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resumos de

APLICADA À ODONTOLOGIA
Julia Maldonado Garcia | Odontologia | ufsc
Fármacos: substância química ativa de constituição defi-
nida usada terapeuticamente como agente preventivo,
curativo ou diagnóstico.
- Possui capacidade de interagir com os receptores para
alterar processos fisiológicos e bioquímicos já existentes,
ou seja, não cria processos novos.
- Exemplos: adrenalina pode causar uma vasoconstrição,
23 fev 21 assim, altera o processo fisiológico de contração e relaxa-
Aula 01 – Introdução à Farmacologia mento de vasos. Aspirina (ácido acetilsalicílico) bloqueia
Prof. Juliano Ferreira o processo bioquímico de síntese de prostaglandinas.

Importância da Farmacologia Medicamento: formulação farmacêutica que contém um


A farmacologia é uma importante ferramenta para que o ou mais fármacos administrados com a intenção de pro-
odontólogo possua abordagens racionais da terapêutica duzir efeito terapêutico.
e do uso seguro de fármacos. Há problemas no uso dos - Costuma conter excipientes, substâncias inativas que
medicamentos por dentistas, por exemplo, medicamen- tornam seu uso mais conveniente.
tos prescritos por dentistas e medicamentos que o paci- - Exemplos: comprimidos ou xarope, líquido para produ-
ente já utiliza que podem interagir com fármacos que o ção de gotas, líquido, creme, gel...
dentista prescreve. Assim, a farmacologia é uma ferra-
menta para boas abordagens da terapêutica e para que Tipos de medicamentos no mercado
possa fazer uso seguro dos fármacos.
Medicamento de referência: produto inovador registrado
Exemplo de notícia: “Mulher de 47 anos morre em con- no órgão federal responsável pela vigilância sanitária e
sultório odontológico em Betim durante consulta. De comercialização no país. A eficácia, a qualidade e a segu-
acordo com a PM, a paciente foi anestesiada, se sentiu rança desse medicamento foram comprovadas cientifica-
mal e morreu logo em seguida”. mente junto ao órgão federal competente.
- No Brasil, registrado na Anvisa.
Farmacologia - Geralmente, o primeiro que foi desenvolvido possui pro-
Ramo da medicina que lida com os usos, efeitos e modo teção de patente, assim, fica com exclusividade de mer-
de ação dos fármacos. Assim, pharmacon = fármaco, lo- cado por alguns anos ou até que seja quebrada a patente.
gos = estudo. Portanto, farmacologia é o estudo de como
as substâncias químicas interagem com organismos vivos. Medicamento genérico: contém o mesmo fármaco, na
mesma dose e na mesma forma farmacêutica. É adminis-
Conceito – fármaco, remédio, droga e medicamento trado pela mesma via com a mesma indicação de referên-
cia. Apresenta a mesma segurança que o medicamento
Remédio: qualquer substância/recurso usado para tratar de referência podendo ser intercambiável.
uma doença ou manter um estado adequado de saúde. - Passa por um teste de bioequivalência que mostra que
- Medicamentos e fármacos são remédios, mas os remé- ele é tão bom quanto o medicamento de referência.
dios não são necessariamente medicamentos e fármacos. - A diferença entre um genérico e um de referência é o
- Exemplos: fisioterapia, massagem, musicoterapias, tera- preço, os medicamentos de referência tendem a ser mais
pias não farmacológicas que podem ser utilizadas farma- caros por serem os primeiros a serem produzidos.
cologicamente. - Embalagem apresente obrigatoriamente tarja genérica.

Droga: qualquer substância química, de origem sintética Medicamento similar: contém o mesmo fármaco, apre-
ou natural, que modifica a função fisiológica com inten- senta a mesma concentração, forma farmacêutica, via de
ção benéfica ou diversa. administração, posologia e indicação terapêutica.
- Intenção benéfica: terapêutica ou experimental. - Equivalente ao medicamento registrado no órgão fede-
- Intenção diversa: recreativa. ral responsável pela vigilância sanitária.
- Exemplos: cocaína, pode ser um anestésico local (inten- - É equivalente quimicamente, mas pode diferir em carac-
ção farmacológica) ou pode ser usada de maneira recre- terísticas como tamanho, recipiente, forma do produto,
ativa, como uma droga. prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e
veículo.
- Não são obrigatoriamente submetidos a teste de bioe- 3. Teste clínico (fase 1): as substâncias testadas e aprova-
quivalência, por conta disso, não se pode garantir a inter- das na última etapa, agora, serão testadas em voluntários
cambiabilidade como acontece com genéricos. humanos sadios.
- É identificado por marca ou ramo comercial. * Nessa etapa, são observados os efeitos nas funções cor-
- Exemplo: Dicoflenato potássio – cataflan. porais, a dosagem e a farmacocinética são definidas.
* Continuam sendo drogas ainda.
A sugestão é de, sempre que possível, usar medicamen-
tos genéricos. São mais baratos e intercambiáveis com 4. Teste clínico (fase 2): a substância começa a se tornar
medicamentos de referência, já que foram submetidos a um fármaco. Agora, é testado em pacientes selecionados,
testes de bioequivalência e só diferem em não possuírem não mais sadios, que apresentem a doença para a qual
a “marca” dos medicamentos de referência. quer se indicar esse fármaco.
* Observa-se o efeito sobre a doença, sobre a segurança
Desenvolvimento da Farmacologia desse fármaco e são estabelecidos mais aspectos sobre
Terapêutica: em 3000 a. C, com o surgimento da terapêu- dosagem e farmacocinética.
tica, poções mágicas e remédios à base de erva eram uti-
lizadas para tratar doenças. Com o passar do tempo, a te- 5. Teste clínico (fase 3): os testes são realizados com gru-
rapêutica se desdobrou em 3 áreas: pos de pacientes de diferentes centros de pesquisa, em
mais de um hospital, cidade ou clínica. O teste estabelece
1 Comércio, 1600 d. C, os boticários comercializavam uma comparação do tratamento padrão ou placebo com
aquilo que produziam, depois dando origem a indústria o novo fármaco, para averiguar se ele é melhor que o pla-
farmacêutica e, posteriormente, aos fármacos sintéticos. cebo ou que um fármaco já existente no mercado.
2 Ciências biomédicas, entre 1800 e 1900.
3 Química, por volta de 1800, representou um grande 6. Aprovação e registro: um dossiê dos resultados de to-
salto com estudo de produtos naturais, isolamento de das as fases é enviado para agencia regulatória.
princípios ativos e estudo da estrutura química dos com- * Aproximadamente 1 fármaco que chega é aprovado.
ponentes das plantas, e, posteriormente, com a química
7. Testes clínicos (fase 4): após aprovação e registro, ini-
sintética, estruturas elucidadas e caracterizadas permi-
cia-se o período de farmacovigilância. Os testes conti-
tindo o uso dessas substâncias quimicamente.
nuam sendo feitos e observa-se o comportamento e os
efeitos do fármaco em uma grande população.
Ciências biomédicas, química e a indústria farmacêutica,
juntos à patologia, fisiologia, bioquímica, biologia mole-
Todo esse processo de testagem é muito extenso. Da sín-
cular e mais muitas áreas, deram origem à Farmacologia.
tese de novos compostos químicos até o teste clínico de
fase 4, demora cerca de 10 anos. É um processo muito
Desenvolvimento dos fármacos
caro e com muitas etapas. Em situações excepcionais,
O desenvolvimento dos fármacos passa por um longo pe-
como por exemplo, a necessidade de uma vacina para
ríodo de várias fases de estudos e testes até a aprovação.
combater uma pandemia (Covid19), há mais investi-
mento e o processo é acelerado, antecipando, até
1. Primeiro, há síntese de novos compostos químicos ou
mesmo, o processo de aprovação e registro pelas agên-
isolamento de compostos já existentes (ex: de plantas).
cias regulatórias, assim, o fármaco pode ser desenvolvido
* Aproximadamente 10 mil substâncias.
em 3 a 4 anos, ainda um tempo longo.
2. Testes pré-clínicos: partindo das 10 mil substâncias sin-
Fatores entre dose prescrita e efeito dos fármacos
tetizadas ou isoladas, algumas passam por testagens pré-
clínicas. Ou seja, são testadas em animais ou em culturas Há muitos aspectos entre a prescrição de uma dose do
em células in vitro, em tubos de ensaio. fármaco e seu efeito. Por exemplo, o fármaco adequado
* Esses testes têm como objetivo observar os efeitos dos pode ter sido prescrito na dose adequada, na posologia
compostos (que anda não são fármacos). Por exemplo, indicada, porém, o paciente pode simplesmente não ter
como interagem com as funções orgânicas, se há alguma acesso ao medicamento, seja financeiramente ou pela in-
toxicidade, quais os mecanismos de ação. disponibilidade, assim, a dose prescrita não obtém efeito.
* Testes em animais: especialmente roedores, cães e ma- Assim, há um caminho entre dose e efeito:
cacos para testagem de toxicidade.
* Dos testes pré-clínicos, apenas cerca de 10 continuam. A dose prescrita de um fármaco adequado requer:
- Acesso ao medicamento.
- Adesão do paciente ao tratamento.

Agora, com a dose administrada, é importante que ela


chegue em uma concentração eficaz no sítio de ação, ou
seja, depende da farmacocinética para que haja ação no
organismo, que haja absorção, distribuição, metabolismo
e excreção adequados.
- Por exemplo, o paracetamol tomado para dor de cabeça
precisa ser absorvido pelo trato gastrointestinal, distribu-
ído para o organismo para, finalmente, chegar às termi-
nações nervosas onde terá seu efeito analgésico.

No sítio de ação, o fármaco deve chegar na concentração


adequada e, a partir disso, depende-se de processos far-
macodinâmicos. Por exemplo, do mecanismo de ação da
droga e dos efeitos bioquímicos e fisiológicos que ela es-
tabelece no organismo. Após todo esse caminho, o fár-
maco tem efeito.

Estudo dirigido
1) Quais as diferenças entre remédios, drogas, fármacos
e medicamentos?

2) Quais as características dos testes pré-clínicos e clíni-


cos (fases 1, 2, 3 e 4)?
- Fármacos grandes realizam a passagem por transporta-
dores, proteínas nas membranas que ligam meios extra e
intracelular. Esses fármacos, normalmente, são substân-
cias muito grandes ou muito insolúveis nos lipídios (como
os peptídeos, aminoácidos e glicose).
* Os transportadores, ainda, são passíveis de competição.
Assim, é importante atentar-se, por exemplo, para situa-
23 fev 21 ções em dois fármacos são administrados ao mesmo
Aula 02 – Farmacocinética tempo ou, ainda, administração enquanto há alimenta-
Prof. Helena Iturvides Cimarosti ção, já que a quantidade de transportadores é limitada.

Farmacocinética pH e ionização (pKa)


Movimento do fármaco pelo organismo, ou seja, o que o No geral, fármacos são ácidos ou bases fracas presentes
organismo faz com o fármaco. Resume-se em 4 processos em solução sob forma ionizada ou não ionizada. Assim:
biológicos principais que afetam a quantidade de fármaco - Para ácido fraco, AH ↔ A- + H+.
que deverá ser ministrada, o A D M E, que se resume em: - Para base fraca, BH+ ↔ B + H+.

