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DRENAGEM

LINFÁTICA

Fernanda Ribeiro de Oliveira


Drenagem linfática
segundo Godoy
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer os fundamentos da drenagem linfática de Godoy.


„„ Descrever a técnica da drenagem linfática de Godoy.
„„ Analisar a aplicabilidade da drenagem linfática de Godoy.

Introdução
A drenagem linfática segundo Godoy é uma técnica de drenagem linfática
manual (DLM) criada por um casal de brasileiros — ele médico e ela tera-
peuta ocupacional — com base nos estudos da hidrodinâmica corporal.
A técnica preconiza movimentos lineares para promover a movimentação
dos fluidos e se diferencia das drenagens tradicionais principalmente por
permitir a utilização de acessórios durante o procedimento, para facilitar
a realização da manobra.
Neste texto, você vai conhecer os fundamentos da drenagem linfática
segundo Godoy, suas características e aplicabilidade.

Fundamentos da drenagem linfática de Godoy


No início da década de 1990, o casal Dr. José Maria Godoy, angiologista e
cirurgião vascular, e Dra. Maria de Fátima Godoy, terapeuta ocupacional,
iniciaram suas investigações sobre a técnica de drenagem linfática manual
(DLM) e, juntos, desenvolveram um método próprio. Hoje com várias publi-
cações lançadas, o casal continua a estudar o tema e a difundir o seu método,
tendo, inclusive, uma escola de formação de profissionais em São José do Rio
Preto, São Paulo.
88 Drenagem linfática segundo Godoy

A técnica de drenagem linfática de Godoy e Godoy, muitas vezes também


chamada de terapia linfática manual, é baseada nos conceitos de anatomia,
fisiologia e fisiopatologia do sistema linfático. Ela passou por um processo
de validação bastante extenso, no qual foram feitos estudos in vitro, in vivo e
clínico — ou seja, existe comprovação científica rigorosa que valida a técnica.
A técnica de Godoy e Godoy se baseia no conceito de hidrodinâmica do
deslocamento dos fluidos corporais. Nesse caso, dentro do sistema linfá-
tico são estudados mais profundamente o líquido intersticial e a linfa; o que
evidencia a compreensão de que o sistema linfático também faz parte do
sistema circulatório.
O método preconiza o deslocamento correto das mãos, que devem manter
uma compressão constante até chegarem aos linfonodos correspondentes,
para assim evitar o refluxo. A hidrodinâmica pode ser observada por meio
de exames como a linfofluoroscopia, que detecta se houve algum refluxo,
caso a linfa não consiga chegar até o linfonodo correspondente através das
pressões intermitentes.
Para a execução dessa técnica, é preciso promover duas situações
fisiológicas:

„„ Estimular a formação da linfa, estimular a passagem do fluido inters-


ticial para o interior dos capilares.
„„ Drenar a linfa já formada.

Você lembra como a linfa se forma? A linfa é formada a partir do momento que o fluído
intersticial (líquido que fica no espaço entre as células) entra nos capilares linfáticos.

Sendo assim, é necessário estimular o tecido para que o fluido entre nos
capilares linfáticos. A partir disso, é possível favorecer o deslocamento da
linfa realizando manobras para direcioná-la aos vasos e linfonodos.
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A condição para que haja a circulação de fluídos dentro dos coletores


linfáticos é desenvolver um diferencial de pressão nos vasos; do contrário,
não haverá deslocamento nem circulação (PEREIRA, 2013). Para que isso
ocorra, você deve iniciar uma pressão nas extremidades dos vasos e fazer
o deslocamento em direção aos linfonodos, assim, conseguirá promover a
circulação adequada.
Ainda segundo Pereira (2013), para drenar o fluido do coletor, é necessário
colabar o vaso, ou seja, comprimir o vaso, e isso pode ser realizado com as
mãos, os dedos ou com outro acessório. Independentemente do meio que você
decidir utilizar, ele deve ser movimentado no sentido dos linfonodos, mantendo
o vaso colabado (levemente comprimido) durante todo o trajeto.
Como exemplo da importância do direcionamento correto da linfa, você
pode fazer uma comparação com o sistema venoso: quando ocorre o deslo-
camento do fluido das veias até uma válvula saudável, que não apresenta
alteração, não há refluxo; mas, se a válvula estiver com alguma deficiência,
o refluxo ocorrerá. Dessa mesma forma, quando o sentido da drenagem não é
respeitado e não se realiza o movimento com direcionamento correto, haverá
o refluxo, portanto, fica evidente que a linfa tem um trajeto fisiológico até
chegar ao seu linfonodo correspondente.
Como já mencionado, no técnica da Godoy há dois pontos que devem ser
muito bem entendidos: o primeiro é que devemos “carregar” a linfa até atingir
os coletores correspondentes; o segundo é que devemos estimular a formação
da linfa, ou seja, precisamos estimular que ela saia do espaço intersticial e
entre nos capilares, deixando de ser líquido intersticial e passando a ser linfa.
Para estimular a entrada do líquido intersticial para os capilares linfáticos, é
preciso estar atento à força da pressão que você irá exercer: o ideal é que se
mantenha uma pressão de até no máximo de 40 mmHg.

