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W alter Tavares **
** T r a b a l h o d o S e r v iç o d e D o e n ç a s I n f e c c i o s a s e P a r a s i t á r i a s d o H o s p ita l U n iv e r s itá r io A n to n io P e d ro
( F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l F l u m i n e n s e ) —• N i t e r ó i — E s t a d o d o R io d e J a
n e iro .
*** P ro fe s s o r A s s is te n te d a D is c ip lin a d e C lin ic a s d e D c e n ç a s I n fe c c io s a s e P a r a s itá r ia s d a F a c u ld a d e d e
M e d i c i n a d a U n iv . F e d . F l u m i n e n s e .
R e c e b id o p ara p u b lic a ç ã o em 1 .9 .7 2 .
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corpo bacilar, um fragm ento do corpo per biose, abaixo do ponto de penetração do
manece ligado ao esporo e a aparência é ar.
sem elhante ao do C. sphenoides. A forma A cultura em caldo simples a 379C.
típica do bacilo tetânico, com esporo term i m ostra turvação a p artir tío 2? dia, sendo
nal, é cham ada form a em plectrídio, daí o crescimento lento e sem formação im
porque autores, sobretudo da escola fra n portante de gás. A cultura apresenta chei
cesa, denominam o bacilo tetânico de Plec- ro ativo de esterco. Em placa de agar in
triãium tetani. cubada a 37°C. sob anaerobiose, formam-se
Em algumas culturas, formas bizarras colônias acinzentadas, com limites mal de
de bacilos são encontradas, vendo-se espo finidos, medindo 2 a 5 mm de diâm etro
ros predom inantem ente ovais, bacilos que em cerca de 3 dias, com superfície irregu
permanecem em form a filam entosa, espo lar e granular e com projeções filam ento-
ros de localização sub-term inal ou central, sas. Algumas cepas form am colônias com
bacilos piriformes e outras aberrações. centro grosseiro, translúcido e am arelo-
Tais formas bizarras não são freqüentes e m arrom e com periferia fina, transparente
podem ser encontradas em todas as amos e descorada. Em placa de agar com sangue
tras do bacilo tetânico, sejam toxinogêni- de cavalo, form a-se o tipo de colônia refe
cas ou não, embora sejam mais encontra rido, sfcndo notado por vezes hemólise do
das em am ostras não toxinogênicas. tipo a, mais tarde passando ao tipo ji.
O C. tetani apresenta motilidade por O cultivo em profundidade no agar
meio de 30 a 50, às vezes mais, flagelos (Shake cultures) incubado a 379C. em pre
peritríquios. A motilidade não é facilmente sença de ar, desenvolve um a opacidade di
demonstravel, variando com o meio de cul fusa abaixo da linha de penetração do ar.
tura, a idade da am ostra e a cepa analisa As colônias são observadas no interior do
da. Não apresenta cápsula. É um bacilo meio, arredondadas, com um a cor m arrom -
Gram positivo, m as tal afinidade pelo co opaca no centro. Em agar concentrado e
rante só se m anifesta nas formas jovens, com grande inóculo, algumas bolhas de
tornando-se Gram negativo nas culturas gás são formadas. O crescimento sob anae
envelhecidas. Por vezes passam a ser Gram robiose em soro coagulado é pobre, assim
negativos em tempo muito curto de 2 a 4 como em gelatina. O soro não sofre lique-
dias. fação, mas a gelatina é liqüefeita, variando
Formas L foram descritas por Dienes, esta ação com a cepa cultivada. Quando há
cultivando o bacilo sob anaerobiose em agar liquefação da gelatina, a produção de gás
contendo penicilina em um a escavação. Re é dem onstrada agitando o tubo após remo
fere o aparecim ento de colônias com bacilos ção das condições de anaerobiose. O cres
em form a L e que a realização de sub-cul- cimento em leite não é satisfatório.