1. Absorção. A relação entre as duas formas (ionizada e não-ionizada)


2. Distribuição. é determinada pelo pH no local da absorção e pelo pKa
3. Metabolismo/biotransformação. do fármaco. Por exemplo, em uma via de administração
4. Eliminação/excreção. oral, o trato gastrointestinal apresenta diferentes pH: en-
quanto a cavidade oral é mais básica, o estômago é mais
Absorção ácido, e o intestino básico novamente. Assim, deve-se
Consiste no transporte do fármaco do local de adminis- considerar que:
tração (depende da via) até a corrente sanguínea. Esse
processo biológico é afetado por alguns fatores como: Para fármacos ácidos:
- Membranas celulares/membranas biológicas. Meio ácido: menos ionização, mais absorção.
- pH no local da absorção e ionização do fármaco (pKa). Meio básico: mais ionização, menos absorção.
- Área de superfície do local. - Logo, melhor absorção no estômago.
- Forma farmacêutica.
Para fármacos básicos:
* pKa é a constante de ionização. O pKa de um fármaco Meio ácido: mais ionização, menos absorção.
consiste no valor do pH em que metade do fármaco en- Meio básico: menos ionização, mais absorção.
contra-se em sua forma ionizada e a outra metade encon- - Logo, melhor absorção no intestino.
tra-se na forma não-ionizada.
Exemplificando:
Como os fármacos atravessam membranas? - Aspirina, pKa = 3,5, ácido fraco. Quando o pH é menor
A membranas células são bicamadas lipídicas que sepa- que o pKa, as formas não ionizadas predominam, logo, há
ram os meios extra e intracelular, a propriedade de cada melhor absorção em pH < 3,5 (pH ácido, estômago).
fármaco determina como pode atravessar a membrana: - Lidocaína, pKa = 7,7, base fraca. Quando o pH é maior
que o pKa, as formas não ionizadas predominam, logo, há
- Fármacos lipossolúveis, moléculas apolares, fazem difu- melhor absorção em pH > 7,7 (pH básico, intestino).
são através dos lipídios. A velocidade do transporte au- * Todos os anestésicos locais são bases fracas.
menta em proporção direta com o gradiente de concen-
tração (ou seja, se há mais moléculas no meio extracelu- Área de superfície
lar, a velocidade para entrada é maior). As vias oral e pulmonar são consideradas vias de extensa
área para absorção de fármacos. O trato gastrointestinal
- Fármacos hidrossolúveis: difusão por canal aquoso. Isso e pulmões têm grande área de superfície, apresentando
acontece desde que esses fármacos hidrossolúveis sejam uma extensa área para absorção. Por exemplo, no trato
moléculas polares e pequenas. gastrointestinal, há microvilosidades com a função de au-
mentar a superfície ao longo do intestino.
Exemplificando: Sim, via oral sempre acontece MPP, mas provavelmente
Há fármacos que aceleram ou reduzem o esvaziamento deve haver algum fármaco que não. Não é um problema,
gástrico afetando a absorção de outros fármacos. Em um mas é importante para ajustar a dose do fármaco. Por
estudo feito com metoclopramida e propantelina, obser- exemplo: há diferença de dose entre via oral e intrave-
vou-se que: nosa. Alguns são administrados via oral na forma de pró-
- Metoclopramida acelera o esvaziamento gástrico, fa- fármaco contando com o MPP do fígado para transformá-
zendo com que a absorção do paracetamol seja maior. lo em molécula de fármaco ativa como a prednisona
- Propantelina reduz o esvaziamento gástrico, fazendo (transformada em prednisolona).
com que a absorção do paracetamol seja menor.
Via sublingual
Principais vias de administração Via de administração bastante utilizada.

Via oral Vantagens:


Vantagens: - Absorção rápida de lipossolúveis que se difundem pela
- Mais comumente utilizada. membrana atingindo diretamente a circulação sistêmica.
- Maior segurança, comodidade e economia. - Atinge diretamente a circulação sistêmica.
- Esquemas terapêuticos fáceis de serem cumpridos pelo - Evite metabolismo de primeira passagem.
paciente, aumentando a adesão ao tratamento. - Evita influência de pH e alimentos.
- Absorção intestinal é favorecida pelas vilosidades em
sua superfície que aumentam a área de absorção. Desvantagens:
- Via imprópria para substâncias irritantes ou de sabor de-
Desvantagens: sagradável, depende do paladar.
- Possibilidade de irritação da mucosa.
- Incidência do metabolismo de primeira passagem. Via intravenosa
- Variação do grau de absorção por conta da alteração no Vantagens:
pH do trato gastrointestinal, alteração na permeabilidade - Obtenção rápida do efeito porque o fármaco atinge di-
da membrana intestinal, flutuações na motilidade do retamente a circulação sistêmica, evitando o metabo-
trato, alimento ou outros medicamentos no trato. lismo de primeira passagem da via oral.
- Não há a etapa de absorção. O local de administração é
Metabolismo de primeira passagem: quando o fármaco a própria circulação sistêmica.
administrado oralmente e, antes de atingir a circulação
sistema, passa pelo fígado, sofre metabolização hepática Desvantagens:
que transforma parte do fármaco em um metabólito (di- - A superdosagem é mais fácil (por ser direto).
ferente do fármaco original) antes de o fármaco atingir a - Infecção por contaminantes (bactérias, fungos, vírus
circulação sistêmica. Alguns fármacos são ativados de presentes na agulha ou na seringa).
maneira mais acentuada que outros pela passagem pelo - Risco de reações anafiláticas.
fígado antes de atingir a circulação sistêmica, então, - Impróprio a solventes oleosos/substâncias insolúveis.
quando administrado por via oral, sabendo que pode - Risco de embolia.
ocorrer metabolismo de primeira passagem, é necessária
uma dose maior do fármaco para descontar o efeito de Via intramuscular
perda gerado pelo metabolismo de primeira passagem. Vantagens:
- Absorção rápida.
Via oral Outras vias - Via adequada para volumes moderados, veículos aquo-
sos, não aquosos e suspensões.
TGI Fígado Circulação Órgãos
Desvantagens:
sistêmica
- Pode causar dor e lesões cutâneas.
- Aparecimento de processos inflamatórios.
* DÚVIDA:
Qual o problema do metabolismo de primeira passagem? Via inalatória
Isso sempre acontece? Ou pode acontecer? Se sim, como Vantagens:
sei quando vai acontecer e quando não vai acontecer? - Efeito rápido.
- Efeito local/sistêmico.
Desvantagens: Biodisponibilidade
- Efeito local/sistêmico. Conceito que diz respeito à fração do fármaco adminis-
- Dificuldade de estabelecer doses adequadas. trado que alcança a circulação sistêmica na forma quí-
mica e inalterada.
Via tópica
Vantagens:
- Poucos efeitos sistêmicos.

Desvantagens:
- Irritação local.
- Inconveniente.

Via submucosa ou subperióstica


Utilizada para anestésico locais como lidocaína, articaína,
prilocaína, bupivicaína e mepivicaína.

Influência da via na farmacocinética da droga


Observando um gráfico em que: Via intravenosa: a concentração no tempo 0 é de 100%,
- Eixo X = tempo. afinal, o fármaco entra diretamente na circulação sistê-
- Eixo Y = concentração da droga no sangue. mica, pulando a etapa de absorção, e se encontra na
forma química inalterada. Conforme vai sendo distribu-
ído, metabolizado e eliminado, a concentração diminui.
= Maior biodisponibilidade.

Via oral: a concentração no tempo 0 é 0 e aumenta con-


forme ele é absorvido até que chegue na circulação sistê-
mica. Além disso, conforme estudado, há metabolismo de
primeira passagem, então, antes mesmo de chegar à cir-
culação sistêmica, o fármaco é metabolizado no fígado,
logo, sua fração de forma química inalterada que chega à
circulação sistêmica é menor.
Via intravenosa: no tempo 0, a concentração da droga é = Menor biodisponibilidade.
alta porque é colocado diretamente na circulação sistê-
mica. Conforme o tempo passa, a droga é distribuída, me- Comparando as duas vias: o fármaco por via intravenosa
tabolizada e eliminada. tem mais biodisponibilidade que o fármaco por via oral.
Via intramuscular: no tempo 0, a concentração da droga Cálculo de biodisponibilidade: área sobre a curva gráfica.
é baixa até que consiga ultrapassar as membranas das cé-
lulas musculares, assim vai aumentando conforme a Distribuição
droga atinge a circulação sistêmica. Depois, vai lenta- Após ser absorvido, o fármaco precisa ser distribuído pela
mente baixando conforme é distribuída, metabolizada e circulação sistêmica. Essa distribuição sofre influência de
excretada. determinados fatores como:
Via subcutânea: no tempo 0, a concentração é baixa. Au- - Características físico-químicas do fármaco.
menta de forma mais lenta que a via intramuscular por- - Fluxo sanguíneo.
que a droga leva mais tempo para atravessar a camada de - Permeabilidade capilar.
gordura subcutânea. Depois, é distribuído, metabolizado - Ligação a proteínas plasmáticas.
e eliminado.
Via oral: no tempo 0, a concentração é baixa. Como há um Fluxo sanguíneo
longo caminho até a absorção (cavidade oral, esôfago, es- - Alto fluxo: distribuição mais rápida.
tômago e intestino). É uma via mais lenta, depois, a con- Ex: cérebro, coração, rins.
centração baixa conforme há distribuição, metabolização
e eliminação. - Baixo fluxo: distribuição mais lenta.
Ex: pele, músculo esquelético, tecido adiposo.
Permeabilidade capilar Classifica-se em:
Fígado: as células endoteliais do fígado possuem grandes - Volume de distribuição baixo: droga no espaço vascular.
fendas que permitem ampla passagem do fármaco entre Efeito rápido, metabolizada e eliminada rapidamente.
sangue e interstício hepático. - Volume de distribuição alto: distribuída nos tecidos.
Efeito mais lento, precisa sair e ir para a circulação sistê-
Cérebro: os capilares hepáticos possuem junções estrei- mica, metabolizada e eliminada mais lentamente.
tadas em que duas células vizinhas se unem fisicamente Metabolismo e biotransformação
formando uma parede contínua que impede a entrada de São reações que levam a alterações bioquímicas ou fisio-
muitos fármacos no cérebro. Por exemplo, o fármaco io- lógicas dos fármacos no organismo.
nizado é barrado, não consegue atravessar essa barreira.
Assim, apenas fármacos lipossolúveis ou aqueles media- Após ser absorvido, distribuído e ter seu efeito exercido,
dos por transportadores conseguem atravessar. o fármaco é metabolizado ou biotransformado. O princi-
- Ex: morfina (lipossolúvel), levodopa (transportadores). pal órgão para esse metabolismo é o fígado, mas pulmão,
rins, intestino e pele também possuem capacidade de
Benzodiazepínicos metabolismo moderada, enquanto testículos e adrenal
Alta ligação com proteínas plasmáticas, molécula bem têm capacidade baixa.
grande, não consegue entrar no sistema nervoso central, * Recentemente, na Science, um estudo mostrou que a microbi-
por isso a dose precisa bastante elevada, porque apenas ota do trato gastrointestinal também pode metabolizar os fár-
macos. Separando as contribuições do hospedeiro e da microbi-
o fármaco livre atravessa a membrana no SNC.
ota com relação a farmacocinética e toxicidade de drogas, mais
complexo ainda o metabolismo.
Ligação a proteínas plasmáticas
- Fármacos ácidos: ligação à albumina. O metabolismo ou a biotransformação pode alterar os
- Fármacos básicos: ligação à alfa-1-glicoproteína ácida. fármacos de 4 maneiras importantes:
1. Fármaco ativo > fármaco inativo.
Quando o fármaco apresenta baixa ligação às proteínas 2. Fármaco ativo > metabólito ativo ou tóxico.
plasmáticas, o efeito é rápido, mas de baixa duração. Isso Ex: paracetamol convertido em hepatotóxicos.
acontece porque o fármaco é rapidamente distribuído, 3. Pró-fármaco inativo > Fármaco ativo.
metabolizado e eliminado. Quando o fármaco apresente Ex: Prednisona convertida em prednisolona.
alta ligação às proteínas plasmáticas, o efeito ocorre ape- 4. Fármaco não-excretável > metabólito excretável.
nas quando esse fármaco se apresenta de forma livre. As- Ex: Fenitoloína sódica.
sim, como ele se liga, demora mais tempo até que se
solte, seja distribuído, metabolizado e eliminado. Porém,
esse efeito também será prolongado.

* Gestantes e anestésicos locais: a prilocaína, no período


próximo ao final da gestação, potencialmente acarreta ci-
anose por metamoglobinemia em recém-nascidos.
Anestésico local afeta o feto diretamente, quando as con-
Além disso, quando há dois fármacos, o fármaco que pos- centrações são altas na circulação fetal, ou indireta-
sui mais afinidade com as proteínas plasmáticas acaba se mente, quando o tônus muscular uterino é alterado ou o
ligando primeiro às proteínas. Assim, o segundo fármaco, sistema cardiorrespiratório da mãe é deprimido.
com menos afinidade, é deslocado e tem efeito antes. - Para gestantes > lidocaína.
- Anti-inflamatórios.
- Sulfonilureias. Fases do metabolismo
Fase 1: para tornar o fármaco mais hidrossolúvel. Adição
Volume de distribuição de grupos funcionais reativos por meio de oxidações, hi-
Relação entre a quantidade de fármaco no organismo e droxilações, hidrólises, desaminações, desalquilações.
sua concentração no sangue ou plasma. Grupos: -OH, -COOH, -SH, -O- ou NH2.
Fase 2: também para tornar o fármaco mais hidrossolú- Meia vida T 1/2
vel. Conjugação da molécula. Tempo necessário para que metade da quantidade de fár-
maco seja eliminada do organismo, independe da dose
Influências administrada e determina a duração do efeito e deter-
O metabolismo do fármaco sofre interações de: mina o intervalo entre doses (a posologia, 6 em 6, 12 em
- Interações medicamentosas. 12...).
- Dieta e ambiente (ex: cigarro).
- Doença concomitante (ex: insuficiência hepática/renal). Concentração plasmática x Tempo: Mesmo fármaco por
- Idade, sexo biológico e genética. via intravenosa quando 100 mg e 50 mg são injetados. O
* Atenção para idosos e crianças. T1/2 é o mesmo em quantidades diferentes, independe
da quantidade administrada.
Eliminação ou excreção
É a última etapa, ocorre após o metabolismo. Aqui, os rins Processos do organismo:
são os órgãos que mais participam, mas também há par- - Absorção.
ticipação de outros órgãos. - Distribuição (sozinho ou ligado a proteínas).
- Exerce efeito.
Eliminação renal - Metabolizado (principalmente pelo fígado).
Do fluxo plasmático renal, cerca de 20% sofre filtração - Eliminado (principalmente pelos rins).
glomerular, ou seja, é filtrado pelo glomérulo. Aqui, os
fármacos que estão ligados a proteínas plasmáticas não
são filtrados, portanto não caminham para excreção.

