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Denise Soares
Filipa Sousa
Fabiana Scarrone
João M. Carvalho
João Paulo Vilas-Boas
Jefferson Loss
RESUMO
As lesões do membro inferior são muito freqüentes em bailarinos, quer sejam de dança
moderna, jazz ou de ballet clássico. A elevada amplitude que se verifica ao nível do
joelho, os elevados momentos articulares produzidos e a reduzida área de contato da
articulação patelo-femoral induzem nesta elevados gradientes de força que igualmente
podem provocar diversas patologias. O objetivo deste trabalho consiste na
implementação do estudo das forças e momentos articulares e da potência mecânica
muscular, através da dinâmica inversa, em saltos elementares do ballet clássico. No
estudo piloto foram analisados 3 saltos diferentes, realizados por duas bailarinas, sendo
estes executados 12 vezes cada um. As variáveis cinemáticas foram obtidas através de
um sistema de vídeo e a força de reação com o solo com a utilização de uma plataforma
de força. Os resultados obtidos mostraram que a metodologia utilizada se mostra
bastante fidedigna, na medida em que apresenta valores condizentes com aqueles
apresentados na literatura. Os valores de pico de força articular alcançaram valores de até
3 vezes o peso corporal da bailarina, momentos articulares de até 120 N.m e potência
mecânica muscular de até 300 J/kg.
ABSTRACT
The purpose of the present study was to verify if different ballet shoes and ballet jumps
have influence on the joint force and on the mechanical work. Seven ballet dancers with
more than ten years of experience performed 3 trials of 3 different jumps. Performances
were videotaped for 2D analysis (Peak 5 System) and reaction forces data were recorded
using a force plate. The results showed that the ballet shoes affect the joint forces and
the negative mechanical work and different jumps have different amounts of force and
work.
Keywords: inverse dynamics, joint force, muscle mechanical power, ballet jumps.
1. INTRODUÇÃO
Duarte, 1996). No ballet clássico já foram mensuradas forças de impacto com o solo da
ordem de seis vezes o peso corporal durante a execução de determinados saltos (Sousa
et al., 2001). Estes patamares de força são contrastantes com a suavidade e leveza
características dos movimentos realizados no ballet clássico. Considerando-se o número
de saltos que uma bailarina executa a cada ensaio, a cada apresentação e ao longo de sua
carreira, o potencial lesivo sobre as articulações é extremamente relevante.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Foram analisadas sete bailarinas que praticavam ballet clássico diariamente há pelo
menos dez anos. Nenhuma das bailarinas apresentou até o momento da coleta dos dados
qualquer tipo de patologia que pudesse interferir na execução dos saltos analisados. Esta
pesquisa foi aprovada pela Comissão PIBIC-CNPq da UFRGS, e as bailarinas assinaram um
termo de consentimento informado concordando com a participação no estudo.
Os três saltos foram realizados com sapatilha de ponta (CP) e com sapatilha sem ponta
(SP). A CP apresenta uma biqueira de gesso, enquanto a SP, confeccionada normalmente
em couro, é mais maleável que a CP.
Após um breve aquecimento, selecionado livremente por cada uma das bailarinas, deu-se
início a uma sessão de familiarização com os procedimentos de execução dos saltos
especificamente requeridos para a aquisição dos dados. Foi solicitado às bailarinas que
executassem os saltos de modo que o membro inferior analisado se movimentasse
predominantemente no plano perpendicular ao eixo ótico da câmera.
O primeiro gesto técnico estudado (salto 1) foi executado em três blocos de 5 repetições,
sucessivamente realizadas por cada uma das bailarinas, sempre com impulsão e
aterrissagem sobre a plataforma de força. A análise deste salto considerou apenas as
quatro primeiras execuções. A quinta e última execução foi desconsiderada devido ao
fato das bailarinas adotarem um padrão distinto, uma vez que não havia um salto
subseqüente, a aterrissagem era realizada de modo diferenciado. Nas quatro primeiras
execuções cada movimento era tanto precedido quanto sucedido pela mesma atividade.
Os saltos 2 e 3 foram realizados três vezes, com uma repetição cada uma. A ordem de
execução foi escolhida de acordo com uma ordem crescente de amplitude dos saltos.
Nestes saltos apenas a fase de aterrissagem era realizada sobre a plataforma de força.
Para o cálculo dos valores de força articular no membro inferior direito, foi utilizada a
técnica da dinâmica inversa, assumindo um modelo bidimensional (Loss, 2002).
A força de reação do solo (nos dois eixos do plano onde o movimento da cadeia
cinemática ocorria) foi medida utilizando-se uma plataforma de força AMTI, a uma
freqüência de aquisição de 120 Hz.
Além das forças articulares resultantes, a dinâmica inversa possibilita o cálculo dos
valores de momento articular resultante, que pode ser usado como indicador da função
muscular (Bogert, 1994). A partir do momento e da velocidade angular de cada
articulação é possível calcular a potência mecânica muscular:
(1)
onde
P – potência mecânica muscular em uma determinada articulação;
M - momento articular resultante;
w - velocidade angular da mesma articulação.
O momento articular pode apresentar valores positivos ou negativos. O sinal desta
variável está associado ao grupo muscular predominante durante o movimento. O sinal
da velocidade angular explicita a direção do movimento articular. Por sua vez, o sinal da
potência mecânica fornecerá informações referentes ao tipo de contração envolvida no
movimento (concêntrica ou excêntrica).
