de Mercadorias Valores (R$MIL)
Estoque inicial de mercadorias 500
Compras líquidas do período
12
300
Estoque final de mercadorias 450

Aplicando-se a equação, temos:

CMV = R$500,00 + R$300,00 - R$450,00


CMV = R$350,00

12. Compras Líquidas: preço original deduzido das eventuais devoluções e abatimentos, somando-
-se o frete pago
Vamos contabilizar?

Contabilizando as compras líquidas de mercadorias

Estoque de Conta de
D R$300.000,00
Mercadorias Ativo
Conta de
C Fornecedores R$300.000,00
Passivo
Valor referente às compras de merca-
dorias no período

Transferindo o Custo das Mercadorias Vendidas para o


resultado

Custo das Mercadorias Conta de


D R$350.000,00
Vendidas - CMV Resultado
Estoque de Conta de
C R$350.000,00
Mercadorias Ativo
Valor referente à apropriação do custo
das mercadorias vendidas no período 161

Demonstração do resultado do exercício


Lançamentos nos razonetes:

Custo das
Estoque de
Mercadorias Fornecedores
Mercadorias
vendidas
(2) 350.000 (SI) 500.000 350.000 (2) 300.000 (1)

(1) 300.000

450.000

Demonstração do Resultado do Exercício


A Demonstração do Resultado do Exercício, a esta
altura, estará da seguinte forma:
DEMOSNTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO
GRUPOS/CONTAS PERÍODOS/
EXERCÍCIOS
Ante-
Atual
rior
RECEITA OPERACIONAL BRUTA
Vendas 1.995.000 -
Receita com Prestação de Serviços -
(-) IPI Faturado (225.000)
REDUTORAS DA RECEITA OPERACIONAL
-
BRUTA
(-)Devoluções de Vendas (12.000) -
(-)Abatimentos sobre Vendas - -
(-)Desconto Comercial Concedido (500) -
(-)Impostos sobre Vendas (270.000) -
RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 1.487.500 -
(-)Custo das Mercadorias Vendidas (350.000) -
(-)Custo dos Produtos Vendidos (592.000) -
(-)Custo dos Serviços Prestados - -
162 LUCRO (PREJUÍZO) OPERACIONAL BRUTO 545.500 -
Contabilidade Financeira

Podemos observar que, deduzindo-se da Receita


Operacional Líquida os custos que foram necessários para
gera-la, obtém-se o Lucro Operacional Bruto de R$545.500,00.
Agora já podemos chamar de “lucro” porque temos
a diferença entre as receitas e as despesas respectivas. Esse
lucro é genuinamente “operacional”, pois resulta da princi-
pal atividade da empresa. É chamado de lucro operacional
“bruto”, porque dele ainda não foram deduzidas as demais
despesas ou somadas às demais receitas que irão compor o
resultado final e que iremos estudar a seguir.

4.1.4 Despesas e outras receitas operacionais


Além dos custos para a produção dos bens ou serviços,
as entidades também incorrem em outras despesas necessárias
às suas operações, assim como auferem outras receitas decor-
rentes dessas atividades, além daquelas resultantes direta-
mente da venda desses bens ou serviços produzidos.
Se são despesas necessárias às suas operações ou
receitas delas advindas, são também de caráter operacional.
Vamos conhecê-las!

Despesas com vendas


As “despesas com vendas” são representadas por aque-
las despesas diretamente relacionadas ao processo de venda
de mercadorias, produtos ou serviços da entidade. Exemplos:
salários dos vendedores; despesas com viagens de vendedo-
res; comissões pagas sobre vendas; encargos sociais sobre
salários e outros encargos sobre vendas.

Despesas financeiras
As “despesas financeiras” são representadas pelas des-
163
pesas de caráter financeiro, como: juros pagos nas operações

Demonstração do resultado do exercício


de empréstimos e financiamentos; juros e multas sobre paga-
mentos de obrigações em atraso; descontos financeiros conce-
didos; despesas bancárias, etc.

Receitas financeiras
As “receitas financeiras” são oriundas de operações de
caráter também financeiro, como: receitas obtidas em aplica-
ções financeiras; descontos financeiros obtidos; juros cobra-
dos, etc.

Despesas administrativas
As “despesas administrativas” representam todas
as despesas relacionadas com a administração da entidade.
Exemplos: aluguéis da administração; salários e encargos do
pessoal administrativo; material de expediente etc.
Outras despesas operacionais
No grupo de “outras despesas operacionais” são classi-
ficadas as demais despesas que, embora necessárias às opera-
ções da entidade, não têm relação direta com vendas ou com
a administração. Exemplos: quebras de estoques; mercadorias
danificadas, etc.
Normalmente são despesas de pequeno valor e, nesse
caso, embora apareçam na DRE em uma única linha, devem
ser destacadas nas Notas Explicativas às Demonstrações
Contábeis, mas, quando não o forem, devem ser destacadas
na própria DRE.

Outras receitas operacionais


O grupo de “outras receitas operacionais” congrega
as receitas que, apesar de serem de caráter operacional,
não são classificáveis como receitas de vendas ou recei-
tas financeiras, como: recuperação de perdas com crédi-
164
tos incobráveis.
Contabilidade Financeira

Demonstração do Resultado do Exercício


Vamos acompanhar como está ficando a Demonstração
do Resultado do Exercício, considerando os seguintes valores
de despesas e receitas operacionais:

Despesas / Receitas Operacionais R$Valores


Despesas com vendas 30.000
Despesas administrativas 80.000
Outras despesas operacionais 3.000
Outras receitas operacionais 5.000

Agregando despesas financeiras de R$3.000,00 e recei-


tas financeiras de R$15.000,00, temos:
DEMOSNTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO
GRUPOS/CONTAS PERÍODOS/
EXERCÍCIOS
Ante-
Atual
rior
RECEITA OPERACIONAL BRUTA
Vendas 1.995.000 -
Receita com Prestação de Serviços -
(-) IPI Faturado (225.000)
REDUTORAS DA RECEITA OPERACIONAL
-
BRUTA
(-)Devoluções de Vendas (12.000) -
(-)Abatimentos sobre Vendas - -
(-)Desconto Comercial Concedido (500) -
(-)Impostos sobre Vendas (270.000) -
RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 1.487.500 -
(-)Custo das Mercadorias Vendidas (350.000) -
(-)Custo dos Produtos Vendidos (592.000) -
(-)Custo dos Serviços Prestados - -
LUCRO (PREJUÍZO) OPERACIONAL BRUTO 545.500 - 165

(-)Despesas com Vendas (30.000) -

Demonstração do resultado do exercício


(-)Despesas Administrativas (80.000) -
(-)Outras Despesas Operacionais (3.000) -
Outras Receitas Operacionais 5.000 -
LUCRO (PREJUÍZO) ANTES DO
437.500 -
RESULTADO FINANCEIRO
(-)Despesas Financeiras (3.000) -
Receitas Financeiras 15.000 -
LUCRO (PREJUÍZO) OPERACIONAL
445.500 -
LÍQUIDO

Avançamos até o lucro operacional líquido, o que sig-


nifica que já foram computadas, até aqui, todas as despesas e
receitas de caráter operacional, em outras palavras, as despe-
sas e receitas decorrentes das operações da entidade, daque-
las atividades para as quais a entidade foi criada para realizar.
4.1.5 Outras receitas e outras despesas
Além das receitas e despesas operacionais, eventual-
mente a entidade pode obter “ganhos” ou “perdas” em outras
operações não relacionadas com a sua atividade fim.
Vamos ver um exemplo: a Indústria de Brinquedos
com a qual estamos trabalhando tem como atividade fim
fabricar, comprar e vender brinquedos. É, portanto, uma
indústria e um comércio de brinquedos. Para entregar seus
produtos, tal indústria possui alguns caminhões registra-
dos no seu Ativo não Circulante Imobilizado. Ao precisar
trocar um desses caminhões, cujo valor contábil líquido
era de R$35.000,00 (R$80.000,00 em Veículos e R$45.000,00
em Depreciação Acumulada), obteve R$38.000,00 e, por-
tanto, um ganho (receita) não operacional de R$3.000,00.
Por que “não operacional”? Ora, sua atividade fim não é
compra e venda de caminhões, mas produção, compra e
venda de brinquedos.
166
Só por curiosidade, vamos ver como seria a contabili-
zação dessa operação, supondo que a venda foi feita à vista?
Contabilidade Financeira

Bancos - Conta Conta de


D R$38.000,00
Movimento Ativo
Depreciação Conta de
D R$45.000,00
Acumulada Ativo
Conta de
C Veículos (Imobilizado) R$80.000,00
Ativo
Ganhos na venda de Conta de
C R$3.000,00
Imobilizados Resultado
Valor referente à venda de veículo X
no período
Depreciação
Bancos Conta
Acumulada Veículos
Movimento
Veículos
38.000 45.000 45.000 (SI) (SI) 80.000 80.000

Ganhos na venda
de Imobilizados

3.000

Vamos imaginar que, ao invés de ganho, a entidade


não conseguisse vender o caminhão por um valor maior do
que aquele registrado no seu Ativo. Neste caso, ela teria um
prejuízo, ou seja, uma “perda”. Supondo que ela conseguiu
vender o caminhão por R$32.000,00, veja como ficaria a res-
167
pectiva contabilização:

Demonstração do resultado do exercício


Bancos - Conta Conta de
D R$32.000,00
Movimento Ativo
Depreciação Conta de
D R$45.000,00
Acumulada Ativo
Perdas na venda de Conta de
C R$3.000,00
Imobilizados Resultado
Conta de
C Veículos (Imobilizado) R$80.000,00
Ativo
Valor referente à venda de veículo X
no período
Depreciação
Bancos Conta
Acumulada Veículos
Movimento
Veículos
32.000 45.000 45.000 (SI) (SI) 80.000 80.000

Ganhos na venda
de Imobilizados

3.000

Note que no caso de receitas e despesas de caráter


não operacional, elas são chamadas, respectivamente, por
“ganhos” e “perdas”.
Na Demonstração do Resultado do Exercício, esses
ganhos e perdas são demonstrados “depois” do Lucro
168
Operacional.
Contabilidade Financeira

LUCRO (PREJUÍZO) OPERACIONAL LÍQUIDO 449.500


(-)Outras Despesas
Perdas de Capital
Outras Receitas
Ganhos na Venda de Ativos 3.000
RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DA
452.500
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO

Obs.: No exemplo foi considerado somente o ganho na


venda do veículo.

Demonstração do Resultado do Exercício


Vamos visualizar a DRE obtida até esse momento:
DEMOSNTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO
GRUPOS/CONTAS PERÍODOS/
EXERCÍCIOS
Ante-
Atual
rior
RECEITA OPERACIONAL BRUTA
Vendas 1.995.000 -
Receita com Prestação de Serviços -
(-) IPI Faturado (225.000)
REDUTORAS DA RECEITA OPERACIONAL
-
BRUTA
(-)Devoluções de Vendas (12.000) -
(-)Abatimentos sobre Vendas - -
(-)Desconto Comercial Concedido (500) -
(-)Impostos sobre Vendas (270.000) -
RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 1.487.500 -
(-)Custo das Mercadorias Vendidas (350.000) -
(-)Custo dos Produtos Vendidos (592.000) -
(-)Custo dos Serviços Prestados - -
LUCRO (PREJUÍZO) OPERACIONAL BRUTO 545.500 - 169

(-)Despesas com Vendas (30.000) -

Demonstração do resultado do exercício


(-)Despesas Administrativas (80.000) -
(-)Outras Despesas Operacionais (3.000) -
Outras Receitas Operacionais 5.000 -
LUCRO (PREJUÍZO) ANTES DO
437.500 -
RESULTADO FINANCEIRO
(-)Despesas Financeiras (3.000) -
Receitas Financeiras 15.000 -
LUCRO (PREJUÍZO) OPERACIONAL LÍQUIDO 449.500 -
(-)Outras Despesas
Perdas de Capital - -
Outras Receitas
Ganhos de Capital 3.000 -
RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DA
452.500 -
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO
A última linha observada até aqui é a do Resultado do
Exercício antes da Contribuição Social sobre o Lucro. Vamos
saber do que se trata essa contribuição e outras deduções que
são feitas no resultado.

4.1.6 Outras deduções


Antes da apuração do lucro líquido final, ainda são
feitas algumas outras deduções como: a Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido (CSLL), o Imposto de Renda sobre o
lucro (IRPJ) e as Participações e Contribuições sobre o Lucro.

CSLL e IRPJ
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL)
A CSLL é um tributo federal cobrado das empre-
sas, cujo cálculo segue regras específicas determinadas pela
legislação tributária. O detalhamento do seu cálculo será
estudado futuramente, mas, por ora, vamos aprender como
170 contabiliza-la.
Vamos supor uma CSLL de 9% incidente sobre o
Contabilidade Financeira

Resultado do Exercício antes da Contribuição Social sobre o


Lucro, sem quaisquer ajustes:

CSLL = R$452.500,00 X 9% = R$40.725,00

Pela obrigação do recolhimento da CSLL

Contribuição Social
Conta de
D sobre Lucro Líquido R$40.725,00
Resultado
(CSLL)
Conta de
C CSLL a Recolher R$40.725,00
Passivo

Valor referente à CSLL do período


Contribuição Contribuição
Soc s/ Lucro Liq Soc a recolher

(1) 40.725 40.725 (1)

Pelo recolhimento da CSLL

Conta de
D CSLL a Recolher R$40.725,00
Passivo
Bancos - Conta Conta de
C R$40.725,00
Movimento Ativo
Valor referente ao pagamento da
CSLL do período

Contribuição Bancos Conta


Soc a Recolher Movimento

(2) 40.725 40.725 (2)


171

Demonstração do resultado do exercício


Deduzindo o valor da CSLL, na Demonstração do
Resultado do Exercício, temos:

RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DA


452.500
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO
(-)Contribuição Social sobre o Lucro (40.725)
RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTESDO IMPOSTO
411.775
DE RENDA SOBRE O LUCRO (LAIR)

O Resultado antes do Imposto de Renda sobre o Lucro,


também conhecido como LAIR, é a linha da DRE que serve
de base para apuração do valor do imposto de renda inci-
dente sobre o lucro da empresa. Assim como a CSLL, o IRPJ
(Imposto de Renda da Pessoa Jurídica) é calculado segundo
regras específicas da legislação tributária que serão estuda-
das num outro estágio do curso.
Para exemplificarmos a contabilização do IRPJ, vamos
trabalhar com uma alíquota de 15% incidente diretamente
sobre o LAIR, sem quaisquer ajustes ou adicionais:

IRPJ = R$411.775,00 X 15% = R$61.766,00

Pela obrigação do recolhimento do IRPJ


Imposto de Renda Conta de
D R$61.766,00
sobre o Lucro Resultado
Conta de
C IRPJ a Recolher R$61.766,00
Passivo
Valor referente ao IRPJ incidente sobre
o lucro do período

Imposto de Imposto de
Renda s/Lucro Renda a Recolher

172 (1) 61.766 61.766 (1)


Contabilidade Financeira

Pelo recolhimento do IRPJ

Conta de
D IRPJ a Recolher R$61.766,00
Passivo
Bancos - Conta Conta de
C R$61.766,00
Movimento Ativo
Valor referente ao pagamento do IRPJ
do período
Imposto de Bancos Conta
Renda a Recolher Movimento
(2) 61.766 61.766 (2)
Demonstração do Resultado do Exercício
Vejamos a DRE até este ponto:
RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTESDO IMPOSTO
411.775
DE RENDA SOBRE O LUCRO (LAIR)
(-) Imposto de Renda sobre o Lucro (61.766)
RESULTADO DO EXERCÍCIO APÓS IMPOSTO DE
350.009
RENDA
(-) Participações sobre o Lucro

Verificamos que, após a linha de Resultado do Exercício


após o Imposto de Renda, ainda há mais uma dedução a ser
estudada – as Participações sobre o Lucro.

Participações e Contribuições sobre o Lucro


As “participações e contribuições sobre o lucro” são
parcelas do lucro que, atendendo a determinações do esta-
tuto da empresa, são destinadas a favorecidos específicos. As
participações mais comuns são:
173
• Participações de debêntures;

Demonstração do resultado do exercício


• Participações dos empregados;
• Participações dos administradores;
• Contribuições aos Fundos de Assistência de
Empregados;
• Contribuições aos Fundos de Previdência de
Empregados, etc.
As participações nos lucros também devem ser regis-
tradas, mesmo quando não previstas em estatuto, desde que
sejam parte de algum plano de remuneração já estabelecido.
A base de cálculo das participações é o lucro líquido
após o Imposto de Renda, após a compensação de eventu-
ais prejuízos já existentes. Os artigos nº 187 e 190 da Lei nº
6.404/76, determinam que as participações sejam calculadas
obedecendo-se a seguinte ordem: debêntures, empregados,
administradores e partes beneficiárias. Além disso, deve-se
observar que as respectivas bases de cálculo contemplem a
dedução da participação imediatamente anterior. Exemplo:

Participações Valor ($)


Resultado do Exercício após o IRPJ 350.009
Prejuízos de Exercícios Anteriores (50.009)
Base de cálculo inicial 300.000
Participações de debêntures (10%) (30.000)
Nova base de cálculo 270.000
Participações de empregados (10%) (27.000)

Contabilizando:
Constituição da obrigação
Participações de Conta de
D R$30.000,00
Debêntures Resultado
Participações de Conta de
C R$30.000,00
Debêntures a Pagar Passivo
174 Valor referente às participações de
debêntures no lucro do período
Contabilidade Financeira

Constituição da obrigação
Participações de Conta de
D R$27.000,00
Empregados Resultado
Participações de Conta de
C R$27.000,00
Empregados a Pagar Passivo
Valor referente às participações de
empregados no lucro do período

Pagamento da obrigação

Participações de Conta de
D R$30.000,00
Debêntures a Pagar Passivo
Bancos - Conta Conta de
C R$30.000,00
Movimento Ativo
Valor referente ao pagamento das par-
ticipações de debêntures no período
Pagamento da obrigação
Participações de Conta de
D R$27.000,00
Empregados a Pagar Passivo
Bancos - Conta Conta de
C R$27.000,00
Movimento Ativo
Valor referente ao pagamento das par-
ticipações de empregados no período

Razonetes:

Participações de Part. de Debên-


Debêntures tures a Pagar
(1) 30.000 30.000 (1)

Participações de Bancos Conta


Debêntures a Pagar Movimento
(2) 30.000 30.000 (2)

175

Demonstração do resultado do exercício


Participações de Participações de
Empregados Empregados a Pagar
(1) 27.000 27.000 (1)

Participações de Bancos Conta


Empregados a Pagar Movimento
(2) 27.000 27.000 (2)

As participações e as contribuições devem ser contabi-


lizadas na própria data do Balanço Patrimonial.
Demonstração do Resultado do Exercício
Finalmente chegamos à última linha da DRE –
Resultado Líquido do Exercício. Vamos ver como ficou?

DEMOSNTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO


GRUPOS/CONTAS PERÍODOS/
EXERCÍCIOS
Ante-
Atual
rior
RECEITA OPERACIONAL BRUTA
Vendas 1.995.000 -
Receita com Prestação de Serviços -
(-) IPI Faturado (225.000)
REDUTORAS DA RECEITA OPERACIONAL
-
BRUTA
(-)Devoluções de Vendas (12.000) -
(-)Abatimentos sobre Vendas - -
(-)Desconto Comercial Concedido (500) -
(-)Impostos sobre Vendas (270.000) -
RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 1.487.500 -
176
(-)Custo das Mercadorias Vendidas (350.000) -
(-)Custo dos Produtos Vendidos (592.000) -
Contabilidade Financeira

(-)Custo dos Serviços Prestados - -


LUCRO (PREJUÍZO) OPERACIONAL BRUTO 545.500 -
(-)Despesas com Vendas (30.000) -
(-)Despesas Administrativas (80.000) -
(-)Outras Despesas Operacionais (3.000) -
Outras Receitas Operacionais 5.000 -
LUCRO (PREJUÍZO) ANTES DO
437.500 -
RESULTADO FINANCEIRO
(-)Despesas Financeiras (3.000) -
Receitas Financeiras 15.000 -
LUCRO (PREJUÍZO) OPERACIONAL LÍQUIDO 449.500 -
(-)Outras Despesas
Perdas de Capital - -
Outras Receitas
Ganhos de Capital 3.000 -
RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTES DA
452.500 -
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO
(-)Contribuição Social sobre o Lucro (40.725) -
RESULTADO DO EXERCÍCIO ANTESDO
IMPOSTO DE RENDA SOBRE O LUCRO 411.775 -
(LAIR)
(-) Imposto de Renda sobre o Lucro (61.766) -
RESULTADO DO EXERCÍCIO APÓS IM-
350.009 -
POST DE RENDA
(-) Participações sobre o Lucro (57.000) -
LUCRO (PREJUÍZO) LÍQUIDO DO EXER-
293.009 -
CÍCIO
Lucro por ação .................................................

Agora que já conhecemos, linha a linha, da DRE, vale


ressaltar:
• Comparabilidade – a DRE, assim como as demais
Demonstrações Financeiras, sempre será divulgada
demonstrando dois períodos: o atual e o mesmo perí-
177
odo do exercício anterior. Por exemplo: 2013 e 2012.

Demonstração do resultado do exercício


• Lucro por ação - o lucro por ação, em sua forma
básica, corresponde ao valor do lucro líquido divido
pelo número de ações da empresa. A Comissão de
Valores Mobiliários (CVM) é quem determina que,
no caso das sociedades anônimas, o lucro por ação
deve ser divulgado logo a seguir do lucro líquido do
exercício.
• Prejuízo do exercício – Na ocorrência de prejuízo,
ele é apresentado entre parênteses, notação que repre-
senta valores negativos.
Antes de encerrarmos esta aula é interessante sabermos
que, além da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE),
também existe a Demonstração do Resultado Abrangente
(DRA), mas iremos trata-la em outro momento do curso.
Como nas aulas anteriores, vamos agora refletir sobre
os objetivos que tínhamos ao iniciar a Aula 4. Será que conse-
guimos alcança-los? Vamos conferir?

Objetivos de aprendizagem
‚‚Conhecemos e sabemos aplicar as normas de reconhe-
cimento de receitas e despesas, de acordo com as Normas
Brasileiras de Contabilidade, já em consonância com as
Normas Internacionais de Contabilidade – IFRS?
‚‚Conhecemos o escopo básico da Demonstração do
Resultado do Exercício?
‚‚Sabemos calcular e contabilizar o Custo das Mercadorias
Vendidas – CMV?
‚‚Conhecemos as características de cada subgrupo de con-
tas representadas na DRE?
‚‚Aprendemos como elaborar a Demonstração do
Resultado do Exercício – DRE?

Muito bem! Mais uma etapa vencida! Na próxima aula,


178
dando continuidade à visão geral sobre a captação e a aplica-
ção de recursos de uma entidade, ou seja, sua gestão finan-
Contabilidade Financeira

ceira utilizando informações contábeis, vamos estudar outras


origens de recursos.

Vamos relembrar?
Nesta aula, relembramos os critérios para reconhecimento
de receitas e despesas, que são os “elementos” que com-
põem a Demonstração do Resultado do Exercício – DRE.
A seguir, estudamos, linha a linha, as características des-
ses elementos e a forma dedutiva como eles são apre-
sentados na DRE, separando-os em operacionais e não
operacionais (ganhos e perdas).
Estudamos e aprendemos a contabilizar a “receita bruta” e as
suas deduções, assim como os custos dos produtos ou mer-
cadorias vendidas e dos serviços prestados. Também apren-
demos a apurar o valor desses custos (CPV / CMV / CSP).
A cada resultado apurado nos grupos de contas discuti-
mos o que tal resultado representava, até chegarmos ao
Resultado antes da Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL), quando, simulamos um cálculo simples
desse tributo e o contabilizamos. Fizemos a mesma coisa,
em seguida, com o Imposto de Renda (IRPJ) e chegamos
ao Resultado Líquido antes das Participações.
Relacionamos quais as principais participações sobre o
lucro (debêntures, empregados, administradores e partes
beneficiárias) e vimos como é efetuados o cálculo básico e
a contabilização dessas participações.
Por fim, apresentamos da Demonstração do Resultado do
Exercício – DRE em sua versão final.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO E


AUTOAVALIAÇÃO

179
1.Analise a DRE da TAM (Transportes Aéreos Meridionais),
em 31/03/2012 e 31/03/2011 e compare com o modelo de DRE

Demonstração do resultado do exercício


estudado nesta aula, identificando as semelhanças e as dife-
renças;

2.Identifique, com base no conteúdo teórico estudado, quais


as possíveis justificativas para as diferenças identificadas;

3.Pesquise sobre o que significa “operações continuadas” e


“operações descontinuadas”.

TAM: Demonstração do Resultado (DRE)
Fonte: http://www.econoinfo.com.br/demonstracoes-financeiras/demonstracao-doFonte:

Demonstração do resultado - valores 31/03/2012 31/03/2011


em milhões de reais (M) (3m) (3m)
Receita de Venda de Bens e/ou Ser-
3.228,5 M 3.042,5 M
viços
Custo dos Bens e/ou Serviços
-2.613,5 M -2.313,9 M
Vendidos

Resultado Bruto 615,0 M 728,6 M

Despesas/Receitas Operacionais -584,1 M -562,6 M

Resultado Antes do Resultado


30,8 M 166,0 M
Financeiro e dos Tributos

Resultado Financeiro 181,1 M 84,6 M

Resultado Antes dos Tributos sobre o


211,9 M 250,5 M
Lucro
Imposto de Renda e Contribuição
-94,1 M -102,5 M
Social sobre o Lucro
Resultado Líquido das Operações
180 117,8 M 148,1 M
Continuadas
Resultado Líquido de Operações
Contabilidade Financeira

0,0 M 0,0 M
Descontinuadas
Lucro/Prejuízo Consolidado do
117,8 M 148,1 M
Período

Critério de consolidação Consolidada Consolidada

Critério de elaboração IFRS IFRS

31/03/2012 31/03/2011
Dados por Ação (Reais / ação)
(3m) (3m)

Lucro Básico por Ação “ON” 0,65 0,83

Lucro Diluído por Ação “ON” 0,64 0,82

http://www.econoinfo.com.br/demonstracoes-financeiras/demonstracao-do-
-resultado?ce=TAMM
R esolução:
Demonstração
do Resultado 2.
1. 1.
valores em POSSÍVEIS
SEMELHANÇAS DIFERENÇAS
milhões de JUSTIFICATIVAS
reais (M)
Receita de Primeira Denomi- A denominação das
Venda de Bens linha englo- nação: não contas pode variar, de
e/ou Serviços bando as consta a acordo com a empresa,
receitas das palavra desde que tal denomina-
principais “bruta” no ção represente adequa-
atividades que se refere damente o conteúdo;
realizadas às receitas de É possível que a empre-
pela TAM. vendas; sa não tenha deduções a
Não são serem demonstradas.
apresentadas
deduções da
Receita de
Vendas
Custo dos Bens Apresentação Denomina- Idem 1º. parágrafo
e/ou Serviços dos custos ção
Vendidos
Resultado Apresentação Denomina- Idem
Bruto do resultado ção
Despesas/ Apresentação Não foram A publicação sob
Receitas Ope- das despesas abertas as análise está resumida, 181
racionais / receitas contas de mas as Demonstrações

Demonstração do resultado do exercício


operacionais despesas / oficialmente publicadas,
receitas ope- devem contemplar a
racionais abertura
Resultado An- Apresentação Denomina- A denominação das
tes do Resulta- do resultado ção contas pode variar, de
do Financeiro e acordo com a empresa,
dos Tributos desde que tal deno-
minação represente
adequadamente o
conteúdo.
Resultado Apresentação Não foram Quando o resultado
Financeiro do resultado abertas as financeiro não for
contas de significativo, pode se
despesas apresentado pelo seu
/ receitas valor líquido, ou seja,
financeiras receitas (-) despesas.
Resultado Apresentação Denomina- A denominação das
Antes dos do resultado ção contas pode variar, de
Tributos sobre acordo com a empresa,
o Lucro desde que tal denomina-
ção represente adequa-
damente o conteúdo.
Imposto de Apresentação Junção do Idem
Renda e Con- dos tributos Imposto de
tribuição Social Renda e da
sobre o Lucro Contribuição
Social sobre o
Lucro Líquido
numa única
linha
Resultado Apresentação Denomina- Idem
Líquido das do resultado ção
Operações
Continuadas
Resultado Não consta Sempre que necessário,
Líquido de do modelo a empresa deverá inserir
Operações linhas que representem
Descontinu- adequadamente as suas
adas informações.
A ocorrência de ope-
rações descontinuadas
é de ocorrência menos
comum, razão pela qual
não é contemplada no
modelo.
Lucro/Prejuízo Apresentação Denomina- Trata-se de uma demons-
Consolidado do resultado ção tração “consolidada”,
do Período isto é, abrange todas
182 as empresas do grupo
empresarial.
Contabilidade Financeira

3.
a) Operações “continuadas” são as operações normais da entidade.
b) O Pronunciamento Técnico CPC 31 – Ativo, em seu item 32,
assim define as operações descontinuadas:
32. Uma operação descontinuada é um componente da
entidade que foi baixado ou está classificado como man-
tido para venda e:
(a) representa uma importante linha separada de negócios
ou área geográfica de operações;
(b) é parte integrante de um único plano coordenado para
venda de uma importante linha separada de negócios ou
área geográfica de operações; ou
(c) é uma controlada adquirida exclusivamente com o
objetivo da revenda. As operações descontinuadas são as
vendas relativas a divisões, produtos ou atividades que
a empresa abandonou, que não existirão mais no futuro.
Na DRE, a linha sobre Resultado Líquido das Operações Des-
continuadas, diz respeito às receitas, já deduzidas das despe-
sas, correspondentes às operações assim definidas.

LEITURAS RECOMENDADAS
GRECO, A.; AREND, L. Contabilidade: teoria e prática bási-
cas. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

IUDÍCIBUS, S. de et al. Manual de contabilidade societária.


São Paulo: Atlas, 2010.

MARION, J. C. Contabilidade empresarial. 12 ed. São Paulo:


Atlas, 2006

LIN K S INDICADOS
www.cfc.org.br
www.cpc.org.br 183
www.receita.fazenda.org.br

Demonstração do resultado do exercício


REFER ÊNCIAS
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução nº.
1.374, de 08 de dezembro de 2011. Dá nova redação à NBC
TG ESTRUTURA CONCEITUAL – Estrutura Conceitual para
Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro.
Brasília, 2011. Disponível em: www.cpc.org.br
(5)

O utras origens de recursos:


passivos circulantes e não
circulantes
Olá prezados alunos,
Aos poucos estamos nos aproximando do final desta
parte do caminho para uma formação profissional bem-suce-
dida. Já estamos abrindo a nossa quinta “porta”. O conheci-
mento está esperando lá do outro lado, Então, vamos lá!
Depois de aprendermos a apurar e a demonstrar o
resultado das empresas, partindo da premissa de que esse
resultado, quando positivo (lucro), é a mais vantajosa fonte
de recursos para a entidade, vamos estudar algumas outras,
também muito importantes – os Passivos Circulantes e os
Não Circulantes.
Também conhecidos como Recursos de Terceiros ou
Capital de Terceiros, os passivos, sejam de curto, curtíssimo
ou longo prazo, representam origens usuais de recursos para
a entidade e, algumas vezes, dependendo da política de ges-
tão financeira dessas entidades, compõem a maior parte do
seu endividamento13.
O endividamento com terceiros é inevitável e pode ser
muito saudável quando se destina a financiar o crescimento
e o desenvolvimento da entidade, mas precisa ser muito bem
gerenciado para não se tornar um problema.
Antes de pensarmos em gerir o endividamento com
terceiros, vamos conhecer como ele é composto, certo?
Esta quinta aula terá como principais objetivos de
aprendizagem:

Objetivos de aprendizagem
‚‚Conhecer os principais Passivos Circulantes e Não
Circulantes que se constituem em fontes/origens de recur-
188
sos para as entidades;
‚‚Conhecer as principais características das contas que
Contabilidade Financeira

compõem os Passivos Circulantes e Não Circulantes;


‚‚Praticar a contabilização dos fatos contábeis mais
comuns envolvendo os Passivos.

Dividiremos a aula nos seguintes tópicos


5.1 Revisão de conceitos
5.1.1 Passivo exigível
5.1.2 Registro e avaliação dos passivos
5.2 Fornecedores
5.3 Obrigações fiscais
5.4 Outras obrigações
5.4.1 Adiantamentos de clientes
5.4.2 Contas a pagar
5.4.3 Ordenados e salários a pagar

13. Endividamento: representa o quanto a entidade “deve”, o quanto ela tem de obrigações exigíveis
(capital de terceiros) e não exigíveis (capital próprio).
5.4.4 Encargos sociais e FGTS a recolher
5.4.5 Dividendos a pagar
5.4.6 Ajuste ao valor presente
5.4.7 Outras obrigações a pagar
5.5 Empréstimos e financiamentos 5.5.1 Registro contá-
bil de empréstimos e financiamentos
5.5.2 Registro contábil de financiamentos bancários a
curto prazo
5.5.3 Outras obrigações por empréstimos e
financiamentos
Financiamentos diretos com fornecedores
Financiamentos com outras pessoas jurídicas ou
físicas
5.6 Debêntures e outros títulos de dívida
5.6.1 Debêntures 189

5.6.2 Notas promissórias (commercial papers)

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


5.7 Provisões

Bom estudo a todos!

5.1

R evisão de conceitos
Antes de destacarmos as contas de passivo mais
comuns e os seus respectivos conteúdos, vamos rever alguns
conceitos importantes acerca dessas fontes de recursos.

5.1.1 Passivo exigível


O Passivo exigível é assim chamado por representar
as obrigações da entidade que realmente podem ser exigidas
pelos respectivos credores. Em outras palavras, deverão ser
“efetivamente” pagas. Tais obrigações são classificadas no
Balanço Patrimonial de acordo com os seus prazos de realiza-
ção, em circulantes e não circulantes.
Mas, afinal, passivos são obrigações ou origens/fon-
tes de recursos? Ambos! Se a entidade está “devendo” para
alguém significa que esse alguém está “financiando”, ou seja,
está fornecendo recursos por um determinado prazo.