Os fármacos livres, caso não sejam hidrossolúveis o sufi-


ciente, são reabsorvidos (passam pela membrana por sua
lipossolubidade). Já os fármacos hidrossolúveis, conti-
nuam a caminho da excreção.

Os 80% que não são filtrados e é transferido para a luz do


túbulo por transportadores por secreção tubular, vão
para a urina e são eliminados. Volume final da urina: 1%
do filtrado.

Assim, temos que:


Filtração glomerular: passagem de água e maioria dos so-
lutos do plasma para a capsula glomerular (20%).
- Fármacos ligados a proteínas não são filtrados.
Reabsorção tubular: reabsorção da maior parte da água e
dos solutos úteis.
- Fármacos lipossolúveis sofrem reabsorção.
Secreção tubular: secreção de substâncias por meio de
transportadores no filtrado que passa pelos túbulos re-
nais (80%).
- A maior parte dos fármacos sofre secreção.

Eliminação biliar
A circulação êntero-hepática cria um reservatório de fár-
maco recirculante que pode representar até 20% do total
do fármaco presente no organismo, prolongando a ação.

Outras formas de eliminação


Fezes, aleitamento materno, suor, saliva.
Transdução do sinal
A maioria dos fármacos que age se ligando a receptores e
alvos farmacológicos induze seu efeito por meio de trans-
dução de sinal. Ou seja, quando ele se liga ao receptor,
induz a ativação de sistemas efetores intracelulares que
ativam segundos mensageiros amplificando o sinal inicial.
Esses segundos mensageiros, por fim, induzem na célula
24 fev 21 uma resposta biológica.
Aula 01 – Farmacodinâmica
Prof. Helena Iturvides Cimarosti Resposta biológica > efeito do fármaco

Farmacodinâmica Exemplo de caminho da transdução:


Enquanto a farmacocinética diz respeito a tudo aquilo Molécula sinalizadora (fármaco) liga-se ao receptor de
que o organismo faz com os fármacos a partir dos quatro membrana que inicia a transdução de sinal por proteínas
eventos ADME (absorção, distribuição, metabolismo e ex- e enzimas amplificadoras. A partir daí proteínas cinases
creção), a farmacodinâmica se ocupa com a ação dos fár- são convocadas e moléculas de segundos mensageiros,
macos no organismo, ou seja, o que fazem e como fazem alterando os canais iônicos, induzem o aumento do íon
efeito. Assim, a farmacodinâmica é o estudo dos efeitos Ca2+ intracelular. Proteínas fosforiladas e proteínas liga-
biológicos e fisiológicos dos fármacos bem como seus me- das ao cálcio são ativadas gerando uma resposta celular.
canismos de ação.
Alvos farmacológicos proteicos
Por exemplo, ao prescrever ibuprofeno para um paciente Receptores farmacológicos
com dor de dente, a maioria das pessoas sabe que o Receptores farmacológicos são proteínas que possuem
ibuprofeno agirá como anti-inflamatório, antitérmico e um ou mais sítios que, quando ativados por substâncias
analgésico. O que a farmacodinâmica dirá é como o endógenas ou exógenas, são capazes de desencadear
ibuprofeno atinge esses efeitos, ou seja, qual o seu meca- uma resposta fisiológica. Para serem considerados recep-
nismo de ação para tal. tores, o nosso organismo precisa produzir moléculas ca-
pazes de ativá-lo. Esses receptores farmacológicos subdi-
Alvos farmacológicos videm-se em quatro classes principais.
Para atingirem seus efeitos, os fármacos precisam intera-
gir com alvos farmacológicos. Esses alvos farmacológicos 1 Receptores ionotrópicos: são um grupo de proteínas
se dividem em: transmembrana que formam um canal iônico que,
quando ativadas por ligantes, abrem-se para permitir a
1 Alvos farmacológicos proteicos. passagem de íons como Na+, K+, Ca2+ e/ou Cl-. Ou seja, for-
- Receptores. mam poros nas membranas.
- Enzimas.
- Transportadores. - Quando um fármaco se liga a um receptor ionotrópico,
ele é ativado e permite a entrada de íons pelo poro que
- Canais iônicos.
formou. Os íons, dependendo da carga, induzem a hiper-
polarização ou a despolarização da célula. Essas mudan-
2 Alvos farmacológicos não-proteicos.
ças, dependendo da célula, induzem uma resposta. Por
- DNA. Por exemplo: alguns antibióticos ligam-se direta- exemplo: em uma célula muscular, a hiperpolarização in-
mente ao DNA de bactérias para efeito bactericida. duz o relaxamento, já a despolarização induz a contração.

Exceções: ainda assim, há alguns fármacos que não preci- - Como a ação do receptor envolve apenas a abertura do
sam interagir com nenhum tipo de alvo farmacológico, canal, a hiperpolarização ou a despolarização e seu efeito
seja proteico ou não-proteico. Por exemplo, os antiácidos acontecem de modo muito rápido, em milissegundos.
agem pela neutralização do suco gástrico, já os diuréticos
e laxantes agem por osmose alterando a composição de - Exemplo de receptor ionotrópico: receptor nicotínico da
fezes e urinas promovendo a drenagem de água. acetilcolina. O Diazepam tem ação sedativa e hipnótica
agindo nesses receptores ionotrópicos.

Funcionamento do receptor ionotrópico tipo GABAa: o


receptor é de cloreto, geralmente mais concentrado no
meio extracelular (logo, com tendência para entrar na cé- A adenil ciclase é uma enzima que converte ATP em AMP
lula), quando duas moléculas do agonista (GABA) se ligam cíclico que, por sua vez, irá ativar a proteína cinase de-
ao receptor, o canal abre. Quando o canal abre, o cloreto pendente de AMP cíclico (PKA). Isso é importante, por
é induzido a entrar e, por ter uma carga negativa, deixa a exemplo, para a produção de suco gástrico e para a regu-
célula ainda mais negativa – há hiperpolarização. lação da função cardíaca.

2 Receptores metabotrópicos: são proteínas transmem- Gi > ação inibitória na adenil ciclase.
brana que, quando ocupadas pelo ligante, interagem com Gs > ação estimulatória na adenil ciclase.
uma proteína G que está acoplada a sistemas efetores in-
tracelulares. Ou seja, quando o ligante se acopla ao re- Subunidade α da Gq:
ceptor, a proteína G age ativando ou desativando os sis- - Enzima alvo: Fosfolipase C.
temas efetores gerando segundos mensageiros e diferen- - Segundos mensageiros: PIP2 -> DAG/IP3.
tes ativações dentro da célula. - Alvo: DAG -> PKC // IP3 -> [Ca+].
> Também chamados de GPCRs.
A via da fosfolipase C (PLC) cliva um fosfolipídio de mem-
- Como envolve mais de um passo – ativação do receptor, brana PIP2 em dois produtos, o diacilglicerol (DAG) e o IP3.
ativação da proteína, ativação de segundos mensageiros O IP3 age liberando o cálcio dos estoques intracelulares
–, a ação daqueles que agem nos receptores metabotró- fazendo com a que concentração de cálcio aumente den-
picos é um pouco mais lenta em comparação aos ionotró- tro da célula. O cálcio e o DAG agem ativando a PKC (pro-
picos. Ainda assim, são rápidos e seus efeitos podem ser teína quinase dependente de cálcio). A PKC fosforila alvos
observados em segundos. e é importante para, entre outras coisas, a contração de
músculos lisos.
- Exemplos de fármacos que agem em metabotrópicos:
- Losartana, um anti-hipertensivo. > PKA e PKC fosforilam vários alvos dentro da célula.
- Neosoro/nafazolina, para congestão nasal.
- Ranitidina, para gastrite. 3 Receptores ligados a quinases: são receptores associa-
dos a enzimas nos seus domínios intracelulares e atuam
Funcionamento do receptor metabotrópico: o receptor é regulando a transcrição gênica e a síntese proteica.
composto por uma estrutura que cruza a membrana plas- > Também chamados de receptores catalíticos.
mática celular 7 vezes e tem o domínio intracelular aco-
plado à proteína G. Essa proteína G, por sua vez, é com- Quando o receptor é ativado, na sua porção intracelular,
posta pelas subunidades α, β, γ, sendo a subunidade α induz um processo de fosforilação dele mesmo. Essa fos-
acoplada a uma molécula de GDP (guanina difosfato). forilação age ativando uma cascata de proteínas que cul-
mina na transcrição de genes e na síntese proteica.
Quando o ligante se acopla ao receptor, há uma mudança
conformacional que faz com que a subunidade α ligada Como a ativação envolve a transcrição e a tradução em
ao GDP troque-o por GTP. O fosfato é um grupamento proteínas, o processo é mais demorado. Assim, a ação
bem volumoso, assim, a chegada de mais um induz a dis- desses receptores é vista em horas, são mais lentos que
sociação da subunidade α do dímero formado pelas su- os receptores metabotrópicos.
bunidades β e γ. A partir disso, tanto a subunidade α,
quanto o dímero β-γ podem ter ações em sistemas efeto- Exemplo: receptores de citocinas.
res intracelulares promovendo um efeito.
Funcionamento de receptores ligados a quinases: assim
Após cessado o estímulo, a subunidade α cliva o GTP con- que os agonistas se ligam aos receptores, a dimerização
vertendo-o em um GDP liberando um fosfato. Com um (união de dois receptores) é induzida e há um processo
volume menor, a religação entre α, β e γ é favorecida e a de transfosforilação. Ou seja, um receptor começa a fos-
forma inativa do receptor acoplado à proteína G é rees- forilar o outro criando resíduos de fosforilação na porção
tabelecida. intracelular dos receptores. Quando ativados, recrutam
proteínas que induzem fatores de transcrição na célula.
Principais tipos de proteína G clinicamente relevantes:
- Gs, Gi/0 e Gq. 4 Receptores intracelulares: são receptores que se encon-
- Interação c/ os s. efetores adenil ciclase e fosfolipase C. tram no interior da célula. Diferente de outros subgrupos,
eles não estão inclusos na membrana celular, assim, o fár-
Subunidade α da Gi e da Gs: maco precisa atravessar a membrana e interagir com o
- Enzima alvo: Adenil ciclase. receptor que se encontra no núcleo ou citoplasma.
- Segundos mensageiros: ATP -> AMPc. Quando o fármaco se liga ao receptor, a transcrição ge-
- Alvo: PKA. nética e síntese de proteínas são induzidas. Assim, por ser
um processo mais demorado, o efeito também pode ser Funcionamento dos canais iônicos:
observado a partir de horas ou dias. No repouso, a célula é mais negativa no meio intracelular
do que no meio extracelular. Um canal iônico dependente
Exemplo: corticoides, como a prednisona. de voltagem do tipo NaV permite o influxo do sódio.
Quando há despolarização e a célula fica menos negativa,
Enzimas a abertura do canal é induzida, permitindo o influxo do
Os fármacos que interagem com as enzimas, geralmente, sódio (que segue o gradiente de concentração e caminha
levam à diminuição da atividade enzimática.
do meio extra, onde é mais concentrado, para o meio in-
tracelular). O sódio, por ser um íon de carga positiva, in-
Classificação:
- Inibidor: quando um fármaco se liga à enzima, impede duz a permanência da célula em despolarização.
que ela produza seus produtos, impede que ela atue.
- Falso substrato: quando um fármaco se ligada à enzima, Um fármaco que atua na abertura de canais iônicos é a
induz a produção de um metabólito anômalo que não lidocaína. Seu funcionamento como anestésico local
apresenta uma função normal. deve-se ao fato de inibir os canais iônicos impedindo a
- Pró-Fármaco: fármacos assim, quando administrados, entrada do sódio cessando a despolarização. Quando
não têm ação ou têm ação muito reduzida, assim, quando essa despolarização é interrompida, a propagação do es-
se ligam à enzima, induzem a formação de uma forma ati- tímulo nervoso (que pode ser, por exemplo, de dor) tam-
vada desse fármaco que, agora, possui ação. bém é interrompida e o paciente fica anestesiado.

