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Josélia Panichek
TANTRA YOGA
O Tantra Yoga surgiu no decorrer do primeiro século d.C. A era tantrica (500 – 1300 d.C.)
legitimou o princípio psicológico feminino (Shakti) e se tornou estilo de vida na época.
Literariamente surgiram neste período (64 Tantras). Além dos Tantras há outras obras importantes
que compõem a literatura sobre o assunto, englobando toda a tradição. Nestes textos fala-se da
criação do mundo, dos nomes e funções das divindades e de outros seres superiores. Também trata
da adoração ás deusas, de magia, feitiçaria, filosofia esotérica (mapeamento do corpo sutil ou
psíquico), despertar de kundalini, técnicas de purificação corpórea e mental, da natureza da
iluminação e da sexualidade sagrada...
Os tantras utilizaram as histórias sagradas e elementos rituais já existentes, sobretudo nas
comunidades rurais da Índia. Os seus protagonistas provinhas das castas que compõem o chão da
pirâmide social da índia (pescadores, tecelões, vendedores, lavadeiras). Este caminho deve-se a
busca de um método prático e possível de santificação que não resultasse em abandono das crenças
nas divindades locais e nos ritos muito antigos, já existentes. Alguns estudiosos atribuem o Tantra
ao tempo do surgimento dos Vedas. Os rituais tantricos surgiram a partir das tradições purânicas,
são histórias sagradas antigas em torno da qual criou-se uma teia de conhecimentos filosóficos,
mitológicos e rituais. O contexto védico dos rituais tantricos nos deixa claro que em outras épocas
as mulheres iniciadas eram fundamentais na transmissão dos seus ensinamentos. O objetivo dos
ensinamentos tantricos foi de atender a “era das trevas” que iniciou com a morte de Krishna.
Segundo o Tantra a libertação nasce através da sabedoria, firmando o praticante na
continuidade que existe entre o finito e infinito. É prática de realização onde se tem o Yoga como
elemento central.
Estatuetas antigas do império indiano evocavam posturas de Yoga. Os seus deuses possuem
atitudes meditativas. O tantra vem destas civilizações, da qual o Yoga é um ramo. Nas civilizações
neolíticas as mulheres eram valorizadas. Civilizações 7.500 anos antes da nossa era demonstram o
domínio da mulher na cultura, e também foram encontradas figuras geométricas semelhantes aos
yantras.
O significado da palavra “tantra” é “divulgar para salvar” (a raiz tan quer dizer espalhar,
divulgar; e tra salvar). Podemos entender o tantra como uma democratização do yoga.
Para o tantra até sexo foi sacramentado. Originalmente nos mostra a história que as
mulheres não eram exploradas. Os templos pertenciam às sacerdotisas. A mulher e o valor que ela
encarna são sagrados. Entretanto o bramanismo foi quem extraiu do tantra muitas práticas mágicas
e procedimentos sexuais, foram responsáveis por amoedaram o sexo no templo, e não os tântricos.
Esta introdução da sexualidade resultou em oposição nos hinduístas e budistas tradicionais, os quais
alegavam libertinagem. O tantra na índia é tido ainda com pouco apreço, quando se trata das
reuniões de esquerda (incluem ritos sexuais). São reprimidas pelo governo. Importante lembrar que
são sociedades patriarcais e que a participação da figura feminina em condição igualitária seria
quase que uma heresia.
Hatha Yoga
Asanas ou postura física – posturas do corpo que agem terapêutica e corretivamente sobre
todos os sistemas, órgãos, tecidos e funções orgânicas. Vista superficial e rapidamente por
este aspecto, Hatha Yoga tem sido confundido com uma simples ginástica.
Kriyas – técnicas de purificação do meio interno: Dauthi (limpeza), vasti ou basti, Neti,
naulli, trataka, kapala-bhati.
Nidras – relaxamento;
Mantras – sílabas ou palavras de poder (nem sempre se menciona como prática do Hatha-
Yoga, mas acredito que faça parte também deste sistema).
Kundalini Yoga
Renasceu, através dos sábios Sikhs Guru Nanak e Baba Siri Chand, uma ciência antiga que
recuperou para o cotidiano humano as técnicas do Kundalini Yoga. O Sikismo tem uma mistura da
devoção hinduísta com o sufismo mulçumano (rejeita a adoração de imagens do sistema de castas).