turas a p artir daí, seja em meios com ou Em meio de Tarozzi (figado picado em
sem penicilina, dá origem a colônias L . caldo simples) ou em meio contendo carne
Estas formas não reverteram à forma b a ou coração, o crescimento é grande, haven
cilar e não m ostraram patogenicidade para do turvação do meio, produção de gás e às
o camundongo. Formas L surgem tam bém vezes escurecimento da carne. O meio é
em presença de glicina, havendo referência m antido sem contato com ar por meio de
que tais form as conservam sua proprieda um a cam ada de vaselina, o crescimento se
de toxinogênica. fazendo na profundidade. O meio do tiogli-
colato é tam bém utilizado, com bom cres
B — ASPECTOS CULTURAIS cimento. /
re nas bactérias aeróbias, dá origem a cose tem sido relacionada com a capacida
H\,02. A água oxigenada é um a substância de de produzir toxina. As cepas ferm enta -
letal em doses muito pequenas para as bac doras da glicose em geral não são toxino-
térias. Como nos clostrídios não existe ca- gênicas.
talase (que desdobra a H20 2 em H20 e Não produz nitritos em caldo contendo
0.2) ocorre o acúmulo do peróxido de hidro nitratos. É produtor de indol e de NH:!. Não
gênio, rapidam ente atingindo concentração produz gás sulfídrico. Liqüefaz a gelatina.
tóxica, daí sua incapacidade de sobreviver
em presença de oxigênio livre. E — RESISTÊNCIA
Embora o oxigênio livre iniba o cresci
m ento e destrua os organismos no estado Na sua form a vegetativa o C. tetani é
não esporulado, as bactérias anaeróbias po rapidam ente destruído por ação do calor
dem crescer n a presença de ar, desde que e de desinfetantes. É ainda sensível à ação
um baixo potencial de oxiredução seja es da penicilina, tetraciclinas, eritrom icina e
tabelecido no meio, o que pode ser alcan cloranfenicol. É resistente à ação da es-
çado pela inclusão de substâncias reduto- treptom icina, polimixinas, kanamicina. R a
ras. M uitas substâncias são capazes de tal ram ente têm sido isoladas cepas resistentes
efeito, tais como sulfitos, compostos fer- à ação da penicilina, sendo a m utação o
rosos reduzidos, ácidos graxos não satu ra provável mecanismo de aparecim ento da
dos, ácido tioglicólico, ferro metálico, etc. resistência.
A carne cozida é um exemplo de meio que Na form a esporulada o bacilo apresenta
provoca excelentes condições para cresci m arcada resistência à ação do calor, res-
m ento de aneróbios, mesmo quando incuba secam ento e desinfetantes. No solo seco o
da em aerobiose. Sua virtude consiste na esporo tetânico vive durante anos, assim
presença de ácidos graxos não saturados como é possivel seu isolamento de feridas
e radicais sulfitos. O cultivo de clostridios contam inadas após m uito tempo. Os espo
em condições de aercbiose tem sido conse ros resistem à fervura por 15 a 90 minutos,
guido ainda, pela adição de cobalto ao meio sendo destruidos à tem peratura de 105? C.
de cultura e pela adição de catalase à su em 3 a 25 minutos. O esporo é destruido
perfície do meio. pelo fenol a 5% em 15 horas.
O C. tetani, como outros clostrídios p a Existe um a relação entre a resistência
togênicos, é um germe heterotrópico, re do esporo à tem peratura e a propriedade
querendo um a bateria de aminoácidos, car- toxinogênica. Nishida e Sanada demons
boidratos e vitam inas para seu crescim en traram que o aquecimento de am ostras de
to. Uma pequena concentração de CO., p a solo contam inadas, à tem peratura de 80<?C.
rece ser essencial p ara seu crescimento, ou 100°C. destroi as cepas produtoras de
assim como ocorre p ara as bactérias aeró toxinas, sobrevivendo, em maior proporção,
bias. Seu crescimento é aum entado pela as cepas não toxinogênicas.
presença de sangue ou soro, mas não pela
presença de glicose. O pH ótimo para seu II — PROPRIEDADES ANTIGÊNICA E
crescimento é de 7 a 7,4 e a tem peratura TÓXICAS DO C. TETANI
ideal de 379C. Cresce pobremente a 20<?C.
