Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
~
~~-
E) RAÔÜÇÃO:
E~ S DE TEO ~J,,ÇAE l RADUÇÀÇTTITERARIA
Bibliografia.
ISBN 978-85-7113-639-7
Amarílis Anchieta
Doutoranda cm Estudos da Traduçao/ PGET / UFSC
amarilisanchieta@gmail.com
grado a hipótese para a literatura original? Que tipo No ensaio "Thoughts on the African Novel", Achebe ( 1977)
de relações pode haver entre obras traduzidas, que são constata, ironicamente, a existência de um desses preconceitos com
apresentados como fatos concluídos, importados de
relação aos primeiros romances africanos, que precisava ser superado :
outras literaturas, destacados por seus contextos de
origem e, consequentemente, neutralizados do ponto
de vista das lutas de centro-e-periferia?' Eu não poderia concluir sem uma palavra de r eco-
nhecimento para aquela pequena escola de críticos
que a.firma, com ares de propriedade, qu.: o romance
As literaturas africanas ainda ocupam uma posição periférica den- africano não existe. Motivo: o romance foi inventa.elo
tro do contexto das traduções que são feitas no Brasil . Os contextos na Inglaterra. Pelo m esmo motivo, cu não sabai.1
de origem das produções literárias africanas e as especificidades dos dirigir um carro, porque não sou descende nte de
embates para legitimação e afrrmação identitárias não são dadas para o Henry Ford .♦
público brasileiro. Faz-se necessário, portanto, compreendermos que
as obras literárias vindas da Nigéria, que aqui nos interessa, não são Apesar das críticas ncgativas que Ac hcbe receb eu, a contribui-
manifestações isoladas, mas sim partes de um sistema amplo e proüfico. ção que Thin9s Fali Apt1rt ( 1958) trouxe às literaturas afi-icanas foi
reconhecida, e hoje Ac b :bc é con siderado um pio neiro do romance
A Nigéria faz parte da região conhecida como África Ocidental,
africano. A esse respeito, Jonathan A. Peters ( 1993) afirma : ~No des-
que p ossui hoje uma rica produção literária. Os primeiros romances
pe rtar do sucesso imediato de C hinua Ac he be como autor fkcinn ,tl ,
publicados ali datam da d écad a de 1940; The Palm- Wine Drinkard
um grande número ele .1fricanos cle t o do o contine nte! come, o u .1
( 1952), do nigerianoAmosTutuola , foi o primeiro em língua inglesa.
escrever ficção." s
Desde então, a Nigéria tem se destacado como terreno literariamente
mais fértil , como afirma Jonathan Peters ( 1993): De fato , Ac hebe serviu de modelo par,1 o despertar Jt• um.1
grande produção !iteraria lllle se seguiu . Seu país nat.i.l tnrn,1L1 sc
Assim como a África Ocidental de língua inglesa e fran- um dos mais prolíficos produtores de autorcs e o bras. Isso se deveu
cesa tem superado outras regiões africanas em termos não só ao tam,mho da popula<,.-ão niger iana (7" país m .i.is populoso
de produção literária, a Nigéria, dentre os países de
do mundo) , mas t,unbé m à qu.i.ntidade d c institutos de forma.,:.io Jc
üngua inglesa da região, tem claramente dominado
tanto a produção criativa quanto o comentário crítico.' nível superio r situados nos centros m e tropo litanos e uni vt· rs1t.íriu-.
como lbadan . A Nigéria uispunha, nos anos Jc 1960, J.: muit.1s cd1
Da,·id Carroll ( 1970), por sua vez, destaca a importância dos toras, tanto particulares c1uanto univcrsitári.l..'> Tudo isso f1.n11t·11tou
romancistas da África Ocidental que, na elaboração de suas obras, se a atmosfera de criação literária l!Ue fc✓, do p,1Ís o maior ,.:xpu,·nll: d1.·
sua região ( PET EKS, 199 j , p. 1 3) .
posfcionaram contra o cplopialismo literário. Segundo ele, essa foi
uma importante contribuição no sentido da independência política e Durante o período 1.:oloni.11 , não havi.i., 11.\ N igéria , urn conjunro
cultural : "Os escritores africanos e mpregaram a literatura em urna de de leitores significativo em língua ing lc~.i. Dessa furm.i , os p r imeiro-.
suas funções tradicionais para explorar e abrir áreas de experiência romances africanos t inham corno público, principalmente, a Eurnp,1 c
novas ou n egligenciadas , limpando o t erreno de prejulgamentos e os Estados Unidos. 1\1\.is c~sa situ.i.~·::io rnud.1 Jepoi!-. da inJcpcnd;·nt ia
preconceitos."•
198
1'J'J
rflITÓRI.\ O.\ T RADUÇ.\ O: [ 'l,AIOS l>E Tt.O Rl \ ,C RITIC.\ f TRADUÇ V> LITFR\Rt\
f ft, J<>RI\ n, T R \ llllÇ~O : l '< , .\ lúS Df. TEO Rl.\ , CRI IICh E l'Rh OUÇÃO Líl FRÁRIA
uma edição mais barata do romance foi imi;iresso e se significati..-a no que con cerne à qualidade <la li te ratura produzida
tornou amplamente disponível por toda Africa. Em no país, com jovens autores aclamados que continuam a m oldar o
1964, Thm9s Fall Apart se tornou o primeiro romance sistema literário niger iano e dialogam co m a tradição forjada pelos
de um escritor africano a ser inscrito no programa de representantes das ge rações anteriores. Podemos citar, com o exem-
escolas secundárias africanas. Em meados dos anos de
plo, C himamanda Ngozie Adichie , autora de Purple J-l1biscus (2003)
1960, as vendas na Nigéria superarillll em muito as
vendas na Grã-Bretanha.' e Ha!fefaYellow Sun ( 2006) . Chimam.lll<la, também d e o r igem igbo,
não hesi ta cm nomear Chinua Ac hebe como sua maior in tl ul!n cia .