Portanto no sikismo rejeita-se a idolatria da divindade e proíbe a representação e a adoração de
Deus por meio de qualquer imagem que o limite. Os Sikhs praticam a igualdade e ignoram o
sistema de castas e os privilégios das classes. Amantes de Deus acionam a unidade entre os
pensamentos, palavras e realizações (sentido Bhakti muito presente). No Sikismo havia algumas
práticas fundamentais do Yoga como parte da fé.
A prática do Kundalini Yoga era feita por poucos e mantida dentro de um circulo fechado. Veio
para o Ocidente em 1969 pelo mestre Sikh Yogi Bhajan. Foi ele quem colaborou para democratizar
o fenômeno da Kundalini, divulgando e promovendo investigações científicas a respeito. Depois viu
neste fenômeno, o motor que está por trás de toda a nossa evolução psicoespiritual. A Kundalini
encontra-se em repouso na base da coluna, e deve ser despertada e estimulada. Para que isso se
realize é necessário que os caminhos e canais de energia não venham a ser interrompidos por
bloqueios e impurezas, e nem tenham zonas pelas quais a energia possa escapar. Esses canais
devem estar limpos e estáveis.
Yogi Bhajan deu nova dimensão à prática do yoga Em particular ele ensina posturas
“brancas” que tem efeito de Kundalini Yoga. É o Yoga da consciência. Segundo ele apalavra deriva
de kundala (anel) e é explicada como “um cacho dos cabelos do Bem Amado”. Ao cantar o nome
divino, queima o Karma do praticante (utiliza-se o japa). Pode-se escolher o nome divino no cantar,
porém recomenda-se sat nam explicado como a verdade manifesta. É o som criativo do Universo.
O objetivo do Kundalini Yoga é conhecer o seu pleno potencial, através da energia de
kundalini. A tarefa vitalícia dos Yoguis de Kundalini é evoluir através das variadas qualidades, e
desafios dos chakras. O despertar da Kundalini (sensações intensas de calor, luz som, pressão, e até
dor) provoca, de um ponto de vista mecânico, ondas eletromagnéticas que levam ao cérebro
experiências visíveis, audíveis, genericamente sensoriais.Os fenômenos psíquicos e místicos estão
diretamente ligados com este fato. A kundalini é responsável segundo Gopi Krisna pela genialidade,
pela loucura e pela santidade. Há técnicas e que devem ser dominadas para que este processo ocorra
de forma controlada.
No Kundalini Yoga as posturas tem uma aplicação diferente do Hatha Yoga tradicional. É
muito mais ativo. Combina postura, movimento com respiração vigorosa, para estimular a
energização dos canais e nadis. Utiliza-se também, de mantras, Yantras, relaxamentos, meditação
com mudras. Há movimentos rajásicos intercalando com outros na permanência e relaxamentos
breves. A parte respiratória é bastante solicitada, será mais explicado abaixo. Abaixo descreveremos
alguns aspectos que diferenciam e tem características bem particulares.
Para facilitar a autodisciplina aconselha-se um ambiente que favoreça os exercícios de yoga.
Deve haver um local exclusivo, que se utilize somente para isto. Decora-se o ambiente com cores
claras e agradáveis, que representem luz e pureza. A cor predileta é o branco, por ter virtudes
protetoras e sua vibração fortalecem a aura. O ideal é que o instrutor esteja num tablado na altura do
coração dos praticantes, para melhor atuação.
Os asanas são os mesmos do Hatha Yoga. Neste os exercícios são lentos, e ás vezes
estáticos. No Kundalini Yoga além dos exercícios lentos e estáticos, tem também outros muitos
dinâmicos e rápidos.
O Yoga de Kundalini recorre a uma impressionante variedade de exercícios respiratórios
alguns já são conhecidos dentro do Hatha Yoga: exercícios alternando respiração pelo nariz e pela
boca; diferentes ritmos respiratórios; com bandhas e sons sibilantes; respiração combinada com
mantras. Uma diferença típica deste sistema é a respiração que se pratica durante as séries de
posturas corporais. São feitas respirações longas e profundas nos exercícios estáticos e pouco
agitados. Outra e a respiração vigorosa e com mantra. Há também a respiração ígnea ou “de fogo”.
A respiração ígnea é um tipo de respiração rápida e ritmada movimentando exclusivamente o
ventre. Nas séries do Kundalini esta modalidade está associada a um de cada três exercícios. Serve
de suporte para os exercícios dinâmicos e os que requerem maior esforço
Em Kundalini Yoga medita-se com mantra. Sendo este um instrumento que permite orientar
o espírito da melhor maneira. Durante os exercícios de yoga ou nas posturas de meditação os
mantras são cantados ou mentalizados. Utiliza-se o mantra Sat Nam (significa verdade e
identidade). Representa a busca do que está vinculado ao corpo: mente, espírito e a reflexão sobre a
identidade divina do ser humano. Ao inalar pronuncia-se Sat e ao exalar Nam, se a respiração for
mais longa temos “saaat” e “naaam”.Cada série de exercício deve terminar com uma fase de
meditação. Intercalam-se fases de meditação para equilibrar o esforço dos hemisférios cerebrais, a
fim de processar adequadamente a energia gerada pelos exercícios.
