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Bioquímica Fisiológica Bioquímica do Sangue

B io q u ím ic a d o
Sangue
1. Eritrócito

Introdução
− Os eritrócitos são células especializadas do sangue no transporte de gases:
oxigénio e dióxido de carbono.
− Para o transporte de oxigénio, os eritrócitos contêm a hemoglobina.
− No transporte de dióxido de carbono é importante a presença de
anidrase carbónica no eritrócito, uma vez que utilizando a água do
sangue consegue transformar dióxido de carbono no ião bicarbonato.
− Para além destas funções, os eritrócitos são responsáveis pela maior parte
da capacidade de tamponamento ácido-base de todo o sangue.

− Dado que as funções dos eritrócitos são simples, este tem uma estrutura
relativamente simples sendo essencialmente composto de uma
membrana envolvendo uma solução de hemoglobina (esta proteína
constitui cerca de 95% da proteína intracelular do eritrócito), não
contendo organelos intracelulares.
− Os eritrócitos obtém ATP e outros substractos importantes atraves da
glicólise anaeróbia e via das fosfopentoses.
− O ATP sintetizado é importante em processos que auxiliam o eritrócito a
manter a sua forma bicôncava e também nos que regulam o transporte
de electrões e água.
− A forma bicôncava aumenta a razão superficie/volume, facilitando a
troca de gases.
− A principal consequência de defeitos enzimáticos são as anemias
hemolíticas.

− A produção de eritrócitos (eritropoiese) inicia-se através da diferenciação


de células multipotenciais primitivas (que se auto-renovam) em células
progenitoras (unidade eritróide "burst-forming" (BFU-E) e a unidade
eritróide formadora de colónia (CFU-E))
− A maturação das células progenitoras termina em vários tipos celulares.~
− Existem citocinas linfo-hematopoiéticas que determinam a regulação da
hematopoiese:
• Eritropoietina
• Citocinas de acção precoce
• Interleucinas
• Factores de estimulação de colónia
• Outros factores (de estimulação, inibição ou mistos)

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Eritropoietina:
− Gene localizado no cromossoma 7
− É uma glicoproteina (60% resíduos glicidicos)
− É produzida nas células intersteciais peritubulares do rim, em resposta à
hipóxia
− Também pode ser sintetizada nas células tubulares renais, hepatócitos ou
macrófagos da medula óssea
− Do local de produção vai até à medula óssea, onde interage com
receptores especificos (2, um com mais afinidade que o outro) nas células
alvo: progenitores de eritrócitos (pró-eritroblastos e eritroblastos basófilos)
− Mecanismo de acção da eritropoietina:
Aumento da síntese de hemoglobina:
• Internalização do complexo receptor-eritropoietina
• Aumento do Ca2+ intracelular
• Indução da transcrição genética das cadeias de globina
Prevenção da apoptose dos progenitores eritróides

− O período de vida do eritrócito normal corresponde a 120 dias e pelos


menos 1% da população é substituida diariamente.
− Os eritrócitos novos aparecem em circulação ainda contém ribossomas e
elementos do reticulo endoplasmático, sendo designados de reticulócitos.

Necessidades energéticas/funções prioritárias:


• conservação do ferro da hemoglobina no estado bivalente;
• equilíbrio Na+/K+/Ca2+ intraglobular versus gradiente extraglobular;
• conservação dos grupos sulfidrílicos de enzimas, membrana e
hemoglobina no estado reduzido;
• conservação da forma discoide bicôncava.

Consequências de alterações incidentes naquelas funções:


• remoção eritrocitária da circulação pelo baço e sistema fagocitário
(monocitos-macrófagos)
• oxidação da hemoglobina em metahemoglobina
• esfericidade/rigidez globular.

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Estrutura e forma eritrocitária


A forma globular é determinada por uma série de factores:
• relação área superfície/volume globular
• composição da membrana em fosfolípidos e colesterol
• características do citoesqueleto

Formas eritrocitárias típicas ou patológicas


• Equinocito
concentração lipidica membranar aumentada no folheto externo
• Estomatocito
concentração lipidica membranar aumentada no folheto interno
redução do pH
aumento da albumina em suspensão
exposição a derivado de fenotiazina catiónica
• Acantocito
• Esquizocito
aumento do pH
falta de albumina em suspensão
exposição a derivado de fenotiazina aniónica
• Drepanocito (deformação do citoesqueleto permanente)
• Célula em alvo (ou codocito)
• Esferocito
concentração lipidica membranar reduzida
• Eliptocito (deformação do citoesqueleto transitória)
• Anisocitose (dimensões diferentes na mesma amostra)
• Poiquilocitose (formas diferentes na mesma amostra)

− Os eritrócitos inviáveis, parasitados ou senescentes são removidos no


baço, dai a importância da circulação transesplénica.
− Se ocorrerem alterações da relação área/volume, por perda de
membrana ou por aumento do volume devido à entrada de água, então
o eritrócito fica com uma forma esferócita ganhando rigidez.

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Membrana eritrocitária

Composição e estrutura

Principais constituintes da membrana eritrocitária


• bifolheto lipídico (50%)
• proteínas integrais e do citoesqueleto (50%)

− O eritrócito deve ser capaz de ser comprimido através de locais estreitos


da microcirculação, durante suas numerosas passagens pelo organismo
− Para que o eritrocito seja fácil e reversiveImente deformável, a sua
membrana deve ser tanto fluida como flexível; deve também preservar a
sua forma bicôncava
− Os lipidos da membrana auxiliam na determinação da fluidez
− Ligada à face interna da membrana do eritrócitos encontra-se uma série
de proteínas do citoesqueleto que desempenham importantes papéis em
relação à preservação da forma e flexibilidade

Bifolheto lipídico
− O bifolheto lipidico é constituido por 95% de fosfolípidos (P) e colesterol (C)

Fosfolipidos no folheto externo: Fosfolipidos no folheto interno:


• fosfatidilcolina (28%) • fosfatidilcolina-etanolamina (27%)
• esfingomielina (26%) • fosfatidilserina (13%)
• fosfatidilinositol (2-5%)

Factores que determinam a assimetria (dinâmica) por trocas interfolhetos:


• translocação passiva e lenta de fosfolipidos
• translocação activa ATP dependente por translocase ou flipase
• estabilização pelas proteínas do citosqueleto

Consequências da modificação da distribuição e mecanismos correctores


• movimentos passivos transmembranares
• acção de translocase ou flipase
• acção estabilizante do citoesqueleto

A fluidez do bifolheto lipídico é determinada por:


• variação entre estado líquido normal e estado gel, com base no
conteúdo do colesterol e temperatura
• insaturação e comprimento das cadeias de ácidos gordos dos
fosfolípidos

− Os fosfolípidos e colesterol da bicamada fosfolipidica são trocados entre as


membranas de eritrocitos maduros e lipoproteínas em circulação
− Para que tal aconteca, é necessário a participação de LCAT e
incorporação activa de ácidos gordos em lisofosfolípidos de membrana,
gerando fosfatidilcolina.

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Proteínas de membrana

− As proteínas da membrana eritrocitária incluem aquelas que realmente


fazem parte da membrana (integrais) e as do citoesqueleto.
− O citoesqueleto reveste a superfície interna da bicamada lipidica em
cerca de 60% enquanto as proteínas integrais atravessam o bifolheto.
− O citoesqueleto está disposto numa malha de “hexágonos” adjacentes,
em contacto com as proteínas integrais.
− As principais proteínas são a espectrina, a anquirina, a proteína
permutadora de anião e actina.
− Muitas da proteínas são glicoproteínas localizadas na superficie externa da
membrana.
− As proteinas podem sofrer modificações de vários tipos.

Modulação das proteínas membranares:


Modificação pós-tradução:
• modificações irreversíveis (p.ex. metilação, glicosilação, oxidação)
• modificações dinâmicas (fosforilação)
Outros factores moduladores:
• Cálcio e calmodulina
• Fosfoinositois
• Polianiões (2,3-BPG, ATP)

1. Proteinas Integrais

Proteína permutadora de anião (banda 3):


• É glicoproteína transmembranar
• Tem a sua extremidade terminal carboxila na superfície externa da
membrana, e sua extremidade amino terminal na superfície
citoplasmática.
• É uma proteína de membrana de multipassagem, estendendo-se
através da bicamada
• ao menos dez vezes.
• Permite a troca de cloreto por bicarbonato nos tecidos e o inverso nos
pulmões.

Glicoforinas A, B e C
• São glicoproteinas de membrana mas de passagem única
• Contém ácido siálico
• A extremidade carboxila termina estende-se para o interior do citosol e
liga-se à proteína 4.1 que, por sua vez, se liga à espectrina.

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2. Proteínas do citosqueleto

Espectrina:
• É a principal proteína do citoesqueleto.
• É constituida por 2 polipeptidos: cadeia α (espectrina 1) e cadeia β
(espectrina 2)
• Estas cadeias estão alinhadas antiparalelamente e fracamente
recontorcidas entre si, formando um dímero
• Um dímero interage com o outro formando um tetrâmero cabeça-a-
cabeça.
• A forma geral confere flexibilidade à proteína e, por sua vez, também à
membrana do eritrócito.
• Podem ser definidos ao menos 4 locais de ligação na espectrina:
1. para a própria associação
2. para a anquirina
3. para a actina
4. para a proteina 4.1

Anquirina
• Proteina em forma de pirâmide que se liga à espectrina
• Também se liga à banda 3, assegurando a ligação à membrana.

Actina
• Existe nos eritrócito como filamentos de F-actina curtos, em hélice dupla
• As extremidades das caudas de dímeros de espectrina ligam-se à
actina.
• Esta também se liga à proteína 4.1.

Proteína 4.1
• É uma proteína globular
• Liga-se firmemente à cauda da espectrina, fazendo parte de um
complexo ternário: actina-espectrina-proteína 4.1
• Também se liga às proteínas integrais glicoforias A e C possibilitando a
conexão entre a bicamada lipidica e o citosqueleto.

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Funções do citosqueleto:
• Estabilidade e forma dos eritrócitos
• Restrição da mobilidade das proteínas integrais expostas à superficie
• Influência da distribuição transmembranar ou movimento de lipidos
• Determinante primário da elasticidade mecânica da membrana do
eritrócito.

Interacções entre as proteinas do citosqueleto:

Interacções verticais:
• espectrina-anquirina-banda 3
• espectrina-proteína 4.1-glicoforina
• espectrina-fosfatidil-serina

Defeitos nas interacções verticais podem causar instabilidade do bifolheto


lipidico com perda de microvesiculas lipídicas com consequente redução de
área superficial, originando esferocitose.

Interacções horizontais
• espectrina-proteína 4.1-actina-aducina
• dímero-dímero de espectrina

A consequência de defeitos nas interacções horizontais é a perda da


integridade do citoesqueleto e consequente instabilidade membranar
originando eliptocitos ou fragmentação globular.

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Propriedades físicas

Propriedades fisicas da membrana eritrocitária:


• Dobragem
• Deformação (distensão, deformação plástica)
• Expansão (do folheto externo ou do folheto interno)
Estas propriedades fisicas reflectem as propriedades conjuntas do bifolheto
lipídico e citoesqueleto.

