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FARMÁCIA

Brasília – fevereiro de 2009


Comunitária

Manual II
Atividades do
Farmacêutico
na Farmácia
Comunitária
FARMÁCIA
Comunitária
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1 APRESENTAÇÃO relevância prestadas pelo farmacêutico


comunitário.
Esperamos que estas publicações
O aumento do poder aquisitivo da
tornem‑se úteis, no dia‑a‑dia dos farma‑
população brasileira, o crescimento do
cêuticos comunitários, e possam agregar
número de idosos, os programas governa‑
conhecimentos e nortear os graduandos
mentais de distribuição de medicamentos,
em Farmácia.
entre outros fatores, têm contribuído para
o aumento do consumo de medicamentos
e consequentemente para o crescimen‑ A comissão.
to dos indicadores de morbi‑mortalidade
relacionados ao uso excessivo destes me‑
dicamentos. Frente a esta nova realidade,
a atuação do farmacêutico torna‑se im‑
Atividades farmacêuticas
prescindível à transformação do cenário
brasileiro atual. voltadas para o medicamento
Nas atividades orientadas ao pa‑
ciente, enquadram‑se os serviços farma‑ Na farmácia comunitária, as princi‑
cêuticos, dentre os quais podemos citar a pais atividades voltadas ao medicamento
dispensação, a indicação farmacêutica, o e que serão aqui descritas são a aquisição,
acompanhamento farmacoterapêutico, a o recebimento, a conservação, o armaze‑
farmacovigilância, a aplicação de injetá‑ namento e controles e o fracionamento.
veis, a colocação de brincos, a determina‑ As atividades profissionais orientadas ao
ção de parâmetros bioquímicos, a educa‑ medicamento devem estar descritas sepa‑
ção para o uso racional de medicamentos radamente nos Procedimentos Operacio‑
e a educação em saúde. nais Padrão da empresa e visam a garantir
O CFF defende o modelo de farmácia a aquisição de produtos de procedência
como estabelecimento de saúde e acredita e qualidade e a manutenção destes re‑
que os serviços farmacêuticos muito têm quisitos, até que os mesmos cheguem ao
contribuído para mudança do perfil atual consumidor final, não esquecendo da im‑
de farmácia como estabelecimento comer‑ portância do controle do capital de giro
cial. Por serem as atividades farmacêuti‑ e do monitoramento dos estoques e da
cas orientadas ao paciente as de maior validade dos produtos comercializados.
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Aquisição dia, especialmente quando se trata de


medicamentos pertencentes à curva
A. Atenção especial deve ser dada aos
A aquisição de medicamentos consis‑ produtos que, apesar de serem fabrica‑
te num conjunto de procedimentos pelos dos por laboratórios farmacêuticos, têm
quais se efetiva o seu processo de compra, seus preços liberados (não monitorados
conforme planejamento, com o objetivo pelo Governo Federal), pois, para es‑
de suprir a farmácia em quantidade, qua‑ tes, é importante que se faça cotação
lidade e menor custo, visando a manter a de preços e que a aquisição seja fei‑
regularidade e funcionamento do estabe‑ ta quinzenal ou mensalmente. Quanto
lecimento. aos medicamentos similares e genéri‑
Com a atual margem de lucro pra‑ cos, dependendo do volume de vendas
ticado no varejo farmacêutico, pode‑se e do controle financeiro da empresa, é
constatar que, de 60% a 70% dos custos comum a aquisição mensal ou quin‑
de uma farmácia deve‑se à aquisição de zenal, aproveitando‑se as promoções e
produtos, razão suficiente para se estabe‑ operadores logísticos disponibilizados
lecer procedimentos rotineiros que possam pelas indústrias, através de seus repre‑
auxiliar as empresas a aplicar, da melhor sentantes;
forma, seu capital de giro, evitando faltas • Faz‑se necessária a adoção de um sof‑
de medicamentos e perda de produtos. tware adequado à rotina da farmácia,
que ofereça o máximo possível de fer‑
Passamos a detalhar os cuidados im‑
ramentas úteis ao controle do estoque
prescindíveis na aquisição de medicamen‑
(demanda, estoque mínimo, ponto de
tos e outros produtos para a saúde:
pedido, curva ABC, controle de faltas),
• A pessoa escolhida para esta importan‑ além do comprometimento de toda a
te tarefa deve conhecer muito sobre equipe de colaboradores com o referido
os medicamentos a serem adquiridos, controle;
tanto no tocante à tributação (listas po‑
• A empresa deve criar e manter atualiza‑
sitiva e negativa, ICMS incidente), como
do um cadastro de fornecedores idône‑
à sua classificação quanto ao giro (cur‑
os, verificando a legalidade dos mesmos,
va ABC);
no País. Para isto, deve‑se solicitar que
• A reposição de faltas de medicamentos as empresas apresentem os documen‑
de marca é geralmente feita a cadaq tos comprobatórios atualizados, como:
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autorização de funcionamento de em‑ • A procura pelo melhor preço, prazo de