Encontramos a unidade de medida mmHg em todas as literaturas sobre drenagem


linfática, mas você sabe como medir a pressão que deve fazer na DLM? Para medi-la,
utilizamos o esfigmomanômetro, aquele mesmo aparelho utilizado para medir a
pressão arterial, de forma a ter uma precisão maior na hora da medição. Você pode
fazer um teste em seu braço com um equipamento desses: deixe ir até 40 mmHg e
verifique como é a sensação que essa pressão promove sobre a pele, dessa maneira
você conseguirá adequar sua mão para realizar uma pressão parecida.
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A DLM segundo Godoy não somente contribui na circulação da linfa de


maneira imediata, mas também traz benefícios a longo prazo. Nessa técnica, os
coletores linfáticos têm especial importância, pois captam a linfa proveniente
dos capilares e vasos linfáticos, que posteriormente será conduzida até os
ductos torácicos.
Veja quais são os principais coletores linfáticos, denominados por Godoy
de acordo com as três principais estações linfonodais:

„„ Inguinais: recebem linfa dos membros inferiores, abdome infra umbili-


cal, glúteos e região inferior e posterior do tronco, da cintura para baixo.
„„ Axilares: recebem linfa de membros superiores, abdome supra umbi-
lical, mamas, região superior do tórax anterior e posterior.
„„ Cervicais: recebem linfa da cabeça e face.

Os linfonodos servirão como limitação na passagem da linfa, atuando como


filtros, ou seja, antes de a linfa voltar para a circulação sanguínea ela é filtrada.
Godoy define que a DLM é o ato de criar um diferencial de pressão no
espaço intersticial e nos vasos linfáticos, e também a ação de estimular a
contração do linfangions.

Os linfangions são uma estrutura do sistema linfático que têm por função fazer a
propulsão (projeção/pressão) da linfa.

Manobras realizadas na técnica de Godoy


O grande diferencial da drenagem segundo Godoy em relação aos outros
métodos de DLM é a aplicação de movimentos lineares e de pressão inter-
mitente, no lugar de movimentos circulares e semicirculares. Essa manobra
promove a hidrodinâmica; quando colocada a pressão correta, ela atua de
modo a promover um deslocamento constante da linfa através dos vasos até
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os linfonodos. Movimentos respiratórios e compressão abdominal também


auxiliam na manipulação do sistema linfático profundo. Essa técnica pode
ser usada para reabilitação estética, porém, também auxilia de maneira muito
eficaz sobre o linfedema.
Na prática, de que maneira você vai aplicar a técnica de drenagem linfática
segundo Godoy? Primeiramente, você precisa prestar atenção a estes pontos:

„„ Pressão: sempre deverá ser leve, aplicando força de no máximo 40


mmHg.
„„ Velocidade: lenta, pois o sistema linfático percorre vagarosamente.
„„ Sentido do fluxo: as manobras devem ser realizadas sem no sentido
que a linfa corre.
„„ Vias alternativas: quando necessário, você deve saber identificar as
vias alternativas de drenagem.

Vejamos mais a respeito da prática a seguir.

Prática
Na técnica de Godoy, é de extrema importância fazer a estimulação da região
cervical, pois esse estímulo, mesmo que realizado de maneira isolada, pode
melhorar o volume da linfa. Com essa manobra. acredita-se que possa é possível
estimular os linfangions através do sistema nervoso.
A sequência utilizada pela técnica de Godoy se assemelha à sequência
utilizada pela técnica de Vodder: ambas iniciam a DLM pela região cervical
e vão drenando as regiões de proximal a distal, seguindo uma sequência de
membros superiores, abdome, membros inferiores face anterior, membros
inferiores, face posterior e dorso.
Os movimentos serão sempre lineares. Eles são semelhantes a um desli-
zamento único em todas as áreas do corpo, desde a face até o corpo. Veja nas
a seguir como devem ser realizados os movimentos lineares em diferentes
áreas do corpo.
Os movimentos lineares da face devem ser direcionados para a cadeia
linfonodal cervical, conforme mostra a Figura 1.
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Figura 1. Movimentação linear no rosto.


Fonte: Adaptada de AnikaNes/Shutterstock.com.

Em membros superiores, o movimento linear deve ser realizado na direção


dos linfonodos axilares, conforme você pode visualizar na Figura 2.

Figura 2. Movimentação linear nos membros superiores.


Fonte: Adaptada de iLight photo/Shutterstock.com.
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Observe na Figura 3 como devem ser divididos o abdome, o tórax e o


dorso em quatro partes. O trajeto que deve ser realizado com os movimentos
lineares é sempre do centro do quadrante para os linfonodos mais próximos.

(a) (b)

(c)
Figura 3. Divisão e movimentação linear no abdome (a), tórax (b) e dorso (c).
Fonte: Adaptada de Kotin/Shutterstock.com, sylv1rob1/Shutterstock.com e Adam Gregor/Shutterstock.
com.
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Na Figura 4a, você consegue observar a sequência que deve ser seguida
(sempre sem interrupção) e na Figura 4b você identifica como a perna deve
estar posicionada para a realização da técnica. Essas manobras são direcionadas
para os linfonodos inguinais.

(b)

(a)

Figura 4. As manobras nas pernas são direcionadas para os linfonodos inguinais.


Fonte: Adaptada de Szekeres Szabolcs/Shutterstock.com e karelnoppe/Shutterstock.com.

Na técnica de drenagem linfática pelo método Godoy também é possível


utilizar rolete de espuma ou outros acessórios que auxiliem na aplicação da
técnica, principalmente para a realização de autodrenagem. Entretanto, o
uso de acessórios exige especial atenção, pois a pressão deve ser mantida da
mesma forma como se a manobra estivesse sendo aplica com as mãos. Da
mesma forma, a direção também deve ser mantida no sentido do fluxo dos
vasos linfáticos e para a região de linfonodos.
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Veja na Figura 5 como utilizar o rolete de espuma para a drenagem de


membro inferior.

Figura 5. Rolete de espuma para drenagem de membro inferior.


Fonte: Escola Politécnica Cenib (2017).

Além de auxiliar no tratamento de edemas, a técnica de Godoy também


atua normalizando todos os tipos de linfedema. Todas as formas de tratamento
são utilizadas com o foco de promover uma reabilitação das doenças venosas,
auxiliando na redução de edema, na mobilidade articular e até mesmo na
diminuição da dor.
Na realização da técnica para tratamentos de linfedema, a manipulação
com movimentos lineares no sistema linfático superficial é complementada
com exercícios respiratórios e compressão abdominal, que estimulam o
sistema linfático profundo do tórax. Também é complementada com ati-
vidade muscular, que irá ajudar na drenagem da rede mais profunda das
extremidades.
Nos tratamentos de linfedema primário, a técnica pode ser amplamente
utilizada; já nos linfedemas secundários, a técnica será adaptada de acordo
com as alterações fisiopatológicas que o paciente apresentar.
Vamos recapitular os principais pontos dessa técnica:
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1. A drenagem da linfa é feita sempre no trajeto dos principais coletores,


no sentido do fluxo, seguindo os critérios da anatomia, fisiologia,
fisiopatologia e hidrodinâmica.
2. Não são realizas manobras em círculos, como em outras técnicas de
drenagem.
3. A drenagem inicia nas regiões proximais aos coletores do sistema
linfático, correspondentes ao trajeto a ser drenado.
4. Os linfonodos atuam como área limite do trajeto da linfa.
5. As válvulas são de grande relevância; elas têm o papel de manter o
fluxo em uma direção única, evitando o refluxo.
6. As vias derivativas de drenagem devem ser identificadas, conhecendo
a fisiopatologia de cada caso.
7. Os cuidados com a velocidade e a pressão empregada são importantes
para evitar lesão ao sistema linfático.

A técnica de drenagem linfática de Godoy e Godoy tem grande relevância


cientifica quanto aos tratamentos de edema e linfedema, por atuar sobre os
estímulos fisiológicos envolvendo todo o sistema. Por esse motivo, a técnica
ganhou o conceito de drenagem linfática global. Nessa técnica, também é
muito importante o tratamento ser realizado de forma multidisciplinar, pois
envolve a técnica de drenagem linfática, mecanismos de contenção, apoio
nutricional e, em alguns casos, suporte com psicólogo.

ESCOLA POLITÉCNICA CENIB. Drenagem linfática manual (parte 2). 2017. Disponível
em: <http://dicasderadiologia.com.br/?p=3272>. Acesso em: 26 jun. 2018.

PEREIRA, M. de F. L. (Ed.). Recursos técnicos em estética. São Caetano do Sul, SP:


Difusão, 2013. v. 1.
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Leituras recomendadas
DRENAGEM LINFÁTICA: aplicada ao método Godoy & Godoy. 2017. Disponível em:
<http://www.drenagemlinfatica.com.br/>. Acesso em: 26 jun. 2018.
SANTOS, D. A. F.; MEJIA, D. P. M. Análise comparativa das técnicas de drenagem linfática
manual: método Vodder e método Godoy & Godoy. [201-?]. Disponível em: <http://
portalbiocursos.com.br/ohs/data/docs/18/114_-_AnYlise_comparativa_das_tYcni-
cas_de_drenagem_linfYtica_manual.pdf>. Acesso em: 26 jun. 2018.
SS DRENAGEM LINFÁTICA. Método Godoy Godoy de drenagem linfática. [2011]. Disponível
em: <http://drenagemlinfatica.chakalat.net/2011/06/metodo-godoy-godoy-
de- drenagem.html>. Acesso em: 26 jun. 2018.

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