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RECURSOS

ESTÉTICOS E
COSMÉTICOS
CAPILARES

Mônica Magdalena
Descalzo Kuplich
Classificação dos
tipos de cabelos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Listar as nuances étnicas dos cabelos.


„„ Descrever o processo de envelhecimento capilar.
„„ Classificar os tipos de cabelos.

Introdução
Nenhum cabelo é igual — embora possamos até encontrar cabelos
muito parecidos quanto à cor, curvatura e textura. Existem três variações
básicas de curvatura da haste, que são: lisa, ondulada e crespa. Dentro
dessas três categorias, formam-se inúmeras variações: lisos com ou sem
volume, levemente ou muito ondulado, cabelos com cachos abertos ou
miúdos, crespos, volumosos ou não. Os cabelos também se diferenciam
pela produção sebácea, podendo ser normais, oleosos, mistos ou secos.
Os normais recebem a quantidade adequada de oleosidade, enquanto
os oleosos têm a produção de sebo aumentada; os secos, diminuída; e
os mistos são os cabelos que têm a porção proximal dos cabelos oleosa
e a porção distal ressecada. E como se já não fossem variáveis suficientes,
ainda temos o processo de envelhecimento capilar, que varia de pessoa
para pessoa.
Neste capítulo, veremos as nuances étnicas dos cabelos, o processo
de envelhecimento capilar e as diferentes classificações do cabelo.
2 Classificação dos tipos de cabelos

Nuances étnicas dos cabelos


Os cabelos são uma das características mais marcantes da pessoa e variam de
indivíduo para indivíduo. Seu formato pode variar do muito liso e sem volume
ao muito crespo e volumoso. Embora tenhamos inúmeros formatos diferentes,
todos os cabelos apresentam a mesma composição química, variando apenas
em quantidade e disposição de elementos (Figura 1).

Figura 1. Diferentes tipos de cabelo.


Fonte: Adaptada de Designua/Shutterstock.com.

A queratina é o principal componente do cabelo. É uma proteína formada


por cerca de 20 aminoácidos diferentes, dentre os quais a cisteína é o mais
abundante. A queratina se distribui ao longo da haste e é mantida por ligações
químicas, que auxiliam na manutenção da textura e da forma capilar.
Os cabelos lisos, também chamados de mongoloides, são típicos de etnia
mongol, índios e orientais. A queratina presente neste formato de cabelo é
uniforme e distribuída ao longo da haste capilar. Seu formato é cilíndrico, sem
variação de espessura ao longo do fio e com um córtex mais avantajado em
relação à cutícula. Por ter um córtex mais espesso e não apresentar variação de
espessura, o cabelo liso é bastante resistente a ações mecânicas, não rompendo
com facilidade. O formato de sua haste é arredondado.
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Os cabelos caucasoides são típicos das pessoas de pele branca e têm sua
curvatura ondulada, podendo variar até o cacheado. Sua queratina é distri-
buída de forma desigual e tem formato achatado, elíptico. Pode apresentar
variação de espessura ao longo do fio, o que lhe confere menor resistência
à quebra por ação mecânica, pois seu córtex não é uniforme. Seu formato é
ovalado, e é o tipo de cabelo que mais apresenta variações.
Os cabelos crespos, também conhecidos como afro ou negroides, são os
mais frágeis à ação mecânica, e se quebram com muita facilidade. A queratina
presente no fio de cabelo crespo também se apresenta de forma desigual, e seu
córtex é muito menor em relação à cutícula, o que lhe confere pouca massa —
por isso, é tão sensível. Tem formato achatado e muita variação de espessura
ao longo do comprimento do fio. É mais seco, com pouca lubrificação (KEDE,
SABATOVICH, 2015; HALAL, 2016).

Você já ouviu falar que o cabelo enrolado demora mais para crescer? Isso é um mito. O
fio de cabelo cresce aproximadamente 1 cm ao mês, independentemente da curvatura.
O que acontece é que os fios crespos crescem enrolados no próprio eixo, como
molas, dando a impressão de que demoram muito mais para crescer e alcançar o
comprimento dos cabelos lisos. Para avaliar o quanto um cabelo enrolado cresceu,
devemos esticá-lo por completo antes de medi-lo.