Comentários
Segundo alguns textos nas Upanishads, vários deles tratam do Kundalini Yoga, e acaba
identificando-se ao Hatha Yoga, no que se refere ao poder serpentino, elemento central das práticas
mais avançadas. Na verdade Hatha Yoga é um tipo de Kundalini Yoga. Os sistemas de práticas são
diferentes, os três sistemas em questão atuam na questão da kundalini. Muitas vezes procedimentos
de um complementam o outro. Na pesquisa ficou constatado que no Kundalini Yoga aconselha-se
prática de exercícios do Hatha Yoga . Ex: pessoas com dificuldades para se sentar.
O Hatha yoga atinge, com maior segurança e tranqüilidade, o mesmo estado de absoluta
simplicidade, ao qual o yogue tanto aspira. As trilhas do Kundalini Yoga, que visa a realização do
potencial psicoespiritual do corpo tem sua razão de ser, pois o yoguin, não vê a realização do Si
mesmo como acontecimento separado da vida terrestre. As dificuldades do Kundalini Yoga são
compensadas pela vantagem de levar a iluminação também ao corpo e a existência física em geral,
o que se expressa na forma tantrica segundo o qual a libertação (mukti) e o gozo (bhukti) são a
mesma coisa.
No Hatha e Kundalini Yoga há mais ênfase no que se refere à busca do equilíbrio e
purificação, enfim, eliminação do ego. Não buscam os elementos mágicos, acredita-se que os
mesmos possam deixar pouco espaço para o cultivo de valores e atitudes espirituais autênticos.
Quando se dá a aquisição de poderes é fácil sucumbir à vaidade e ao endurecimento do coração. A
partir do momento que a kundalini produz os fenômenos interiores é fácil esquecer que a Kundalini
é em última análise a própria Deusa. Disse Krishna: “Podeis estar certo de que um homem que se
esforça para obter os poderes psíquicos não realiza Deus. O exercício desses poderes implica
o“ahamkara”, o egoísmo, que é um obstáculo da realização”. Mesmo não buscando tais poderes, a
dimensão mágica é parte inalienável da realidade yogue, aí entra a verdade sobre a magia.
Todos os sistemas de Yoga originaram-se no Hatha Yoga, que por sua vez teve sua origem
no tantrismo. Hatha-yoga e Kundalini Yoga são os “caminhos da mão direita”.
Deve-se seguir aquele que se adapta melhor ao perfil individual do praticante. Todos visam
equilíbrio do corpo, mente e espírito. Em relação ao asanas, por exemplo, as diferença estão na
maneira como são executados: na postura, rigidez do alinhamento, na prática de exercícios
respiratórios ou no fluir do movimento.
O Tantra aproveita todas as realidades, desde que manejadas corretamente, são formas de
energias que podem ser aproveitadas. O tantrismo merece pesquisa e estudo, podemos considera-la
de excepcional valor o para a psicologia, capaz de auxiliar os métodos utilizados para conhecer o
psiquismo humano, é o estudo do homem do ponto de vista da energia. Há muito que se desvendar.
Criticar as práticas tântricas sem um profundo estudo, considero uma atitude negligente (excluindo
práticas “negras”). No que se refere à transmutação de energia sexual, onde há muitos rituais,
práticas secretas transmitidas via oral de mestre para discípulo é muito mais abrangente e polêmico.
Acredito que tenham sua validade, desde que bem equilibradas e com disciplinado preparo. Deve-se
estar pronto... Aí está o problema... Na minha opinião se trata de um ritual de difícil assimilação
para a nossa cultura. Há várias dificuldades, primeiro encontrar o parceiro certo, depois achar um
guru e o mais difícil para o Ocidente: a não sensualidade e a sacralização do sexo. Poderá resultar
em distorções e receitas errôneas como já acontece. O radicalismo deve desaparecer, ao adorar a
Deusa podemos aprender com “Lysebeth”, que tanto a mulher quanto o homem podem vir a ser um
para o outro, no respeito mútuo, por sua identidade, sua influência e sua ação no mundo. Sem
renunciar religiões, crenças e culturas de nosso próprio meio, podemos desta forma se permitir uma
sociedade menos patriarcal e sermos felizes.
