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Informativo 1018-STF
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA
▪ É inconstitucional dispositivo da CE que confere autonomia financeira e orçamentária para a Universidade
Estadual, assim como a criação de Procuradoria Jurídica própria e a escolha do reitor sem participação do chefe
do Poder Executivo.
DIREITO ADMINISTRATIVO
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
▪ É dispensável a autorização legislativa para a alienação de controle acionário de empresas subsidiárias.
DIREITO TRIBUTÁRIO
DIREITO FINANCEIRO
▪ É inconstitucional o bloqueio ou sequestro de verba pública, por decisões judiciais, de empresa estatal prestadora
de serviço público em regime não concorrencial e sem intuito lucrativo primário.
DIREITO CONSTITUCIONAL
AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA
É inconstitucional dispositivo da CE que confere autonomia financeira e orçamentária para a
Universidade Estadual, assim como a criação de Procuradoria Jurídica própria e a escolha do
reitor sem participação do chefe do Poder Executivo
Importante!!!
É inconstitucional emenda à Constituição Estadual que confere autonomia financeira e
orçamentária próprias de órgãos de Poder à universidade estadual.
É constitucional o repasse de recursos orçamentários para universidade estadual na forma de
duodécimos.
Não pode o Estado-membro, por meio de sua Constituição ou legislação, instituir procuradoria
jurídica própria para universidade estadual.
É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que preveja que a Universidade
Estadual escolherá seu reitor sem qualquer participação do Chefe do Poder Executivo no
processo.
Também é inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que preveja iniciativa
privativa da Universidade Estadual para propor projeto de lei que disponha sobre sua
estrutura e funcionamento administrativo, bem como sobre suas atividades pedagógicas.
STF. Plenário. ADI 5946/RR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/5/2021 (Info 1018).
A então Governadora propôs uma ADI contra a referida emenda, arguindo, em síntese,
inconstitucionalidade formal por vício de iniciativa e inconstitucionalidade material por quebra do
princípio da simetria.
Antes do término de seu mandato, a então Governadora encaminhou nova proposta de emenda
constitucional à Assembleia Estadual com conteúdo idêntico ao da emenda impugnada, suprindo o vício
de iniciativa. A proposição foi aprovada (EC 61/2018).
O novo Governador do Estado, em aditamento à inicial, solicitou a continuidade da ação direta de
inconstitucionalidade em relação à EC 61/18, de idêntico conteúdo à citada EC 59/2018.
A Universidade Estadual de Roraima, que defendia a constitucionalidade do ato, sustentou a
impossibilidade de aditamento da inicial e pediu a extinção da ação por perda de objeto.
O que acontece se o ato normativo impugnado por meio de ADI é alterado antes do julgamento da
ação?
O autor da ADI deverá aditar a petição inicial demonstrando que a nova redação do dispositivo impugnado
apresenta o mesmo vício de inconstitucionalidade que existia na redação original. Em outras palavras, ele
informa ao STF que houve a alteração legislativa, mas que, apesar disso, a nova redação continua
contrariando a Constituição Federal.
Nesse sentido:
A revogação, ou substancial alteração, do complexo normativo impõe ao autor o ônus de apresentar
eventual pedido de aditamento, caso considere subsistir a inconstitucionalidade na norma que promoveu
a alteração ou revogação.
Se o autor não fizer isso, o STF não irá conhecer da ADI, julgando prejudicado o pedido em razão da perda
superveniente do objeto.
STF. Plenário. ADI 1931/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 7/2/2018 (Info 890).
O que acontece caso o ato normativo que estava sendo impugnado na ADI seja revogado antes do
julgamento da ação?
Regra: haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI 1203).
Exceção 1: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique demonstrado
que houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi revogada de forma proposital a fim de evitar que
o STF a declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por ela produzidos (STF ADI 3306).
Exceção 2: não haverá perda do objeto se ficar demonstrado que o conteúdo do ato impugnado foi
repetido, em sua essência, em outro diploma normativo. Neste caso, como não houve desatualização
significativa no conteúdo do instituto, não há obstáculo para o conhecimento da ação (STF ADI 2418/DF,
Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 4/5/2016. Info 824).
Exceção 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado previamente que houve a
revogação da norma atacada. Nesta hipótese, não será possível reconhecer, após o julgamento, a
prejudicialidade da ADI já apreciada (STF. Plenário. ADI 951 ED/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
27/10/2016. Info 845).