A potência mecânica muscular é a taxa de realização de trabalho (Winter, 1990). Desta
forma o trabalho mecânico muscular, realizado em um dado intervalo de tempo, é obtido
através da equação (2):
(2)
onde
W - trabalho mecânico muscular entre t1 e t2 .
3. RESULTADOS
dos valores de momento muscular pela velocidade angular do mesmo salto. Valores
positivos indicam contrações concêntricas e valores negativos indicam contrações
excêntricas.
A tabela 2 apresenta os valores de p para cada uma das comparações realizadas (entre
saltos e entre sapatilhas), considerando o pico de força articular. Apenas o salto 2
apresentou diferença significativa no que se refere a comparação entre sapatilha CP e SP,
onde os maiores valores de força articular foram mensurados na sapatilha com ponta. Em
relação à magnitude das forças, o salto 3 foi significativamente superior a todos os
demais. Não houve diferenças entre os saltos 1 e 2.
4. DISCUSSÃO
Pela análise das figuras 1, 2 e 3 nota-se claramente uma diferença no padrão de variação
das curvas na última repetição. Esta diferença se deve principalmente ao fato dos quatro
primeiros saltos serem precedidos e sucedidos por eventos semelhantes, uma fase de
aterrissagem e uma fase de impulsão, respectivamente. Na quinta execução não havia a
fase de impulsão após a aterrissagem, como pode ser visualizado na figura 3, onde
ocorre apenas potência negativa, evidenciando unicamente uma contração excêntrica.
Apesar de ser mostrado apenas um exemplo referente ao salto número 1, os padrões de
execução mantiveram-se nas demais tentativas deste e dos demais saltos, e em todas as
bailarinas, o que evidencia uma elevada consistência nos resultados médios obtidos.
Nos saltos 2 e 3, como apenas foi monitorada a aterrissagem do salto, os picos de força
são referentes a fase excêntrica do movimento. Já no salto 1, que possui fases
concêntrica e excêntrica, os maiores níveis de força foram obtidos na fase excêntrica para
a maioria das bailarinas, em todas as repetições. Apenas uma das sete bailarinas
analisadas apresentou valores de pico de força elevados durante a fase concêntrica.
Assim sendo, as comparações foram sempre realizadas com base nos valores obtidos na
fase excêntrica do movimento.
Era de se esperar que o tipo de sapatilha influenciasse no TMN, uma vez que a sapatilha
CP dificulta a flexão/extensão dos dedos. Embora a articulação do antepé não tenha sido
avaliada, uma diminuição na sua amplitude de movimento deveria acarretar em uma
sobrecarga da articulação do tornozelo. Porém, como pode ser observado na tabela 5,
nenhuma diferença foi encontrada comparando-se os dois tipos de sapatilha. Isto sugere
uma análise do TMN a partir de um modelo que considere a articulação do antepé.
5. CONCLUSÕES
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMADIO, A. C.; SACCO, I. C. N.; LOBO DA COSTA, P. H.; PICON, A. P.; SOUSA, F. Peak
plantar pressure during ballet movements: a preliminary study. In: EMED SCIENTIFIC
MILLENNIUM MEETING. Proceedings. Münich, 2000. p.27.
CLAUSER C. E.; MCCONVILLE J. T.; YOUNG J. W. Weight, volume and center of mass of
segments of the human body. AMRL Technical Report, Ohio, Wright-Patterson Air Force
Base, 1969.
KERRIGAN D. C.; LELAS J. L.; KARVOSKY M. E. Women's shoes and knee osteoarthritis.
Lancet, v.7, n.357 (9262), p.1097-8, Apr., 2001.
LOSS J. F.; CERVIERI A.; SOARES D. P.; SCARRONE F. F.; ZARO M. A.; VAN DEN BOGERT A. J.
SCHNEIDER, H. J.; KING, A. Y.; BRONSON J. L.; MILLER, E. H. Stress injuries and
developmental change of lower extremities in ballet dancers. Radiology, v.113, n.3,
p.627-632, Dec., 1974.
SOUSA F.; LOSS J. F.; SOARES D. P.; SCARRONE F. F.; CARVALHO J. M.; VILAS-BOAS J. P.
Força, momento articular e potência mecânica em saltos elementares do ballet clássico.
In: CBB, 9. Anais... p.143-148, 2001.
AUTORES
Filipa Sousa2
Fabiana Scarrone1
João M. Carvalho3
1 – Centro de Excelência Esportiva - Laboratório de Pesquisa do Exercício - Escola de Educação Física – Universidade
Federal do Rio Grande do Sul - Brasil;
Figura 1 - Força articular, normalizados pelo peso corporal da bailarina, ao nível da articulação
do joelho durante a execução do salto CP
Figura 2 - Momento articular no joelho para o salto 1. Valores positivos indicam momentos
flexores; valores negativos indicam momentos extensores
Figura 3 - Potência muscular no joelho para o salto 1. Valores positivos indicam contrações
concêntricas e valores negativos indicam contrações excêntricas
Tabela 1 - Valores de pico da força articular resultante normalizados pelo peso corporal de cada
bailarina
Tabela 2 - Valores de p para cada uma das comparações realizadas (entre saltos e
sapatilhas), considerando o pico de força articular
Tabela 3 - Valores de Média e desvio padrão (SD) do trabalho mecânico negativo para os saltos 1, 2 e 3 nas
articulações do joelho e tornozelo com as sapatilhas CP e SP