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Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho na Construção Civil

CAPÍTULO I
OS ACIDENTES DE TRABALHO NA CONSTRUÇÃO CIVIL E OBRAS
PÚBLICAS

I-1
Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho na Construção Civil

ÍNDICE
1. Objectivos específicos......................................................................................................................................... 3
2. Os Acidentes de trabalho no sector da construção civil e obras públicas....................................................... 3
3. Causas e factores causais dos acidentes ........................................................................................................... 5
3.1. Introdução .................................................................................................................................................... 5
3.2. Classificação dos factores causais.............................................................................................................. 6
4. Consequências dos acidentes de trabalho....................................................................................................... 6
5. Custos dos acidentes .......................................................................................................................................... 7
6. Noção de acidente de trabalho ........................................................................................................................ 9
6.1. Regime de reparação .................................................................................................................................. 9
6.2. O conceito de acidente de trabalho .......................................................................................................... 9
6.3. Descaracterização do acidente................................................................................................................. 10
6.4. Reparação do acidente de trabalho .......................................................................................................... 11
Regulamentação aplicável .................................................................................................................................... 11
Bibliografia ............................................................................................................................................................. 11

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Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho na Construção Civil

1. OBJECTIVOS ESPECÍFICOS
 Reconhecer as características específicas do sector da construção civil e obras
públicas.
 Analisar as estatísticas da sinistralidade.
 Identificar os factores causais dos acidentes de trabalho.
 Identificar as consequências dos acidentes de trabalho para a organização, para o
indivíduo e a família e para a sociedade.
 Reconhecer a noção de acidente de trabalho, à luz da legislação aplicável.

2. OS ACIDENTES DE TRABALHO NO SECTOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL E


OBRAS PÚBLICAS
É do conhecimento geral que o sector da Construção Civil assume uma elevada importância económica,
tanto pelo peso bastante expressivo ao nível do produto como ao nível do emprego. Este sector tem
características e especificidades muito próprias que o demarcam dos restantes sectores de actividade.
Essas especificidades têm a ver não só com aspectos técnicos inerentes à actividade, mas também com
aspectos sociais e tradições muito fortes. Somente a título de exemplo, é de salientar que este sector se
caracteriza por uma forte deslocação/movimentação de mão-de-obra; diversidade de actividades e
profissões; o local de trabalho está sujeito a constantes alterações; é constituído na sua maioria por
pequenas empresas, muitas vezes em situações ilegais; com mão-de-obra pouco qualificada, imigrante,
muitas vezes sem contrato de trabalho e em situação ilegal.

Perante todas estas situações resulta um numeroso conjunto de riscos objectivos e bastante elevados, que
transformam este sector num dos sectores de actividade com maiores probabilidades de ocorrência de
acidentes de trabalho, associados à forte precariedade, rotatividade e prática de subcontratação.

Vejamos agora a evolução dos acidentes de trabalho totais e mortais para este sector desde o início de
2000.

60.000 160
140
50.000
Acidentes mortais

120
Acidentes totais

40.000
100
30.000 80
60
20.000
40
10.000
20
0 0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Acidentes totais 51.561 56.401 57.083 53.978 53.957 51.538 51.790 47.322 47.024
Acidentes mortais 102 139 109 113 110 111 83 103 78
Evolução dos Acidentes de Trabalho no Sector da Construção Civil em Portugal

Fonte: GEP/MTSS, Acidentes de Trabalho

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Como se pode constatar pelos dados apresentados acima, o sector da construção civil tem vindo a assistir
a uma diminuição ligeira da sinistralidade laboral. No entanto, é importante salientar que os acidentes na
construção, constituem em média, cerca de 20 % dos acidentes ocorridos em todas as actividades
económicas, como demonstra a tabela seguinte:

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008


Acidentes totais em
todas as actividades 234.192 244.936 248.097 237.222 234.109 228.884 237.392 237.133 240.018
económicas
Acidentes totais na
51.561 56.401 57.083 53.978 53.957 51.538 51.790 47.322 47.024
construção
Acidentes ocorridos em todas as actividades económicas versus acidentes ocorridos na construção

Fonte: GEP/MTSS, Acidentes de Trabalho

No que diz respeito à sinistralidade mortal, em termos globais, constata-se também uma ligeira diminuição.
Veja-se que:

400
350
300
Acidentes

250
200
150
100
50
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Total de acidentes mortais 368 365 357 312 306 300 253 276 231
Total de acidentes mortais na
102 139 109 113 110 111 83 103 78
construção civil
Acidentes mortais de 2000 a 2008
Fonte: GEP/MTSS, Acidentes de Trabalho

No entanto, apesar do número de acidentes mortais na construção ter vindo a decrescer, representam
ainda mais de um terço do total de acidentes mortais. A tabela seguinte demonstra ainda que é nas
pequenas e médias empresas que se constata um maior número de acidentes mortais.