Exemplo: a aspirina, o ácido acetilsalicílico, interage com


Interação dos fármacos com seus alvos
duas enzimas, as cicloxigenases 1 e 2 (COX1 e COX2). Es-
sas enzimas, principalmente a COX2, envolvem-se com a Os fármacos, quando vão interagir com os alvos farmaco-
formação de mediadores inflamatórios. Assim, a aspirina lógicos, por seres substâncias químicas, fazem isso por
possui capacidade de interagir com a enzima por meio de meio de ligações químicas:
uma ligação irreversível impedindo que esses mediadores
sejam formados, ou seja, é um inibidor de COX1 e COX2.  Covalentes.
FORÇA DE LIGAÇÃO

 Iônicas (atração eletromagnética).


Transportadores  Pontes de hidrogênio (interação do H com os
Os transportadores permitem a movimentação de íons e elementos muito eletronegativos).
pequenas moléculas orgânicas através da membrana ce-  Forças de van der Waals (atração eletrostática
lular. entre nuvens de elétrons e núcleos atômicos).

Por exemplo, em um neurônico, há um transportador de A maioria dos fármacos realiza uma ligação reversível,
serotonina. Esse transportador é responsável por reesto- agindo por formas de ligações mais fracas, fazendo com
car, recaptar, a serotonina liberada na fenda sináptica de- que elas sejam mais dinâmicas (fazem e se desfazem). Po-
pois que ela já agiu na célula pós-sináptica. Os fármacos rém, como nas enzimas, há fármacos como a aspirina,
como a fluoxetina inibem esse transportador fazendo que realizam ligações irreversíveis, inutilizando a enzima.
com que a serotonina não seja recaptada e se acumule
dentro da fenda sináptica e há efeito antidepressivo. As moléculas que realizam a interação fármaco-receptor,
portanto, podem ser classificadas em:
Canais iônicos
São canais de membrana que se ativam por mecanismos - Agonistas:
que independem da ligação de um ligante, diferindo-se Se liga e ativa ao receptor, gera efeito farmacológico.
de canais ionotrópicos.
- Antagonista competitivo:
Por exemplo, os canais NaV e CaV. Se liga ao mesmo sítio que o agonista, mas não possui ca-
- Canal iônico para sódio controlado por voltagem. pacidade de ativar o receptor, portanto, não gera efeito
- Canal iônico para cálcio controlado por voltagem. farmacológico mas induz inibição do efeito do agonista.

Esses dois canais são ativados por mudança de voltagem. - Antagonista não-competitivo:
Na conformação fechada, quando há uma despolarização Se ligam a outros sítios de ação do receptor, não se ligam
da célula, ou seja, quando ela fica menos negativa, o canal ao sítio do antagonista, mas induzem inibição do efeito
é aberto. Porém, caso haja hiperpolarização ou repolari- do agonista.
zação, o canal é fechado novamente.
Agonista Seletividade: é a diferença de atividade que uma molécula
Agente endógeno ou exógeno que interage com um re- biologicamente ativa possui para dois processos. Ou seja,
ceptor resultando em resposta biológico, ou seja, um o efeito e a interação do fármaco podem ser alterados
agente que possui eficácia. conforme a dose dele porque esse fármaco pode interagir
em mais de um receptor.
Eficácia: capacidade de gerar resposta biológica. Os ago-
nistas possuem eficácia, logo, possuem capacidade de ati- Por exemplo: dopamina.
var um receptor e induzir um efeito, uma resposta bioló-
gica. A eficácia liga-se diretamente à sua capacidade de - Dose baixa, age só em receptores dopaminérgicos.
induzir um efeito. - Dose média, age também em α-adrenérgicos.
- Dose alta, age também em β1-adrenérgicos.
Afinidade: medida de tendência do fármaco de se ligar.
Dado receptor possui uma estrutura com um sítio de liga- Ou seja, a dopamina é seletiva para receptores dopami-
ção para o agonista. Há duas moléculas competindo pelo nérgicos já que, em baixas doses, interage apenas com
sítio de ligação, uma delas, por possuir estrutura mais se- eles. Porém, se a dose aumenta, interage com outros, en-
melhante à estrutura do sítio, liga-se primeiro. Dizemos tão não é especifica para receptores dopaminérgicos.
que essa molécula possui mais afinidade que a outra.
Especificidade: nenhum aumento na concentração da
Gráfico de dose x efeito (%), uma ferramenta farmacodi- molécula é suficiente para ativar outros processos. É uma
nâmica para avaliar a intensidade da eficácia: situação bem rara, acontece com poucos fármacos.

A existência dos dois conceitos e o entendimento de que,


na maioria das vezes, os fármacos são seletivos, mas não
específicos, abre margem para, por exemplo, um fármaco
com efeitos terapêuticos, em doses elevadas, prejudicar
o paciente. Isso acontece porque o fármaco é seletivo,
mas não específico, assim, em doses mais altas, passa a
interagir com receptores diferentes desencadeando pro-
cessos que podem prejudicar o paciente.

Potência: relaciona-se com a capacidade da droga de in-


teragir com o receptor (afinidade) e induzir resposta (efi-
Supondo que os fármacos A e B produziram as curvas des- cácia). A potência é quantificada farmacologicamente
tacadas no gráfico, pode-se dizer que: através do cálculo de CE50 ou DE50:

Agonista total: fármaco A. É o tipo de agonista capaz de DE50: dose de agonista que induz 50% do efeito máximo.
induzir uma resposta plena ao se ligar ao receptor, ou CE50: concentração do agonista que induz 50% do efeito
seja, conforme aumentada a dose do fármaco, o efeito (a máximo.
resposta biológica) chega a 100%.
 E máx = 100%. Por exemplo:
 Resposta plena.

Agonista parcial: fármaco B. É o tipo de agonista que,


mesmo quando ocupa todos os receptores, não induz um
efeito máximo de 100% mesmo quando aumentada a
dose do fármaco, permanecendo < 100%.
 E máx < 100%.
 Resposta parcial.

Afinidade
A afinidade, ou seja, a capacidade de ligar-se ao receptor
e produzir um efeito biológico, desdobra-se, ainda, em Gráfico do efeito máximo x log da concentração.
outros dois conceitos:
Como encontrar o CE50 ou o DE50? de então, não consegue se ligar a todos os receptores
No gráfico, encontra-se o local do efeito máximo. Depois, para produzir efeito máximo. Subdivide-se em:
encontra-se a metade do valor do efeito máximo. O valor
do CE50 ou do DE50 é o ponto que no eixo da concentra- - Reversível: liga-se ao mesmo sítio, mas as interações
ção que se relaciona com o efeito de 50%. No caso do úl- com o receptor são mais fracas e, quando aumenta a con-
timo gráfico, temos que: centração do agonista, o antagonista é deslocado. Farma-
cologicamente, com o aumento da dose de agonista, o
CE50 A: 10-7 | CE50 B: 10-6 | CE50 C: 10-5 efeito pode ser reestabelecido.

Logo, define-se que, quanto mais potente, menor a con- - Irreversível: liga-se ao mesmo sítio com interações for-
centração necessária para que o fármaco obtenha me- tes, assim, não é possível que o agonista desloque o anta-
tade do efeito máximo. Então, nesse caso: gonista do sítio. Farmacologicamente, não importa
quanto aumente a dose de agonista, o efeito máximo não
Potência A > Potência B > Potência C será reestabelecido.

Importante: não confundir eficácia e potência. Há casos Natureza dos antagonismos


em que, por exemplo, a potência de um fármaco é maior, Além disso, os antagonismos podem ser classificados de
porém, a eficácia é menor. Ou seja, o fármaco precisa de acordo com sua natureza.
uma dose menor para atingir 50% do efeito máximo
(DE50 maior), porém, o fármaco é um agonista parcial e Antagonismo farmacodinâmico: fármacos interagem com
não atinge efeito máximo de 100%, logo é menos eficaz. um mesmo receptor farmacológico. Os antagonismos vis-
tos anteriormente são dessa classe.
Antagonista
O antagonista, ao contrário do agonista, se liga ao recep- Antagonismo farmacocinético: um fármaco interfere em
tor, mas não tem capacidade de induzir resposta, ou seja, parâmetros farmacocinéticos do outro. Por exemplo, um
não ativa o receptor, não produz efeito (sem eficácia). antagonista que modifica a concentração do fármaco
ativo no local de ação, ou seja, modifica os parâmetros de
A ocupação é controlada pela afinidade, ou seja, eles pos- absorção, distribuição, metabolização e excreção.
suem afinidade com o receptor, se ligam. Mas, não indu- - Exemplo: uso combinado de carbamazepina (para epi-
zem resposta, não são eficazes. lepsia) com amoxicilina. A carbamazepina é um indutor
enzimático que aumenta os níveis das enzimas que degra-
Relação agonista x antagonista dam a amoxicilina. Ou seja, modifica o metabolismo da
O antagonista, em qualquer concentração, não produz amoxicilina fazendo com que seja degradada mais rápido
efeito. Assim, o gráfico resposta x concentração é uma li- e tenha seu efeito reduzido.
nha horizontal que coincide com o eixo y. Esse mesmo
gráfico, para agonistas, é diferente, já que há efeito até Antagonismo químico: fármacos interagem quimica-
que se chegue ao máximo conseguido pelo fármaco. mente entre si levando à inativação de substâncias. Isso
acontece, por exemplo, por reação de neutralização.
Porém, quando colocamos um agonista na presença de - Exemplo: Dimercaprol é um neutralizador para intoxica-
um antagonista competitivo, o efeito gráfico é o de redu- ções por mercúrio, age aprisionando o metal pesado e
ção do efeito do agonista. Afinal, há receptores ocupados tratando a intoxicação.
pelo antagonista que antes eram ocupados pelo agonista
e produziam efeito (> efeito reduzido). Antagonismo fisiológico: dois fármacos têm efeitos fisio-
lógicos opostos, assim, seus efeitos terapêuticos se anu-
Tipos de antagonismo lam porque atuam em diferentes receptores.
- Exemplo:
Antagonista não-competitivo: não se liga ao mesmo sítio - Adrenalina: aumenta a pressão arterial.
que o agonista, não importa quanto aumente a dose do - Acetilcolina: diminui a pressão arterial.
agonista, ele nunca irá voltar a ter um efeito pleno.
Agonista inverso
Antagonista competitivo: o agonista competitivo liga-se Os agonistas inversos são fármacos que apresentam efi-
ao mesmo sítio de ligação que o agonista. Assim, há inter- cácia negativa. Esses agonistas inversos ligam-se a recep-
ferência no efeito produzido pelo agonista que, a partir tores constitutivamente ativos.
Ou seja, esses receptores estão ativos mesmo na ausên- tempo, fosforila ele induzindo a internalização desse re-
cia de ligantes, possuindo uma taxa basal. Quando o ago- ceptor dentro de uma vesícula. Depois que essa vesícula
nista inverso se liga, ele induz a redução da atividade do se encontra dentro da célula, há dois caminhos:
receptor. Por conta desse efeito, a eficácia é negativa. Por
muto tempo, acreditou-se que eram antagonistas até que 1 Voltar a ser inserida na membrana.
se descobriu a ativação constitutiva de receptores. 2 Seguir uma via de degradação.
- Exemplo: propranolol.
Por meio desse mecanismo de translocação de recepto-
Ativação constitutiva: ativação de receptores mesmo na res, a célula regula a quantidade de receptores que estão
ausência de ligantes. disponíveis na membrana para serem ativados por fárma-
cos ou outros agonistas.
Janela terapêutica
É um parâmetro farmacodinâmico e corresponde à faixa Resumindo...
de doses (concentrações) de um fármaco que produz res- Um fármaco possui um efeito no organismo. Porém, para
posta terapêutica sem efeitos adversos inaceitáveis (toxi- exercer esse efeito, o fármaco precisa interagir com alvos
cidade). Nessa faixa, o paciente está sendo tratado. farmacológicos localizados nas células. Uma vez ligados a
esses alvos, desencadeiam respostas por meio de trans-
- Acima da faixa = tóxica. dução de sinal. Assim, os fármacos agem inibindo ou esti-
- Na faixa = tratamento. mulando processos celulares induzindo efeitos terapêuti-
- Abaixo da faixa = subterapia. cos nas pessoas que os utilizam.

Índice terapêutico
Razão entre a dose tóxica (DL50) e a dose efetiva (DE50).
> DL50 = Dose letal para 50% dos animais.
> DE50 = Dose para chegar a 50% do efeito máximo.

A janela terapêutica é importante ao se relacionar com o


índice terapêutico. Assim, temos que, quanto maior o ín-
dice terapêutico, maior a janela terapêutica do fármaco.

 Quanto maior o índice terapêutico e quanto


maior a janela terapêutica, mais seguro.

Dessensibilização e tolerância
São mecanismos que o corpo usa para se proteger de um
estímulo contínuo gerado pela presença de um fármaco.
A dessensibilização, ou taquifilaxia (do grego = proteção
rápida), é quando um fármaco diminui seu efeito gradu-
almente quando administrado de maneira contínua e re-
petida. Quando o fenômeno ocorre por um tempo maior,
pode acabar induzindo tolerância no organismo.