Em 2014, Nissimov e Chaudhuri publicaram um estudo na revista Biologycal Reviews,


propondo uma relação complementar à ideia já posta sobre a curvatura dos cabelos
e o formato da haste capilar. O que os autores observaram em sua pesquisa foi que
os diferentes formatos do cabelo são resultantes de vias genéticas que conduzem
a modos básicos de curvatura, propondo o que chamaram de “múltiplos centros
papilares” (MCP) (Figura 2), como explicação para a diferenciação da deposição de
queratina ao redor do córtex da haste, o que explicaria as diferenças entre os formatos
dos fios e as curvaturas.
Um folículo com MCPs teria mais de uma papila, que podem apresentar-se parcial-
mente ou completamente separadas umas das outras. A presença de MCPs teria a
capacidade de interferir na disposição da queratina ao redor da haste capilar, o que a
tornaria elíptica, achatada e com distribuição desigual no córtex.
4 Classificação dos tipos de cabelos

Figura 2. Folículo piloso com múltiplos centros papilares.


Fonte: Adaptada de Nissimov, Chaudhuri (2014).

Estima-se que um couro cabeludo normal apresente cerca de 100 mil folículos pilosos
em toda sua extensão. Entretanto, esse número pode variar conforme a etnia.
Cabelos mongoloides e negroides apresentam um número ligeiramente menor de
folículos: 90 mil. Cabelos caucasianos com pigmentação ruiva também têm em torno
de 90 mil folículos no couro cabeludo. Já os cabelos caucasianos de pigmentação
escura têm em torno de 110 mil folículos, enquanto os cabelos com pigmentação clara
apresentam maior quantidade: aproximadamente 130 mil folículos.
Como a curvatura dos cabelos e a quantidade de folículos são determinadas gene-
ticamente, a mistura entre etnias produz características únicas. Assim, podemos ter
indivíduos que fogem a essa estatística.

Envelhecimento dos cabelos


Canície é o nome dado ao surgimento dos cabelos brancos. Geralmente é um
dos primeiros sinais do envelhecimento, e os primeiros fios aparecem por
volta dos 30 anos em pessoas caucasianas e 40 anos em afrodescendentes,
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entretanto, a predisposição hereditária pode tanto adiantar o surgimento dos


cabelos brancos quanto atrasar.
Os cabelos embranquecem porque os melanócitos, células responsáveis por
produzir a pigmentação dos cabelos, cessam sua produção. Assim, as células
geradas no bulge não recebem pigmento e formam uma haste capilar sem cor.
Os radicais livres parecem ter um papel importante no desenvolvimento da
canície, uma vez que têm capacidade de interagir com a tirosinase, a enzima
precursora da produção de pigmento, ou seja, quanto mais radicais livres você
produz, mais rapidamente seus cabelos embranquecem. Outros fatores, como
doenças autoimunes, anemias e nutrição não adequada, podem acelerar seu
surgimento.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, os cabelos brancos não são
diferentes dos cabelos pigmentados. Há quem diga que são mais rebeldes e
difíceis de manejar, entretanto essa percepção se dá por conta da sua coloração.
Como são mais claros que os demais, ficam mais aparentes e, se estão fora
do lugar, chamam mais atenção. Outro mito sem fundamentação que gira em
torno dos cabelos grisalhos é sobre o ato de arrancá-los. Não há indícios de
que arrancar cabelos brancos cause o surgimento dobrado dos mesmos. O que
acontece é que, com o passar do tempo, os cabelos vizinhos ao fio que foi
arrancado tendem a embranquecer também. Isso pode causar a percepção de
que arrancar os cabelos brancos causa o nascimento de novos fios, entretanto,
arrancando ou não, os fios brancos continuarão surgindo.
Outro sinal de que os cabelos estão envelhecendo é sua rarefação. É normal
que, com o avanço da idade, a duração da fase anágena diminua, e os fios de
cabelos se tornem mais finos e de crescimento mais lento. Pode-se perceber
a diminuição da densidade dos cabelos nas regiões bitemporais (conhecidas
como entradas), tanto em homens quanto em mulheres com mais de 50 anos,
sendo que, nas mulheres, também há diminuição na densidade na região
parietal e, nos homens no vértice (coroa) (HALAL, 2016).
Assim como a pele, o couro cabeludo também está sujeito ao envelheci-
mento (Figura 3), tanto intrínseco (predisposição ao surgimento precoce de
canície, calvície, etc.), quanto extrínseco (produção de radicais livres, poluição,
estresse, etc.). No caso da diminuição da quantidade de cabelos, devemos ter
especial atenção à radiação UV: como os cabelos são os responsáveis pela
proteção do couro cabeludo e, se estão em menor quantidade ou ausentes, o
escalpo fica desprotegido.
6 Classificação dos tipos de cabelos

Figura 3. Envelhecimento da pele e dos cabelos.


