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ULISSES COLONHEZE

ENSAIO

A DIACONIA COMO BRAÇO DA MISSÃO DA IGREJA E SUA


APLICAÇÃO NA IPIB-CPCB

SÃO PAULO
2021
ULISSES COLONHEZE

ENSAIO

A DIACONIA COMO BRAÇO DA MISSÃO DA IGREJA E SUA


APLICAÇÃO NA IPIB-CPCB

Trabalho apresentado em cumprimento às


exigências da disciplina Diaconia do
Curso Livre de Teologia EAD-FECP,
ministrada pelo professor Marcos Nunes
da Silva

SÃO PAULO
2021
INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo dialogar com o tema diaconia e a suas
dimensões e como está sendo vista na Congregação Presbiterial Castelo
Branco buscando trazer algumas propostas para o desenvolvimento mais
efetivo sobre este assunto. Assim, tem-se o desafio de levar a igreja local a ser
mais atuante na comunidade e bairro que está inserida. Este dialogo terá
como base artigos, livros de escritores brasileiros sobre o tema de diaconia.
A igreja local denominada IPIB- Congregação Presbierial Castelo Branco
é um braço da igreja reformada de Cristo na cidade de Cambé no estado do
Paraná, e sobre esta igreja, serão abordados alguns aspectos do assunto
“diaconia” trazendo as bases da diaconia e quais são suas possíveis
aplicações na comunidade que está inserida e como este assunto se relaciona
com uma base literária dos aspectos apresentados na disciplina “Diaconia” do
curso livre de teologia da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.

1 – NOTAS PRELIMINARES DA CONGREGAÇÃO PRESBITERIAL CASTELO


BRANCO (IPIB-CPCB) QUANTO A DIACONIA.

A igreja que congrego, IPIB-CPCB tem uma estrutura pequena, não somos
mais que 50 membros. Ela está sediada em uma área residencial que se
enquadra na classe “C”. Temos uma junta diaconal formada por sete membros.

Quando olhamos para as práticas diaconais dessa igreja entendo que


temos que buscar um incremento nas ações e práticas diaconais e espirituais,
buscado atender os ensinamentos de Cristo, não só focando no serviço do
templo, mas buscado fazer a diferença na comunidade e no bairro onde
estamos inseridos e levar a igreja a um nível de entendimento sobre a diaconia
como braço da missão da igreja.

Como minha prática diaconal cristã, eu também me enquadro na mesma


condição de toda mebresia da igreja, ainda falta despertar, a começar em min,
e na igreja essas ações que levam a uma reflexão dos ensinamentos de Cristo
com sua forma de agir em amor sendo Ele o padrão de diácono para junto da
comunidade.

Entendo que a missão da igreja traz a diaconia em seu DNA, e a


diaconia se revela em dimensões praticas, proféticas e comunitária.
Nossa igreja ainda precisa caminhar na direção dessas dimensões, não
há o envolvimento pratico com a comunidade, proclamamos a palavra de Deus
mas não temos a pratica quando olhamos para o ser humano como um todo,
corpo, alma e espírito, e deixamos de nos envolver de forma pratica as
necessidades da população carcerária, do doente, do faminto (em parte), do
carente de conhecimento etc.

Na dimensão profética entendo também que não temos denunciado as


injustiças, pois não conhecemos profundamente as necessidades do bairro,
sejam elas ligadas a criança, jovens, adultos, idosos, independente de gêneros,
também nas questões de meio ambiente.
E na dimensão comunitária, especialmente onde a igreja se localiza, a
própria membresia ainda não despertou para este ser uma igreja diaconal e
servir a própria comunidade. Não conhecemos a fundo a necessidade de nosso
bairro e as veze nem mesmo a necessidade de nossos membros.

2 – UM BREVE DIALOGO SOBRE CONCEITOS DO TEMA DE DIACONIA

Em primeiro lugar como igreja, precisamos despertar através dos ensinos


de Jesus o que é ser uma igreja diaconal trazendo a percepção da importância
da diaconia na vida da igreja.

