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Edição Nº 9 - julho de 2004

A Tragédia de Desterro
Numa das passagens mais sangrentas e
aviltantes da história, a capital de Santa
Catarina teve seu nome alterado de Desterro
para Florianópolis

Numa das
passagens
mais
sangrentas e
aviltantes da
história, a
capital de
Santa
Catarina teve
seu nome
alterado de
Desterro para
Florianópolis.
Encerrava-se
a guerra civil
em que a ilha
sediou uma
república
independente
, fundada por
federalistas e
rebeldes da
Armada
Roberto Tonera,
historiador e
arquiteto
Desterro no início do século XX, com a Baía Sul à
esquerda e Baía Nprte, à direita, em tela de Eduardo
Dias.

Em 16 de abril de 1894 chegava ao fim o revolucionário


Governo Provisório da República dos Estados Unidos do
Brasil, que havia se insurgido numa guerra civil contra o
governo central do marechal Floriano Peixoto.

Por seis meses, a cidade de Desterro, capital de Santa


Catarina, foi sede dessa república independente, formada
pela união dos revolucionários federalistas dos três
estados do sul do país com os também rebelados
militares da Marinha Brasileira. Após a derrota, Desterro
seria rebatizada como Florianópolis - em homenagem a
Floriano - e dezenas de revoltosos seriam perseguidos,
presos e sumariamente executados, em um dos capítulos
mais sangrentos da história brasileira.

O episódio decisivo para o fim da revolta foi o combate


naval travado na madrugada daquele 16 de abril, entre
uma frota de 11 embarcações legalistas e o temido
encouraçado Aquidaban. Líder da Revolta da Armada,
como era então denominada a Marinha do Brasil, aquela
embarcação representava o último elo de resistência
contra o governo de Floriano. Passava das 11 horas da
noite quando a frota legalista bombardeou a Fortaleza de
Santa Cruz de Anhatomirim, ao norte da cidade de
Desterro.

AQUIDABAN

Fundeado um pouco ao sul da Fortaleza, o Aquidaban


preparou-se para o combate. Às duas e meia da
madrugada, o caça-torpedeira Gustavo Sampaio e outras
três embarcações da frota legal iniciaram as manobras de
ataque. O encouraçado só tomou conhecimento das
torpedeiras inimigas quando distinguiu um vulto pela
proa, a pouco mais de 200 metros. Ao reconhecê-las, o
Aquidaban abriu fogo com seus poderosos canhões e
suas metralhadoras. Porém, devido à proximidade do
inimigo, os tiros dos canhões passaram alto, errando o
alvo, e os disparos das metralhadoras causaram apenas
um leve ferimento em um de seus oponentes.

As embarcações legalistas revidaram o ataque lançando


três torpedos que, no entanto, também erraram o alvo.
Vendo falhar os disparos, o Gustavo Sampaio deu a volta
pela popa do adversário, lançando um quarto torpedo,
desta vez atingindo de forma certeira a proa do
Aquidaban. O impacto do torpedo foi bastante forte,
alagando os compartimentos da proa. O Aquidaban ainda
tentou seguir para mar aberto, mas teve de retornar para
local mais raso, onde pôde descansar o casco no fundo.

O comandante e toda a sua tripulação logo abandonaram


a embarcação avariada, buscando abrigo e retirada por
terra. A utilização de torpedos em um combate naval só
havia ocorrido em outras duas ocasiões, sendo aquela a
primeira na história militar brasileira.

Naquela manhã de 16 de abril de 1894, o Aquidaban, a


melhor embarcação da Marinha Brasileira, ia a pique e
com ele a Revolução Federalista e a Revolta da Armada
em Santa Catarina. Assim que em Desterro souberam do
resultado do combate, os membros do governo
revolucionário instalado na ilha catarinense fugiram para
o continente. No dia 19 de abril, chegaria à cidade o
coronel Antonio Moreira César, promovendo um
sangrento "ajuste de contas" com os revoltosos vencidos.

O AUTORITARISMO DE FLORIANO

As causas desse turbilhão de acontecimentos, no


entanto, começaram a fermentar alguns anos antes, com
a Proclamação da República, em 1889. No Império, o
poder militar do país concentrava-se na monarquista e
nobiliárquica Marinha de Guerra. Com o novo regime,
essa hegemonia transferiu-se para o Exército, composto
em boa parte pela pequena burguesia.