Autonomia didático-científica
É a essência da Universidade, que representa um espaço livre para pensar, discutir e rediscutir ideias e
ideais, bem como para produzir conhecimento, fazer ciência e, assim, impulsionar a justiça social e o
desenvolvimento nacional.
A autonomia didático-científica acarreta um duplo dever do Estado. De um lado, significa que o Poder
Público não pode violar sua autonomia. De outro, representa o dever do Estado de garantir ações positivas
que possibilitem recursos suficientes para a efetivação de suas garantias.
Autonomia administrativa
Como consequência e condição da autonomia didático-científica, as Universidades gozam de autonomia
administrativa, isto é, a garantia de que as providências administrativas necessárias à concreção da
liberdade acadêmica possam ser adotadas sem a interferência indevida do Estado.
Apesar disso, vale ressaltar que as Universidades públicas se submetem às regras presentes na
Constituição e nas leis. Além disso, estão sujeitas ao controle dos órgãos de fiscalização, de modo que não
estão livres dos limites constitucionais e legais impostos à Administração Pública.
podendo os Entes federados, respeitada a competência privativa do Chefe do Poder Executivo, escolher
modelo diferente do previsto para a União, como uma forma de aprimoramento da gestão Universitária.
O art. 207 da CF/88 não determina que as Universidades recebam seu orçamento na forma de
duodécimos. Mas, ao se fazer uma interpretação sistemática da Constituição, não se encontra uma
vedação para que as Universidades recebam os repasses orçamentários na forma de duodécimos.
Assim, desde que respeitada a competência do Chefe do Poder Executivo para propor o modelo de
repasse de recursos, o repasse orçamentário por duodécimos encontra-se dentro da margem de
discricionariedade conferida aos Estados e Municípios para desenhar o arranjo institucional que melhor se
adeque às necessidades de suas Universidades.
Resumindo este segundo ponto:
É constitucional o repasse de recursos orçamentários para universidade estadual na forma de
duodécimos.
STF. Plenário. ADI 5946/RR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/5/2021 (Info 1018).
Desse modo, não pode o Estado-membro, por meio de sua Constituição ou legislação, instituir
procuradorias jurídicas próprias para a administração indireta.
As Universidades Estaduais possuem natureza jurídica de autarquia ou de fundação, integrando, portanto,
a Administração Pública indireta. Logo, a representação judicial e a consultoria jurídica das universidades
estaduais deve ser feita pela PGE.
Atenção. É possível que a lei determine que o cargo de Procurador-Geral da Universidade seja um cargo
em comissão, de livre nomeação e exoneração, podendo ser nomeado um jurista que não integre os
quadros da Procuradoria do Estado. É o entendimento do STF sobre o tema:
É constitucional lei estadual que preveja o cargo em comissão de Procurador-Geral da universidade
estadual. Esta previsão está de acordo com o princípio da autonomia universitária (art. 207 da CF/88).
STF. Plenário ADI 5262 MC/RR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 27 e 28/3/2019 (Info 935)
O que não pode é a criação de uma Procuradoria jurídica incumbida da representação judicial e da
consultoria jurídica da Universidade estadual.
Resumindo este terceiro ponto:
Não pode o Estado-membro, por meio de sua Constituição ou legislação, instituir procuradoria jurídica
própria para universidade estadual.
STF. Plenário. ADI 5946/RR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/5/2021 (Info 1018).
DIREITO ADMINISTRATIVO
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
É dispensável a autorização legislativa para a alienação
de controle acionário de empresas subsidiárias
Para entendermos esse julgado, é necessário previamente relembrarmos o que decidiu o STF na ADI 5624.
Obs: também se submete ao regime desta Lei a sociedade, inclusive a de propósito específico, que seja
controlada por empresa pública ou sociedade de economia mista (art. 1º, § 6º).
Empresa pública
Empresa pública é...
- a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado,
- com criação autorizada por lei e
- com patrimônio próprio,
- cujo capital social é integralmente detido pela União, pelos Estados, pelo DF ou pelos Municípios.
Observação importante:
É permitido que uma empresa pública seja formada por mais de um ente (ex: União e Estado-membro) ou
entidade (ex: Estado-membro e empresa pública federal). Veja o que diz a Lei:
Art. 3º (...)