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006


Total 368 365 357 312 306 300 253
1-9 pessoas 89 54 107 72 94 96 75
10-19 pessoas 41 26 51 50 38 43 47
20-49 pessoas 55 50 39 40 49 54 48
50-99 pessoas 23 24 27 29 31 30 19
100-249 pessoas 24 27 32 25 22 32 24
250-499 pessoas 15 18 18 9 13 20 18
500 e + pessoas 16 11 27 34 28 16 12
Ignorado 105 155 56 53 31 9 10
Acidentes de trabalho mortais por dimensão da empresa

Fonte: GEP/MTSS, Acidentes de Trabalho

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O quadro seguinte identifica as causas mais frequentes dos acidentes mortais ocorridos em 2009 no sector
da construção. O elevado risco de acidente de trabalho neste sector é uma realidade. Mas como lidam os
trabalhadores com esta situação? Segundo alguns estudos realizados parece existir um elevado grau de
conhecimento do risco de acidente de trabalho, pelo menos dos mais comuns e vulgarmente conhecidos
como as quedas em altura de pessoas e materiais, o transporte de materiais, a utilização de máquinas e
ferramentas, o manuseamento de produtos tóxicos e os soterramentos. Existe, de facto, uma
preocupação com a ocorrência de acidentes. Todavia, os trabalhadores acreditam ter capacidades para os
evitar, diminuir ou pelo menos controlar, não colocando frequentemente a hipótese de eles próprios virem
a ser vítimas. Para além de existir uma crença na controlabilidade do risco, uma vez que este passou a ser
conhecido, negligenciando-se o uso de protecção adequada (Equipamentos de Protecção Individual),
acredita-se também que os acidentes só acontecem aos outros.

Forma Nº de acidentes mortais


Esmagamento 3
Queda em altura 23
Choque objectos 10
Soterramento 3
Atropelamento 2
Electrocussão 6
Queda de nível 1
Queda de pessoas 2
Máquina 2
Por determinar 4
Causas dos acidentes mortais ocorridos em 2009 no sector da construção

Fonte: ACT, Relatório de Actividades, 2009

3. CAUSAS E FACTORES CAUSAIS DOS ACIDENTES

3.1. Introdução
O acidente de trabalho não é uma fatalidade, pois tem causas bem identificáveis e previsíveis. Não resulta
de uma causa, mas de um conjunto de factores que convergem para a sua ocorrência.

O processo laboral envolve um todo dinâmico de sistemas e subsistemas com funções interdependentes
(materiais, pessoais, técnicas e ambientais), que se desenvolve com um objectivo, desde uma situação
inicial a outra final. Este processo, previsto e controlado, sucede-se no tempo, através de diversas
situações normais e por múltiplas vias possíveis.

Num momento, um acontecimento não pretendido cria uma situação anómala que, constituindo um
estado inicial indesejado, se desenvolve por vias normais até determinar uma sequência ou um processo de
lesões conducentes ao estado final lesivo.

Tanto o estado inicial indesejado (o acidente) como o estado final lesivo explicam-se pela interacção de um
conjunto de factos causais, cada um deles considerado como efeito ou consequência de outros anteriores.

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3.2. Classificação dos factores causais


Os factores causais podem ser classificados em três grupos: humanos, materiais e fortuitos.

Os factores causais humanos são constituídos por aquelas acções ou omissões das pessoas que,
originando situações de risco, dão lugar à aparição de acidentes e respectivas consequências. Estes
factores, também conhecidos por “falhas humanas”, imputáveis ao(s) sinistrado(s) ou a terceiros, são
devidos a deficiências:

 Fisiológicas: fadiga, etc.;


 Psicológicas: imprudência, distracção, negligência, fadiga psicológica, etc.;
 Profissionais: ignorância, inaptidão, inexperiência, etc.;
 Outras: doenças, alcoolismo, droga, etc.

As condições materiais que originam, causam e explicam situações potenciais de risco e de perigo, de que
resultem acidentes e as respectivas consequências, constituem os factores causais materiais. Estes,
também conhecidos por “falhas técnicas”, são motivados por anomalias de:

 Máquinas ou ferramentas: inadequadas, não protegidas, defeituosas;


 Sinalização: inexistente ou desapropriada;
 Arrumação ou armazenagem: má arrumação do local de trabalho e/ou
 Acondicionamento defeituoso;
 Higiene e salubridade: arejamento insuficiente, má iluminação, ruído excessivo, temperatura,
humidade, sujidade, poeiras, etc.

Os factores fortuitos devem-se a situações imprevisíveis resultantes de:

 Acções adversas de fenómenos atmosféricos incontroláveis;


 Acções de animais, vegetais e minerais;
 Outras acções.

4. CONSEQUÊNCIAS DOS ACIDENTES DE TRABALHO


As consequências dos acidentes são as manifestações externas que permitem o seu reconhecimento. Se
não as houvesse, os acidentes passariam a maior parte das vezes despercebidos. Podem ser apreciadas no
plano material e humano:

No plano material, as consequências dos acidentes de trabalho são as mais diversas, estando directamente
ligadas a factores económicos, tais como: a perda de parte do vencimento pelo sinistrado; o eventual
decréscimo do rendimento aquando do seu retorno ao posto de trabalho; o valor do tempo perdido pelos
colegas para o socorrer; o menor rendimento do operário que o substitui; o valor dos danos causados nas
instalações, material de trabalho, equipamentos, ferramentas, produtos, etc..

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No plano humano, as consequências de um acidente podem ser muito nefastas. Para além dos sofrimentos
físico e moral sentidos pelo acidentado, surgem preocupações de vária índole, nomeadamente quanto aos
problemas de readaptação física e reabilitação profissional, indispensáveis à sua inserção numa nova
actividade que possa ser desempenhada com as faculdades não comprometidas no acidente.

Vejamos de uma forma sistematizada as consequências dos acidentes de trabalho:

POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS
VÍTIMAS
Plano Humano Plano Material
Sinistrado Sofrimento físico e moral. Diminuição do salário.
Diminuição do seu potencial Diminuição do potencial
humano. profissional.
Família Sofrimento moral. Dificuldades económicas.
Preocupações.
Colegas Mau ambiente de trabalho. Perdas de tempo.
Inquietação. Perdas de prémios de produção.
Medo colectivo. Baixa de produtividade.
Acumulação de tarefas.
Empresa Imagem afectada. Perdas de produção.
Consternação. Não cumprimento de prazos de
entrega.
Formação de substituto.
Aumento dos custos.
Aumento dos seguros.
País Baixa do potencial humano. Diminuição da produção.
Aumento dos encargos sociais.
Diminuição do poder de compra.
Consequências dos acidentes de trabalho

5. CUSTOS DOS ACIDENTES


Desde os estudos levados a cabo por H. W. Heinrich em 1931, passaram a classificar-se os custos dos
acidentes de trabalho em dois tipos:

Custos directos
Custos indirectos

Os custos directos como o nome indica, são aqueles que podem ser directamente imputados a dado
acidente e por norma podem ser quantificáveis com facilidade. Também se designam por custos
segurados.

São exemplos de custos directos:

 Salários;
 Indemnizações;
 Assistência médica e medicamentosa;
 Pagamento do prémio de seguro.

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Estes custos estão normalmente cobertos pelos seguros de trabalho, e são representados pelo respectivo
prémio.

Os custos indirectos, contrariamente aos anteriores, não são facilmente quantificáveis, nem normalmente
cobertos. O facto de não serem quantificáveis não significa que estes custos, embora mais subtis, não
sejam muito reais, e infelizmente muito superiores aos directos.

São exemplos de custos indirectos:

 Tempo perdido pelo acidentado e pelos outros trabalhadores;


 Tempo de investigação da(s) causa(s) do acidente;
 Tempo e gastos com o recrutamento, selecção e formação de um substituto quando necessário;
 Perdas de produção motivadas pela influência causada nos outros trabalhadores;
 Perdas por produtos defeituosos produzidos após o acidente;
 Perdas com o aumento dos desperdícios na produção após o acidente;
 Perdas da eficiência e da produtividade do acidentado após a recuperação;
 Perdas comerciais por não satisfação de prazos de entrega;
 Perdas resultantes da degradação do nome e da imagem da empresa no mercado.