Tal r elação de heran ça fica explíc ita cm clin d'reils presen tes em Pur-
As Yendas de Thin9s Fall Apart na Nigéria já sinalizam a constitui-
ção de um público leitor nigeriano consolidado, capaz de movimentar ple Hibiscus, que fazem referên cia ao prime iro romance d e Ac hebc,
o cenário editorial do país e r eceber a produção das próximas gera- Thin9s Fali Apart.
ções de escritores. De fato, a geração formadora, de Chinua Achebe, Além disso, a obra d e C'hinuaAc heh c já foi adaptada para outr as
\Vole Soyinka, Cyprian Ekwensi, entre outros , estabeleceu marcos formas de re prese ntação ar tísticas. F.m 1 97 1, o diretor e produto r
e fomentou a construção da literatura nigeriana. Francis Olaclc· lc ada ptou o s romances Thin9s fül/ Apart e ,Vo Lon9er
Peters classifica a produção literária nigeriana em três tendên- at Ea.,e par,\ o cinema . p o q uarto rnmam:c d e Ac hebc, .1 J /,m ef eh.:
cias diferentes (waves) . A primeira delas vai desde as publicações de People ( 1966), ganho u uma versão l'm quadrinhos , publicada no jornal
Amos Tutuola até 196+ , constituindo a fase inicial, justamente a dos New N i9aian , cm 1975 . O e scr itor Biyi B.mdclc , autor de R11r mt.1 B~r
três primeiros romances de Achebe, quando a literatura niger iana (2007) e diretor da adaptação dL' 1-fa!J ef u Yellvw Sun p,1r..i o cinem.i ,
começa a ser produzida e a dar cara à identidade nacional , ressaltando cm 20 13, também é au tor da vers.io par,1 o tt:atro de Thmgs fu/J .·lpart,
dementas da cultura local e da tradição oral. A segunda onda, que encen.ida pela primeira vez cm 1997 1
vai de 1965 a 1976 , com eça a expressar a desilusão com a nação Esses exe mplos cit.idos acim.i dem o nstram os pon tos de con
independente e a denunciar a corrupção no governo. Um marco
vergência e ntre o bras e autores o u adaptayões de obras litcdr ias quL'
dessa segunda fase é o romance The lnterpreters ( 1965) , de W olc
Soyinka, que , junto com A Man ef the People ( 1966), estabeleceu o
apo ntam para a co m olidação d e um siste ma liter.irio nigc::riano llm
sistema lite rário , nos t er m os de Anto n io Candido (20 13), <lel1nc-sc
f
com pessimista que permeou a maioria das obras dessa fase, que o
como a artic ulação en tre Cl'rtos elementos, com dcstac1uc par..i .
crítico chama d e "romances de g uerra". Peters classifica uma terceira
fase, na qual escritores cada vez mais jovens começam a surg ir e os
[ ... 1a exist ência ele um conjunto de produture:, htc
temas coloniais deixam de ser o foco principal (PETERS, 1993 , p. r.irio:., mais ou menu, consucntl'S du seu papd , um
13) . Esses csc.Titores produzem obras focadas muito mais nas con se- conjunto de n.:ccptores, form.uido us difcrl·ntl':, upo:.
quências de cer to neocolonialismo, que preocu pa t odo o continente de público, sem u, q u.ii:, ,1 obr.i niu vive, um 111c...:a
africano. Além disso, um público le itor nigeriano já está formado, nismo transm issor, (ele m udo geral, u m .i lmlragcm ,
e os rom,mces escritos rtesse pe ríodo intentam alcançar tais leitores t raduzid,1 cm estilos) , <[Ut· liga u11:, aos o utro:. (C AN
mui to mais do que e uropeus o u americanos. D IDO, 20 13 , p. 2~) .
~ºº 20 1
\
111,róR!A º' TRADUÇÃO: ENSAIOS OE TEORU,C Rh lCA E TRADUÇÃO LnERÁRIA H i, í Ó RLA O\ TRAOUÇÃC>: ENS.\ IOS Ol TlO RIA, CIÚI ICA f Tk.\ C>U( A ) 1 ITI ll \ RL\
Segundo o escritor ganense Ngugi waThiong' o , uma certa "clas- que acompanham , que variam t'm cxtens.io e ,lpólI.'.!n-
se bi.irgu<:'sa nacionalista" usou a literatura para "explicar a África para cia, constituem o que .:u ch.lmei [ .. j dr p;iro1tt!..'l.to d.i.
o mundo", mas ele também r econhece que as literaturas africanas ohra [ ... j O para.texto é o que permite que um téxto
em geral , mesmo escritas em línguas europeias, desenvolveram -se ao se torne um lino e seja oferecido como tal a ><'lts
leitores t' para o púhl1co de modo geral '
ponto d e formar uma "tradição coesa e um conjunto de referências
literárias comuns" (NGUGI , 1986, p. 20) .
Th.: Palm ll'ine Dri nkard, de Amos Tutuo la , foi primcir.l obra
O que Ngugí descr eve é a formação, ou a intenção de constru- nigeri.lna tnduzicb . Sob o título de O b.:b.tdor Jt vinh<> Jc p<1lmeu.i
ção, d e um sistema literário africano como um sistema continental ou de Eliane Fontcnclh·, foi public.ldo na <léc.icb de 1970 peb Editora
nacional , de acordo com cada país. E, de fato, se tomarmos a N igéria, Nov,1 Frontt·ira e pelo C írculo d o l.i\-To (REIS, 200~. p. 9) . Pd.i
que aqui nos interessa , é possível afirmar que um sistema literário Edito r;i Nov,1 Frontcir.l, fez parte d,1 coleção Rom.inces d.1 Al"riL.1 ,
está em formação nesse país, se já não estive r constituído, no sentido que publ icou , ,1 p;u-tir Jc l lj76, pelo m enos mais qu,1tro rom:inLcs,
da definição de Antonio Candido, ou seja, o sistema como a tripla além de dt·sst•.
articulação d e elem entos essenciais: as obras literárias, os autores e
Logo ap6s essa. publicação, surgi.1 n,1 Editnr.l Atica u111.1 outr.1
seus leitores. N a Nigéria , existe hoje uma tradição de autores e obras
coleção, int itulacla "Auton·s a.l'ricanos'' , cujas o br as foram publica.d.is
que se tornaram refer ência para as novas gerações de escritores e que
<lo final da d écada de 11.)7 0 .ité o início d a. Jéc;itl.t <le 1',)lJO . Lm,:ou
são obje to de estudo, tanto em seu país quanto fora dele .