Parágrafo único. Desde que a maioria do capital votante permaneça em propriedade da União, do
Estado, do Distrito Federal ou do Município, será admitida, no capital da empresa pública, a
participação de outras pessoas jurídicas de direito público interno, bem como de entidades da
administração indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Art. 61 (...)
§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
(...)
II - disponham sobre:
(...)
b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e
pessoal da administração dos Territórios;
(...)
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto no
art. 84, VI;
No entanto, a doutrina e o STF, interpretando esse dispositivo, afirmam que a criação das subsidiárias não
precisa de autorização legislativa específica. Basta uma autorização genérica, que pode estar na lei que
autorizou a criação da empresa estatal matriz. Ex: uma lei específica autorizou a instituição da sociedade
de economia mista “XXX”. No corpo desta lei há uma previsão afirmando que essa sociedade de economia
mista “XXX” poderá instituir empresas subsidiárias ou controladas. Essa autorização “genérica” já é
suficiente e, assim, a sociedade “XXX” poderá criar quantas subsidiárias ou controladas quiser.
Foi como decidiu o STF:
(...) 2. É dispensável a autorização legislativa para a criação de empresas subsidiárias, desde que haja
previsão para esse fim na própria lei que instituiu a empresa de economia mista matriz, tendo em vista que a
lei criadora é a própria medida autorizadora. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.
STF. Plenário. ADI 1649, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgado em 24/03/2004.
Lei nº 13.303/2016
A Lei nº 13.303/2016 criou:
• novas hipóteses de licitação dispensável, previstas no art. 29; e
• novas situações em que a licitação é inexigível, elencadas no art. 30.
Vale ressaltar que essas hipóteses somente se aplicam para as empresas públicas, sociedades de economia
mista e suas subsidiárias, nos termos do art. 1º da Lei nº 13.303/2016.
Assim, uma autarquia, por exemplo, não poderá se valer dos arts. 29 e 30 da Lei nº 13.303/2016.
(...)
XVIII - na compra e venda de ações, de títulos de crédito e de dívida e de bens que produzam ou
comercializem.
Considera-se alienação qualquer forma de transferência total ou parcial de ativos para terceiros.
ADIs
Foram propostas algumas ADIs contra esse art. 29, XVIII, da Lei nº 13.303/2016 e o Plenário do STF julgou
a medida cautelar.
O STF concedeu parcialmente a medida cautelar para conferir ao art. 29, XVIII, da Lei nº 13.303/2016,
interpretação conforme à Constituição Federal, assentando as seguintes conclusões sobre esse dispositivo:
1) a alienação do controle acionário de empresas públicas e sociedades de economia mista exige
autorização legislativa e licitação;
2) a exigência de autorização legislativa, todavia, não se aplica à alienação do controle de suas subsidiárias
e controladas. Nesse caso, a operação pode ser realizada sem a necessidade de licitação, desde que siga
procedimentos que observem os princípios da administração pública inscritos no art. 37 da CF/88,
respeitada, sempre, a exigência de necessária competitividade.
STF. Plenário. ADI 5624 MC-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 5 e 6/6/2019 (Info 943).
Assim, como a perda do controle acionário é equiparado à extinção da sociedade de economia mista, essa
operação precisa de autorização legislativa.
O STF possui, portanto, julgados afirmando ser imprescindível a autorização legislativa para que ocorra a
transferência do poder de controle de sociedades de economia mista. Nesse sentido:
O Estado não pode abrir mão da exploração de determinada atividade econômica, expressamente
autorizada por lei, sem a necessária participação do Parlamento, porque a decisão não compete apenas ao
chefe do Poder Executivo.
Entendi o motivo de se exigir autorização legislativa. Mas, e por que é necessária a licitação para a
alienação do controle acionário? Por que não se aplica a dispensa do art. 29, VIII, da Lei nº 13.303/2016?
O art. 4º, I e § 3º, da Lei nº 9.491/97, ainda vigente, exige, nos procedimentos de desestatizações, que a
alienação de participação societária, inclusive de controle acionário, seja feito por meio de licitação.
Essa disposição da Lei nº 9.491/97 é mais consentânea com a vontade do legislador constituinte.
“Nesse sentido, permitir a venda direta de ações, em montante suficiente a perder o controle societário
de empresa estatal, de maneira a impossibilitar a concorrência pública, poderia atentar contra o texto
constitucional, o qual consigna que as alienações serão realizadas ‘mediante processo de licitação pública
que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes’ (art. 37, XXI).” (Min. Ricardo Lewandowski).