Passivo circulante
Segundo Iudícibus et al (2010, p. 277):
Passivo Circulante é representado pelas
obrigações da companhia cuja liquida-
ção se espera que ocorra dentro do ex-
ercício social seguinte, ou de acordo
com o ciclo operacional14 da empresa,
se este for superior a esse prazo.
190

O Pronunciamento Técnico CPC 26 – Apresentação das


Contabilidade Financeira

Demonstrações Contábeis, aprovado pela Resolução CFC nº


1.180/09, coloca a observância dos seguintes critérios para a
classificação de um passivo como circulante (item 69):
a) Espera-se que seja liquidado durante o ciclo opera-
cional normal da entidade;
b) Está mantido essencialmente para a finalidade de
ser negociado;
c) Deve ser liquidado no período de até doze meses
após a data do balanço; ou
d) A entidade não tem direito incondicional de diferir a
liquidação do passivo durante pelo menos doze meses
após a data do balanço.
As parcelas de uma obrigação não circulante, ou seja, de

14. Ciclo operacional: período de tempo que abrange desde o momento de aquisição das matérias-
-primas ou mercadorias, até o “recebimento” pelas respectivas vendas dos produtos ou mercado-
rias.
longo prazo, que forem vencíveis em até doze meses após a data
do balanço, deverão ser transferidas para o Passivo Circulante.
Mas, vejam só, os autores e os normativos, ora se refe-
rem ao período de doze meses após a data do balanço como
principal condição para a classificação de um passivo como
circulante, ora se referem ao ciclo operacional. Afinal, qual
prazo deve ser observado?
O artigo 180 da Lei nº 6.404/76, alterado pela Lei nº
11.941/09, deixa bem claro que é o prazo do ciclo operacional
que deve ser observado. O que acontece é que a grande maioria
das entidades tem seu ciclo operacional compreendido dentro
do prazo de doze meses, o que faz com que este seja o prazo
mais conhecido. No entanto, há entidades cujo ciclo operacio-
nal é mais longo, como indústrias de máquinas e equipamen-
tos pesados, construtoras, indústria naval, aeronáutica etc. 191

Vejamos o que diz o referido artigo, complementado

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


pelo parágrafo único do artigo 179 da citada lei:
As obrigações da companhia, inclusive
financiamentos para aquisição de direi-
tos do ativo não circulante, serão classi-
ficados no passivo circulante, quando se
vencerem no exercício seguinte, e no pas-
sivo não circulante, se tiverem vencimen-
to em prazo maior, observado o disposto
no parágrafo único do art. 179 desta lei.
Art. 179 – Parágrafo único: “Na com-
panhia em que o ciclo operacional da
empresa tiver duração maior que o
exercício social, a classificação no cir-
culante ou longo prazo terá por base o
prazo desse ciclo”.

As operações mais comuns, classificáveis como passi-


vos circulantes, segundo Iudícibus et al (2010, p. 277), são:

• Compra de matérias-primas a serem usadas no pro-


cesso produtivo ou mercadorias destinadas à revenda;
• Compra de bens, insumos e outros materiais para
uso pela empresa;
• Arrendamento financeiro de bens para uso da
empresa;
• Valores recebidos por conta de futura entrega de
bens ou serviços;
• Salários, comissões e aluguéis devidos pela
empresa;
• Despesas incorridas nas operações da empresa e
ainda não pagas;
• Dividendos declarados a serem pagos aos acionistas;
• Impostos, taxas e contribuições devidos ao poder
público;
192 • Empréstimos e financiamentos obtidos de institui-
ções financeiras; e
Contabilidade Financeira

• Provisões, a qualquer título, referentes a obrigações


já incorridas ou conhecidas e que possam ter os seus
valores estimados etc.
Para efeitos de gestão financeira, a correta classificação
de um passivo como circulante ou não circulante é de funda-
mental importância para a gestão do fluxo de caixa da empresa
e suas políticas de concessão de crédito para os clientes.

Passivo não circulante


O Passivo não circulante representa as obrigações da
entidade que irão vencer em prazo superior ao seu ciclo ope-
racional ou após o exercício social seguinte e que, portanto,
não são classificáveis como passivos circulantes.

5.1.2 Registro e avalição dos passivos


Como todos os demais registros contábeis, o registro
dos passivos deve obedecer aos Princípios da Competência
e da Oportunidade, devendo ser avaliados de acordo com as
disposições do art. 184 da Lei nº 6.404/76, alterado pela Lei nº
11.941/09, que estabelece:

No balanço, os elementos do passivo


serão avaliados de acordo com os se-
guintes critérios:
I – as obrigações, encargos e riscos,
conhecidos ou calculáveis, inclusive
Imposto sobre a Renda a pagar com
base no resultado do exercício, serão
computados pelo valor atualizado15
até a data do balanço; II – as obrigações
em moeda estrangeira, com cláusula
de paridade cambial, serão convertidas
em moeda nacional à taxa de câmbio
em vigor na data do balanço16;
III – as obrigações, encargos e riscos
classificados no passivo não circulante
serão ajustados ao seu valor presente,
193
sendo os demais ajustados quando
houver efeito relevante17.

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


Do texto legal destacamos alguns itens de extrema
relevância:
a) Os valores dos passivos devem ser “atualizados”
até a data do balanço. Isto significa que neles deverão
estar computados todos os encargos necessários à sua
liquidação, calculados até a data do balanço;
b) A taxa de câmbio utilizada para converter as obri-
gações em moeda estrangeira deve ser aquela que
esteja em vigor “na data do balanço”; e
c) As obrigações de longo prazo (passivo não circu-
lante) devem ser ajustadas ao seu valor presente, como
já visto em aula anterior.

15. Grifo nosso


16. Idem
17. Idem
Os registros contábeis, segundo Iudícibus et al (2010, p.
278) devem ser feitos nos seguintes agrupamentos de contas:
Passivo Circulante:
• Fornecedores;
• Obrigações fiscais;
• Outras obrigações;
• Imposto sobre a Renda e Contribuição Social a pagar;
• Empréstimos e financiamentos;
• Debêntures e outros títulos de dívida; e
• Provisões.

Passivo não Circulante:


• Empréstimos e financiamentos;
194
• Debêntures e outros títulos de dívida;
Contabilidade Financeira

• Retenções contratuais;
• Imposto sobre a Renda e Contribuição Social
diferidos;
• Resgate de partes beneficiárias;
• Provisão para riscos fiscais e outros passivos
contingentes;
• Provisão para benefícios a empregados; e
• Programa de recuperação fiscal.
Agora que já revimos e estudamos alguns conceitos
básicos, podemos conhecer maiores detalhes sobre alguns
desses grupos de contas.
5.2

Fornecedores
No grupo de contas de Fornecedores são registradas
as obrigações contraídas pela compra de matérias-primas, de
mercadorias ou quaisquer outros materiais utilizados nas ati-
vidades da entidade para pagamento a prazo.
Exemplo: A Luz Azul Comércio de Materiais Elétricos
Ltda. adquiriu, para pagamento em 45 dias, mercadorias para
revenda no valor de R$280.000,00.
Vejamos como será a contabilização desse Passivo
Circulante e do seu respectivo pagamento, feito em cheque,
na data do vencimento: 195

Na compra das mercadorias

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


Estoque de Conta de
D R$280.000,00
Mercadorias Ativo
Conta de
C Fornecedores R$280.000,00
Passivo
Valor referente à aquisição de
mercadorias a prazo

No pagamento ao fornecedor
Conta de
D Fornecedores R$280.000,00
Passivo
Bancos - Conta Conta de
C R$280.000,00
Movimento Ativo
Valor referente ao pagamento de
mercadorias adquiridas a prazo
Razonetes:

Estoques de
Fornecedores
mercadorias
(1) 280.000 280.000 (1)

Bancos Conta
Fornecedores
Movimento
(2) 280.000 280.000 (2)

Vamos supor uma situação em que a Luz Azul


Comércio de Materiais Elétricos tivesse importado um lote de
196 lâmpadas chinesas que deveriam ser pagas em moeda estran-
geira, após 90 dias, nas seguintes condições:
Contabilidade Financeira

Valor da obrigação em moeda nacional R$60.000,00


Valor do dólar na data de aquisição (taxa de R$2,00
câmbio)
Valor da obrigação em moeda estrangeira US$30.000,00
(R$60.000,00 ÷ R$2,00)
Valor do dólar na data do pagamento (taxa de R$2,10
câmbio)
Valor do pagamento no vencimento R$63.000,00
(US$30.000,00 x R$2,10)
Variação cambial R$3.000,00
(R$63.000,00 - R$60.000,00)

Constatamos que a obrigação, no seu vencimento,


sofrerá um acréscimo de R$3.000,00, em virtude da varia-
ção cambial incidente. Assim, teremos as seguintes
contabilizações:
Na compra das mercadorias

Estoque de Conta de
D R$60.000,00
Mercadorias Ativo
Fornecedores Conta de
C R$60.000,00
Estrangeiros Passivo
Valor referente à aquisição de
mercadorias a prazo

Pela apropriação da variação cambial


Variações Cambiais – Conta de
D R$3.000,00
Despesas Financeiras Resultado
Fornecedores Conta de
C R$3.000,00
Estrangeiros Passivo
Valor referente à variação cambial
incidente sobre mercadorias
adquiridas a prazo
197
No pagamento ao fornecedor

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


Fornecedores Conta de
D R$63.000,00
Estrangeiros Passivo
Bancos - Conta Conta de
C R$63.000,00
Movimento Ativo
Valor referente ao pagamento de
mercadorias adquiridas a prazo

Razonetes:

Estoques de
Fornecedores
mercadorias
(1) 60.000 280.000 (1)

Bancos Conta Variação Cambial


Fornecedores
Movimento Despesa Financ.
(3) 63.000 60.000 (1) 63.000 (3) (2) 3.000
3.000 (2)
Percebam que o grupo de contas de Fornecedores
é o primeiro a ser demonstrado como Passivo no Balanço
Patrimonial. Lembram-se de que as contas no Balanço
Patrimonial são dispostas por grau de liquidez, no caso do
Ativo, e por grau de exigibilidade, no Passivo? Qual é o nosso
credor mais importante e, portanto, aquele a quem devemos
pagar em primeiro lugar?
Se a entidade não pagar seus fornecedores com prio-
ridade, corre o risco de não ter matéria-prima para fabricar
seus produtos ou não ter mercadorias para revender.

5.3

198 O brigações fiscais


Contabilidade Financeira

No grupo de contas de Obrigações Fiscais são regis-


tradas as obrigações que a entidade tem com o Governo,
seja federal, estadual ou municipal, relativas a tributos de
forma geral (impostos, taxas e contribuições). As contas mais
comuns deste grupo são:
• ICMS a recolher;
• IPI a recolher;
• Imposto de Renda a Recolher;
• Contribuição Social sobre Lucro Líquido a Recolher;
• ISS a Recolher;
• PIS e COFINS a recolher;
• Impostos retidos a recolher etc.
A contabilização de alguns desses tributos já foi tra-
tada em aula anterior e voltará a ser estudada com outras
ainda inéditas, em uma disciplina específica do curso.
Mas como uma obrigação fiscal pode ser considerada
como origem/fonte de recursos?

O governo permite que a entidade recolha os tributos


devidos sempre após certo prazo, que varia de acordo com
o tipo de tributo. Durante esse prazo, algo que já é devido
deixa de ser pago, ou seja, o valor correspondente permanece
no caixa da entidade para fazer face a outros compromissos.
Isso significa que, mesmo que seja por alguns dias, o governo
está “financiando” as atividades da entidade e, portanto, for-
necendo-lhe recursos!

5.4
199
O utras obrigações

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


Vamos estudar, agora, algumas das várias obrigações
que uma entidade pode ter, além daquelas fiscais ou com for-
necedores. O grupo de contas “Outras Obrigações” abrange
todas as demais obrigações contraídas com terceiros, inclu-
sive com empregados.
Das diversas obrigações que compõem esse grupo, ire-
mos estudar:
• Adiantamentos de clientes;
• Contas a pagar;
• Ordenados e salários a pagar;
• Encargos sociais a pagar e FGTS a recolher;
• Dividendos a pagar;
• Ajuste ao valor presente (conta devedora);
• Outras obrigações a pagar.
5.4.1 Adiantamentos de clientes
Na conta de Adiantamentos de Clientes são registra-
dos valores recebidos antecipadamente por conta de serviços
a realizar ou produtos a entregar. A obrigação deve ser cons-
tituída, pois, geralmente, se o produto não for entregue ou o
serviço não for realizado, a quantia recebida a título de adian-
tamento deverá ser devolvida ao cliente.
Também se aplica o uso desta conta no caso do forne-
cimento de bens ou serviços de longo prazo, isto é, cuja pro-
dução ou realização ocorra em prazo longo e os respectivos
valores sejam pagos pelos clientes durante a produção ou
prestação do serviço, de acordo com os prazos estabelecidos
em contrato.

200 Exemplo: A Luz Azul Comércio de Materiais Elétricos


fechou um contrato de importação de lâmpadas chinesas,
especificamente para atender a uma construtora que iria
Contabilidade Financeira

utilizar tais lâmpadas em uma de suas obras. Para garan-


tir que o preço combinado não fosse alterado em função
da possível variação cambial, a construtora “adiantou”
R$75.000,00, correspondente a 50% do valor total contra-
tado. Os 50% restantes seriam pagos quando da entrega
das lâmpadas.

Vamos contabilizar essa transação:


Pelo recebimento do adiantamento

Bancos - Conta Conta de


D R$75.000,00
Movimento Ativo
Adiantamentos de Conta de
C R$75.000,00
Clientes Passivo
Valor referente ao adiantamento
recebido do cliente XYZ por conta da
importação de um lote de lâmpadas
Na entrega da mercadoria
Adiantamentos de Conta de
D R$75.000,00
Clientes Passivo
Bancos - Conta Conta de
D R$75.000,00
Movimento Ativo
Conta de
C Receita de Vendas R$150.000,00
Resultado
Valor referente à venda de um lote de
lâmpadas importadas ao cliente XYZ,
ora completada.

Razonetes:
Adiantamentos Bancos Conta Receita de
de Clientes Movimento Vendas
(2) 75.000 75.000 (1) 75.000 (1) 150.000 (2)
75.000 (2)

201

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


5.4.2 Contas a pagar
No grupo de Contas a Pagar são registradas as obri-
gações constituídas por conta de bens ou serviços que foram
fornecidos para a entidade ou, ainda, que tenham sidos fatu-
rados ou contratados, e cuja classificação não se enquadre
em nenhum outro grupo de contas específico. Servem como
exemplo: o fornecimento de água, luz, telefone, energia elé-
trica, aluguéis etc. além de contas eventuais.
A contabilização terá, sempre, como contrapartida a
despesa correspondente, incorrida até a data do Balanço ou
demonstrativo contábil intermediário (Balancete mensal, por
exemplo) e que deva ser pago posteriormente a essa data.

Conta de
D Despesa R$
Resultado
Conta de
C Contas a Pagar RS
Passivo
Valor referente a...
5.4.3 Ordenados e salários a pagar
Este é mais um grupo de contas que suscita dúvidas
quanto ao fato de ser origem ou fonte de recursos para a enti-
dade. O fato é que, sempre que uma obrigação pode ser cum-
prida posteriormente à ocorrência do evento que a originou,
estará ocorrendo um “financiamento” das atividades da enti-
dade, mesmo que por poucos dias.
No caso de ordenados e salários, quando a entidade
efetua o pagamento no mês seguinte àquele em que o serviço
foi prestado pelo empregado, ela estará deixando de desen-
caixar os valores correspondentes e, consequentemente,
poderá utiliza-los para outras finalidades.
A contabilização é feita com base na “folha de paga-
mentos” da entidade e deve contemplar todas as remune-
202 rações de direito dos empregados, inclusive horas extras e
quaisquer outras.
Contabilidade Financeira

Contabilização:18
Ordenados e Salários –
Conta de
D Despesa R$
Resultado
Administrativa18
Ordenados e Salários Conta de
C S
a Pagar Passivo
Valor referente aos ordenados e
salários do mês X, conforme folha de
pagamento

5.4.4 Encargos sociais a pagar e FGTS a recolher


Assim como os ordenados e os salários, a obriga-
ção de recolher os encargos sociais, como a contribuição ao
INSS devida pela empresa, por exemplo, e o FGTS (Fundo de

18. No caso de pessoal ligado à produção de bens ou serviços, o valor dos ordenados e dos salários
será apropriado ao custo dos produtos (ativo).
Garantia por Tempo de Serviço), também deverá ser reconhe-
cida no mês correspondente.
A base da contabilização, neste caso, também será a
folha de pagamento do mês e, no caso do INSS, a obrigação
deverá contemplar, inclusive, a contribuição que é descon-
tada do empregado para recolhimento à Previdência Social.

Contabilização:
Contribuições à Previdência Social
Encargos Sociais –
Conta de
D Despesa R$
Resultado
Administrativa (*)
Conta de
C INSS a Pagar R$
Passivo
Valor referente à contribuição previ-
denciária, parte da empresa, do mês 203
X, conforme folha de pagamento.

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
Fundo de Garantia Por
Tempo de Serviço - Conta de
D R$
Despesa Resultado
Administrativa (*)
Conta de
C FGTS a Recolher R$
Passivo
Valor referente ao FGTS do mês X,
conforme folha de pagamento.

(*) No caso de pessoal ligado à produção de bens ou serviços, o valor dos encargos sociais e

do FGTS, será apropriado como custos dos produtos (Ativo).

5.4.5 Dividendos a pagar


Dividendo é a parcela do lucro que cabe ao acionista
das sociedades por ações (Sociedades Anônimas – SA). A Lei
nº 6.404/76 determina que os dividendos propostos sejam
contabilizados como uma obrigação na data do Balanço.
Entretanto, devem-se considerar nessa contabilização
somente os dividendos mínimos obrigatórios, determina-
dos no estatuto da sociedade, tendo em vista que o valor total
proposto, caso seja maior, somente será uma obrigação após a
sua aprovação pela assembleia geral.
Exemplo: Supondo que uma sociedade anônima
tenha obtido lucro líquido de R$1.500, que o dividendo
mínimo previsto em seu estatuto é de 25% desse lucro
e que, a proposta inicial para pagamento de dividendos
seja de 35% do lucro líquido, a contabilização ficaria da
seguinte forma:

Apurando os valores a serem contabilizados:


204 Dividendo mínimo = R$1.500,00 x 25% = R$375,00
Dividendo proposto = R$1.500,00 x 30% = R$450,00
Contabilidade Financeira

Diferença = R$75,00

Na data do Balanço

Conta de
Lucros Acumulados
D R$450,00 Patrimônio
(PL)
Líquido
Conta de
Dividendo Adicional
C R$75,00 Patrimônio
Proposto (PL)
Líquido
Dividendo Obrigatório Conta de
C R$375,00
a Pagar Passivo
Valor referente ao dividendo sobre o
lucro líquido do exercício X
Após aprovação pela Assembleia Geral

Conta de
Dividendo Adicional
D R$75,00 Patrimônio
Proposto (PL)
Líquido
Dividendo Obrigatório Conta de
D R$375,00
a Pagar Passivo
Conta de
C Dividendos a Pagar R$450,00
Passivo
Valor referente aos dividendos a pagar
sobre o lucro líquido do exercício X

Razonetes:
Dividendo Dividendos
Lucros
Adicional Obrigatório
Acumulados
Proposto a Pagar
(2) 75 75 (1) (1) 100.000 1.500 (SI) (2) 375 375 (1)
205

(*) 1.050

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


Dividendos a
Pagar
450 (2)

(*) O saldo deve ser trasnferido para as contas reservas.

5.4.6 Ajuste ao valor presente


A conta de Ajuste ao Valor Presente é uma conta
“redutora” ou “retificadora” que se presta a acolher
os valores correspondentes aos ajustes realizados nas
obrigações, nos encargos e nos riscos classificados nos
Passivos Não Circulante e Circulante, quando houver
efeito relevante.
O ajuste ao valor presente já foi estudado na Aula 3,
mas vamos relembrar um pouco do que foi visto lá.
O valor presente (VP) é o valor da transação que tem juros
embutidos pelo respectivo prazo da operação, trazido ao
valor de hoje, ou seja, sem esses juros. Em outras palavras,
valor presente = valor de hoje.

Para reforçar, vamos repetir o exemplo estudado


naquela aula:
Vamos supor que uma entidade adquiriu uma máquina
a prazo no valor total de R$27.865,00, correspondente a 5 par-
celas iguais de R$5.573,00. Os juros embutidos correspondem a
uma taxa de 20% ao ano. Quando descontamos os juros do valor
total, trazendo-o ao seu valor presente, temos que o seu valor
real na data da compra é de R$20.000,00, ou seja, o valor dos
juros corresponde a R$7.865,00. Vamos contabilizar esse ajuste:
206
Conta de
Máquinas (pelo valor
D R$20.000,00 Ativo Não
Contabilidade Financeira

presente)
Circulante
Conta de
Encargos Financeiros a
D R$7.865,00 Passivo
Decorrer (VP)
(Redutora)
Conta de
C Financiamentos R$27.865,00
Passivo
Valor referente ao ajuste ao valor pre-
sente na compra de máquina a prazo

No Passivo do Balanço Patrimonial as contas seriam


demonstradas como segue:

Financiamentos R$27.865,00
Encargos Financeiros a Decorrer (R$7.865,00)

À medida que transcorre o prazo do financiamento, o


encargo financeiro correspondente ao ajuste ao valor presente
vai sendo apropriado de acordo com o regime de competência:
Pelo valor
Despesa de Encargos
da parcela Conta de
D Financeiros sobre
mensal dos Resultado
Financiamentos
juros
Conta de
Encargos Financeiros a
C Idem Passivo
Decorrer (VP)
(Redutora)
Valor referente à apropriação de
encargos financeiros sobre
financiamentos no período

5.4.7 Outras obrigações a pagar


Outras obrigações, constituídas em função à obedi-
ência ao regime de competência, devem ser registradas no
grupo de contas Outras Obrigações a Pagar e contabilizadas
tendo como contrapartida a conta de Ativo ou de Despesa 207
que melhor a represente.

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


5.5

E mpréstimos e financiamentos
Os empréstimos e os financiamentos podem ser de
curto ou de longo prazo, contraídos com instituições finan-
ceiras do país ou do exterior.
Em linhas gerais, o que diferencia um empréstimo de
um financiamento é que ele costuma ter um fim específico,
como financiar a aquisição de um bem ou de um equipamento,
enquanto que o empréstimo não tem um objeto exclusivo, pode
ser para fazer face à necessidade de capital de giro ou, ainda,
para atender a amplos projetos com diversos componentes.
As contas mais comuns que compõem o grupo de
Empréstimos e Financiamentos, no Passivo Circulante e no
Não Circulante, são:
• Parcela a curto prazo dos empréstimos e dos finan-
ciamentos (*)
• Financiamentos bancários de curto prazo
• Desconto de duplicatas
• Desconto de promissórias
• Credores por financiamentos
• Títulos a Pagar
• Juros a pagar de empréstimos e financiamentos
• Encargos financeiros a transcorrer (conta redutora)
• Empréstimos e financiamentos a longo prazo

(*) Valores originalmente registrados como passivos de


longo prazo (Não Circulante) devem ser transferidos para
208 o Passivo Circulante à medida que o vencimento de suas
parcelas se enquadrem na classificação de curto prazo.
Contabilidade Financeira

Iudícibus et al (2010, p. 298) recomenda que os financia-


mentos de bens e de equipamentos, feitos diretamente pelo
fornecedor, sejam registrados em conta diferente daquela que
registra os financiamentos realizados por instituições finan-
ceiras e sugere a conta de Credores por Financiamentos.

5.5.1 Registro contábil de empréstimos e de


financiamentos
O registro contábil inicial dos empréstimos e finan-
ciamentos deve ser feito quando os recursos forem recebidos
pela entidade, o que normalmente ocorre ao assinar o con-
trato correspondente. Quando o contrato prevê a liberação
dos recursos em parcelas, o registro contábil deve ser feito no
recebimento de cada uma delas.
A contabilização dessas operações deve considerar,
ainda, as possíveis variações monetárias, as despesas bancárias
e outras despesas incorridas, a apropriação dos juros corres-
pondentes e, quando for o caso, o ajuste ao valor presente.
Para ilustrar a contabilização de uma operação de
empréstimo, vamos adaptar, para simplificar, o exemplo for-
necido por Iudícibus et al (2010, p. 301-304):
Supondo que uma empresa faça um empréstimo de
R$2.000.000,00, nas seguintes condições:
Despesas bancárias R$10.000,00
Gastos com consultores para
R$120.000,00
viabilização da documentação exigida
Taxa de juros contratuais 10% a.a.
Prazo 2 anos
Condições de pagamento: parcela única R$2.420.000,00

As despesas incorridas e relacionadas com a opera- 209


ção de captação de recursos por meio do empréstimo devem

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


ser consideradas como “encargos financeiros”, uma vez que
não existiriam se não houvesse a operação. No exemplo, esse
valor representa R$130.000,00 (despesas bancárias + gastos
com consultores). Assim, temos que a taxa de juros ou o custo
do empréstimo, na realidade, não será de 10%, conforme con-
trato, mas, sim, 13,76% (TIR – Taxa Interna de Retorno), con-
siderando que:

• O valor efetivamente recebido foi de R$1.870.000,00


(R$2.000.000,00 - R$130.000,00);
• O valor a ser pago no vencimento é de R$2.420.000,00;
• O total das despesas a incorrer ao longo do perí-
odo é de R$550.000,00, correspondente a R$420.000,00
de juros (R$2.420.000,00 - R$2.000.000,00), mais
R$130.000,00 (despesas bancárias + gastos com
consultores);
Aplicando-se a taxa efetiva de 13,76% sobre o valor
líquido recebido, obtém-se o valor dos custos financeiros inci-
dentes no primeiro ano da operação:

R$1.870.000,00 x 13,76% = R$257.300,00 (custos financeiros


a amortizar)
R$1.870.000,00 + R$257.300,00 = R$2.127.300,00 (saldo do
empréstimo no primeiro ano)

No segundo ano, tem-se:

R$2.127.300,00 x 13,76% = R$292.700,00

Obs.: os valores foram arredondados


Observe a seguir o quadro resumo da operação de
210 empréstimo:
Controle de Captação de Recursos (Taxa Efetiva = 13,76%)
Contabilidade Financeira

Saldo Efeitos na Efeitos na


Ano Efeitos na DRE
Inicial DRE DRE
1 1.870.000 (257.300) - 2.127.300
2 2.127.300 (292.700) (2.420.000) -
Despesa Financeira Total (550.000)
Despesas de Juros (420.000)
Despesas Diversas (130.000)
Fonte: Iudícibus et al (2010, p. 303), adaptado

A “separação” entre os custos diversos e as despesas


de juros pode ser ilustrada da seguinte forma:

Despesas Desdobradas Ano a Ano


Despesas com Encargo
Despesas com
Ano amortização dos financeiro total
Juros
gastos diversos (DRE)
1 (200.000) (57.300) (257.300)
2 (220.000) (72.700) (292.700)
Total (420.000) (130.000) (550.000)
Vamos ver, agora, a contabilização dessa operação:
Pela contratação e recebimento do empréstimo

Bancos Conta Conta de


D R$1.870.000,00
Movimento Ativo
Custos de Conta de
D Empréstimos a R$130.000,00 Passivo
Amortizar (Redutora)
Empréstimos e Conta de
C R$2.000.000,00
Financiamentos Passivo
Valor referente ao empréstimo
contraído com o Banco X

Bancos Conta Custos de Em- Empréstimos e


Movimento prest. a Armonizar Financiamentos
(1) 1.870.000 75.000 (1) 130.000 2.000.000 (1)

211

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


Pela apropriação dos encargos financeiros do 1º ano
Encargos Financeiros Conta de
D R$257.300,00
(Despesa Financeira) Resultado
Empréstimos e Finan-
Conta de
C ciamentos (pela apro- R$200.000,00
Passivo
priação dos juros)
Custos de Empréstimos
Conta de
a Amortizar
C R$57.300,00 Passivo
(pela amortização dos
(Redutora)
custos diversos)
Valor referente à apropriação de encar-
gos financeiros sobre empréstimos

Encargos Custos de Em- Empréstimos e


Financeiros prest. a Amortizar Financiamentos
(2) 257.000 (1) 130.000 57.300 (2) 2.000000 (1)
200.000 (2)
Pontos importantes:
• Note que os gastos com a despesa bancária e a con-
sultoria, no valor total de R$130.000,00, já foram pagos
quando descontados do valor principal do emprés-
timo. Portanto é um custo a ser amortizado.
• As despesas de juros, no entanto, só serão “incorri-
das” no final do primeiro ano.
• Assim, atendendo ao regime de competência, apro-
priam-se como encargos financeiros os custos diversos
relativos ao 1º ano e pagos antecipadamente, juntamente
com os juros incorridos no período e ainda não pagos.

Pela apropriação dos encargos financeiros do 2º ano

212 Encargos Financeiros Conta de


D R$292.700,00
(Despesa Financeira) Resultado
Contabilidade Financeira

Empréstimos e Finan-
Conta de
C ciamentos (pela apro- R$220.000,00
Passivo
priação dos juros)
Custos de Emprésti-
Conta de
mos a Amortizar (pela
C R$72.700,00 Passivo
amortização dos custos
(Redutora)
diversos)
Valor referente à apropriação de encar-
gos financeiros sobre empréstimos

Encargos Custos de Em- Empréstimos e


Financeiros prest. a Amortizar Financiamentos
(2) 257.300 (1) 130.000 57.300 (2) 2.000000 (1)
(3) 292.700 72.700 (3) 200.000 (2)
220.000 (3)
Pelo pagamento do empréstimo
Empréstimos e Conta de
D R$2.420.000,00
Financiamentos Passivo
Bancos - Conta Conta de
C R$2.420.000,00
Movimento Ativo
Valor referente ao pagamento de
empréstimos ao Banco X

Bancos Conta Empréstimos e


Movimento Financiamentos
(1) 1.870.000 2.420000 (4) (4) 2.420.000 2.000000 (1)
(*) 200.000 (2)
220.000 (3)

(*) O saldo da conta ficará negativo. Esta situação deve ser evitada na vida real

5.5.2 Registro contábil de financiamentos 213


bancários a curto prazo

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


Dos financiamentos bancários de curto prazo mais
comuns, destacam-se o desconto de duplicatas, as notas pro-
missórias, os empréstimos caucionados, entre outros.
O desconto de duplicatas consiste numa operação em
que a entidade, proprietária dos títulos, entrega-os a uma
instituição financeira (ou factoring) em troca do valor des-
ses títulos, descontados dos respectivos encargos financei-
ros cobrados pela instituição. É como se a entidade estivesse
fazendo um empréstimo que será quitado à medida que os
seus clientes também forem quitando as duplicatas junto à
instituição. Trata-se de uma forma de receber “antecipada-
mente” os recursos provenientes dessas duplicatas, sendo
uma providência bastante adotada pelas empresas que preci-
sam de financiamento para o seu capital de giro19.

19. Capital de Giro: representa os recursos que a entidade possui para sustentar o giro dos negócios.
Resulta das entradas e das saídas diárias do fluxo financeiro relacionado às suas atividades operacionais.
Geralmente a operação de desconto de duplicatas e
outros títulos já inclui os encargos financeiros incidentes e
a entidade recebe o valor já descontado desses encargos. Em
atendimento ao regime de competência, faz-se necessário
registrá-los em uma conta redutora do Passivo para apropria-
ção pro rata temporis, ou seja, de acordo com o tempo trans-
corrido da operação que, nesse caso, se dá entre a data do
desconto e a data de quitação do título pelos clientes.
Vamos exemplificar:

A Luz Azul Comércio de Materiais Elétricos decidiu cap-


tar recursos por meio de uma operação de descontos de
duplicatas. Analisou sua carteira de duplicatas a receber,
no valor de R$100.000,00, e decidiu descontar 20% desse
total. Por essa transação, o Banco X cobrou juros no valor
de R$2.000,00 e taxas bancárias de R$300,00, tendo a Luz
214 Azul recebido um valor líquido de R$17.700,00.
Contabilidade Financeira

A contabilização seria a seguinte:


Pelo desconto das duplicatas

Bancos - Conta Conta de


D R$17.700,00
Movimento Ativo
Conta de
Encargos Financeiros
D R$2.300,00 Passivo
a Apropriar
(Redutora)
Duplicatas Conta de
C R$20.000,00
Descontadas Passivo
Valor referente ao desconto de
duplicatas no Banco X

Bancos Conta Encargos Finan- Duplicatas


Movimento ceiros a Apropriar Descontadas
(1) 17.700 (1) 300 20.000 (1)
Pela apropriação dos encargos financeiros quando do paga-
mento pelo cliente
Conta de
D Despesas Financeiras R$300,00
Resultado
Conta de
Encargos Financeiros
C R$300,00 Passivo
a Apropriar
(Redutora)
Valor referente à apropriação de en-
cargos financeiros sobre o desconto de
duplicatas no Banco X

Pelo pagamento pelo cliente


Duplicatas Conta de
D R$20.000,00
Descontadas Passivo
Conta de
C Duplicatas a Receber R$20.000,00
Ativo
215
Valor referente ao recebimento de
duplicatas nº 1234

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


Encargos Finan- Duplicatas
ceiros a Apropriar Descontadas
(1) 300 300 (2) (3) 20.000 20.000 (1)

Duplicatas a Despesas
Receber Financeiras
(SI) 100.000 20.000 (3) (2) 300

5.5.3 Outras obrigações por empréstimos e


financiamentos
Uma entidade pode obter empréstimos e financia-
mentos não só com instituições financeiras, mas, também,
com outras pessoas jurídicas (fornecedores, por exemplo) ou
mesmo com pessoas físicas.
Financiamentos diretos com fornecedores
No caso de obtenção de financiamentos diretamente com
fornecedores, eles devem ser registrados em conta separada
daqueles que se originam de instituições financeiras para melhor
controle. Quanto aos demais procedimentos em relação à classifi-
cação por prazos, apropriação de juros e outras despesas, ajuste ao
valor presente, variações monetárias etc., em nada se diferenciam.