Desde 1891 no comando da República, após a renúncia


forçada de Deodoro da Fonseca, o vice-presidente
Floriano Peixoto tomara uma série de medidas
autoritárias: demitira governadores, aposentara e
rebaixara militares, intimidara o poder judiciário e
censurara a imprensa. As forças econômicas e políticas
do sul do Brasil, por sua vez, continuavam se sentindo
preteridas no cenário nacional. Existiam ainda os
monarquistas, saudosos do antigo regime, e até
republicanos e positivistas descontentes com os rumos
militaristas assumidos pela República.

O repúdio aos atos de centralismo e autoritarismo


praticados pelo governo era quase uma unanimidade
nacional, unindo várias insatisfações políticas, militares e
econômicas contra o governo ditatorial de Floriano.

Esse clima de tensão imperava no país quando, em 2 de


fevereiro de 1893, iniciou-se no Rio Grande do Sul a
Revolução Federalista, alguns dias depois da eleição,
escandalosamente fraudulenta, de Júlio de Castilhos à
presidência do estado. Em um dos lados, estavam os
federalistas, também chamados "maragatos". Liderados
por Silveira Martins, tinham Gumercindo Saraiva como
seu verdadeiro chefe militar. Já os castilhistas,
conhecidos como "pica-paus", contavam com o apoio de
Floriano. A guerra civil espalhou-se pelos três estados do
sul, perdurou por 31  meses e foi marcada por
atrocidades contra civis e militares.

As "sangras" ou degolas, e os fuzilamentos - execuções


sumárias praticadas com requintes de crueldade por
ambos os lados - vitimaram aproximadamente 10 mil
pessoas, mortandade sem paralelo na história do Brasil.

Por sua vez, no Rio de Janeiro, o almirante Custódio


José de Melo, ex-ministro da Marinha, descontente com
os atos de Floriano, e contando com o apoio de
monarquistas e partidários de Deodoro, exigiu a renúncia
do vice-presidente. Como o marechal não cedeu, parte
da esquadra sob a liderança de Custódio de Melo
rebelou-se, bombardeando a capital federal, em 6 de
setembro de 1893, e dando início à Revolta da Armada.
Logo depois, seguiu para o sul do país uma força-tarefa
rebelde sob o comando do capitão-de-mar-e-guerra
Frederico Guilherme de Lorena.

A intenção era estabelecer contato com as tropas


federalistas que também se batiam contra o governo da
União. Protegida pelo costado do encouraçado
Aquidaban, a frota do comandante Lorena escapou da
baía de Guanabara sob o fogo das fortalezas de Santa
Cruz, São João e Lage, chegando à Ilha de Santa
Catarina em 26 de setembro.
A decisão do comandante Lorena de seguir para
Desterro, mesmo sem ordens superiores expressas para
isso, é creditada ao fato de o governo estadual haver já
se declarado contrário a Floriano. Outro motivo seria a
posição estratégica da Ilha de Santa Catarina, porto
abrigado e próximo aos conflitos do sul. O fato de Lorena
ter passado a maior parte de sua infância em Desterro
deve também ter pesado nessa decisão, que em breve
selaria de forma drástica o seu próprio destino e o da
cidade na qual crescera.

UMA NOVA REPÚBLICA NO SUL

Embora o governo civil de Santa Catarina fosse simpático


aos federalistas, a Guarnição Militar permanecia fiel a
Floriano. Assim, na manhã do dia 27 de setembro, os
disparos da artilharia legalista, que havia se deslocado
para o norte da Ilha de Santa Catarina, fizeram a frota
rebelde recuar. Contornando a ilha e entrando pela baía
sul a bordo do cruzador República, Lorena fundeou sua
força-tarefa em frente à cidade de Desterro, de onde
intimou a resistência legalista à rendição.

Com exceção do pequeno Forte de Santana, que contava


com dois canhões Krupp, e a Capitania dos Portos, com
um canhão Bange, as demais fortificações estavam
guarnecidas apenas com o velho armamento do século
XVIII, sem eficiência contra os modernos canhões das
embarcações rebeldes. O comandante do Forte de
Santana ainda fez reunir diversos canhões de ferro
fundido, imprestáveis, que jaziam havia anos enterrados
pela metade, enfeitando os logradouros públicos da
cidade. Era uma tentativa desesperada de simular um
poderio bélico de que não dispunha.

Mesmo inferiorizado, Santana trocou tiros com o cruzador


República, que, fora do alcance daquela precária
munição, bombardeou o forte com eficácia, forçando-o a
um imediato cessar-fogo. No dia 29, reuniram-se 46
oficiais de diferentes patentes do Exército e da Armada
que se achavam no Desterro. Assinaram os amistosos e
honrosos termos do acordo de rendição da guarnição do
Desterro. Aquele documento seria, posteriormente, a
sentença de morte de muitos daqueles oficiais, fuzilados
em Anhatomirim no ano seguinte.