Fonte: Adaptada de Designua/Shutterstock.com.

Em 2016, Adhikari et al. publicaram um estudo na Revista Nature Communications sobre


o gene responsável pela pigmentação dos cabelos, da pele e cor dos olhos: o IRF4. Ao
que tudo indica, este gene interage com o MITF (regulador de enzimas pigmentares)
para ativar a enzima responsável por limitar a síntese de melanina. Há indícios de que o
mecanismo de embranquecimento dos cabelos está ligado à manutenção incompleta
de células tronco melanocíticas no folículo.
O MITF afeta a longevidade dos melanócitos, regulando-os por meio da pro-
teína Bc12, cuja função é proteção contra apoptose, um fator-chave na proteção
contra o estresse oxidativo. Atualmente, existe um grande interesse em explorar
a possibilidade de a cor e a forma dos cabelos ser alterada desde o crescimento,
e elucidar precisamente como o IRF4 atua no envelhecimento dos cabelos é uma
peça importante para esse propósito.
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Um segundo estudo realizado por Liao et al. foi publicado em 2017 na revista Genes
& Development — desta vez, com camundongos. Stem cell factor, ou simplesmente
SCF, é um fator de crescimento que regula vários eventos fisiológicos homeostáticos
e, entre outras coisas, a manutenção dos melanócitos. O que os cientistas descobriram
foi que, quando a atividade do SCF era diminuída, os camundongos ficavam com
pelos brancos e que, quando a atividade do SFC cessava, seus pelos paravam de
crescer. Dessa forma, observa-se que o SFC parece ser importante no processo de
envelhecimento capilar.
É importante lembrar que esse estudo foi realizado em camundongos, portanto
mais pesquisas devem ser feitas para entender precisamente como esse mecanismo
funciona nos seres humanos. Espécies à parte, a ideia dos pesquisadores é retardar
ou, até mesmo, bloquear o envelhecimento dos cabelos.

Tipos de cabelos
Além das características étnicas, os cabelos também podem ser classificados
pelo teor lipídico que apresentam. Eles são popularmente classificados como
normais, oleosos, secos ou mistos, conforme o Quadro 1, entretanto é a pro-
dução da glândula sebácea que define o teor lipídico, e não o cabelo em si.
A glândula sebácea (Figura 4) é a responsável pela produção da oleosidade
da pele e do couro cabeludo. Sua função é secretar o sebo, uma substância
de aspecto gorduroso, que tem por função recobrir a superfície da pele e dos
pelos e cabelos, formando uma camada protetora. Acredita-se que o sebo seja
o responsável por manter a textura e a flexibilidade adequadas da pele. Ele
é constituído por lipídios que contêm ácidos graxos, colesterol e ésteres de
colesterol. Como a glândula sebácea faz parte da unidade pilossebácea, ela
está atrelada ao folículo piloso, e sua porção secretora (ducto) é localizada na
porção superior do folículo. Por isso, quando o sebo é liberado, espalha-se
pela superfície da pele e pelo comprimento do pelo.
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Quadro 1. Os diferentes teores de oleosidade do couro cabeludo e dos cabelos

Normal Oleoso Seco Misto

A produção O couro O couro Os cabelos


de oleosidade cabeludo é cabeludo mistos são
é considerada considerado ressecado tem aqueles que têm
normal. Tanto o oleoso quando a produção de couro cabeludo
couro cabeludo a produção sebo diminuída. oleoso e haste
quanto a haste de sebo é Nem o couro ressecada.
na porção aumentada cabeludo e A periodicidade
proximal e recobre a nem a haste da higienização
recebem o sebo haste em sua capilar recebem deve ser a
na medida certa, parte proximal, a quantidade mesma do couro
o que os auxilia deixando-a com ideal de sebo, o cabeludo oleoso,
na manutenção aspecto pesado que pode causar mas se deve dar
da hidratação e brilhoso em coceira no couro atenção especial
e flexibilidade, menos de 24h cabeludo e às pontas,
todavia sem após a última ressecamento à utilizando
deixar a haste higienização. haste. Também produtos
com aspecto O excesso de pode ocorrer específicos
pesado e sujo. oleosidade descamação. para cabelos
A higienização pode causar A higienização ressecados.
do couro caspa, dermatite dos cabelos
cabeludo normal seborreica, secos deve
pode ser feita prurido e, às ser feita de
a cada dois vezes, mau 3 a 4 vezes
dias, pois não cheiro. por semana,
há necessidade A higienização por mais que
de lavá-lo dos cabelos aparentemente
diariamente. oleosos deve não haja
Caso contrário, ser feita sempre necessidade. Os
a remoção do que necessária, produtos para
sebo pode ou seja, quando couro cabeludo
causar efeito os cabelos seco contêm
compensatório, estiverem matérias-primas
aumentando pesados. mais suaves que
a produção os produtos para
sebácea, ou o outros tipos de
couro cabeludo cabelo, o que
poderá não prejudica o
apresentar-se couro cabeludo.
ressecado.
Classificação dos tipos de cabelos 9