Exemplo: A Luz Azul Comércio de Materiais Elétricos,


ampliando suas instalações, adquiriu da FB Móveis
Comerciais novos balcões e prateleiras por R$172.800,00.
Esse valor foi financiado em 3 anos, em parcelas anuais e
iguais de R$57.600,00, diretamente com a fornecedora que
cobrou juros de 20% ao ano.

Vamos contabilizar?
216 Primeiramente, é necessário trazer o valor das instala-
ções ao seu valor presente, usando a taxa de 20% ao ano. Esse
Contabilidade Financeira

valor é igual a R$100.000,00 e, portanto, foram cobrados juros


de R$72.800,00.
Pelo compra financiada
Móveis e Instalações Conta de
D R$100.000,00
(Pelo valor presente) Ativo
Conta de
Juros de Financia-
D R$72.800,00 Passivo
mentos a Apropriar
(Redutora)
Credores por Conta de
C R$172.800,00
Financiamentos Passivo
Valor referente à aquisição de móveis
e instalações, conforme NF. XXX da FB
Móveis Comerciais

Móveis e Juros Financiamen- Credores por


Instalações tos a Apropriar Financiamentos
(1) 100.000 (1) 72.800 172.800 (1)
Pela apropriação dos juros no 1º ano

Conta de
D Despesas Financeiras R$20.000,00
Resultado
Conta de
Juros de Financia-
C R$20.000,00 Passivo
mentos a Apropriar
(Redutora)
Valor referente aos juros do financia-
mento com a FB Móveis Comerciais

Juros Financiamen- Despesas


tos a Apropriar Financeiras
(1) 72.800 20.000 (2) (2) 20.000

Os juros do segundo ano (R$24.000,00) e do terceiro


ano (R$28.800,00) serão apropriados da mesma forma. 217

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


Pelo pagamento da primeira parcela anual
Credores por Conta de
D R$57.600,00
Financiamentos Passivo
Bancos - Conta Conta de
C R$57.600,00
Movimento Ativo
Valor referente à primeira parcela
de financiamento com a FB Móveis
Comerciais

Credores por Bancos Conta


Financiamentos Movimento
(2) 57.600 172.800 (1) 57.600 (2)

As parcelas pagas no segundo e no terceiro ano serão


contabilizadas da mesma forma.
Financiamentos com outras pessoas jurídicas ou físicas
No caso de financiamentos com outras pessoas jurí-
dicas (que não fornecedores) ou físicas, eles devem ser con-
tabilizados, preferencialmente, na conta “Títulos a Pagar”,
observando-se, para efeito de apropriação de encargos e outros
procedimentos, as condições negociadas no financiamento.

5.6

D ebêntures e outros títulos de


dívida
Outra forma de captação de recursos utilizada pelas
218
entidades é a emissão de títulos de dívida. Mas o que é um
título de dívida?
Contabilidade Financeira

Um título de dívida é um documento (“papel”, na


linguagem financeira) representativo de uma dívida cujo
pagamento poderá ser exigido de acordo com as condições
pactuadas entre as partes.
A emissão de títulos de dívida é uma das formas uti-
lizadas pelas entidades para captação de recursos. Tais títu-
los são comercializados no mercado financeiro e o investidor
que os adquire será titular de um direito de crédito perante a
empresa emitente.
Os títulos de dívida mais comuns são as debêntures e
as notas promissórias (commercial papers).

5.6.1 Debêntures
Debêntures são títulos de dívida emitidos por empre-
sas constituídas sobre a forma de sociedades anônimas.
Geralmente são títulos com vencimentos de médio a longo
prazo, que conferem aos seus titulares os direitos de crédito
contra a entidade emissora, conforme estipulado na corres-
pondente escritura de emissão20.
As debêntures são títulos que serão liquidados
somente nos respectivos vencimentos e que podem pagar
juros periódicos, podendo a entidade emissora exercer o
direito de resgate antecipado. Constituem-se em fontes de
recursos para as entidades financiarem suas atividades
em médio e a longo prazo.
A emissão e a negociação das debêntures implicam em
gastos (custos de transação) a serem contabilizados como des-
pesas financeiras, de acordo com Pronunciamento Técnico
CPC 08 – Custos de Transação e Prêmios na Emissão de
Títulos e Valores Mobiliários.

5.6.2 Notas promissórias (Commercial Papers) 219


As notas promissórias (NP), conhecidas no mercado

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


financeiro como commercial papers são títulos de dívida, tam-
bém emitidos por sociedades anônimas, com a finalidade de
captação de recursos para financiamento de capital de giro.
As condições de emissão e de tratamento contábil das
notas promissórias se assemelham às das debêntures, exceto
no que se refere ao prazo, visto que as NPs são emitidas pelo
prazo máximo de 180 dias, no caso de sociedades anônimas de
capital fechado, e 360 dias, quando se tratar de capital aberto.

Saiba mais
Quer saber mais sobre “títulos de dívida”? Consulte o site:
http://www.bmfbovespa.com.br/empresas/pages/empre-
sas_titulosdedivida.asp

20. Escritura de emissão: documento legal em que constam todas as condições de emissão da debên-
ture, como prazo, periodicidade de pagamento de juros, garantias, remuneração etc.
5.7

P rovisões
O item provisões será revisto nesta aula por se tratar
de um tópico muitas vezes significativo para o Passivo. Além
disso, como os demais passivos, as provisões também carac-
terizam uma fonte de recursos. Vamos relembrar, a seguir,
um trecho importante visto na Aula 3 sobre o tema:
Provisões destinadas a cobrir possíveis
obrigações futuras, sobre as quais se
tenha razoável certeza da liquidação –
são provisões constituídas, utilizando-
se valores estimados, destinadas a fazer
face a “possíveis” obrigações futuras,
220
mas que ainda não são obrigações con-
stituídas. Por exemplo, no caso de pro-
Contabilidade Financeira

cessos trabalhistas em andamento se


tem razoável certeza de que a maioria
das causas trabalhistas são ganhas pelo
reclamante, o que obriga que a pos-
sibilidade de a entidade ter que pagar
o valor estimado correspondente seja
registrado contabilmente, ou seja, “pro-
visionado”. Essa, sim, caracteriza uma
provisão na acepção completa da pala-
vra. A entidade estará provisionando
recursos diante da “quase certeza” de
que ocorrerão desembolsos futuros.

Como podemos observar, as provisões caracterizam obri-


gações sobre as quais se tem razoável certeza de que precisarão
ser liquidadas, mas ainda não são efetivamente constituídas, o
que dificulta a sua visualização como fontes de recursos. Para
facilitar essa identificação, pode-se imaginar que tais recursos,
na realidade, permanecem no giro da entidade, mas pertencem
a terceiros e, portanto, estão financiando esse giro.
Enfim, finalizamos esta aula. Chegou o momento de
“checarmos” nosso aprendizado! Vamos lá?

Objetivos de aprendizagem
‚‚Conhecemos os principais Passivos Circulantes e Não
Circulantes que se constituem em fontes/origens de recur-
sos para a entidade?
‚‚Conhecemos as principais características das contas que
compõem os Passivos Circulantes e Não Circulantes?
‚‚Praticamos e conseguimos aprender a contabilização dos
fatos contábeis mais comuns envolvendo os Passivos?

Espero que tenham tido um bom aproveitamento, mas,


mesmo assim, não deixem de consultar as leituras comple-
mentares e a bibliografia indicada. Elas são importantes para
completar conceitos e esclarecer eventuais dúvidas. 221

Até aqui estudamos, basicamente, de onde vêm os

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


recursos que “sustentam” uma entidade. A partir da próxima
aula, vamos estudar o que a entidade faz com esses recursos,
isto é, como e em que elas “aplicam” tais recursos.

Vamos relembrar?
A Aula 5 possibilitou que conhecêssemos outras fontes/
origens de recursos. Aquelas que constituem o capital de
terceiros, ou seja, recursos que se originam de pessoas
jurídicas ou físicas externas à organização.
Aprendemos que essas origens de recursos estão
representadas no Passivo Circulante e no Passivo Não
Circulante e revimos os critérios para a classificação das
operações nesses grupos. Tais critérios estão vincula-
dos aos prazos das operações e, principalmente, ao ciclo
operacional das entidades.
Constatamos que todos os itens do Passivo devem ser
atualizados na data do Balanço e aprendemos que essa
atualização pode estar vinculada à variação cambial ou
a outras variações monetárias, assim como o registro das
obrigações deve obedecer ao regime de competência.
Tal obediência obriga a observar os diferimentos dos encar-
gos financeiros incidentes sobre os empréstimos, financia-
mentos e outras obrigações e, também, ao ajuste ao valor
presente, quando tiver efeito relevante no Circulante, e
sempre que operações de longo prazo assim o exijam.
Estudamos as características e as contabilizações dos seguin-
tes grupos de contas do Passivo: Fornecedores; Obrigações
Fiscais; Outras Obrigações, incluindo Contas a Pagar,
Ordenados e Salários a Pagar, Encargos Sociais e FGTS a
Recolher, Dividendos a Pagar, Ajuste ao Valor Presente e
Outras Obrigações a Pagar; Empréstimos e Financiamentos;
Debêntures e Outros Títulos de Dívida; e Provisões.
No grupo de Empréstimos e Financiamentos, abordamos
o diferimento de encargos financeiros, bem como ope-
rações de financiamento de curto prazo, destacando as
Duplicatas Descontadas.

222 Encerramos, revendo o conceito de “provisão” no con-


texto do Passivo, isto é, como origem de recursos.
Contabilidade Financeira

QUESTÕES PARA REFLEXÃO E


AUTOAVALIAÇÃO

Leia o artigo abaixo para responder às seguintes questões:

1. Como um refinanciamento de obrigações tributárias, como


o que está sendo abordado, pode afetar as origens de recursos
das entidades?

2. Após pesquisar sobre o REFIS, determine se as obrigações


tributárias renegociadas devem ser registradas no Passivo
Circulante ou no Passivo Não Circulante.

3. Em qual grupo de contas do Passivo, dentre os que foram es-


tudados, o refinanciamento dessa dívida deve ser contabilizado?
Governo deve lançar novo Refis para empresas em
dificuldades
Programa deverá permitir que empresas com débitos tri-
butários possam refinanciá-los em condições especiais.
Jeferson Ribeiro. 20/08/2013
Disponível em: http://exame.abril.com.br/economia/noti-
cias/governo-deve-lancar-novo-refis-para-empresas-em-
-dificuldades
Brasília - O governo deve lançar um novo Programa de
Recuperação Fiscal (Refis) para permitir que empresas
com débitos tributários possam refinanciá-los em condi-
ções especiais, disseram à Reuters fontes do Executivo e
do Legislativo.
A reabertura do Refis está sendo debatida com lideranças
do Congresso para ser incluída em uma medida provisó-
ria já em tramitação, provavelmente a 615 que trata, entre
outras coisas, de subvenção econômica a produtores de
cana-de-açúcar e etanol do Nordeste. 223
Os detalhes do novo Refis ainda estão sendo finalizados
pela Casa Civil e pelo Ministério da Fazenda, segundo

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


duas fontes do governo. Entre os pontos debatidos estão
os prazos e as condições do refinanciamento.
Está em estudo a possibilidade de essa nova rodada de nego-
ciações incluir todas as empresas que quiserem refinanciar
seus débitos. Mas não está descartado permitir apenas a
empresas que não ingressaram no último programa, de 2009.
A reabertura do Refis já foi proposta pelo Congresso
durante a gestão da presidente Dilma Rousseff no ano
passado, mas o governo trabalhou para barrar a proposta.
Agora, num momento em que o crescimento econômico
está abaixo do esperado e algumas empresas podem
sofrer com a alta do dólar em relação ao real, o governo se
mostrou disposto a negociar.

R esolução:

1. Como um refinanciamento de obrigações tributárias, como


o que está sendo abordado, pode afetar as origens de recursos
das entidades?
O refinanciamento pressupõe a concessão de prazo para liquidação
da dívida, o que significa que a entidade terá mais tempo para recom-
por o seu caixa ou permanecer com o recurso financeiro correspon-
dente no giro dos seus negócios. Além disto, os encargos financeiros
cobrados são bem menores que o custo do dinheiro no mercado.

2. Após pesquisar sobre o REFIS, determine se as obrigações


tributárias renegociadas devem ser registradas no Passivo
Circulante ou no Passivo não Circulante.
O REFIS caracteriza um financiamento da dívida fiscal a longo pra-
zo e, portanto, as dívidas fiscais objeto desse refinanciamento devem
ser transferidas para o Passivo não Circulante.

3. Em qual grupo de contas do Passivo, dentre os que foram es-


224 tudados, o refinanciamento dessa dívida deve ser contabilizado?
Deve ser contabilizado no grupo de Obrigações Fiscais, no Passivo
Contabilidade Financeira

não Circulante.

LEITURAS RECOMENDADAS
RIBEIRO, A. de C. Provisões, contingências e normas contá-
beis: um estudo de gerenciamento de resultados com con-
tencioso legal no Brasil. Dissertação de mestrado. FEA/USP.
Ribeirão Preto: 2012. Disponível em: http://www.teses.usp.br/
teses/disponiveis/96/96133/tde-17052012-114448/pt-br.php.

ABRASCA – Associação Brasileira de Companhias Abertas;


ANDIMA - Associação Nacional das Instituições do Merca-
do Financeiro. O que são debêntures? São Paulo: julho/2008.
Disponível em: http://www.debentures.com.br/downloads/
textostecnicos/cartilha_debentures.pdf
LIN K S INDICADOS
www.cfc.org.br
www.cpc.org.br

REFER ÊNCIAS
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução
CFC nº 1.180 de 24 de julho de 2009. Aprova a NBC T 19.7
– Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes. Bra-
sília, 2009.

IUDÍCIBUS, S. de et al. Manual de contabilidade societária.


São Paulo: Atlas, 2010.

225

Outras origens de recursos: passivos circulantes e não circulantes


(6)

P rincipais aplicações de
recursos: ativos circulantes e não
circulantes
Olá prezados alunos,
Aqui estamos, prontos para abrir mais uma porta e
agregar mais conhecimento. A cada porta aberta nos torna-
mos mais preparados para encontrar um futuro que também
nos receberá de “portas abertas”.
O futuro para o profissional contábil é extremamente
promissor. São mais de vinte áreas de atuação em uma pro-
fissão que tem taxa de desemprego “zero”. Vale a pena con-
tinuar investindo algumas horas de estudo para adquirir
conhecimento e desenvolver competências.
Vejam só quantas portas já foram abertas até aqui:
• Outras origens de recursos: passivos circulantes e
não circulantes;
• Demonstração do resultado do exercício;
• Provisões contábeis e despesas que não afetam o
caixa;
• Principal origem de recursos: o lucro;
• Contabilidade financeira: conceitos, definições e
utilização no processo decisório.
Em nossas aulas anteriores, vimos diversas fontes de
recursos para viabilizar a operacionalização das entidades. A
partir de agora, vamos começar a estudar o que é feito com os
recursos captados e como são “aplicados”.
A operacionalização de uma entidade nada mais é do
que ela cumprir a sua missão, o objetivo para o qual ela foi
230
criada, o exercício das suas atividades fim. Para tanto, ela
deve investir/aplicar os recursos, direta ou indiretamente,
Contabilidade Financeira

nas suas operações.


O sucesso de qualquer organização depende da gestão
equilibrada das origens e das aplicações dos recursos disponíveis,
razão pela qual vamos agora estudar as principais aplicações.
Os objetivos que pretendemos alcançar nesta aula são:

Objetivos de aprendizagem
‚‚Conhecer as principais aplicações de recursos e suas
peculiaridades;
‚‚Conhecer as características de cada grupo de contas;
‚‚Conhecer e aplicar os conceitos básicos de mensuração e
avaliação dos principais ativos de uma entidade;
‚‚Aprender e praticar a escrituração de fatos contábeis que
envolvam os ativos de uma entidade.

Buscando tais objetivos, vamos dividir esta aula nos


seguintes tópicos:
6.1 Revisão de conceitos
6.2 Caixa e equivalentes de caixa
6.2.1 Definição
6.2.2 Fundo fixo de caixa
6.2.3 Caixa flutuante
6.2.4 Pagamentos e recebimentos com cheques
pré-datados
6.2.5 Contas bancárias
6.3 Aplicações financeiras
6.3.1 Aspectos gerais: classificação, avaliação e
escrituração
6.3.2 Aplicações em ouro
6.4 Títulos em cobrança bancária
6.5 Contas a receber 231
6.5.1 Aspectos gerais: classificação, avaliação e

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


escrituração
6.6 Investimentos permanentes
6.6.1 Classificação
6.6.2 Avaliação
6.7 Imobilizado (Ativos Fixos)
6.7.1 Classificação
6.7.2 Avaliação
6.7.3 Escrituração
6.8 Intangíveis
6.8.1 Classificação
6.8.2 Avaliação
6.8.3 Escrituração

Bom estudo a todos!


6.1
R evisão de conceitos
Vamos relembrar alguns conceitos importantes sobre
os ativos de uma entidade para que possamos estudar deta-
lhadamente os seus componentes, a começar pela sua corre-
lação com as aplicações de recursos.
Greco (2012, p. 80) define Ativo como sendo o grupo
de contas que “compreende as aplicações de recursos repre-
sentadas por valores, direitos e bens”, resumindo de forma
232 precisa o conceito de ativo no contexto básico de gestão finan-
ceira – o de origens e aplicações de recursos.
Contabilidade Financeira

6.1.1 Ativo circulante e não circulante


Como já foi visto anteriormente, o Ativo é apresentado em
dois grandes grupos: o Ativo Circulante e o Ativo Não Circulante.

Ativo Circulante
A Lei nº 6.404/76, em seu artigo 179, inciso I, determina
que sejam classificadas no Ativo Circulante as contas repre-
sentativas de disponibilidades, direito realizáveis no curso do
exercício social seguinte, ressalvado o disposto no parágrafo
único do mesmo artigo e as aplicações de recursos em despe-
sas do exercício social seguinte, também considerando a citada
ressalva. Essa ressalva, dada pelo parágrafo único do artigo
179, esclarece que na empresa em que o ciclo operacional for
maior que doze meses (exercício social), deve ser considerado o
prazo desse ciclo para a classificação como circulante.
Os subgrupos que compõem o Ativo Circulante são:
• Disponível ou Caixa e Equivalentes de Caixa;
• Direitos e Créditos, abrangendo Clientes e Outros
Créditos;
• Investimentos Temporários;
• Estoques;
• Ativos especiais;
• Despesas do Exercício Seguinte.
Obedecendo a ordem de liquidez das contas na apre-
sentação do Balanço Patrimonial, a disposição desses grupos
facilita a análise sob o ponto de vista financeiro, visto que
o usuário da informação percebe que os valores registrados
em cada uma das categorias abaixo apresentam característi-
cas específicas.
• Disponível: estão imediatamente disponíveis para uso;
233
• Direito e créditos: embora ainda não imediatamente

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


disponíveis, são recebíveis a curto prazo;
• Investimentos temporários: embora no curto prazo,
deverão aguardar os respectivos vencimentos para
serem resgatados e tornarem-se disponíveis;
• Estoques: ainda passarão pelo processo de produ-
ção e venda para depois tornarem-se recebíveis;
• Ativos especiais: geram receita, mas têm uma
menor liquidez;
• Despesas do exercício seguinte: são despesas pagas
antecipadamente.
Nota-se, aqui, a importância da correta classificação
dos ativos para a análise e gestão financeira, não só como
Circulantes e Não Circulantes, mas também para a sua apre-
sentação em ordem de liquidez.

Ativo Não Circulante


A mesma Lei nº 6.404/76, em seu artigo 179, inciso II,
determina que um ativo seja classificado como não circu-
lante quando os direitos sejam realizáveis após o término
do exercício seguinte, também ressalvando o parágrafo
único do mesmo artigo; quando se tratar de direitos deri-
vados de vendas, adiantamentos ou empréstimos a socie-
dades coligadas ou controladas, diretores, acionistas ou
outros participantes do lucro, assim como direitos que
não constituírem negócios usuais na exploração das ativi-
dades da empresa.
O disposto no parágrafo único do artigo 179 também
se aplica aos ativos não circulantes, ou seja, a classificação
deve levar em conta o prazo do ciclo operacional da entidade.
Os subgrupos que compõem o Ativo Não Circulante
234 são:
1. Ativo Realizável em Longo Prazo;
Contabilidade Financeira

• Direito e Créditos, incluindo investimentos tempo-


rários de longo prazo.
2. Investimentos;
• Participações permanentes em outras sociedades;
• Propriedades para investimento;
• Outros investimentos permanentes.
3. Ativo Imobilizado;
4. Intangível (custo).
As contas que compõem o Ativo Realizável em Longo
Prazo geralmente têm a mesma natureza daquelas que com-
põem o Ativo Circulante, diferenciando-se delas pelos res-
pectivos prazos de realização.
Também devem ser registradas nesse grupo, indepen-
dentemente do prazo de realização, as transações com empre-
sas coligadas ou controladas21, diretores, acionistas ou outros
participantes no lucro da entidade que não tenham relação

21. Coligadas e Controladas: empresas do mesmo grupo econômico, nas quais a entidade participe
nos percentuais e nas condições estabelecidas pela Lei nº 6.404/76 e atualizações.
com as atividades usuais da empresa, como venda de ativos
permanentes e adiantamentos ou empréstimos.
Os grupos de Investimentos e Imobilizado caracteri-
zam o que, usualmente, é chamado de “ativos permanentes”,
ou seja, são ativos adquiridos com a intenção de permanência
para serem usados ou beneficiarem, direta ou indiretamente,
o processo operacional da entidade.
Também fazem parte do grupo de Investimentos, no
Balanço individual da investidora, as contas que registram
os valores pagos a título de “mais-valia” ou ágio/deságio
(Goodwill) nos investimentos em participações em coligadas
e controladas, recomendando-se que tais valores sejam regis- 235
trados em subcontas dos respectivos investimentos.

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


O grupo Intangível é composto, segundo o artigo 179
– IV da Lei nº 6.404/76, por “direitos que tenham por objeto
bens incorpóreos destinados à manutenção da companhia ou
exercidos com essa finalidade”. Ressalte-se que o valor aqui
registrado refere-se ao respectivo custo, como o valor pago
para registro de uma marca ou de uma patente.

6.1.2 Registro e avaliação dos ativos


O registro dos ativos e os critérios de avaliação e
mensuração seguem os pressupostos dos Princípios da
Competência e da Oportunidade, aplicando-se de forma dife-
renciada a cada grupo de contas. O quadro a seguir, adap-
tado do Manual de Contabilidade Societária, de Iudícibus et
al (2010, p. 3), resume bem tais critérios.
Grupos de Contas Critérios de avaliação

Valor dos títulos menos estimativas de


Contas a receber perdas para reduzi-los ao valor provável
de realização
Aplicações em instru- Valor justo ou custo amortizado (valor
mentos financeiros e inicial acrescido sistematicamente dos
em direitos e títulos juros e de outros rendimentos cabíveis),
de crédito (tem- ajustado ao valor provável de realização,
porário) se ele for menor.
Custo de aquisição ou de fabricação,
reduzido por estimativas para ajusta-lo
Estoques ao preço de mercado, quando ele for in-
ferior. Valor Justo aos produtos agrícolas
e em certas commodities22.
236 Custo de aquisição deduzido da deprecia-
ção, pelo desgaste ou perda de utilidade
ou amortização ou exaustão. Periodica-
Contabilidade Financeira

Ativo imobilizado
mente deve ser feita uma análise sobre
a recuperação dos valores registrados.
Valor justo aos ativos biológicos
Método de equivalência patrimonial, ou
seja, com base no valor do patrimônio
Investimentos rel- líquido da coligada ou controlada, pro-
evantes em coligadas porcionalmente à participação da inves-
e controladas (inclu- tidora. Quando se tratar de controladas,
indo joint ventures) é obrigatória a consolidação proporcio-
nal. Tais critérios também se aplicam às
joint ventures.23
Outros investimentos
Igual aos instrumentos financeiros
societários
Custo, deduzidas estimativas para
reconhecimento de perdas permanentes.
Outros investimentos
Se propriedade para investimento, pode
ser avaliada a valor justo.
Custo incorrido na aquisição, deduzido
do saldo da respectiva conta de amor-
Intangível
tização, quando aplicável, ajustado ao
valor recuperável, se ele for menor.

Fonte: Iudícibus et al (2010, p. 3, adaptado).

Calma! Você não irá aprender tudo isso ao mesmo


tempo. Todos esses grupos serão abordados mais de uma vez
em algumas disciplinas do curso, cada uma explorando o que
lhe compete, de acordo com os respectivos objetivos. Por ora,
vamos explorar somente alguns aspectos de determinados
grupos, suficientes para embasar a análise dos ativos, como
aplicações de recursos. 22 23

6.2

C aixa e equivalentes de caixa

237
6.2.1 Definição
A conta Caixa, além do “dinheiro” propriamente dito,

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


inclui os cheques recebidos e ainda não depositados, possí-
veis de serem descontados imediatamente. É o recurso mais
“disponível” da entidade, razão pela qual é a primeira conta
a ser demonstrada no Ativo Circulante, no grupo Disponível.
O Disponível é o primeiro grupo de contas que aparece
no Ativo do Balanço Patrimonial das entidades. Essa denomi-
nação, atribuída pela Lei nº 6.404/76, representa o que a enti-
dade dispõe de dinheiro em caixa, em bancos ou em valores
equivalentes que permitam livre movimentação, pela enti-
dade, dos recursos correspondentes sem qualquer restrição
para uso imediato.
Já as normas contábeis internacionais adotam o
conceito de Caixa e Equivalentes de Caixa que, além do

22. Commodities (plural de commodity): termo inglês para “mercadorias”, “usado como referên-
cia aos produtos de base em estado bruto (matérias-primas) ou com pequeno grau de industria-
lização, de qualidade quase uniforme, produzidos em grandes quantidades e por diferentes pro-
dutores. Estes produtos “in natura”, cultivados ou de extração mineral, podem ser estocados por
determinado período sem perda significativa de qualidade. Possuem cotação e negociabilidade
globais, utilizando bolsas de mercadorias”. Fonte: http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.
php?area=5&menu=1955
23. Joint Venture: termo em inglês que significa “união com risco”, representa um tipo de associação
entre duas ou mais entidades para explorar ou realizar alguma atividade, por tempo determinado,
sem perda da identidade individual das entidades envolvidas.
disponível, considera valores que possam ser convertidos
em dinheiro, a curto prazo, sem riscos. Um investimento, por
exemplo, é classificável com equivalente de caixa se tiver ven-
cimento de curto prazo (3 meses ou menos), incluindo aplica-
ções em títulos de liquidez imediata.
Embora se inclua no conceito de equivalentes de caixa,
as aplicações financeiras resgatáveis em até noventa dias,
aproximadamente, devem ser demonstradas separadamente
no Balanço Patrimonial.
Segundo Iudícibus (2010, p. 49), “os equivalentes de
caixa são mantidos com a finalidade de atender a compromis-
238 sos de caixa de curto prazo, não para investimento ou outros
fins, e devem ter conversibilidade imediata em um montante
Contabilidade Financeira

conhecido de caixa, além de estarem sujeitos a um insignifi-


cante risco de mudança de valor”.
Vamos exemplificar duas formas de demonstração
desse grupo de contas no Balanço Patrimonial:

Ativo circulante
Hipótese 1 Hipótese 2
DISPONÍVEL DISPONÍVEL
Caixa e Equiva-
Caixa R$500,00 R$4.500,00
lentes de Caixa
Bancos - Conta
Movimento ou De-
R$3.500,00
pósitos Bancários
à Vista
Numerários em
R$200,00
trânsito
Aplicações de Li-
R$300,00
quidez Imediata

Observe o Ativo do Balanço Patrimonial da TAM


(Transportes Aéreos Meridionais), em 31/03/2012 e 31/03/2011:
Demonstração do Balanço Patrimonial Consolidado (BP)
Ativo
valores em milhões de reais
31/03/2012 (3m) 31/03/2011 (3m)
(M)
Ativo Total 15.743,6 M 14.560,8 M
Ativo Circulante 4.925,7 M 4.357,6 M
Caixa e Equivalentes de
553,6 M 564,3 M
Caixa
Aplicações Financeiras 1.344,0 M 1.325,7 M
Contas a Receber 2.125,8 M 1.897,3 M
Estoques 220,1 M 208,7 M
Tributos a Recuperar 411,4 M 108,0 M
Despesas Antecipadas 0,0 M 0,0 M 239
Outros Ativos Circulantes 270,8 M 253,7 M

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


Ativo Não Circulante 10.818,0 M 10.203,2 M
Ativo Realizável em Longo
852,4 M 693,8 M
Prazo
Imobilizado 9.372,6 M 8.863,4 M
Intangível 592,9 M 645,9 M
Critério de consolidação Consolidada Consolidada
Critério de elaboração IFRS

FONTE: Econoinfo – Informações para Investidores. Disponível em: http://www.


econoinfo.com.br/demonstracoes-financeiras/balanco-patrimonial?ce=TAMM

Note que as Aplicações Financeiras não estão inseridas


na linha de Caixa e Equivalentes de Caixa. Por quê?
Porque, provavelmente, tais aplicações financeiras
não atendem às condições de conversibilidade imediata em
dinheiro.

6.2.2 Fundo fixo de caixa


A conta Caixa, normalmente, inclui subcontas que faci-
litam o seu controle. Tais contas vão variar de acordo com as
necessidades de controle de cada entidade, mas, basicamente,
podem-se destacar duas subcontas: Fundo Fixo de Caixa ou
Caixa – Fundo Fixo e Caixa Flutuante.
O Fundo Fixo de Caixa consiste na definição de um
valor fixo a ser entregue ao responsável pela sua gestão,
destinado a fazer face ao pagamento de pequenas despe-
sas diárias, em determinado período de tempo, que pode
ser semanal, quinzenal, ou qualquer outro que a entidade
entenda adequado. Ao final do período, o responsável jun-
tará todos os comprovantes de despesas pagas e solicitará a
“reposição” do caixa que voltará a ter disponível o valor ini-
cial, por mais um período.
A conta Fundo Fixo de Caixa é movimentada somente
quando da sua constituição, aumento ou redução, pela altera-
240 ção do valor do fundo fixo. Portanto, todas as demais entradas
e saídas de caixa deverão ser controladas em outra sub-
Contabilidade Financeira

conta ou, diretamente na conta Bancos - Conta Movimento,


mediante depósitos diários e pagamentos em cheque ou meio
eletrônico.
Vamos constituir um fundo fixo de caixa para a Luz
Azul Comércio de Materiais Elétricos?

O supervisor administrativo da Luz Azul, após fazer


um levantamento dos gastos semanais com pequenas despe-
sas como transporte, correio, jornais etc. concluiu que neces-
sitaria de, aproximadamente, R$1.500,00 para fazer face a
esses gastos e solicitou a constituição de um fundo fixo de
caixa, tendo sido atendido pelo gerente financeiro.

Constituição do Fundo Fixo de Caixa

Conta de
D Fundo Fixo de Caixa R$1.500,00
Ativo
Bancos - Conta Conta de
C R$1.500,00
Movimento Ativo
Valor referente à constituição do fundo
fixo de caixa, conforme cheque xxxxxx.
Bancos Conta Fundo Fixo de
Movimento Caixa
(SI) 50.000 1.500 (1) (1) 1.500

No final da semana, o supervisor levantou os seguin-


tes comprovantes dos pagamentos efetuados:
• Despesas com transporte público = R$200,00;
• Despesas de correio = R$150,00;
• Compra de jornais e revistas especializadas:
R$120,00;
241
• Despesas de táxi = R$300,00;

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


• Confecção de carimbos = R$180,00;
• Compra de utensílios para a copa = R$150,00.
Total de gastos da semana = R$1.100,00

Reposição do fundo fixo


Transporte R$500,00
Contas de
Correio R$150,00
D Resultado
Jornais e revistas R$120,00
(Despesas)
Diversas R$330,00
Bancos - Conta Conta de
C R$1.100,00
Movimento Ativo
Valor referente à reposição do Fundo
Fixo de Caixa, conforme cheque
xxxxxx, pelo pagamento de diversas
despesas conforme comprovantes.

Note que, conforme comentado, na reposição não se


movimentou a conta Fundo Fixo de Caixa.

6.2.3 Caixa flutuante


Quando a entidade adota a conta Caixa Flutuante pode
ocorrer uma maior dificuldade na classificação dos valores que
transitam no seu caixa, uma vez que eles nem sempre estão
representados só por dinheiro, mas, também, por vales, adian-
tamentos, cheques ainda não depositados etc. Cada uma dessas
movimentações pode exigir, inclusive, uma classificação diferente
do Disponível, como é o caso dos adiantamentos, por exemplo.
Por ocasião do fechamento do Balanço Patrimonial, o
saldo da conta Caixa deve refletir somente o que houver em
“dinheiro” no caixa e, portanto, todas as demais movimenta-
ções, devem ser corretamente classificadas.

6.2.4 Pagamento e recebimentos com che-


ques pré-datados
242
Pagamentos e recebimentos com cheques pré-datados
são uma prática comum, principalmente no comércio varejista.
Contabilidade Financeira

Como proceder a contabilização desses títulos de crédito que


ficam no “caixa” da entidade até os respectivos depósitos?

Pagamentos com cheques pré-datados


Se houver fundos para cobertura dos cheques emiti-
dos, a obrigação correspondente deve ser baixada normal-
mente, mesmo que o depósito somente seja feito pelo credor
posteriormente.
Supondo uma obrigação com fornecedores liquidada
com cheque pré-datado para dez dias após o vencimento da
obrigação, embora a entidade tenha fundos suficientes para
a cobertura do cheque na sua conta bancária, teríamos o
seguinte lançamento contábil:

Conta de
D Fornecedores R$
Passivo
Bancos - Conta Conta de
C R$
Movimento Ativo
Valor referente pagamento ao fornece-
dor XYZ, conforme cheque xxxxxx.
Porém, se na conta bancária não houver fundos sufi-
cientes para a cobertura do cheque emitido, a contabilização
deverá ocorrer em conta específica do Passivo.