A pacata cidade de Desterro, agora em poder dos


revoltosos da Armada, seria proclamada capital daquela
nova república. Em 14 de outubro de 1893, na frente do
Palácio do Governo do Estado, o comandante Frederico
de Lorena declarou instalado o Governo Provisório da
República dos Estados Unidos do Brasil. O novo governo
considerava-se separado da União, enquanto Floriano
Peixoto não fosse deposto. Esse Governo Provisório
almejava unir os rebeldes da Armada aos federalistas do
Sul, com o objetivo comum de derrubar Floriano.
Pretendia também justificar, perante outras nações, a
solicitação do reconhecimento do estado de beligerância.
Isso as obrigaria à neutralidade, impedindo o livre
fornecimento de armas e munições ao governo legal.

Pouco tempo depois, essa suposta unidade se mostraria


extremamente frágil e começaram a aflorar os
desentendimentos entre os líderes da Revolta da Armada
e os federalistas, em luta no Paraná e no Rio Grande do
Sul. Estes últimos, na verdade, nunca se consideraram
parte efetiva daquele militarizado Governo Provisório.
As várias correntes de pensamento, contrárias ao
Governo Central, careciam de uma unidade ideológica,
compondo um amálgama de interesses muitas vezes
conflitantes. Eram separatistas, federalistas, republicanos
"históricos" preteridos no poder, parlamentaristas,
positivistas, militaristas, civilistas e monarquistas.

Junte-se a isso o surgimento de disputas por poder,


conflitos entre lideranças locais, vaidades e ambições
pessoais e políticas, além da falta de recursos para
financiar a revolução. Esse conjunto de causas levou à
desintegração do sonho de um governo revolucionário
único. Na realidade, a oposição a Floriano era talvez o
único ponto de convergência entre esses vários ideais.
Fora motivo bastante para deflagrar uma revolta, mas
insuficiente para sustentar um movimento coeso.

Em março de 1894, Frederico de Lorena entregou o


Governo Provisório para uma junta governativa, e
Floriano Peixoto conseguiu reorganizar suas forças
navais e retomar o porto do Rio de Janeiro.
Ingenuamente, os revoltosos consideravam a queda do
marechal apenas uma questão de tempo. Por isso,
menosprezaram a aquisição das novas embarcações
européias e americanas pelo Governo Central,
denominando jocosamente a frota florianista de
"esquadra de papelão".

Com o insucesso da tomada de Rio Grande por Custódio


de Melo, e a posterior entrega dos navios da frota rebelde
ao governo argentino, ficaram em Desterro apenas o
encouraçado Aquidaban e mais três pequenos vapores.
Todos sob a frágil proteção das fortalezas da barra. Foi
quando a esquadra legal partiu do Rio de Janeiro para a
retomada do Sul.

Com a derrota do navio rebelde Aquidaban, no combate


de 16 de abril de 1894, o movimento foi debelado em
Santa Catarina e Desterro, retomada pelas tropas
federais. Braço direito de Floriano Peixoto, o temido
coronel Antônio Moreira César - cuja perversidade lhe
valeria o apelido de corta-cabeças - chegou à cidade no
dia 19. Com a função de delegado do governo federal,
assumiu o governo militar do estado no dia 22 de abril.
Chefiando com mão de ferro as forças de intervenção em
Santa Catarina, e contando com o revanchismo das
lideranças republicanas locais, Moreira César iniciou uma
violenta represália aos vencidos. Tão sangrenta como
foram as degolas praticadas no Rio Grande do Sul e no
Paraná pelos dois lados em luta.
Na caça aos revoltosos, ele e seus auxiliares praticaram
saques, estupros, incêndios e morticínio de cidadãos
indefesos. Foi um tempo de terror, silêncio e traições,
quando foram utilizadas as mais cruéis formas de coação
e tortura. A fortaleza de Anhatomirim foi o principal palco
desses acontecimentos, servindo de prisão e local de
massacre para dezenas de revoltosos, que lá foram
sumariamente fuzilados.
Um contemporâneo daqueles dias de violenta repressão
aos federalistas foi o escritor e jornalista Duarte Schutel,
que registrou: "Encheu-se de presos tudo o que podia
servir de prisão.