O Hatha Yoga começa o seu trabalho a partir do físico para o sutil com calma e
tranqüilidade. Acredito também ser a melhor forma de se trabalhar terapeuticamente, pois atua
diretamente no corpo, cuidando do mesmo como um santuário.
No Kundalini existem condições especiais, é o Yoga da consciência e veio de uma escola
secreta que dominavam as técnicas de se acelerar o processo para se viver dentro do Yoga.
Trabalham-se muito mais diretamente os chakras de base para atingir o seu objetivo, foca-se o
trabalho em respirações fortes e vigorosas, muitos mantras, e mudras; as seqüências das práticas são
rigorosamente determinadas. Por mais que se diga ser uma modalidade que pode ser praticada por
todos, na minha opinião é para determinados grupos. Como atuar com liberdade na forma
terapêutica, se nada pode ser mudado nas séries de exercícios, o que se permite são pequenas
adaptações.
O Hatha Yoga, o Kundalini e o Tantra levam os seus estudantes uma atitude mental de
calma, paz, força e falta de temor. Tudo isto se reflete na condição física. Ausência de medo, calma
mental é conseqüência do trabalho não havendo necessidade de esforço mental para produzi-lo.
No Tantra o guru é um mestre que possui a tradição, e possui a função de preparar o
discípulo, esclarecer dúvidas, transmitir técnicas e ensinamentos. Este aprendizado pode levar um
longo tempo. Para a nossa cultura trata-se de um assunto complicado e discutível. Percebo que no
Hatha Yoga há instrutores e orientadores, porém o guru pode se entender como sendo o “guru
supremo” a sua essência sutil.
No Kundalini Yoga a figura do guru trata-se de peça fundamental. Os instrutores seguem
suas orientações de forma rigorosa. O mestre vivo na escolha de todos os procedimentos visa evitar
abusos e tornar a prática segura. Dentro do Hatha Yoga cada instrutor determina a seqüência mais
indicada, trabalha com mais liberdade, pode escolher o mestre da sua devoção.
Não desmerecendo o Kundalini Yoga, mas a seqüência pré-determinada acaba de certa
forma por limitar o trabalho. Por exemplo: meditação com exercícios nem sempre é agradável
principalmente se houver distração, podem ocorrer desconfortos como cãibras e formigamentos
(fatos descritos no Manual do Kundalini Yoga). Para quem já pratica há um certo tempo e medita
com facilidade ótimo, mas e quem tem dificuldade com concentração e meditação? Acredito que
não se adapte a este sistema.
Acredito que o objetivo maior está em buscar a técnica mais apropriada para que o processo
espiritual aconteça de acordo com a capacidade inata de cada indivíduo. Ascese forçada, excesso de
disciplina não traz nenhum benefício algum. A iniciativa na escolha do sistema adequado deve
partir do coração. Aos mestres cabe mostrar que o tesouro tão procurado está dentro de cada um. A
aceitação do momento presente, e encontrar nele motivos para sorrir, são o melhor sistema.
No tantra se cultua vários deuses e deusas, nas suas mais variadas manifestações. E à medida
que vai para o Hatha e Kundalini Yoga, parece que vai se racionalizando o número de deuses,
reduzindo o foco desta ampla mitologia. O Kundalini Yoga veio do sikismo que descarta os deuses
vindos dos sistemas de castas.
Todas as linhas de yoga, independente da complexidade dos diversos sistemas filosóficos,
visam a libertação do mundo das formas. O objetivo final é a partir da natureza humana,
fenomênica reunir-se com sua essência divina, chegar ao Samadhi.
A estabilização da saúde e um controle mínimo desejável do físico, para estabilizá-lo parece
estar presente em todas elas, para que se consiga o controle e o domínio do processo mental, sem
isso se torna difícil alcança níveis espirituais mais elevados.
Sai Baba diz que para conquistar paz e conseguir iluminação devemos observar os “cinco
dd”: decisão, dedicação, discernimento, disciplina e devoção. Acredito, que independentes da escola
estes são fatores essências no caminho do Yoga. Com os “cinco dd” chegaremos ao objetivo final,
que SaiBaba chama de grande conquista.
BIBLIOGRAFIA
Consultas na Internet
Lysebeth, André Van – Tantra o Culto da Feminilidade, 1994, Editora Summus – São Paulo.
Weor, Samael Aun – O Livro Amarelo Kundalini Yoga, Sol Nascente Distribuidora de Livros – São
Paulo.