Produz fluorescência esverdeada em meio B — A TOXINA TETANICA
de MacConkey e outros meios contendo sais
biliares. Possui atividade proteolítica pe O C. tetani produz 3 toxinas: um a teta-
quena. Produz três toxinas que serão es nospasm ina neurotóxica; um a neurotoxina
tudadas em detalhes adiante. não convulsivante; e um a tetanolisina. Des
sas 3 toxinas, aquela incrim inada na pato-
D — ATIVIDADES BIOQUÍMICAS genia do tétano hum ano é a tetanospasm i-
na. A neurotoxina não convulsivante não
O C. tetani em geral não ferm enta açú é suficientem ente estudada e a maioria dos
cares. Testes de ferm entação em glicose, autores não lhe faz referências. A tetano
lactose, maltose e sacarose, não m ostram lisina tem atividade hemolítica e cardiotó-
atividade ferm entativa, embora ocasional xica “in vitro” e em anim ais de laboratório.
m ente possa ser observada acidificação da Hardegree e col. injetando a tetanolisina
glicose. A propriedade de ferm entar a gli por via venosa em camundongos e coelhos
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refere hemólise e m orte dos anim ais por bém, pela presença de germes associativos
distúrbios cardíacos. No entanto a ação no foco de infecção.
desta toxina n a patogenia do tétano h u A toxina tetânica é produzida no in te
m ano é discutida, sendo negada por grande rior da célula bacteriana, onde permanece
número de autores, um a vez que ela é fi por 1 ou 2 dias, sendo liberada seja por per
xada pelos músculos próximos ao foco de m eabilidade da m em brana ou por ru tu ra
infecção, não sendo absorvida. A hemolisi- da célula. A quantidade de toxina libera
na é termolábil e está presente mesmo em da pelo rom pim ento de células jóvens é
cepas não toxinogênicas. É possível que na m uito m enor que a liberada por bactérias
patogenia do tétano hum ano sua principal no 3? ou 4? dia de cultivo. Tal fato tem
função esteja relacionada com seu poder implicações terapêuticas, pois a penicilina
antifagocitário, assegurando, desta forma, utilizada no tratam ento do tétano, ao pro
a persistência no local de esporos e das vocar o rom pim ento de célula bacteriana
formas vegetativas, bem como da flora as provoca um a súbita liberação de toxina
sociada . que pode agravar o quadro clínico. Por
A tetanospasm ina é a toxina considera outro lado, estudos ’in vitro” têm demons
da pela grande m aioria dos autores como a trado que o uso de um a dose infrabacterios-
porção de im portância na patogenia do té tática de penicilina tem efeito acelerador
tano. É um a proteína com peso molecular de crescimento bacteriano. Sendo assim,
67000, que apresenta alta especificidade de doses pequenas do antibiótico no trata m e n
ação, ligando-se somente a receptores nas to ou profilaxia do tétano, não só não têm
células nervosas. É term olábil e é a segun efeito terapêutico, como podem acelerar o
da toxina mais potente que se conhece, crescimento bacilar e conseqüentemente
sendo que 0, 000001 ml de um filtrado po aum entar a toxinogênese.
tente é capaz de m atar um camundongo. A
dose letal m ínim a para o homem é de 0,1 a III — PATOGENIA DO TÉTANO
0,25 mg. Não é absorvida pelo tubo digesti
vo e é destruída pelos sucos digestivos, um a O tétano hum ano pode ser reproduzido
vez que é alterada por ação de ácidos e so pela inoculação de culturas puras ou da
fre a ação de enzimas proteolíticas. toxina em ratos, camundongos, coelhos, co
As toxinas produzidas por diferentes ce baios, macacos, cavalos e caprinos. Cães e
pas têm efeito farmacológico idêntico, no gatos são mais resistentes e as aves e a n i
entanto a sua toxicidade sofre variações mais de sangue frio altam ente resistentes.