Cumpre ressaltar, mais uma vez, que a licitação é dispensada quando a alienação das ações não importar a
perda de seu controle acionário.
E as subsidiárias e controladas?
Quanto às subsidiárias e controladas, o STF não fez as mesmas exigências.
O STF decidiu que não se exige autorização legislativa para a alienação do controle das subsidiárias e das
controladas pertencentes às empresas públicas ou sociedades de economia mista.
Além disso, a alienação do controle das subsidiárias e das controladas não precisa de prévia licitação,
sendo indispensável, no entanto, que essa alienação cumpra procedimentos que observem os princípios
da administração pública inscritos no art. 37 da CF/88, respeitada, sempre, a exigência de necessária
competitividade.
Por que existe esse tratamento diferenciado para a alienação do controle societário das subsidiárias e
controladas?
Porque, conforme já foi explicado mais acima, é desnecessária a autorização legislativa expressa para a
criação de subsidiárias quando houver autorização legislativa da criação de empresa pública ou sociedade de
economia mista e nesta constar permissão genérica da possibilidade de criação de subsidiárias (ADI 1649).
Assim, não se exige lei específica para autorizar a criação de subsidiária e, pelo princípio do paralelismo
das formas, também não se exige lei específica para a sua alienação.
A arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) é uma ação prevista no art. 102, § 1º, da
CF/88. Confira:
CF/Art. 102 (...)
§ 1º A arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será
apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei.
O teto constitucional remuneratório não incide sobre os salários pagos por empresas públicas
e sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que não recebam recursos da Fazenda
Pública.
Veja o que diz o § 9º do art. 37 da CF/88: “O disposto no inciso XI aplica-se às empresas
públicas e às sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem recursos da
União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento de despesas de
pessoal ou de custeio em geral.”
STF. Plenário. ADI 6584/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/5/2021 (Info 1018).
O Governador do Distrito Federal ajuizou ADI contra essa emenda alegando que, segundo a CF/88, o teto
remuneratório não se aplica para empresas públicas e sociedades de economia mista que não recebam
financiamento público para pagamento de despesas com pessoal ou custeio em geral. Logo, ao ampliar a
incidência do teto para todas as empresas estatais, a emenda teria violado a Constituição Federal.
Teto remuneratório
A CF/88 prevê, em seu art. 37, XI, o chamado “teto remuneratório”, ou seja, o valor máximo que os
agentes públicos podem receber no país. O objetivo do constituinte foi o de evitar que alguns agentes
públicos recebessem os chamados “supersalários”, que são incompatíveis com o serviço público.
Além de um teto geral (nacional), o dispositivo constitucional prevê limites específicos para o âmbito dos
Estados e Municípios (chamados de subtetos).
O teto geral do serviço público no Brasil é o subsídio dos Ministros do STF que, atualmente, está em R$
39.293,32 (bruto), conforme prevê a Lei nº 13.752/2018.
Informativo 1018-STF (28/05/2021) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14
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comentado
Interpretação conforme
Com base nesse entendimento, o Plenário do STF, por maioria, julgou procedente o pedido formulado em
ação direta para declarar a inconstitucionalidade da Emenda à Lei Orgânica do Distrito Federal (LODF)
99/2017 e dar interpretação conforme à Constituição ao art. 19, X, da LODF, de modo que a expressão
“empregos públicos” se limite às entidades que recebam recursos do Distrito Federal para pagamento de
despesas de pessoal ou de custeio em geral.
Importante!!!
Não ofende a ordem constitucional determinação judicial de que a União proceda aos cálculos
e apresente os documentos relativos à execução nos processos em tramitação nos juizados
especiais cíveis federais, ressalvada a possibilidade de o exequente postular a nomeação de
perito.
STF. Plenário. ADPF 219/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 20/5/2021 (Info 1018).
Execução invertida
O CPC prevê que a execução contra a fazenda pública deverá ser deflagrada por iniciativa do credor
(exequente), que apresentará os cálculos do valor que entende devido. Nesse sentido, confira o que diz o
art. 534 do CPC:
Art. 534. No cumprimento de sentença que impuser à Fazenda Pública o dever de pagar quantia
certa, o exequente apresentará demonstrativo discriminado e atualizado do crédito contendo:
I - o nome completo e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro
Nacional da Pessoa Jurídica do exequente;
II - o índice de correção monetária adotado;
III - os juros aplicados e as respectivas taxas;
IV - o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizados;
V - a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;
VI - a especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados.