Conta de
D Fornecedores R$
Passivo
Conta de
C Cheques a Pagar R$
Passivo
Valor referente ao pagamento ao for-
necedor XYZ, conforme cheque xxxxxx,
aguardando provimento de fundos.

Quando houver fundos na conta bancária


Conta de 243
D Cheques a Pagar R$
Passivo

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


Bancos - Conta Conta de
C R$
Movimento Ativo
Valor referente pagamento ao fornece-
dor XYZ, conforme cheque xxxxxx.

Recebimentos com cheques pré-datados


No recebimento de cheques pré-datados, a entidade
está constituindo, na realidade, um direito de crédito,
uma “conta a receber”. Sendo assim, tais cheques deve-
rão permanecer em uma conta de Ativo até o seu efetivo
recebimento.
Supondo que a entidade recebedora do cheque pré-
-datado seja a fornecedora XYZ, citada no exemplo anterior,
teríamos o seguinte lançamento contábil:

Conta de
D Cheques a Receber R$
Ativo
Clientes (Contas a Conta de
C R$
Receber) Ativo
Valor referente pagamento ao cheque
xxxxxx, emitido pelo cliente ZZZ, para
pagamento da duplicata 000.
No depósito do cheque
Bancos - Conta Conta de
D R$
Movimento Ativo
Conta de
C Cheques a Receber R$
Ativo
Valor referente pagamento ao fornece-
dor XYZ, conforme cheque xxxxxx.

Vamos supor, agora que a Luz Azul Comércio de


Materiais Elétricos vendeu R$2.500,00 em mercadorias em
23/08 e recebeu um cheque pré-datado para 10/09. Nesse caso,
a contabilização seria a seguinte:
244
Na data da venda
Contabilidade Financeira

Conta de
D Cheques a Receber R$2.500,00
Ativo
Conta de
C Vendas (Receitas) R$2.500,00
Resultado
Valor referente venda de mercadorias
conforme NF 000, com recebimento
em cheque pré-datado de número
xxxxxx.

No depósito do cheque
Bancos - Conta Conta de
D R$2.500,00
Movimento Ativo
Conta de
C Cheques a Receber R$2.500,00
Ativo
Valor referente ao recebimento do
cheque pré-datado de número xxxxxx.

O recebimento do valor de uma duplicata por meio de


cheque pré-datado é uma origem ou uma aplicação de
recursos? E se o cheque for à vista?
Obs.: A resposta está no final da aula, mas tente respon-
der sem olhar.
6.2.5 Contas bancárias
As contas bancárias de uma entidade estão represen-
tadas no grupo de contas de Bancos - Conta Movimento ou
Depósitos Bancários à Vista. Geralmente tais contas são de
livre movimentação e podem, a critério da entidade, ser divi-
didas por bancos e/ou pelas características da correspondente
movimentação. Por exemplo: conta movimento, contas para
pagamentos específicos como os da folha de pagamentos de
salários, contas para cobrança/recebimento de títulos etc.

Contas negativas
A maioria das contas bancárias, atualmente, admite a 245
existência de saldos negativos. Na existência de saldos negati-

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


vos, no entanto, o que está ocorrendo é um “empréstimo/finan-
ciamento” bancário. Assim, quando o saldo contábil dessas
contas for negativo, ou seja, credor, este deve ser transferido
para o passivo, como uma obrigação por empréstimo que é o
que realmente ele representa. Há casos em que tais saldos nega-
tivos são automaticamente cobertos por limites de crédito ou
outras operações, como o resgate de aplicações financeiras, por
exemplo, e, nesses casos, não há necessidade de transferência.
Supondo que, no balancete da Luz Azul Comércio
de Materiais Elétricos, o saldo da conta Bancos - Conta
Movimento, subconta “Banco Cruzeiro”, apresenta um saldo
credor de (R$5.500,00), em 31/12/XX, veja como seria feita a
transferência para o Passivo:
Bancos - Conta
Conta de
D Movimento – Banco R$5.500,00
Ativo
Cruzeiro
Empréstimos Conta de
C R$5.500,00
Bancários Passivo
Valor referente à transferência do
saldo credor na conta bancária do
Banco Cruzeiro
Mesmo que o saldo total da conta Bancos - Conta
Movimento fosse positivo, em função de saldos em con-
tas bancárias de outros bancos, o saldo negativo do Banco
Cruzeiro não poderia ser compensado com os demais e deve-
ria, mesmo assim, ser transferido.

Pagamentos em cheques
No caso de pagamentos em cheque efetuados pela enti-
dade, eles devem ser contabilizados na data da respectiva
emissão, caso ocorra próxima à data da entrega aos respec-
tivos beneficiários, visto essa entrega ser o que caracteriza a
246 “saída” dos recursos.
Entretanto, se na data do Balanço, os cheques emitidos,
Contabilidade Financeira

de valores significativos, ainda não tiverem sido entregues aos


beneficiários, deverão ser “estornados”, ou seja, voltar para
suas contas de origem no Ativo (conta Bancos) e no Passivo
(conta que retrata a obrigação baixada).

Contas bancárias em moeda estrangeira


No caso da entidade possuir saldos bancários em
moeda estrangeira, o respectivo valor em moeda nacional
deve contemplar a variação cambial correspondente, utili-
zando a taxa cambial vigente na data do balanço.

Conciliação bancária
Um dos instrumentos mais importantes de controle
dos saldos bancários, e o que eles representam para a saúde
financeira da entidade, é a conciliação bancária.
A conciliação bancária consiste na comparação entre
os saldos contábeis e os saldos apresentados nos extratos
bancários. Ela deve ser realizada periodicamente, sendo
indispensável na data do Balanço. Por meio dela pode-se
identificar a ocorrência de pagamentos ou recebimentos
não contabilizados, sendo possível corrigir as pendências
em tempo hábil.

6.3

Aplicações financeiras

6.3.1 Aspectos gerais: classificação, avaliação


e escrituração

247
Aspectos gerais
As aplicações financeiras são instrumentos financeiros

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


utilizados para manter atualizado o valor dos recursos dispo-
níveis e sem uso imediato pela entidade. Tais “excessos” de
disponibilidades são, geralmente, aplicados em títulos e valo-
res mobiliários, podendo ser de curto ou longo prazo, mas
também podem ter por objeto outros instrumentos.

Classificação
As aplicações financeiras serão classificadas no Ativo
Circulante quando os respectivos resgastes estiverem previs-
tos para ocorrer em até doze meses, observada a ressalva em
relação ao ciclo operacional, já estudada anteriormente.
As aplicações financeiras, cujos respectivos resgates esti-
verem previstos para ocorrer após esse prazo, devem ser classi-
ficadas no Ativo Não Circulante – Realizável em Longo Prazo.

Avaliação
Aplicações Financeiras de Liquidez Imediata
As aplicações financeiras de curtíssimo prazo, classifica-
das no Disponível e conhecidas como Aplicações Financeiras de
Liquidez Imediata são consideradas como equivalentes de caixa
e não apresentam regras especiais de avaliação.

Outras aplicações / instrumentos financeiros


O artigo 183 – I da Lei nº 6.404/76, atualizado pela Lei
nº 11.638/07, determina o tratamento a ser aplicado para a ava-
liação dos instrumentos financeiros como segue:
I – as aplicações em instrumentos fi-
nanceiros, inclusive derivativos, e em
direitos e títulos de créditos, classifica-
dos no ativo circulante ou no realizável
a longo prazo, serão avaliados:
a) Pelo seu valor justo, quando se tratar
248 de aplicações destinadas à negociação
ou disponíveis para a venda; e
b) Pelo valor de custo de aquisição ou
Contabilidade Financeira

valor de emissão, atualizado conforme


disposições legais ou contratuais,
ajustado ao valor provável de realiza-
ção, quando este for inferior, no caso
das demais aplicações e os direitos e
títulos de crédito.

Escrituração
Vamos exemplificar uma aplicação financeira realizada
pela Luz Azul Comércio de Materiais Elétricos, nas seguin-
tes condições:
• Valor aplicado: R$100.000,00
• Data da aplicação: 01/12/XX
• Data do resgate: 30/01/XX
• Tipo de rendimento: pré-fixado (2,5% a.m.)
• Valor de resgate: R$105.063,00
• Imposto de renda na fonte: 22,5%
Na data da aplicação
Aplicações Conta de
D R$100.000,00
Financeiras Ativo
Bancos - Conta Conta de
C R$100.000,00
Movimento Ativo
Valor referente à aplicação financeira
de curto prazo

Bancos Conta Aplicações


Movimento Financeiras
(SI) 150.000 100.00 (1) (1) 100.000

249
Em 31/12/XX pela apropriação dos juros pro rata temporis

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


Aplicações Conta de
D R$2.500,00
Financeiras Ativo
Rendimentos sobre Conta de
C R$2.500,00
Aplicações Financeiras Resultado
Valor referente à apropriação pro rata
temporis de rendimentos de aplicação
financeira

Aplicações Rendimentos de
Financeiras Aplic. Financeiras
(1) 50.000 2.500 (2)
(2) 2.500

Em 30/01/XX pela apropriação dos juros pro rata temporis

Aplicações Conta de
D R$2.563,00
Financeiras Ativo
Rendimentos sobre Conta de
C R$2.563,00
Aplicações Financeiras Resultado
Valor referente à apropriação pro rata
temporis de rendimentos de aplicação
financeira
Aplicações Rendimentos de
Financeiras Aplic. Financ.
(1) 100.000 2.500 (2)
(2) 2.500 2.563 (3)
(3) 2.563

No resgate

Bancos - Conta Conta de


D R$103.924,00
Movimento Ativo
Imposto de Renda na
Fonte a Compensar(*) Conta de
D R$1.139,00
(Pelo imposto retido Ativo
250 na fonte)
Aplicações Conta de
C R$105.063,00
Contabilidade Financeira

Financeiras Ativo
Valor referente resgate de aplicação
financeira

Bancos Conta Imposto de Renda na


Movimento Fonte a Compensar
(SI) 150.000 100.00 (1) 1.139
103.924

Aplicações
Financeiras
(1) 100.000 105.063
(2) 2.500
(3) 2.563

(*) Imposto de Renda a Compensar

Quando o rendimento da aplicação financeira estiver


sujeito à retenção do imposto de renda na fonte, o valor do
imposto retido, caso a empresa seja tributada com base no
lucro real24, poderá ser compensado com o imposto devido
sobre o lucro do período base.
Algumas pessoas jurídicas são tributadas pelo lucro
presumido, que é outra forma de tributação, onde o imposto
não é calculado sobre o lucro, mas sobre a receita bruta ajus-
tada. Nesse caso, o imposto de renda retido na fonte será con-
tabilizado como despesa financeira.

6.3.2 Aplicações em ouro


As aplicações em ouro recebem o mesmo tratamento
das aplicações financeiras, quando forem realizadas em bol-
sas de valores, mercadorias, de futuros ou, ainda, com a
251
mediação de instituições financeiras. Esse tratamento tam-
bém é o mesmo no que se refere à correspondente avaliação

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


(vide item 6.3.1).
Sua classificação contábil é feita de acordo com a inten-
ção do investidor em negocia-la no curto ou no longo prazo
(Ativo Circulante ou Não Circulante), ou se pretende perma-
necer com ela a título de investimento.
Quando destinada à negociação no curto prazo, a apli-
cação em ouro, devido ao seu alto grau de liquidez, é demons-
trada logo após o grupo de contas do Disponível.

6.4

Títulos em cobrança bancária


A entidade pode encarregar uma instituição financeira
de efetuar a cobrança dos seus títulos mediante o pagamento
de uma comissão pelo serviço prestado pela instituição. Não

24. Lucro real: base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica


há qualquer benefício financeiro nesse tipo de procedimento,
é uma decisão unicamente operacional, visto que pode ser
mais vantajoso para a entidade remunerar a instituição finan-
ceira do que manter um setor para realizar tal cobrança.
Entretanto, há que se redobrar a atenção no controle desses
títulos, uma vez que eles são “fisicamente” entregues à instituição
que, ao recebê-los dos clientes, faz o crédito na conta corrente da
entidade mediante aviso. As duplicatas não recebidas são devol-
vidas pelo banco à entidade. Esse controle pode ser feito de forma
eficaz por meio da utilização de “contas de compensação”.

252 O que são contas de compensação?

Contas de compensação são contas contábeis criadas uni-


Contabilidade Financeira

camente com a finalidade de “controle” de certas opera-


ções. Não causam mutações no patrimônio das entidades,
razão pela qual não figuram no Balanço Patrimonial. O
registro simultâneo dos valores dessas contas no Ativo e
no Passivo utiliza a lógica das partidas dobradas para a
realização do controle necessário dessas operações.

Vamos exemplificar a contabilização de uma remessa de


títulos para cobrança e a respectiva baixa, quando do recebimento:
Remessa dos títulos para cobrança bancária, mediante elabo-
ração de um “borderô de cobrança”25
Conta de
Banco - Conta R$ (valor total
D Compensação
Cobrança do borderô)
Ativo
Conta de
R$ (valor total
C Títulos em Cobrança Compensação
do borderô)
Passivo
Valor referente à remessa de títulos
para a cobrança bancária, conforme
borderô número XXX.

25. Borderô de Cobrança: listagem dos títulos enviados para cobrança. Serve como documento com-
probatório da entrega dos títulos.
Quando do recebimento do título pelo banco, comunicado
mediante aviso bancário26
Conta de
R$ (valor do
D Títulos em Cobrança Compensação
título recebido)
Passivo
Conta de
Banco conta R$ (valor do
C Compensação
Cobrança título recebido)
Ativo
Valor referente à baixa pelo recebi-
mento do título nº XXXX enviados
para cobrança bancária.

Pela cobrança de comissão pelo serviço prestado pelo banco,


mediante aviso bancário 253

R$ (valor da

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


Despesas Bancárias Conta de
D comissão
(Desp. Financeiras) Resultado
cobrada)
R$ (valor da
Bancos conta Conta de
C comissão
Movimento Ativo
cobrada)
Valor referente à comissão cobrada
pelo Banco XYZ conforme aviso
bancário

26. Lançamento contábil relativo, exclusivamente, à baixa nas contas de compensação. A baixa do
título do Contas a Receber, que será tratada no próximo tópico (5), deve ser feita, simultaneamente,
nas contas patrimoniais correspondentes.
6.5

Contas a receber

6.5.1 Aspectos gerais: classificação, avaliação


e escrituração
Aspectos gerais
As contas a receber representam os direitos de crédito
que a entidade tem com os seus clientes e outros devedores.
Originam-se da venda a prazo de produtos, mercadorias ou
254
serviços ou de outras transações que podem não estar dire-
tamente ligadas à sua principal atividade, mas são considera-
Contabilidade Financeira

das normais no curso das suas operações.

Classificação
O grupo de Contas a Receber geralmente faz parte do
Ativo Circulante, mas, eventualmente, pode figurar no Ativo
Não Circulante de acordo com o respectivo prazo de realização.
Para melhor controle e transparência para o usuário,
esse grupo de contas deve ser desmembrado em contas a
receber de Clientes e de outros devedores (Outros Créditos).
No subgrupo de Clientes estará contida a conta
Duplicatas a Receber que, por sua vez, também poderá estar
subdividida em Duplicatas a Receber de Clientes e Duplicatas
a Receber de Controladas e Coligadas.

Duplicatas a receber
As duplicatas a receber são títulos representativos de
crédito que têm sua origem nas vendas a prazo realizadas pela
entidade e já faturadas. Um conjunto de duplicatas é denomi-
nado “carteira”, expressão comum na linguagem empresarial.
Qual a diferença entre fatura e duplicata?27

A <box.fim>
fatura corresponde a um documento emitido pela enti-
dade vendedora de bens ou serviços, em que estão relacio-
nados. Caracteriza a entrega desses bens ou serviços, sem
o respectivo recebimento. Um bom exemplo é a sua fatura
do cartão de crédito.
Em casos que envolvem a cobrança de impostos (ISS,
ICMS, IPI) pode existir a figura da Nota Fiscal Fatura, ou
seja, uma fatura que atende aos requisitos fiscais.
Já a duplicata é um título de crédito27 emitido com base na
fatura; é o título que configura o compromisso do devedor
em pagar o que está contido na respectiva fatura.

255
As duplicatas a receber, por representarem o produto

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


imediato das vendas a prazo da entidade, estão diretamente
relacionadas às receitas de vendas que, por sua vez, represen-
tam o desempenho da entidade na realização da sua princi-
pal atividade.
Outros créditos
O grupo de contas representativo de outros créditos,
que não aqueles decorrentes da principal atividade da enti-
dade, congrega as demais contas a receber que são classifica-
das de forma idêntica às contas a receber de clientes.

Avaliação
As contas a receber devem ser avaliadas segundo o dis-
posto no artigo 183 da Lei nº 6.404/76 que, em se inciso I, item
“b”, determina que tais ativos serão avaliados pelo “valor de
emissão, atualizado conforme disposições legais ou contra-
tuais, ajustado ao valor provável de realização”. Entende-se
como valor provável de realização, o valor que a entidade

27. Título de crédito: “papel” representativo de uma obrigação de pagamento (cheque, duplicata,
nota promissória etc.). Cada tipo de título de crédito tem uma legislação específica que regulamenta
a sua emissão.
conseguiria obter por aquele ativo na data do Balanço, consi-
derando, inclusive, possíveis inadimplências.
Ajuste ao valor presente
Segundo o inciso VIII do artigo mencionado no pará-
grafo anterior, os ativos de longo prazo devem, ainda, ser ajus-
tados ao valor presente, sendo tal critério também aplicável
aos ativos de curto prazo que apresentem ajustes relevantes.
Perdas estimadas em créditos de liquidação duvidosa<peso5>
O ajuste ao valor provável de realização da carteira de
contas a receber requer que se faça a estimativa das suas perdas
prováveis, ou seja, deve-se apurar o valor da incerteza de rece-
256 bimento dos valores que compõem essa carteira. Admite-se,
inclusive, que seja computada, no valor dessas perdas, a esti-
Contabilidade Financeira

mativa das despesas de cobrança e dos possíveis descontos ou


abatimentos, mensuráveis com razoável certeza.
Em nossa Aula 3 e, particularmente, no item Perdas esti-
madas em créditos de liquidação duvidosa, estudamos detalha-
damente a constituição e outras peculiaridades dessas perdas.
Outros créditos
Os outros créditos, ou seja, aqueles que, normal-
mente, não decorrem do objeto principal da entidade, tam-
bém devem ser avaliados ao seu valor provável de realização,
inclusive no que se refere à constituição de perdas estimadas
e ajustes ao valor presente.
São comuns nesse grupo as contas de: Títulos a Receber,
Cheques em Cobrança, Dividendos a Receber, Juros a Receber,
Adiantamentos a Terceiros, Adiantamentos e outros créditos con-
cedidos a funcionários, Tributos a Compensar ou a Recuperar etc.

Escrituração
Reconhecimento
O reconhecimento das contas a receber de clien-
tes e, particularmente, das duplicatas a receber, como já
mencionado, está diretamente relacionado ao reconheci-
mento das receitas de vendas.
Assim, o momento de reconhecimento das dupli-
catas a receber, assim como o das respectivas receitas, é
aquele em que ocorre a “transferência dos riscos e bene-
fícios significativos inerentes à propriedade dos bens”
(Pronunciamento Técnico CPC 30) para o cliente com-
prador. No caso de serviços, esse reconhecimento ocorre
quando o serviço é prestado.
Na maior parte dos casos de transações comerciais
e, particularmente, nas vendas a varejo, a transferência
dos riscos e benefícios inerentes à propriedade dos bens 257
ocorre juntamente com a transferência da titularidade

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


legal ou da transferência da posse do ativo para o com-
prador. Em outros casos, porém, tal transferência ocorre
em momento diferente.
É comum o registro das vendas e correspondentes
duplicatas a receber no momento da emissão das notas
fiscais de vendas, visto que praticamente coincide com o
momento da entrega, embarque ou despacho do produto
ou mercadoria.
Vamos trabalhar a escrituração de um exemplo de
venda de mercadorias a prazo, com emissão de duplicata no
valor de R$8.000,00:

Por ocasião da venda da mercadoria a prazo

Clientes - Duplicatas Conta de


D R$8.000,00
a Receber Ativo
Conta de
C Vendas (Receita) R$8.000,00
Resultado
Valor referente venda a prazo de
mercadorias.
Pelo recebimento do cliente, no vencimento

Bancos conta Conta de


D R$8.000,00
Movimento Ativo
Clientes – Duplicatas Conta de
C R$8.000,00
a Receber Ativo
Valor referente recebimento da
duplicata nº XXX.

Duplicatas a
Vendas
Receber
(1) 8.000 8.000 (1)

258
Duplicatas a Bancos Conta
Receber Movimento
Contabilidade Financeira

(1) 8.000 8.000 (2) (2) 8.000

Vamos supor que o cliente não pagou a duplicata no


vencimento e, quando efetuou o pagamento, foram cobrados
juros e multa de 10%. Veja como seria a contabilização:

Pelo recebimento do cliente, com atraso no pagamento


Bancos conta Conta de
D R$8.080,00
Movimento Ativo
Clientes – Duplicatas Conta de
C R$8.000,00
a Receber Ativo
Juros e Multas Conta de
C R$80,00
(Receita Financeira) Resultado
Valor referente recebimento da
duplicata nº XXX.
Duplicatas a Bancos Conta
Receber Movimento
(1) 8.000 8.000 (2) (2) 8.080

Juros e Multas

80 (2)

Perdas estimadas em créditos de liquidação duvidosa


Embora tenhamos estudado a constituição das perdas 259
em créditos de liquidação duvidosa em nossa Aula 3, vamos

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


relembrar um exemplo, já que estamos estudando a carteira
de contas a receber:

Uma entidade tem Duplicatas a Receber, contabilizadas


em seu Ativo, no valor de R$800.000,00. Historicamente,
ao longo dos últimos três anos, foi constatada uma
inadimplência média de 20% do total das Duplicatas a
Receber nesses períodos. Assim, em obediências aos prin-
cípios contábeis, a entidade irá constituir uma conta redu-
tora do ativo Duplicatas a Receber, a fim de demonstra-lo
pelo seu menor valor, ou seja, aquele valor que, provavel-
mente, será efetivamente recebido.

Primeiramente, vamos calcular qual seria o valor da


perda estimada:

20% x 800.000 = R$160.000,00

Agora, vamos contabilizar esse valor:


Despesa com Perdas
Estimadas com Cré- Conta de
D R$160.000,00
ditos de Liquidação Resultado
Duvidosa
Perdas Estimadas
Conta de
C com Créditos de Li- R$160.000,00
Ativo
quidação Duvidosa
Valor referente às perdas estimadas
para créditos de liquidação duvidosa.

E os razonetes?
Despesa c/ Perdas Perdas Estimadas
Estimadas p/ Crédi- para Créditos de Liq
260
tos de Liq Duv Duvidosa
D C D C
Contabilidade Financeira

160.000 160.000

160.000 160.000

No Balanço Patrimonial, teríamos:

Duplicatas a Receber R$800.000,00

Perdas Estimadas para Créditos de Liquidação


Duvidosa (R$160.000,00)

Vamos supor agora que, nesse exemplo, o setor de


cobrança da entidade foi extremamente eficiente e 30% dos
possíveis inadimplentes pagaram seus débitos dentro do
período base. Conclui-se que metade da perda estimada foi
desnecessária. Assim, é preciso reverter esse valor da perda
estimada excedente.
Vamos calcular qual seria esse valor:
Perdas estimadas = R$160.000,00

Valor dos débitos liquidados pelos inadimplentes = 30% x


160.000 = R$48.000,00

Valor da perda estimada realizada = 160.000 – 48.000 =


R$112.000,00

Portanto, R$48.000,00 é o valor da perda estimada a ser


revertido.
Vamos contabilizar?
1 – Pelo recebimento dos créditos
Conta de 261
D Caixa R$48.000,00
Ativo

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


Conta de
C Duplicatas a Receber R$48.000,00
Ativo
Recebimento de duplicatas a receber
de diversos clientes.

2 – Pela reversão parcial das perdas estimadas


Perdas Estimadas
Conta de
D para Créditos de R$48.000,00
Ativo
Liquidação Duvidosa
Receita de Reversão Conta de
C R$48.000,00
de Provisões Resultado
Valor referente à reversão parcial de
provisão constituída para créditos de
liquidação duvidosa.

Razonetes:
1 – Pelo recebimento dos créditos
Caixa Duplicatas a Receber
D C D C
48.000 800.000 48.000

752.000
2 – Pela reversão parcial da perda estimada

Perdas Estimadas
Receitas de Reversão
para créditos de Liq
de Provisões
Duvidosa
D C D C
48.000 160.000 48.000

112.000 48.000

Nesse exemplo foi constituída uma perda estimada no


valor de R$160.000,00, tendo sido revertido posteriormente
o valor de R$48.000,00, permanecendo um saldo de perdas
262 estimadas no valor de R$112.000,00. Os créditos a receber de
alguns clientes, no valor de R$83.000,00, computado nesse
Contabilidade Financeira

saldo, foram considerados incobráveis, ou seja, não há qual-


quer possibilidade de recebimento pela entidade em questão.
Isso significa que a perda deixou de ser “estimada” e passou
a ser “realizada”, ou seja, se tornou uma perda real. Vejamos
como seria a contabilização:

Realização da perda estimada quando a entidade considerar


que os créditos aos quais ela se refere realmente não serão recebidos,
ou seja, são incobráveis
<
Perdas Estimadas
Conta de
D para Créditos de R$83.000,00
Ativo
Liquidação Duvidosa
Conta de
C Duplicatas a Receber R$83.000,00
Ativo
Valor da realização de perdas estima-
das referentes a créditos incobráveis.
Usando razonetes:
Perdas Estimadas
Duplicatas a
para créditos de Liq
Receber
Duvidosa
D C D C
48.000 160.000 800.000 48.000

83.000 83.000

29.000 669.000

Ao final do ano base, a nossa entidade concluiu que a


sua carteira de duplicatas a receber, na realidade, tinha um
número maior de créditos “podres”, ou seja, de créditos sem
condições de recebimento, cujo valor de R$55.000,00 excedia o 263
saldo das perdas estimadas. Nesse caso, em se considerando

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


que se trata de perda real, o valor excedente deverá ser levado
diretamente ao resultado do período, da seguinte forma:

Valor das perdas efetivas R$55.000,00


Saldo das perdas estimadas (R$29.000,00)
Valor a ser contabilizado como perdas do período
R$26.000,00

Baixa dos créditos como perdas efetivas do período quando o


valor da estimativa já constituída tenha sido inferior às perdas real-
mente incorridas

Despesas de Vendas
/ Perdas com cré- Conta de
D R$26.000,00
ditos de liquidação Resultado
duvidosa
Perdas Estimadas
Conta de
D para Créditos de Li- R$29.000,00
Ativo
quidação Duvidosa
Conta de
C Duplicatas a Receber R$55.000,00
Ativo
Valor da realização de perdas
efetivas com créditos incobráveis
Os razonetes seriam estes:
Perdas Estimadas Perdas Estimadas
Duplicatas a
para créditos de Liq com créditos de Liq
Receber
Duvidosa Duvidosa
D C D C D C
48.000 160.000 800.000 48.000 26.000
83.000 83.000
29.000 55.000

- 614.000 26.000 (1)

Ajuste ao valor presente


O ajuste ao valor presente também já foi estudado
264
na Aula 3 e, naquela ocasião, coincidentemente usamos um
exemplo relativo às duplicatas a receber de uma indústria
Contabilidade Financeira

moveleira. Vamos rever esse exemplo?


Uma indústria moveleira vendeu, a prazo, em determi-
nado período, móveis para escritório no valor de R$600.000,00,
sendo que R$100.000,00 correspondem aos juros embutidos
na operação.

Contabilização da venda
Conta de
D Duplicatas a Receber R$600.000,00
Ativo
Receita Bruta de Conta de
C R$600.000,00
Vendas Resultado
Valor referente à venda de móveis
para escritório.

Qual seria o valor presente dessa transação?


Grosseiramente, uma vez que não conhecemos a taxa
de juros utilizada e nem o prazo das transações, pode-se afir-
mar que o valor presente da operação é:

R$600.000,00 (valor da venda) - R$100.000,00 (valor dos


juros) = R$500.000,00 (VP)
Em situações reais, a determinação do ajuste ao valor
presente requer, basicamente, as seguintes informações:
1. O valor do fluxo futuro de caixa (entradas e saídas
de caixa ocorridas por conta do ativo ou passivo
analisado);
2. A data em que o fluxo futuro de caixa vai ocorrer;
3. A taxa de desconto a ser utilizada para o cálculo do
valor presente.
A taxa de desconto corresponderá à taxa efetiva da
transação ou, nos casos em que essa taxa não for indicada,
utiliza-se uma taxa de mercado aplicável, praticada em tran-
sações semelhantes. 265
O ajuste ao valor presente da nossa transação seria

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


contabilizado, no momento da venda, da seguinte forma:
Receita Bruta de Conta de
D R$100.000,00
Vendas Resultado
VP – Receita Conta de
C Financeira Comercial R$100.000,00 Ativo
a Apropriar (Redutora)
Valor referente ao ajuste ao valor pre-
sente de vendas a prazo do período.

Assim, no Balanço Patrimonial teríamos a seguinte


representação no Ativo

Duplicatas a Receber R$600.000,00


VP – Receita Financeira Comercial a Apropriar
(R$100.000,00)

À medida que transcorre o prazo da operação, a receita


financeira correspondente ao ajuste ao valor presente vai
sendo apropriada, de acordo com o regime de competência:
VP – Receita Finan- Pelo valor da
Conta de
D ceira Comercial a parcela men-
Ativo
Apropriar sal dos juros
Receita Financeira Conta de
C Idem
Comercial Resultado
Valor referente à apropriação de re-
ceita financeira comercial no período.

Muito bem! Aprendemos o essencial sobre esse impor-


tante grupo de contas do Ativo – Contas a Receber. Mas se esse
grupo de contas representa valores que a entidade tem a rece-
ber, porque afirmamos que ele é uma “aplicação de recursos”?
266 Analise a figura a seguir antes de responder:
ATIVO PASSIVO
Contabilidade Financeira

Estoque R$100,00
Origem R$100,00
(Aplicação)

Contas a Receber
R$100,00 + R$80,00 = CMV
R$180,00
Receita Origem
de Resultado = R$80,00
Caixa R$180,00 Vendas R$180,00- R$100,00

Total Aplicações = R$180,00 Total origens = R$180,00

Veja que o recurso original foi aplicado nos Estoques da


entidade. Posteriormente, ao vendê-lo, obteve-se uma
receita líquida, ou seja, a receita de vendas deduzida do
custo das mercadorias vendidas de R$80,00. Esse resul-
tado figurará no Patrimônio Líquido da entidade como
capital próprio, isto é, uma “origem”.
No momento da venda o que ocorreu foi uma “transferên-
cia” da aplicação de R$100,00 dos Estoques para Contas
a Receber. A receita líquida/origem de R$80,00, se realiza
como aplicação efetiva quando do recebimento da venda,
pela entrada de recursos no Caixa. Assim, observa-se que
a aplicação que, inicialmente, foi feita em Estoques, agora
está no Caixa, acrescida da receita líquida ou lucro de
R$80,00. Sabemos que o lucro pertence aos sócios ou acio-
nistas, certo? Portanto, são eles que estão “financiando” os
R$80,00 que está no caixa.

6.6

I nvestimentos permanentes
Investimentos permanentes são as aplicações de 267

recursos realizadas com o propósito de que os ativos cor-

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


respondentes venham a produzir benefícios pela sua “per-
manência” na entidade e não pelo seu envolvimento direto
em suas atividades.

6.6.1 Classificação
Os investimentos permanentes são classificados no
Ativo Não Circulante, no subgrupo Investimentos. O artigo
179 – III da Lei nº 6.404/76 determina que devem ser classifi-
cadas nesse grupo “as participações permanentes em outras
sociedades e os direitos de qualquer natureza, não classificá-
veis no ativo circulante, e que não se destinem à manutenção
da atividade da companhia ou da empresa”. Entende-se aqui
que a lei é aplicável também aos investimentos não classificá-
veis no Realizável em Longo Prazo, tendo ocorrido uma falha
na sua redação.
Entre os investimentos permanentes, destacam-se
a) As participações permanentes em outras socieda-
des que representam a participação da sociedade no
capital de outras sociedades por meio da aquisição de
ações ou quotas;
b) As propriedades para investimentos são representa-
das por imóveis mantidos para aluguel, arrendamento ou
especulação, tendo em vista uma possível venda futura;
c) Outros investimentos permanentes representados
por imóveis destinados a uso futuro, obras de arte etc.
Investimentos não permanentes, mas classificáveis
no Realizável em Longo Prazo, são denominados
Investimentos Temporários.

6.6.2 Avaliação
Os investimentos permanentes são avaliados de acordo
268 com a sua natureza, destacando-se:
• Participações permanentes em outras sociedades:
Contabilidade Financeira

avaliadas por equivalência patrimonial, valor justo ou


custo, dependendo das suas características;
• Propriedades para investimento: avaliadas pelo
valor justo ou custo;
• Outros investimentos permanentes: avaliados pelo
custo.

6.7

I mobilizado (ativos fixos)


O grupo Imobilizado é caracterizado por congregar os
ativos destinados à “exploração” e à manutenção das ativida-
des-fim da entidade.