Isso ocorre por meio de:


- Translocação de receptores.
- Depleção de mediadores.
- Aumento da degradação metabólica do fármaco.
- Adaptação fisiológica.

Translocação de receptores: em receptores metabotrópi-


cos, quando o fármaco se liga, ativa a proteína G. Dentro
da célula, há uma quinase de receptor acoplado a prote-
ína G (GRK) que, quando o receptor fica ativo por muito
dos principalmente em cadeias paravertebrais que re-
pousam ao lado da coluna espinhal. As pós-ganglionares
são mais longas e vão dos gânglios para os tecidos.

Neurotransmissores:
- Pré-Ganglionar: Acetilcolina (ACh), rec. nicotínicos.
- Pós-Ganglionar: Noradrenalina (NE), rec. adrenérgicos.
01 mar 21 * Há exceções.
Aula 01 – Farmacologia do SNA
Prof. Regina de Sordi Parassimpático: As fibras pré-ganglionares são mais lon-
gas que as fibras pós-ganglionares. A maioria das pré ter-
Sistema Nervoso Autônomo minam nos gânglios distribuídos difusamente ou em re-
O Sistema Nervoso divide-se em: des dos órgãos inervados. As pós-ganglionares são mais
Central: cérebro e medula espinhal. curtas.
Periférico: nervos entre SNC e periferia. Divide-se em:
- Somático, voluntário. Neurotransmissores:
- Autônomo: involuntário, conduz todas as informações - Pré-Ganglionar: Acetilcolina, rec. nicotínicos.
provenientes do SNC para o resto do corpo, exceto para - Pós-Ganglionar: Acetilcolina, rec. muscarínicos.
a inervação motora dos músculos esqueléticos (contro-
lada pelo somático, voluntário). Neurônios, neurotransmissores e receptores: diferenças
nos tamanhos das fibras e nos detalhes dos neurotrans-
Sistema nervoso autônomo: missores liberados do sistema autônomo. Os neurônios
- Simpático. * somáticos, por sua vez, há uma única fibra longa que li-
- Parassimpático. * bera acetilcolina que atua em receptores nicotínicos na
- Entérico. junção neuromuscular ocasionando contração de múscu-
los esqueléticos.
Principais processos regulados pelo SNA são:
* Todos os processos são de controle involuntário. Sinapse colinérgica: A acetilcolina tem dois receptores co-
- Contração/relaxamento da mm. lisa de vasos e vísceras. linérgicos, os nicotínicos e os muscarínicos. Os nicotínicos
- Metabolismo energético (fígado/m. esqueléticos). são canais iônicos controlados por ligantes, enquanto os
- Todas as secreções exócrinas e algumas endócrinas. receptores muscarínicos são receptores acoplados à pro-
- Batimentos cardíacos. teína G. A acetilcolina, na fenda, atua em algum dos tipos
de receptores ou é degradada pela acetilcolinesterase.
Diferença entre via eferente autônoma e somática, na so-
mática um único neurônio motor conecta o SNC à fibra Receptores nicotínicos: formam as sinapses pré-ganglio-
esquelética. No autônomo, a via eferente é formada por nares e são divididos em receptores musculares (Nm),
dois neurônios dispostos em série que se comunicam por confinados na junção neuromuscular esquelética do sis-
sinapses que ocorrem principalmente em gânglios au- tema nervoso somático, e em receptores neuroniais (Nn),
tonômicos: presentes nos gânglios e no SNC. Os presentes nos gân-
glios são responsáveis pela transmissão nos simpáticos e
- Neurônio pré-ganglionar (1º). parassimpáticos. Todos eles são canais iônicos controla-
- Neurônio pós-ganglionar (2º). dos por ligantes (nesse caso, acetilcolina), são pentamé-
ricos (formados por 5 subunidades que formam o canal).
Comunicam-se por sinapses com mediadores químicos. O
neurônico pós-ganglionar, por sua vez, fará a liberação de Receptores muscarínicos: formam as sinapses pós-gangli-
outro neurotransmissor que irá atuar no tecido alvo de- onares são todos acoplados a proteína G transmembrana.
sencadeando uma resposta. São chamados de M1, M2, M3, M4 e M5. Os ímpares aco-
plam-se à proteína Gq (ativam fosfolipase C), os pares são
acoplados a proteína Gi (inibem a adenilil ciclase).
Simpático: As fibras simpáticas pré-ganglionares, geral- M1 = glândulas gástricas e salivares.
mente, são mais curtas e terminam nos gânglios localiza- M2 = coração.
M3 = glândulas gástricas e salivares, musculatura lisa do Parassimpático:
trato gastrointestinal, olhos, vias aéreas, bexiga, endoté- Acetilcolina é o neurotransmissor liberado em ambas as
lio vascular. sinapses, sendo que na pré-ganglionar atua em recepto-
res nicotínicos e na pós-ganglionar atua em receptores
Sinapse adrenérgica: a noradrenalina, quando liberada na muscarínicos dos órgãos alvos.
fenda, pode atuar em receptores do tipo α-adrenérgicos
e β-adrenérgicos. Todos os receptores adrenérgicos são Ações do simpático e parassimpático:
acoplados à proteína G. Geralmente opostas, mas com exceções:
- Glândulas salivares (estimulada por ambas).
> α1-adrenérgicos = proteína Gq. - Glândulas sudoríparas (apenas simpática).
> α2-adrenérgicos = proteína Gi.* - Vasos sanguíneos (maioria simpática).
> β2 /β1-adrenérgicos = proteína Gs.
* auto-receptores, inibitórios, a noradrenalina, quando Farmacologia do SNA Simpático
em grande quantidade, atua no receptor tipo α2 e inibe a Didaticamente, esse é o sistema ativado nos momentos
liberação dela mesma, pré-sinápticos principalmente. de luta e fuga. Ocorre bronquiodilatação para respirar
melhor, o coração bate mais forte, mais rápido, a pressão
Principais efeitos do SNA: O parassimpático também é arterial aumenta pela vasoconstrição, a pupila dilata para
chamado de craniossacral porque as fibras saem do SNC enxergar melhor, o fígado aumenta a liberação de glicose,
através dos nervos cranianos e das raízes espinhais cen- o fluxo sanguíneo no músculo esquelético aumenta para
trais. Já o sistema nervoso simpático também é chamado as movimentações. O fluxo sanguíneo no trato gastroin-
de toracolombar porque as fibras simpáticas saem do testinal reduz, os movimentos peristálticos reduzem, o
SNC pelos nervos espinhais, torácicos e lombares. tônus do esfíncter aumenta...

Simpatomiméticos adrenérgicos
Fármacos que mimetizam as ações da adrenalina ou da
noradrenalina. São:
- Agonistas α-adrenérgicos.
- Agonistas β-adrenérgicos.

Exemplos:
Agonista α-1:
- Fenilefrina, Nafazolina (α1 >>>>> β).

Agonistas α e β mistos:
A maior parte das ações de simpático e parassimpático - Noradrenalina (α1 >>>> β1 >> β2).
são opostas. Por exemplo, enquanto o parassimpático - Adrenalina (α1 = β1 = β2).
causa miose (contração da pupila), o simpático causa mi-
dríase (dilatação da pupila). Mas isso nem sempre é ver- Agonistas β:
dade, por exemplo, ambos estimulam a salivação, con- - Dobutamina (β1 > β2 >>>> α).
tudo, a composição salivar é diferente para cada caso. - Isoproterenol (β1 = β2 >>>> α).
- Terbutalina e Salbutamol (β2 >> β1 >>>> α).
Resumindo...
Focaremos nos agentes fenilefrina, adrenalina e noradre-
Simpático: nalina porque são muito importantes na Odontologia. Por
ACh pela pré-ganglionar que atua em receptores nicotíni- exemplo:
cos, e NE pela pós-ganglionar que atua em receptores
adrenérgicos (α e β). Exceção: Usos – Agonistas α e β mistos:
- Glândula sudorípara, a fibra pós-ganglionar é colinér- Adrenalina (epinefrina) e noradrenalina (norepinefrina)
gica, ACh atua em receptores muscarínicos. são muito importantes para os anestésicos locais.
- Medula suprarrenal, única fibra colinérgica, ACh atua - Fenilefrina (α1 >>>>> β).
em receptores nicotínicos (como no S. Somático). - Noradrenalina (α1 >>>> β1 >> β2).
- Adrenalina (α1 = β1 = β2).
Felipressina = não é um agente adrenérgico, mas é um - Gestantes (recomenda-se que não se exceda 2 tubetes
análogo da vasopressina. e não se deve utilizar a Felipressina porque causa com-
pressão uterina).
Esses agentes são utilizados em associação com anestési- - Crianças (no máximo 1 tubete com adrenalina).
cos devido à ação em receptores α1-adrenérgicos em va- - Diabéticos (contraindicado adrenalina pelo risco de hi-
sos sanguíneos, causando vasoconstrição, contraindo o perglicemia, de preferência, utilizar felipressina)
músculo liso vascular. - Asmáticos (alérgicos dependentes de corticoides, geral-
mente, possuem alergia a sulfitos, conservantes utiliza-
Qual a função do vaso constritor em anestésicos locais? dos em soluções com aminas, deve-se utilizar outro vaso-
A maioria dos anestésicos locais têm ação vasodilatadora constritor, não relaciona ao SNA, mas sim ao conservante
direta, isso faz com que a taxa com que são absorvidos que pode desencadear uma reação alérgica).
aumente, assim, vão para a circulação sistêmica mais rá-
pido aumentando sua toxicidade, algo que não é dese- Além disso, muitos estudos apontam que a ansiedade do
jado porque reduz a ação como anestésico local. paciente é o principal determinante do aumento de pres-
são arterial que acontece durante o procedimento de
Esses agentes vasoconstritores são colocados juntos com anestesia local. Pacientes com traços de ansiedade ele-
anestésicos locais para causar a vasoconstrição promo- vado, mesmo na ausência de vasoconstritor, exibem au-
vendo uma absorção mais lenta, reduzindo sua toxici- mento de pressão arterial quando comparados com paci-
dade, aumentando o efeito e a duração da anestesia e re- entes menos ansiosos. Então, a quantidade de catecola-
duzindo a quantidade necessária sem causar efeitos far- minas endógenas liberadas na circulação em situação de
macológicos sistêmicos. As principais desvantagens são a estresse é muito acima da quantidade de um tubete
administração em grandes volumes (um agente a mais a odontológico. Mas, então, é importante acalmar o paci-
ser injetado) e, por exemplo, a fenilefrina, por ser um ente antes de anestesia-lo para que reduza a ansiedade.
agente de baixa potência, necessitando de um volume
maior (em comparação aos outros), podendo gerar des- Usos – Agonistas α1-adrenérgicos:
conforto. Além disso, há o risco de injeções intravascula-
res que podem causar efeitos sistêmicos nos pacientes. Olhos: A ativação de receptores α1 nos olhos causa dila-
tação da pupila (midríase) por causa da contração do
Efeitos sistêmicos adversos: músculo radial da íris que, quando contrai, expande a pu-
- Aumento da pressão arterial, pelo aumento da vaso- pila. Dessa forma, há colírios midriáticos com fenilefrina
constrição após atuação em receptores α1 (noradrena- que são utilizados no pré-operatório de cirurgias intrao-
lina e fenilefrina principalmente). culares ou para exames de rotina. Alguns colírios lubrifi-
- Taquicardia, pela atuação em receptores β1 aumen- cantes possuem nafazolina ou fenilefrina (em quantidade
tando a força de contração, a frequência cardíaca e a ve- menor da necessária para causar midríase), são utilizados
locidade de condução do coração (adrenalina). para reduzir a vermelhidão dos olhos por causar a vaso
- Hiperglicemia, pela atuação em receptores β2 aumen- constrição dos pequenos vasos.
tando a liberação de glicose pelo fígado (adrenalina).
Sistema respiratório: a ativação de receptores α1 nos va-
Contraindicações para o uso de sos sanguíneos do trato respiratório superior causa vaso-
vasoconstritores em anestésico locais: constrição. Os agonistas são utilizados em descongestio-
- Pacientes com angina instável. nantes tópicos ou orais nasais. Por exemplo: sorine (na-
- Infarto do miocárdio recente (até 6 meses). fazolina), oximetazolina e fenilefrina. Presentes em quase
- Acidente vascular cerebral recente. todas as associações de antigripais.
- Arritmias refratárias.
- Insuficiência cardíaca congestiva não controlada. Usos – Agonistas β2-adrenérgicos:
- Diabetes não controlado. Como a terbutalina e o salbutamol.

Uso com cautela: Sistema respiratório inferior: o músculo liso brônquico


- Pacientes hipertensos (não exceder mais de 2 tubetes possui muitos receptores β2-adenérgicos, quando ativa-
de adrenalina, optar por fenilefrina que não altera o sis- dos, causam bronquiodilatação. Assim, os agonistas são
tema cardiovascular. Em tratamento de urgência, é me- utilizados para o tratamento e para a profilaxia de bron-
lhor utilizar um anestésico sem vasoconstritores.). coespasmo da asma brônquica, da bronquite crônica e do
enfisema pulmonar. Por exemplo: salbutamol, fenoterol Escopolamina: a ativação parassimpática de M3 aumenta
e salmeterol. a motilidade do trato gastrointestinal. Assim, os fármacos
agem fazendo o oposto, inibem a motilidade do trato gas-
Simpatomiméticos antiadrenérgicos trointestinal, têm efeito antiespasmódico e ajudam a re-
Antagonistas α-adrenérgicos e β-adrenérgicos inibem ou duzir as cólicas abdominais.
antagonizam as ações da adrenalina ou da noradrenalina.
O principal uso terapêutico é nas doenças cardiovascula- Toxina botulínica na prática odontológica
res (como a hipertensão). Embora a toxina botulínica envolve o sistema nervoso so-
mático, o neurotransmissor envolvido é a acetilcolina. Re-
Farmacologia do SNA Parassimpático centemente, o COF reconheceu o direito dos cirurgiões-
Relacionado com a fisiologia do descanso e da digestão, dentistas a fazerem o uso da toxina botulínica.
por exemplo, após uma refeição, ele é ativado, causando Aplicação do Botox – efeito somático (mm. esquelético).
aumento da secreção no TGI, aumento do peristaltismo e
relaxamento do tônus do esfíncter. Há também redução Toxina botulínica: extraída do Clostridium botulinum, uma
da pressão arterial e da frequência cardíaca, broncocons- bactéria que causa intoxicação alimentar (botulismo) e
trição, aumento de secreção nos pulmões, aumento de que possui alta mortalidade (incidente na Escócia em
secreção do muco... 1922, morte de 8 pessoas após comerem patê de pato).
A toxina é composta por peptidases que clivam proteínas
Parassimpatomiméticos colinérgicos específicas envolvidas na exocitose da acetilcolina cau-
Mimetizam as ações da acetilcolina por meio de agonistas sando um bloqueio de longa duração da função sináptica.
muscarínicos, ou seja, agonistas de receptores colinérgi- > Resultado: paralisia parassimpática e motora progres-
cos. siva, boca seca, visão turva, dificuldade para deglutir e pa-
ralisia respiratória e morte. Há antitoxina, mas ela deve
Cevimelina: agonista muscarínico, embora ainda não es- ser administrada antes do aparecimento dos sintomas.
teja disponível no Brasil, é interessante na prática odon-
tológica porque estimula a produção de saliva. Utilizada Neurônio colinérgico libera acetilcolina em vesículas na
para tratamento de xerostomia quando associada a Sín- fenda sináptica. A toxina botulínica impede que a acetil-
drome de Sjogren, uma doença autoimune que afeta as colina seja liberada na fenda. Assim, acetilcolina não atua
glândulas produtoras de saliva e de lágrimas causando se- nos receptores nicotínicos presentes na junção neuro-
cura na boca. É importante relembrar que a redução da muscular e não haverá contração muscular. Assim,
saliva se relaciona com a alta no índice de cárie, assim, é quando se injeta, há um bloqueio da liberação de ACh e
interessante que o cirurgião-dentista conheça. há relaxamento do músculo, ele não irá mais contrair (en-
tão, o músculo fica “liso”, sem as rugas que seriam causa-
Parassimpatolíticos anticolinérgicos das pelo movimento).
Antagonizam as ações da acetilcolina por meio de anta-
gonistas muscarínicos nos receptores. Na Odontologia, começou a ser utilizada para corrigir sor-
riso gengival e para o tratamento do bruxismo. Além
Ipratrópio: antagonista muscarínico. A ativação dos re- disso, há outros usos como:
ceptores M3 causa broncoconstrição e aumento de se- - Correção de sorriso gengival.
creção de muco. Assim, ao usar um antagonista muscarí- - Bruxismo.
nico ele será uso no tratamento da asma e adjuvante na - Blefaroespasmo (espasmo palpebral persistente e inca-
anestesia porque fará o oposto, bloqueando a ativação pacitante).
do M3 do parassimpático, causando broncodilatação e - Tratamento de espasmos involuntários e excesso de ri-
redução de secreções. gidez muscular (paralisia cerebral e outras condições neu-
rológicas).
Atropina e tropicamida: a ativação de M3 colinérgico nos - Redução de linhas de expressão por paralisia de múscu-
olhos causa constrição pupilar (miose) e contração do los superficiais.
músculo ciliar. Os fármacos que bloqueiam essa ativação,
sendo, portanto, parassimpatolíticos, são antagonistas Embora seja utilizada para condições odontológicas, há
muscarínicos que impedem a ação da acetilcolina cau- muitos dentistas que utilizam para procedimentos estéti-
sando midríase sendo utilizados em colírios midriáticos cos. A toxina botulínica pode ser usada tanto para o tra-
para exames oftalmológicos. tamento estético quanto como uma arma biológica.
Por que tratar a hipertensão? Geralmente, o paciente
hipertenso não se queixa de nenhum sintoma, mas a
hipertensão deve ser tratada porque gera muitas
complicações cardiovasculares: acidente vascular
cerebral, infarto agudo do miocárdio, retinopatia, fa-
lência cardíaca e falência renal.
09 mar 21
Aula 05 – Farmacologia do Modificações no estilo de vida: essas modificações
sistema cardiovascular devem ser feitas antes do início da farmacoterapia
Prof. Regina de Sordi por meio da prática de exercícios físicos, dieta ade-
quada, redução de sal e açúcar e redução do con-
Hipertensão arterial sumo de álcool.
Condição clínica multifatorial caracterizada por elevação
sustentada dos níveis pressóricos maiores ou iguais a Controle da pressão arterial: A pressão arterial é pro-
140/90 ou 14/9. A pressão é normal quando os valores de
duto do débito cardíaco e da resistência vascular pe-
pressão sistólica (PAS) são menores ou iguais a 120 e
riférica, ou seja, a resistência das paredes dos vasos.
quando os valores da pressão diastólica (PAD) são meno-
res ou iguais a 80 mmHg. O paciente é considerado pré-
hipertenso quando a sistólica estiver entre 121 e 139 e a Pressão arterial = DC x RP
diastólica entre 81 e 89. Com valores maiores ou iguais a
140 por 90, o paciente é considerado hipertenso com es- O débito cardíaco é o volume do sangue bombeado pelo
tágios de 1 a 3 conforme esses valores vão aumentando: coração por minuto, pode ser calculado multiplicando-se
a frequência cardíaca (batimentos cardíacos por minuto)
pelo volume sistólico (depende da força de contração car-
díaca e do volume sanguíneo).

Débito cardíaco = FC x VS

A ativação simpática, ou seja, a noradrenalina liberada


pelas fibras adrenérgicas simpáticas atua em receptores
Hipertensão essencial /primária: 85 a 90% dos casos, não beta-adrenérgicos do coração promovendo aumento de
é possível saber as causas exatas da hipertensão. Nesse força de contração e aumento da frequência cardíaca
caso, múltiplos fatores genéticos e ambientes: que, por sua vez, aumentam o débito cardíaco e, por-
- Negros e pessoas com histórico familiar. tanto, a pressão arterial. Além disso, ao atuarem nos re-
- Tabagismo. ceptores alfa1-adrenérgicos presentes nos vasos sanguí-
- Idade. neos, principalmente na microcirculação, causa vaso-
- Dieta. constrição aumentando a resistência vascular periférica,
- Sedentarismo e obesidade. aumentando, por consequência, a pressão arterial.
- Diabetes.
Anti-hipertensivos: dividem-se em 8 grandes classes que
Hipertensão secundária: apenas 10 a 15% dos casos, é atuam em diferentes locais.
possível saber a causa da hipertensão, geralmente secun-
dária a outros fatores. Por exemplo: - As classes principais atuam nos vasos sanguíneos, prin-
- Hiperaldosteronismo. cipalmente nas células do músculo liso vascular redu-
- Constrição da artéria renal. zindo a resistência vascular periférica.
- Coarctação da aorta.
- Gravidez. - Há fármacos que atuam no coração, principalmente os
betabloqueadores, que antagonizam os receptores beta-
- Contraceptivos orais.
adrenérgicos no coração causando redução da força de
- Glicocorticoides.
contração e da frequência cardíaca contribuindo para a
- AINEs (anti-inflamatórios não esteroidais).
redução da pressão arterial.
- iMAO (inibidores da monoamina oxidase).
- Há fármacos que causa bloqueio beta nos rins reduzindo  Prazosina.
a liberação de renina e, por consequência, reduz a ativa-  Doxazosina.
ção do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Há
ainda aqueles que atuam diretamente nos rins, nos né- Há muitos receptores alfa1-adrenérgicos no mm liso vas-
frons, causando natriurese (aumento da excreção de só- cular, a ativação causa constrição e, portanto, aumento
dio) porque, junto com o sódio, há perda de água redu- da resistência periférica e aumento da pressão arterial.
zindo o volume de sangue diminuindo o débito cardíaco
contribuindo para a redução da pressão arterial. Antagonistas de beta-adrenérgicos: o bloqueio dos recep-
tores faz com que haja redução na frequência cardíaca e
- Há fármacos de ação central que atuam reduzindo a ati- a força de contração ocasionando efeito no débito cardí-
vação do sistema nervoso simpático que, embora pouco aco e, por consequência, na pressão arterial.
utilizados, são bastante importantes para o tratamento
de hipertensão em gestantes e pacientes refratários a ou- Principalmente os receptores beta1-adrenérgicos, locali-
tros tratamentos (que não respondem adequadamente zam-se no coração. A ativação deles aumenta a frequên-
às outras classes de fármacos). cia cardíaca e a força de contração, aumentando o débito
cardíaco e a pressão arterial.
Agonistas de alfa2-adrenérgicos central: moduladores
adrenérgicos, fármacos de ação central. Eles reduzem a Há dois tipos principais de receptores beta-adrenérgicos:
ativação do simpático e, portanto, reduzem a resistência  B1-adrenérgicos, localizados principalmente no
periférica e o débito cardíaco contribuindo para a redu- coração, sua ativação causa aumento da frequência
ção da pressão arterial. cardíaca e aumento da força de contração.
 B2-adrenérgicos, localizados em vasos de músculo
 Clonidina. esquelético e causam vasodilatação.
 Metildopa.
Betabloqueadores:
Relembrando a sinapse noradrenérgica. A noradrenalina, Há dois tipos principais:
quando liberada na fenda sináptica, pode atuar em recep-
tores adrenérgicos pós-sinápticos (a1 do mm. liso vascu-  Antagonistas B1-seletivos, bloqueiam principal-
lar, b1 no coração e b2 em vasos de mm. esqueléticos e mente os receptores B1 cardíacos causando redução
bronquíolos), pode ser recaptada por transportadores ou da força de contração cardíaca.
ainda pode atuar em auto-receptores (a2-adrenérgicos -Exemplo: atenolol, metoprolol e bisoprolol.
pré-sinápticos) que, quando ativados, inibem a liberação  Antagonistas não seletivos B1 e B2, bloqueiam re-
da própria noradrenalina. ceptores B1 e B2. Lembrando que, além de coração e
vasos de músculo esquelético, nos bronquíolos dos
Esses fármacos alfa2-adrenérgicos utilizados na hiperten- pulmões há muitos receptores B2 que, quando ativa-
são são agonistas desses receptores citados anterior- dos, causam broncodilatação, assim, os betabloquea-
mente, então, atuam reduzindo a liberação de noradre- dores não seletivos são contraindicados para pacien-
nalina na fenda sináptica. A metildopa, por exemplo, é a tes asmáticos.
primeira escolha da gravidez por ser considerado um dos - Exemplo: propranolol, carvedilol e nadolol.
fármacos mais seguros. Quando os agonistas a2-adrenér-
gicos se ligam aos receptores vão: reduzir a liberação de Implicações cardiovasculares relacionadas
noradrenalina e, portanto, reduzir a ativação do sistema à utilização de anestésicos contendo vasoconstritores
nervoso simpático reduzindo principalmente a resistên- Há três principais vasoconstritores adrenérgicos: fenile-
ciaa vascular periférica e, assim, reduzindo a pressão ar- frina, noradrenalina (norepinefrina) e adrenalina (epine-
terial. frina). Essas drogas apresentam diferentes seletividades
para os receptores adrenérgicos.
> Efeito adverso: xerostomia devido a redução da ativa-
ção simpática, redução da salivação por medicamentos. Antes disso, é válido lembrar que esses agentes são utili-
zados pelo efeito em receptores alfa1-adrenérgicos para
Antagonistas de alfa1-adrenérgicos: atuam na muscula- causar vasoconstrição local reduzindo a absorção do
tura lisa, impedem a ação da noradrenalina, principal- anestésico local.
mente em músculos lisos, reduzindo a vasoconstrição e a
resistência vascular periférica.
A fenilefrina é considerada mais seletiva para receptores A adrenalina, por sua vez, atua igualmente em receptores
alfa1-adrenérgicos, porém, é pouco potente. A noradre- alfa e beta-adrenérgicos. Então, causa aumento da fre-
nalina atua em receptores alfa1-adrenérgicos, porém quência cardíaca por estimular receptores B1-adrenérgi-
também atua em receptores beta1-adrenérgicos no cora- cos cardíacos, mas causa redução da resistência vascular
ção. Por fim, a adrenalina é considerada não seletiva, atu- periférica porque ativa receptores B2-adrenérgicos nos
ando igualmente em receptores alfa1, beta1 e beta2- vasos sanguíneos porque causa vasodilatação. O resul-
adrenérgicos. Assim: tado disso é o aumento da pressão sistólica e redução da
pressão diastólica, assim, o aumento da pressão arterial
 Alfa: norepinefrina > epinefrina > fenilefrina. média será menor em comparação com o causado pela
 Beta: epinefrina > norepinefrina. noradrenalina.

Sabendo disso, quando um paciente hipertenso utiliza:  Pressão sistólica = o que acontece com coração.
 Pressão diastólica = o que acontece na resistência
(a) um antagonista alfa1-adrenérgico: vascular periférica.
- Prazosina, terazosina ou doxazosina.
1 Redução do efeito vasoconstritor local de qualquer um
dos agentes por ser via alfa1, portanto, pode haver au-
mento da absorção sistêmica do anestésico aumentando
a quantidade que deve ser utilizada do mesmo.
2 Os receptores beta1 e beta2 estão sem oposição, então
pode ocorrer hipotensão arterial (pela vasodilatação da
ativação do B2) e taquicardia (aumento da força e fre-
quência de contração pelo B1) quando administrada a
adrenalina.

* DÚVIDA: Isso seria porque mais quantidade de adrena- Porém, quando se faz uso de betabloqueadores não-sele-
lina pode atuar nos receptores B1 e B2? Tipo, antes a tivos, ao bloquear o efeito vasodilatador mediado por re-
quantidade se dividia em 3 e agora se divide em 2? Seria ceptores beta2-adrenérgicos, a administração de adrena-
isso? lina (que atuará preferencialmente nos receptores alfa1-
adrenérgicos) pode causar um aumento significativo da
(b) betabloqueadores antagonistas beta1-seletivos: pressão arterial com bradicardia reflexa.
- Atenolol, metoprolol ou bisoprolol.
Menos problemas são gerados, bloqueiam apenas os re-
ceptores beta1-adrenérgicos cardíacos.

* DÚVIDA: Qual seria uma consequência disso? Apenas


redução da pressão mesmo?

(c) betabloqueadores não-seletivos B1/B2-adrenérgicos:


- Propranolol, carvedilol ou nadolol.
Inibem os B-receptores e deixam livres os receptores alfa-
adrenérgicos, os pacientes, ao receberem adrenalina no
anestésico local, podem ter um caso de hipertensão
aguda porque a adrenalina atuará apenas nos receptores
alfa1 e não haverá vasodilatação dos receptores beta2
que estarão bloqueados.

Efeito da adrenalina e da noradrenalina na pressão:


A noradrenalina atua muito mais em receptores alfa1-
Por conta desse cenário, é sempre muito importante per-
adrenérgicos, isso causa vasoconstrição e aumento da re-
guntar ao paciente hipertenso qual tipo de anti-hiperten-
sistência vascular periférica que, por consequência, causa
sivo ele usa para que se analise o efeito disso no uso de
aumento da pressão arterial. Além disso, haverá uma re-
anestésicos locais durante procedimentos odontológicos.
dução reflexa da frequência cardíaca.
Outros tipos de anti-hipertensivos por sua vez, é clivada pela enzima conversora de angio-
tensina (ECA) em angiotensina II que atua principalmente
Bloqueadores de canais de cálcio: Esses fármacos, como o em receptores do tipo AT1. A ativação de receptores AT1
nome diz, bloqueiam os canais de cálcio. No mm. liso vas- nos vasos causa vasoconstrição aumentando a resistência
cular, o bloqueio de canais de cálcio reduz a entrada de vascular periférica aumentando, também, a pressão arte-
cálcio na célula reduzindo, também, a contração do mm. rial. Já a ativação de AT1 na suprarrenal promove a libe-
liso culminando na redução da resistência vascular peri- ração de aldosterona que causa retenção de sódio e de
férica e na redução da pressão arterial. No mm. cardíaco, líquido aumentando, também, a pressão arterial.
o bloqueio causa redução da força e da frequência cardí-
aca. Exemplos: Nifedipina, manidipina e ditiazen. Pensando nisso, há vários alvos de ação de fármacos:
- Inibidores da renina (alisquireno), impedem a conversão
Classes principais: de angiotensinogênio em angiotensina I.
(a) Di-hidropiridinas: - Inibidores da ECA, iECA (captopril e enalapril), impedem
- Nifedipina, manidipina, felodipina e anlodipina. a conversão de angiotensina I em angiotensina II.
- Seletivas para os canais de cálcio do mm. liso vascular. - Antagonistas da AT1 (Losartana e candesartana), impe-
dem a ação da angiotensina II nos receptores AT1.
(b) Fenilalquilamina:
- Verapamil. Todos esses fármacos, de alguma maneira, reduzem o
- Cardiosseletivo, ou seja, bloqueia mais os canais de cál- efeito da angiotensina II e, portanto, reduzem a resistên-
cio do mm. estriado cardíaco. cia vascular periférica e a pressão arterial.

(c) Benzotiazepina: Implicações odontológicas de pacientes AINEs


- Ditiazen. Como é comum a prescrição de anti-inflamatórios para
- Bloqueia igualmente canais do mm. liso vascular e do pacientes odontológicos, é bom lembrar que o uso por
mm. estriado cardíaco. mais de 5 dias pode reduzir os efeitos dos fármacos anti-
hipertensivos.
Implicações odontológicas:
- Pode ser encontrada hiperplasia gengival induzida pelos Anticoagulantes e antiagregantes plaquetários
medicamentos bloqueadores de canais de cálcio. A prin- Muitos pacientes cardíacos utilizam para reduzir a forma-
cipal mudança tecidual é a proliferação de fibroblastos e ção de trombos e, portanto, eles podem apresentar um
produção de colágeno, além disso, há acúmulo de células risco maior de sangramentos durante procedimentos
inflamatórias. Parece existir uma interação entre fármaco odontológicos. Assim, é interessante saber mais sobre.
e fibroblastos locais, os bloqueadores estimulam esses fi-
broblastos a proliferarem contribuindo para uma inflama- Antiagregantes plaquetários
ção gengival. Agregação plaquetária: Quando há lesão tecidual, há ex-
- Interação entre antibióticos como eritromicina e clari- posição de colágeno devido ao dano endotelial. Ocorre,
tromicina e o Verapamil. A eritromicina é bastante utili- primeiramente, a adesão de plaquetas no local, elas libe-
zada no tratamento de infecções odontogênicas (o se- ram mediadores como ADP, serotonina e tromboxano A2,
gundo mais frequente após a penicilina), sendo reservada que promovem a ativação de plaquetas. A ativação faz
para pacientes alérgicos à penicilina em infecções de pe- com que elas se liguem ao fibrinogênio fazendo ligações
quena gravidade. O Verapamil é metabolizado pela cruzadas promovendo a agregação plaquetária e a forma-
CYP3A4 no fígado em um metabólito inativo. No uso con- ção do tampão plaquetário.
comitante dos dois medicamentos com o Verapamil, há
competição pela mesma família de enzimas de metaboli- Os fármacos antiagregantes plaquetários atuam princi-
zação podendo haver um aumento da concentração plas- palmente interferindo nos mediadores secretados pelas
mática de Verapamil e, portando, aumento do risco de ar- plaquetas. As próprias plaquetas liberam ADP e trombo-
ritmias. xano A2 que atuam em outras plaquetas. O tromboxano
A2 é sintetizado a partir do ácido araquidônico pela en-
Fármacos que interferem no sistema renina-angiotensina- zima cicloxigenase (COX).
aldosterona: Lembrando que, nesse sistema, uma baixa
perfusão renal ou uma atividade nervosa simpática esti- ADP e TXA2 atuam em receptores de outras plaquetas
mula os rins a liberarem a renina que cliva o angiotensi- causando a ativação plaquetária. Ocorre ativação plaque-
nogênio sintetizado pelo fígado em angiotensina I que, tária quando há ativação do receptor de integrina IIb/IIIa
que sofre uma alteração conformacional permitindo a li- Varfarina: vários dos fatores de coagulação que estão en-
gação de fibrinogênio fazendo ligações cruzadas promo- volvidos na reação de coagulação precisam da vitamina K
vendo a agregação. como cofator para sua síntese pelo fígado. Esses fatores
sofrem uma modificação pós-translacional dependente
Os principais são: de vitamina K para se tornarem ativos, sofrendo uma car-
- Antagonistas de receptores P2Y (receptores de ADP), boxilação dos seus resíduos de ácido glutâmico. A vita-
atuam impedindo a ação de ADP, sendo os principais: ti- mina K participa dessa carboxilação como cofator, depois
clopidina, clopidogrel, plasugrel e ticagrelor. de participar, torna-se inativa. Portanto, para voltar a ati-
- Aspirina, inibindo a enzima COX reduzindo a formação vidade, precisa sofrer ação de uma enzima (vitamina K-
de TXA2. redutase, VKORC1) que converte a vitamina K oxidada
(inativa) em vitamina K reduzida (ativa) para que ela possa
Ticlopidina, clopidogrel e plasugrel são antagonistas irre- converter o fator de coagulação inativo em ativo. A varfa-
versíveis da P2Y. Já a aspirina, também promove inibição rina inibe a enzima VKORC1 que impedirá a ativação da
irreversível da COX. Assim, quando utilizados cronica- vitamina K e, consequentemente, impedirá a ativação dos
mente, o efeito desses fármacos e bastante prolongado. fatores de coagulação.
Isso é importante para procedimentos cirúrgicos invasi-
vos, já que, mesmo que se peça suspensão do uso do me- Implicação odontológica: a varfarina tem uma janela te-
dicamento para reduzir o risco de hemorragias, deve-se rapêutica muito estreita, ou seja, pequenas alterações
ficar atendo ao efeito prolongado, devendo-se esperar al- nas concentrações de varfarina causam efeitos adversos
guns dias até que a agregação plaquetária do paciente re- que, nesse caso, é bastante grave porque é a hemorragia.
torne ao normal reduzindo o risco de hemorragia. Muito importante na parte odontológica por conta das in-
terações medicamentosas. A varfarina é metabolizada
Anticoagulantes pelas enzimas CYP2C19 resultando em metabólitos inati-
vos. O uso de alguns antibióticos, por exemplo, o metro-
Coagulação sanguínea: processo complexo, envolve mui- nidazol que compete com a CYP2C19, pode aumentar o
tos componentes ativados em cascata. Os componentes risco de sangramentos. Embora ele não seja muito utili-
são chamados de fatores e estão presentes no sangue zado, tem aplicação no tratamento de periodontites e
como precursores inativos. São ativados por proteólise pode ser utilizado em associação com outros antibióticos.
sendo as formas ativas identificadas pelo sufixo –a. Então: Além disso, uso de antibióticos de amplo espectro redu-
Fator X, ativado > fator Xa. Além de iniciar a adesão e ati- zem a microbiota intestinal que sintetiza a vitamina K,
vação plaquetária, uma lesão na parede de um vaso tam- uma fonte importante da vitamina. O efeito resultante
bém expõe o fator tecidual (FT) que inicia o sistema de costuma ser discreto, porém, se houver deficiente dieté-
coagulação. Então, as plaquetas apoiam e potencializam tica concomitante, pode haver aumento do efeito da var-
o sistema de coagulação fornecendo uma superfície na farina e, por consequência, aumento do risco de sangra-
qual os fatores de coagulação se reúnem, e também libe- mento.
rando fatores de coagulação armazenados que levam a
uma grande liberação de trombina (também chamada de  Relato de caso, interação de varfarina e amoxici-
fator IIa, formada a partir da pró-trombina). Essa trom- lina (antibiótico de amplo espectro) resultando em
bina é responsável pela transformação do fibrinogênio, sangramento persistente no pós-operatório de um
que é solúvel, em filamentos de fibrina que são insolúveis, paciente odontológico.
sendo o principal evento de coagulação e o último passo
da cascata enzimática. Esponjas hemostáticas: promovem matriz mecânica que
facilita e estimula a coagulação evitando sangramentos.
Os principais anticoagulantes atuam:
- No fator Xa. Anti-inflamatórios não-esteroidais: ao inibirem a COX po-
- No fator IIa (trombina). dem causar efeitos adversos no TGI, podendo levar à ul-
ceração e à hemorragia, aumentando ainda mais a proba-
Por exemplo, a varfarina, um dos principais anticoagulan- bilidade de os AINEs forem utilizados em altas doses ad-
tes utilizados, inibe a ativação dos fatores IIa, Xa e Via. Já ministrados concomitantemente com fármacos anticoa-
a Rivaroxabana Xaretto® age como inibidor direto do fa- gulantes e antiagregantes plaquetários. Atenção na pres-
tor Xa e, por fim, a Dabigatrana pradaxa® é um inibidor crição de AINEs para pacientes que os utilizam.
reversível direto da trombina.
2. Anticonvulsivantes: também chamados de antiepilépti-
cos, são fármacos utilizados para reduzir convulsões por
meio de 6 mecanismos que agem na despolarização por
potencial de ação propagado, no influxo de Ca2+ em res-
posta à despolarização, na interação com receptores pós-
sinápticos, na inativação do neurotransmissor, na captura
de neurotransmissor ou dos produtos de degradação por
20b mar 21 terminações nervosas, ou ainda na captação do transmis-
Aula 06 – Farmacologia do SNC sor por células não-neuronais.
Prof. Juliano Ferreira - São utilizados e prescritos por odontólogos.
- Costumam ser utilizados por pacientes odontológicos.
Fármacos que agem no sistema nervoso central - Exemplos: carbamazepina, gabapentina, valproato e
Os fármacos que atuam no sistema nervoso central estão Diazepam.
divididos em diversas classes, mas atuam principalmente
pelo processo de interação com os receptores pós-sináp- 3. Antidepressivos: são os fármacos utilizados para aliviar
ticos para exercerem sua ação terapêutica. os sintomas de depressão por meio de ação na captura
de neurotransmissor ou dos produtos de degradação por
Mecanismos de ação de síntese, armazenamento e libe- terminações nervosas, na captação do transmissor por
ração de transmissores aminados e aminoácidos: células não-neuronais ou na interação com receptores
1. Captação de precursores. pré-sinápticos. São classificados química ou funcional-
2. Síntese do transmissor. mente em tricíclicos e inibidores da receptação da sero-
3. Captação/transporte do transmissor para vesículas. tonina.
4. Degradação do transmissor excedente. - São utilizados e prescritos por odontólogos.
5. Despolarização por potencial de ação propagado. - Costumam ser utilizados por pacientes odontológicos.
6. Influxo de Ca2+ em resposta à despolarização. - Exemplos: amitriptilina, sertralina e venlafaxina.
7. Liberação do transmissor por exocitose.
8. Difusão até a membrana pós-sináptica.  Alguns fármacos utilizados originalmente como
9. Interação com receptores pós-sinápticos. anticonvulsionantes ou antidepressivos também po-
10. Inativação do transmissor. dem ser utilizados no controle da dor na Odontologia.
11. Captura do transmissor ou dos produtos de degrada- Por exemplo: carbamazepina, gabapentina e amitrip-
ção por terminações nervosas. tilina.
12. Captação do transmissor por células não-neuronais.
13. Interação com receptores pré-sinápticos. 4. Analgésicos: são os fármacos utilizados no controle da
dor. Agem na despolarização por potencial de ação pro-
 Os transportadores (11 e 12) são capazes de libe- pagado, no influxo de Ca2+ em resposta à despolarização,
rar o transmissor sob certas condições operando na na liberação do transmissor por exocitose, na interação
direção contrária. Esses processos estão bem carac- com receptores pós-sinápticos e na interação com recep-
terizados para muitos transmissores. tores pré-sinápticos. Podem ser classificados química e
 Os medicamentos peptídicos são diferentes pois funcionalmente como opióides.
podem ser sintetizados e armazenados no corpo ce- - São utilizados e prescritos por odontólogos.
lular, e não nas terminações. - Costumam ser utilizados por pacientes odontológicos.
- Exemplos: morfina, carbamazepina, gabapentina e ami-
Classes terapêuticas dos fármacos que atuam no SNC triptilina.