Tem-se no termo grego “diaconia” uma relação com servir, seja a mesa,
seja o vinho, ou cuidar da substância, ou preparar um banquete, sendo assim
entendemos que é algo que está relacionado ao servir.

Em Jesus vemos a dimensão da diaconia quanto ao servir como


exemplo de quem lidera uma comunidade. Jesus veio inaugurar o seu reino
(Lc.4:18-19) e demonstrou através do servir o modelo a ser seguido.

O servir de Jesus passa primeiro pelo aspecto de servir a todos, quando


entendemos que Jesus deu a sua vida por todos, nós identificamos que o
modelo diaconal não deve ser restrito a um grupo de pessoas, mas pelo amor
devemos abranger, através do servir, a todos. Neste sentido a busca pelo
servir deve ser estendido a viúva, ao pobre, ao rico, a criação, ao jovem ao
adolescente ao homem a mulher, a idoso, ao injustiçado, à classe política, a
classe cidadã, a classe trabalhadora etc.

Este ato de servir de Jesus como líder, como o Deus encarnado vai
contra o entendimento de muitos que estão à frente de ministérios na igreja, o
fato de ser líder de algo traz as vezes de modo intrínseco o poder, e com o
poder a necessidade de ser servido ao invés de servir.

Mas Jesus não só teve o discurso diaconal, ele levou a pratica,


buscando transformar a sociedade e o ser humano através de uma práxis
libertadora, buscava restaurar a dignidade do ser humano.

Segundo Gaed (20011)1 a práxis de Jesus é abordada pelos temas de


“A comensalidade de Jesus, Jesus e as crianças, Jesus e os enfermos e Jesus
e as mulheres”.

Para Moltmann (1978 ,apud SILVA 2016 p. 15) a comensalidade de


Jesus está relacionado ao servir a mesa, trazendo-a de forma proclamadora,
ensinado e curando e tendo a comunhão no partilhar dos alimentos.

A missão não é apenas proclamação, ensino e cura,


mas também comida e bebida [...]. Esperança é comida e
bebida. Comer e beber faz parte da missão do reino.

Jesus através de sua comensalidade ele denuncia uma sociedade que


exclui e marginaliza e traz que o Reino de Deus tem como pratica a inclusão e
a justiça. Ele sentou à mesa com publicanos (Lc 5:27-29), com fariseus (Lc
11:37).

Outras práticas de Jesus, que devem ser a práxis da igreja as quais


devem estar relacionados a criança, ao enfermo e a mulher, e a inclusão
destes deve ser observada na pratica diaconal da igreja.

1
Gaed Neto (2001) apud SILVA, 2016. p. 13-14
Se em Jesus temos o modelo de servir ideal, no antigo testamento
vemos através de um Deus justo que exige do seu povo as práticas de justiça e
a de misericórdia a qual é negligenciada frente ao não atender a vontade de
Deus. Os profetas buscavam chamar o povo para o compromisso com a
justiça, a fraternidade, solidariedade e ao arrependimento. (Is 61:1-4, Ez 16:44-
45) buscando assim uma pratica diaconal para o seu povo. Já no novo
testamento a consolação, a compaixão e a solidariedade são as ênfases
observadas. O consolo é observado na atitude de Barnabé que vende sua
propriedade para dar suporte ao necessitado (At4:37), foi solidário e ao mesmo
tempo tinha compaixão para com os necessitados da comunidade.

Então logo após a morte e ressureição de Cristo, os primeiros cristãos


junto aos apóstolos passam a exercer a diaconia em meio a comunidade que
atuavam. Também passamos a ver a inclusão das mulheres no serviço (At
16:12-16).

Após o período inicial da igreja o apostólico, tivemos um segundo


período onde a igreja continuava com o entendimento diaconal fortalecendo-se
e crescendo buscando servir os necessitados desmontando assim que as boas
obras eram a marca diaconal da igreja que mostrava através das ações
concretas do amor de Cristo que levava em sua práxis.

