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07/08/2017 Você trabalha muito mais que um Servo da Idade Média

Você trabalha muito mais que um Servo da Idade Média


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14/11/2016

Antes do capitalismo, camponeses


medievais tinham mais férias que você.
Eis o motivo.
Por Lynn Parramore

A vida de um camponês medieval certamente não era um mar de rosas. Sua vida era assombrada pelo medo da
fome, doenças e eclosão de guerras. Sua dieta e higiene pessoal deixavam muito a desejar. Mas, apesar de sua
reputação de miserável, você pode invejá-lo por um motivo: suas férias.

Arar o solo e colher eram tarefas árduas, mas o camponês desfrutava de algo entre 8 semanas e metade do ano
de férias. A igreja, ciente de como impedir a população de se rebelar, forçou uma série de feriados obrigatórios.
Casamentos, velórios e nascimentos poderiam significar uma semana de folga, bebendo cerveja para comemorar,
e quando malabaristas ou eventos esportivos itinerantes vinham à cidade, o camponês contava com a folga para o
entretenimento. Havia domingos sem trabalho, e quando as épocas de aragem e colheita acabavam, o camponês
também tinha tempo para descansar. De fato, a economista Juliet Shor descobriu que, durante períodos de salário
particularmente altos, como a Inglaterra do século 14, os camponeses não poderiam trabalhar mais de 150 dias por
ano.

E quanto ao trabalhador moderno dos Estados Unidos? Depois de um ano no emprego, ele tem direito a uma
média de 8 dias de férias por ano.

Não se supunha que as coisas seriam assim. John Maynard Keynes, um dos fundadores da economia moderna,
fez uma previsão famosa de que, por volta de 2030, sociedades avançadas seriam abastadas o suficiente para que
o tempo de lazer não caracterizasse o trabalho, mas o estilos de vida nacionais. Até o momento, as projeções não
parecem boas.
07/08/2017 Você trabalha muito mais que um Servo da Idade Média

O que aconteceu? Alguns citam a vitória do modelo de oito horas de trabalho por dia, 40 horas por semana no lugar
das punitivas 70 a 80 horas semanais dos trabalhadores do século 19 como prova de que estamos na direção
certa. Mas os estadunidenses já se despediram da jornada de 40 horas há muito tempo, e a análise dos padrões
de trabalho feita por Shor revela que o século 19 foi uma aberração na história do trabalho humano. Quando os
trabalhadores lutaram pela jornada diária de oito horas, eles não estavam tentando conquistar algo radical e novo,
mas restaurar o que seus ancestrais desfrutavam antes dos capitalistas industriais e a lâmpada entrarem em cena.
Volte 200, 300 ou 400 anos e você descobrirá que a maior parte das pessoas não trabalhava longas jornadas de
maneira alguma. Além de relaxar durante longos feriados, o camponês medieval passava o tempo livre comendo, e
o dia geralmente incluía tempo para um cochilo vespertino. “O ritmo de vida era lento, até mesmo vagaroso. O
ritmo de trabalho era tranquilo”, observa Shor. “Nossos ancestrais podem não ter sido ricos, mas tinham
abundância de lazer”.

Avance para o século 21 e os Estados Unidos são o único país desenvolvido sem nenhuma política nacional de
férias. Muitos trabalhadores estadunidenses precisam continuar trabalhando nos feriados e dias de férias
frequentemente não são usados. Mesmo quando finalmente conseguimos sair em um feriado, muitos de nós
respondem e-mails e conferem se está tudo bem no trabalho quando estamos acampando com os filhos ou
tentando relaxar na praia.

Alguns culpam o trabalhador estadunidense por não fazer valer seus direitos. Mas em um período de desemprego
consistentemente alto, insegurança no trabalho e sindicatos enfraquecidos, os empregados sentem que não há
escolha além de aceitar as condições definidas pela cultura de trabalho e pelo empregador. Em um mundo de
empregos sob demanda [em inglês, at-will, modalidade de trabalho em que o empregador não precisa de
justificativa para demitir o funcionário], onde o contrato de trabalho pode ser encerrado a qualquer momento, não é
fácil fazer objeções.

É verdade que o New Deal trouxe de volta algumas condições garantidas a trabalhadores rurais e artesãos da
Idade Média, mas desde os anos 80 as coisas têm ido ladeira abaixo. Com os empregos seguros e duradouros se
esgotando rapidamente, as pessoas pulam de emprego em emprego, portanto a senioridade não traz mais os
benefícios de dias adicionais de férias. A tendência crescente de trabalhos remunerados por hora e de tempo
parcial, alimentada pela crise de 2008, significa que, para muitos, a ideia de férias garantidas é uma memória
distante.

Ironicamente, essa cultura de trabalho sem fim não ajuda muito quem está na base. Estudo após estudo aponta
que o excesso de trabalho diminui a produtividade. Por outro lado, o desempenho aumenta depois das férias e os
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trabalhadores retornam com energia e foco. Quanto maiores as férias, mais relaxadas e cheias de energia se
sentem as pessoas ao retornar ao escritório.

Crises econômicas dão a políticos porta-vozes da austeridade desculpas para falar em redução de períodos de
descanso, aumento da idade de aposentadoria e corte de programas sociais e medidas de proteção social que se
propõem a nos dar um destino melhor que trabalhar até cair.

Na Europa, onde trabalhadores têm de 25 a 30 dias de férias por ano, políticos como o presidente francês
François Hollande e o primeiro-ministro grego Antonis Samaras estão dando sinais de que a cultura de férias
mais longas está chegando ao fim. Mas a crença de que férias mais curtas trazem ganhos econômicos não
parecem razoáveis. De acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
os gregos, que enfrentam uma economia sofrível, trabalham jornadas mais longas que qualquer europeu. Na
Alemanha, uma potência econômica, trabalhadores estão do segundo ao último lugar no ranking de horas
trabalhadas. Apesar do tempo maior fora do trabalho, trabalhadores alemães ocupam o oitavo lugar em
produtividade, enquanto os gregos ocupam o 24º de um total de 25 lugares.

Além da estafa, a redução das férias faz nosso relacionamento com família e amigos sofrer. Nossa saúde está se
deteriorando: depressão e maior risco de morte estão entre os resultados de uma nação sem férias. Algumas
pessoas com visão de futuro têm tentando reverter essa tendência, como o economista progressista Robert Reich,
que defendeu a obrigatoriedade de três semanas de férias para todos os trabalhadores estadunidenses. O
congressista Alan Grayson propôs o Paid Vacation Act de 2009, mas, infelizmente, o projeto de lei sequer
chegou ao plenário do Congresso.

Por falar no Congresso, seus membros parecem ser as únicas pessoas nos Estados Unidos com tanto tempo fora
do trabalho quanto o camponês medieval. Eles tiveram 239 dias de folga este ano.

Bônus:

Link do texto original:

Evonomics – Before Capitalism, Medieval Peasants Got More Vacation Time Than You. Here’s Why.

Traduzido por Edson Cunha


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