Na deformação eritrocitária, os factores determinantes são:


• geometria globular
• viscosidade do conteúdo intraglobular (dependente do conteúdo em
água e hemoglobina)
• propriedades viscoelásticas da membrana
• tensão de cisallhamento

Quanto maior for a viscosidade da célula, menor será a sua


deformabilidade.
A viscosidade plasmática a deformabilidade dos eritrócitos são os principais
factores que afectam a condutividade sanguínea num único capilar.
O citoesqueleto é o principal determinante da integridade membranar
(integridade estrutural e estabilidade do bifolheto lipídico).

Principais consequências da acumulação de Ca2+ intraglobular:


• Perturbação do “flip-flop” fosfolipidico entre os folhetos membranares
(com aglutinação e mistura dos fosfolipidos, por inibição das flipases e
activação do sistema de trocas alternativas)
• Ligações oxidativas entre proteínas membranares (por transglutaminase)
• Separação entre bifolheto lipidico e citosqueleto (em sectores limitados
de membrana, por ex.: espículas de drepanocitos)
• Estimulação de proteases endógenas
• Perda selectiva de potássio intraglobular (com desidratação
subsequente)

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Permeabilidade

− A membrana eritrocitária é virtualmente impermeável a moléculas


fosforiladas e a catiões mono e divalentes, assim existe uma elevação
intraglobular de K+ e diminuição de Ca2+ e Na+, relativamente aos valores
extraglobulares
− No entanto, é permeável a:
• Aniões (proteína transportadora aniónica)
• Moléculas de água (canais proteicos)
• Glicose (transportador)

− Os sistemas de transporte contribuem para a variação do volume globular


(cotransporte K+-Cl- e efeito Gardos).

Bombas catiónicas (dependente de ATP):


• bomba de Na+ ouabaína sensível (Na+, K+ ATPase)
• bomba de Ca2+ (Ca2+ ATPase), activada por calmodulina

Superfície globular

− A superficie globular tem carga eléctrica negativa, derivada dos resíduos


de ácido neuramínico - 90% presente na glicoforina A.
− Também apresenta antigénios (responsáveis pela determinação dos
grupos sanguíneos) e receptores.

− As Âncoras de GPI (GlicosilPhosfatidilInositol)


são características da camada externa das
membranas plasmáticas
− O primeiro elemento lipidico da âncora é
uma molécula de fosfatidilinositol (PI).
− A unidade inositol liga-se a um núcleo
glicidico constituido por glicosamina e 3
residuos manose.
− A molécula de fosfatidiletanolamina liga-se
através do grupo fosfato ao carbono 6 da
manose.
− O grupo amina da fosfatidiletanolamina forma uma ligação amina com o
terminal carboxilo de GPI-linked proteins.

Proteína↔ etanolamina-P↔ man↔ man↔ man↔ GlcN↔ mio-inositol-fosfolípido

Funções da ligação:
• permite a ligação do sector hidrofóbico às proteinas da superficie
externa
• aumenta a mobilidade (lateral e rotação) destas proteínas de
membrana
• transdução de sinal
• sinalização para o domínio apical da membrana plasmática das células
epiteliais

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Grupos sanguíneos

Existem pelo menos 21 sistemas de grupos sanguíneos reconheciveis, sendo os


mais conhecidos os sistemas ABO, Rh (Rhesus) e MN.

Grupo Sanguíneo: sistema definido de antigenios de eritrócitos controlados por


um locus genético apresentando um número variável de alelos (ex. A, B e 0 no
sistema AB0)
Tipo Sanguíneo: fenótipo antigénico, usualmente reconhecível pelo uso de
anticorpos apropriados.

Sistema ABO
− As membranas dos eritrócitos da maioria dos indivíduos contêm uma
substâncias dos grupos sanguíneos dos tipos: A, B, AB ou 0
• Indivíduos do tipo A apresentam anticorpos anti-B nos seus plasmas e,
portanto, aglutinarão sangue do tipo B ou AB.
• Indivíduos do tipo B apresentam anticorpos anti-A e aglutinarão
sangue do tipo A ou AB.
• Sangue do tipo AB não apresenta anticorpos dos tipos anti-A e anti-B
– receptor universal.
• Sangue tipo 0 não apresenta substâncias do tipo A e B – dador
universal

− Os genes responsáveis pela produção das substâncias AB0 encontram-se


presentes no braço longo do cromossoma 9.
− Existem três alelos, dois dos quais são co-dominantes (A e B) e o terceiro
(O), recessivo

− As substâncias ABO constituem oligossacáridos complexos presentes na


maioria das células do organismo e em certas secreções.
− Nas membranas dos eritrócitos, os oligossacáridos que determinam as
naturezas específicas das substâncias ABO parecem estar
predominantemente presentes em glicoesfingolipídios, enquanto nas
secreções os mesmos oligossacarídeos estão presentes em glicoproteínas.
− A sua presença em secreções é determinada por um gene designado Se
(para secretor), que codifica para uma fucosil (Fuc) transferase específica
em órgãos secretores como as glândulas exócrinas, mas que não é activa
em eritrócitos.
− Os indivíduos com genótipo SeSe ou Sese secretam antigénios A ou B (ou
ambos), enquanto indivíduos com genótipo sese não secretam substâncias
A ou B, mas os seus eritrócitos podem expressar os antígenos A e B.

− A substância H constitui o precursor biossintético das substâncias A e B e é


a substância do grupo sanguíneo encontrada em individuos do grupo O.
− A substância H é formada pela acção de uma fucosil transferase, que
catalisa a adição do terminal fucose no terminal do resíduo GaI do seu
precursor
− O locus H codifica para esta fucosiltransferase.
− O alelo h do locus H condifica para uma fucosiltransferase inactiva,
portanto os individuos com genótipo hh não podem produzir a substância
H nem os antigénios A e B e serão do tipo O.

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− A substância A tem mais um residuo GalNac que a substância H, logo os


anticorpos anti-A estão direccionados para este residuo considerado o
açúcar imunodominante da substância do grupo sanguíneo A.
− Por sua vez, a substância B tem mais um Gal que a substância H e assim
sendo anticorpos anti-B são direccionados para este residuo que é
imunodominante da substância B.
− O gene A codifica para uma GalNac transferase, que adiciona o residuo
GalNac característico da substância A.
− O gene B codifica para uma Gal transferase.
− O gene O codifica para uma produto inactivo
− Os individuos do tipo AB apresentam as duas enzimas e apresentam as
duas cadeias de oligossacáridos.

Sistema Rh

− O sistema Rh é complexo e tanto as suas bases genéticas como a natureza


bioquímica dos produtos genéticos não foram ainda devidamente
elucidados.
− Existem 3 genes (C ou c; D ou d; E ou e) ligados localizados no cromossoma
1 possivelmente envolvidos.
− O antigénio D(Rh0) é o principal antigénio de interesse, sendo também
designado factor Rh.
− Este parece consistir numa proteína integral da membrana do eritrócito
que interage com fosfolipídios da membrana
− Aproximadamente 15% dos Caucasianos são deficientes nesse antigénio,
sendo designados Rh-negativos
− Se estes individuos são transfundidos com sangue Rh-positivo, poderão
formar anticorpos anti-D(Rh0)
− Se uma mulher grávida é Rh-negativo e o filho é Rh-positivo, então aquela
poderá desenvolver anticorpos contra do factor Rh na altura do parto (ou
aborto).
− Esta situação agrava-se se a mulher está grávida a segunda vez com filho
Rh-positivo, uma vez que a mulher já desenvolveu anticorpos que poderão
causar doença hemolítica do recém-nascido (eritroblastose fetal)
− Esta situação é evitada se a mulher, após o 1º parto receber
imunoglobulina Rh0(D) que previne a formação de anticorpos contra os
antigénios Rh0 (D) aos quais foi exposta.

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Sistema MN e Ss

− Os grupos sanguíneos MN são reconhecidos por anti-soros que distinguem


entre formas polimórficas da glicoforina A.
− Ao nivel do gene existem dois alelos co-dominantes, M e N, com três
possíveis genótipos, MIM, M/N e N/N.
− Por outro lado, existem três fenótipos, M, N e N.
− Apesar da glicoforina ser altamente glicosilada, o polimorfismo não
envolve heterogeneidade de oligossacarídeos, mas sim diferenças entre
sequências de aminoácidos na extremidade amino terminal da proteína

− O sistema Ss consiste em uma subclasse do grupo MN e compreende


formas polimórficas da glicoforina B.
− As formas S e s diferem por um aminoácido.
− O sistema MNSs não está frequentemente envolvido com reações a
transfusões, mas os seus membros são úteis como marcadores genéticos,
estando os seus genes proximamente ligados no cromossomo 4.

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Metabolismo no eritrócitos

Glicólise

− A oxidação aeróbia é possível unicamente nos reticulocitos e fases de


maturação antecedentes.
− Nos eritrócitos maduros, apenas ocorre a via anaeróbia, devido à ausência
de mitocôndrias
− Assim captação de glicose através da membrana eritrocitária é de
extrema importância e é de facto mediada por um transportador e não
apenas por difusão simples.
− A proteína especifica envolvida neste processo é denominada de
transportador de glicose (GLUT1) ou glicose permease.

Propriedades do transportador de glicose:

• Corresponde a cerca de 2% da proteína presente na membrana


eritrocitária.
• Exibe especificidades para a glicose e D-hexoses relacionadas (L-
hexoses não são transportadas)
• O transportador funciona a aproximadamente 75% da sua Vmax na
concentração fisiológica da glicose sangunea
• É saturável e pode ser inibido por certos análogos da glicose
• É insulino-independente
• Funciona produzindo um poro que se abre e fecha na membrana,
possibilitando a passagem de glicose

A actividade glicolitica é regulada pelo pH:


• pH>7,0: virtual perda da actividade glicolítica
• pH<7,0: aumento de actividade glicolítica limitada pela disponibilidade
de NAD+.

Na via glicolítica, o 1,3 bisfosfoglicerato por seguir duas vias diferentes:


• Continua a via glicolitica e forma ATP
• Ou pode formar 2,3-bisfosfoglicerato, através da acção de uma mutase.

A concentração do 2,3-bisfosfoglicerato é regulada pelo pH:


• pH>7,0: estimulação da sintase
• pH<7,0: inibição da mutase e activa a fosfatase, diminuindo a
concentração

A concentração do 2,3-bisfosfoglicerato é também regulada pela


concentração relativa de desoxi Hb/oxi Hb, uma vez que a desoxi Hb fixa 2,3-
BPG, estimulando a síntese deste metabolito.

Utilidade do NADH formado:


• Redução da metahemoglobina em hemoglobina
• Converção de piruvato em lactato

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Via das fosfopentoses

− Esta via metabolisa cerca de 5-10% do fluxo total de glicose e produz


NADPH.
− A função prioritária nesta via é a redução da NADP+.
− O NADPH sintetizado é utilizado nas reacções catalisadas pelo glutatião-
redutase (e glutatião peroxidase).