Nos séculos seguintes a igreja muda seu perfil servido, as ações


continuam porem as obras são meritórias, nas palavras de Eusébio de Cesárea
que trás a recompensa vinda do Senhor como algo a ser justificado pelas boas
obras e não como o servir em amor como Jesus ensinou através de sua práxis.

Embora a igreja tenha se tornado poderosa e esteve a frente de


questões políticas e envolveu-se com as regalias que o dinheiro e poder
ofereceram, muitos mantiveram viva as práticas diaconais deixadas por Jesus,
hospitais, mosteiros forma criados e a cuidado ou o servir os pobres e doentes
tinham a assistência. Neste período homens venderam suas propriedades e
fizeram votos de pobreza e buscaram servir ao próximo como forma de
resposta ao amor ao próximo que havia esfriado em detrimento ao poder do
clero.
Já na reforma protestante, Lutero via nas obras uma consequência da
salvação, então política, igreja e economia são estados concedidos por Deus
para que o homem possa exercer e testemunhar do amor e senhorio de Cristo
no tocante a sua justiça, sua paz e sua vida eterna, e pela função política a
autoridade secular deve assegurar a paz a justiça e a vida secular e pelo lado
econômico os recursos devem preservar e promover a vida. Para Calvino a
vida santa se manifesta através das boas obras também. A desigualdade social
era entendida por Calvino como pecado e contrário a lei de Deus e o acumulo
de riquezas. A igreja proposta por Calvino em Genebra não só ficava no
assistencialismo, mas buscava ações libertadoras para que pessoas não
necessitassem mendigar.

E hoje, deve-se ver a diaconia como braço da missão da igreja, que é


chamada para ser serva, e deve ser pratica estar em ação, ao mesmo tempo
que se relaciona a fé cristã no chamado a obediência de Deus. A igreja deve
ser levada conscientemente a um servir, levando a transformação de situações
de sofrimento e injustiça.

O que tradicionalmente se entendia como diaconia é, para a teologia da libertação, a


prática da fé comprometida. Afirma Gustavo Gutiérrez: (...) a comunhão com o Senhor
significa, inelutavelmente, uma vida cristã centrada no compromisso, concreto e criador, de
serviço aos demais (...) A comunidade cristã professa uma fé que opera pela caridade.2

Tradicionalmente a diaconia era entendia como diaconia, ao ponto de vista da teologia


da libertação ela se traduz em uma prática da fé comprometida. Sobre este assunto, Gustavo
Gutiérrez comenta que2:

(...) a comunhão com o Senhor significa, inelutavelmente, uma vida


cristã centrada no compromisso, concreto e criador, de serviço aos demais (...)
A comunidade cristã professa uma fé que opera pela caridade. (HEISE, 1999)

Se vinculamos a fé a espiritualidade e a diaconia a ação, então fé e


diaconia devem andar em simetria levando a espiritualidade e a ação em
conjunto, buscando amar a Deus sobre todo as coisas e ao próximo como a ti

2
Heise p. 234
mesmo. Numa reflexão do Reverendo Calos Queiroz ele traz para a reflexão o
seguinte:

A falta de pão na mesa do pobre pode ser a denúncia


da falta de espiritualidade no altar dos cristãos (Apud SILVA
2016).

Hoje vemos nas igrejas evangélicas e na própria igreja católica


apostólica romana muitos movimentos espirituais, o falar em línguas, o ter
revelações, os momentos de êxtase, porém não vemos o lado que deveria
caminhar junto a espiritualidade que é o da ação e assim a reflexão do
Reverendo Queiroz faz todo sentido, não temos levado o amor a próximo
promovendo a vida e deixamos de fazer a missão da igreja neste sentido.

Para Heinz (2003, apud SILVA 2016) a diaconia como missão deve ser
uma ação movida pelo amor cristão de todos, ser uma ação pensada, refletida
e praticada por toda a comunidade. A diaconia é vista na igreja e através dela
como reposta ao chamado a obediência a Jesus e a suas práticas que
manifestaram o amor a solidariedade para com todos que sofrem.