Ocorre que se percebeu que, na maioria das vezes, o credor é pessoa que dispõe de poucos recursos e que
não tem quem possa fazer esses cálculos. Essa realidade se mostra ainda mais evidente no caso dos
Juizados Especiais Federais. Pensando nisso, alguns juízes dos Juizados Especiais idealizaram uma
adaptação do procedimento, que ficou conhecida como “execução invertida”.
A execução invertida, em palavras simples, consiste no seguinte: havendo uma decisão transitada em
julgado condenando a Fazenda Pública ao pagamento de uma quantia considerada como de “pequeno
valor”, o juiz do Juizado Especial Federal intima o Poder Público (devedor) para que este elabore a planilha
de cálculos com o valor que é devido e apresente isso nos autos para análise do credor. Caso este
concorde, haverá o pagamento voluntário da obrigação e a execução se encerra rapidamente.
O ônus de preparar esses cálculos e pedir a execução seria do particular (credor). No entanto, com essa
sistemática, há uma inversão desse ônus, de forma que a própria Fazenda Pública, mesmo sendo a
devedora, é quem apresenta os cálculos da quantia devida. Vale ressaltar que esses cálculos, obviamente,
deverão ser realizados segundo os parâmetros que foram fixados pelo juízo na sentença/acórdão (título
executivo judicial).
A execução invertida é amplamente admitida nos Juizados Especiais Federais. Nesse sentido:
Enunciado nº 129 do FONAJEF: Nos Juizados Especiais Federais, é possível que o juiz determine que o
executado apresente os cálculos de liquidação.
ADPF
A União ajuizou uma ADPF para questionar decisões dos Juizados Especiais Federais do Rio de Janeiro que
impuseram a ela o dever da execução invertida, isto é, o dever de apurar ou indicar, nos processos em que
figure como ré ou executada, o valor devido à parte autora.
Informativo 1018-STF (28/05/2021) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16
Informativo
comentado
O STF acolheu o argumento da União? É inconstitucional a exigência feita pelo juízo no sentido de que a
Fazenda Pública apresente os documentos e faça os cálculos do quanto terá que pagar?
NÃO.
Não ofende a ordem constitucional determinação judicial de que a União proceda aos cálculos e
apresente os documentos relativos à execução nos processos em tramitação nos juizados especiais
cíveis federais, ressalvada a possibilidade de o exequente postular a nomeação de perito.
STF. Plenário. ADPF 219/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 20/5/2021 (Info 1018).
O STF considerou legítima a determinação de que, em decisões judiciais proferidas pelos Juizados Especiais
Federais, a União efetue os cálculos para a execução das verbas devidas nas ações em que for condenada.
Entre os princípios que regem o microssistema processual dos juizados especiais federais — versados na
Lei nº 9.099/95 e na Lei nº 10.259/2001 — estão os da simplicidade, da economia processual e da
celeridade. A legislação potencializa o acesso à Justiça.
Em regra, é do credor a iniciativa nas execuções civis, cabendo-lhe instruir a execução com os cálculos da
obrigação materializada no título. Apesar disso, não há vedação legal a que se exija a colaboração do
executado, principalmente quando se trata de ente da Administração Pública federal.
No âmbito dos juizados especiais federais, tudo indica ser possível a inversão da ordem. A relação
estabelecida entre o particular que procura o juizado e a União é, evidentemente, assimétrica. Logo,
impõe-se potencializar os poderes conferidos pelo CPC ao magistrado para restabelecer a efetiva
igualdade entre as partes.
A leitura atual do papel exercido pela Administração Pública dá primazia ao interesse público primário. A
própria legislação dos juizados pressupõe que a Administração agirá no intuito de buscar a efetividade dos
direitos dos administrados.
Exigir que exista sempre a intervenção de perito designado pelo juízo revela incompatibilidade com os
princípios da economia processual, da celeridade e da efetividade do processo.
A nomeação de perito representa custo ao Erário com os honorários correspondentes.
Além disso, os cálculos efetuados deverão ser posteriormente revistos pela própria Administração
fazendária a fim de verificar o acerto do valor apurado.