Redução da metahemoglobina

− O ião ferroso da hemoglobina é susceptível à oxidação pelo superóxido e


outros agentes oxidantes, formando metahemoglobina, que não consegue
transportar oxigénio.
− Apenas uma quantidade muito pequena de metahemoglobina se
encontra presente no sangue normal, pois o eritrócito apresenta um
sistema (o sistema da NADH-citocromo b5 metahemoglobina redutase ou
NADH diaforase) para reduzir o Fe3+ hemínico de volta ao estado Fe2+.
− Este sistema consiste de NADH, uma flavoproteína – a citocromo b5
redutase – e citocromo b5.
− O Fe3+ da metahemoglobina é reduzido ao estado Fe2+ pela ação do
citocromo b5 reduzido:
− Citocromo b5 reduzido é, então, regenerado pela ação da citocromo b5
redutase.

Metabolismo do glutatião

− Diversos oxidantes poderosos são produzidos durante o metabolismo tanto


em eritrócitos como na maioria das células do organismo.
− Estes incluem o superóxido, peróxido de hidrogénio, radicais peroxila e
radical hidroxila
− O último consiste em uma molécula que pode reagir com proteínas, ácidos
nucléicos, lipídios e outras moléculas, alterando as suas estruturas e
produzindo lesão tecidual
− O superóxido é formado no eritrócito pela auto-oxidação da hemoglobina
em metehemoglobina
− Nos outros tecidos é formado pela acção de enzimas como a citocromo
P450 redutase e xantina oxidase.
− O superóxido sofre dismutação espontânea para peróxido de hidrogénio e
oxigénio, no entanto esta reacção é acelerada pela enzima superóxido
dismutase
− O peróxido de hidrogénio no eritrócito fica sujeito à acção da glutatião
peroxidase que forma H2O e glutatião oxidado (GSSH)
− O peróxido de hidrogénio também pode ser metabolizado por uma
reacção não enzimática catalizada pelo Fe2+ (reacção de Fenton),
formando o radical hidróxilo e um grupo hidróxilo.
− Outra reacção que produz os mesmos produtos é a reacção de Haber-
Weiss que também catalisa peróxido de hidrogénio.

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Pró-oxidantes: compostos químicos e reações capazes de gerar espécies de


oxigênio potencialmente tóxicas
Anti-oxidantes: compostos e e reacções que dispõe dessas espécies,
sequestrando-as, suprimindo as suas formações ou opondo-se a suas acções
(ex.: NAPH, GSH, vitamina C e E)

Stress oxidativo: ocorre quando o balanço pró-oxidante:antioxidante


apropriado é desviado em direcção dos pró-oxidantes ou existem niveis de
antioxidantes diminuidos.

O glutatião tem um importante papel na prevenção do stress oxidativo, pois


permite:
• a eliminação directa e indirecta do peróxido de hidrogénio
• a redução de grupos sulfidrílicos das proteínas intraglobulares oxidadas
(glutatião redutase – redução do GSSG em GSH, dependente de
NADPH).

O glutatião oxidado derivado destas reacções é eliminado por ATPases


específicas.

Outros substratos e outras enzimas eritrocitárias

Outros substratos:
• Adenosina: conversão sucessiva em inosina, ribose 1-P e hipoxantina,
com interferência na síntese de ATP
• Inosina
• Frutose: conversão em frutose 6-P
• Manose: conversão em frutose 6-P
• Galactose: conversão em glicose 1-P
• Gliceraldeído: fosforilação em trioses-fosfato
• Dihidroxiacetona: fosforilação em trioses-fosfato

Outras enzimas mais relevantes:


• Catalase: decomposição de concentrações elevadas de H2O2 em H2O
e oxigénio
• Superóxido dismutase: protegendo a hemoglobina e outros
componentes globulares do anião superóxido
• Acetilcolinesterase: relacionada com a fixação da fosfatidilinositol e
outras funções não clarificadas
• Adenosina 3,5’ monofosfato desaminase: regulação da concentração
de nucleótidos adenílicos
• Proteína-cinases membranares: transferência do grupo fosforilo do ATP
para proteínas do citoesqueleto
• Enzimas proteolíticas: calpaína
• ATPases (Na+, K+) e (Ca2+).

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Síntese dos nucleótidos

− Idêntica à de outros tipos celulares.


− Prevalece a via de recuperação para os nucleótidos púricos (pela
fosforibosil-transferase da adenina e guanina-hipoxantina).
− Síntese do NAD e NADP pelos mecanismos habituais.

Síntese proteica

− Os eritrócitos não podem sintetizar proteínas, no entanto os reticulócitos


são activos nesse sentido.
− Assim que estes entram em ciculação perdem os seus organelos em 24h,
perdendo igualmente a sua capacidade de produzir proteínas.

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Anemia
Anemia designa a deficiência de hemoglobina, que pode ser causada por um
numero deficiente de eritrócitos ou por quantidade reduzida de hemoglobina
nas suas células.

Anemia hemolítica:
− as células frágeis são destruidas a uma velocidade que não poderá ser
igual à velocidade de formação causando anemia.
− Este tipo de anemia por ter várias causas:

Causas no exterior da membrana:


• Hiperesplenismo: o baço está aumentado por uma variedade de
causas e sequestra os eritrócitos.
• Anormalidades imunoIógicas: como nas reações de transfusões, a
presença no plasma de anticorpos que lisam os eritrócitos, e uma
sensibilidade incomum ao complemento.
• Toxinas liberadas por vários agentes infecciosos (ex: bactérias)

Causas na própria membrana:


• Anormalidades de proteínas: esferocitose e eliptocitose hereditárias,
causadas principalmente por anormalidades na quantidade ou
estrutura da espectrina

Causas no interior do eritrócito:


• Hemoglobinopatias que têm como consequência a anemia falciforme
• Enzimopatias (ex.: deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase,
piruvato cinase)

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Esferocitose hereditária

− É uma doença autossómica dominante


− É caracterizada pela presença de esferócitos no sangue periférico, por
anemia hemolitica e por esplenomegalia.
− Como os esferócitos não são tão deformáveis quanto os eritrócitos normais,
estando sujeitos à eliminação no baço
− Os esferócitos são bem mais susceptíveis à lise osmótica
− Uma causa desta doença consiste numa deficiência na quantidade de
espectrina ou uma alteração na sua estrutura
− Isto enfraquece a membrana e resulta na forma esferocítica
− Também pode estar relacionada com anormalidades na anquirina, banda
3 e 4.1.

Eliptocitose hereditária: doença hereditária, na qual os eritrócitos apresentam


um aspecto eliptico, discoidal, devido a anormalidade da espectrina.

Mutações no DNA afetando as quantidades ou estrutura da


espectrina ou de outras proteinas do citoesqueleto

Enfraquecem interações entre as protefnas periféricas e integrais da


membrana do eritrócito

Enfraquecem a estrutura da membrana do eritrócito

Este adota a forma esferocitica e está sujeito à destruição no baço

Anemia hemolítica

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Mutações do gene da glicose 6-fosfato desidrogenase

Mutações no gene para G6P DH

Redução da actividade da G6PD

Níveis diminuídos de NADPH

Regeneração diminuída de GSH


a partir de GSSG, pela glutatião
redutase (que utiliza NADPH)

Oxidação, atribuível a níveis reduzidos de GSH e níveis aumentados de


oxidantes intracelulares, de agrupamentos SH da hemoglobina (formando os
corpúsculos de Heinz) e de proteínas da membrana, alterando suas estruturas
e aumentando a susceptibilidade à ingestão por macrófagos (também é
possível lesão peroxidativa de lipídios na membrana)

Hemólise

− O consumo de fava por indivíduos deficientes na actividade da G6P DH


pode precipitar uma crise de anemia hemolítica, por conter oxidantes
potenciais.
− Além disso, uma série de fármacos (ex. o anti-malárico primaquina e as
sulfonamidas) e substâncias químicas (ex. o naftaleno) precipita uma crise,
pois suas ingestões resultam na produção de H2O2 e O2-.

Metahemoglobinemia

Hereditária: devido a deficiência de actividade da metahemoglobina


redutase, transmitida de forma autossómica recessiva.
Adquirida: devido a ingestão de certos fármacos (ex. sulfonamidas) ou
substâncias químicas (ex. anilina)

Normalmente o individuo fica cianótico (descoloração azulada da pele e


membranas das mucosas, atribuível a quantidades aumentadas de
hemoglobina desoxigenada ou devida a quantidades aumentadas de
metemoglobina)

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2. Metabolismo do Ferro
Introdução
Formas de ferro nos tecidos vivos:
• Ferro no estado catiónico (Fe2+- ferroso e Fe3+- férrico).
• Ferro hemínico (ex.: hemoglobina, mioglobina, citocromos) – ligação
indirecta
• Ferro não heminico – ligação directa
− Associado a flavoproteína (ex.: xantina-oxidase)
− Associado a outras proteínas (ex.: proteína Fe-S)

Propriedades do ferro:
− Afinidade para átomos electronegativos (p.ex., oxigénio, azoto), que
fornece electrões para a ligação ao ferro.
− Extrema importância no transporte de oxigénio.
− Estado redox: em meio ácido (Fe2+) e meio neutro ou alcalino (Fe3+).
− Formação de agregados com Fe3+ e OH-, H2O ou aniões diversos. Estes
poderão precipitar se os seus produtos excederem a solubilização.
− Fixação do ferro a macromoléculas (quelatação), influenciando
propriedades e funções
− Acção protectora de proteínas fixadas de ferro (armazenamento e
transporte): grande afinidade para o metal e insaturação relativa.
− Mecanismos subjacentes na transferência do ferro entre macromoléculas
distintas (com base no estado redox e na quelatação, ambos favoráveis
ao Fe3+).

Léxico
Siderémia: concentração de ferro em circulação no soro ou plasma sanguíneo
Sideroblastos: eritroblastos contendo grânulos de ferritina em depósito nos
siderossomas; representam 20 a 50% de precursores eritroides medulares
Sideroblastos em anel: eritroblastos patológicos com agregados amorfos de ferro
acumulado nas mitocôndrias, em redor do núcleo
Siderócito: eritrócitos contendo grânulos de ferro
Siderossomas: lisossomas com agregados de ferritina
Sideropénia: carância em ferro
Sideroblástica ou sideroacréstica (anemia): anemia por não aproveitamento
metabólico do ferro (depositamento em excesso nas mitocôndrias dos sideroblastos
em anel)

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Compartimentos corporais do ferro


Principais compartimentos de ferro no organismo (% decrescente):
• Hemoglobina (68%)
• Mioglobina (4%)
• Lábil
• Transferrina (Transporte) (0,1%)
• Ferritina (depósito) (27%)
• Enzimas (0.6%)
• Outras formas

A forma lábil do ferro representa uma fracção no espaço intersticial e


intracelular, onde se fixa transitoriamente a proteínas e outros constituintes
locais, precedendo a incorporação no heme (em depósitos de ferro) ou o
refluxo para o plasma.

O ferro pode liga-se a proteínas pela incorporação numa protoporfirina IX


que poderá ser com ferro ferroso ou férrico, designando-se heme ou hematina,
respectivamente.
Complexo protoporfirina IX-Fe2+ - heme
Complexo protoporfirina IX-Fe3+ - hematina

Funções das proteínas com ferro hemínico:


• Transporte (hemoglobina)
• Reserva (mioglobina) de oxigénio
• Catálise enzimática como grupos prostéticos (p.ex., na catalase).

Existem proteínas que estão ligadas ao ferro, mas não estão relacionadas
com heme – proteínas com ferro não-hemínico

Funções das proteínas com ferro não-hemínico:


• Transporte (transferrina)
• Reservatório tecidual (ferritina, hemossiderina) de ferro
• Catálise enzimática (presença em centro activo)
• Outras reacções redox não enzimáticas (grupos Fe-S ou ferrodoxinas)

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Transferrina

− β1-globulina, 76 kDa
− Glicoproteina sintetizada nos hepatocitos e também nas células de SRE
(sistema reticulo-endotelial)
− Fixação preferencial de Fe3+, em 2 centros de cada molécula de
transferrina, dependente de um anião (em geral HCO3-) por cada átomo
de ferro trivalente que se fixa.
− A proteína resulta da duplicação do gene ancetral com apenas um local
de ligação.
− Transporte 2 mol de Fe3+ por mol de transferrina (2:1)
− contém 0,08% do ferro do organismo (no organismo: 4g)
− Nivel de saturação normal:
• 1/9 de transferrina está ligada a ferro nos 2 centros
• 4/9 de transferrina está ligada a ferro num dos centros
• 4/9 de transferrina não tem ligações com ferro
(total: cerca de 1/3 dos centros está saturado com ferro)
− Mecanismo de captação:
1. fixação a receptores celulares para a transferrina
2. endocitose do complexo dependente da fosforilação por um
complexo Ca2+-calmodolina-proteina cinase C
3. dissociação de ferro no meio ácido dos lisossomas
4. recuperação da apotransferrina e receptor
5. libertação da apotransferrina na circulação

Lactoferrina

− A lactoferrina é bastante semelante à transferrina, uma vez que tem dois


locais de ligação para o ferro.
− No entanto, esta não é saturável
− Assim sendo, e porque os microorganismos necessitam de ferro para se
dividirem, a presença de lactoferrina indisponibiliza todo o ferro, inibindo o
crescimento microbiano.
− A lactoferrina previne infecções gastrointestinal no recém-nascido.

Funções:
• Facilita o transporte e armazenamento de ferro no leite
• Tem propriedades antimicrobianas.

A lactoferrina está presente:


• Leite
• Secreções mucosas
• Granulocitos neutrófilos

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Ferritina

− É a principal proteína envolvida no armazenamento de ferro.


− A sua estrutura corresponde a uma camada proteica periférica (24
monómeros do tipo H e tipo L), e núcleo central de FeOOH (Fe3+ +
hidróxido + fosfato);
− Tem capacidade de saturação (máximo de 4500 átomos de
Fe3+/molécula; em geral 1/2 a 2/3 saturada), sendo importante para o
armazenamento do ferro (23% do ferro do organismo).

− A deposição do ferro em excesso na periferia das moléculas de ferritina


origina a hemossiderina (cristais de FeOOH, insolúveis em água e com
pouco ou nenhuma apoferritina na sua estrutura).
− Na hemocromatose (excesso de ferro), a sua quantidade aumenta muito
no fígado e baço

Hemocromatose
• primária: defeito genético → depósito excessivo de ferro → lesões
tecidulares
• secundária → pode ocorrer depois de transfusões, aumento da ingesta de
Fe, entre outros

Regulação da síntese de ferritina


• A regulação da sintese das subunidades da apoferritina é regulada pela
concentração intracelular de Ferro e a sua variação regula a absorção
de ferro.
• No citosol existem proteínas sensiveis ao ferro (IRPs) que respondem a
variações da concentração intracelular de ferro.
• Estas proteínas interagem com o mRNA, em locais especificos:
elementos de resposta ao ferro (segmento IRE)
• Por exemplo a IRP-1 (aconitase) liga-se ao ferro (que faz parte do seu
grupo prostético) se a concentração intracelular for elevada e torna-se
activa para a função de aconitase e não se liga ao IRE.
• No entanto, se a concentração de ferro intracelular for baixa, a proteína
fica sem grupo prostético e liga-se ao mRNA.
• Assim se as necessidades do organismo em ferro são baixas, este é
absorvido na mesma, no entanto aumenta a sintese de apoferritina que
se liga ao ferro armazenando-o nas células da mucosa intestinal
• Quando ocorre renovação celular, o conteúdo das células é libertado
no lúmen intestinal sem ser absorvido.
• Com o aumento da concentração de ferro, diminui a sintese do
receptor da transferrina (pelo mesmo mecanismo) e da ALA sintase
(sintese de heme)

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Balanço de ferro corporal


Necessidades diárias na dieta
• NMD: H – 8 mg/dia, M – 18 mg/dia, G – 27 mg/dia

Variação com estado fisiológico aumento da necessidade:


• crescimento corporal
• gravidez (4-5 vezes o normal)
• nas mulheres pré-menopausa

Perdas fisiológicas:
• descamação epitelial e faneras
• hemorragias menstruais

Carência/toxicidade:
• Pela ingesta insuficiente, patologia gástrica e doenças crónicas
anemia microcítica hipocr., alteração das faneras
• Anemias hemolíticas e microcíticas, alcoolismo, cirrose, porfiria cutânea,
hemocromatose, diabetes, Addison, hipogonadismo

Digestão do Ferro

− A digestão alimentar do ferro consiste na separação de ferro dos ligandos,


facilitada pela presença de redutores (em geral ascorbato).
− No entanto, existem componentes que estão fortemente ligados ao ferro,
que torna impossível a dissociação.
− Por outro lado, também ocorre a redução ao estado ferroso no estômago
(a pH ácido)

Absorção do Ferro

− A absorção ocorre no intestino delgado (designadamente no duodeno).


− A entrada de ferro para as células da mucosa por ser 2 duas formas:
1. grupo heme
2. ião livre

Absorção de ferro como ião livre:

− Na presença de secreções pancreáticas com bicarbonato, o ferro passa


ao estado férrico;
− A quantidade absorvida para a circulação é regulada pelas necessidades
corporais

− O ferro em depósito é mobilizado na mucosa intestinal ou transferido do


lumen intestinal para a transferrina plasmática.
− No soro existem ferroxidases I (ceruloplasmina) e II que oxidadam Fe2+ a
Fe3+.

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Dieta (Fe2+)

Plasma
Estômago
Mucosa

Apotransferrina
Lúmen Intestinal (+) Apotransferrina
Transferritina. Fe3+ Fe3+

Mucinas . Fe3+  Mobilferrina . Fe3+


Mobilferrina . Fe2+
(-) Ferritina.Fe3+ Ferroxidases I ou II
Mucinas
Apoferritina
Fe3+
Fe3+.transferrina

Absorção de ferro como heme

− O grupo heme é absorvido na mucosa intestinal


− No citoplasma ocorre a libertação do ferro da protoprofirina

Dieta
(hemoglobina/mioglobina)

Estômago Plasma
Mucosa

Apotransferrina
Lúmen Intestinal
CO Fe2+ Fe3+

Heme Heme Bilirrubina


2O2

Fe3+.transferrina

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Ciclo endógeno de ferro


− O ferro tem uma reutilização constante e quase integral
− Uma quantidade mínima (1mg) é perdida ou transferida diariamente,
sendo substituída por quantidades equivalentes da dieta.

PLASMA
Transferritina.Fe3+
Ferro Ferro

CÉLULAS DO SISTEMA MEDULA ÓSSEA


RETICULO-ENDOTELIAL Eritroblastos
Senescência eritrocitária e (para síntese de heme ou
libertação de heme ferritina)

Ferro SANGUE
Hemoglobina Ferro
(dos eritrócitos maduros)

Destino de ferro nos eritroblastos

Nos eritroblastos, o ferro pode ter 2 destinos possíveis:


1. mitocôndrias para a síntese do heme
2. lisossomas (siderossomas) formando ferritina.

Degradação da hemoglobina nas células de SRE

1. Captação e depósito do ferro da hemoglobina como ferritina


2. A captação e libertação do ferro da ferritina decorre muito rapidamente;
3. Na captação, o ferro passa de bivalente a trivalente pela actividade de
ferroxidase da apoferritina.
4. A mobilização do ferro em depósito envolve a sua conversão do estado
férrico em ferroso (na presença de FMN), até atravessar a membrana
celular, após o que é reoxidado em férrico por ferroxidase sérica (I -
ceruloplasmina; II, a mais importante), antes de se fixar à transferrina.
5. As células de SRE também regulam a concentração de transferrina
(sintetizam apotransferrina e captam/degradam a transferrina circulante).

Plasma

Fe3+.transferrina SRE

Fe3+ Fe2+ Ferritina.Fe3+


Ferroxidases I ou II FMN

Apotransferrina CO Fe2+
Globina
Hemoglobina(Fe2+) Heme Bilirrubina
2O2

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Vitamina B12 – cobalamina


Forma activa (com cobalto hexavalente)
• desoxicobalamina (MetilMalonilo-CoA Succinilo-CoA, na gliconeogénese)
• metilcobalamina (homocisteína metionina e metil-tetrahidrofolato FH4)
Funções:
• Sintese de mielina
• É essencial para activação do ácido fólico para sintese de nucleótidos

− Alimentos ricos: carne, (origem exclusiva em microorganismos), em


especial no fígado (sob a forma de metilcobalamina, adenosilcobalamina
e hidroxocobalamina) é ausente em plantas
− A preparação comercial é de cianocobalamina
− Absorção necessita da produção do factor intrínseco de Castle, na
mucosa gástrica
− Depois de absorvida, liga-se à transcobalamina II (proteína plasmática)
nos vasos do intestino, para ser transportada para os tecidos; no fígado
liga-se à transcobalamina I para ser armazenada
− Depois de transportada no sangue, é libertada no citosol da célula sob a
forma de hidroxicobalamina, que é convertida:
− No citosol a metilcobalamina
− Na mitocôndria a 5-desoxiadenosilcobalamina

ALIMENTOS Cobalaminas

Cobalaminas

Factor Intrinseco Proteína R

ESTÔMAGO Complexo Cobalaminas-Proteína R


Proteases Pancreáticas
Factor Intrinseco
Proteína R degradada

DUODENO Complexo Cobalaminas-Factor Intrinseco

Factor Intrinseco (degradação intracelular)


ILEON
Cobalaminas
Transcobalamina II

CIRCULAÇÃO Complexo Cobalaminas-Transcobalamina II

TECIDOS Transcobalamina II degradada


PERIFÉRICOS
Cobalaminas Livres
Citosol Mitocôndria

Metilcobalamina 5’desoxiadenosilcobalamina

Acção Metabólica

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Carência
− Pode ocorrer devido a restrições alimentares, défice de factor intrinseco de
Castle e acloridria, que tem como consequência uma má absorção da
vitamina.
− Pode ser analisada com base no doseamento sérico
− Grupos de risco: vegetarianos, patologia gástrica e alcoolismo
− Consequências:
neuropatia periférica (pois é essencial para a síntese de mielina)
anemia megaloblástica (pois é essencial para activar o ácido fólico,
na síntese de nucleótidos diminuição da divisão celular
diminuição do número de células sanguíneas aumento dos
glóbulos vermelhos, com mais Hb)
acidúria metilmalonílica e homocistinúria

Exemplos de compostos corrinoides:

cobalaminas: anel corrénico + nucleótido (5,6 dimetilbenzimidazol)