Os calabouços e solitárias da cadeia comum, as salas da


Câmara, o Quartel de Polícia, o de Linha e até o Teatro,
tudo foi pouco, e foi preciso remeter para os navios de
guerra os presos à medida que se enchia uma prisão,
para fazer lugar aos que chegavam. Esses que
embarcam levam destino da Fortaleza de Santa Cruz;
deles bem poucos voltaram (...) o maior número, os
outros, nunca mais regressaram dessa viagem porque
uns não chegaram e muitos ali jazem para sempre (...). A
capital catarinense viveu dias de terror, com a população
temendo sair às ruas. O silêncio, o recolhimento, o andar
soturno dos habitantes horrorizados faziam contraste
lúgubre com a algazarra e o desmando, com as
petulantes maneiras e sinistras ameaças dos selvagens
soldados, que enchiam as ruas e praças".

Os prisioneiros eram encaminhados à Anhatomirim e


ficavam encarcerados nos calabouços no Paiol da
Pólvora, na Casa do Comandante e no Quartel da Tropa.
A recomendação de Moreira César ao comandante da
Fortaleza para pô-los "em prisão segura" era uma senha
previamente combinada para os fuzilamentos. As
execuções foram comunicadas a Floriano em telegrama
de 8 de maio de 1894, que dizia: "Marechal Floriano - Rio
- Romualdo, Caldeira, Freitas e outros, fuzilados segundo
vossas ordens - Antônio Moreira César". No entanto,
nunca se conseguiu de fato provar a autenticidade desse
telegrama.

Embora não se conheça o local exato das execuções, a


Árvore dos Enforcados, um velho araçazeiro localizado
no lado sudeste da ilha, teria sido, segundo a tradição
oral, o local do enforcamento e fuzilamento de dezenas
de prisioneiros. Ao contrário do fuzilamento, o
enforcamento era considerado uma morte sem honra,
destinada a criminosos comuns. O "ajuste de contas" de
Moreira César promoveu prisões e execuções sumárias,
atingindo tanto militares quanto civis, sem nenhum tipo de
julgamento ou processo.

Por isso, o número exato de mortos nunca pôde ser


levantado. Dentre as vítimas chacinadas na fortaleza
constam o barão de Batovi, herói da Guerra do Paraguai,
vários outros oficiais que haviam assinado a ata de
rendição de Desterro e Frederico Guilherme de Lorena,
presidente do Governo Provisório. Dependendo do
historiador consultado, o número de mortos oscila entre
34 e 185 vítimas.

Muitos foram sepultados numa área gramada, no alto da


Ilha de Anhatomirim, próximo ao farolete ainda existente
na fortaleza. Outros podem ter sido jogados ao mar ou
enterrados em covas rasas em algumas praias do
continente em frente à fortaleza. Em 1913, os restos
mortais de alguns dos fuzilados em Anhatomirim foram
trazidos para o cemitério de Florianópolis e, em 1934,
transladados para o Rio de Janeiro. Na lista de vítimas,
encaminhada ao Ministério da Marinha pelo capitão dos
portos Lucas Boiteux, constavam 43 nomes. No entanto,
nunca foi revelada a fonte em que se baseou esta lista.

A culpa desse massacre não pode recair única e


exclusivamente sobre Moreira César e seus principais
auxiliares diretos, nem mesmo apenas sobre Floriano,
mandatário maior do país. Ela deve ser compartilhada
também com a classe política local e as demais
instituições organizadas da época. Quando não
compactuaram diretamente com os atos sanguinários de
Moreira César, foram, na melhor hipótese, inertes e
omissas aos seus desmandos arbitrários.

HOMENAGEM OU BAJULAÇÃO

Como golpe final na revolução, a cidade de Desterro


mudaria seu nome para Florianópolis, numa controversa
homenagem a Floriano Peixoto. Na verdade, o nome
"Desterro" não agradava aos habitantes locais. Tanto
que, em 1888, apresentara-se, na Assembléia Provincial,
uma sugestão para que "Ondina" fosse adotado como
novo nome da cidade, sem obter, no entanto, maioria
para aprovação. Em 1892, Virgílio Várzea reapresentou o
mesmo projeto, que não chegou a ser votado.

Outras denominações foram ainda propostas à época:


Nossa Senhora da Baía Dupla, Boa Vista, Ponta Alegre e
Redenção, entre outros. Finda a revolução, coube ao
desembargador Vidal Capistrano, liderando os
republicanos catarinenses, propor a mudança do nome
para "Florianópolis", num ato público em 17 de maio de
1894.

Levado à consideração de Moreira César, o assunto foi


entendido como de competência do Congresso
Legislativo, pois sendo delegado do governo da União,
tinha escrúpulos de decretar "o que tanto se almejava,
para não passar o menor vislumbre de dúvida sobre a
manifestação espontânea do povo". A proposta foi
aprovada por unanimidade pelo Legislativo e efetivada
pela Lei no 111, de 1o de outubro de 1894, sancionada já
pelo novo governador, Hercílio Luz. O artigo primeiro da
lei trazia a sucinta redação: "A actual Capital do Estado
fica, desde já, denominada Florianópolis".