com a cepa, havendo am ostras do bacilo O anim al m ais suscetível é o cavalo, o qual
não produtoras de toxina. Tais cepas apre é 12 vezes mais suscetível que o cam undon
sentam maior resistência à destruição pelo go, relativam ente à dose de toxinas por
calor, são capazes de ferm entar a glicose gram a de peso necessária para provocar
e não causam hidrólise da gelatina. As a morte do anim al. A cobaia é 6 vezes mais
am ostras não toxinogênicas do C. tetani suscetível que o camundongo e os macacos
têm sido identificadas com o C. tetanomor- 4 vezes mais. Por sua vez o cão é 50 vezes
phum. mais resistente, o gato 600 vezes e a gali
n h a 30.000 vezes mais resistente que o ca
A toxinogênese do C. tetani é alterada mundongo.
em laboratório pelo cultivo em presença de
oxigênio e quanto mais aeróbio ele é, m e As m anifestações clínicas da doença em
nor sua propriedade toxinogênica. Possivel anim al são, também, as encontradas no
mente o germe em a natureza é m uito m e homem, onde o tétano se caracteriza por
nos agressivo que em laboratório, vivendo uma hipertonia m uscular m antida, seja lo
de m aneira saprofítica no solo e aum entan calizada ou generalizada, agravada por es
do seu poder patogênico em relação a um a pasmos ou contraturas paroxísticas. A
menor concentração de oxigênio e menor doença ocorre sem febre, a qual, quando
potencial de oxiredução do meio em que presente, é de m au prognóstico. A fisiopa-
vive. Deve-se referir, ainda, que a produ tologia da doença é explicada pela fixação
ção de toxina é influenciada pelo meio de da tetanospasm ina no sistema nervoso cen
cultura empregado (por exemplo, os meios tral e periférico.
de Taylor e Muller perm item o crescimento O tétano é fundam entalm ente um a
com grande produção de toxina) e, ta m doença toxêmica. Embora alguns autores
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copia comum. No foco de infecção o orga se dever à atividade m uscular aum entada
nismo reage com fagocitose, às custas de característica da doença, embora ten h a si
polimorfonucleares, que destroem as formas do levantada a hipótese de um efeito di
vegetativas e esporos. Deve-se, entretanto reto da toxina n a permeabilidade da mem
frizar que nem todos os esporos são fago- brana muscular.
citados, sendo possível sua perm anência
por longo tempo em um foco cicatrizado. V — TRATAMENTO ETIOLÕGICO
Quanto à resposta imunológica, o tétano
é um a doença que não causa imunidade, O tratam en to específico do tétano tem
sendo a explicação encontrada na dose de por objetivo neutralizar a toxina tetânica
toxina causadcra da doença. É um a toxina e com bater a bacilo. Embora seja prática
de tal modo potente que as mínim as quan corrente o uso de meios que visam tal fim,
tidades produzidas no foco causam toda são contraditórios os resultados obtidos e
sintomatologia, porém, em quantidade in várias críticas podem ser feitas como ve
suficiente p ara estim ulação do sistem a lin- remos a seguir.
forreticular e conseqüente resposta imune.