• cianocobalamina (CN; vit B12)


• hidroxicobalamina (OH) e derivados (coenzimas)
• 5’desoxiadenosilcobalamina (OH substituido por 5’desoxiadenosilo)
• Metilcobalamina (OH substituido por CH3)

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Ácido fólico

− Folacina é o nome genérico dado ao ácido fólico e seus derivados


− O folato tem uma base de pteridina ligada a uma molécula de ácido p-
aminobenzóico (PABA) e glutamato

Função:
• Dadora de grupos metil em diferentes graus de oxidação: metil,
metileno, metenil, formil (H-C=O)
• Síntese de metionina a partir de homocisteína e de glicina a partir de
serina (doando os grupos metil e metileno, respectivamente, a H4-F –
tetrahidrofolato)
• Síntese de bases purínicas e pirimidínicas (reacções catalizadas pela
formiltransferase)

− Tem de ser activado a tetrahidrofolato na mucosa intestinal, pela folato


redutase dependente de NADPH, passando primeiro por uma etapa
intermediária (dihidrofolato)
− Os derivados de H4F têm grupo C adicional (formilo, metenilo, metileno,
metil ou formimino) que se liga às posições N5 ou N10 ou N5 e N10
− A lisina é o principal dador de grupos metil, que depois são convertidos
noutros grupos funcionais

− Alimentos ricos: carne, leveduras, fígado, cereais e legumes


− Poliglutamatos mono-glutamil-folato tetrahidrofolato
− RDA – 300-400 µg/dia (+ nas grávidas e lactantes)

Absorção intestinal, transformação e distribuição do folato

ALIMENTOS Folilpoliglutamatos

Conjugases

LUMEN INTESTINAL Folilmonoglutamatos

MUCOSA Redutases
Folilmonoglutamatos transformados (N5Metil FH4)

CIRCULAÇÃO
MESENTÉRICA N5Metil FH4-monoglutamatos

Glutamil sintase

HEPATÓCITO N5Metil FH4-poliglutamatos

CIRCULAÇÃO N5Metil FH4-monoglutamatos


SISTÉMICA

TECIDOS
PERIFÉRICOS N5Metil FH4-monoglutamatos

Acção Metabólica

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Carência
− Pode ser analisada com base no doseamento sérico
− Grupos de risco: alcoólicos e grávidas (metotrexato)
− Consequências:
anemia megaloblástica (ou macrocítica) (pois é essencial para a
síntese de nucleótidos diminuição da divisão celular -> diminuição
do número de células sanguíneas aumento dos glóbulos vermelhos,
com mais Hb – esta anemia também se dá na presença de inibidores
da folato redutase)
defeitos no tubo neural
hiperhomocisteinémia

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3. Leucócito

Introdução
Os dois grandes grupos de leucocitos:
• imunocitos (linfocitos e plasmocitos)
• fagocitos
granulocitos (“1ª linha”) – eosinófilos, neutrófilos, basófilos
monocitos-macrófagos (“2ª linha”)
fixos
− figado
− baço
− medula óssea
móveis
− exsudados inflamatórios
− cavidade peritoneal
− álveolos pulmonares

− Os leucócitos são a unidade móvel do sistema imunitário


− São formados na medula óssea (granulócitos e macrófagos) e tecido
linfoide (imunócitos)
− Como resposta a quimiotaxinas teciduas, os leucócitos são activados nos
vasos sanguíneos, onde se aproximam das paredes vasculares às quais
aderem (interacção leucócito-endotélio). Pelo mecanismo de diapedese
passam para os tecidos onde fagocitam os corpos estranhos.

Estímulo-resposta leucocitária

Estímulos Receptor de membrana


• Bactérias
(endotoxinas)
• Quimiotaxinas
• Complexos Activação da proteína G Fosfolipase A2
antigénio-anticorpo
• Citocinas
Activação da fosfolipase C Araquidonato

PIP2
Eicosanoides
IP3 1,2-DAG

↑Ca2+ Proteína cinase C

Fosforilação proteica

ACÇÃO METABÓLICA

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Interacção leucócito-endotélio

− Para alcançarem os tecidos, leucócitos circulantes devem passar através


dos capilares.
− Para que isto ocorra, devem marginar ao longo das paredes dos vasos e, a
seguir, aderir às células endoteliais dos capilares.
− A adesão dos leucócitos às células endoteliais emprega proteínas de
adesão específicas (integrinas), localizadas à superfície, bem como
proteínas receptoras específicas das células endoteliais.

Integrinas
• Consistem numa superfamilia de proteínas transmembranares, presentes
numa ampla variedade de células.
• Estão envolvidas com a adesão de células a outras células, ou com
componentes específicos da matriz extracelular.
• Constituem heterodímeros contendo uma subunidade α e uma β,
ligadas não covalentemente.
• As subunidades contêm segmentos extracelulares, transmembranares e
intracelulares.
• Dominio extracelular: liga-se a uma série de moléculas de adesão
intercelular (ICAM-1 e 2 e PECAM-1) presentes na matriz extracelular e
superfícies de outras células
• Domínio intracelular: liga-se a várias proteínas do citoesqueleto, tais
como a actina e vinculina.

Selectinas: proteína das membranas dos leucócitos (L) e endotélio (P e E)

Eicosanoides: importantes agentes quimiotáxicos

Leucotrienos
− propriedades indutoras da contracção muscular
− aumento da permeabilidade muscular
− atraem e activam leucócitos
− propriedades quimiotácticas (importância na resposta inflamatória e alergia)
− são vasoactivos
Lipoxinas
− vasoactivas e imunorreguladoras

Protanoides
Prostanglandinas:
− principais moduladores da actividade da adenilil ciclase, na agregação plaquetar e
inibição do efeito da hormona anti-diurética no rim
− Contracção do m. liso
− Anti-inflamatórios não-esteróides como a aspirina inibem a síntese de prostaglandinas
− Aumentam AMPc nas plaquetas, tiroide, osso fetal, corpo amarelo, adenohipófise e
pulmão
− Diminuem AMPc nas células do tubulo renal e tecido adiposo
Tromboxanos
− Importante para assegurar a vasocontrição e agregação plaquetária.
− Localiza-se nas plaquetas
Prostociclinas
− Inibidoras da agregação plaquetária
− Encontra-se nas paredes dos vasos.

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Formação de leucotrienos

Araquidonato

5-lipoxigenase 15-lipoxigenase

5-HETE 5-HPETE 15-HPETE

12-HETE desidrase
Acção
Leucotrieno A4 Lipoxinas Inflamatória

Hidrolase Glutatião S-transferase

Leucotrieno B4 Leucotrieno C4

Reacção
Leucotrieno D4 Anafiláctica
Activação dos
neutrófilos e da
quimiotaxia
Leucotrieno E4

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Linfócitos
Órgãos linfoides
• primários (medula óssea e timo)
• secundários (baço, gânglios, tecido linfático subepitelial do tubo
digestivo, sangue e linfa)

Funções: defesa do organismo contra substâncias estranhas

Tipos de resposta:
Celular (linfócitos T)
Maturação do timo
Circulantes
Resposta tardia

Humoral (linfócitos B e plasmócitos)


Origem e maturação da medula óssea
Geralmente fixoas no tecido linfático secundário
Resposta imediata
Produtores de anticorpos

Imunoglobulinas (anticorpos)

Imunoglobulina (IgG)

− Localiza-se no liquidos orgânicos


− Tem como funções principais:
• Opsonização
• Citotoxicidade dependente de anticorpos
• Fixação do complemento
• Neutralização de toxinas
• Imobilização bacteriana
• Neutralização e precipitação de antigénios
• Activação do complemento (induzindo a lise celular com anticorpos)
• Desgranulação dos mastócitos

Imunoglobulina M (IgM)

− É constituida por 5 moléculas de IgG unidas por uma cadeia J.


− A sua função principal é a fixação ao complemento.

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Imunoglobulina A (IgA)

− É constituida por 2 moléculas de IgG unidas por uma cadeia J e uma


cadeia (secretora) enrolada no dímero.
− Localiza-se nas secreções orgânicas (secretadas pelos plasmócitos junto
dos epitélios)
− A sua função principal é a neutralização dos antigénios, dispensando o
complemento (a nivel das mucosas)

Imunoglobulina D (IgD)

− É um componente superficial das células B

Imunoglobulina E (IgE)

− Fixa-se a mastócitos e basófilos.

Aspecto Clínico

Linfócitos – anomalias fisiopatológicas

Quantitativas
Linfocitopenia – primárias e secundárias
Linfocitose – reactiva e imunoproliferativa
Qualitativas
Imunoproliferativas
Leucemia
Linfoma
Paraproteinémias

Hipogamaglobulinémia

Principais causas
Fisiológica: IgA e IgM (valores diminuidos no nascimento)

Genética: Agamaglobulinémia (ligada ao cromossoma X)

Adquirida: Malnutrição, infecção, doença neoplásica, terapêutica


imunossupressora

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Granulócitos
Sequência da granulopoiese

Célula pluripotencial primitiva

Célula progenitora (CFU-GM e CFU-G)

Células precursoras
(mieloblasto mielócito metamielócito)

Células maduras
(neutrófilos, basófilos, eosinófilos)

Compartimentos corporais dos granulócitos

Neutrofilos:
Medula (proliferação, maturação final e depósito transitório)
Sangue (transito)
Tecidos (funções)
Eosinófilos
Sangue
Basófilos (e mastócitos)
Sangue (basófilos)
Tecido conjuntivo (basófilos e mastócitos)

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Neutrófilos

− Neutrófilos constituem células fagocíticas móveis que desempenham um


papel chave na inflamação aguda, tendo como principais funções:
• Quimiotaxia
• Motilidade
• Fagocitose

− Para que exerçam essas funções cruciais para a resposta imunitária, têm
determinadas características bioquímicas, como:
• Glicólise activa
• Via das fosfopentoses activa
• Fosforilação oxidativa moderada
• Glicogénese/Glicogenólise
• Biossíntese de DNA, RNA e proteínas
• Biossíntese e catabolismo de nucleótidos
• Biossíntese e ácidos gordos e fosfolipidos
• Catabolismo lipidico (esterases)
• Sintese de transductores celulares de natureza lipidica
(prostaglandinas)
• Ricos em lisossomas e enzimas degradativas
• Contêm certas enzimas e proteínas singulares (ex. mieloperoxidase e
NADPH-oxidase)
• Contêm integrinas CD11/CD18 na membrana plasmática

Activação

− Na inflamação aguda, neutrófilos são recrutados da circulação para os


tecidos, no sentido de auxiliarem a eliminar os invasores externos.
− Os neutrófilos são atraídos para os tecidos por factores quimiotáxicos que
incluem:
• Fragmento C5a do complemento
• Pequenos peptídeos derivados de bactérias
• Leucotrienos

− Assim que conseguem passar através das paredes dos capilares, os


neutrófilos migram em direcção às maiores concentrações de factores
quimiotáxicos, encontram as bactérias invasoras e tentam atacá-Ias e
destrui-las.
− Os neutrófilos devem ser activados para que possam desencadear muitos
dos processos metabólicos envolvidos como a fagocitose e a morte das
bactérias.
− O processo de activação dos neutrófilos é semelhante à de qualquer
leucócito, como resultado da estimulação por:
• interações com bactérias
• ligações de factores quimiotáxicos
• complexos antigenio-anticorpo
− O aumento de Ca2+ intracelular afecta muitos processos dos neutrófilos
como, por exemplo, a montagem de microtúbulos (para secreção dos
conteúdos dos grânulos) e o sistema actina-miosina (possibilita a
mobilidade)

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Bioquímica Fisiológica Bioquímica do Sangue

Grânulos dos neutrófilos

Grânulos primários
Conteúdo
Proteases neutras (elastase, catepsina G, catepsina D)
Hidrolases ácidas (β-glicuronidase, fosfatase ácida, α-manosidase)
Defensinas
Proteína estimuladora da permeabilidade (BPI)

Funções principais
Acção microbicida
Lise celular

Grânulos secundários (ou especificos)


Conteúdo
Lisozima
Lactoferrina
Colagenase
Proteína de fixação da vit B12
Heparanase
Activadores do complemento
Outras

Funções
Acção microbicida
Modulação da resposta inflamatória
Lise celular

Mecanismo de fagocitose

Etapas
• acumulação no local
• ligação ao material não viável ou estranho
• endocitose
• destruição do material fagocitado
• eliminação dos residuos

− Quando as células fagocitam bactérias, exibem um rápido aumento no


consumo de oxigénio – “burst” (explosão) respiratória
− Este fenómeno reflecte a rápida utilização de oxigénio e a produção a
partir deste, de grandes quantidades de derivados reactivos, tais como
H2O2, O2- e HOCl.
− O sistema da cadeia de transporte de electrões responsável por este
processo – NADPH oxidase – é constituido por diversos componentes como
citocromo b558 (localizado na membrana plasmática)
− Quando o sistema é activado, 2 cadeias polipeptidicas citoplasmáticas
deslocam-se até à membrana, onde em conjunto com citocromo b558,
formam NADPH-oxidase
− Esta enzima forma o anião superperóxido, utilizando NADPH proveniente
da via das fosfopentoses (que aumenta a sua actividade)

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Bioquímica Fisiológica Bioquímica do Sangue

− A reacção é seguida pela produção espontânea (por dismutação


espontânea) de peróxido de hidrogénio
− O peróxido de hidrogénio ainda por ser metabolizado para produzir ácidos
hipohalosos (ex: HOCl com acção bactericida) por acção da
mieloperoxidase (responsável pela cor esverdeada do pus).
− O ião superóxido vai para fora da célula ou para o interior dos
fagolisossomos, onde, em conjunto com outros derivados de oxigénio, pH
baixo e proteínas (defensinas, catepsina G, proteínas catiónicas) as
bactérias ingeridas são degradadas.

Substância X

Endocitose de X

Fagossoma-X Activação da via das fosfopentoses NADPH

Fagolisossoma
Activação da NADPH-oxidase

↑ H2O2, O2-, HOCl


Activação da mieloperoxidase
Degradação de X
Acção bactericida

Activação das proteases e outras


Dissolução e eliminação dos resíduos enzimas dos grânulos citoplasmáticos

Repercursões locais e sistémicas

Lesão tecidual
Proteínas catiónicas
s. febrígenas s. trombogénicas

Febre Obstrução vascular Vasodilatação local

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Bioquímica Fisiológica Bioquímica do Sangue

Eósinófilos

− Os eosinófilos são fagocitos fracos e exibem quimiotaxia, no entanto


duvida-se que estas células tenham importância significativa na protecção
contra os tipos habituais de infecção.
− Por outro lado, os eosinófilos são frequentemente produzidos por individuos
com infecções parasitárias, migrando para os locais infectados pelo
paratisa.
− Ai, aderem aos parasitas por meior de moleculas especiais de superficie e
libertam substâncias que matam muitos desses parasitas.
− Actuam de diversas formas:
1. libertação de enzimas hidroliticas dos seus grânulos
2. libertação do formas reactivas de oxigénio
3. libertação da proteína básica principal (altamente letal)

Conteúdo e funções dos grânulos

Conteúdo Função
Proteína principal básica Citotóxica para os ovos do parasita Shistosoma mansoni
Estimuladora da activação de leucócitos e plaquetas
Peroxidase Citotóxica (epitélio respiratório, parasitas)
Proteína catiónica Lise celular
Citotóxica para parasitas

− Os eosinófilos também têm tendência a acumular-se nos locais de


reacção alérgica, pois os basófilos e mastócitos envolvidos neste tipo de
processo, libertam um factor quimiotáxico de eosinófilos que induz a
migração dos eosinófilos para o tecido alérgico inflamado.

Basófilos

− Os basófilos assemelham-se aos grandes mastócitos encontrados na


proximidade da maioria dos capilares do corpo.
− Estas células têm importância nas reacções alérgicas, visto que o tipo de
anticorpo que provoca reacções alérgicas, a IgE tem propensão especial
para aderir a mastócitos e basófilos.
− Quando o complexo antigénio-anticorpo de forma, ocorre a ruptura do
mastócito ou basófilo, com libertação de grande quantidade de:
histamina, bradicinina, serotonina, heparina, substância de reacção lenta
da anafilaxia, enzimas lisossómicas bem como o conteúdo dos grânulos.

Conteúdo e função dos grânulos


Conteúdo Função
Proteoglicanos Incerta
Histamina Reacções de hipersensibilidade
Substâncias lipidicas e Mediação de reacções inflamatórias
citocinas:
Leucotrieno C4
Interleucina 4
Factor de necrose tumoral

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Aspecto Clinico

Anomalias fisiopatológicas dos granulócitos

Quantitativas:
Granulocitopenia
Granulocitose

Qualitativas
Resposta lenta
Fagocitose deficiente
Deficiente acção bactericida

Mieloproliferativas
Policitemia vera
Leucemia (agua e crónica)
Eritroleucémia
Trombocitemia
Mielofibrose

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Monócitos-Macrófagos
− Os monócitos são células móveis capazes de percorrer os tecidos.
− Uma parte dessa população ao penetrar nos tecidos e após passar por
diferenciaçã a macrófagos (células grandes, potentes fagócitos), torna-se
fixa e assim permanece nos tecidos durante meses/anos, até ser
convocada para uma função protectora especifica.
− Os macrófagos têm capacidade de fagocitar grande quantidade de
matéria, vírus, tecido necrótico e outras particulas estranhas.
− Quando estimulados adequadamente, podem voltar a torna-se móveis.

Sistema Resticulo-Endotelial = Sistema macrófago-monócito, consituido por:


• Monócitos
• Macrófagos móveis
• Macrófagos teciduais fixos
• Células endoteliais especializadas na medula óssea, baço e nódulos
linfáticos.

...é um sistema fagocítico generalizado, localizado em torno dos


tecidos, principalmente onde existe grande quantidade de
particulas, toxinas e outras substâncias indesejáveis.

Funções dos macrófagos


• Protecção e reaparação tecidual
• Destruição de células tumorais
• Fagocitose e destruição de agentes microbianos, restos celulares e
complexos imunitários
• Apresentação de antigénios nos linfócitos T
• Produção de reguladores e mediadores celulares de acção
imunológica (citocinas e factores de crescimento)

Aspecto Clínico

Anomalias fisiopatológicas dos monócitos e macrófagos:

Quantitativas
Monocitose reactiva
Hiperplasia reticulo-endotelial

Qualitativas
Doença de Gaucher (acumulação de glicoesfingolipidos)
Doença de Niemann-Pick (acumulaçao de esfingomielina)

Malignas
Leucemia monocítica (aguda e crónica)
Sarcoma reticular

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4. Hemostase e Plaquetas
Introdução
Hemostase: consiste na cessação do sangramento a partir de um corte ou
vaso seccionado
Trombose: ocorre quando o endotélio atapetando os vasos sanguíneos é
lesado e removido (ex. após ruptura de uma placa aterosclerótica).

Intervenientes na hemostase:
Principais:
• vasos sanguíneos
• corpúsculos sanguíneos (plaquetas)
• proteínas plasmática
organizadas em sistemas na hemostase:
Coagulação Complemento
Fibrinólise Inibidores respectivos
Cininas

Secundários:
• Leucócitos e eritrócitos
• Forças hemodinâmicas

Fases principais
1. Vasoconstrição dos vasos lesados, causando diminuição do fluxo
sanguíneo distal à lesão.
2. Formação do rolhão plaquetário (agregado plaquetário) laxo e
temporário, no local da lesão.
3. Formação do coágulo que é uma malha de fibrina que se liga ao
agregado plaquetário, constituindo um tampão hemostático mais
estável ou trombo.
4. Dissolução do coágulo por acção da plasmina

Tipos de Trombos
1. Trombo branco:
• composto por plaquetas e fibrina
• pobre em eritrócitos
• forma-se no local da lesão ou parede vascular anormal,
particularmente em áreas onde o fluxo sanguíneo é rápido (artérias).
2. Trombo vermelho:
• constituido por eritrócitos e fibrina.
• forma-se em em áreas de fluxo sanguíneo lento ou de estase (ex. nas
veias), com ou sem injúria vascular
• pode-se formar sítio da lesão ou num vaso anormal, em conjunto com
um tampão de plaquetas iniciante.
3. Depósito de fibrina disseminado, em vasos sanguíneos muito pequenos ou
capilares.

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Bioquímica Fisiológica Bioquímica do Sangue

Plaquetas

Origem e cinética
− A plaquetas ou trombócitos são formadas na medula óssea, a partir dos
megacariócitos, que consistem em células extremamente grandes da série
hematopoiética.
− Os megacariócitos fragmentam-se em diminutas plaquetas na medula
óssea, ou logo após penetrarem no sangue.

Célula pluripotencial primitiva

Célula plutipotencial mieloide

Célula progenitora de megacariócitos

BFU-Mega
CFU-Mega
Megacariócitos maduros

Plaquetas

− As plaquetas têm uma vida média de 10 dias


− Podem encontrar-se na medula óssea, na circulação sanguínea (maior
parte) ou esplénica.
− A sua destruição ocorre por senescência das células do sistema reticulo-
endotelial.

Constituição plaquetária
• zona periférica
glicocálice (impede a aderência ao endotélio normal, mas induz a
aderência a áreas lesadas do endotélio e a qualquer colagénio exposto
na profundidade do vaso)
fosfolipidos (desempenham um importante papel na activação de
multiplas etapas do processo da coagulação sanguínea)
membrana
sistema canalicular aberto
• zona-sol gel
microtúbulos
microfilamentos (moléculas de actina e miosina)
trombostenina (proteína contráctil que pode alterar a forma da
plaqueta)
sistema tubular denso (= REL residual do megacariócito)
• zona dos organitos
mitocôndrias
sistemas enzimáticos (que sintetizam ATP, ADP, prostaglandina, factor
estabilizador de fibrina, factor de crescimento)
grânulos menos densos

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Proteínas plasmáticas da coagulação

Nome Função
ZIMOGÉNIOS DE SERINA PROTEASES*
XII Factor de Hageman Liga-se à superfície (com carga negativa) no local da
lesão da parede vascular;
activado pelo HMW-cininogénio e pela calicreína.
XI Antecedente da Activado pelo factor Xlla.
tromboplastina
plasmática (PTA)
IX Factor B anti-hemofílico, Activado pelo factor XIa na presença de Ca2+
factor de Christmas,
componente da
tromboplastina
plasmática (PTC)
VII Pró-convertina, Activado pela trombina na presença de Ca2+
acelerador da conversão
da protrombina sérica
(SPCA), cotromboplastina
X Factor de Stuart-Prower Activado na superfície das plaquetas activadas, pelo
complexo tenase e pelo factor VIla, na presença do
factor tecidual e Ca2+

II Protrombina Activado na superfície das plaquetas activadas, pelo


complexo protrombinase (Ca2+, factores Va e Xa).

COFACTORES
VIII Factor A anti-hemofílico Activado pela trombina; o factor VIIIa é um cofactor
(AHG) na activação do factor X pelo factor IXa.
V Pró-acelerina, globulina Activado pela trombina; o factor Va é um cofactor na
aceleradora activação da protrombina pelo fator XI.
III Factor tecidual Uma glicoproteína expressa na superfície de células
endoteliais estimuladas ou injuriadas, para actuar
como um cofator para o factor VIla.
FIBRINOGÉNIO
I Fibrinogénio Clivado pela trombina para formar o coágulo de
fibrina.
TRANSGLUTAMINASE TIOL-DEPENDENTE
XIII Factor de estabilização Activado pela trombina na presença de Ca2+;
da fibrina (FSF), estabiliza o coágulo de fibrina através de ligações
fibrinoligase cruzadas covalentes.
PROTEÍNAS REGULADORAS E OUTRAS
Proteína C Activada pela trombina ligada à trombomodulina;
Degrada os factores Vllla e Va
Proteína S Actua como cofactor da proteína C
Trombomodulina Proteina da superfície das células endoteliais; liga
trombina que, a seguir, activa a proteína C

O factor IV é o Ca2+ e não existe factor VI.

* As serina proteases dependentes da vitamina K (II, VII, IX), têm resíduos de


carboxiglutamato para fixarem Ca2+.

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Bioquímica Fisiológica Bioquímica do Sangue

Hemostase

Formação de coágulo

Existem 2 vias que levam à formação de coágulo:


• Via Intrínseca
• Via Extrínseca
− A iniciação do coágulo de fibrina em resposta à injúria tecidual é realizada
pela via extrínseca.
− Não está claro como a via intrínseca é activada in vivo, mas envolve uma
superfície carregada negativamente.
− A via final comum envolve a activação de pré-trombina em trombina e a
clivagem do fibrinogénio catalisada pela trombina, para formar o coágulo
de fibrina.
Pré-calicreína
Cininogénio HMW

Factor XII Factor XIIa

Cininogénio HMW
Ca2+

Factor XI Factor XIa


Factor VII

Ca2+
Factor IX Factor IXa Factor tecidual

Ca2+
Factor VIII Factor VIIIa
Fosfolipidos

Factor X Factor Xa Factor X

Factor V Factor Va Ca2+


Fosfolipidos

Protrombina Trombina

Fibrinogénio Factor XIII

Monómero Factor XIIIa


de fibrina

Polimero de
fibrina

Polimero de fibrina
com ligações cruzadas

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Bioquímica Fisiológica Bioquímica do Sangue

1. Via Intrinseca

Intervenientes da via intrínseca:


• factores Xll, XI, IX, VIII e X
• pré-calicreína
• cininogénio de alto peso molecular (HMW)
• fosfolipídios plaquetários

− Esta via inicia-se com a "fase de contacto", na qual a pré-calicreína,


cininogénio HMW, factor XII e factor XI são expostos a uma superfície
activante carregada negativamente.
− Assim, o factor XII é activado em factor Xlla, por proteólise pela calicreína,
e ataca a pré-calicreína produzindo mais calicreína, desencadeando uma
activação recíproca.
− O factor Xlla, assim que formado, activa o factor XI em Xla, também
libertando bradicinina (acção vasodilatadora) a partir do cininogénio
HMW.
− Na presença de Ca2+, o factor Xla ativa o fator IX (zimogênio contendo
resíduos γ-carboxiglutamato [Gla] vitamina K dependentes), numa serina
protease, o factor IXa.
− Este cliva uma ligação Arg-IIe no factor X para produzir a serina protease
de duas cadeias, o factor Xa.
− Esta última reação requer a montagem de componentes, denominada
complexo tenase, nas superfícies das plaquetas activadas: Ca2+ e factores
VIIIa, IXa e X.
− Deve-se observar que em todas as reacções envolvendo os zimogênios
contendo resíduos Gla (fatores lI, VII, IX e X), estes, presentes nas regiões
amino terminais das moléculas, servem como locais de elevada afinidade
para ligação do Ca2+.
− Para montagem do complexo tenase, as plaquetas devem inicialmente ser
activadas para exporem os fosfolipídios aniónicos, fosfatidilserina e
fosfatidilinositol, que normalmente se encontram no lado interno das
membranas plasmáticas de plaquetas em repouso, não-activadas.
− O factor VIII, uma glicoproteína, não consiste num precursor de protease,
mas sim um cofactor que serve como receptor para os factores IXa e X, na
superfície plaquetária.
− O fator VlIl é activado por quantidades diminutas de trombina, para formar
o factor VIIIa, que, por sua vez, é inactivado por clivagem subsequente
pela trombina.

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Bioquímica Fisiológica Bioquímica do Sangue

2. Via Extrínseca

Intervenientes na via extrínseca:


• factor tecidual
• factores VII e X
• Ca2+

− Esta via inicia-se no local da lesão tecidual com a expressão do factor


tecidual nas células endoteliais.
− O factor tecidual interage com e activa o factor VII, uma glicoproteína
circulante que contém Gla sintetizada no fígado.
− O factor tecidual actua como um cofactor para o factor VIla,
aumentando sua actividade enzimática para activar o factor X.
− O factor VIla cliva a mesma ligação Arg-Ile no factor X que é clivada pelo
complexo tenase da via intrínseca.

Inibidor da via do factor tecidual (TFPI)


• Importante inibidor fisiológico da coagulação.
• Proteína que circula no sangue associada com lipoproteínas.
• Inibe directamente o factor Xa ligando-se à enzima próximo do seu local
de activação; o complexo factor Xa-TFPI inibe, então, o complexo
factor VIla-factor tecidual.

Interações entre a via intrínseca e extrínseca


• Activação do factor X pelas duas vias
• Activação do factor IX (via intrínseca) pelo complexo do factor tecidual
e factor VIla (via extrínseca)

3. Via final comum

− O factor Xa activa a protrombina em trombina que, então, converte o


fibrinogénio em fibrina.
− A activação da protrombina, da mesma forma que a do factor X, ocorre
na superfície das plaquetas activadas e requer a montagem do complexo
protrombinase: fosfolipidos plaquetários aniónicos, Ca2+, factor Va, factor
Xa e protrombina.

Factor V:
• Sintetizado no figado e baço
• Encontra-se plasma e plaquetas.
• Actua como cofactor: quando activo (factor Va) por trombina, liga-se a
receptores especificos na membrana da plaqueta e forma um
complexo com factor Xa e protrombina.
• É inactivado por acção subsequente da trombina, proporcionando uma
forma de limitar a activação da protrombina em trombina.

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Bioquímica Fisiológica Bioquímica do Sangue

Protrombina:
• Sintetizada no figado
• Contém 10 resíduos Gla na extremidade amina terminal
• Na região carboxila terminal da molécula tem a protease activa serina-
dependente

− Após a ligação ao complexo de factores Va e Xa na membrana da


plaqueta, a protrombina é clivada pelo factor Xa em 2 locais, para
produzir a molécula activa com duas cadeis de trombina que é libertada
da superfície da plaqueta.

Trombina:
• É uma serina protease presente no plasma
• Resulta da clivagem da protrombina em 2 cadeias: A e B; que são
mantidas unidas por uma ponte bissulfito.
• Hidrolisa ligações do fibrinogénio, resultando na formação de
monómeros de fibrina.

Fibrinogénio:
• Glicoproteína plasmática solúvel
• Sintetizada no hepatócito por indução através da IL-6.
• Consiste de três pares não-idênticos de cadeias polipeptídicas (Aα, Bβ,
γ)2, ligadas covaIentemente por pontes de bissulfito nas suas
extremidades amina.
• Todas as cadeias são sintetizadas no fígado
• As cadeias A e B das cadeias Aα e Bβ, designadas fibrinopeptidos A
(FPA) e B (FPB), respectivamente, apresentam nas extremidades amino
terminais excesso de cargas negativas que contribuem para a
solubililidade do fibrinogénio no plasma e previnem a agregação,
causando repulsão eletrostática

− A trombina hidrolisa as quatro ligações Arg-Gly entre os fibrinopeptidos e as


porções α e β das cadeias Aα e Bβ do fibrinogénio
− A libertação dos fibrinopeptidos pela trombina produz o monómero de
fibrina que apresenta a estrutura de subunidade (α, β, γ)2.
− A remoção dos fibrinopeptídeos expõe locais de ligação que possibilitam
às moléculas de monómeros de fibrina, que se agreguem
espontaneamente num arranjo irregular, formando o coágulo insolúvel de
fibrina.
− É a formação desse polímero insolúvel de fibrina que apreende plaquetas,
eritrócitos e outros componentes para formarem os trombos branco e
vermelho.
− Este coágulo inicial de fibrina é relativamente fraco, mantido unido apenas
pela associação não covalente de monómeros de fibrina.
− Além de converter o fibrinogénio em fibrina, a trombina também converte
o factor XIII em XIIIa, que estabiliza o coágulo, através da formação de
ligações covalentes cruzadas.

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Bioquímica Fisiológica Bioquímica do Sangue

Regulação da coagulação

Em cada ponto da cascata de coagulação, mecanismos de retro-


alimentação e determinados factores inibitórios ou activadores produzem um
delicado balanço entre activação e inibição.

Mecanismos de controlo negativo da coagulação

efectores efeitos
Antitrombina III Inibição da trombina, Factor XIa, Factor IXa
α2-macroglobulina Inibição da trombina, Factor XIa
Cofactor II da heparina Inibição da trombina
α1-antitripsina Inibição da trombina
Inibidores do factor tecidual Inibição do complexo factor tecidual
Factor VIIa (afecta a estabilidade do sistema)
Proteína C Factor Va e VIIIa

Antitrombina III
• Contribui para 75% da actividade de inibição da trombina
• Também pode inibir a actividade dos factores IXa, Xa, XIa, XIIa, VIIa-
factor tecidual
• A actividade da antitrombina é potenciada por proteoglicanos acídicos
(ex.: heparina), que se ligam a locais catiónicos induzindo alterações
conformacionais que promovem a ligação à trombina.
• A acção da heparina pode ser inibida por polipeptidos catiónicos fortes
(ex.: protamina) que se ligam fortemente à heparina impedindo a sua
ligação à antitrombina.

Proteína C

• A trombomodulina é uma proteina da superfície das células endoteliais


que se liga à trombina e o complexo activa a proteína C.
• Em combinação com proteína S (cofactor da proteína C), a proteina C
degrada os factores Va, VIIIa, limitando as suas acções na coagulação.