Diaconia pratica, profética e comunitária levam as dimensões que como


igreja devemos participar das necessidades da comunidade, há cárceres, leitos
de hospitais, alunos fora de escolas, crianças em lares, asilo de idosos, que
necessitam de consolo e assistência de modo práticos, segundo Bonhoefer
(apud SILVA 2016) “A igreja só é igreja se ela existir para os outros”.

A sociedade carece de vozes proféticas no sentido de denunciar as


políticas antissociais que são corruptas e exploram e matam as pessoas. O
descuido para com a criação de Deus que é o meio ambiente, e a própria
religião que hora se deixa levar pelo poder e fama e pela ganancia ao dinheiro
deixando de focar na espiritualidade e na ação.

Ser igreja sem exercer a diaconia em meio a comunidade não há


relevância no ser. Todos os dons espirituais são distribuídos aos cristãos para
a edificação do corpo de Cristo, mas o dom mais sublime que é o amor deve se
transformar em ações em meio a toda a comunidade e fazer dele o combustível
para a ação diaconal da igreja em meio a comunidade buscando servir a
exemplo de Jesus.

3 – AÇÕES E SUGESTÕES PRATICAS PARA DESPERTAR A DIACONIA


NO VIVER DA IPIB – CPCB.

O despertar para a diaconia em toda a membresia da igreja deve vir


através do servir da própria liderança, com ações práticas envolvendo a
proclamação do evangelho no que diz respeito a justiça e o amor de Deus para
com toda criatura, levando assim o fortalecimento do lado espiritual nos
conceitos e atitudes apresentadas por jesus para combater a injustiça e
exclusão social e a fome.

Por se tratar de uma igreja pequena, com poucos recursos financeiros e


humanos, as ações que envolvem tais recursos devem ser planejados,
voltando para toda a membresia a se comprometer com algum tipo de ação.

Hoje são distribuídas duas sestas básicas por mês, mas não há um
comprometimento de amor nessa atitude, quem leva a cestas são os diáconos,
porém o sentimento que vejo ao levar uma alimento para compor a cesta
básica encerra neste ato de dar o alimento finalizando ali a obrigação, sem
trazer algo mais forte a necessidade do outro.

A exemplo de outras necessidades de quem recebe o alimento, algumas


perguntas podem ser feitas a esta família que recebe a cesta básica:

- tem filhos na escola e fora da escola?

- tem alguém doente ou algum idosos que necessita de cuidados mais


específicos?

- alguém está desempregado ou precisando de trabalho?

- Algum jovem envolvido em prostituição ou com drogas?


Ai ao olhar para estas perguntas vejo que a igreja pode contribuir mais
através do capital humano que tem, temos professores que podem dar auxílio
ao estudo com reforço escolar, temos poucos empresarias que poderiam
indicar ou abrir portas de emprego para um desempregado, temos acesso fácil
aos políticos que podem auxiliar na inclusão social através de uma abertura de
vaga em uma creche para uma criança, ou vaga em um asilo para um idoso.
Há poucos jovens, mas estes podem entender que são parte da igreja e da
diaconia da igreja como um todo e assim promoverem ações com teatro,
música ou outra forma para incluírem os jovens do bairro que estão envolvidos
com drogas e ou prostituição.

CONCLUSÃO:

A diaconia como braço da missão da igreja deve ser uma forma da igreja
se mostra atuante na comunidade que está inserida, assim a congregação
Presbiterial Castelo Branco deve buscar o entendimento que a diaconia não é
apenas um departamento da igreja que algumas pessoas são responsáveis
pelo cuidado do templo, mas um jeito que toda a igreja cristã deve demonstrar
com as ações no assistencialismo, na inclusão, na misericórdia , na fé como
ato de espiritualidade servindo e não querendo ser servindo, trazendo e
aplicando os exemplos deixados pelo diácono referência que foi Cristo Jesus.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:

HEISE, Ekkehard. Diaconia e espiritualidade. Revista Estudos Teológicos, v. 39, n.


3, p. 231-249, 1999.

SOUZA, Marcos Nunes. DIACONIA - Guia de Estudos. 1ª Ed. Editora Potyguara


– São Paulo – 2016.

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