27 obras <\lll' variavam 1·11trc rom.inn·s t' ,mtologias ele con tos t· dt·
Considerando então o contexto nigeriano, passamos à análise do poesias. A maior p,1rte d o ,\l'Crvo J .i. colc1;ão l'r,1 1ll' ,ihr.is escrit.is
m odo como o Brasil tem recebido alguns d esses romances. Faremos c m língu,1 portugue,.i. , l\llL' " ,rn.1\ .tm 1H obr.1:, J1• ,\utnn:, .1ngol.111tH,
um panorama d esse cenário na intenção de investigar de que forma cabo -verdianos ou mo,·ambicanos. Apcnas nove obras ti Vl'f ;irn t \llé'
o m ercad o editorial brasile iro tem tratado esse sistem a literário cm passar pelo processo tradutúrio. St•is dd.1s 1:r.1m traduçôes de ohr,1~
formação. Para conduzir a investigação dessas obras traduzidas, anali- cm língua franc.csa d,· .tutores d o Co ngo, Custa Jo M.H llm , l;utnt·,
sam os alguns dos aspectos dos paratextos r esponsáveis pela inserção Scnt:gal ; :,omcntc três ,-r.1m traduções ..1 p,1rtir da lingu..1 111glc~.1: doi,
da literatura nigeriana n o Brasil. Utilizam os o conceito de paratextos da Nigéri.i e um da Som.'1li..1
c unhado por Genette ( 1997) :
202 20J
~
1lisr,~RI.\ " ' TRAUUÇÃO : ~:SSAIOS DE TIORIA,CRITICA E TRADUÇÃO Lll ER.-ÍRIA i1 Hl5'í ÓRIA D.\ TRJ\DUÇAO : E:-.SAIOS DE TEORIA ,CRtT!CA E TRADUCÃO IITER.~RU
1
A coleção se destaca também pe la escolha dos discursos d e a~o~1-
Lista de obras traduzidas e publicadas pela Editora Ática na anhamento de cada uma das obras. A seleção das capas, prefacios
coleção Autores Africanos 1
~ 0 uso de glossários demonstram que a editora se preocup~v~ com
:\utur Título Ano Tradutor Título País
l · - d~s
a mserçao " obras de autores africanos no conte xto bras1lerro. A
Editora Ática usou a estratégia d e publicar os romances como uma
original
coleção, reun indo escritores d e países e culturas distintas sob a deno-
\'. Y. Mudm,bé O bdv imundo 198 1 Sérgio Bath Le bel immond, Congo minação de "autores africanos". Tal tática editorial se deve talvez ao
Nuruddm De uma canela 1982 Sérgio F. G. From a Somália fato de, na época cm que foram publicadas, ''essas literaturas [serem]
Farah tcrtu: romance Bath Crooktd Rib
praticamente desconhecidas da totalidade do público r eceptor e le i-
B.-rnard B. Oirnbiê 1982 Natividade Petlt Cl,mb,, Costa do
Dadié Marllm
tor, em pote ncial" (SOUZA; RIBEIRO , 20 11 , p. 7) . N~ entan~o'. o
Che1kh Hamí- Avtncura ambígua 1982
agrupamento em forma de coleção reforça urna construçao s1mbohca
Wambcrto H . L'.Avtnture Senegal
dou Kanc Ferra.ira ambi9ué e imaginária sobre o continente africano :
Diíbril Tamsir Sund1ata: ou, a 1982 Oswaldo Biato Soundjata Guiné
Niane tpôp<ia man- ou l'epopé, Ressalte-se que no tocanlc às outr.lS literaturas, a
dmga mand1n9ue
exemplo das literaturas da Europa e da América do
Chmua O mundos, 1983 Vera Queiroz Thin91 Fali Nigéria Norte, não se costuma reservar coleção composta
Achebe d,sp,daça C. Silva Apart
por autores dinamarqueses t' norte-americanos , e
Chcms Nadir O aruolâbio do 1983 Sérgio Tapajós L'Astrolab, de Tunísia intitulada por critérios continentais, enquanto, cm
mar la mu
se tratando ele África, pelo mt·nos nos anos 1970 e
Cyprian Gtnu da cidade l 9S3 Sérgio F. G. Pevple oJ the Nigéri3 1980 no Brasil , coube à Edito ra Ática fazer uso do
Ekwen,; Bath CitJ
epíteto, considerando que ru altura es;as literaturas
Sem~nc .i ordem de paga· 1984 JaymeVilla- lt mandate, Senegal eram praticam ente desconhecidas da totalidade do
Ousma.ne memo &..Branca Lobos precedi de público receptor e leitor, e111 potencial. Trata-;e,
9tnese Vthi-ôosani ou
Blanche-G,nese ademais, de uma estratégia que atualme nt.: tem
sido evitada na maioria das editor.is ( . .. ) qu.: têm
publicado escritores como Luandino Vidra , Mia
Esse projeto editorial da Ática foi laureado com o Prêmio Jabuti Couto, José Agualusa, Nadint· Gordimcr, J. M. Co-
etzee, Chimamanda Aclichie, sem incluí los em um.i.
de melhor produção editorial, e m 1980, e de m elhor coleção editada
coleção espt::d fica, e sem reikraçio da su.i. condi.,:ãu
no Brasil, em 1984 . Os prêmios demonstram o reconhecimento con- de africanos ou de sua.s respecti,·a~ nacionalidades
cedido a essa coleção não apenas pela impor tância e resgate de uma (SO UZA ; RIBEIRO, 20 11 , p. 7) .