Como vemos, a mudança do nome da cidade ocorreu,


não por imposição direta de Floriano ou Moreira César,
mas por uma decisão consciente e soberana das elites
políticas catarinenses - apesar de duvidosamente
democrática, em função do clima de "caça às bruxas"
ainda vigente naqueles meses.

Pode-se discutir se as motivações dessa mudança de


nome se explicam pelas intenções bajulatórias e
apressadas para homenagear a figura do dito
"consolidador da República", ou pela necessidade de
abrandar a sede de vingança de Moreira César, ou
mesmo apenas pelo sádico prazer de eternizar naquele
topônimo o golpe final sobre os federalistas vencidos.
Independentemente de tomar partido daqueles que hoje
defendem aquele batismo como uma homenagem
consolidada, merecida ou não, ou daqueles que o
refutam como uma humilhação, a ser ainda reparada, o
que importa, sem dúvida, é ter consciência e clareza
histórica dos fatos que culminaram naqueles
acontecimentos.

TORPEDOS UTILIZADOS PELA PRIMEIRA VEZ NO


BRASIL

O uso de torpedos em combate havia ocorrido somente


na Guerra da Criméia, em 1854, e na Revolta Chilena,
em 1891. Foram utilizados com êxito pela terceira vez na
história do mundo e primeira no Brasil - no combate naval
travado ao largo da Fortaleza de Anhatomirim, na baía
norte da Ilha de Santa Catarina. Entre os quatro torpedos
de 135 milímetros disparados pela esquadra legalista do
marechal Floriano Peixoto, todos do modelo B-57, de
fabricação alemã, três deles não atingiram o encouraçado
Aquidaban nem nenhum outro alvo. Um desses artefatos
foi encontrado por pescadores há alguns anos e levado
para o Museu Naval da Marinha, no Rio de Janeiro, onde
se encontra até hoje exposto no pátio daquela instituição.
Dois outros torpedos ainda permanecem no fundo do
mar, em Santa Catarina, à espera de um resgate
arqueológico.

AS MELHORES EMBARCAÇÕES DA ARMADA


BRASILEIRA
As duas embarcações mais notáveis da Armada, como
era chamada no século XIX a Marinha Brasileira, lutaram
em lados opostos durante a revolta de 1893/1894. O
caça-torpedeira Gustavo Sampaio, fabricado em aço
pelos ingleses, em 1893, era o melhor navio adquirido
pela esquadra legal. Pesava aproximadamente 498
toneladas, media em torno de 62 metros de comprimento,
chegando a desenvolver velocidade de 18 nós. Era
armado com dois canhões de 120 milímetros, e outros
quatro de 47 milímetros. Possuía ainda três tubos lança-
torpedos de 135 milímetros. O encouraçado Aquidaban,
também fabricado em aço, foi adquirido da Inglaterra em
1886. Era a principal embarcação da Marinha quando
liderou a frota revoltosa contra o governo de Floriano
Peixoto. Pesava aproximadamente 5 mil toneladas,
media em torno de 93 metros de comprimento por 17
metros de largura, chegando a desenvolver velocidade de
16 nós. Era armado com oito canhões de 225 e 140
milímetros, 11 metralhadoras de 25 milímetros, outras
cinco de 11 milímetros, além de cinco tubos lança-
torpedos. Depois de ir a pique no combate de abril de
1894, ocorrido junto à Fortaleza de Anhatomirim, em
Santa Catarina, o Aquidaban seria recuperado e
reformado na Alemanha e Inglaterra. Em janeiro de 1906,
explodiria acidentalmente numa missão de rotina,
naufragando na Ponta da Jacuacanga, em Angra dos
Reis (RJ), e levando 112 pessoas à morte.

PARA SABER MAIS


CALDAS, Cândido. História Militar da Ilha de Santa
Catarina: Notas. Florianópolis: Editora Lunardelli, 1992.
MARTINS, Hélio Leôncio. História Naval Brasileira: quinto
volume, Tomo IA. Rio de Janeiro: Ministério da
Marinha/Serviço de Documentação da Marinha, 1995.
SCHUTEL, Duarte Paranhos. A República Vista do Meu
Canto. Florianópolis: Instituto Histórico e Geográfico de
Santa Catarina, 2002.
TONERA, Roberto. Fortalezas Multimídia. Florianópolis:
Editora da UFSC, Projeto Fortalezas Multimídia, 2001
(CD-ROM).

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