H. Heinrich, após estudos realizados sobre muitos acidentes, estabeleceu a proporção média de 1:4 entre
os custos directos e os custos indirectos, na indústria americana do seu tempo.

Desta proporção retirou-se a analogia com um iceberg que se passou a utilizar; a parte visível de um
iceberg, 1/5 do seu volume, representa os custos directos dos acidentes; a parte submersa e invisível, 4/5 do
volume total, representa os custos indirectos.

Imagem do iceberg (proporção entre custos directos e indirectos dos acidentes)

Naturalmente que os custos totais dos acidentes são a soma dos custos directos com os custos indirectos.

Todos perdem com os acidentes de trabalho.

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Perde o trabalhador que vê diminuídas as suas potencialidades como pessoa e como profissional, perde
também a sua família, a seguradora que paga a indemnização mas não a totalidade dos prejuízos (os
custos indirectos), perde a empresa cuja competitividade diminui, perde a sociedade em geral, que tem
que cobrar mais impostos para compensar os prejuízos resultantes da diminuição da qualificação da mão-
de-obra e da diminuição da riqueza criada, etc.

6. NOÇÃO DE ACIDENTE DE TRABALHO

6.1. Regime de reparação


A saúde, como direito universal e dever do Estado, é uma conquista dos trabalhadores e está consagrada
na Constituição da República Portuguesa, no seu artigo 64º.

A Lei nº 98/2009, de 4 de Setembro, nos termos do artigo 284º do Código do Trabalho, aprovado pela Lei nº
7/2009, de 12 de Fevereiro, vem regulamentar o regime de reparação dos acidentes de trabalho e das
doenças profissionais, incluindo a reabilitação e reintegração profissionais.

6.2. O conceito de acidente de trabalho


O conceito de acidente de trabalho encontra-se definido na Lei nº 98/2009, de 4 de Setembro, que
regulamenta o regime de reparação dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais, da seguinte
forma:

“É acidente de trabalho aquele que se verifique no local e no tempo de trabalho e produza directa ou
indirectamente lesão corporal, perturbação funcional ou doença de que resulte redução na capacidade de
trabalho ou de ganho ou a morte.”

Entende-se por local de trabalho todo o lugar em que o trabalhador se encontra ou deva dirigir-se em
virtude do seu trabalho e em que esteja, directa ou indirectamente, sujeito ao controlo do empregador.

Entende-se por tempo de trabalho além do período normal de trabalho, o que precede o seu início, em
actos de preparação ou com ele relacionados, e o que se lhe segue, em actos também com ele
relacionados, e ainda as interrupções normais ou forçosas de trabalho.

Consideram-se também acidentes de trabalho, quando ocorram:

a | No trajecto de ida para o local de trabalho ou de regresso deste;


b | Na execução de serviços espontaneamente prestados e de que possa resultar proveito económico
para o empregador;
c | No local de trabalho e fora deste, quando no exercício do direito de reunião ou de actividade de
representante dos trabalhadores, nos termos previstos no Código do Trabalho;
d | No local de trabalho, quando em frequência de curso de formação profissional ou, fora do local de
trabalho, quando exista autorização expressa do empregador para tal frequência;
e | No local de pagamento da retribuição, enquanto o trabalhador aí permanecer para tal efeito;
f | No local onde o trabalhador deva receber qualquer forma de assistência ou tratamento em virtude
de anterior acidente e enquanto aí permanecer para esse efeito;

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g | Em actividade de procura de emprego durante o crédito de horas para tal concedido por lei aos
trabalhadores com processo de cessação do contrato de trabalho em curso;
h | Fora do local ou tempo de trabalho, quando verificado na execução de serviços determinados pelo
empregador ou por ele consentidos.

Como trajecto de ida e volta para o local de trabalho, compreende também o acidente de trabalho que se
verifique nos trajectos normalmente utilizados e durante o período de tempo habitualmente gasto pelo
trabalhador:

a | Entre qualquer dos seus locais de trabalho, no caso de ter mais de um emprego;
b | Entre a sua residência habitual ou ocasional e as instalações que constituem o seu local de trabalho;
c | Entre qualquer dos locais referidos na alínea precedente e o local do pagamento da retribuição;
d | Entre qualquer dos locais referidos na alínea b) e o local onde ao trabalhador deva ser prestada
qualquer forma de assistência ou tratamento por virtude de anterior acidente;
e | Entre o local de trabalho e o local da refeição;
f | Entre o local onde por determinação do empregador presta qualquer serviço relacionado com o
seu trabalho e as instalações que constituem o seu local de trabalho habitual ou a sua residência
habitual ou ocasional.

Não deixa de se considerar acidente de trabalho o que ocorrer quando o trajecto normal tenha sofrido
interrupções ou desvios determinados pela satisfação de necessidades atendíveis do trabalhador, bem
como por motivo de força maior ou por caso fortuito.

6.3. Descaracterização do acidente


Existem casos em que o acidente pode aparecer formalmente como de trabalho, mas em que a lei o
descaracteriza como tal. Há uma causa inerente ao trabalho, mas há, também, uma causa estranha que
com ela se combina e, dada a sua importância, a lei retira à primeira a sua protecção.

O artigo 14º da Lei nº 98/2009 indica-nos os casos em que o acidente deixa de se considerar de trabalho,
não dando, em consequência, lugar a reparação:

 O que for dolosamente provocado pelo sinistrado ou provier de um seu acto ou omissão, que
importe violação, sem causa justificativa, das condições de segurança estabelecidas pela entidade
empregadora ou previstas na lei;
 O que provier exclusivamente de negligência grosseira do sinistrado;
 O que resultar de privação permanente ou acidental do uso da razão do sinistrado, nos termos da
lei civil, salvo se tal privação derivar da própria prestação do trabalho, ou se a entidade
empregadora ou o seu representante, conhecendo o estado do sinistrado, consentir na prestação.

De acordo com o artigo 15º da Lei nº 98/2009, o empregador não tem que reparar o acidente que provier de
motivo de força maior. Considera-se de força maior o que, sendo devido a forças inevitáveis da natureza,
independentes de intervenção humana, não constitua risco criado pelas condições de trabalho, nem se
produza ao executar serviço expressamente ordenado pela entidade empregadora em condições de
perigo evidente.

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6.4. Reparação do acidente de trabalho


A reparação dos acidentes de trabalho é da responsabilidade do empregador, que a transfere
obrigatoriamente para uma companhia de seguros, através do seguro de acidentes de trabalho. De notar,
que o empregador transfere o risco monetário do acidente de trabalho (reparação), mas a
responsabilidade criminal não é transferível.

As apólices de acidentes de trabalho asseguram:

 Prestações de natureza médica, farmacêutica e hospitalar;


 Despesas associadas à prestação dos cuidados de saúde (ambulâncias, estadias, deslocações por
meios próprios);
 Comparticipação na reposição de salários perdidos, indemnizações por perda parcial ou total da
capacidade de ganho;
 Pensões por morte.

O seguro de acidentes de trabalho é obrigatório e deve cobrir todos os trabalhadores.

REGULAMENTAÇÃO APLICÁVEL
 Lei nº 98/2009, de 4 de Setembro - Regulamenta o regime de reparação de
acidentes de trabalho e de doenças profissionais, incluindo a reabilitação e
reintegração profissionais.

BIBLIOGRAFIA
 Gabinete de Estratégia e Planeamento, Ministério do Trabalho e da Solidariedade
Social, Acidentes de Trabalho – 2008. Lisboa – Outubro de 2010;
 Gabinete de Estratégia e Planeamento, Ministério do Trabalho e da Solidariedade
Social, Acidentes de Trabalho – 2007. Lisboa – Março de 2010;
 Gabinete de Estratégia e Planeamento, Ministério do Trabalho e da Solidariedade
Social, Séries Cronológicas Acidentes de Trabalho 2000-2006. Lisboa – Março de
2010;
 Autoridade para as Condições do Trabalho, Relatório Anual de Actividades 2009
(Área inspectiva);
 Lima, Teresa Maneca (2004), “Trabalho e Risco no Sector da Construção Civil em
Portugal: Desafios a uma cultura de prevenção”, Oficina do CES, 211. Coimbra:
Centro de Estudos Sociais;
 Centro de Formação Profissional da Indústria da Construção Civil e Obras Públicas
do Norte, Manual do Formando – Segurança, Higiene e Segurança do Trabalho da
Construção Civil. 2005.

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