parte da África, que era até então desconhecida para os brasileiros
no momento do lançamento das obras. Elas formam um retrato das No Brasil , a m esma tradução d e Thinas foll Apart foi publicad.i
relações da produção edit orial das literaturas africanas em um período 1 duas vezes, em 1983 , na coleção Autores Africanos , sob o título de
específico da história, e, com isso , essas escolhas têm implicações
políticas, econômicas e culturais. l
1
O mundo se despedaça. Foi rccditado cm 2009 , pd.i Companhia tias
Letras , com poucas d ifcrcnças: ganha uma nova capa e: algumas no
\
1
1
204 1 205
1
~
l li'il ÓRI~ ll,1 TR,\OUÇ.~ O: ENS \IOS OE l"CORIA, CRITICA E lMDUÇÃO LffERÁRL\ 1 H 15TÓRLI 0 1 T R\ DUÇÃO: f'-SW )S ()F, n ORl l , CRtnc I l TR , ou,\() tm~ \RI\
tas se tr,msformaram em verbetes no glossário, que não existia na (a partir de 2006), vê-se hoje um aumento intcrcs,,.1ntc n,1 q u.rn ti
primeira edição, assinado por Alberto da Costa e Sil va. No entanto, dade de obras traduzidas para o português do Brasil . Começando
os textos das notas de rodapé são idênticos e a edição apresenta o pela tradução do romance 8t"af ts oj no .Vacwn (2005) , do c~cn to r
mesm o texto introdutório, do diplomata brasileiro Alberto da Cos- americano-nigeriano llzodinma lwcab, outros autort•s nigc ri.rnos
ta e Silva, marido da tradutora. É lamentável que a edição de 2009 compõem o cenário J c traduções no Brasil, como Ch1m.1m.rnJ.1
não faça nenhuma refer ência ao cinquentenário de Thin9s Fall Apart :'\igozi Adichie e o também clássico \ Vo te Soyinb
( 1958), comemorado no ano anterior.
Tabela de obras nigt"rianas traduzidas e public.idas no Br.is11
A Editora Companhia das Letras publicou também dois ou-
tros r omances de Achebe, uma coletânea de ensaios e um livro Autor Titulo Ano Tradutor Titulo or1g1n,I blttor.1
infantil. Nas capas dos três romances, per cebem os um esfor ço <le
Amos 0 ~ 1 dt•1nho 1'176 Eli,nc T,.. I\J,., lfo,, i\lnv-.1
padronização na escolha das ilustrações, que liga as obras umas às Tutuol• J, palmtlru funt<ndlc D11niurJ ( 1'1 i l) Fron tr-ir.1
1ron rr"1r.a
se trata da classificação de obras africanas, evidenciada no fato de os Clum1m, n Wttu SvJ,la,ur,/u !llOH
L-
l!r th V1,1r,
- 1- --
11.,Ifef., 1,u.,.. l\,mp,nhi•
-
d, Ngo, I Sun (100f>) J .a., l d u,
três romances de Achebe, que tratam especificam ente da realidade i\d>chi,
dos igbos na Nigéria , serem agrupados sob a denominação de "Tri-
Clunu, U mundo ,, lll<~J Vf't• Qu,.1ru,
-'-- -- -
fh1n~• fui/ llp,m Cump.rnh,,
logia Africana". O que se justifica no caso dessas obras de Achebe, AchcLc Jnp..Ía\J C \1l v1 ( l 'J iM) ,La, 1c1r4,
pois essas marcaram a produção das literaturas em língua inglesa B1y1 B.inddc O menino d• !IJO'J lldu,..,
-- .
ª"'"'" R l"l.Ofd
-
&,y
de todo o continente, lançando as bases para futuras produções e BurniJ Mour,au (2007)
constituindo modelos que justificam a investigação de um sistema Clumu ,i j/o.ha J, D,w 2011 \ e, • Qu,110, ti11 ,. J 1,.,J l'ump,nhJJ
literário africano antes da constituição de sistemas nacionais.
Hoje, a Nigéria possui uma tradição própria que se evidencia
i\chcbc
Ch1m1m1n
d, 1\gou
11,bu,o /l,,;u lO I I
e ~., ••
Juh. Rum.-u -- ( l'lt,1)
\ ·11111p,mh1.i
d.u l t"UJ1
nos diálogos entre as obras e nas r eferências que fazem umas às Awch,c
--
outras. Como já mencionamos acima, a literatura nigeriana se Clunu• t odo<u1Jo d, um• 20 12 lw M.1r. Ih, EJu,:Jtt 111 < t1mp.anh1•
A<hcbc man1u ..d! o pro l .m<lo uj J Hnr,1h
desenvolveu mais do que as de outros países vizinhos e a produção dJ1 1<lf4 S
uto,aJu b, ,Wn""' Prot«ttJ (h1/ 1
crítica também ganhou vigor. O país assim tem chamado a atenção (Fn,..,u,) b,.,11 (!W'I l
.... - - '--
de estudiosos e leitores de outros países. No Brasil, apesar do g rande \\'rilc o lt.io < J /OIJ 1012 w,11,.... I h, {1;0 ,,.J 1h, \1f:íJ\JU
intervalo entre o início das traduções (década d e 1970) e as no vas S.,) 1nlu
- l•.i-v• /rw,/ ( l 'J,'I J 1d1t1)t IJI
206 207
7~ H 1TTORL\ DA TR.\OUÇ.\ O: E., ;5AIUS DE TlO RH,C llITIC.\ l Tll.\ DUÇ ~O LITll\ \ '-1\
l lht Ó RI.\ [l\ TR \ llll( \ O: E!\~.,10, l)E TCORl\, CRtnc ,1 E TRA DUÇÃO LITERÁRU
Scfi Alta Tudo d, bom ,,,. 2013 Vcro Whatdy fatr)th ,ng Good Rccord Obsenamos hoje qut·, de fato, c xist<.'m no Brasil muitas publi-
~conttctr IV11/ Come cações de escritores afr icanos tr.,duzidos do frances <· do ingles. O
(2005)
que ainda não vemos é um esfor ço mais amplo para especializar as
. 1
traduções ou p,1ra sairmos <la classiÍlcação generalizadora de "lite-
Como já mencionado anteriormente e faz-se visível na tabela ratura africana". Não podemos nos esquecer de que a Árrica é um
acima, Chinua Achebe é o autor nigeriano mais publicado no Brasil. continente extenso e povoado por uma ri ca diversidade cultural , com
l\o entanto, suas traduções foram publicadas com urna distância signi- manifestações bastante distintas. Os 5 3 países :ifricanos não dever iam
Bcativa das publicações originais, o que também acontece com Wole ser agrupados dentro Ut' um., classificação única D., mesma forma
Soyinka. Já autores mais novos e com publicações recentes, como que não podemos falar cm "litcr.1tura africana", pois, ape-sar de alguns
r\dichie, Iweala e Bandeie, ganharam versões brasileiras com inter- países de determinadas regiões pos!iUÍrem pontos histó ricos em co-
valos de um ou dois anos entre o original e a tradução. O primeiro mum, hoje suas respectivas cultur.,s possuem características próprias
romance deAdichie, I-la![ efa }'el/ow Sun (2006), por exemplo, foi um que os d istinguem e os legitimam . Daí a necessidade de transpor para
grande sucesso de vendas, ganhador <lo Orange Prize for Fiction, em as traduçõt:s realizada.~ no Bra:.il unu prcocup,1ç-~o n>m ., origem J.i:;
2007. Talvez essa aclamação internacional tenha despertado o inte- obras e a tradição litt-rári., <1ue ~t· desenvolve t·rn l'Jd., p,1Ís.
resse do mercado editorial brasile iro, ou talvez haja maior interesse Nos anos de 1970 e 1980, d.itas tbs colc<,.Ôes .Kima mencionadas,
por obras provindas do continente africano. O escritor angolano José "Autores Africanos" e "Romances cl.1 África" , era pus.sível justificar
EduardoAgualusa compara o comportamento do m ercado editorial tanto o ag rupamento cm culeçõcs quanto u usn de notas cxplicati\,\S
brasileiro com aque le de Portugal: e textos introdutório:; como sendo urna forma de tnscnr a:,, li ter a
turas africanas e ).CUS co ntextos para u leitor bra:,,ileiro. Queriam
Hoj e você vai às livrarias e encontra livros de es-
apresentar a produção literária da África para os ll·itorl'S que tinh,1111
critores nigerianos, por exemplo, que não estão
publicados em \ ortugal , curiosam ente. Portanto, po uco ou nenhum conhecimento das produções afril'an.ts. ~ lo jl.' , 11.10
é de uma outra Africa, porque , cm Portugal, dá-se há mais co leções <laqueie tipo ; u~ autore~ :,,:i<, publicados dl· form.t
muita atenção para a Àfrica de língua portuguesa, indivi<lual. No entanto, vemo~ que permanece pres;:ntc um t:spírito
'
mas não a outra Africa. '
Mas a Africa de Lmgua
' por- ex plicativo, que acaba por reforçar a ideia d.i t\fric.:a rnmo um grande::
tuguesa sim, você tem que pensar que o Mia Couto continente uniforme. Para tratar l.'~S.1 (1uest:io com att·n11ào, elegemos
é o segundo autor mais vendido em Portugal depois como amostra o romano: de C hinu.i Achl·hc : O munJu )t! J.:)pt!,luçu
de José Saramago. Faz primeiras edições de 30 mil
( 2009) . É pos~ível perceber tal atitude cm nota~ Jc rodap~, como
exemplares. Portanto, os editores todos portugueses
sabem t1ue podem fazer dinheiro com África. No nos exemplos abaixo:
\
Brasil, começa a aco ntecer uma coisa que acontece u r
1
20<)
208
/ li>TÓRIA DA TRA DUÇÃO : ENSAIOS U E TEORIA,CRITICA E TRAD UÇÃO LITERÁRIA
T
1
f-llSTÔRI.\ D.\ TRADUÇ.\O : E:SS.\10S DE TEORL\ ,CRmCA F TRADUÇÃO UTfRÁRI.\
Tão logo a avistara, punha-se a cantar com todo o trais. Na Bahia, é conhecida pelos nome~ que toma
seu ser, a dar-lhes as boas-vindas, após a longa, longa em iorubano, obi e orobô (ACHERE , 2009 , p. 233).
viagem , e a perguntar-lhe se trouxera, de volta a casa,
alguns metros de tecido. Para explicar a relação dos Igbos cem a cola e a noz-de-cola ,
menciona-se a cultura dos lorubás , que, apesar de serem também
*O tecido simbohza a história do povo africano; certos
habitantes da Nigéria, não compartilham necessariamente das mes-
tecidos têm significados especiais: na tradição peul, por
exemplo, um tecido dobrado significa passado. (N.T.) mas tradições dos igbos.
(ACHEBE , 2009 , p. 25). O mercado editorial brasileiro com eça a receber diver sas obr as
traduzidas, vindas do continente africano, da Nigér ia , cm especial.
Na nota acima, percebe-se na tentativa de explicação do texto Apesar desse claro interesse crescente, evidenciado pela quan tidade
um acréscimo de informações que não se relacionam diretamente de traduções publicadas após 2006, as literaturas africanas ainda são
com o texto e uma generalização das culturas africanas. Primeiro, publicadas como algo exó tico que deve ser inserido com glossário e
temos "a história do povo africano", pressupondo a existência de notas que acabam por generalizar a riqueza daque las culturas. Como
um povo Único. Em seguida temos a inserção do exemplo do povo vimos, a Nigéria , hoje, já possui um sistema literário em estágio
Peul e do modo como eles significam o uso de tecidos, mas o texto avançado de desenvolvime nto , com manifestações liter árias que j.í
de Achebe não menciona os Peuls. Os Peuls, na Nigéria e nos países evocam uma tradição consoliJada e que , po rtanto, devem receber
africanos de língua inglesa , são conhecidos como "fulas" ou "fulani", mais cuidado editorial cm sua apresentação. Ainda resta espaço p.irJ
e não ocupam a mesma região dos Igbos, personagens de Achebe . A investigações futuras que se atenham também à riqueza linguística
generalização não é mais e vidente , mas ainda existe. Ora, o agrupa- das obras nigerianas e suas diversas possibiliJades de transposição
mento em forma de coleção é uma maneira explícita de generalização para o português do Brasil .
cultural, enquanto que notas como essas se transfiguram numa forma
mais implícita da mesma prática . Vemos outro exemplo em Achebe: NOTAS
" There IS nu awaren"s.r of 1>,., posslble txlJ/enCt' of rrarulated /11erature .u " fJ<l'IICular
Unoka foi até o quarto interior e, de volta, trouxt: /11erary :rystem. The preva,ling concttpl IS rather that of 'tra,ul.111un · or Ju:JI tr,11ul<1tl!J
um pequeno disco de madeira, com uma noz de cola, work.r · treated 011 an md1vidwl ba:m. Is there any basu for a different a.uw,1ptw11, thm
Is f or corul<kring tra,u/ated /11erature as a systitm ? Is tliere ,1.., .'l<Jm<1 .1ort qf c ultur11/ ,mJ
um pouco de pimenta e um pedaço de giz branco • verbal networlc ofre/alluru w11h1n wh,11 s"<1ms lo be an arbllrary gru11p uftrwulut,J 1,1<1., ,u
(ACHEBE , 2009, p. 26). the one we w,llmgly hyputhe,ue for original /11erature? What kmd ofrelatw ru "''Khl tlh!U
be among tra,u/at.td wurlu. wh1ch are pn1n111ed U.J complded Jacu. unpurt,J/ ram 01l1er
/11eratUl'f!s, detached_from the,r ho/111! conttxts and COII.Sl!qu.tntly 11<1utru/1u d from 1h11 po,nt
Glossário ofview ofcenter-and-peripherysrruggl.s?" (EVEN-ZO HAR, l<l<JO, p. ·15, truduç:to nu,s11)
cola :Noz do fruto de árvore da família das esterculi- 2 "'Ju.rt a., Eng/uh - and French-speakmg We,i A/rica U.J a regwn h,u /ar n ceedrd othu
reg,oru 1n /1rerary product,on. so wlthm Engluh-sf"'a/ung Wttst ,ifrica N11{<!na lrw cl,wrly
áceas (das quais a mais comum é a Cola acuminata) , dommated m both creallve and cr ,11cal comnientary" (PETEKS, 199 J. p 1J. traduç:tu no~sa)
muito usada na África Ocidental como estimulante e 3 "Afrtcan wrl/ers have employed t11,m1ture III one o/llS trud111onul r11/<1s to aplore ai,J op,m
up new or 1,eglected area:, a/experl,mce by clearmg the ground ufprt!Judtct! and prttco11Cr!p-
refrescante. Mascada, seu gosto é de início acre, mas t10n" (CARROLL, 1970, p 31, tradução nossa).
depois deixa na boca uma sensação muito agradável. 4 "l daNI not cios" w11hou1 a word of n1cogn111on for thut sma/1 wtd propnt!turv s,·hvol o/
crillcs who a.ssun: u., that th.! Afr1can novel dQo/J nvt t!.t u l. Rru.wn th~ novel wu1 inv~ntcJ
Geralmente oferecida aos visitantes, é também usada m Eng/a,u:l For the wme /mui o/ n1wo11 I shouldn ~ lcnuw how lo dr,v., u cur b"'""-'~ l ,1111
como alime·,1to de ofertório aos deuses e aos ances- 1101 descenda111 of 1/~nry Forr:I' (ACIIEUE, 1977. p. 54, trmluçao nu~a)
210 2 11
H tSTÓRI.~ DATRAUUÇAO : ENSAIOS DE TEORIA,CRITICA E TRADUÇÃO LITERÁRIA
1- HISTÓRIA DA TRADUÇ.\ O: ENSAIOS DE TEORIA,CRtTICA E TRADUÇÃO UTER.\RI\
\
. . d U B B íli 2007 Disponível em : <http: / / repositon o.unb.
Institucional a n . rasi a, ·
s
" ln tire wake ofChtnua Achem, immediate success as a wriler offiction. a /arge number oj
br> . Acessoem : 18dedezembrode2012; .• _ , . .
Africansfrom ali over t/1.! contment bega11 to writefiction'" (PETERS, 1993. p. 20, tradução
6
nossa).
"l·lwrtly after N ,geria gained independence in 1960, a cheap paperback edition ojthe novel
was printe d and became widely available throughout Africa. ln 1964. Thmgs Fali Apart
1 ·d M E· RIBEIRO Maria de Fatima M. De s1lenoos e memo rias.
SOUZA Josene1 a • , ' . B -· \
1' - A tores Africanos e a legitimação das literaturas afncanas no ras1 .
;:º~~~~GRESSO LUSO AFRO BRASILEIRO DE CltNCIAS SOCIAIS.
became tire first no,·el by an Afrrcan writer to be /isted on the syllabi for Afrtcan second-
ary sclrools t/1ro11gho11t tire continent. By the mid-/960s, sales ofthe novel in Nigeriafar \ UFBA, 2011.
surp..isu d tlrose in Bntain □ (SICKELS, 2010, [s.p.], tradução nossa).
1
" A /iterary work consists, e11tire/y oressentially, ofa text, defined (very minimally) as a more
or lo!ss long uqumce ofverbal statements that are more or less endowed wllh significance.
8111 rlris ti?.xt IS rarely presented m an unadorned state, unreinforced and unaccompanied by
a am am number ojverbal or other productions, such as an author 's name, a title, a preface,
illusrrations. (. .. ) These accompanying productions, which vary in extent and appearance,
com111111e wlrat 1 have called paratext. Tire paratext is wlrat enables a text to become a book
and ro be offered as such to its readers and, more generally, to tire public" (GENETIE,
1997, p. 27, tradução nossa).
REFERÊNCIAS
1 2 13
212
H ISTÓRI.\ DA TRADUÇÃO: ENSAIOS DE TEO RIA , CRffiCA E TRADUÇÃO LITERÁRIA H ISTÓ RIA DA TRADUÇÃO: ENSAIOS DE TEO RIA,CRffiCA E TI\ADUÇÃO UTI:RARI\
NOTAS
•:l---1_meus estudos (jamais acabados e que não podem jamais sê-lo)." (Todas as traduções
contidas neste ensa10 silo de nossa autoria.) (N. da T.)
2 " Meu trabalh~, o tr~balho, deveria ser apresentado como o principio fundamental e deter-
m!nante de mmha b10grafia. ('Viver para trabalhar'), ainda uma vez."
3
-1
Disponível em: <hnp://melodiaweb.com/Scssao.aspx?cod=490>. Acesso em: 09 set 2013. ESCRITORES BRASILEIROS TRADUTORES:
"Mas_. de repente, pensei na Leitura, na fina e sutil felicidade da Leitura Era bastante, aquela
alegna que os Anos não podem enfraquecer, aquele vício refinado e impune, aquela egoísta, O CASO RACHEL DE QUEIROZ
serena e durável embriaguez". (N. da T.)
5 Dis_poníve_l em:_<hnpJ/ativastentativas.wordpress.com/page/2/>. Acesso em: 10 set. 2013.
6 O lmo foi escnto em 1985. (N. da T.) Germana Henriques Pe reira de Sousa
Universidade de Brasília
REFERÊNCIAS germanahp@gmail.com
247
246
H 1sr ó RIA DA TRADUÇAO: ENSAIOS DE TEORU ,CRITICA E TRADUÇ\ O LITER \RlA
f lisn'lRIA P\ TRADUÇ\ü : ENSAIOS DE TEO RIA,CRh ICA E TRA DUÇÃO LrfERÁRIA
248
24<.J
\
I IJ~•róRIA [),\ T HADUÇAo : ENSAIOS DE f EORIA CRtr . ·-
' ICA E I RAD UÇÃO LITERÁRIA
HrSTÓRIA DA TRADUÇÃO: E~S AIOS DE lEO RIA, CRtnCA [ TRADUÇÃO UTFRÁRIA
Quanto à importância da atividade para a literatura, Isso significa que Queiroz não foi apena.~ uma escr itora que
eu diria que e realmente grande, uma vez que atraves traduzia, mas uma tradutora que escrevia . Por outro lado , é válido
da tradução o escritor se familiariza com os procedi- ressaltar que não era ela quem assumia por completo a tarefa de
mentos dos autores traduzidos - e pode aprender com selecionar as obras a serem traduzidas , pois essa função era cncab..:
eles. Eu lembro que na época em que eu traduzia, eu
çada por Vera Pereira , esposa de José O lympio . Nessa p.irceriJ rnm
me sentia como se estivesse desmanchando a costura,
desmanchando o crochê de certos escritores, desco-
a editora, a escT itora teve de se adaptar tanto à dem anda dl' titu lo!,
brindo os pontos, os truques prediletos deles. 2 quanto às exigências e peculiaridades que cada obra escolhicb apr.·
sentava , sobre o que ela conta:
É possível supor que existam influências dos autores que Queiroz
traduziu em suas próprias obras , o que justificaria a grande quan- Passe i a ser tradutora efetiva, um livro .itr.i:i dn nutro
e recebe ndo uma retirada mens.il. As ve✓.c; m e oc.orn·
tidade de escritoras femininas que traduziu . Uma forte evidência é
faze r uma conta d os livros que traduzi ncs,<' p<·nodll.
sua quarta obra, As três Marias, de 1939, que circula pelo universo
Adestrei-m e então no ingl.:s, no <1u,1I .it,· ,·ntfo a.1
feminino de três personagens principais ; não possui caráter regional ; frac:a, desde que Vera Pereira, mulhe r de Jo,i,: ( Jl~mp1,, ,
é mais intimista; e foi escrita em primeira pessoa, ao contrário de ass umiu a esco lha de autores a tra<luL1r ,. ,·l.1 go,t.1
suas três obras anteriores . Nesse mesmo ano, a autora trabalhou na va de literatura inglesa. [ . . ] Altern~ va111m d o1,, Ir~,
tradução de Eu soube amar, de Edith Wharton, de 1922 , que também grandes autores pela litcr,1tura c1ue nú, ,·h.1111.í, ;1111m
narra a vida de três mulher_!'!s na Nova York do século XIX . "barata", autores sem import l noa , m.1, bót ,dias n.,
época. Eu c hegava .i. traduúr t.io rapid.1m,•n1e ,.,".
Além disso, Dàra, Doralina (1975) , com aspectos biográficos, tipo de livros, qu~ pagava wna datilógr,1Li (>JI .1 h.1L,-r u
pode ter sido influenciada pelo estilo narrativo das seis biografias e quet.!uditava(QUl:I R()L , <._Jll l:IK.<)'J. , 1')'1/l , p IH 7J
250 2'> 1
tn ouçAo UT ERÁRI\
l
1h ITÔRIA DATRADUÇÃO: E:-15\10S DF TEORl.\ ,CR C,\ E TR.\
111, ró RIA O.\ TR\ DllÇÃO E'.\'SAl05 OE TEO RV. ,CRTTIC ~ E TRADUÇÃO LrrERÁRI.\
J~c l\ustcn
fi_fiw (dJ coltfJo 0/d
N,w)or•J
ilfon<fJ,/J l\,,k
MJn,ji,IJ l'Jrk
.'" t
[ nrh M,rt• Rc U,tu J, 1n,n V..1,hu, n lq-4 1 \\
produção de Rachel de Queiroz para a José O lympio, uma vez que, .\/Jujr"IJ'" l11-1lê ~
mMqur (,no 1n9/i.s Flou,,m)
se contarmos com atenção os itens da lista, percebemos um total /,mpcsr.,J, J'.,/mJ lnl\l;, F
Phylli, Rottumr fh, ,lfortJ/ Stor m
de 4 1 traduções, e não 42 , como consta na observação da página ---- t ,ufoJiJ fft:NW de umJ
ele tronica da ABL. Pe.irl Buck l h1tu l,
m u, i.lffl4rlu.UIJ
ln~l,', 1'14 1
O jornalista Ítalo Gurgel (20 10)5 relata cm artigo que esmiúça a ----
U• phnc Du M• u 11111,l~,
l l 'l-1 1 1-
h,mr.hm,rn ', C",~ 0 ( Q(lltCJ J cJ1 ffOl'f'OCi.JJ
bibliogr afia tradutória de Rachel de Queiroz a descoberta de quatro
novas traduções J a escritora. Tal levantamento foi feito a partir de
\
n~r
\::.)
( /1,,g, 1n /1,umn)
o acervo pessoal da escr itora, contendo os mais diversos volumes, l ~tuJ , h,m H,/, ,,,
11,/,~o IVl!{u,r
1 lni,:lh• 1
além de todas as suas publicações. V1d u 11..um
IV1/ljut1 (//,1,n,)
t 1
111~1-- l 'H ,
Confor m e os dados obtidos, tanto nos arquivos da ABL quan- He nry 1kll, 11unn A totrt.nu
to no artigo de Ítalo Gurgel, elaboram os as tabelas a seguir, para O hvc Prouty 5ul/J 0.,11.,, ' """ n.,11.,, L,11,I~,
,... ' 1 .
m elho r ilustrar as tr aduções de Rachel de Queiroz , confo rme suas \ r l 'l-lh
especificidacies ~ Tas apresent.,m os autores das obras, títulos orig i- '-
PcMI BucL:. l h, Pronu., 1 p,om""' 11111,t;.,
t
252
2')3
\
--.,-
f-11>,ÓRLA 011 TRADUÇÃO : EN~AIOS Dt TEORIA,CRh iCA t TRADUÇÃO LITERÁRIA
H ISTÓRIA DA TRADUÇÃO: El-'511105 DE TEORlll,CIÚTICA E TRADUÇÃO UITR \RH
John t.;alsworthy The Fonyte s~aa A crônica dos limytt Inglês 19+6
~
Ungu• 7
Autor T ítulo origln•I T itulo tracluudo Ano Gent"ro
Do francês foote
..;.:111.
- --.. - ,. ? ,l/,m6r1,s
~~ -
Lcon Toli.tó1 Russo•• \1
---,,~
Llngu:, Gê-
Autor Titulo orig inal T ítu lo tqduzido Ano
fonte nero
Vida d, SantJ rn,
Ot,:,,to1êvslci
Um7htnnp! 1 oskor-
blyonye
Humilhados e
oj,nd,dos
Francês* 19-14
"'
S.nta Ter~ de
Je,u,
L, Vul., dt /~ S.inc.i
,1/aJ« r,,,,., d, jtru, 10 J, j esUJ (t1mW
254 255
- --- ----- - -· -----------------------------
HISfÓIUA DA T RADUÇÃO : ENSAIOS DE TEORIA,CRITICA E TRADUÇ,\ O LITERÁRIA
H1sróRIA DA TRADUÇÃO : ENSAIOS DE TEORIA,CRinCA E TRADUÇÃO urERÁRI.~
256 257
t't'JpÇ
HtSTÓRJ,\ DA TRADUÇÃO : ENSA IOS DE TEO RIA,CRITICA E TRADUÇÃO LITERÁRIA
HISTÓRIA !)A TRADUÇÃO : ENSAIOS DE TfORIA ,CRtrrc A f. nunuç AO LllfR~MIA
258
251)
- -~
1 h sróRI , l},\ T RAOLIÇÀO ; El"SAIOS DF. TEO RIA, CRl-n c A E TRADUÇÃO LffERÁRJA i H ISTÓRIA o , TRADUÇ.\O ESiAIOS DE TEORl<,C RITICA E TRADUÇÃO LITCR \ RL'
260
26 1
\
HISTÓRIA DA TRAD UÇÃO : ENSAIOS DE TEO RIA CRtnCA E TRADl Ç' A
' 1 "º LITER RIA H!STÓRU DA TRADUÇÃO: ENSAIOS DE TEO RIA ,CRlnCA E TRADUÇÃO LITERÁRIA
GUERELLUS N ' t· S
__ _, ata ia • Rachel de Q_ueiroz: regra e exceção (19 10- 1945).
Di_ssertaçao (~cs~rado em História) . Universidade Federal Fluminense,
ln, lltuto de C1enc1as Humanas e Filosofia, 201 1.
GLIRGEL.' halo. Reescrevendo a bibliografia de Rachel de Queiroz tradutora.
ln: Scriptonum. Fortaleza: Expressão 2010. v. 2
HALL · ' .
EWELL, Laurence. O li vro no Brasil: sua história São Paulo· Edl!SP. 2005
NERY H R dr . . '
• ermes o 1gues. Presença de Rachel - conversas irÚormais com a escritora
. LITERATURA DRAMÁTICA EM TRADUÇÃO NO
Rachel de Queiroz. Ribeirão Preto: Funpec Editora, 2012. TEATRO BRASILEIRO MODERNO
OLIVEIRA, Priscilla Pellegrino de. As traduções de Rachel de Qyeiroz na década de
40 do século XX. Juiz de Fora: Faculdade de Letras da UFJF, 2007. Marcel:> Paiva de Souza
QUEIROZ, Maria Luíza de; QUEIROZ , Rachel. Tantos anos. 3. ed. São Paulo: Universidade Federal do Paraná
Siciliano, 1998 . mrclpvdsz@hotmail.com
RO NAI, Paulo. A tradução vivida. 2 . ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981 .
SOUSA , Germana H . P. O Brasil em Oran: leitura crítica da tradução de Graciliano
Ramos do romance La peste, de Albert Camus, 2008 . Disponível em: Investidas historiogr áficas pioneiras em busca de contornos e
< http: / /www.abralic .org.br/ anais/ cong2008/ Anaisü nline/ simposios/ meandros do passado da prática tradutória no país não deixaram sem
pdf/ 0+5 / germana_sousa.pdf>. Acesso em: o ut . 2013.
algum registro o vulto do problema aqui sob escrutínio. José Paulo
Paes , por exemplo , a cuja lúcida erudição devemos" A tradução lite-
rária no Brasil"- "despretensioso" (PAES, 1990a, p. 11 ) , indispensável
esb oço do "itiner_ário histórico [ .. . J da arte de traduzir no quadro
geral" (PAES, 1990a, p. 1O) de nossas letras -, discerniu com justeza ,
de um lado , o significativo incremento do fazer tradutório impel ido
pelo boom da indústria do livro brasile ira cm meados do sécul o XX.
De o utro , todavia, adver tiu :
262
263
L