No aspecto da imunologia, um a questão A — NEUTRALIZAÇÃO DA TOXINA
ainda em aberto é a presença ou não de
imunidade celular no tétano. Fundam entalm ente existem 3 estágios
de localização da toxina: o estágio bacte-
IV — MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO riano n a ferida; o estágio toxêmico e de
m igração nervosa; e o estágio de fixação
neurológica. É, em geral, aceito, que uma
O tétan o é um a doença de diagnóstico vez fixada nos seus receptores a toxina te
em inentem ente clínico. Alguns métodos de tânica não é neutralizada pela antitoxina
laboratório podem ser empregados para de
correspondente, seja hum ana ou animal.
tecção do bacilo no foco e, mesmo, para
Tal é a razão porque no tétano declarado
dosar a toxina tetânica n a corrente circu
grande núm ero de autores discute a va
latória. Tais métodos laboratoriais, no en
lidade do uso de soro antitetânico ou gam a-
tanto, não têm grande aplicação prática. globulina hiperim une contra tétano. Se
O C. tetani pode ser isolado a p artir da por um lado adm ite-se que a antitoxina
porta de infecção, fazendo-se cultura em não apresenta capacidade curativa e não
anaerobiose nos diversos meios referidos modifica o quadro clínico um a vez in sta
anteriorm ente. Como o isolamento em cul lada a doença, o seu uso está indicado no
tura pura é difícil, devido ao crescimento sentido de neutralizar a toxina que está
de outros germes, a certeza diagnostica é sendo produzida no foco e aquela ainda
dada pela incculação em anim al, geralm en circulante. Assim, a antitoxina empregada
te o camundongo, seja do m aterial retirado n a terapêutica da doença tem por finalida
do foco, seja da cultura. Observam-se os de evitar que novas quantidades da toxina
sintomas típicos do tétano no anim al que é se fixem no sistem a nervoso.
mantido por 4 a 10 dias em observação. Muitos autores que criticam a validade
Como já referimos, não h á estimulação da antitoxina n a terapêutica, o fazem b a
antigênica na doença e assim, não se conta seados n a descrição de casos de tétano re
com base sorológica para o diagnóstico. Um cuperados sem o uso da antitoxina; ou
teste de precipitação proposto por Mueling baseados em que a toxina tetânica alcan
e col. para detecção da toxina tetânica no çaria o S.N.C. por meio da via nervosa e,
foco não mostrou utilidade n a experiência portanto, protegida contra a ação da a n
de Veronesi. A toxina pode, porém, ser do titoxina; ou, ainda, baseados no fato de
sada por métodos biológicos n a corrente que um a vez declarada a doença um a ou
sanguínea, m as tal dosagem envolve téc mais doses letais de toxina já se fixaram
nicas não aplicáveis à prática m édica e aos receptores e a possibilidade de novas
sem grande interesse, visto que em grande quantidades de toxina se fixar é pequena.
número de pacientes com tétano, a dosagem Por outro lado, dosagem de toxina e a n ti
de toxina circulante é negativa. Estudos toxina ao nível do líquor dem onstram que
atuais dem onstram que a concentração de a toxina injetada por via venosa alcança
creatinofosquinase e aldolase séricas estão altos níveis no líquor, enquanto que a a n
elevadas no paciente tetânico, o que pode titoxina alcança pequenas concentrações.
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xina, a qual irá se fixar ao S.N.C. P o rtan 250.000 U/kg, o que transportado para o
to, as medidas tom adas 6 horas após a homem daria a dose de 15.000.000 U para
possível infecção, poderão não ter efeito. o indivíduo de 60 kg. Com uso da penicilina
O debridam ento do foco encontra, na G potássica, a proteção de 100% de ca
profilaxia, sua perfeita indicação pois a mundongos só foi conseguida com a dose
ausência de condições de anaerobiose e a de 500.000 U/kg, correspondendo no homem
retirada do m aterial infectante são ele a cerca de 30.000.000 U por dia. É óbvio
mentos por si só altam ente eficazes na pre que o uso de tais doses como profilático
venção da doença. do tétano hum ano não são praticaveis, daí
C uso da SAT ou gamaglobulina hum a perque é preferível usar as tetraciclinas,
na hiperim une contra tétano é recomen nas doses terapêuticas habituais (30 a
dado na hipótese de não se retirarem todas 40 m g/kg/ dia para a oxitetraciclina e te-
as condições que favorecem a germinação traciclina). As falhas na profilaxia a n ti
do bacilo e, assim, as quantidades de toxi biótica podem ser devidas a v;>rios fatores,
na produzidas serão neutralizadas pela a n como a presença de C. tetani resistente ao
titoxina. O valor do SAT na profilaxia do antibiótico; demora no emprego da droga;
tétano é fora de dúvida, comprovado per persistência do bacilo após a suspensão do
várias estatísticas de guerra, que mostram m edicamento; dese insuficiente; presença
acentuada redução da doença após a in de germes associados produtores de peni-
trodução do medicamento. O fato de ocor cilinase.