De igual modo, se o exequente apresentar valor excessivo, caberá à Fazenda declarar de imediato o valor
que entenda correto.
Logo, como a Fazenda Pública terá que sempre analisar o valor, melhor que já faça isso de início,
facilitando todo o processo.
Acrescente-se, ainda, que, em última análise, o dever de colaboração imputável ao Estado decorre dos
princípios da legalidade, da moralidade, da eficiência, e do subprincípio da economicidade.
Obs: vale ressaltar que, apesar de a tese fixada pelo STF falar apenas em União, é possível que seu
raciocínio seja também aplicado para as entidades federais, como o INSS, e para os outros entes
federativos, como Estados, DF e Municípios.
DIREITO TRIBUTÁRIO
DIREITO FINANCEIRO
É inconstitucional o bloqueio ou sequestro de verba pública, por decisões judiciais, de empresa
estatal prestadora de serviço público em regime não concorrencial e sem intuito lucrativo primário
Mas essas decisões não poderiam ser impugnadas individualmente? Ex: não seria possível que o Estado
interpusesse recursos contra essas decisões da Justiça do Trabalho?
SIM. Essas decisões podem ser impugnadas individualmente.
Superada a questão do cabimento, vamos ao mérito. Essa constrição das verbas públicas foi uma
medida acertada? As decisões da Justiça do Trabalho foram mantidas?
NÃO.
É inconstitucional o bloqueio ou sequestro de verba pública, por decisões judiciais, de empresa estatal
prestadora de serviço público em regime não concorrencial e sem intuito lucrativo primário.
STF. Plenário. ADPF 616/BA, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 21/5/2021 (Info 1018).
A EMBASA é uma empresa estatal que desempenha serviço público essencial de saneamento básico (art.
23, IX, CF/88), compreendendo a captação, tratamento e distribuição de água, bem como a coleta,
transporte, tratamento e destinação adequada de esgoto, em regime não concorrencial e sem intuito
lucrativo primário.
Desse modo, o bloqueio e a penhora dos recursos da EMBASA violam:
• o sistema constitucional de precatórios;
• o princípio da legalidade orçamentária;
• o princípio da separação dos Poderes; e
• o princípio da eficiência administrativa.
Precatório
A jurisprudência do STF afirma que o regime constitucional dos precatórios deve ser aplicado também
para as empresas estatais que prestam serviço público em regime não concorrencial e sem intuito
lucrativo primário.
Logo, as decisões judiciais que determinam o bloqueio e o sequestro de verbas dessas empresas são
inconstitucionais por violarem o regime de precatórios (art. 100 da CF/88).
Em suma:
Os recursos públicos vinculados ao orçamento de estatais prestadoras de serviço público essencial, em
regime não concorrencial e sem intuito lucrativo primário, não podem ser bloqueados ou sequestrados
por decisão judicial para pagamento de suas dívidas, em virtude do disposto no art. 100 da CF/1988, e
dos princípios da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF), da separação dos poderes (arts. 2°, 60, §
4°, III, da CF) e da eficiência da administração pública (art. 37, caput, da CF).
STF. Plenário. ADPF 616/BA, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 21/5/2021 (Info 1018).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente arguição de
descumprimento de preceito fundamental. Vencido o ministro Marco Aurélio.
EXERCÍCIOS
OUTRAS INFORMAÇÕES
3 INOVAÇÕES NORMATIVAS STF
RESOLUÇÃO STF 733 de 20.5.2021 - Torna público o Quadro de cargos efetivos dos servidores do Supremo Tribunal
Federal.
RESOLUÇÃO STF 734 de 24.5.2021 - Altera a Resolução 638/2019.
Citação da fonte:
O Informativo original do STF é uma publicação elaborada Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão
da Informação da Corte na qual são divulgados resumos das teses e conclusões dos principais julgamentos
realizados pelo STF.
O Informativo comentado do Dizer o Direito tem por objetivo apenas explicar e sistematizar esses julgados.
Vale ressaltar que os argumentos expostos foram construídos nos votos e debates decorrentes dos
julgados. Portanto, a autoria das teses e das razões de convencimento são dos Ministros do STJ e do STF,
bem como de sua competente equipe de assessores.
INFORMATIVO STF. Brasília: Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Altos Estudos, Pesquisas e Gestão da
Informação. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/textos/verTexto.asp? servico=informativoSTF.