6.7.1 Classificação
Segundo o artigo 179 – IV da Lei nº 6.404/76, serão clas-
sificados como Imobilizado os direitos que tenham por objeto
bens corpóreos que se destinem à manutenção das atividades
da companhia, incluindo os direitos decorrentes de opera-
ções que transfiram para ela os riscos e controles desses bens.
Também são classificáveis no Imobilizado, as florestas
para exploração ou os direitos contratuais de exploração de
florestas de prazo maior que dois anos, florestas destinadas a
cortes e adiantamentos a fornecedores de máquinas, equipa-
mentos ou outros bens destinados à manutenção ou explora-
ção das atividades da entidade.
O grupo de contas do Imobilizado se subdivide nos
seguintes subgrupos:
269
• Bens em operação;

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


• Depreciação, amortização e exaustão acumulada;
• Imobilizado em andamento;
• Perdas estimadas por redução ao valor recuperável.
No caso de ativos biológicos (animais e vegetais), pró-
prios de atividades pecuárias ou agrícolas, o elenco de contas
é tratado em normativos específicos.
São ainda classificáveis como Imobilizado:

• Despesas com mão de obra na fabricação de bens ou


construção de imóveis de uso próprio que devem ser
acrescidos aos respectivos custos;
• Impostos de importação, despesas de importação e
fretes e carretos relacionados à importação de máqui-
nas e equipamentos;
• Todos os impostos pagos na aquisição de bens
do Imobilizado, exceto o imposto de transmissão
ou outros impostos que a legislação correspondente
admita a recuperação;
• Contribuição de melhoria;
• Benfeitorias em imóveis de terceiros, desde que se
agreguem à propriedade de terceiros e aumentem o
valor do bem;
• Corretagem na aquisição do imóvel.
Os juros incidentes sobre o financiamento de bens do
Imobilizado não deverão integrar o valor de custo do bem.

6.7.2 Avaliação
O artigo 183 – V da Lei nº 6.404/76 determina que os
direitos classificados no imobilizado serão avaliados pelo
270 custo de aquisição, deduzido do saldo da respectiva depre-
ciação, amortização ou exaustão.
Contabilidade Financeira

Além desse critério, o Imobilizado também deve ser


deduzido das perdas estimadas por redução ao valor recupe-
rável (Impairment), segundo as disposições do Pronunciamento
Técnico CPC 01 – Redução ao Valor Recuperável de Ativos.

6.7.3 Escrituração
Vamos simular algumas situações que envolvem ativos
imobilizados.

1. Compra de máquina para o Imobilizado, no total de


R$20.000,00, tendo sido pago um adiantamento no valor de
R$10.000,00 com entrega prevista para 60 dias.

Pela realização do adiantamento

Imobilizações em Conta de
D R$10.000,00
Andamento Ativo
Bancos conta Conta de
C R$10.000,00
Movimento Ativo
Valor referente a adiantamentos por
conta de imobilizações.
Pelo recebimento do bem e respectivo pagamento restante
Máquinas e Conta de
D R$20.000,00
Equipamentos Ativo
Imobilizações em Conta de
C R$10.000,00
Andamento Ativo
Bancos conta Conta de
C R$10.000,00
Movimento Ativo
Valor referente à aquisição de máqui-
na conforme NF XXX.

Bancos Conta Imobilização Máquinas e


Movimento em Andamento Equipamentos
(SI) 50.000 10.000 (1) (1) 10.000 10.000 (2) (2) 20.000
10.000 (2) 271

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


2. Baixa pela venda de um veículo no valor de
R$28.000,00, cujo valor contábil líquido, na data da venda,
era de R$20.000,00, sendo R$30.000,00 o valor de custo e
R$10.000,00, o saldo da depreciação acumulada.

Apuração do valor do ganho de capital:


R$28.000,00 - R$20.000,00 = R$8.000,00

Bancos conta Conta de


D R$28.000,00
Movimento Ativo
Conta de
Depreciação
D R$10.000,00 Ativo
Acumulada
(Redutora)
Conta de
C Veículos R$30.000,00
Ativo
Conta de
C Ganho de Capital R$8.000,00
Resultado
Valor referente à venda do veículo
XHK.
Bancos Conta Depreciação
Veículos
Movimento Acumulada
(1) 28.000 (SI) 30.000 30.000 (1) (1) 10.000 10.000 (SI)

Ganho de
Capital
8.000 (1)

3. Baixa pela venda de um veículo no valor de


272 R$15.000,00, cujo valor contábil líquido, na data da venda,
era de R$20.000,00, sendo R$30.000,00 o valor de custo e
Contabilidade Financeira

R$10.000,00, o saldo da depreciação acumulada.

Apuração do valor da perda de capital:


R$15.000,00 - R$20.000,00 = (R$5.000,00)

Bancos conta Conta de


D R$15.000,00
Movimento Ativo
Conta de
Depreciação
D R$10.000,00 Ativo
Acumulada
(Redutora)
Conta de
D Perda de Capital R$5.000,00
Resultado
Conta de
C Veículos R$30.000,00
Ativo
Valor referente à venda do veículo
XHK.
Bancos Conta Depreciação
Veículos
Movimento Acumulada
(1) 15.000 (SI) 30.000 30.000 (1) (1) 10.000 10.000 (SI)

Perda de Capital

(1) 5.000

6.8
273

I ntangíveis

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


Os Ativos Intangíveis, como o próprio nome sugere,
dizem respeito aos bens incorpóreos da entidade.
O Pronunciamento Técnico CPC 04 – Ativo Intangível
define esse ativo como sendo um ativo não monetário identi-
ficável, sem substância física.

6.8.1 Classificação
Segundo o artigo 179 - VI da Lei nº 6.404/76, devem ser
classificados como Intangíveis “os direitos que tenham por
objeto bens incorpóreos destinados à manutenção da compa-
nhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de
comércio adquirido”.
São exemplos de Intangíveis: marcas e patentes, fundo
de comércio28 adquirido, softwares, direitos de exploração de
serviços públicos mediante concessão ou permissão do Poder
Público etc.

28. Fundo de Comércio (Goodwill): denominação do conjunto de direitos favoráveis ao comerciante


e que incluem bens materiais e imateriais.
6.8.2 Avaliação
A forma de avaliação de um Intangível está condicio-
nada à determinação ou não da sua vida útil.

Intangível com vida útil definida = amortização pelo


tempo de vida útil do ativo e teste de valor recuperável
(Impairment);
Intangível sem vida útil definida = teste de valor recupe-
rável (Impairment)

6.8.3 Escrituração
A escrituração de um ativo intangível, seja na sua
aquisição ou baixa pela venda, bem como no que se refere
274
à sua amortização, quando aplicável, em nada difere de um
Imobilizado.
Contabilidade Financeira

Chegamos ao fim de mais uma aula! Quantos concei-


tos novos, não? Mas, se analisarmos com mais calma, vamos
ver que a maioria deles já foram abordados em aulas prece-
dentes. Na realidade, fizemos uma grande revisão, aprofun-
dando alguns conhecimentos. Nesta aula, os conceitos foram
concentrados de forma a fornecer uma visão global das con-
tas do Ativo e, consequentemente, das aplicações dos recur-
sos de uma entidade.
Antes de checarmos se conseguimos alcançar nossos
objetivos, aí vai a resposta da questão sobre o recebimento de
uma duplicata ser uma origem ou uma aplicação de recursos:

O recebimento do valor de uma duplicata por meio de


cheque pré-datado é uma origem ou uma aplicação de
recursos? E se o cheque for à vista?
Resposta: Em qualquer das duas situações, seja recebi-
mento com cheque pré-datado ou recebimento à vista,
houve uma troca entre ativos (Cheques a Receber ou
Bancos Conta Movimento X Clientes) e, portanto, não
ocorreu nenhuma nova aplicação ou, tampouco, origem.
Objetivos de aprendizagem
‚‚Conhecemos as principais aplicações de recursos e suas
peculiaridades?
‚‚Conhecemos as características de cada grupo de contas?
‚‚Conhecemos e aprendemos a aplicar os conceitos básicos
de mensuração e avaliação dos principais ativos de uma
entidade?
‚‚Aprendemos como realizar a escrituração de fatos contá-
beis que envolvam os ativos de uma entidade?

Muito bem! Após essa autoavaliação já podemos nos


preparar para a próxima aula. Nela, vamos estudar outro dos 275
principais ativos/aplicações de uma entidade – os Estoques.

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


Vamos relembrar?
A Aula 6 nos possibilitou estudar os grupos de contas do
Ativo, exceto o grupo de Estoques que será estudado na
próxima aula, conhecendo suas principais características,
formas de avaliação e escrituração, buscando entender tais
grupos no contexto de “aplicações” dos recursos captados.
Revimos as condições para classificação dos ativos como
Ativos Circulantes ou Não Circulantes e passamos a estu-
dar cada um dos grupos de contas que os compõem.
Começamos com o primeiro deles, o Disponível e, dentro
dele, estudamos o que significa a denominação Caixa e
Equivalentes de Caixa. Aprendemos a constituir um fundo
fixo de caixa e a contabilizar sua reposição. Conhecemos
as características gerais, a avaliação e a contabilização das
aplicações financeiras, inclusive das aplicações em ouro.
Estudamos o Contas a Receber, sua composição, avaliação
e contabilização das duplicatas a receber, além de termos
revisto a constituição das perdas estimadas em créditos
de liquidação.
Finalizamos estudando as aplicações de caráter perma-
nente, conhecendo as disposições gerais que norteiam
a classificação dessas aplicações como Investimentos,
Imobilizado e Intangível.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO E
AUTOAVALIAÇÃO
O texto a seguir classifica os “intangíveis” de uma institui-
ção financeira como seus “maiores ativos”. Analise o texto e
responda:
• O valor dos ativos citados no texto estarão demons-
trados no Balanço Patrimonial da instituição finan-
ceira? Justifique sua resposta.

O patrimônio intelectual, o capital humano e a


marca Bic Banco se constituem nos maiores ativos
da organização
276
O BICBANCO acumula conhecimentos, experiências, con-
dutas e práticas que se transformaram em bens intangí-
Contabilidade Financeira

veis para a Organização. Dentre os ativos intangíveis mais


importantes estão sua marca, sua forte presença nas prin-
cipais cidades e capitais do país, sua expertise nos diversos
mercados em que atua, seus sistemas de gerenciamento
de riscos e principalmente a capacidade de inovação do
seu qualificado capital humano. Desde a sua fundação,
a Instituição se dedica a financiar a atividade produtiva
e acumula experiência significativa no setor de crédito.
Para atender à demanda de seus clientes e às necessida-
des do Banco foram desenvolvidas metodologias próprias,
ferramentas e processos que se tornaram um diferencial,
seja na operacionalização dos negócios ou nos sistemas de
controle e avaliação de concessão de crédito.
O foco na área de middle market por mais de duas déca-
das também gerou valor intangível para a Organização.
Ao longo desse período, seus profissionais desenvolveram
expertise nesse segmento e em suas peculiaridades, o que
resultou no maior ativo intangível do Banco: seu patrimô-
nio intelectual e humano. A consciência desse patrimônio
levou o Banco a elaborar mecanismos para reter esse conhe-
cimento e reconhecer a competência de seus profissionais.
Cabe às pessoas e à sua experiência os méritos pelas inú-
meras conquistas e prêmios obtidos seguidamente pela
Instituição, fatores que reforçam sua reputação frente aos
acionistas e ratificam as qualidades de sua marca.
MARCA E IMAGEM
A marca BICBANCO é um de seus maiores bens, por
estar aliada a conceitos como segurança, solidez, confia-
bilidade, dinamismo, integridade e responsabilidade cor-
porativa. Esta imagem institucional positiva é fruto de 70
anos de lisura em sua atuação e do comprometimento do
banco com seus clientes. Para fortalecer essa marca e soli-
dificar ainda mais os atributos associados a sua imagem,
o Banco estabelece princípios e políticas de atuação e con-
duta, que orientam suas ações em todas as iniciativas.
O Banco desenvolve campanhas publicitárias, destinada
ao seu público-alvo, investe no contato com a mídia e
supre de informações os interessados em seus meios de
comunicação e materiais institucionais, com o objetivo de
tornar sua marca mais conhecida e proporcionar suporte 277
a suas atividades.
Fonte: http://www5.bicbanco.com.br/RAO/2010/port/ra/10.

Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes


htm

Resolução:
Realmente os ativos citados no texto são muito valiosos para
qualquer entidade, entretanto, tais ativos não atendem às
condições necessárias para serem contabilizados e, portanto,
não aparecem nos balanços. O valor de uma marca pode cair,
vertiginosamente, de um dia para o outro; o capital intelectu-
al gerado pelos recursos humanos, também pode ser perdido
sem nenhum aviso, basta que as pessoas que agregam esse
valor resolvam sair da empresa! Tais ativos só podem ser di-
vulgados em textos promocionais como o que foi apresentado
e nos relatórios anuais das empresas.

LEITURAS RECOMENDADAS
BANCO DO BRASIL. Cartilha CDB final. Disponível em:
http://www.bb.com.br/docs/pub/voce/dwn/CartilhaCDB.pdf

MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis. 7 ed.


São Paulo: Atlas, 2012
LIN K S INDICADOS
www.cfc.org.br
www.cpc.org.br

REFER ÊNCIAS
GRECO, A.; AREND, L. Contabilidade: teoria e prática bási-
cas. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

IUDÍCIBUS, S. de et al. Manual de contabilidade societária.


São Paulo: Atlas, 2010.

278
Contabilidade Financeira
Principais aplicações de recursos: ativos circulantes e não circulantes
279
(7)

E stoques e operações com


mercadorias
Olá prezados alunos,
Reta final! Penúltima porta! Mais um pequeno trecho a
percorrer na busca de conhecimento! Busca esta que deve ser
constante e sempre renovada, para que todas as “nossas por-
tas” permaneçam abertas!
Nesta etapa vamos estudar o ativo mais importante de
uma empresa industrial ou comercial – seus estoques. Porque
o mais importante? Porque são os estoques que retratam a ati-
vidade principal de uma empresa.
Uma empresa de serviços não possui estoques físicos, a
não ser de materiais utilizados na prestação dos seus serviços
e, neste caso, embora também importantes, tais estoques não
têm o mesmo significado para a contabilizada, mas isso não
quer dizer que tais empresas não precisem se preocupar com
sua gestão financeira. Ao contrário, com a crescente partici-
pação do setor de serviços na economia, os ativos intangíveis
que compõem os estoques das empresas desse setor merecem
especial atenção.
São os recursos aplicados/investidos nos estoques que
deverão produzir os resultados necessários para garantir o
sucesso e a continuidade da entidade – razão da sua impor-
tância. Uma boa gestão dos estoques pode ser vital para
garantir a sobrevivência de uma empresa.
Como se pode observar, já que estamos enfatizando os
recursos investidos em estoques, então, não se pode disso-
284
ciar a gestão desses estoques da respectiva gestão financeira.
Contabilidade Financeira

Pelo contrário, elas se fundem, pois aspectos como quanti-


dade, qualidade, tempo de produção, reposição, segurança,
controle, financiamento, entre outros, afetam não só os esto-
ques físicos, mas, sobretudo, as finanças das empresas.
Assim, com o objetivo principal de conhecer os funda-
mentos gerais da composição, controle e contabilização dos esto-
ques e, em particular, dos estoques de mercadorias, nesta aula
teremos como meta alcançar os seguintes objetivos específicos:

Objetivos de aprendizagem
‚‚Compreender a importância dos estoques na gestão
financeira das empresas;
‚‚Conhecer as principais formas de controle dos estoques;
‚‚Conhecer e escriturar as operações de compra e venda
de mercadorias;
‚‚Conhecer e escriturar as operações correlatas às com-
pras e às vendas de mercadorias;
‚‚Conhecer e escriturar mercadorias em consignação e
outros aspectos envolvendo transações com mercadorias.

O desenvolvimento do conteúdo a ser estudado obede-


cerá à seguinte ordem:
7.1 Conceitos de estoque e sua importância na gestão
financeira
7.1.1 Conceitos
7.1.2 Gestão financeira e gestão de estoques
7.2 Inventários: periódico e permanente
7.2.1 Inventário periódico
7.2.2 Inventário permanente
7.3 Avaliação dos estoques
7.3.1 Apuração do custo dos estoques
7.3.2 PEPS – Primeiro que entra é o primeiro que sai
7.3.3 Custo Médio Móvel
7.4 Impostos e contribuições nos estoques
285
7.4.1 ICMS s/ obre Compras

Estoques e operações com mercadorias


7.4.2 IPI sobre Compras
7.4.3 PIS/COFINS sobre Compras
7.5 Compras de mercadorias
7.5.1 Fretes sobre compras
7.5.2 Bonificações recebidas
7.5.3 Abatimentos sobre compras
7.5.4 Devolução de compras
7.5.5 Descontos comerciais obtidos
7.5.6 Descontos financeiros obtidos
7.5.7 Adiantamentos a fornecedores
7.6 Vendas
7.6.1 Fretes sobre vendas
7.6.2 Vendas com cartões de crédito
7.6.3 Descontos comerciais
7.6.4 Bonificações concedidas
7.6.5 Devolução de vendas
7.6.6 Abatimento sobre vendas
7.6.7 Descontos financeiros concedidos
7.6.8 Adiantamentos recebidos de clientes
7.7Mercadorias em consignação
7.8 Quebras ou perdas de estoque
7.9 Resultados com mercadorias
Bom estudo a todos!
7.1

Conceitos de estoque e sua


importância na gestão
financeira

286 7.1.1 Conceitos


O Pronunciamento Técnico CPC 16 – Estoques, aprovado
Contabilidade Financeira

pela Resolução CFC nº 1.170/09, afirma que estoques são ativos:


a) Mantidos para venda no curso normal dos negócios;
b) Em processo de produção para venda; ou
c) Na forma de materiais ou suprimentos a serem con-
sumidos ou transformados no processo de produção
ou na prestação de serviços.
Iudícibus et al (2010, p. 72) define estoques como “bens
tangíveis ou intangíveis adquiridos ou produzidos pela
empresa com o objetivo de venda ou utilização própria no
curso normal de suas atividades”.
No que se refere ao estoque de ativos intangíveis, estes
não são tratados no grupo de contas de Estoques. Devido às
suas características, tais estoques são contabilizados como
Ativos Especiais.
Normalmente, os Ativos Especiais dizem respeito a
atividades que não se enquadram no conceito tradicional de
produção de manufaturas ou comércio de mercadorias como,
por exemplo, a produção de filmes, cujos direitos podem ser
integralmente comercializados ou podem, somente, ser objeto
de cessão de direitos de exibição. Trata-se de conteúdo artís-
tico-cultural, ou seja, um “estoque” intangível, assim como
softwares que são produzidos ou adquiridos com o objetivo
de comercialização dos direitos de uso. Tais ativos serão estu-
dados em outro momento do curso.
O grupo de contas de Estoques deve contemplar a exis-
tência de subcontas que permitam visualizar seus principais
componentes. São exemplos de contas que devem fazer parte
desse grupo:
• Produtos acabados;
• Produtos em elaboração;
• Mercadorias para revenda; 287

• Mercadorias em trânsito;

Estoques e operações com mercadorias


• Mercadorias entregues em consignação;
• Importações em andamento;
• Almoxarifado;
• Adiantamentos a fornecedores;
• Perda estimada para redução ao valor realizável
líquido;
• Perda estimada em estoques;
• Ajuste ao valor presente.

7.1.2 Gestão financeira e gestão de estoques


Os estoques representam as principais operações de
uma empresa e, consequentemente, a razão que motivou a
sua criação. Uma indústria existe para fabricar produtos, uma
empresa comercial para comercializá-los, os estoques, por sua
vez, retratam exatamente o que a empresa está fabricando ou
já fabricou ou o que ela tem de mercadorias a comercializar.
Desses estoques resultará a principal receita da entidade.
Partindo dessa premissa, é possível afirmar que a
maior parte dos recursos captados por uma entidade deve
ser direcionada para a produção dos seus estoques ou para
ativos que componham o processo produtivo (máquinas,
equipamentos etc.), visto que é daí que ela vai extrair seus
principais resultados.
Mas, resultados, além de receitas, envolvem também
custos/despesas, não é mesmo?
Veja só: os custos dos estoques representam as aplica-
ções de recursos que neles foram feitas. São, portanto, essas
aplicações que vão gerar as receitas, mas, se esses custos ou
aplicações não forem bem geridos ou se os estoques demora-
rem para serem vendidos, ou seja, demorarem para gerar as
288
receitas, o resultado obtido, com certeza, não será o esperado
Contabilidade Financeira

ou não será suficiente para que a entidade obtenha sucesso


na sua atividade.
O prazo que os estoques demoram para serem vendi-
dos, isto é, para gerar receitas, é chamado de “giro de esto-
ques”. Quanto menor for esse prazo, mais satisfatório será o
resultado e a gestão financeira da entidade.
A figura a seguir, utilizada em um exemplo da aula
anterior, pode nos ajudar a entender melhor esse processo:
ATIVO PASSIVO

Estoque R$100,00
Origem R$100,00
(Aplicação)

Contas a Receber
R$100,00 + R$80,00 = CMV
R$180,00
Receita Origem
de Resultado = R$80,00
Caixa R$180,00 Vendas R$180,00 - R$100,00

Total Aplicações = R$180,00 Total origens = R$180,00

A aplicação de R$100,00 transforma-se em resultado


de R$80,00 que é “acrescentado” ao caixa da empresa. Ou
seja, a aplicação de R$100,00 rendeu um “aporte” de recursos
de R$80,00. Quanto mais rápido for esse processo, melhores
serão os resultados obtidos.
Obviamente, a entidade poderá desenvolver outras ati-
vidades acessórias às suas atividades principais que lhe aju-
darão a compor o resultado obtido, mas o resultado das suas
operações é o que importa em qualquer tipo de análise, por
parte dos interessados no seu desempenho.
Muito bem! Se estivermos convencidos de que a ges-
tão do estoque é importante, vamos conhecer os detalhes que
289
impactam e facilitam essa gestão.

Estoques e operações com mercadorias


7.2

I nventários: periódico e
permanente
O que é inventário?

Inventário é um levantamento, uma relação dos bens com-


ponentes do estoque, com as respectivas quantidades.

A avaliação dos estoques ao final de um período qual-


quer, mas especialmente por ocasião do fechamento do
Balanço Patrimonial, é absolutamente necessária para a apu-
ração do resultado da empresa. É por meio dessa avaliação
que se determina o custo dos produtos ou das mercadorias
vendidas, conforme estudado na nossa Aula 4. Lembram-se
que, para a determinação desse custo, precisamos saber o
saldo final e o saldo inicial dos estoques?
CMV = Ei + Co - Ef
Onde:
✓ CMV = Custo das Mercadorias Vendidas
✓ Ei = estoque inicial de mercadorias
✓ Co = Valor líquido das compras de mercadorias no
período
✓ Ef = Estoque final de mercadorias

Pois bem, como “avaliar” corretamente os saldos contá-


290
beis dos estoques, sem saber a quantidade de cada componente
Contabilidade Financeira

presente neles? Concordam que, se houver erro nesses valores,


o resultado apurado também fica incorreto? A confirmação dos
saldos é feita por meio da confrontação com os inventários.
Iudícibus et al (2010, p. 92) comenta que “um aspecto
fundamental quanto aos estoques refere-se a uma correta
determinação de suas quantidades físicas na data do balanço”.
Esse aspecto, segundo os mesmos autores, tem “gerado dis-
torções significativas nas demonstrações financeiras de inú-
meras empresas, e nada adianta um bom critério de avaliação
e de custos se as quantidades estiverem erradas”.
Além dos aspectos contábeis e gerenciais, há uma exi-
gência fiscal para que o inventário dos estoques seja feito, no
mínimo, quando do fechamento do Balanço. Existe, inclusive,
a obrigatoriedade de escrituração de um livro de inventário
(obrigação fiscal acessória).
Existem, basicamente, dois tipos de inventários que
podem ser adotados pelas empresas: o inventário periódico e
o inventário permanente.

7.2.1 Inventário periódico


O sistema de inventário periódico, por ser mais simples,
não requer a existência de controles excessivamente detalha-
dos. É elaborado por meio da contagem física dos estoques, no
final de um período, razão da sua denominação “periódico”, que
pode ser o contábil (um ano) ou em períodos menores.
Neste caso, segundo Greco (2012, p. 242), “o registro contá-
bil do estoque das mercadorias ocorrerá apenas no final dos exer-
cícios, quando da contagem física das quantidades existentes”.
A apuração do custo das mercadorias vendidas exigirá
que as operações de compras, devoluções, abatimentos, fretes
e seguros sejam registradas em contas adequadas.
Adotando o sistema de inventário periódico, a empresa
291
não poderá optar pela avaliação dos seus estoques pelo custo

Estoques e operações com mercadorias


médio, que estudaremos ainda nesta aula.

7.2.2 Inventário permanente


O registro permanente de estoque compreende o con-
trole, por meio de fichas (em papel ou meio eletrônico), de
cada item que o compõe, registrando a sua movimentação em
quantidade, preço unitário e valor total.
Esse tipo de inventário possibilita que o custo das mer-
cadorias ou dos produtos vendidos sejam contabilizados no
ato da venda, sendo necessária a confrontação dos saldos
contábeis com o inventário (contagem física) no final do exer-
cício (dezembro), para atendimento à legislação fiscal.
Apesar de complexo é um sistema mais completo,
capaz de atender às exigências fiscais, à excelência dos regis-
tros contábeis, particularmente no que se refere à apuração
dos resultados da entidade e, principalmente, contribuir para
o processo decisório como instrumento gerencial.
7.3

Avaliação dos estoques


A avaliação dos estoques envolve dois aspectos: a
apuração do custo, principalmente para efeitos de apuração
do custo unitário dos produtos, mercadorias ou serviços e
apuração do custo das vendas; e a atualização do valor dos
292
estoques ao seu valor realizável líquido para efeito de apre-
sentação da correta situação patrimonial no Balanço.
Contabilidade Financeira

O Pronunciamento Técnico CPC 16 – Estoques determina


que os estoques sejam avaliados pelo valor do custo ou valor
realizável líquido, dos dois o menor, entendendo-se como tal, o
preço de venda estimado no curso normal dos negócios, dimi-
nuído dos custos estimados para a respectiva conclusão e dos
gastos estimados necessários para a concretização da venda.

7.3.1 Apuração do custo dos estoques


O principal problema encontrado na apuração dos custos é
o fato de que uma entidade pode ter o mesmo produto adquirido
em datas diferentes e a preços diferentes. Vamos ver um exemplo:
Suponha a existência de uma empresa comercial que
compra e vende televisores de uma única marca e modelo,
mas que, por força de interesses comerciais, adquire e vende
suas mercadorias em diferentes datas e, consequentemente
por diferentes preços de aquisição.
Em determinado período, a empresa em questão, que já
tinha um estoque anterior correspondente a 10 aparelhos de TV
a um custo unitário de R$810,00, efetuou 5 compras de 15 TVs,
em um total de 75 unidades a preços diferentes e em diferentes
datas. No mesmo período ela vendeu 60 aparelhos. Qual seria
o custo dos aparelhos vendidos a ser computado no resultado
Compras Vendas Saldo
Opera-
Datas R$ R$ R$
ções

Qtde.
Qtde.
Qtde.
Unit. Acumulado Unit. Acumulado Unit. Acumulado
Saldo Anterior 10 810,00 8.100,00 - 10 810,00 8.100,00
Compra Dia 02 15 812,00 12.180,00 - - - 25 ? 20.280,00
Compra Dia 05 15 813,00 12.195,00 - - - 40 ? 32.475,00
Venda Dia 05 - - - 10 ? 30 ? ?
Controle do estoque de TVs

Compra Dia 07 15 811,00 12.165,00 - - - 45 ? ?


Venda Dia 07 - - - 15 ? ? 30 ? ?
Venda Dia 15 - - - 5 ? ? 25 ? ?
Compra Dia 16 15 811,50 12.172,50 - - - 40 ? ?
Venda Dia 18 - - - 20 ? ? 20 ? ?
que seguir um critério lógico para sua apuração.

Compra Dia 20 15 812,00 12.180,00 - - - 35 ? ?


Venda Dia 30 - - - 10 ? ? 25 ? ?
lhado dos seus estoques. Mas, mesmo que tenha esse controle,
ser respondida se a empresa não mantiver um controle deta-
da referida empresa? Esta é uma questão quase impossível de

mesmo modelo, o valor do custo dos aparelhos vendidos terá


rentes valores, e os aparelhos de TV são da mesma marca e do
como as compras e vendas ocorrem em datas diferentes, a dife-

Estoques e operações com mercadorias


293
A partir da primeira operação de compra já não se sabe
qual o valor unitário das peças em estoque, pois ao saldo anterior
de 10, foram somadas 15 novas peças que custaram mais do que
aquelas que estavam armazenadas. Como apurar o valor unitá-
rio das peças quando ocorre qualquer tipo de movimentação?
Há várias formas de se apurar o valor do custo uni-
tário dos estoques e, por consequência, o valor do custo das
peças vendidas. Entretanto, somente duas delas são admiti-
das pelos Princípios Fundamentais de Contabilidade e, tam-
294
bém, pela legislação fiscal: “Custo Médio (Móvel e Fixo)” e
Contabilidade Financeira

“PEPS – Primeiro que Entra é o Primeiro que Sai”, do inglês


FIFO - First In First Out.
Dentre as diversas formas de se apurar o custo dos
estoques, pode-se destacar o UEPS – Último que Entra é o
Primeiro que Sai, do inglês LIFO – Last In First Out e o Custo
de Reposição. Não sendo permitidos contábil ou fiscalmente,
tais métodos somente são utilizados para fins gerenciais.
Outra prática possível para apuração do custo é o método
do Preço Específico, que consiste em controlar cada unidade
pelo valor efetivamente pago, o que só é possível quando a
quantidade, o valor e as características da mercadoria ou mate-
rial o permitam (Exemplo: revenda de automóvel usado).
Vamos abordar as duas metodologias mais utilizadas e
aceitas pelo fisco e pelas normas contábeis:

7.3.2 PEPS – Primeiro que entra é o primeiro


que sai
Esta avaliação baseia-se na premissa de que a primeira
peça que entrou no estoque será a primeira a ser baixada
quando ocorrer a venda.
Utilizando o mesmo exemplo anterior, teríamos a
seguinte situação:
Controle do estoque de TVs (PEPS)
Compras Vendas Saldo
Opera-
Datas R$ $ R$

Qtde.

Qtde.

Qtde.
ções
Unit. Acumul. Unit. Acumul. Unit. Acumul.
Saldo Anterior 10 810,00 8.100,00 - 10 810,00 8.100,00
Compra Dia 02 15 812,00 12.180,00 - - - 25 812,00 20.280,00
Compra Dia 05 15 813,00 12.195,00 - - - 40 813,00 32.475,00
Venda Dia 05 - - - 10 810,00 8.100,00 30 810,00 24.375,00
Compra Dia 07 10 811,00 8.110,00 - - - 45 811,00 32.485,00
Venda Dia 07 5 811,00 4.055,00 15 812,00 12.180,00 30 812,00 24.360,00
295
Venda Dia 15 - - - 5 813,00 4.065,00 25 813,00 20.295,00
Compra Dia 16 15 811,50 12.172,50 - - 40 811,50 32.467,50

Estoques e operações com mercadorias


Venda Dia 18 - - - 20 20 - 16.227,50
10 813,00 8.130,00
10 811,00 8.110,00
Compra Dia 20 15 812,00 12.180,00 - - - 35 812,00 28.407,50
Venda Dia 30 - - - 10 25 - 20.295,00
5 811,00 4.055,00
5 811,50 4.057,50

Composição do Saldo Final


10 peças 811,50 = 8.115,00
15 peças 812,00 = 12.180,00
20.295,00
CMV no período = 48.697,50

A ficha de controle de estoques permite a apuração do


custo das mercadorias na data da venda e, também, pelo perí-
odo desejado (soma dos valores da coluna Vendas/Acumulado).

7.3.3 Custo médio móvel


Esta avaliação consiste em apurar o custo médio uni-
tário da mercadoria (ou matéria-prima) da seguinte forma:
a) Adiciona-se ao saldo anterior o valor das compras e
divide-se o valor obtido pelo número total de peças em
estoque, obtendo-se o custo médio unitário até aquela data;
Contabilidade Financeira

296
Compras Vendas Saldo
Opera-
Datas R$ R$ R$

seguinte:
ções

Qtde.
Qtde.
Qtde.
Unit. Acumul. Unit. Acumul. Unit. Acumul.
Saldo Anterior 10 810,00 8.100,00 - 10 810,00 8.100,00
Compra Dia 02 15 812,00 12.180,00 - - - 25 811,20 20.280,00
Compra Dia 05 15 813,00 12.195,00 - - - 40 811,88 32.475,00
após essa data;

Venda Dia 05 - - - 10 811,88 8.118,80 30 811,87 24.356,20


Compra Dia 07 15 811,00 12.165,00 - - - 45 811,58 36.521,20
Venda Dia 07 - - - 15 811,58 12.173,70 30 811,58 24.347,50
Venda Dia 15 - - - 5 811,58 4.057,90 25 811,58 20.289,60
Compra Dia 16 15 811,50 12.172,50 - - - 40 811,55 32.462,10
Venda Dia 18 - - - 20 811,55 16.231,00 20 811,56 16.231,10
Compra Dia 20 15 812,00 12.180,00 - - - 35 811,75 28.411,10
Venda Dia 30 - - - 10 811,75 8.117,50 25 811,74 20.293,60
48.698,90
Controle do estoque de TVs (Custo Médio)

Saldo final: 20.293,60


-se o resultado pelo número total de peças em estoque.

CMV: 48.698,90
c) Apura-se o novo custo médio unitário, subtraindo-se do

No exemplo anterior, a situação do estoque seria a


saldo anterior, o valor do custo da última venda e dividindo-
custo total da venda, na ocorrência da primeira venda,
b) Multiplica-se esse custo médio unitário pela quan-
tidade de peças vendidas para apuração do valor do
Essa metodologia de apuração de custos dos estoques
é muito utilizada.

7.4

I mpostos e contribuições nos


estoques
297
Alguns impostos e contribuições incidentes sobre

Estoques e operações com mercadorias


componentes do estoque têm caráter não cumulativo, ou seja,
podem ser compensados com aqueles devidos pela entidade.
Dessa forma, há que dar um tratamento contábil especial
para esses impostos e contribuições. Tais impostos e contri-
buições não devem integrar o custo dos estoques e devem ser
deduzidos da Receita de Vendas, conforme já estudado na
DRE – Demonstração do Resultado do Exercício.
Vamos estudar o tratamento dos impostos e das con-
tribuições incidentes sobre as compras, uma vez que aque-
les incidentes sobre as vendas já foram estudados em nossa
Aula 4.

7.4.1 ICMS sobre compras


Como já mencionado, os impostos recuperáveis inci-
dentes sobre compras não podem ser computados como custo
de aquisição.
Vamos supor que uma empresa tenha adquirido, a
prazo, mercadorias para revenda no valor de R$100.000,00,
com um ICMS embutido de 18% - R$18.000,00. Na venda
dessas mercadorias, também a prazo, por R$120.000,00,
a empresa gerou uma obrigação de recolher um ICMS, à
mesma alíquota, no valor de R$21.600,00. Vejamos como fica-
ria a contabilização:
Pela compra da mercadoria

Mercadorias para Conta de


D R$82.000,00
Revenda (Estoques) Ativo
Impostos a Conta de
D R$18.000,00
Recuperar – ICMS Ativo
Conta de
C Fornecedores R$82.000,00
Passivo
Valor referente à compra de
mercadorias para revenda
298
Pela venda da mercadoria
Contabilidade Financeira

Conta de
D Clientes R$120.000,00
Ativo
Conta de
C Vendas (Receitas) R$120.000,00
Resultado
Valor referente à venda de
mercadorias

Pela obrigação de recolhimento do ICMS

Conta de
Impostos sobre Resultado
D R$21.600,00
Vendas (Receitas) (Redutora da
Receita)
Impostos a Recolher Conta de
C R$21.600,00
– ICMS Passivo
Valor referente ao ICMS sobre venda

Pela compensação do ICMS pago na compra

Impostos a Recolher Conta de


D R$18.000,00
– ICMS Passivo
Impostos a Recu- Conta de
C R$18.000,00
perar – ICMS Ativo
Valor referente à compensação de
ICMS pago sobre compras
Pela apropriação do custo da mercadoria

Custo da Mercadoria Conta de


D R$82.000,00
Vendida Resultado
Mercadorias para Conta de
C R$82.000,00
Revenda (Estoques) Ativo
Valor referente à apropriação de
custo de mercadoria vendida

Pelo recolhimento do ICMS


299
Impostos a Recolher Conta de Pas-
D R$3.600,00

Estoques e operações com mercadorias


- ICMS sivo
Bancos - Conta Conta de
C R$3.600,00
Movimento Ativo
Valor referente à compensação de
ICMS pago sobre compras

Razonetes:
Mercadorias para ICMS a
Clientes
Revenda Recuperar
(1) 82.000 82.000 (4) (2) 120.000 (1) 18.000 18.000 (5)

ICMS a
Fornecedores Vendas
Recuperar
100.000 (1) 120.000 (2) (5) 18.000 21.600 (3)
(6) 3.600

Impostos para Custo da Merca- Bancos Conta


Revenda doria Vendida Movimentp
(3) 21.600 (4) 82.000 (SI) 15.000 3.600 (6)
7.4.2 IPI sobre compras
No caso de o IPI também ser recuperável para a enti-
dade, os procedimentos relativos à contabilização serão idên-
ticos ao ICMS.

7.4.3 PIS/COFINS sobre compras


As contribuições não cumulativas ao PIS e à COFINS,
também compensáveis, seguirão o mesmo critério de conta-
bilização do ICMS.
300

7.5
Contabilidade Financeira

Compras de mercadorias
Para ilustrar a contabilização de uma operação de com-
pra de mercadoria, utilizaremos o mesmo exemplo indicado
na contabilização do ICMS:
Pela compra da mercadoria
Mercadorias para Conta de
D R$82.000,00
Revenda (Estoques) Ativo
Impostos a Conta de
D R$18.000,00
Recuperar – ICMS Ativo
Conta de
C Fornecedores R$82.000,00
Passivo
Valor referente à compra de
mercadorias para revenda

Pelo pagamento ao fornecedor


Bancos - Conta Conta de
D R$100.000,00
Movimento Ativo
Conta de
C Fornecedores R$100.000,00
Passivo
Valor referente pagamento a
fornecedores de mercadorias
Razonetes:

Mercadorias Bancos Conta


Fornecedores
para Revenda Movimento
(1) 82.000 (2) 100.000 100.000 (1) (SI) 150.000 100.000 (2)

ICMS a
Recuperar
(1) 18.000
301

Estoques e operações com mercadorias


7.5.1 Fretes sobre compras
Os fretes pagos sobre compra de mercadorias integra-
rão o valor do custo dos estoques. Vamos supor que no exem-
plo acima tenha ocorrido a seguinte situação:

Mercadoria R$95.000,00
Fretes sobre compras R$5.000,00
Valor a ser contabilizado com custo da mercadoria R$100.000,00

Como se pode observar, o frete pago integra o valor do


custo do estoque.

7.5.2 Bonificações recebidas


As bonificações são constituídas de unidades de mer-
cadorias oferecidas ao comprador, em razão do volume de
compras, promoções ou deferência especial do fornecedor.
Exemplo: Supondo que a Luz Azul Comércio de
Materiais Elétricos Ltda. tenha recebido uma bonificação
no valor de R$5.000,00, já incluso um ICMS de R$900,00. Tal
bonificação seria registrada da seguinte forma:
Pelo recebimento da bonificação
Conta de
D Estoques R$4.100,00
Ativo
Impostos a Conta de
D R$900,00
Recuperar – ICMS Ativo
Bonificações Recebi-
Conta de
C das (Outras Receitas R$5.000,00
Resultado
Operacionais)
Valor referente ao pagamento a
fornecedores de mercadorias
302

7.5.3 Abatimento sobre compras


Contabilidade Financeira

O “abatimento” sobre compras não é um desconto


comercial ou, tampouco, financeiro, trata-se de uma compen-
sação concedida pelo fornecedor ao comprador por conta de
avarias nos produtos durante o transporte, defeitos ou outras
anomalias que caracterizem diferença entre o que foi pedido
e o que foi efetivamente entregue.
Supondo que uma empresa tenha recebido um abati-
mento de R$1.500,00 em compra efetuada, a prazo, e já con-
tabilizada pelo seu valor de custo, o lançamento contábil do
abatimento seria o seguinte:
Conta de
D Fornecedores R$1.500,00
Ativo
Conta de
C Estoques R$1.500,00
Passivo
Valor referente ao abatimento conce-
dido pelo fornecedor

Caso a empresa tivesse comprado o estoque à vista,


o débito seria feito diretamente na conta Caixa ou Bancos -
Conta Movimento.
7.5.4 Devolução de compras
No caso de devolução de compras pela empresa com-
pradora, esta tomará por base os dados da nota fiscal original,
pela qual foi dada entrada da mercadoria (ou matéria-prima)
nos estoques da empresa.
Se a devolução ocorrer no mesmo exercício social da
compra, não haverá maiores problemas, basta “reverter” o
lançamento contábil original, utilizando os valores propor-
cionais à mercadoria devolvida.
303
Vamos supor que 20% da mercadoria adquirida em

Estoques e operações com mercadorias


nosso exemplo anterior, tenha sido devolvida.

Mercadoria R$95.000,00 x 20% = R$19.000,00


Fretes sobre compras R$5.000,00 x 20% = R$1.000,00
ICMS sobre compras R$18.000,00 x 20% = R$3.600,00

Considerando que a mercadoria foi registrada em


Estoques pelo seu valor líquido do ICMS, temos que a sua
devolução deve ser contabilizada pelo valor de:
R$19.000,00 - R$3.600,00 = R$15.400,00
O frete, anteriormente apropriado como custo dos
estoques, deverá ser contabilizado como despesa, pelo valor
proporcional de R$1.000,00, uma vez que não há mais o esto-
que respectivo.
O ICMS sobre o estoque devolvido deverá agora, ser
contabilizado pelo valor proporcional de R$3.600,00, como
ICMS a Recolher, uma vez que foi compensado anterior-
mente. Caso ainda não tenha sido compensado, deverá ser
creditado na conta de Impostos a Recuperar – ICMS.
Conta de
D Fornecedores R$15.400,00
Passivo
Fretes sobre Devolução
Conta de
D de Compras (Outras R$1.000,00
Resultado
Despesas Operacionais)
Conta de
D ICMS a Recolher R$3.600,00
Passivo
Mercadorias para Conta de
C R$20.000,00
Revenda (Estoques) Ativo
Valor referente à devolução de merca-
304 doria ao fornecedor
Contabilidade Financeira

Obs.: Na hipótese da compra ter sido realizada à


vista, o débito deverá ser feito diretamente na conta Caixa
ou Bancos - Conta Movimento, ou, ainda, em uma conta de
Outros Créditos, caso o fornecedor não credite o valor da
devolução imediatamente.

7.5.5 Descontos comerciais obtidos


Os descontos comerciais incondicionais concedidos
pelo fornecedor ao comprador são oferecidos no ato da opera-
ção de compra, estando consignados na respectiva nota fiscal.
Usualmente, a compra em que se obteve o desconto é
contabilizada pelo seu valor líquido.
Vamos supor que em uma compra a prazo, de
R$100.000,00, com ICMS de R$18.000,00, o comprador tenha
obtido um desconto de R$10.000,00.

Mercadorias para Re- Conta de


D R$72.000,00
venda (Estoques) Ativo
Impostos a Recuperar – Conta de
D R$18.000,00
ICMS Ativo
Conta de
C Fornecedores R$90.000,00
Passivo
Valor referente à compra líquida de
desconto obtido, conforme NF XXX
7.5.6 Descontos financeiros obtidos
Os descontos financeiros são obtidos posteriormente à
realização da compra, em função de pagamento antecipado
ou cumprimento do prazo de pagamento junto ao fornecedor.
Assim, tais descontos devem ser apropriados diretamente em
Receitas Financeiras.
Supondo que no pagamento de R$100.000,00 a um forne-
cedor, o comprador tenha obtido um desconto financeiro de 10%,
portanto de R$10.000,00, o lançamento contábil seria o seguinte:
305
Conta de
D Fornecedores R$100.000,00
Passivo

Estoques e operações com mercadorias


Bancos - Conta Conta de
C R$90.000,00
Movimento Ativo
Descontos Financeiros Conta de
C R$10.000,00
Obtidos Resultado
Valor referente ao pagamento ao
fornecedor XYZ líquido de desconto
financeiro obtido.

7.5.7 Adiantamentos a fornecedores


Os adiantamentos efetuados a fornecedores por conta
de mercadorias ou materiais adquiridos, devem ser contabili-
zados no Ativo Circulante ou Não Circulante, de acordo com
o prazo previsto para entrega.
Supondo que na compra de mercadorias para revenda,
no valor total de R$100.000,00, com a incidência de 18% de
ICMS, tenha sido realizado um adiantamento no valor de
R$20.000,00, vejamos como seria a contabilização:
Pela realização do adiantamento
Adiamentos a Conta de
C R$20.000,00
Fornecedores Ativo
Bancos - Conta Conta de
C R$20.000,00
Movimento Ativo
Valor referente ao adiantamento feito ao
fornecedor XYZ
Razonetes:

Adiantamentos Bancos Conta


a Fornecedores Movimento
(1) 20.000 20.000 (1)

Pelo recebimento da mercadoria

306 Mercadorias para Conta de


D R$82.000,00
Revenda Ativo
Contabilidade Financeira

Impostos a Recuperar – Conta de


C R$18.000,00
ICMS Ativo
Conta de
C Fornecedores R$100.000,00
Passivo
Valor referente à aquisição de
mercadoria conforme NF XXX

Mercadorias ICMS a
Fornecedores
para Revenda Recuperar
(2) 82.000 100.000 (2) (2) 18.000

Pela compensação do adiantamento

Conta de
D Fornecedores R$20.000,00
Passivo
Adiantamentos a Conta de
C R$20.000,00
Fornecedores Ativo
Valor referente à compensação do adian-
tamento efetuado ao fornecedor XYZ

Adiantamentos
Fornecedores
a Fornecedores
(1) 20.000 20.000 (3) (3) 20.000 100.000 (2)
7.6

Vendas
Conforme já estudado anteriormente, as vendas de
produtos, mercadorias e de serviços são registradas como
Receita de Vendas, ou ainda, Receita Bruta de Vendas.
Vamos retomar o exemplo utilizado na Aula 4 para tra-
307
tarmos das operações de vendas de mercadorias e revermos,
também, os impostos incidentes sobre as vendas.

Estoques e operações com mercadorias


Foram vendidos, em determinado período, produtos a
prazo no valor de R$1.500.000,00, tendo sido cobrado IPI de
15%29 e ICMS de 18%. Veja os lançamentos contábeis:

Contabilizando o faturamento
Conta de
D Clientes R$1.995.000,00
Ativo
Conta de
C Receita Bruta de Vendas R$1.995.000,00
Resultado
Valor referente ao faturamento bruto do
período

Contabilizando o IPI
Conta de
Resultado
IPI sobre Faturamento
D R$225.000,00 (Redutora
Bruto
da Receita
Bruta)
Obrigações Fiscais – IPI Conta de
C R$225.000,00
a Recolher Passivo
Valor referente ao IPI incidente sobre o
faturamento bruto do período

29. IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados): imposto cujas alíquotas diferem de acordo com
produto.
Contabilizando a recuperação do IPI

Obrigações Fiscais – IPI Conta de


D R$100.000,00
a Recolher Passivo
Impostos a recuperar – Conta de
C R$100.000,00
IPI Ativo
Valor referente à recuperação de IPI inci-
dente sobre faturamento bruto

Tem-se, então, que a entidade deverá recolher


308
R$125.000,00 de IPI, após compensado o valor do imposto
Contabilidade Financeira

pago por ocasião da compra dos materiais.


Vamos ver essas contabilizações em razonetes:
COMPRA DE MATERIAIS

Impostos a
Estoques Fornecedores
Recuperar IPI
(1) 500.000 690.000 (1) (1) 100.000 100.000 (4)

Impostos a Re-
cuperar ICMS
(1) 90.000

VENDA DE PRODUTOS E COMPESAÇÃO DO IPI

Receita Bruta de Obrigações Fis-


Clientes
Vendas cais IPI a Recolher
(2) 1995.000 1995.000 (2) (4) 100.000 225.000 (3)

125.000

IPI sobre
Faturamento Bruto
(3) 225.000
O recolhimento do IPI se dará pelo valor líquido, ou
seja, pelo valor devido pela entidade, compensado com o
valor de crédito ao qual ela tem direito e que corresponde ao
imposto que ela própria pagou quando adquiriu os materiais
para fabricar os seus produtos. Vamos, então contabilizar o
recolhimento do IPI:

Obrigações Fiscais – IPI Conta de


D R$125.000,00
a Recolher Passivo
Bancos - Conta Conta de
C R$125.000,00 309
Movimento Ativo
Valor referente ao recolhimento e ao IPI

Estoques e operações com mercadorias


incidente sobre faturamento bruto

Obrigações Fiscais Bancos Conta


IPI a Recolher Movimento
100.000 225.000 125.000 (5)
(5) 125.000

Vamos rever, agora, a contabilização do ICMS.


No nosso exemplo, vimos que existe uma cobrança de
ICMS no valor de R$270.000,00 (R$1.500.000,00 x 18%). No
momento da venda, teríamos a seguinte contabilização:

Contabilizando o ICMS

Conta de
Resultado
ICMS sobre Faturamento
D R$270.000,00 (Redutora
Bruto
da Receita
Bruta)
Obrigações Fiscais – Conta de
C R$270.000,00
ICMS a Recolher Passivo
Valor referente ao ICMS incidente sobre
o faturamento bruto do período
Contabilizando a recuperação do ICMS

Obrigações Fiscais – R$90.000,00 Conta de


D
ICMS a Recolher Passivo
Impostos a recuperar – R$90.000,00 Conta de
C
ICMS Ativo
Valor referente à recuperação de ICMS
incidente sobre faturamento bruto

Contabilizando o recolhimento do ICMS


310
Obrigações Fiscais – Conta de
D R$180.000,00
Contabilidade Financeira

ICMS a Recolher Passivo


Bancos - Conta Conta de
C R$180.000,00
Movimento Ativo
Valor referente ao recolhimento do ICMS
incidente sobre faturamento bruto

Para melhor entendimento das movimentações nas


contas, vejam os razonetes:

ICMS sobre Obrigações Impostos a


Faturamento Fiscais ICMS a Recuperar
Bruto Recolher ICMS
(8) 270.000 (9) 90.000 270.000 (8) (1) 90.000 90.000 (9)
(10) 180.000

Bancos Conta
Movimento
125.000 (5)
180.000 (10)

Os procedimentos contábeis em relação aos demais tri-


butos é o mesmo.
7.6.1 Fretes sobre vendas
Os fretes sobre as vendas poderão ser cobrados do
comprador e, nesse caso, serão incluídos nos respectivos fatu-
ramentos. Ainda podem ser pagos pela empresa vendedora,
devendo ser considerados como uma Despesa de Vendas.
Suponha que em uma operação de vendas a empresa
tenha pagado, à vista, frete no valor de R$3.000,00, com um
ICMS de 18%. A contabilização desse frete seria a seguinte:

Fretes sobre Vendas Conta de 311


D R$2.460,00
(Despesas de Vendas) Resultado

Estoques e operações com mercadorias


Imposto a Recuperar – Conta de
C R$540,00
ICMS Ativo
Bancos - Conta Conta de
C R$3.000,00
Movimento ou Caixa Ativo
Valor referente aos fretes incidentes
sobre vendas efetuadas

7.6.2 Vendas com cartões de crédito


As vendas efetuadas com cartões de crédito são confi-
guradas como vendas a prazo, pois a administradora do car-
tão só fará o crédito respectivo, descontando a sua respectiva
comissão, alguns dias depois da data da venda.
Vamos supor que em uma venda feita com cartão de
crédito no valor de R$15.000,00, a operadora de cartão cobrará
uma comissão de 5%, tendo sido cobrado ICMS de 18%.
Nessas condições, a contabilização seria a seguinte:
No momento da venda
Clientes – Cartões de Conta de
D R$14.250,00
Crédito Ativo
Comissões sobre
Conta de
C Cartões de Crédito R$750,00
Resultado
(Despesas de Vendas)
Conta de
C Vendas (Receita) R$15.000,00
Resultado
Valor referente à venda de mercadoria
com cartão de crédito
312
Contabilidade Financeira

No recebimento da administradora do cartão de crédito


Bancos - Conta Conta de
D R$14.250,00
Movimento Ativo
Clientes – Cartões de Conta de
C R$14.250,00
Crédito Ativo
Valor referente à venda de mercadoria
com cartão de crédito

7.6.3 Descontos comerciais


Os descontos comerciais são aqueles de caráter incon-
dicional, ou seja, em que não há nenhuma condição de o
cliente o cumprir para usufruir do desconto. São concedidos
no ato da operação da venda e estão consignados no respec-
tivo documento fiscal.
Usualmente, nesses casos, a contabilização a débito de
Clientes (ou da conta Bancos, quando for à vista) é feita pelo
valor já líquido do desconto.
Para exemplificar, vamos supor que em uma venda
de mercadorias a prazo, de R$100.000,00, com ICMS de
R$18.000,00, a empresa vendedora tenha concedido um
desconto de R$10.000,00 e que o CMV tenha sido de
R$40.000,00.
Pela venda e concessão do desconto
Conta de
D Clientes R$90.000,00
Ativo
Desconto Comercial
Conta de
C (Redutora das Receitas R$10.000,00
Resultado
de Vendas)
Conta de
C Receita de Vendas R$100.000,00
Passivo
Valor referente à venda líquida de
desconto comercial concedido,
conforme NF XXX 313

Estoques e operações com mercadorias


Descontos
Clientes Comerciais
Concedidos
(1) 90.000 (1) 10.000

Receita de
Vendas
100.000 (1)

Pela apropriação do CMV


Custo das Mercadorias Conta de
D R$40.000,00
Vendidas Resultado
Conta de
C Estoques de Mercadorias R$40.000,00
Ativo
Valor referente ao custo das mercadorias
vendidas no período

Estoque de Custo das Merca-


Mercadorias dorias vendidas
40.000 (2) (2) 40.000
Pelo registro do ICMS

ICMS sobre Vendas


Conta de
D (Conta Redutora da R$18.000,00
Resultado
Receita de Vendas)
Conta de
C ICMS a Recolher R$18.000,00
Passivo
Valor referente ao ICMS incidente sobre
vendas

314 ICMS sobre ICMS a


Vendas Recolher
(3) 18.000 18.000 (3)
Contabilidade Financeira

7.6.4 Bonificações concedidas


Uma bonificação representa as mercadorias que
foram entregues de forma gratuita ao cliente, seja em fun-
ção do volume de vendas ou em decorrência de algum tipo
de promoção.
Supondo que uma empresa conceda uma bonifica-
ção de R$20.000,00 ao seu cliente e que nesse valor já esteja
computado o ICMS de R$3.600,00, vejamos como seria a
contabilização:

Pelo registro da baixa da mercadoria no estoque

Custo das Mercadorias


Conta de
D Bonificadas – Despesas R$20.000,00
Resultado
de Vendas
Conta de
C Estoques de Mercadorias R$20.000,00
Passivo
Valor referente à bonificação concedida
ao cliente
Pelo registro do ICMS sobre bonificação concedida

ICMS sobre Bonificações Conta de


D R$3.600,00
– Despesas de Vendas Resultado
Conta de
C ICMS a Recolher R$3.600,00
Passivo
Valor referente ao ICMS incidente sobre
bonificações concedidas

Estoque das Custo das Merca-


Mercadorias dorias Bonificadas
315
20.000 (1) (1) 20.000

Estoques e operações com mercadorias


ICMS sobre ICMS a
Bonificações Recolher
(2) 3.600 3.600 (2)

7.6.5 Devolução de vendas


As devoluções de vendas geralmente ocorrem quando
há inconsistências nas especificações técnicas ou em relação
ao pedido do cliente, aos problemas de qualidade, à demora
na entrega etc.
No caso de devoluções, os registros contábeis cor-
respondentes devem ser realizados pelo valor original da
venda e, o retorno ao estoque, pelo valor do custo apropriado
naquela ocasião. Há, ainda, que se tomar cuidado com o fato
da devolução ter ocorrido, ou não, no mesmo exercício social
da venda.
Como exemplo, vamos utilizar uma devolução de ven-
das no valor de R$50.000,00 (valor da venda original), cujo
custo foi de R$20.000,00 e o ICMS correspondeu a R$9.000,00.
Vejamos como ficaria a contabilização nas duas hipóteses, isto
é, no mesmo exercício social da venda e no exercício social
seguinte, quando o resultado do exercício anterior já estaria
apropriado e, o Balanço Patrimonial, fechado.

a. Devolução no próprio exercício social da venda

Pelo estorno da receita

Devoluções de Vendas
Conta de
D (Conta redutora da R$50.000,00
316 Resultado
Receita de Vendas)
Clientes (Caixa ou Conta de
Contabilidade Financeira

C R$50.000,00
Bancos) Ativo
Valor referente à devolução de vendas

Devoluções de
Clientes
Vendas
50.000 (1) (1) 50.000

Pelo retorno da mercadoria ao estoque

Conta de
D Estoques de Mercadorias R$20.000,00
Ativo
Custo das Mercadorias Conta de
C R$20.000,00
Vendidas Resultado
Valor referente ao custo de mercadoria
devolvida

Estoque de Custo das Merca-


Mercadorias dorias vendidas
(2) 20.000 20.000 (2)
Pelo estorno do ICMS

Conta de
D ICMS a Recolher R$9.000,00
Passivo
ICMS sobre Vendas
Conta de
C (Conta Redutora da R$9.000,00
Resultado
Receita de Vendas)
Valor referente ao ICMS sem mercadoria
devolvida

ICMS sobre 317


ICMS a Recolher
Vendas
9.000 (3) (3) 9.000

Estoques e operações com mercadorias


b. Devolução após o exercício social da venda
Quando a devolução ocorrer após o encerramento
do exercício social em que se realizou a venda correspon-
dente, tal devolução deverá ser considerada uma despesa
operacional.

Pela devolução

Devoluções de Vendas
Conta de
D de Exercícios Anteriores R$50.000,00
Resultado
– Despesa Operacional
Clientes (Caixa ou Conta de
C R$50.000,00
Bancos) Ativo
Valor referente à devolução de vendas

Dev. de Vendas de
Clientes
Exerc. Anteriores
50.000 (1) (1) 50.000
Pelo retorno da mercadoria ao estoque

Conta de
D Estoques de Mercadorias R$20.000,00
Ativo
Devoluções de Vendas
Conta de
C de Exercícios Anteriores R$20.000,00
Resultado
– Despesa Operacional
Valor referente ao custo de mercadoria
devolvida

318 Estoque de Dev. de Vendas de


Mercadorias Exerc. Anteriores
(2) 20.000 (1) 50.000 20.000 (2)
Contabilidade Financeira

Pelo aproveitamento do ICMS

Conta de
D ICMS a Recuperar R$9.000,00
Ativo
Devoluções de Vendas
Conta de
C de Exercícios Anteriores R$9.000,00
Resultado
– Despesa Operacional
Valor referente ao ICMS sobre
mercadoria devolvida

ICMS a Dev. de Vendas de


Recuperar Exerc. Anteriores
(3) 9.000 (1) 50.000 20.000 (2)
9.000 (3)

7.6.6 Abatimentos sobre vendas


Os abatimentos sobre vendas ocorrem quando a
empresa vendedora concede um desconto posterior à venda,
em função de avarias ou inconformidades na mercadoria
entregue. Tais abatimentos não se relacionam com descontos
comerciais ou financeiros, visto que o seu propósito é “com-
pensar” o cliente que achou por bem não devolver a mer-
cadoria, entregue em desacordo com o que foi previamente
combinado.
Nesse caso, o registro deve ocorrer em uma conta redu-
tora da Receita de Vendas, como segue:

Abatimentos sobre
Conta de
D Vendas (Redutora da R$
Resultado
Receita de Vendas)
319
Clientes (Caixa ou Conta de
C R$
Bancos) Ativo

Estoques e operações com mercadorias


Valor referente ao abatimento sobre
vendas

7.6.7 Descontos financeiros concedidos


Os descontos financeiros são descontos que ocorrem
posteriormente à venda e são decorrentes, em geral, ao paga-
mento antecipado de uma duplicata pelo cliente ou, ainda,
em função do cumprimento do prazo previamente estipu-
lado. Trata-se de uma despesa financeira.
Supondo que um cliente tenha pagado uma duplicata no
valor R$10.000,00, de forma antecipada e, por esse motivo, tenha
obtido um desconto de R$500,00. Vejamos a contabilização:

Bancos - Conta Conta de


D R$9.500,00
Movimento Ativo

Descontos Financeiros Conta de


D R$500,00
Concedidos Resultado

Clientes (Caixa ou Conta de


C R$10.000,00
Bancos) Ativo
Valor referente ao recebimento de
duplicata do cliente XYZ
Descontos Finan-
Clientes
ceiros Concedidos
(SI) 10.000 10.000 (1) (1) 500

Bancos Conta
Movimento
(1) 9.500

320

7.6.8 Adiantamentos recebidos de clientes


Contabilidade Financeira

Pode ocorrer de um cliente efetuar um adiantamento


por conta de bens a serem produzidos ou entregues ou, ainda,
serviços a serem prestados. Nesse caso, será constituída uma
obrigação para a empresa beneficiária do adiantamento.
Para exemplificar, vamos supor que numa venda de
mercadoria no valor total de R$50.000,00, o cliente tenha efe-
tuado um adiantamento de R$5.000,00.
Pelo recebimento do adiantamento
Caixa ou Bancos - Conta Conta de
D R$5.000,00
Movimento Ativo
Adiantamentos de Conta de
C R$5.000,00
Clientes Passivo
Valor referente ao adiantamento recebido
de cliente

Pela entrega do produto ou mercadoria


Adiantamentos de Conta de
D R$5.000,00
Clientes Passivo

Conta de
D Clientes R$45.000,00
Ativo

Conta de
C Receita de Vendas R$50.000,00
Resultado
Valor referente à venda de mercadoria
Obs.: os demais lançamentos de impostos e custos são
semelhantes àqueles já estudados.

7.7

Mercadorias em consignação
O que é consignação?
321

Estoques e operações com mercadorias


Consignação é uma operação mercantil em que o pro-
prietário da mercadoria (consignador ou consignante) a
entrega a um terceiro (consignatário) para que este rea-
lize a venda correspondente. Após a venda realizada, o
consignatário entrega ao consignante o valor previamente
combinado, independentemente do valor conseguido pelo
consignatário com a citada venda.

Em uma operação de consignação de mercadorias é


necessário estudar os dois lados envolvidos – o consignador e
o consignatário. Vamos exemplificar:
A Editora Lerdemais entrega, em consignação, para a
Livraria Leitura, 100 exemplares de um determinado livro,
ao preço unitário de R$20,00. O custo unitário de cada livro
é de R$9,00 e alíquota de ICMS é de 18%. Após algum tempo,
a editora recebe um aviso da Livraria Leitura comunicando a
venda de 50 exemplares do referido título livro. Vejam os lan-
çamentos contábeis:
EDITORA LERDEMAIS
Pelo envio dos livros em consignação

Devedores por Consig-


Conta de
D nação – Livraria Leitura R$2.000,00
Ativo
(R$20,00 X 100)

Estoques Conta de
C R$900,00
(R$9,00 x 100) Ativo

Lucros a Realizar sobre


Conta de
C Consignações (*) R$1.100,00
322 Ativo
(R$11,00 X 100)
Valor referente à remessa de mercadoria
Contabilidade Financeira

em consignação para a Livraria Leitura

(*) É uma conta “redutora” do grupo de contas Devedores por Consignação.

Devedores p/ Lucros a Realizar


Estoques
Consignação s/ Consignações
(1) 2.200 900 (1) 1.100 (1)

Pelo registro do ICMS

Conta de
D ICMS a Recuperar R$360,00
Ativo
Conta de
C ICMS a Recolher R$360,00
Passivo
Valor referente ao ICMS sobre
mercadoria em consignação

ICMS a ICMS a
Recuperar Recolher
(2) 360 360 (2)
Pela venda parcial da mercadoria em consignação

Clientes – Livraria
Conta de
D Leitura R$1.000,00
Ativo
(R$20,00 X 50)
Conta de
C Receita de Vendas R$1.000,00
Resultado
Valor referente à venda de mercadorias
em consignação

Receita de 323
Clientes
Vendas
(3) 1.000 1.000 (3)

Estoques e operações com mercadorias


Pela apropriação do CMV e baixa parcial da consignação

Lucros a Realizar sobre


Conta de
D Consignações R$550,00
Ativo
(R$11,00 X 50)
Custo das Mercadorias
Conta de
D Vendidas R$450,00
Resultado
(R$9,00 x 100)
Devedores por Consig-
Conta de
C nação – Livraria Leitura R$1.000,00
Ativo
(R$20,00 X 50)
Valor referente à venda de mercadoria
em consignação

Pelo registro da despesa com ICMS

ICMS sobre Vendas


Conta de
D (Redutora da Receita de R$180,00
Resultado
Vendas)
Conta de
C ICMS a Recuperar R$180,00
Passivo
Valor referente ao ICMS sobre merca-
doria vendida em consignação
ICMS a
ICMS s/ Vendas
Recuperar
(2) 360 180 (4) (4) 180

LIVRARIA LEITURA
Pelo recebimento da mercadoria em consignação

Estoques Consignantes
Conta de
324 D – Editora Lerdemais R$1.640,00
Ativo
(R$16,40 X 100) (*)
Contabilidade Financeira

Conta de
D ICMS a Recuperar R$360,00
Ativo

Fornecedores
Conta de
C Consignantes R$2.000,00
Passivo
(R$20,00 X 100)
Valor referente ao recebimento de
mercadoria em consignação da Editora
Lerdemais

(*) Corresponde ao custo de R$20,00, deduzido do correspondente ICMS (18%).

ICMS a Estoques Fornecedores


Recuperar Consignados Consignantes
(1) 360 (1) 1.640 2.000 (1)

A Livraria Leitura vendeu 50 exemplares do livro consig-


nado a um valor unitário de R$30,00.

Pela venda da mercadoria em consignação


Clientes Conta de
D R$1.500,00
(R$30,00 X 50) Ativo
Conta de
C Receita de Vendas R$1.500,00
Resultado
Valor referente à venda de mercadorias
em consignação

Receita de
Clientes
Vendas
(2) 1.500 1.500 (2)
325

Estoques e operações com mercadorias


Custo das Mercadorias
Conta de
D Vendidas R$820,00
Resultado
(R$16,40 X 50)
Estoques Consignantes – Conta de
C R$820,00
Editora Lerdemais Ativo
Valor referente ao custo de mercadoria
vendida em consignação

Estoques Custo de Merca-


Consignantes doria vendida
(1) 1.640 820 (3) (3) 820

Pelo registro do ICMS sobre Vendas

ICMS sobre Vendas


Conta de
D (Redutora da Receita de R$270,00
Resultado
Vendas)
Conta de
C ICMS a Recolher R$270,00
Passivo
Valor referente ao ICMS sobre merca-
doria vendida em consignação
ICMS s/ ICMS a
Vendas Recolher
(4) 270 270 (4)

Pela baixa das mercadorias recebidas em consignação

Fornecedores
Conta de
326 D Consignantes R$1.000,00
Passivo
(R$20,00 X 50)
Contabilidade Financeira

Conta de
C Fornecedores R$1.000,00
Passivo
Valor referente à venda de mercadorias
em consignação

Fornecedores
Fornecedores
Consignantes
1.000 (5) (5) 1.000 2.000 (1)

7.8

Q uebras ou perdas de estoques


As quebras ou perdas de mercadorias em estoque cons-
tituem uma despesa de caráter operacional. Entretanto, para
efeitos fiscais, tais perdas ou quebras devem ser comprovadas
por laudo técnico.
Para efeito contábil, o registro se dá da seguinte forma:
Pelo reconhecimento da perda ou quebra
Quebras de Estoques – Outras Conta de
D R$
Despesas Operacionais Resultado
Conta de
C Estoques R$
Ativo
Valor referente às perdas/quebras em
estoques

Pelo registro do ICMS sobre perda ou quebra


327

Conta de
D ICMS sobre Quebras de Estoques R$

Estoques e operações com mercadorias


Resultado
Conta de
C ICMS a Recolher R$
Passivo
Valor referente ao ICMS sem perdas/
quebras em estoques

7.9

R esultados com mercadorias


O resultado com mercadorias é obtido mediante a
dedução do Custo das Mercadorias Vendidas (CMV) da
Receita Líquida de Vendas.
A apuração do CMV foi estudada na Aula 4, mas
vamos relembrar:
Custo das Mercadorias Vendidas - CMV
As empresas comerciais, ou seja, aquelas que compram
mercadorias para revenda apuram o custo das mercadorias
vendidas, segundo a mesma sistemática já apresentada:

CMV = Ei + Co – Ef
Onde:
• CMV = Custo das Mercadorias Vendidas
• Ei = Estoque inicial de mercadorias
• Co = Valor líquido das compras de mercadorias no
período
• Ef = Estoque final de mercadorias
Exemplificando, temos que a Indústria de Brinquedos
que está servindo de base para o nosso estudo, além de fabri-
328
car, também compra e revende mercadorias, isto é, brinque-
dos. Vamos apurar o CMV do período sob análise, partindo
Contabilidade Financeira

dos seguintes dados:30


Estoque de Mercadorias Valores (R$ MIL)
Estoque inicial de mercadorias 500
Compras líquidas do período
30
300
Estoque final de mercadorias 450

Aplicando-se a equação, temos:

CMV = R$500,00 + R$300,00 - R$450,00


CMV = R$350,00

Vamos contabilizar?

Contabilizando as compras líquidas de mercadorias

Conta de
D Estoque de Mercadorias R$300.000,00
Resultado
Conta de
C Fornecedores R$300.000,00
Passivo
Valor referente às compras de
mercadorias no período

30. Compras Líquidas: preço original deduzido das eventuais devoluções e abatimentos, somado
ao frete pago.
Transferindo o Custo das Mercadorias Vendidas para o
resultado

Custo das Mercadorias Conta de


D R$350.000,00
Vendidas - CMV Resultado
Conta de
C Estoque de Mercadorias R$350.000,00
Ativo
Valor referente à apropriação do custo
das mercadorias vendidas no período

Lançamentos nos razonetes:


329
Custo das Merca- Estoques de
Fornecedores

Estoques e operações com mercadorias


dorias vendidas Mercadorias
(2) 350.000 (SI) 500.000 350.000 (2) 300.000 (1)
(1) 300.000

450.000

Com esse “flashback” encerramos a nossa Aula 7!


Vamos avaliar se conseguimos alcançar os objetivos de apren-
dizagem propostos?

Objetivos de aprendizagem
‚‚Compreendemos a importância dos estoques na gestão
financeira das empresas?
‚‚Conhecemos as principais formas de controle dos
estoques?
‚‚Conhecemos e aprendemos a escriturar as operações de
compra e venda de mercadorias?
‚‚Conhecemos e aprendemos a escriturar as operações
correlatas às compras e às vendas de mercadorias?
‚‚Conhecemos e aprendemos a escriturar mercadorias em
consignação e outros aspectos envolvendo transações com
mercadorias?
Nossa próxima e última aula irá tratar de mais um
assunto fundamental para a gestão financeira das entidades
e tem destaque especial na Contabilidade Financeira, a DFC –
Demonstração dos Fluxos de Caixa.

Vamos relembrar?
Nesta aula estudamos um dos ativos mais importantes de
uma entidade: seus estoques. Compreendemos que essa
importância é explicada pelo fato de os estoques traduzi-
rem a principal atividade de uma entidade, ou seja, aquela
330 que representa o seu principal objeto.
Conhecemos os tipos de inventários necessários não só
Contabilidade Financeira

para o controle físico dos estoques, como também para a


apuração do custo dos produtos ou das mercadorias ven-
didas e, nesse ponto, aprendemos que a avaliação dos
estoques é fundamental, pois pode afetar sensivelmente
o resultado da entidade.
Na sequência, conhecemos todos os detalhes que envol-
vem as compras e as vendas de mercadorias, tais como:
impostos, fretes, bonificações, descontos, abatimentos,
adiantamentos etc.
Aprendemos, também, como tratar contabilmente as vendas
com cartões de crédito e as operações com mercadorias em
consignação, além de termos revisto a apuração do CMV –
Custo das Mercadorias Vendidas, considerando o seu papel
na apuração do resultado das operações com mercadorias.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO E


AUTOAVALIAÇÃO
Leia o texto abaixo e identifique:
1. A que tipo de inventário de estoques o autor está se referin-
do: periódico ou permanente?
2. Qual a importância desse inventário para a gestão dos es-
toques?

3. Destaque os pontos citados no texto que podem impactar


o resultado de uma empresa e, consequentemente, o seu de-
sempenho.
Como gerir bem o seu estoque?
Não sobrar produto é tão importante quanto não faltar, diz
especialista.

A gestão dos estoques de uma pequena empresa é, sem


dúvida, um dos pontos que mais merecem atenção dos
executivos de uma empresa. A falta de qualquer um deles
pode acarretar na perda de vendas ou mesmo na inter-
rupção de processos produtivos. O excesso de mercado-
rias precisa ser igualmente observado porque equivale a
331
dinheiro parado no estoque e, consequentemente, pode
desequilibrar a gestão financeira da empresa. Não sobrar

Estoques e operações com mercadorias


produto é tão importante quanto não faltar.
O ideal é equalizar a quantidade e a variedade mínima
de itens para que o ponto de venda esteja sempre abaste-
cido. A gestão de estoques depende, sobretudo, da análise
da demanda. Não adianta estocar grande quantidade de
itens cuja procura seja baixa, da mesma forma que é pre-
ciso ter sempre uma garantia de fornecimento das merca-
dorias que são mais comercializadas.
Em uma fábrica, por exemplo, atente-se ao volume de
pedidos de vendas já confirmados e a previsão futura. Em
uma loja de varejo, entenda as tendências do mercado e as
preferências dos clientes.
Por isso, o ideal é que uma única pessoa seja responsá-
vel pelo abastecimento do estoque e pela compra. Uma
segunda hipótese é que essas duas funções sejam exer-
cidas por funcionários distintos, porém 100% alinhados.
Acompanhar o estoque e saber quais são os produtos
com maior giro e os que estão ficando parados são tarefas
importantes nesta gestão.
O estoque é analisado, normalmente, por meio de inven-
tários (contagem física do estoque total). Para algu-
mas empresas, é uma tarefa complicadíssima, pois pode
demandar custos extras e esforço em horários alternati-
vos. Para facilitar, uma boa opção é realizar o inventário
rotativo ou inventário diário, que é a contagem física de
somente alguns itens por dia.
Assim, todo dia haverá contagem de estoque. A esco-
lha dos produtos pode ser aleatória ou determinada pelo
gerente ou empresário. Os vendedores ficam atualizados,
o índice de furtos internos diminui e a velocidade no aten-
dimento aos clientes aumenta.
http://exame.abril.com.br/pme/dicas-de-especialista/
noticias/como-gerir-bem-o-seu-estoque. Acesso em
02/09/2013.

332 LEITURAS RECOMENDADAS


ALMEIDA, D.; LUCENA, M. Gestão de Estoques na Cadeia
Contabilidade Financeira

de Suprimentos. Revista Ecco. Revista da Faculdade de Eco-


nomia e Ciências Contábeis da Universidade Metodista de
São Paulo, n. 1, p. 34-49, 2. sem. 2006. Disponível em: https://
www.metodista.br/metodista.br/ppc/revista-ecco/pdf/ec1_lu-
cena.pdf.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução


CFC nº 1.170/09. Aprova a NBC & 19.20 – Estoques. Brasília,
2009. Disponível em: http://www.cpc.org.br/pdf/Res_1170.pdf.

LIN K S INDICADOS
www.cfc.org.br
www.cpc.org.br
http://exame.abril.com.br/topicos/estoques

REFER ÊNCIAS
GRECO, A.; AREND, L. Contabilidade: teoria e prática bási-
cas. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

IUDÍCIBUS, S. de et al. Manual de contabilidade societária.


São Paulo: Atlas, 2010.
Estoques e operações com mercadorias
333
(8)

D emonstração dos fluxos de


caixa – DFC
Olá prezados alunos,
Chegamos à última porta, mas só deste módulo. Ainda
temos muito que aprender sobre a Ciência Contábil. É inegá-
vel, entretanto, que já acrescentamos bastante à nossa baga-
gem de conhecimento.
Vamos fazer uma pequena retrospectiva? Vejam,
neste módulo do curso estudamos conceitos e definições de
Contabilidade Financeira, conhecemos os componentes das
origens e aplicações de recursos no contexto de decisões
financeiras sobre investimentos e financiamentos, estudamos
a principal fonte de recursos para uma empresa, ou seja, o
lucro e revimos como apura-lo e, depois, como demonstra-lo
na DRE – Demonstração do Resultado do Exercício, vimos as
características, a composição e a contabilização das provisões
e das perdas estimadas, conhecemos as receitas e as despesas
que compõem a DRE, as principais origens de recursos e as
principais aplicações de recursos; dentre as aplicações, estu-
damos a composição do grupo de contas Estoques, suas
peculiaridades, avaliação e controle e, especialmente, as ope-
rações com mercadorias. Para fecharmos com chave de ouro,
vamos estudar o demonstrativo que retrata muito bem a rela-
338
ção existente entre as origens e as aplicações de recursos: a
DFC – Demonstração dos Fluxos de Caixa. A DFC demons-
Contabilidade Financeira

tra de onde vieram os recursos (financiamentos) e onde tais


recursos foram aplicados (financiamentos).
Já que aprendemos a identificar e a tratar as origens e
as aplicações de recursos, vamos, nesta última aula, aprender
como demonstrar os seus efeitos no caixa das entidades, ou
seja, as entradas e as saídas de caixa ou, em outras palavras o
“fluxo de caixa”.
Nesta aula, iremos focar os seguintes objetivos de
aprendizagem:

Objetivos de aprendizagem
‚‚Conhecer os objetivos da DFC – Demonstração dos
Fluxos de Caixa;
‚‚Identificar quais são as atividades de investimento,
financiamento e operacionais;
‚‚Conhecer as peculiaridades de um fluxo de caixa em
moeda estrangeira;
‚‚Conhecer os principais componentes que compõem os
fluxos de caixa de uma entidade (juros e dividendos, tri-
butos, caixa e equivalentes de caixa);
‚‚Elaborar a DFC – Demonstração dos Fluxos de Caixa uti-
lizando os métodos direto e indireto.
Para atingir nossos objetivos, vamos compor nossa
aula da seguinte forma:
8.1 Antes de começar
8.1.1 Objetivos e Alcance
8.2 Definições
8.2.1 Componentes de Caixa e Equivalentes de Caixa
339
- Transações que não envolvem Caixa ou
Equivalentes de Caixa

do Magistério no Brasil e a Educação na Bahia


Planos decenais, financiamento e valorização
8.2.2 Atividades operacionais
8.2.3 Atividades de investimento
8.2.4 Atividades de financiamento
8.2.5 Outras definições
- Fluxos de caixa de operações em moeda estrangeira
- Juros, Dividendos e Juros sobre o Capital Próprio
- Imposto de Renda e Contribuição Social sobre
Lucro Líquido
8.3 Elaboração e apresentação da DFC
8.3.1 Método Direto
8.3.2 Método Indireto

Muito bem. Vamos, então, para a nossa última aula teó-


rica deste módulo.
Bom estudo a todos!
8.1

A ntes de começar
O Pronunciamento Técnico CPC 03 – Demonstração
340 dos Fluxos de Caixa, aprovado pela Resolução CFC nº.
1.125/2008 – NBC T 3.8, é o normativo que estabelece os con-
Contabilidade Financeira

ceitos e as formas de elaboração desse importante demons-


trativo contábil.
Substituindo a Demonstração das Origens e as Apli-
cações de Recursos (DOAR), a elaboração e a publicação da
Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) são obrigatórias
para as sociedades anônimas de capital aberto e fechado com
Patrimônio Líquido maior ou igual a R$2.000.000,00 (dois
milhões de reais). Entretanto, por se tratar de um demons-
trativo de extrema relevância para a tomada de decisões, sua
elaboração é importante para empresas de qualquer porte.
Considerada de mais fácil entendimento pelos usu-
ários do que a Demonstração das Origens e Aplicações de
Recursos (DOAR), a DFC tomou o espaço ocupado por esse
demonstrativo, conforme determinações da Lei nº 11.638/2007,
que deixou de mencioná-la entre as demonstrações contábeis
obrigatórias.
O item 4 do Pronunciamento Técnico CPC 03 cita que
“os usuários das demonstrações contábeis se interessam em
conhecer como a entidade gera e usa os recursos de caixa e
equivalentes de caixa, independentemente da natureza das
suas atividades”. Como esses recursos são gerados, por sua
vez, é fator imprescindível para qualquer tipo de entidade,
visto que todas dependem dele para executar suas operações,
ou seja, para executar o seu ciclo operacional.
Pode-se, portanto, afirmar que a DFC é um demonstra-
tivo, cuja elaboração, independentemente de ser obrigatória
ou não, é um instrumento precioso para o processo decisório
de qualquer entidade.
A elaboração e a apresentação da DFC podem ser feitas
utilizando o método direto ou o método indireto, de acordo
com a conveniência da entidade.

8.1.1 Objetivos e alcance 341

do Magistério no Brasil e a Educação na Bahia


Planos decenais, financiamento e valorização
Objetivo
Segundo o item 1 do Pronunciamento Técnico CPC 03,
o objetivo da DFC é “proporcionar aos usuários das demons-
trações contábeis uma base para avaliar a capacidade de
a entidade gerar caixa e equivalentes de caixa, bem como
suas necessidades de liquidez”, fatores fundamentais para a
tomada de decisões econômicas sobre uma entidade.

Alcance
O Pronunciamento Técnico CPC 03 não menciona
se a DFC deve ser elaborada por esta ou aquela entidade e
muito menos condiciona sua elaboração a qualquer valor de
Patrimônio Líquido. Alcançando, portanto, qualquer tipo de
entidade, o citado normativo determina que “a entidade deve
elaborar demonstração dos fluxos de caixa de acordo com os
requisitos desta norma e apresentá-la como parte integrante
das suas demonstrações contábeis divulgadas ao final de cada
período”.
Como pode ser observado no texto do normativo, sem-
pre que forem “divulgadas” as demonstrações contábeis
de uma entidade, esta deverá elaborar a DFC. Pelas razões
já comentadas, o item 4 da citada norma “requer que todas
as entidades apresentem uma demonstração dos fluxos de
caixa” (grifo nosso).
8.2

D efinições
Para entendermos a utilidade da DFC, bem como para
342 elaborá-la e analisá-la, é preciso estabelecer algumas defi-
nições sobre os termos apresentados no Pronunciamento
Contabilidade Financeira

Técnico CPC 03, normativo ao qual esse demonstrativo se


condiciona, entre eles:
Caixa compreende numerário em espé-
cie e depósitos bancários disponíveis.
Equivalentes de caixa são aplicações fi-
nanceiras de curto prazo, de alta liqui-
dez, que são prontamente conversíveis
em um montante conhecido de caixa e
que estão sujeitas a um insignificante
risco de mudança de valor.
Fluxos de caixa são as entradas e saídas
de caixa e equivalentes de caixa.
Atividades operacionais são as princi-
pais atividades geradoras de receita da
entidade e outras atividades diferentes
das de investimento e de financiamento.
Atividades de investimento são as
referentes à aquisição e à venda de ati-
vos de longo prazo e de outros investi-
mentos não incluídos nos equivalentes
de caixa.
Atividades de financiamento são
aquelas que resultam em mudanças no
tamanho e na composição do capital
próprio e no endividamento da enti-
dade, não classificadas como atividade
operacional.

Vamos, então, estudar alguns desses elementos.


8.2.1 Componentes de caixa e equivalentes
de caixa
O caixa de uma entidade é composto por numerários
em espécie (dinheiro) e os depósitos bancários disponíveis. Já
os equivalentes de caixa são representados por instrumentos
financeiros, prontamente conversíveis em dinheiro, em vista
da sua alta liquidez e visam o atendimento, pela entidade, a 343

compromissos de caixa de curto prazo.

do Magistério no Brasil e a Educação na Bahia


Planos decenais, financiamento e valorização
Geralmente apresentados em uma única linha no
Balanço Patrimonial, a entidade deve divulgar quais são os
componentes e os equivalentes de caixa, além de apresentar
uma conciliação entre os valores correspondentes que cons-
tam em sua DFC e os respectivos itens divulgados no Balanço.
É obrigatória, ainda, a divulgação das políticas adotadas pela
entidade na determinação da composição do caixa e dos equi-
valentes de caixa, bem como qualquer mudança que possa ter
ocorrido nessas políticas.
A DFC não apresenta os movimentos entre os itens
que compõem o caixa ou equivalentes de caixas, visto que
estes fazem parte da gestão “financeira” da entidade e não
da gestão das atividades operacionais, financiamentos ou
investimentos.

Saldos bancários descobertos: Com relação aos saldos


bancários a descoberto (saldos negativos), o Pronunciamento
Técnico CPC 03, assim determina:
Empréstimos bancários são geralmente
considerados como atividades de fi-
nanciamento. Assim, deverão ser con-
siderados os saldos bancários a desco-
berto, decorrentes de empréstimos
obtidos por meio de instrumentos como
cheques especiais ou contas correntes
garantidas. A parcela não utilizada do
limite dessas linhas de crédito não de-
verá compor os equivalentes de caixa.
(CPC 03 – 9)
Desta forma, os saldos negativos das contas bancá-
rias não deverão compor o valor apresentado no Balanço
Patrimonial como Caixa e Equivalentes de Caixa, mas serem
apresentados como uma obrigação com empréstimos.

Transações que não envolvem caixa ou equivalentes de


344 caixa
Algumas transações de investimento ou financiamento
Contabilidade Financeira

não envolvem recursos ou equivalentes de caixa no período


corrente, embora afetem a estrutura de capital e de ativos da
entidade. Nesse caso, tais transações não devem ser incluídas
na DFC, embora devam ser divulgadas em notas explicativas.
São exemplos dessas transações: (a) aquisição de ativo
com assunção direta do respectivo passivo; (b) aquisição de
uma entidade por meio de emissão de ações; (c) conversão de
dívida em capital; entre outros.

8.2.2 Atividades operacionais


As atividades operacionais, conforme a própria deno-
minação sugere, referem-se às atividades decorrentes das
principais operações da entidade, ou seja, aquelas que retra-
tam o seu objetivo – foco de atuação – que, costumeiramente,
está consubstanciado em seu objeto social. Portanto, esse
grupo retrata os fluxos de caixa que derivam dessas opera-
ções que são as principais atividades “geradoras de receita”
para a entidade e que, geralmente, integram a apuração do
seu lucro ou prejuízo.
Assim, deve ser apresentada na DFC uma conciliação
entre o lucro líquido e o fluxo de caixa líquido das atividades
operacionais, de forma a possibilitar a avaliação, por parte
dos usuários da informação, dos efeitos líquidos dessas ativi-
dades na composição do lucro, juntamente com outros even-
tos que o afetam.
São exemplos de fluxos de caixa decorrentes das ativi-
dades operacionais de uma entidade:
• Os recebimentos de caixa em função da venda de
produtos, mercadorias ou serviços;
• Os recebimentos de caixa decorrentes de royalties,
honorários, comissões e outras receitas;
• Pagamentos a fornecedores de mercadorias e
serviços;
345
• Pagamentos efetuados a empregados ou decorren-

do Magistério no Brasil e a Educação na Bahia


Planos decenais, financiamento e valorização
tes da relação com eles como, por exemplo, encargos
sociais e benefícios;
• Pagamentos ou recebimentos, por restituição, de
impostos incidentes sobre a renda, exceto nos casos em
que sejam identificáveis com operações de financia-
mento ou investimento;
• Recebimentos e pagamentos de contratos mantidos
para negociação imediata ou disponíveis para venda.
Como um indicador fundamental para a avaliação de
quanto as operações da entidade têm contribuído para a gera-
ção do caixa necessário para manter a capacidade operacio-
nal da empresa, cumprir com suas obrigações, realizar novos
investimentos e pagar dividendos e outras remunerações aos
sócios e acionistas, o grupo de fluxos de caixa decorrentes
das atividades operacionais é um excelente instrumento para
a tomada de decisões. Combinado com outras informações, o
histórico dos componentes desse grupo permitem a projeção
de futuros fluxos de caixa que derivem das atividades opera-
cionais que, consequentemente, possibilitem decisões impor-
tantes sobre tais atividades e a saúde financeira da entidade.

8.2.3 Atividades de investimento


As atividades de investimento representam os dispên-
dios de recursos realizados pela entidade com vistas à gera-
ção de resultados e fluxos de caixa futuros. Pode-se citar
como exemplo de fluxos de caixa decorrentes de atividades
de investimentos:
• Os desembolsos de caixa realizados para aquisição
de ativos imobilizados, intangíveis ou outros ativos de
longo prazo;
• Os recebimentos de caixa resultantes da venda des-
346
ses mesmos ativos, ou seja, resultantes da venda de ati-
vos imobilizados, intangíveis ou de longo prazo;
Contabilidade Financeira

• Os pagamentos realizados para aquisição de ações,


instrumentos de dívida de outras entidades e partici-
pações societárias em joint ventures, exceto investi-
mentos em títulos de curto prazo, considerados como
equivalentes de caixa;
• Os recebimentos resultantes da venda desses mes-
mos títulos, instrumentos e participações societárias;
• Os adiantamentos de caixa e empréstimos concedi-
dos a terceiros, desde que não concedidos por institui-
ções financeiras;
• Os recebimentos de caixa por liquidação de adian-
tamentos ou empréstimos concedidos;
• Desembolsos de caixa por operações no mercado
de futuros, a termo, opções e swap, exceto quando tais
operações forem mantidas para negociação imediata
ou venda futura ou, ainda, quando puderem ser classi-
ficadas como atividades de financiamento;
• Os recebimentos de caixa decorrentes desses mes-
mos tipos de operações.
A divulgação das atividades de investimento em
um grupo separado na DFC permite ao usuário da infor-
mação analisar a capacidade de geração de fluxos de caixa
futuros, assim como possibilita aos gestores avaliar se tais
investimentos já ocorridos condizem com o que foi inicial-
mente planejado pela entidade.

8.2.4 Atividades de financiamento


As atividades de financiamento representam as ori-
gens dos recursos utilizados pela entidade e que se cons-
tituem em obrigações que impactarão os fluxos de caixa 347
futuros. São exemplos de fluxos de caixa decorrentes de ativi-

do Magistério no Brasil e a Educação na Bahia


Planos decenais, financiamento e valorização
dades de investimento:
• Ingresso de caixa decorrente da emissão de ações
ou de outros instrumentos patrimoniais;
• Pagamentos efetuados a investidores pela aquisição
ou resgate de ações da entidade;
• Ingressos de caixa provenientes da emissão de
debêntures, empréstimos, títulos e valores, hipotecas e
outros empréstimos de curto e longo prazos;
• Saídas de caixa para a amortização de empréstimos
e financiamentos, incluindo as debêntures emitidas e
as obrigações por arrendamento mercantil financeiro
(equiparam-se a financiamentos).
A divulgação em separado deste grupo de ativida-
des na DFC tem como objetivo atender à necessidade de pre-
visão sobre quais serão as exigências dos futuros fluxos de
caixa por parte dos fornecedores de capital e de recursos à
entidade.

8.2.5 Outras definições


Além das definições ora estudadas, algumas outras são
necessárias antes de analisarmos a elaboração da DFC, visto
tratarem de detalhes importantes para a referida elaboração,
bem como para a análise desse demonstrativo. São elas:
• Fluxos de caixa de operações em moeda estrangeira;
• Juros e dividendos;
• Imposto de Renda e Contribuição Social sobre
Lucro Líquido;
• Dividendos e Juros sobre o Capital Próprio.

Fluxos de Caixa de Operações em Moeda Estrangeira


Já aprendemos que todos os registros contábeis e as
348
divulgações das respectivas demonstrações só podem ser fei-
tas em moeda nacional. Assim, quando realizadas operações
Contabilidade Financeira

em moeda estrangeira, elas devem seguir determinadas regras,


tanto para registro como para divulgação, também na DFC.
Desta forma, os fluxos de caixa decorrentes de tran-
sações em moeda estrangeira devem ter seus valores
convertidos, da respectiva moeda para a moeda nacional, uti-
lizando-se a taxa cambial vigente na data da demonstração.
É importante ressaltar que ganhos e perdas não reali-
zadas decorrentes das variações cambiais não são fluxos de
caixa e, portanto, não devem fazer parte da DFC. Entretanto,
o efeito dessas mudanças cambiais no caixa ou nos equiva-
lentes de caixa, mantidos ou devidos em moeda estrangeira,
deve ser apresentado na DFC, separadamente dos fluxos de
caixa operacionais, de investimento ou de financiamento,
incluindo as diferenças, se existirem, em relação aos valores
desses fluxos, caso tivessem sido divulgados às taxas de câm-
bio do fim do período.

Juros, Dividendos e Juros sobre Capital Próprio


Os juros pagos ou recebidos são valores geralmente
obtidos pela aplicação de percentuais que visam remunerar a
utilização do dinheiro em um determinado período de tempo.
Os dividendos e os juros sobre capital próprio, conhe-
cidos com JCP, são remunerações pagas aos sócios/acionistas
ou por eles recebidas, na ocorrência de lucros ou, no caso do
JCP, quando cumpridas certas determinações legais.
Na DFC, os fluxos de caixa referentes aos pagamentos
ou recebimentos de juros, dividendos ou juros sobre capital
próprio, devem ser apresentados separadamente como decor-
rentes das atividades operacionais, de investimento ou de
financiamento, de acordo com as suas naturezas.
Em todos os casos, isto é, tanto para os juros ou divi-
349
dendos, quanto para os juros sobre capital próprio, a apre-
sentação na DFC deve ser uniforme, de período a período.

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Planos decenais, financiamento e valorização
Isso significa que quando divulgados como decorrentes dos
fluxos de caixa de uma determinada atividade (operacional,
investimento ou financiamento), tal divulgação deve ser uni-
forme ao longo do tempo.

Pagamentos de juros, dividendos e juros sobre capital próprio


As normas internacionais emitidas pelo IASB –
International Accounting Standards Board –, admitem mais de
uma forma de classificação para os pagamentos de juros,
dividendos ou juros sobre capital próprio. De acordo com o
IASB, tais pagamentos podem ser classificados como decor-
rentes de atividades operacionais ou de financiamentos.
Segundo Iudícibus et al (2010, p. 570), alguns auto-
res entendem que tanto os dividendos e juros sobre capital
próprio quanto os juros pagos “representam um custo pela
obtenção de financiamento” e que, portanto, o fluxo de caixa
resultante desses pagamentos deveria ser classificado no
grupo de atividades de financiamento.
Entretanto, o CPC 03, apesar de não coibir essa classifi-
cação, no seu item 36, recomenda “fortemente” que:
• Os juros pagos sejam classificados como fluxos de
caixa de atividade operacionais; e
• Os dividendos e os juros sobre capital próprio
sejam classificados como fluxos de caixa das ativida-
des de financiamento.
Recebimentos de juros, dividendos e juros sobre capital
próprio
Para o recebimento de juros, dividendos ou juros sobre
capital próprio, também há diferentes opiniões sobre a clas-
sificação ideal. O IASB admite que sejam classificados como
operacionais ou como investimentos.
350
O CPC 03, no entanto, recomenda que tanto os juros,
quanto os dividendos e os juros sobre capital próprio sejam
Contabilidade Financeira

classificados como fluxos de caixa de atividades operacionais,


salientando que, quando utilizada qualquer alternativa dife-
rente dessa, ela deverá ser evidenciada em notas explicativas.

Imposto de Renda e Contribuição Social sobre Lucro


Líquido
Exceto quando possam ser diretamente relacionados a
uma transação específica, da qual resultem fluxos de caixa de
financiamento ou de investimento, os fluxos de caixa relati-
vos ao imposto de renda e à contribuição social sobre o lucro
líquido devem ser apresentados separadamente como fluxo
de caixa das atividades operacionais.
O CPC 03, em seu item 38, assim esclarece:
Embora a despesa com impostos pos-
sa ser prontamente identificável com
as atividades de investimento ou de
financiamento, torna-se às vezes im-
praticável identificar os respectivos
fluxos de caixa dos impostos, que po-
dem, também, ocorrer em período dife-
rente dos fluxos de caixa da transação
básica. Portanto, os impostos pagos são
comumente classificados como fluxos
de caixa das atividades operacionais.
Todavia, quando for praticável iden-
tificar o fluxo de caixa dos impostos
com uma determinada transação, da
qual resultem fluxos de caixa que sejam
classificados como atividades de inves-
timento ou de financiamento, o fluxo
de caixa dos impostos deve ser classi-
ficado como atividade de investimento
ou de financiamento, conforme seja
apropriado. Quando os fluxos de caixa
dos impostos forem alocados em mais
de uma classe de atividade, o valor to-
tal dos impostos pagos do período tam-
bém deve ser divulgado (CPC 03 – 38).
351
Caso seja utilizado o método indireto para elaboração e
apresentação da DFC, os valores correspondentes ao imposto

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Planos decenais, financiamento e valorização
de renda e à contribuição social sobre o lucro líquido deverão
ser informados em notas explicativas.
Os valores dos impostos retidos na fonte (de terceiros)
e recolhidos pela entidade serão classificados de acordo com
as operações que os originaram.

8.3
E laboração e apresentação da
DFC
Como já citado, a elaboração e a apresentação da
DFC podem ser realizadas utilizando o Método Direto ou o
Método Indireto. Qualquer que seja o modelo adotado, para
atingir seus objetivos, esse demonstrativo deverá atender a
alguns requisitos básicos que, segundo Iudícibus et al (2010,
p. 566), são os seguintes:
Evidenciar o efeito periódico das
transações de caixa segregadas por
atividades operacionais, atividades de
investimento e atividades de financia-
mento, nessa ordem;
Evidenciar, separadamente, em No-
tas Explicativas que façam referência
à DFC, as transações de investimento
e financiamento que afetam a posição
patrimonial da empresa, mas, não im-
pactam diretamente os fluxos de caixa
do período;
Conciliar o resultado líquido (lucro/
prejuízo) com o caixa líquido gerado ou
consumido nas atividades operacionais
(IUDÍCIBUS et al, 2010, p. 566).

Embora a escolha do método de elaboração seja


352 facultativa, o CPC 03 determina que, quando o Método
Direto for utilizado, conforme citado por Iudícibus et al
Contabilidade Financeira

no parágrafo anterior, deve ser feita uma conciliação entre


o lucro líquido e o fluxo de caixa líquido das atividades
operacionais, apresentando separadamente os principais
itens a serem conciliados.

8.3.1 Método direto


O método direto apresenta o fluxo de caixa das ati-
vidades operacionais, ou seja, as entradas e saídas de caixa
decorrentes dessas atividades, como os recebimentos pelas
vendas de mercadorias, produtos ou serviços e os paga-
mentos aos respectivos fornecedores. Segundo Iudícibus
et al (2010, p. 573), “o saldo final das operações expressa o
volume líquido de caixa provido ou consumido pelas opera-
ções durante um período”.
Ao adotar o método direto para elaboração da DFC, a
entidade deverá divulgar as principais classes de pagamentos e
recebimentos brutos que, de acordo com o modelo apresentado
no Apêndice A da Resolução CFC 1.125/08, seriam as seguintes:

Recebimentos de clientes
Pagamentos a fornecedores e empregados
Caixa gerado pelas operações
Juros pagos
Impostos de renda e contribuição social pagos
Imposto de renda na fonte sobre dividendos recebidos
O CPC 03 incentiva as entidades a adicionarem às prin-
cipais classes de pagamentos e recebimentos todas as infor-
mações consideradas úteis para uma melhor evidenciação do
fluxo de caixa das operações.
Em síntese, a sistemática de elaboração da DFC pelo
Método Direto parte dos componentes da Demonstração
353
de Resultado, ajustando-os pelas variações ocorridas
entre os saldos iniciais e finais das contas Circulantes do

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Planos decenais, financiamento e valorização
Balanço Patrimonial que serão vinculadas às atividades
operacionais.

Roteiro para elaboração da DFC pelo Método Direto


A elaboração da DFC pelo método direto será facilitada
se forem seguidos os seguintes passos básicos:

• Levantamento de dois Balanços Patrimoniais cor-


respondentes a dois períodos consecutivos;
• Levantamento da DRE – Demonstração do
Resultado do período;
• DLPA (Demonstração Lucros ou Prejuízos Acumu-
lados) ou DMPL (Demonstração Mutações do Patrimô-
nio Líquido), também auxiliam;
• Apurar a variação dos saldos dos Balanços Patrimo-
niais. Exemplo: saldos de 20XX menos os saldos do ano
anterior;
• Obter informações sobre a movimentação (compras
e vendas) dos Ativos Imobilizados, pagamento de divi-
dendos e outras operações específicas;
• Ajustar cada linha da DRE pela variação dos saldos
das contas que com ela se relaciona;
• Transpor os valores finais assim apurados para o
modelo de DFC abaixo.
Genericamente pode-se considerar o seguinte con-
ceito para as variações apresentadas nas contas do Ativo
Circulante e do Passivo Circulante, vinculadas às operações:

Análise das Variações

Diminuem . Aumento nas contas do Ativo


354 o Caixa . Redução nas contas do Passivo
Contabilidade Financeira

Aumentam . Redução nas contas do Ativo


o Caixa . Aumento nas contas do Passivo

Deve-se, no entanto, levar em consideração algumas


exceções que podem ocorrer como, por exemplo: (a) transa-
ções classificadas no circulante e que não pertencem às ati-
vidades operacionais (empréstimos de curto prazo, entre
outras); (b) transações que estão classificadas fora do circu-
lante, mas que fazem parte das atividades operacionais (cré-
ditos, juros e impostos de longo prazo etc.).
Exercícios Findos em 20X1 20X2
Atividades Operacionais
(+) Recebimentos de clientes
(-) Pagamentos a fornecedores
(-) Pagamentos a empregados
(-) Pagamentos de juros
(-) Pagamentos a Credores
(-) Pagamentos de Imposto de renda e CSLL
Caixa Líquido Atividades Operacionais
Atividades de Investimento
(+) Recebimentos pela venda de Imobilizado
(-) Pagamentos pela aquisição da controlada
(-) Pagamentos pela compra de Imobilizado
(+) Recebimentos de Juros
(+) Recebimento de dividendos
Caixa Líquido Atividades de Investimentos
Atividades de Financiamento
(+) Recebimento pela emissão de ações
(+) Recebimento pela emissão de debêntures
(-) Pagamento de Passivos por arrendamento
(-) Pagamentos de Dividendos
Caixa Líquido Atividades de Financiamentos 355
Aumento líquido de caixa e equivalentes de caixa

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Planos decenais, financiamento e valorização
Caixa e equivalentes de caixa no início do período
Caixa e equivalentes de caixa ao fim do período
Fonte: Greco e Arend (2012, p. 120), adaptado.

(*) Eventualmente, podem ser acrescentadas ou retiradas linhas.

Utilizando como base o exemplo dado por Iudícibus


et al (2010, p. 575 - 580), adaptado e comentado pela autora
deste trabalho, vamos elaborar uma DFC pelo Método Direto,
seguindo o roteiro anteriormente especificado.
1. Levantamento dos Balanços Patrimoniais correspon-
dentes a dois períodos consecutivos e cálculo das variações
dos saldos respectivos:

31/12/X0 31/12/X1 Variações


Caixa 100 100 -
Bancos 500 5.000 4.500
Aplicações Financeiras 5.000 12.200 7.200
Duplicatas a Receber 10.000 20.000 10.000
Perdas Estimadas em Crédi-
(1.000) (1.500) (500)
tos de Liquidação Duvidosa
Estoque 12.000 15.000 3.000
Despesas Pagas Antecipada-
3.000 5.000 2.000
mente
Imobilizado 30.000 35.000 5.000
Depreciação Acumulada (6.000) (4.500) 1.500
TOTAL DO ATIVO 53.600 86.300 32.700
Fornecedores 10.000 23.000 13.000
Imposto de renda e contri-
2.000 1.300 (700)
buição social a pagar
Salários a pagar 15.000 8.000 (7.000)
Duplicatas Descontadas - 5.000 5.000
Empréstimos de Curto Prazo 20.000 30.000 10.000
TOTAL DO PASSIVO 47.000 67.300 20.300
Capital 5.000 15.000 10.000
reservas de lucros Acumu-
1.600 4.000 2.400
lados
356
TOTAL DO PATRIMÔNIO
6.600 19.000 12.400
LÍQUIDO
Contabilidade Financeira

TOTAL DO PASSIVO + PL 53.600 86.300 32.700


Fonte: Iudícibus et al (2010, p. 575)

2. Levantamento da DRE – Demonstração do Resultado


do período:
DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO X1 (EM R$)
Vendas 40.000
Custo das Mercadorias Vendidas (20.000)
Lucro Bruto 20.000
Despesa de Salários (14.000)
Depreciação (1.500)
Despesas Financeiras (1.000)
Desp. Prov. Perdas Estimadas Cred. Liq. Duvi-
(1.000)
dosa
Despesas Diversas (600)
Receitas Financeiras 300
Lucro na Venda de Imobilizado 3.000
Lucro antes do IR/CSLL 5.200
Imposto de Renda e Contribuição Social (1.300)
Lucro Líquido 3.900
Fonte: Iudícibus et al (2010, p. 575)

3. Informações Adicionais:
• Custo do Imobilizado vendido = R$15.000,00, já
depreciado em R$3.000,00;
• As despesas financeiras foram integralmente pagas;
• Foram pagos dividendos no valor de R$1.500,00;
• Aplicações financeiras em CDBs31 de 30 e 60 dias e
em caderneta de poupança.

4. Ajuste da DRE pelas variações do Balanço


Patrimonial*
DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO X1 (EM R$)
Ajustada pelas variações dos saldos do balanço patrimonial 357

Vendas 40.000 DRE

do Magistério no Brasil e a Educação na Bahia


Planos decenais, financiamento e valorização
Desp. Prov. Perdas Estimadas Cred. Liq. Duvidosa (1.000) DRE
Variação sld. Duplicatas a Receber (10.000) BP
Variação sld Perdas Estimadas Créd. Liq Duvidosa 500 BP
Recebimento de Clientes 29.500
Receitas Financeiras 300 DRE
Recebimento de Juros 300
Variação sld. Duplicatas Descontadas 5.000 BP
Variação sld. Duplicatas Descontadas 5.000
Custo das Mercadorias Vendidas (20.000) DRE
Variação sld. Estoques (3.000) BP
Variação sld. Fornecedores 13.000 BP
Pagamentos a Fornecedores de Mercadorias (10.000)
Imposto de Renda e Contribuição Social (1.300) DRE
Variação sld. Imposto de Renda e Contr. Soc. a
(700) BP
pagar
Pagamentos de Impostos (2.000)
Despesa de Salários (14.000) DRE
Variação sld. Salários a Pagar (7.000) BP
Pagamentos de Salários (21.000)
Despesas Financeiras (1.000) DRE
Pagamentos de Juros (1.000)
Despesas Diversas (600) DRE
Variação sld de Despesas Pagas Antecipadamente (2.000) BP
Despesas Pagas Antecipadamente (2.600)
Caixa Líquido Consumido nas Atividades
(1.800)
Operacionais
Lucro na Venda de Imobilizado 3.000
31. CDB (Certificado de Depósitos Bancários): título de renda fixa.
Depreciação Acumulada do Imobilizado Vendido (3.000)

Informações
Adicionais
Baixa pela Venda de Imobilizado 15.000
Aquisição de Imobilizado (20.000)
Depreciação (1.500) DRE
Variação sld. Depreciação Acumulada 1.500 BP
Caixa Líquido Consumido nas Atividades de
(5.000)
Investimento
358
Contabilidade Financeira

Variação sld. Capital (aumento de Capital) 10.000 BP


Variação sld. Empréstimos de Curto Prazo 10.000 BP
Pagamentos de dividendos (1.500) I.A
Caixa Líquido Gerado nas Atividades de
18.500
Financiamento
Aumento Líquido no Caixa e Equivalentes de
11.700
Caixa
Saldo de Caixa e Equivalentes de Caixa em X0 5.600 BP
Saldo de Caixa e Equivalentes de Caixa em X1 17.300 BP

(*) Este passo pode ser desprezado quando o responsá-


vel pela elaboração da DFC se sentir seguro para trans-
por os dados das variações do Balanço Patrimonial e da
DRE diretamente no modelo de apresentação. Entretanto,
aconselha-se que seja utilizado como “papel de trabalho”,
visto ser muito mais fácil a visualização de onde os valo-
res foram extraídos e, consequentemente, analisá-los e
explicá-los.

Nesse método, o volume líquido de caixa (fluxo de


caixa líquido) das atividades operacionais apurado deve ser,
obrigatoriamente, conciliado com o lucro líquido do período:
Conciliação do Lucro Líquido e o Caixa das Operações
Lucro líquido 3.900
(+) Depreciação (8) 1.500
(-) Lucro na Venda de Imobilizado (**) (3.000)
2.400
Variação sld. Duplicatas a Receber (10.000)
Variação sld Perdas Estimadas Créd Liq Duvidosa 500
Variação sld. Duplicatas Descontadas 5.000
Variação sld. estoques (3.000)
Variação sld. Fornecesores 13.000
Variação sld. Imposto de Renda a Contr Soc a
(700)
Pagar
Variação sld. Salários a Pagar (7.000) 359
Variação sld. Despesas Pagas Antecipadamente (2.000)

do Magistério no Brasil e a Educação na Bahia


Planos decenais, financiamento e valorização
Caixa Líquido das Atividades Operacionais (1.800)

(*) Desepsas de Depreciação não afetam o Caixa


(**) Corresponde à Atividade de Investimento

Essa conciliação indica que, partindo do lucro ou pre-


juízo líquido apurado na DRE, ajustado pelas transações que
não afetam o caixa gerado por essas operações, chega-se ao
mesmo valor do caixa líquido que seria obtido apurando os
recebimentos e pagamentos considerados individualmente.
Pode-se, também, entender essa conciliação como
sendo a transformação do resultado contábil (lucro/prejuízo
econômico), apurado pelo regime de competência, em lucro
ou prejuízo apurado pelo regime de caixa.
Vamos, agora, visualizar essa movimentação ana-
lisando os razonetes das contas que compõem o Balanço
Patrimonial e os seus efeitos no caixa.
ATIVIDADES OPERACIONAIS
Duplicatas e Receita de
Receber Vendas
(X0) 10.000 500 (2) 40.000 (1)
(1) 40.000 29.500 (4)

(X1) 20.000

Perdas com Créditos


de Liquid. Duvidosa
(2) 5000 1.000 (X0)
1.000 (3)

1.500 (X1)
Prov. Perdas Custo das
Estimadas c/ Mercadorias Estoques
Créd. Liq. Duv. Vendidas
(3) 1.000 (5) 20.000 (X0) 12.000 20.000 (5)
(6) 23.000

360 IR e CSLL a IR e Cont.


Fornecedores
Pagar Social
Contabilidade Financeira

(7) 10.000 10.000 (X0) (9) 2.000 2.000 (X0) (8) 1.300
23.000 (6) 1.300 (8)

23.000 (X1) 1.300 (X1)

Vreceitas
Salários a Pagar Salários
Financeiras
(b) 21.000 15.000 (X0) (a) 14.000 300 (c)
14.000 (a)

8.000 (X1)

Despesas Duplicatas Despesas Pagas


Financeiras Descontadas Antecipadamente
(d) 1.000 5.000 (e) (X0) 3.000 660 (f)
(g) 2.600

5.000 (X1) (X1) 2.000

Despesas Caixa e
Diversas Equivaletes de
Caixa
(f) 600
X0 5.600 10.000 (7)
(4) 29.500 2.000 (9)

(c) 300 21.000 (b)


(e) 5.000 1.000 (d)
2.600 (g)
ATIVIDADES DE INVESTIMENTO
Depreciação
Imobilizado Depreciação
Acumulada
(X0) 30.000 15.000 (i) (i) 3.000 6.000 (X0) (h) 1.500
(j) 20.000 1.500 (h)

35.000

361
Lucro na Venda Caixa e
de Imobilizado

do Magistério no Brasil e a Educação na Bahia


Planos decenais, financiamento e valorização
Equivaletes de
3.000 (i) Caixa
X0 5.600 10.000 (7)
(4) 29.500 2.000 (9)

(c) 300 21.000 (b)


(e) 5.000 1.000 (d)
(i) 15.000 2.600 (g)
20.000 (j)

ATIVIDADES DE FINANCIAMENTO
Empréstimos Dividendos a
Capital
Curto Prazo Pagar
5.000 (X0) 20.000 (X0) (o) 1.500 1.500 (n)
10.000 (k) 10.000 (l)

15.000 (X1) 30.000 (X1)

Apuração de
Reserva de Lucros Resultado
Acumulados
20.000 40.000
(n) 1.500 1.600 (X0)
1.000 300
3.900 (m)
1.300 3.000
4.000 (X1)
14.000
1.000
600
1.500
(m) 3.900
Caixa e
Equivaletes de
Caixa
X0 5.600 10.000 (7)

(4) 29.500 2.000 (9)

(c) 300 21.000 (b)


(e) 5.000 1.000 (d)
362
(i) 15.000 2.600 (g)
Contabilidade Financeira

(k) 10.000 20.000 (j)

(l) 10.000 1.500 (o)

17.300

Vamos relembrar como se apura o resultado?

Receitas de Custo das Merca- Prov. Perdas Estimadas


Vendas dorias Vendidas c/ Créd. Liq Duvidosa

40.000 40.000 (1) (5) 20.000 20.000 (3) 1.000 1.000

Imposto de Renda e Receitas


Salários
Contribuição Social Financeiras
(8) 1.300 1.300 (a) 14.000 14.000 300 300 (c)

Despesas Despesas
Depreciação
Financeiras Diversas
(d) 1.000 1.000 (f) 600 600 (h) 1.500 1.500
Apuração de
Lucro na Venda de
Resultado
Imbilizado
20.000 40.000
3.000 3.000 (i)
1.000 300

1.300 3.000
14.000
1.000
363
600

do Magistério no Brasil e a Educação na Bahia


Planos decenais, financiamento e valorização
1.500
(m) 3.900

Muito bem! Vamos colocar os valores apurados no


modelo de apresentação da Demonstração dos Fluxos de
Caixa pelo Método Direto.

Demonstração dos Fluxos de Caixa (Método Direto)


20XX*
Atividades Operacionais
Recebimento de clientes 29.500
Recebimento de juros 300
Duplicatas descontadas 5.000
Pagamentos:
- a fornecedores de mercadorias (10.000)
- de impostos (2.000)
- de salários (21.000)
- de juros (1.000)
- despesas pagas antecipadamente (2.600)
Caixa Líquido Consumido nas Atividades (1.800)
Operacionais
Atividades de Investimento
Recebimento pela venda de imobilizado 15.000
Pagamento pela compra de imobilizado (20.000)
Caixa Líquido Consumido nas Atividades (5.000)
de Investimento
Atividades de Financiamento
Aumento de capital 10.000
Empréstimos de curto prazo 10.000
Pagamento de dividendos (1.500)
Caixa Líquido Gerado nas Atividades de 18.500
Financiamento
Aumento Líquido no Caixa e Equivalentes 11.700
de Caixa
364
Saldo de Caixa e Equivalentes de Caixa em XX 5.600
Saldo de Caixa e Equivalentes de Caixa em 17.300
Contabilidade Financeira

XX (ano seguinte)

Fonte: Iudícibus et al (2010, p. 578)

(*) Não há ano anterior para comparação

Mas, o que esses números nos mostram, afinal?


Ao analisarmos a DFC utilizada, como exemplo, pode-
mos concluir que:
a) A empresa teve um lucro líquido de R$3.900,00, mas
somente R$2.400,00 permaneceram no seu giro, como
resultante das suas atividades operacionais:

Lucro Líquido 3.900


(+) Depreciação (*) 1.500
(-) Lucro na Venda de Imobilizado (**) (3.000)
2.400
(*) Despesas de Depreciação não afetam o Caixa
(**) Corresponde à Atividade de Investimento

b) As movimentações nas contas de Duplicatas


a Receber, Perdas Estimadas com Créditos de
Liquidação Duvidosa, Fornecedores, Estoques,
Despesas Antecipadas, Salários a Pagar e Duplicatas
Descontadas, levaram a um “consumo” de caixa pelas
atividades operacionais de R$1.800,00.
c) O déficit de caixa resultante das atividades opera-
cionais levou a empresa a recorrer a empréstimos de
curto prazo (R$10.000,00), mesmo com o aporte de
capital no mesmo valor, razão que a motivou a pagar
dividendos de R$1.500,00.
d) Aparentemente, a gestão financeira não está bem con-
duzida, visto a ocorrência de um aumento líquido na dis-
ponibilidade de R$11.700,00. A empresa demonstra estar
365
captando recursos a juros de mercado (empréstimos
de curto prazo) e deixando tais recursos em aplicações

do Magistério no Brasil e a Educação na Bahia


Planos decenais, financiamento e valorização
financeiras a uma menor taxa (variação de R$7.200,00) ou
parados na conta corrente (variação de R$4.500,00).
É importante salientar que quanto mais parâmetros o
usuário da informação dispuser para realizar uma análise his-
tórica dos Fluxos de Caixa, assim como a sua integração com
a DRE, maiores serão as possibilidades de estimativas dos flu-
xos futuros de caixa, assim como mais próximas da realidade.

8.3.2 Método indireto


A elaboração da DFC pelo método indireto assume a
premissa de que todo resultado (lucro ou prejuízo) afetou dire-
tamente o caixa da entidade. Sabe-se, no entanto, que tal afirma-
tiva não é verdadeira, visto que há componentes no resultado
que não significam entradas ou saídas de caixa. Logo, nesse
método, é necessário ajustar o lucro ou o prejuízo por esses fato-
res que não representaram fluxos de caixa reais ou, ainda, que
pertençam a outros grupos de fluxos de caixa, como investimen-
tos ou financiamentos. Exemplos de ajustes ao resultado líquido:
• Transações que não envolvam caixa (provisões,
depreciação, impostos diferidos, variações cambiais
não realizadas, resultado de equivalência patrimonial
em investimentos e participação de minoritários);
• Diferimentos ou outras apropriações por compe-
tência sobre recebimentos ou pagamentos operacionais
passados ou futuros; e
• Itens de receita ou despesa associados com fluxos
de caixa das atividades de investimento (ganho ou
perda na venda de imobilizado) ou de financiamento
(ganho e perda na baixa de empréstimos).
Segundo Iudícibus et al (2010, p. 574), “esse método faz
a ligação entre o lucro líquido constante na Demonstração de
366
Resultados (DRE) e o caixa gerado pelas operações”.
A maior utilidade desse método de elaboração da DFC,
Contabilidade Financeira

de acordo com esses autores (id), é mostrar as origens de


recursos ou as aplicações que decorrem de alterações nos pra-
zos das operações, geralmente de caráter temporário, princi-
palmente no que se refere a Clientes, Estoque e Fornecedores.
Por exemplo: em um exercício pode-se constatar um aumento
de caixa das atividades operacionais em função da redução
do prazo de recebimento dos clientes ou, ainda, porque se
aumentou o prazo de pagamento aos fornecedores.
Trata-se de um método que proporciona maiores sub-
sídios para análises e maior facilidade de automatização e
informatização para ser elaborado, assemelhando-se à antiga
DOAR – Demonstração de Origens e Aplicações de Recursos
–, cuja apresentação deixou de ser exigida pela Lei nº 11.638/07.
Entretanto, em que pese os seus benefícios, as entidades norma-
tizadoras das práticas contábeis recomendam que a DFC seja ela-
borada pelo método direto, considerando sua maior facilidade
de entendimento por parte do usuário da informação contábil.

Roteiro para elaboração da DFC pelo Método Indireto


Assim como no método indireto, seguir alguns proce-
dimentos básicos pode facilitar muito a elaboração da DFC
pelo método indireto. Vejam quais são esses procedimentos:
• Levantamento de dois Balanços Patrimoniais cor-
respondentes a dois períodos consecutivos;
• Levantamento da DRE – Demonstração do
Resultado do período;
• DLPA (Demonstração dos Lucros ou Prejuízos
Acumulados) ou DMPL (Demonstração das Mutações
do Patrimônio Líquido);
• Apurar a variação dos saldos dos Balanços
367
Patrimoniais. Exemplo: saldos de 20XX menos os sal-

do Magistério no Brasil e a Educação na Bahia


Planos decenais, financiamento e valorização
dos do ano anterior;
• Obter informações sobre a movimentação (compras
e vendas) dos Ativos Imobilizados, pagamento de divi-
dendos e outras operações específicas;
• Ajustar o lucro líquido (ou prejuízo);
• Transpor os valores finais assim apurados para o
modelo de DFC – Método Indireto.

Modelo Básico* de DFC pelo Método Indireto


Exercícios Findos em 20X1 20X2
Atividades operacionais
Lucro (ou Prejuízo) Líquido do Exercício
(+) Depreciações
(+/-) Resultado na venda de Imobilizado
(+/-) Resultado de Equivalência Patrimonial
(+/-) Outros ajustes
Lucro Ajustado
(+/-) Redução/Aumento no estoque
(+/-) Redução/Aumento em clientes
(+/-) Redução/Aumentos em despesas antecipadas
(+/-) Redução/Aumentos em créditos tributários
(+/-) Aumento/Redução de salários a pagar
(+/-) Aumentos/Redução em contas a pagar
(+/-) Aumentos/Redução em fornecedores
(+/-) Aumentos/Redução em impostos a pagar
(+/-) Outros
Caixa Líquido Atividades Operacionais
Atividades de Investimento
(+) Recebimentos pela venda de Imobilizado
(-) Pagamentos pela aquisição de controlada
(-) Pagamentos pela compra de Imobilizado
(+) Recebimentos de Juros
368 (+) Recebimento de dividendos
Caixa Líquido Atividades de Investimentos
Contabilidade Financeira

Atividades de Financiamento
(+) Recebimento pela emissão de ações
(+) Recebimento pela emissão de debêntures
(-) Pagamento de Passivos por arrendamento
(-) Pagamentos de Dividendos
Caixa Líquido Atividades de Financiamentos
Aumento líquido de caixa e equivalentes de caixa
Caixa e equivalentes de caixa no início do período
Caixa e equivalentes de caixa ao fim do período

Fonte: Greco e Arend (2012, p. 121), adaptado.

(*) Eventualmente, podem ser acrescentadas ou retiradas linhas.

Para o método indireto permanecem válidos os con-


ceitos sobre aumento e diminuição dos saldos/variações de
Ativo e Passivo, ou seja:
a) Redução das contas do Ativo aumenta o caixa da
entidade, visto que mostra que houve recebimentos
maiores do que as entradas de valores a receber. No
caso de clientes, deve-se tomar cuidado com as possí-
veis baixas realizadas contra as perdas estimadas em
créditos de liquidação duvidosa.
b) Aumento nas contas do Ativo diminui o caixa da
entidade, visto que mostra que houve recebimentos
menores do que do que as entradas de valores a rece-
ber. No caso de clientes, por exemplo, demonstra que
parte da receita de vendas foi vendida a prazo, ou seja,
não houve entrada de recursos no caixa.
c) Aumento nas contas do Passivo aumenta o caixa, visto
que mostra que houve menos pagamentos efetuados.
d) Redução das contas do Passivo diminui o caixa,
visto que mostra que houve mais pagamentos.
369
Assim, pode-se resumir o comportamento dos Ativos

do Magistério no Brasil e a Educação na Bahia


Planos decenais, financiamento e valorização
e Passivos, da mesma forma como foi feito na DFC pelo
método direto:
Análise das Variações

Diminuem . Aumento nas contas do Ativo


o Caixa . Redução nas contas do Passivo

Aumentam . Redução nas contas do Ativo


o Caixa . Aumento nas contas do Passivo

Iudícibus et al (2010, p. 574), coloca as seguintes regras


básicas para elaboração do fluxo de caixa das atividades ope-
racionais pelo método indireto:
1. Registrar o lucro líquido (transcrever da DRE);
2. Somar (ou subtrair) os lançamentos que afetam o
lucro, mas que não têm efeito no caixa, ou cujo efeito
no caixa se reconhece em outro lugar da demonstra-
ção ou num prazo muito longo (depreciação, amor-
tização, resultado de equivalência patrimonial,
despesa financeira de longo prazo etc.);
3. Somar (ou subtrair) os lançamentos que, apesar de
afetarem o caixa, não pertencem às atividades ope-
racionais (por exemplo, ganho ou perda na venda,
à vista, de imobilizado ou de outro ativo não per-
tencente ao grupo circulante);
4. Somar as reduções nos saldos das contas do Ativo
Circulante e Realizável a longo prazo vinculadas
às operações;
5. Subtrair os acréscimos nos saldos das contas do
Ativo circulante e Realizável a longo prazo vincu-
lados às operações;
370
6. Somar os acréscimos nos saldos das contas do
Passivo Circulante e Exigível a longo prazo vincu-
Contabilidade Financeira

lados às operações;
7. Subtrair as reduções dos saldos das contas do
Passivo Circulante e Exigível a longo prazo vincu-
lados às operações.

Para a elaboração da DFC pelo método indireto, além


de utilizarmos os mesmos dados já trabalhados no método
direto, vamos contar, também, com a DMPL – Demonstração
das Mutações do Patrimônio Líquido - do período X1.

Reservas de Lucros
Capital Total
Acumulados
Saldo em 31/12/X0 5.000 1.600 6.600
Aumento de Capital 10.000 - 10.000
Lucro Líquido - 3.900 3.900
Dividendos Pagos (1.500) (1.500)
Saldo em 31/12/X1 15.000 4.000 19.000
Fonte: Iudícibus et al (2010, p.576)

A DMPL serve como referência para a checagem e a


composição das variações do Patrimônio Líquido demonstra-
das no Balanço Patrimonial.
Com todas as informações já levantadas, podemos ela-
borar a DFC pelo Método Indireto:
Demonstração dos Fluxos de Caixa (Método Indireto)
20X1*
Atividades Operacionais
Lucro Líquido 3.900
Mais: Depreciação 1.500
Menos: Lucro na Venda de Imobilizado (3.000)
Lucro Ajustado 2.400 371
Aumento em duplicatas a receber (10.000)

do Magistério no Brasil e a Educação na Bahia


Planos decenais, financiamento e valorização
Aumento e perdas estimadas em créditos de
500
liquidação duvidosa
Aumento em duplicatas descontadas 5.000
Aumento em estoques (3.000)
Aumento em despesas pagas antecipadamente (2.000)
Aumento em fornecedores 13.000
Redução em provisão para IR a pagar (700)
Redução em salários a pagar (7.000)
Caixa Líquido Consumido nas Atividades
(1.800)
Operacionais
Atividades de Investimento
Recebimento pela venda de imobilizado 15.000
Pagamento pela compra de imobilizado (20.000)
Caixa Líquido Consumido nas Atividades
(5.000)
de Investimento

Fonte: Iudícibus et al (2010, p. 578)

Como se pode notar, o que difere a DFC elaborada pelo


método indireto daquela elaborada pelo método direto é a
forma de apresentar o fluxo de caixa líquido oriundo das ati-
vidades operacionais.
Em qualquer dos métodos, toda a informação con-
siderada útil para o respectivo usuário, a conciliação entre
os saldos de Caixa e Equivalentes de Caixa apresentados no
Balanço Patrimonial e aqueles apresentados na DFC devem
ser divulgados em notas explicativas:
Composição do Caixa e Equivalentes de Caixa
Conciliação entre DFC e BP
31/12/X0 31/12/X1
Caixa 100 100
Bancos 500 5.000
Aplicações Financeiras 5.000 12.200

372 Total 5.600 17.300

Por oportuno, vale ressaltar que a utilização da DFC de


Contabilidade Financeira

forma complementar à DRE vem se tornando cada vez mais


comum pelos usuários da informação contábil, pois é o ins-
trumento que permite visualizar quais grupos de operações
consumiram ou geraram caixa e onde os resultados econômi-
cos, apurados pelo regime de competência na DRE, diferem
dos resultados financeiros, consubstanciados na DFC.
Muito bem! Antes de encerrarmos, vamos, mais uma
vez, “conferir” se alcançamos os objetivos de aprendizagem
propostos para a Aula 8:

Objetivos de aprendizagem
‚‚Conhecemos os objetivos da DFC – Demonstração dos
Fluxos de Caixa?
‚‚Sabemos identificar quais são as atividades de investi-
mento, financiamento e operação?
‚‚Conhecemos as peculiaridades de um fluxo de caixa em
moeda estrangeira?
‚‚Conhecemos os principais componentes que compõem
os fluxos de caixa de uma entidade (juros e dividendos,
tributos, caixa e equivalentes de caixa)?
‚‚Aprendemos a elaborar a DFC – Demonstração dos
Fluxos de Caixa utilizando os métodos direto e indireto?

Este é o momento de refletirmos, não só sobre a Aula 8,


mas, também sobre todas as outras. Como estamos nos sen-
tindo em relação ao conhecimento agregado pelo conteúdo
da disciplina? E os objetivos propostos lá no início, será que o
alcançamos, de forma satisfatória? Vamos revê-los:
Atividades de Financiamento
Aumento de capital 10.000
Empréstimos de curto prazo 10.000
Pagamento de dividendos (1.500)
Caixa Líquido Gerado nas Atividades de
18.500
Financiamento
Aumento Líquido no Caixa e Equivalentes
11.700 373
de Caixa
Saldo de Caixa e Equivalentes de Caixa em X0 5.600

do Magistério no Brasil e a Educação na Bahia


Planos decenais, financiamento e valorização
Saldo de Caixa e Equivalentes de Caixa em X1 17.300

1. Utilizar o método das partidas dobradas para a escri-


turação dos fatos contábeis mais comuns como com-
pra e venda de mercadorias, produtos e serviços,
provisões, depreciações, amortizações etc. identifi-
cando-os como origens ou aplicações de recursos.
2. Elaborar o Balanço Patrimonial (BP), analisando os
aspectos financeiros relacionados às mutações do
patrimônio, sob a perspectiva de financiamentos e
investimentos, e respectivos reflexos no resultado
das organizações.
3. Elaborar a Demonstração do Resultado do Exercício
(DRE) e analisar o desempenho da organização
com base nesse demonstrativo, entendendo a sua
correlação com a evolução do patrimônio e com o
Balanço Patrimonial.
4. Elaborar a Demonstração dos Fluxos de Caixa
(DFC) e correlacioná-la com a DRE, de forma a
compreender quanto do resultado gerado no perí-
odo realmente já se transformou em caixa para a
entidade e qual o grupo de operações contribuiu
para o consumo ou geração desse caixa.
Se tivermos qualquer desconforto em relação aos
objetivos traçados, voltemos ao ponto que nos incomoda
e “acabemos com ele”! Todo o conhecimento que ainda
temos para assimilar depende da base sólida que estamos
construindo!
Vamos relembrar?
Nesta aula, estudamos um demonstrativo contábil de fun-
damental importância para a gestão financeira das entida-
374 des – Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC).
Estudamos algumas definições importantes, tanto para a
elaboração, quanto para a análise da DFC, como as transa-
Contabilidade Financeira

ções que envolvem caixa ou equivalentes de caixa, entendo


como equivalentes de caixa, aquelas operações que pos-
sam ser convertidas em dinheiro de forma imediata.
Aprendemos que a DFC deve ser apresentada enfatizando três
grupos de operações: as atividades operacionais, as ativida-
des de investimento e as atividades de financiamento. Desta
forma, o usuário da informação tem como avaliar quanto do
caixa da entidade está sendo gerado, primeiramente, por suas
atividades operacionais, além de perceber quais grupos de
operações está gerando ou consumindo caixa.
Estudamos, também, qual o tratamento a ser aplicado a situ-
ações específicas como operações em moeda estrangeira,
juros, dividendos e juros sobre o capital próprio, imposto
de renda e contribuição social sobre o lucro líquido.
Finalmente, conhecemos as peculiaridades dos dois
modelos de apresentação da DFC – o método direto e o
método indireto – e aprendemos a elaborar esse demons-
trativo pelos dois métodos.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO E


AUTOAVALIAÇÃO
Observe a DFC da TAM e:

1.Identifique qual o método utilizado para a sua elaboração;

2.Identifique qual a diferença entre a DFC da TAM e o modelo


tradicional estudado e, de acordo com o modelo tradicional,
monte o Caixa Líquido das Atividades Operacionais.
3.O fluxo de caixa das operações melhorou ou piorou em
2012?

TAM: Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC)


Transportes Aéreos Meridionais
Demonstração de Fluxo de Caixa 31/03/2012 31/03/2011
valores em milhões de reais (M) (3m) (3m)
375
Caixa Líquido Atividades Operacionais 259,9 M -105,0 M
Caixa Gerado nas Operações 282,4 M 368,2 M

do Magistério no Brasil e a Educação na Bahia


Planos decenais, financiamento e valorização
Variações nos Ativos e Passivos 154,1 M -286,9 M
Outros -176,7 M -186,3 M
Caixa Líquido Atividades de -53,9 M -109,3 M
Investimento
Caixa Líquido Atividades de -302,5 M -233,6 M
Financiamento
Aumento (Redução) de Caixa e -96,5 M -447,9 M
Equivalentes
Saldo Inicial de Caixa e Equivalentes 650,1 M 1.012,2 M
Saldo Final de Caixa e Equivalentes 553,6 M 564,3 M
Critério de elaboração IFRS IFRS

Fonte: http://www.econoinfo.com.br/demonstracoes-financeiras/fluxo-de-caixa?ce=TAMM

R esolução:
1. Método Direto.

2. A única diferença, além da DFC da TAM ser um “resumo”,


é o fato do “total” do Caixa Líquido das Atividades preceder
a sua composição. De acordo com o modelo tradicional, esse
grupo seria demonstrado da seguinte forma:

Caixa Gerado nas operações 282,4M 368,2M


variações nos Ativos e Passivos 154,1M (286,9M)
Outros (176,7M) (186,3M)
Cx. Líquido Atividades Operacionais 259,9M (105,0M)
3. O fluxo de caixa resultante das operações, em 2012, melho-
rou muito em relação ao mesmo período, em 2011 (247%).

Chegamos, assim, ao final deste módulo.

LEITURAS RECOMENDADAS
376
QUINTANA, Alexandre C. Análise da utilização da de-
monstração do fluxo de caixa como um instrumento de ges-
Contabilidade Financeira

tão financeira nas sociedades anônimas de capital aberto


do Estado do Rio Grande do Sul. Revista de Ciências da Ad-
ministração, v. 10, n. 22, p. 55-79, set./dez. 2008. Disponível
em: http://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/4000401.pdf

SITES RECOMENDADOS
www.cfc.org.br
www.cpc.org.br
http://www.econoinfo.com.br/demonstracoes-financeiras/
balanco-patrimonial?ce=TAMM

R e f e r ênci a s
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução
CFC nº. 1.125/08. Aprova a NBC T 3.8 – Demonstração dos
Fluxos de Caixa (DFC). Brasília, 2008. Disponível em: http://
www.cpc.org.br/pdf/Res_1125.pdf

GRECO, A., AREND, L. Contabilidade: teoria e prática bási-


cas. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

IUDÍCIBUS, S. de et al. Manual de contabilidade societária.


São Paulo: Atlas, 2010.

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