rerem casos de tétano em pessoas que to A respeito do tétano neonatoru.m, as
m aram o SAT profilático, pode ser expli medidas profiláticas indicadas são o.s cui
cado pela demora na aplicação do soro dados higiênicos do parto e do coto um bi
(6 horas após a infecção), pela dosagem lical e a vacinação da gestante. Os anticor
insuficiente, pela persistência do bacilo pos m aternos são capazes de atravessar a
após a eliminação da antitoxina e pela placenta, protegendo desta m aneira o feto.
rápida destruição do SAT em indivíduos Recomenda-se vacinar a gestante no últi
que já utilizaram o soro anteriorm ente e mo trim estre com a vacinação básica ou
form aram anticorpos contra as proteínas aplicar um a dose de reforço, caso ela já
do soro anim al. É, em geral, recomendado tenha sido vacinada anteriorm ente.
o uso de 5.G00 a 6.000 U de SAT ou 250 a Queremos ressaltar, ao final, 3 novas
500 U de gam aglobulina para as feridas medidas profiláticas que poderão ser u ti
comuns, utilizando-se doses maiores de lizadas após maior experiência. A primei
10.000 a 20.000 U de SAT p a ia feridas que ra diz respeito ao uso de vacinas com alto
apresentam alto risco de doença, como as poder antigênico que podem provocar im u
fratu ras expostas, politraum atizados, gran nidade com um a única dose. A segunda
des queimados. refere-se ao uso de grandes doses de a n a
Quanto ao uso de antibióticos, vários toxina tetânica em pacientes infectados,
trabalhos dem onstram que a penicilina e com finalidade de satu rar os receptores da
tetraciclinas utilizadas precocemente, isto texina, prevenindo desta form a sua fixa
é, até 6 horas após a infecção, são eficazes ção. A terceira seria o uso, logo após o fe
na inibição do germe e, portanto, não ocor rimento, de um a m istura de gangliosídeos
re a produção de toxina. Os antibióticos e cerebrosídeos, por via parenteral, no sen
devem, no entanto, ser utilizados em dose tido da toxina ser absorvida pela m istura
terapêutica adequada e por tempo prolon circulante e, assim, ser tornada inofensi
gado, pelo menos até que o ferim ento en va.
tre em cicatrização. A ocorrência do tétano Com tudo isto, verifica-se que a medida
em pacientes que fizeram uso da penicili- realm ente eficaz e capaz de erradicar o
na-benzatina se deve ao fato de a concen tétano é a vacinação da população, reali
tração obtida pela penicilina nesta apre zada de m aneira sistem ática e não apenas
sentação não ser elevada, além de demo as cham adas “cam panhas de vacinação”.
ra r a ser atingida devido à lenta absorção. Deve-se, no entanto, tom ar os devidos cui
Trabalho experim ental de Veronesi e col., dados p ara evitar o exagero de vacinação
revelou que p ara a proteção de 100% de em um mesmo indivíduo, pois têm sido re
camundongos infectados com o bacilo te latadas manifestações de natureza alérgica
tânico, houve a necessidade de in jetar a em pessoas hiperim unizadas com o toxóide
penicilina-benzatina na dose única de tetânico.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS