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30/01/2022 17:28 Ten.

João Bezerra: O maçom que deu cabo de Lampião - Imprimir - Minuto Nordeste

20/08/2020 08:39 - Atualizado em 20/08/2020 08:53

Ten. João Bezerra: O maçom que deu cabo de


Lampião
 

Em 28 de julho de 1938, na grota de Angico, em


Sergipe, perto da divisa com o estado de
Alagoas, o bando de Lampião foi cercado por
uma força volante comandada pelo tenente
João Bezerra da Silva (1898 – 1970), pelo
aspirante Ferreira Mello e pelo sargento Aniceto
da Silva. Além de Lampião, foram mortos sua
mulher, Maria Gomes de Oliveira (c. 1911 – 1938), conhecida como Maria Bonita, e
os cangaceiros Alecrim, Colchete, Elétrico, Enedina, Luiz Pedro, Macela,
Mergulhão, Moeda e Quinta-feira. Estes foram todos decapitados.

No combate, foi morto o soldado Adrião Pedro de Souza. João Bezerra e outro
militar ficaram feridos (Jornal do Brasil, 30 de julho de 1938, na primeira coluna,
Diário de Pernambuco, 30 de julho de 1938). Eram 49 homens da volante e 36
cangaceiros. Os outros 25 cangaceiros presentes naquele dia, no local Grota de
Angicos, saíram vivos e conseguiram fugir, mais tarde alguns sendo mortos e outros
entregando-se à polícia. Foi o fim do cangaço no sertão, muito embora alguns
pesquisadores ainda considerem o fim do cangaço com a captura do cangaceiros
Corisco (Cristino Gomes da Silva Cleto, (Água Branca, 10 de agosto de 1907 –
Barra do Mendes, 25 de maio de 1940).

“O Batalhão Tenente João Bezerra da Silva – 3º BPM, de Arairaca, relata a


passagem de um dos homens que mais marcaram a briosa Polícia Militar do Estado
de Alagoas, rendendo-lhe esta justa homenagem, provocada por seu grandioso feito
histórico.

Trajetória

Nasceu no dia 24 de junho de 1898, na Serra da Colônia, Município de Afogados da


Ingazeira – Estado de Pernambuco. Seus pais: Henrique Bezerra da Silva e
Marcolina Bezerra da Silva, eram pequenos fazendeiros e tiveram sete filhos: João,
Cícero, Amaro, Manuel, José, Vitalina e Maria.

Com vontade de aprender a ler, trazia consigo sempre, uma “carta de ABC”

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(cartilha) e um “ponteiro” (lápis). Aos oito anos, já ajudava seu pai na agricultura e
na criação de animais.

Ironicamente, teria aprendido a atirar com Manoel Batista de Morais, popularmente


conhecido como Antônio Silvino, “O Rifle de Ouro”, também de Afogados da
Ingazeira/PE, que era primo de João Bezerra em segundo grau, tornando-se em um
exímio atirador.

Antonio Silvino foi conhecido no sertão como um dos homens mais valentes do
Nordeste antes de Lampião, tendo sido ainda testemunha do assassinato do
jornalista João Dantas na penitenciária de Recife, que era o assassino do ilustre
paraibano João Pessoa, contrariando a versão oficial da época de que dizia ter sido
suicídio.

Aos quatorze anos, Bezerra fugiu de casa após ter sido surrado pelo pai, por ter
desobedecido à proibição de namorar uma moça, fugindo para o Recife/PE. Já
demonstrava uma personalidade marcante, corajosa e propensa à aventura. Um
menino sertanejo, desbravando a Capital. A partir daí, foi carregador de carvão de
pedra no cais do porto; ajudante de soldado; assentador de dormentes em linha
férrea; trabalhador de pedreira e de lavoura. Após um ano, voltou para casa e
montou um comércio (uma pequena bodega), onde vendia de tudo.

No tempo em que passou com a família na sua cidade natal, realizou o incrível feito
de matar uma onça, que de tão grande assustava a todos do lugar e dizimava as
criações das fazendas, o que o tornou já famoso nas imediações onde morava,
fazendo-o receber muitos presentes dos proprietários de terra da região.

Tempos depois, foi forçado a sair do seio familiar; indo trabalhar com um dos
maiores inimigos de Lampião, o famoso Coronel José Pereira, em Princesa/PB, de
onde partiu para Maceió, no Estado das Alagoas para “sentar praça”. Iniciou sua
carreira em 1919, na Policia Militar de Alagoas, como policial contratado para
integrar as “volantes”, sendo incorporando definitivamente, em 29 de março de
1922, onde permaneceu por 35 anos e 07 meses.

Prestou serviço no 2º Batalhão de Infantaria, deslocado para Santana do


Ipanema/AL, para combater o banditismo que assolava a região sertaneja, de onde
saiu para o combate de angicos, hoje 3º Batalhão de Polícia Militar, sediado em
Arapiraca/AL.

Foi 2º Sargento em 29 de março de 1922, e 1º Tenente por merecimento em 30 de

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setembro de 1936. Teve vários encontros com os bandidos, tendo de uma feita,
morto três dos comparsas de Lampião. Sendo considerado oficial valoroso da
Polícia Alagoana e de imediata confiança do governo.

Casou-se com Cyra Gomes de Britto, em Piranhas/AL, no ano de 1935, que em


entrevista ao Jornal do Bandepe em 1985, confirma a natureza valente e perspicaz
de seu marido, que chegava a passar meses no encalço dos cangaceiros, vindo
inclusive a ignorar o nascimento de sua primeira filha, por estar em missão na
caatinga, tendo em vista ter empenhado sua palavra de capturar Lampião.

Foi Maçom, alcançando o 18° grau na instituição em que participava.

Assentamentos Militares

Foram 19 Nomeações de comando, incluindo o de Comandante da Corporação


(Apesar de não estar incluído no histórico de comandantes da Polícia Militar de
Alagoas, devendo ter assumido o Comando Geral em algum espaço entre
nomeações deixados por algum comandante entre 1950 e 1954);

12 Nomeações para delegado em diversas cidades de Alagoas, designações


concedidas após o combate em angicos.

Participação como “Chefe de Volante” por um período de 12 anos, travando 11


combates com os grupos de cangaceiros, entre eles, os chefiados por Luiz Pedro do
Retiro, Corisco, Gato, Zé Baiano, Português, Manoel Moreno, Moita Brava e por
último com o famoso Lampião, o mais importante desses combates, que foi travado
na Grota de Angicos, atual Município de Poço Redondo, estado de Sergipe, no qual
ocorreu a morte de Virgulino Ferreira da Silva (Lampião), sua companheira Maria
Gomes de Oliveira (Maria Bonita), e dos cangaceiros: Luiz Pedro, Quinta-feira,
Elétrico, Mergulhão, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete e Macela.

Participação em diversas missões fora do Estado, com os contingentes alagoanos,


entre elas: Combate à Coluna Prestes, em 1925; Deposição do governo Washington
Luís, em 1930 e Revolução Constitucionalista em 1932.

Nomeação como Prefeito Interventor da cidade de Piranhas/AL, no ano de 1933.

Durante a sua vida militar, recebeu diversos elogios por seu desempenho nas
missões em que participou, conforme foram publicados nos boletins da Policia
Militar de Alagoas. Entre eles:

Elogio do Comandante do 2º Batalhão;

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– Louvor do Coronel Lucena comandante do II Batalhão, transcrito no III item do


Boletim nº 285, do II Btl., de 17 de dezembro de 1938.

“Tendo o Sr. Capitão João Bezerra da Silva, sido desligado deste Batalhão, a fim de
assumir a função na sede do Regimento. Louvo-o pelo modo brilhante com que
soube espontaneamente cumprir as árduas missões de que foi incumbido, quando
neste batalhão, mormente na campanha contra a horda de facínoras, perturbadores
da paz sertaneja que há tanto tempo vinham sofrendo as agruras consequentes da
ação do banditismo. Este oficial, demonstrou os nobres predicados de que é
possuidor; trabalhador incansável que nunca ousou dar tréguas a tal corja,
combatendo-a bravamente até o momento máximo em que assediou com a sua
fôrça o conjunto chefiado pelo célebre “Lampeão” que não podendo vazar tal
assédio, caiu sem vida, quando para os supersticiosos já era tido como imortal“.

Elogio do Comandante da Corporação;

“Pelos bons serviços prestados à Polícia Militar de Alagoas e a todo o nordeste, não
há tributo que pague ao Coronel Bezerra, pelo que ele realizou. O Coronel Bezerra
era um militar cônscio de suas responsabilidades e tratava a todos os seus
comandados com igualdade de condições. Devido esse comportamento, diante das
tropas, que comandava no Quartel é que ele granjeou a simpatia de todos e
consequentemente foi conquistando as promoções, todas elas por relevantes
serviços prestados à nossa Polícia, ao Estado e à Nação”.

Coronel EB Carlos Eugênio Pires de Azevedo – Comandante da Polícia Militar de


Alagoas em 6/12/1970, quando da ocasião de seu sepultamento em Maceió.

Elogio do Interventor Federal;

Elogio do Governador do Estado;

Elogio do General de Exército;

Elogio do Presidente da República.

Tendo sido inclusive recebido no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, no ano de


1938, pelo então Presidente Getúlio Dorneles Vargas, que nutria grande interesse
pela campanha contra o cangaço, em virtude do sucesso da missão em Angicos.

Elogio da população de Piranhas/AL

Entre os prêmios recebidos por João Bezerra, a sua família guarda, zelosa e
orgulhosamente, a espada que ele recebeu do povo de Piranhas em 1938,
expressão de gratidão pela morte de Lampião, em cuja “Copa” está escrito: “Ao
Capitão João Bezerra pela sua bravura e heroísmo. Oferece o povo de Piranhas. ”

Foi para a reserva da Polícia Militar de Alagoas em 04 de novembro de 1955,

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quando passou a dedicar-se à agricultura e à pecuária.

Faleceu na cidade de Garanhuns/PE, no dia 04 de dezembro de 1970, vitimado por


um acidente vascular cerebral, recebendo alusões honrosas pela Câmara Municipal
daquela cidade.

Seu corpo foi velado no quartel do Comando Geral da Polícia Militar de Alagoas, e
em seguida sepultado com honras militares no mausoléu da maçonaria em Maceió,
como última homenagem da Corporação em satisfazer o pedido do próprio João
Bezerra de ser sepultado em solo alagoano. Anos mais tarde seu corpo foi
transladado para o Estado de Pernambuco, a pedido de sua família.

João Bezerra foi um perseguidor empenhado em não dar trégua aos cangaceiros,
reconhecido pelos seus pares e superiores, ao ponto de ganhar de Lampião o
apelido de “Cão Coxo”, coxo em decorrência da redução de 04 centímetros em uma
das pernas, causada por um ferimento em combate, e cão, pela valentia e destemor
que apresentava nos combates. Em entrevista dada pelo então Capitão Manuel
Neto, outro grande oficial das volantes, após a morte de Lampião, referia-se a
Bezerra dizendo: – “O Tenente João Bezerra a quem conheço pessoalmente, é um
official disposto, disciplinado e muito bem quisto no seio da Polícia Alagoana e dos
Estados vizinhos”.

Era homem obstinado, desbravador e estrategista. Cidadão honrado, decidido,


extremamente observador, perspicaz e de muita fé. Seus passos foram
cuidadosamente planejados, prevalecendo sempre a sensatez e a dignidade.
Incansável na luta contra o banditismo. Seus contemporâneos sabiam do seu
empenho, da sua responsabilidade e do seu valor: Nada em sua vida parecia ter
sido por acaso.

Frases de João Bezerra

“Soldado não briga deitado. O que eu encontrar deitado, ou outro qualquer


encontrar deitado, atire e mate que esse é covarde. Quando vocês me verem
deitado atirem em mim também.” (Frase proferida antes do confronto em Angicos).

“Para vencer os ímprobos que nos impunha um vaivém penoso, só Deus sabe o
quanto tivemos que lutar! Descrever esses sofrimentos seria dedicar centenas de
páginas ao nosso grande martírio que jaz no anonimato, morto nos segredos das
caatingas!” (Livro Como dei cabo de Lampião, de 1940).

“Soldados do Brasil! Eu vos admiro! Permiti que eu seja sangue do vosso sangue

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guerreiro, para felicidade da minha vida toda voltada à Pátria na honrosa carreira
das armas”. (Livro Como dei cabo de Lampião, de 1940).

O portal MN parabeniza a todos os militares integrantes do 3º BPM pelos serviços


prestados a cidade de Arapiraca e região. Que os bravos e honrosos militares sejam
vistos pela sociedade não apenas pelas fardas e patentes, mas como seres
humanos que ariscam suas vidas para proteger a cada cidadão, e junto a
população, construir uma sociedade mais harmônica.'. - Por Genival Silva. Fonte:
Ascom/3º BPM e http://3batalhao.blogspot.com.br/

Cap. João Bezerra era maçom – Grau 18° do R.E.A.A.

Segundo preliminares informações na internet, provas documentais e depoimento


do Irmão Paulo Britto, filho de João Bezerra, o Capitão João Bezerra da Silva foi
maçom, sendo Grau 18 do R.E.A.A., iniciado em 25 de junho 1949, com 51 anos de
idade, na Loja Maçônica Virtude e Bondade N° 0146 – GOB-AL e, inclusive,
enterrado no Mausoléu Maçônico Segredo 33, como seu último pedido,
posteriormente, a pedido da família, seu corpo foi trasladado para Pernambuco.
Este detalhe acena para o crivo legalista do homem militar, que deu cabo a Lampião
e seu bando, em 28 de julho de 1938, e do homem maçom, 11 anos após o
Combate de Angicos, na luta porfiada nessa história de combates quase
“intermináveis”, bárbaros e cruéis, entre volantes e cangaceiros na caatinga
nordestina pela ordem e legalidade.

Loja Virtude e Bondade N° 0146 – GOB-AL

Registros fornecidos, fraternalmente, pelo grande oriente do Brasil de alagoas –


Gob-AL

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O Marco do Fim do Cangaço – A Morte de Lampião

O cangaço, segundo Moacir Assunção, é um fenômeno social característico da


sociedade rural brasileira. No nordeste, existiu desde o século XVIII, quando José
Gomes, o Cabeleira aterrorizava populações rurais de Pernambuco. O movimento
atravessou o século XIX, só terminando em 25 de maio 1940, com a morte de
Corisco (1907 – 1940), sucessor de Lampião e seu principal lugar-tenente, pela
volante de Zé Rufino (Diário de Pernambuco, 1º de junho de 1940, na sexta coluna).

‘Os homens do cangaço espalhavam fama, violência e aplicavam um conceito muito


particular de justiça em sete estados do Nordeste. Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia sofriam não apenas nas mãos
desses grupos nômades, mas também com a seca, com a fome e com uma
sociedade desigual e injusta, que perpetuava um modelo pérfido de exploração do
trabalho.’ (Ângelo Osmiro Barreto in Iconografia do Cangaço, 2012).

Fonte: O Prumo de Hiram em 17 de janeiro de 2020

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