presa emitido pela Anvisa (Agência Na‑ pagamento, condição comercial junto
cional de Vigilância Sanitária), alvará ao distribuidor, prazo de entrega dos
sanitário emitido pela VISA estadual e produtos solicitados, opção por descon‑
Certidão de Regularidade expedido pelo to financeiro, ao invés de comercial e
CRF (Conselho Regional de Farmácia) do utilização de operadores logísticos (OL)
Estado onde a empresa está instalada; oferecidos pelas indústrias, são diferen‑
• É importante verificar se os produtos a ciais importantes na aquisição de me‑
serem adquiridos são registrados ou de‑ dicamentos.
clarados isentos de registro pelo órgão • È imprescindível que o transporte dos
competente do Ministério da Saúde. O produtos adquiridos obedeça as Boas
profissional poderá fazer consulta ao Práticas de Distribuição estabelecidas
site da Anvisa, indicado abaixo, para pela Resolução RDC nº 204, de 14 de
confirmar o registro dos produtos co‑ novembro de 2006, da Anvisa. Esta RDC
mercializados: pode ser visualizada no link:
http://www7.anvisa.gov.br/datavisa/Consulta_ http://e‑legis.anvisa.gov.br/leisref/public/
Produto/consulta_medicamento.asp showAct.php?id=24715&word
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Construção de uma curva 2 ARMAZENAMENTO


ABC de valor
O armazenamento é um processo que
possibilita a estocagem ordenada, segu‑
A relação de produtos ordenados, ra e racional das diversas categorias de
segundo a classificação ABC de valor medicamentos e produtos, garantindo a
para um certo período (por exemplo, um sua adequada conservação e integridade,
ano), é obtida, seguindo‑se os passos durante todo seu prazo de validade.
abaixo:
1. Calculam‑se os valores globais de con‑
sumo para cada item de compra, no
2.1 – Recebimento e
período considerado. O valor global é Conferência de produtos
resultado da multiplicação do custo
unitário do produto pelo número de Pode‑se dizer que o recebimento de
unidades consumidas, ao longo do pe‑ produtos farmacêuticos por uma empre‑
ríodo. sa não é somente a transferência física
2. Os valores de cada artigo são colocados de mercadorias, mas também o momento
em que mais uma empresa se insere no
em ordem decrescente.
ciclo de responsabilidade pelos mesmos,
3. Calcula‑se o total acumulado despen‑ tornando‑se, assim, co‑responsável pela
dido, somando‑se os valores globais de garantia da qualidade dos produtos.
cada item, anotando os valores após a
O recebimento de medicamentos e
adição de cada parcela, até se obter o outros produtos é um procedimento que
valor total consumido. deve ser realizado por pessoa capacitada e
4. Calcula‑se o valor percentual de gasto treinada, de acordo com os procedimentos
de cada item dividindo‑se o seu gasto operacionais padrão, estabelecidos pela
pelo total de recursos gastos. empresa. O ideal é que o funcionário que
recebe a mercadoria seja responsável por
5. Da mesma forma que foi feito em 3, efetivar a entrada dos produtos constantes
efetua‑se o cálculo de percentagens da nota fiscal no estoque.
acumuladas.
Após entrada, deverá ser emitido um
6. Definem‑se os itens A, B e C. espelho da nota, que acompanhará os
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produtos a serem armazenados. Um ou‑ Detectada qualquer inconformidade, o


tro funcionário, geralmente um balconista, responsável deverá proceder à segregação
efetuará a conferência destes produtos e dos produtos em local previamente de‑
só então procederá o armazenamento, seja terminado e identificado e imediatamen‑
no ponto de venda ou no estoque da loja. te contactar o fornecedor para solicitar
No ato do recebimento dos produtos a correção das falhas, efetuando, quando
deverão ser observados: couber, a devolução parcial ou integral das
mercadorias.
• Se todos os dados da nota fiscal re‑
ferentes à identificação das empresas
compradora e vendedora, como CNPJ, 2.1.1 – Devolução de produtos
Inscrição Estadual, data da emissão e
endereço estão corretos;
Após observação rigorosa de todos
• Se a nota fiscal corresponde ao pedido
os itens descritos, anteriormente, caso al‑
de compra;
guma não conformidade seja encontrada
• Se todos os produtos recebidos estão motivando devolução parcial ou total da
constando na nota fiscal; mercadoria recebida, deve‑se atentar para
• Se o número do lote de cada medicamen‑ alguns detalhes, como:
to está constando da nota fiscal e se cor‑ – Identificar e separar dos demais os
responde ao declarado nas embalagens, produtos a serem devolvidos, armaze‑
especialmente em se tratando de medica‑ nando‑os adequadamente até que se
mentos sujeitos a controle especial; decida seu destino;
• Se os produtos se encontram aparen‑ – Contactar o distribuidor e registrar a
temente em perfeito estado de conser‑ devolução, anotando o número do pro‑
vação. tocolo de atendimento;
• Se a data de fabricação e o prazo de – Alguns distribuidores trabalham com
validade dos produtos adquiridos estão espelho de nota fiscal. Nestes casos, de‑
legíveis e dentro do prazo mínimo de ve‑se aguardar o espelho para emissão
validade estabelecido pela empresa; da nota fiscal de devolução, que deve
• Se as condições de armazenamento e acompanhar a mercadoria devolvida e a
transporte descritos pelo fabricante fo‑ respectiva cópia da nota fiscal. Quando
ram obedecidas. o distribuidor não trabalha com espelho
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de NF, emite‑se NF de devolução com os zenagem de Medicamentos”, devem ser


dados da NF de entrada da mercadoria, obedecidas todas as recomendações dos
cuja cópia deve acompanhar os produ‑ fabricantes, os prazos de validade decla‑
tos devolvidos; rados nas embalagens e os procedimentos
– Após devolução, deve‑se acompanhar a operacionais padrão – POPs descritos para
chegada do crédito gerado (devolução o estabelecimento.
parcial) ou o cancelamento do boleto
bancário (devolução total);
– Deve‑se manter registros das devolu‑
ções efetuadas ; 3 CONSERVAÇÃO E
– Verificar se os produtos devolvidos fo‑ CONTROLES
ram baixados do estoque.

A conservação compreende atividades


2.2 – Estocagem que visam à manutenção das característi‑
cas de qualidade dos medicamentos. Para
garantir a conservação de medicamentos
O Ministério da Saúde publicou, por estocados em uma farmácia comunitária, é
meio da CEME (Central de medicamentos), necessário o estabelecimento de controles
em 1990, as “Boas Práticas para Armaze‑ e obedecer algumas orientações básicas.
nagem de Medicamentos”. Esta publicação
Os controles comumente utilizados
pode ser encontrada, através do site www.
são:
saude.gov.br/bvs/publicaçoes, e deve se
tornar ferramenta de trabalho dos farma‑
cêuticos comunitários, quando o assunto •  Controle de temperatura ambiente
for armazenamento e estocagem de medi‑ Para a introdução de um novo produ‑
camentos. Com um documento completo to no mercado, os fabricantes submetem
como esse, torna‑se desnecessária qual‑ os medicamentos a ensaios de estabilidade
quer abordagem sobre o assunto neste reconhecidos internacionalmente e, con‑
manual. forme os resultados obtidos nestes testes
Para um armazenamento ideal de são estabelecidos os respectivos prazos de
medicamentos, além das exigências legais validade e a temperatura ideal para con‑
contidas nas “Boas Práticas para Arma‑ servação dos mesmos.
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De modo geral, os medicamentos, Controle de umidade e


para sua conservação, devem ser estoca‑
dos em ambientes com temperatura média luminosidade do local de
de 25°C (+ ou – 2°). No entanto, alguns estocagem
produtos exigem temperaturas entre 2º e
8°C para adequada conservação. Na au‑
sência de menção específica, a conser‑ A umidade, no local de estocagem
vação a temperatura ambiente prevalece de medicamentos, deve ser rigorosamen‑
(entendendo‑se a temperatura ambiente te controlada, com o objetivo de evitar
para um clima continental). a alteração da integridade dos mesmos.
Apesar de os medicamentos geralmente
Em qualquer dos casos, as condições
particulares de conservação dos medi‑ se encontrarem bem acondicionados, la‑
camentos devem constar nas caixas de crados e, na maioria, imunes a este fator,
acondicionamento ou nas bulas. alguns fármacos, como o ácido acetilsalicí‑
lico, cloranfenicol e a procaína, são extre‑
mamente sensíveis à umidade.
•  Controle de temperatura das gela-
deiras e câmaras frias No entanto, após a abertura dos re‑
cipientes, a situação muda e os riscos de
A rede de frios deve ter suas tempera‑ deterioração aumentam, devendo, portan‑
turas diariamente monitoradas e anotadas to, os pacientes ser bem orientados com
em planilhas específicas. As câmaras frias relação aos cuidados com o armazena‑
têm sua temperatura controlada por ter‑ mento doméstico dos medicamentos.
mógrafos e os refrigeradores e freezers,
A luminosidade é outro fator que tem
por termômetros de máxima e mínima.
que ser levado em consideração na con‑
Para cada tipo de medicamento, devemos
ter o ambiente apropriado ao seu acondi‑ servação dos medicamentos, pois grande
cionamento: parte dos mesmos tem sua integridade
alterada por ação da luz. Alguns medica‑
– Os refrigeradores devem manter tempe‑
mentos que vêm em blísteres transparente
ratura interna entre 4º e 8° C;
e que podem ser vendidos nas embalagens
– Os freezers permitem temperaturas não primárias, geralmente, com quatro ou seis
superiores a – 10° C; unidades, como analgésicos, medicamento
– As câmaras frias permitem temperatu‑ para o tratamento sintomático da gripe,
ras entre 8º e 15º C. laxantes, antiácidos, entre outros, geral‑
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mente, nas farmácias comunitárias, ficam Controle de validade dos


expostos em balcões de vidro e fora de
suas embalagens secundárias. Portanto,
medicamentos
susceptíveis a alterações causadas pela in‑
cidência de luz. É necessária a manutenção O prazo de validade é a data limite
dos mesmos nas embalagens secundárias, para a utilização de um produto, definida
de onde somente deverão ser retirados, no pelo fabricante com base nos seus respec‑
momento da venda, protegendo‑os, assim, tivos testes de estabilidade, mantidas as
da luminosidade excessiva. condições estabelecidas de armazenamen‑
to, transporte e uso. Normalmente, este é
expresso em mês/ano, o que denota que
Controle de medicamentos o medicamento poderá ser usado, até o
sujeitos ao controle especial último dia do mês estipulado.
Por exemplo, se um produto tem pra‑
zo de validade de 03/2009, significa que
Os medicamentos sujeitos ao controle
poderá ser utilizado até o dia 31 de março
especial, conforme determina a Portaria
do ano 2009, respeitadas as orientações do
SVS/MS 344/98 e suas atualizações, ne‑
fabricante. Entretanto, deve‑se considerar
cessitam de controles mais rígidos que os
antecipadamente vencido o medicamento
demais medicamentos. Devido às carac‑
cuja posologia não possa ser inteiramente
terísticas desses medicamentos, sua área
efetivada no prazo de validade ainda re‑
de estocagem deve ser considerada de se‑
manescente, como os anticoncepcionais
gurança máxima e deve ser separada das
que, para obtenção dos resultados espera‑
demais.
dos, devem ser ingeridos diariamente por
Os armários que os acondicionam de‑ 21 a 30 dias.
vem ser fechados com chaves e ter sua Para um eficaz controle de validade,
temperatura interna monitorada como as é indispensável uma estocagem adequada,
demais áreas de estocagem. onde os medicamentos fiquem distribuídos,
Os registros de entrada e saída desses de forma a permitir a fácil visualização da
medicamentos, na farmácia comunitária, validade, ficando os produtos de vencimen‑
devem ser feitos, obedecendo à legislação to próximo, colocados na frente dos demais.
sanitária específica, sem prejuízo do con‑ Sugere‑se, ainda, que sejam separados, em
trole normal de estoque. local específico, os medicamentos a vencer,
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nos próximos seis meses, facilitando a prio‑ não é o princípio ativo que é sensível
rização de sua venda e a sua retirada do ao calor, mas, sim, a forma farmacêu‑
estoque, após o vencimento. tica. Qualquer produto cuja aparência
O destino dos produtos vencidos exterior esteja visivelmente modificada
deve ser definido e escrito no ”Plano de não deverá ser utilizado, à medida em
Gerenciamento de Resíduos de Serviços que esta alteração poderá indicar uma
de Saúde” (Resolução RDC nº 306, de modificação das propriedades da forma
07 de dezembro de 2004). Constatado o farmacêutica.
vencimento, os produtos devem ser acon‑ • Nunca deixe os medicamentos expostos
dicionados em caixas lacradas e armaze‑ ao sol, calor, chuva e umidade;
nados em local devidamente identificado,
• Nunca deixe que os medicamentos se‑
até serem entregues à vigilância sanitária
jam armazenados em contato direto
local.
com o chão, encostado nas paredes, ou
Os medicamentos sujeitos ao controle muito perto do teto;
especial obedecem a critérios mais rígidos,
• Verifique nas embalagens qual a tem‑
devendo ser seu vencimento registrado no
peratura que o medicamento deverá
SNGPC (Resolução RDC nº 27, de 30 de
ser estocado (forma de conservação).
março de 2007) e sua segregação feita em
Alguns necessitam de baixas tempera‑
armários chaveados, até o recolhimento
turas, ou seja, deverão ser conservados
ou envio à Visa municipal.
em geladeiras;
• Faça periodicamente a inspeção visu‑
al (física) dos produtos (mudança de
Recomendações básicas
cor, cheiro, consistência, presença de
para correta conservação de partículas, manchas, turvação, vaza‑
medicamentos mento).

Com a finalidade de facilitar a ob‑


Formas farmacêuticas especiais:
servação rigorosa dos medicamentos, à
• Certas formas farmacêuticas (supositó‑ procura de possíveis alterações de conser‑
rios, cremes, óvulos...) são sensíveis às vação devidas a fatores diversos, apresen‑
elevações de temperatura. Nestes casos, tamos a tabela a seguir:
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Sinais indicativos de possíveis alterações na estabilidade de medicamentos

FORMAS ALTERAÇÕES
FARMACÊUTICAS VISÍVEIS

Comprimidos Quantidade excessiva de pó


Quebras, lascas, rachaduras na superfície
Manchas, descoloração, aderência entre os
comprimidos ou formação de depósitos de cristais
sobre o produto

Drágeas Fissuras, rachaduras, manchas na superfície

Cápsulas Mudança na consistência ou aparência


(amolecimento ou endurecimento)

Pós e grânulos Presença de aglomerados


Mudança na cor ou endurecimento

Pós efervescentes Crescimento da massa e pressão gasosa

Cremes e pomadas Diminuição do volume por perda de água


Mudança na consistência
Presença de líquido ao apertar a bisnaga
Formação de grânulos, grumos e textura arenosa
Separação de fases

Supositórios Amolecimento, enrugamento ou manchas de óleo

Soluções/xaropes/elixires Precipitação
Formação de gases
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Soluções injetáveis Turbidez, presença de partículas, vazamento,


formação de cristais e mudança na coloração

Emulsões Quebra de emulsão, mudança na coloração e no odor

Suspensões Precipitação, presença de partículas, grumos, cheiro


forte, mudança na coloração, entumecimento e
liberação de gases

Tinturas/extratos Mudança de coloração, turbidez e formação de gases

Fonte:  Defelipe (1985).

Observações importantes: acesso de crianças a eles pode se tornar


um grave problema. Pensando em pre‑
venir problemas domésticos decorrentes
Além do armazenamento, estoca‑ do transporte e do armazenamento ina‑
gem e controles dos medicamentos, an‑ dequado de medicamentos, os farmacêu‑
tes de sua venda, o farmacêutico, como ticos comunitários devem se preocupar
profissional de saúde responsável pela em passar aos seus pacientes as seguintes
orientação para o uso racional e correto recomendações:
dos medicamentos, deve se preocupar
com o armazenamento doméstico dos – Não tomar medicamentos por conta
mesmos, orientando adequadamente to‑ própria ou sem orientação. O armaze‑
dos os usuários que venham a adquirir namento doméstico pode induzir à au‑
medicamentos, nas farmácias comuni­ tomedicação desnecessária;
tárias. – Para transporte de medicamentos que
Ter medicamentos, em casa, pode devem ser conservados entre 2º a 8ºC,
parecer uma questão de previdência. No deve ser utilizada embalagem que res‑
entanto, sua má armazenagem ou o fácil peite a cadeia do frio (embalagem iso‑
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térmica refrigerada), evitando, porém, o rio na quantidade estabelecida pela pres‑


congelamento do produto. crição médica.
– Os medicamentos que devem ser con‑ O fracionamento tem um importante
servados a uma temperatura inferior papel para a promoção do uso racional de
a 25º ou a 30º C, bem como os que medicamentos, pois permite disponibilizar
devem ser conservados à temperatu‑ o produto adequado para uma finalida‑
ra ambiente, não devem ser expostos, de terapêutica específica, em quantidade
durante demasiado tempo, a tempe‑ e dosagens suficientes para o tratamen‑
raturas elevadas, tais como as que to. Isso evita que se mantenham sobras
são freqüentemente encontradas nos de medicamentos, em casa, diminuindo
porta‑bagagens ou nos habitáculos de a possibilidade de efeitos adversos e in‑
veículos expostos ao sol. É aconselhá‑ toxicações, derivados da automedicação.
vel, em deslocamentos maiores, como A idéia é permitir a aquisição da exata
medida de precaução, transportá‑los quantidade prescrita pelo preço praticado
numa embalagem isotérmica não re‑ para cada unidade do medicamento, bara‑
frigerada. teando o custo do tratamento.
–  Todos os medicamentos devem ser A venda de medicamentos fraciona‑
armazenados fora do alcance das dos representa, também, um importante
crianças; passo para a qualificação e para a orien‑
– Em caso de reutilização de medicamen‑ tação das ações e dos serviços farmacêu‑
tos, verifique o prazo de validade, o es‑ ticos do país, aproximando o profissional
tado de conservação, a consistência e a farmacêutico do cidadão e do usuário de
cor dos mesmos; medicamentos.
O fracionamento de medicamentos
somente pode ser realizado por droga‑
rias que estejam licenciadas pela Vigilân‑

4 FRACIONAMENTO cia Sanitária para realização do fraciona‑


mento e devem seguir as Boas Práticas
para Fracionamento, instituídas pela RDC
É a subdivisão da embalagem de um n°135/2005, com as alterações da RDC
medicamento em partes individualizadas n°260/2005 (http://www.anvisa.gov.br/le‑
para viabilizar a sua dispensação ao usuá‑ gis/resol/2005/rdc/135_05rdc.pdf)
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5 OUTRAS ATIVIDADES – Armazenamento e estocagem de pro‑


dutos;
ATRIBUÍDAS AO – Conservação e controles;
FARMACÊUTICO – Fracionamento;

COMUNITÁRIO – Admissão, demissão e treinamento de


pessoal;
– Dispensação de medicamentos;
5.1 – Elaboração de
– Perfil farmacoterapêutico;
documentos normativos
– Farmacovigilância;
– Preparo e descarte de materiais;
O farmacêutico deve elaborar o Ma‑
nual de Boas Práticas de Dispensação de – Aplicação de injetáveis;
Medicamentos em Farmácia / Drogaria e – Verificação de pressão arterial;
promover a implantação desta política de
qualidade, fazendo‑se cumprir as diretri‑ – Inalação;
zes nele proposto. Excelente material de – Manuseio de equipamentos de segu‑
consulta para execução desta importante rança;
tarefa, é a publicação “ Boas Práticas na
– Entregas em domicílio;
Dispensação de Medicamentos”, de auto‑
ria dos farmacêuticos José Ricardo Arnaut – Programa de desinsetização;
Amadio e Paulo Tamashiro Filho.
– Aferição de parâmetros bioquímicos;
Como parte desta política, o farma‑
– Colocação de brincos, e outros.
cêutico deve elaborar e manter Procedi‑
mentos Operacionais Padrão – POPs escri‑
tos para as diversas atividades desenvolvi‑ Em cumprimento à Resolução An‑
das, tais como: visa RDC 306/2004, o estabelecimento
deverá estabelecer a política de geren‑
– Aquisição de produtos;
ciamento dos produtos com prazo de va‑
– Recebimento e conferência de pro‑ lidade expirados, por meio da elaboração
dutos; do Plano de Gerenciamento de Resíduos
– Devolução de produtos; (PGRSS).
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5.2 – Recursos humanos 6 REFERÊNCIAS


BIBLIOGRÁFICAS
Compete ao farmacêutico fazer
treinamento inicial e contínuo de todos
Ministério da Saúde. Boas Práticas para Es-
os funcionários, de forma a adequar as
tocagem de Medicamentos. Brasília 1990.
atividades executadas. Os treinamentos
devem obedecer o programa estabeleci‑
Vecina Neto, G.; Reinhardt Filho, W. Gestão
do, incluindo‑se as orientações quanto
de Recursos Materiais e de Medicamentos.
às práticas de higiene pessoal, cuidados
São Paulo: Faculdade de Saúde Pública de
pessoais com unhas, barba e cabelo, uso
São Paulo. 1998.
do uniforme e crachás de identificação,
relacionamento interpessoal, manuseio
Organização Pan‑Americana da Saúde/Or‑
de equipamentos de segurança, atendi‑
ganização Mundial da Saúde.Assistência
mento ao público, conhecimento e apli‑
Farmacêutica para Gerentes Municipais.
cação dos POPs, além dos conhecimen‑
Brasília. 2003.
tos específicos para desempenho de cada
função. Defelipe,C.R. Estabilidade de medicamen‑
Os treinamentos devem ser registra‑ tos: condições ambientais adequadas para
dos nos impressos “Registro de Treina‑ conservação de medicamentos, 1985. Mo‑
mento Individual ou Coletivo e Avaliação” nografia em Farmácia Hospitalar, Rio de
e “Lista de Presença em Treinamento”. Janeiro: UFRJ

Sítios recomendados
Agência Nacional de Vigilância Sanitária.................................................www.anvisa.gov.br
Conselho Federal de Farmácia.............................................................................www.cff.org.br
Organização Pan‑americana da Saúde.......................................................www.opas.org.br
Ministério da Saúde........................................................................................................www.saude.gov.br
Fundação Oswaldo Cruz............................................................................................www.fiocruz.org.br
Food & Drug Administration.................................................................................www.fda.gov
Biblioteca Virtual em Saúde...................................................................................www.bireme.br
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Membros da Comfar

Arani Schroeder (SC) Cadri Saleh Hamad Awad (GO) Carmen Íris Tolentino (TO) Danilo Caser (GO)

José Vílmore Silva Vanilda Oliveira


Lopes Júnior (PI) Aguiar Santana (SE)

A Comissão Assessora sobre Farmácia Comunitária do Conselho Federal de Farmácia


é composta pelos seguintes farmacêuticos:

•  José Vílmore Silva Lopes Júnior (vilmore@ig.com.br)


•  Vanilda Oliveira Aguiar Santana (vanildaoasantana@yahoo.com.br)
•  Arani Schroeder (aranisch@terra.com.br)
•  Cadri Saleh Hamad Awad (cadriawad@terra.com.br)
•  Carmen Iris Tolentino (citolentino@hotmail.com)
•  Danilo Caser (danilocaser@gmail.com)

Colaboradores:

Josélia Frade e Mirtes Bezerra.

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