Figura 4. Glândula sebácea.


Fonte: Adaptada de Timonina/Shutterstock.com.

As regiões com maior concentração dessa glândula são a face, o couro


cabeludo e as regiões interescapular e do tórax. O número de glândulas se-
báceas permanece aproximadamente o mesmo ao longo da vida. A ativação
das glândulas é andrógeno-dependente, ou seja, a produção do sebo depende
da interação hormonal — ela geralmente aumenta durante a adolescência e
decai com o passar dos anos.
Como as glândulas sebáceas desembocam nos folículos pilosos, e o couro
cabeludo é uma das regiões com grande número dos mesmos, os cabelos, além
de serem classificados pelos aspectos étnicos, também podem ser classificados
quanto à produção da glândula sebácea.
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Apesar de estar atrelada ao folículo piloso, o funcionamento da glândula sebácea


é independente. Ela faz a produção do sebo, não importando a fase do ciclo de
crescimento capilar em que o folículo se encontra ou se há ou não uma haste capilar
sendo produzida neste folículo. Quando a haste está ausente, como no caso das
alopecias, a oleosidade se concentra no couro cabeludo, pois não há cabelos nos
quais ela possa dispersar-se. Essa concentração pode causar incômodos, como brilho
excessivo ou coceira.

Fatores que podem aumentar a produção da glândula sebácea no couro cabeludo são:
„„ Produtos inadequados: alguns produtos podem aumentar a oleosidade dos
cabelos, como no caso dos shampoos antirresíduos. Por causa de sua composição,
eles removem demasiadamente a oleosidade, o que causa efeito compensatório
das glândulas sebáceas, estimulando sua produção. Shampoos com agentes con-
dicionantes também podem deixar os cabelos mais oleosos, mas não por causar
efeito compensatório, mas por não realizarem a higienização necessária, pois eles
geralmente são mais suaves.
„„ Água muito quente: lavar os cabelos com água muito quente pode aumentar a
produção sebácea, pois, na hora da higienização, a água quente remove excessi-
vamente a oleosidade, o que também pode causar efeito compensatório.
„„ Uso inadequado dos produtos: algumas pessoas têm o hábito de aplicar con-
dicionadores ou leave-ins muito próximos ao couro cabeludo. Como esses produ-
tos contêm bastante óleo em suas composições, podem deixar os cabelos com
aspecto oleoso.
„„ Hormônios: como a produção de hormônios afeta a produção de sebo, é normal
que os cabelos fiquem mais oleosos durante o período menstrual.
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Referências

HALAL, J. Tricologia e a química cosmética capilar. 5. ed. São Paulo: Cengage Learning,
2016.
KEDE, M. P. V.; SABATOVICH, O. Dermatologia estética. 3. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2015.

Leituras recomendadas
ADHIKARI, K. et al. A genome-wide association scan in admixed Latin Americans
identifies loci influencing facial and scalp hair features. Nature Communications, v. 7,
n. 10815, 2016. Disponível em: <https://www.nature.com/articles/ncomms10815>.
Acesso em: 16 jun. 2018.
LIAO, C.-P. et al. Identification of hair shaft progenitors that create a niche for hair
pigmentation. Genes & Development, v. 31, nº. 8, p. 1-13, Apr. 2017. Disponível em:
<http://genesdev.cshlp.org/content/early/2017/05/02/gad.298703.117.full.pdf>. Acesso
em: 16 jun. 2018.
NISSIMOV, J. N.; CHAUDHURI, A. B. D. Hair curvature: a natural dialectic and review.
Biologival Reviews, v. 89, nº. 3, p. 723-766, Aug. 2014. Dispnível em: <https://onlinelibrary.
wiley.com/doi/epdf/10.1111/brv.12081>. Acesso em: 16 jun. 2018.

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