Fármacos
• Os fármacos cumarínicos, utilizados como anticoagulantes, inibem a
carboxilação vitamina K-dependente dos resíduos Glu em Gla, nas
regiões amino-terminais dos factores II, VII, IX e X e das proteínas C e S.
• Estas proteínas sintetizadas pelo fígado, dependem das propriedades de
ligação do Ca2+ dos resíduos Gla, para as suas funções normais nas vias
de coagulação.

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Bioquímica Fisiológica Bioquímica do Sangue

Mecanismos de controlo positivo da coagulação

efectores efeitos
Trombina Activação Plaquetária
Factor Xa Activação do Factor VII
Trombina, Factor Xa Activação dos Cofactores V e VIII
Trombina Activação do Factor XI

Acção múltipla da trombina no processo de coagulação e fibrinólise:


• agregação plaquetária
• formação de fibrina
• activador do factor XIII
• redução da própria síntese (ao unir-se à antitrombina III)
• activador da proteína C.

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Bioquímica Fisiológica Bioquímica do Sangue

Formação do agregado plaquetário

− As plaquetas circulam, normalmente, em uma forma de disco não-


estimulada.
− Durante a hemostase e trombose tornam-se activas e auxiliam na
formação de tampões hemostáticos ou trombos.
− Três etapas principais estão envolvidas:
1. adesão ao colagénio exposto nos vasos sanguíneos
2. libertação do conteúdo dos grânulos
3. agregação

− As plaquetas circulam junto às paredes vasculares, aumentando a tensão


de cisalhamento e velocidade de fluxo, o que favorece o contacto com
as paredes vasculares, aumentando a concentração de plaquetas no
local da lesão.
− Então a adesão plaquetária é favorecida por aumento do fluxo de
perfusão, aumento da relação de cisalhamento da parede vascular,
aumento do diâmetro, da rigidez eritrocitária e aumento do hematócrito.
− As plaquetas aderem ao colágeno via receptores especificos da
membrana, incluindo um complexo glicoproteico GPIa-IIa (α2β 1 integrina)
numa reacção que envolve o factor de von Willebrandt.
− O factor de von Willebrandt é uma glicoproteína secretada pelas células
endoteliais para o plasma, que estabiliza o factor VIII e se liga ao colagénio
e subendotélio
− As plaquetas ligam-se ao factor de von Willebrandt via um complexo
glicoproteico nas suas superficies.
− Esta interacção é importante da adesão plaquetária ao subendotélio.
− As plaquetas aderidas ao colagénio alteram a forma e espalham-se no
subendotélio.
− Elas libertam os conteúdos dos seus grânulos de depósitos (a secreção é
estimulada pela trombina)

Produtos da desgranulação:
Aminas biogénicas
Serotonina
Histamina
Catecolaminas
Núcleótidos adenílicos: ADP, ATP, AMPc
Catiões: Ca2+, Mg2+, K+
Factores plaquetários e proteínas
PF3, PF4
β-tromboglobulina
Albumina
Fibrinogénio
Tromboxanos

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Bioquímica Fisiológica Bioquímica do Sangue

− A trombina, formada na cascata de coagulação é o activador mais


potente das plaquetas e inicia a activação das mesmas interagindo com o
seu receptor de membrana plasmática.
− Esta interacção estimula a actividade de uma fosfolipase Cβ intracelular
− Esta enzima hidrolisa o fosfatidilinositoI 4,5-bifosfato (PIP2) da membrana
para formar as duas moléculas efectoras internas: 1,2-diacilglicerol e o
1,4,5-inositol trifosfato (PI3).
− O 1,2-diacilglicerol estimula a proteína cinase C, que fosforila a proteína
pleckstrina, que resulta na agregação plaquetária e libertação do
conteúdo dos grânulos.
− O ADP libertado dos grânulos também pode activar plaquetas.
− O IP3 causa libertação de Ca2+ para o citosol, principalmente a partir do
sistema tubular denso (ou retículo endoplasmático liso residual do
megacariócito), que interage, então, com a calmodulina e a cinase da
cadeia leve da miosina, resultando em fosforilação das cadeias leves da
miosina. Estas interagem com a actina, causando alterações na forma da
plaqueta.
− A activação induzida pelo colagénio de uma fosfolipase A2, por níveis
aumentados de Ca2+ citosólico resulta na libertação do araquidonato dos
fosfolipidos da plaqueta, levando à formação de tromboxano A2, que por
sua vez pode ainda activa a fosfolipase C de uma forma mediada por
receptor, promovendo a agregação plaquetária.

− Plaquetas activadas, além de formarem um agregado, são necessárias, via


seus fosfolipidos aniónicos recém expressos na superfície da membrana, à
aceleração da activação dos factores X e II na cascata da coagulação.

− Todos os agentes agragantes, incluindo a trombina, colágeno, ADP e outros


como o factor de activação plaquetário, modificam a superfície da
plaqueta de modo que o fibrinogénio ligar-se-á a um complexo
glicoproteico GPIIb-IIIa (αIib-β3 integrina) na superfície da plaqueta
activada.
− A seguir, moléculas de fibrinogénio divalente ligam entre si plaquetas
adjacentes activadas, formando um agregado plaquetário.
− Alguns agentes, incluindo epinefrina, serotonina e vasopressina, exercem
efeitos sinérgicos com outros agentes agregantes.

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agregação
Prostaciclina Colagénio Tromboxano A2 Trombina ADP

Fibrinogénio

Glicoproteína
     IIb-IIIa

⊕ ⊕ ⊕ eventos de sinalização

Adenilato Fosfolipase A2 Fosfolipase Cβ Proteina
ciclase Cinase

cAMP Araquidonato PIP2


⊕ fosforilação

pleckstrina - P
Tromboxano A2 IP3 DAG

libertação do
conteúdo dos
Ө grânulos
↑Ca2+

Cadeia leve de
miosina fosforilada

Actina

Actomiosina

mudança de forma

Regulação negativa da formação de coágulo

− As células endoteliais nas paredes dos vasos sanguíneos contribuem de


forma importante para a regulação geral da hemostasia e trombose.
− As células endoteliais sintetizam prostaciclinas (PGI2), um potente inibidor
da agregação plaquetária, opondo-se à acção do Tromboxano A2
− A prostaciclina actua estimulando a actividade adenilato ciclase nas
membranas das superfícies das plaquetas.
− O aumento resultante do cAMP intraplaquetário opõe-se ao aumento dos
níveis de Ca2+ intracelular produzido pelo IP3, e desta forma inibe a
activação plaquetária, resultando numa plaqueta hipoaderente e
hipoagregável.
− As células endoteliais desempenham outros papéis na regulação da
trombose. Por exemplo, estas possuem uma ADPase que hidroliza ADP e,
portanto, se opõe a seus efeitos agregantes nas plaquetas.
− Além disso estas células também sintetizam heparan sulfato
(anticoagulante) e activadores de plasminogénio, que podem auxiliar na
dissolução de trombos.

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A Aspirina acetila irreversivelmente, inibindo o sistema ciclo-oxigenase plaquetária


envolvido na formação do tromboxano A2 (agregante de plaquetas e vaso-
constrictor). Também inibe a produção de prostaciclina (anti-agregante plaquetar e
vaso-dilatador) pelas células endoteliais, mas ao contrário das plaquetas, estas células
regeneram a ciclo-oxigenase em poucas horas.

Fibrinólise
− Os sistema de coagulação está em equilibrio, no qual os coágulos de
fibrina estão constantemente a ser formados e dissolvidos – fibrinólise
− A enzima responsável pela degradação da fibrina e fibrinogénio é uma
serina protease – plasmina – que se encontra no plasma sob a forma de
plasminogénio.
− A quantidade de plasmina que é formada na fase fluida sob condições
fisiológicas, é rapidamente inativada pelo inibidor da plasmina – α2-
antiplasmina
− O plasminogénio liga-se à fibrina, estando incorporado nos coágulos, à
medida que são produzidos
− Como a plasmina que se forma está ligada à fibrina, encontrando-se
protegida da α2-antiplasmina, aquela permanece activa.

− O activador do plasminogénio tecidual (alteplase, t-PA) consiste numa


serina protease libertada na circulação a partir do endotélio vascular sob
condições de lesão ou stress, e é cataIiticamente inativa a não ser que
esteja ligada à fibrina.
− Após a ligação à fibrina, o t-PA cliva o plaminogénio no interior do coágulo
para produzir plasmina, que por sua vez, digere a fibrina para formar
produtos solúveis e degrada proteínas da coagulação (V, VIII, IX e X) e
outras proteínas.
− Tanto a plasmina, como o activador do plasminogénio não podem
permanecer ligados a esses produtos de degradação, sendo, portanto,
libertados para a fase fluida, onde são inactivados pelos seus inibidores
naturais.
− O activador do plasminogénio tecidual (tPA) é inibido por outros 2 factores
PAI-I e PAI-2 (inibidores do activador do plasminogénio).

− A pró-urocinase é a precursora de um segundo activador do


plasminogénio, a urocinase-activador de plasminogénio.
− É sintetizada por monócitos, macrófagos, fibroblastos e células epiteliais.
− A sua acção consiste na degradação da matriz extracelular.

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Outros sistemas proteicos

Sistema de complemento

Sistema complemento:
Constituição: 18 proteínas

Localização: plasma e outros liquidos corporais

Activação: em cascata de reacções

Funções do sistema complemento:


• Mediação quimiotáxica
• Indução da permeabilidade vascular
• Opsonização
• Activação fagocitária
• Citólise

Existem 3 vias de activação:

1. Via clássica: activação da fracção C1 por complexos antigénio-anticorpo.


2. Via alternativa: via da propedina, através da activação da fracção C3 por
Ig, lipopolissacáridos bacterianos, e outras.
Formação do C5 (fase de activação) a que se segue a fase de ataque
(com formação de C8-C9), com lesão celular e opsonização (fagocitose e
destruição de agente microbianos opsonisados)
3. Via da lectina

Sistema das cininas

O sistema das cininas resulta da activação do cininogénio pela calicreína e


tem como efeitos associados:
• Fibrinólise
• activação do complemento com lise celular
• coagulação
• vasodilatação
• entre outros.

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Aspecto Clínico
Hemofilia A: doença ligada ao cromossoma X
Hemofilia B: ocorre devido à deficiência do factor IX. As características clínicas
são idênticas às da hemofilia A

Outras doenças que envolvem o sistema de coagulação, estão


relacionadas com as vias de inibição da trombina, uma vez que se estas não
funcionarem correctamente pode originar trombose venosa.

Trombocitopatias
Anomalias quantitativas
Trombocitopenia
Por diminuição da produção congénita ou adquirida
Por aumento da destruição
Imunológica
Hiperconsumo
Por distribuição irregular
Hiperesplenismo

Trombocitose

Anomalias qualitativas congénitas ou adquiridas

Púrpura: extravasão de sangue para fora dos capilares da pele e/ou mucosas,
manifestando-se como petéquias ou equimoses.

Tipos:
Trombopática: (primitiva ou secundária) causada por anomalias
funcionais das plaquetas, sem alteração quantitativa.
Trombopénica: causada por diminuição relevante das plaquetas
Vascular: causada por anomalias no endotélio vascular.

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