1. Ansiolíticos e sedativos: também chamados de hipnóti- 5. Anestésicos gerais: são os fármacos utilizados para pro-
cos ou tranquilizantes menores, são os fármacos que re- duzir anestesia geral interagindo nos processos de despo-
duzem a ansiedade, o nível de consciência e causam sono, larização por potencial de ação propagado, influxo de
atuando pelo mecanismo de interação com os receptores Ca2+ em resposta à despolarização e interação com recep-
pós-sinápticos. Algumas das classes químicas ou funcio- tores pós-sinápticos.
nais desses fármacos são benzodiazepínicos, barbitúricos. - São utilizados e prescritos por odontólogos.
- São utilizados e prescritos por odontólogos. - Não costumam ser usados por pacientes odontológicos.
- Costumam ser utilizados por pacientes odontológicos. - Exemplos: óxido nitroso, isoflurano, cetamina e pro-
- Exemplos: Diazepam, Midazolam e fenobarbital. pofol.
6. Antipsicóticos: também chamados de neurolépticos ou um médico. Vários desses fármacos com ação no SNC po-
tranquilizantes maiores, são os fármacos utilizados para dem influenciar o funcionamento dos fármacos prescritos
tratar sintomas de esquizofrenia por meio da interação por odontólogos, por isso, é extremamente importante o
com processos de interação com receptores pós-sinápti- entendimento do funcionamento desses fármacos.
cos e interação com receptores pré-sinápticos. Podem ser
classificados química e funcionalmente em fenotiazinas e Farmacologia das benzodiazepinas
butirofenonas. As benzodiazepinas recebem esse nome pela estrutura
- Não são utilizados e prescritos por odontólogos. química da molécula que possui um anel benzênico e dos
- Costumam ser utilizados por pacientes odontológicos. átomos de hidrogênio (azoto).
- Exemplos: clorpromazina, haloperidol e clozapina.
 Por isso se chamam benzo-di-azepinas.
7. Nootrópicos: são os fármacos que melhoram a memó-
ria e o desempenho cognitivo por meio de interação com Os efeitos clínicos de benzodiazepinas dependem da con-
os processos de liberação do transmissor por exocitose e centração plasmática e da dose de BZP utilizados. Assim:
inativação do transmissor.
- Não são utilizados e prescritos por odontólogos.
- Não costumam ser usados por pacientes odontológicos.
- Exemplos: donepezila e piracetam.

8. Psicoestimulantes: são os fármacos que promovem vi-


gília e euforia por meio da interação com processos de
captação/transporte do transmissor para vesículas, cap-
tura do transmissor ou dos produtos de degradação por
terminações nervosas e captação do transmissor por cé-
lulas não-neuronais. Podem ainda, ser classificados quí-
mica e funcionalmente em anfetaminas.
- Não são utilizados e prescritos por odontólogos.
- Não costumam ser usados por pacientes odontológicos. (a) Doses baixas: efeito ansiolítico.
- Exemplos: metanfetamina e metilfenidato. (b) Doses médias: efeito anticonvulsivante.
(c) Doses altas: efeito sedativo.
9. Psicomiméticos: também chamados de alucinógenos (d) Doses ainda mais altas: efeito amnésico.
ou psicodélicos, são as drogas que causam alteração da (e) Doses altíssimas: efeito hipnótico (produção de sono).
percepção, por exemplo, alucinações visuais, e alteração
do comportamento agindo por interação com os proces- Mecanismo de ação de BZP
sos de interação com receptores pós-sinápticos e intera- As benzodiazepinas são agonistas alostéricos do receptor
ção com receptores pré-sinápticos. GABAa, um canal iônico ativado por ligante, ou seja, iono-
- Não são aprovados para utilização terapêutica. trópico, cujo ligante agonista endógeno é o aminoácido
- Não são utilizados e prescritos por odontólogos. inibitório ácido gama-aminobutírico (GABA). Esse recep-
- Não costumam ser usados por pacientes odontológicos. tor GABAa tem sítio para ligação do GABA, para vários fár-
- Exemplos: LSD e mescalina. macos e para outras substâncias tóxicas. Por exemplo,
possui um sítio alostérico para as benzodiazepinas, um sí-
Muitos fármacos que agem no SNC são prescritos por tio para ligação de esteroides e barbitúricos, sítio para li-
odontólogos, especialmente ansiolíticos e sedativos (uti- gação de etanol...
lizados diante de alguns procedimentos cirúrgicos), anes-
tésicos gerais e analgésicos. Além disso, o cirurgião-den- A estrutura do receptor GABAa é uma proteína multimé-
tista pode, ainda, prescrever anticonvulsivantes e antide- rica formada por três subunidades (α, β e γ) unidas a ou-
pressivos, não para convulsões ou depressão, mas como tras 5 subunidades formando um poro ao centro. O poro
analgésicos. é um receptor permeável ao cloreto que opera normal-
mente em influxo após a abertura. Ou seja, quando o
Além disso, muitos pacientes que vão fazer procedimen- poro é aberto, o cloreto tende a entrar na célula. Em re-
tos em consultórios odontológicos fazem uso de algum pouso, quando o neurônio não está sendo estimulado, o
fármaco prescrito não por um odontólogo, mas sim por poro encontra-se fechado impedindo a passagem do clo-
reto.
Quando o GABA se liga ao GABAa, o poro é aberto permi- oxazepam) que vão sendo produzidos em sequência até
tindo o influxo de cloreto. Esse influxo faz com que a um ponto em que o metabólito oxazepam consegue ser
quantidade de carga negativa no meio intracelular da conjugado com glucoronídeos para formar um metabó-
membrana aumente promovendo uma hiperpolarização lito inativo que, então, é excretado para a urina. Por conta
da célula (negativa que fica mais negativa). dessa formação de vários metabólitos ativos que ficam na
circulação por muito tempo, o Diazepam possui tempo de
Quando as BZP são utilizadas, a ligação do GABA ao GA- ação biológica prolongado, muito mais longo quando
BAa é aumentada. Por consequência, o influxo de cloreto comparado, por exemplo, com o Midazolam.
que hiperpolariza os neurônios são aumentados e, assim,
fica ainda mais difícil a despolarização produzindo uma Metabolismo do Midazolam: quando administrado por
redução da excitabilidade neuronal (o limiar de disparo via intravenosa, sofre metabolismo por reação de fase 1
potencial de ação é ainda mais difícil de ser atingido). mediada pelo citocromo P450 3ª formando um metabó-
lito inativo que pode ser conjugado com o glucoronídeo
Janela terapêutica na reação de fase 2 e pode ser excretado pela urina.
A janela terapêutica do benzodiazepino é ampla em ques- Quando administrado por via oral, sofre grande metabo-
tão de letalidade. Por conta disso, são fármacos seguros lismo de primeira passagem: cerca de 50% do Midazolam
e é muito difícil ir a óbito, diferentemente de quando o é metabolizado pela CYP3A formando um metabólito
paciente usa uma superdosagem de um fenobarbital ativo. Assim, só metade da dose consegue chegar ao SNC
como clorpromazina ou morfina por exemplo, já que elas para produzir efeitos biológicos. Por conta disso, quando
possuem janelas terapêuticas bem mais estreitas. retorna ao fígado, pode ser conjugado ao glucoronídeo e
pode ser excretado, fazendo com que sua meia-vida seja
Farmacocinética de BZP muito curta se comparada, por exemplo, ao Diazepam.
Os fármacos benzodiazepínicos mais utilizados na Odon-
tologia são: Diazepam, lorezapam e Midazolam. Porém,
há uma infinidade de outros fármacos benzodiazepínicos
que possuem diversos usos terapêuticos como, por
exemplo, o uso no tratamento de insônia.

Diazepam: é um protótipo de benzodiazepina que pode


ser administrado por via oral, intramuscular, intravenosa
ou retal. É indicado para transtorno de ansiedade, estado
epiléptico, para relaxamento muscular esquelético e
como pré-medicação anestésica.
- Tempo de meia-vida: 43 horas (longo).

Lorazepam: metabolizado somente por conjugação, pode


ser administrado por via oral, intramuscular ou intrave-
nosa. É indicado para transtornos de ansiedade e para Uso clínico de BZP na Odontologia
uso como medicação pré-anestésica. O principal uso clínico dos benzodiazepínicos na Odonto-
- Tempo de meia-vida: 14 horas (intermediário). logia é na produção de sedação consciente.

Midazolam: é rapidamente inativado, pode ser adminis- Muitos pacientes desenvolvem ansiedade e medo dos
trado por via intravenosa, intramuscular e oral. É indica- procedimentos dentários, medo da dor, medo de uma si-
ção como medicação pré-anestésica e intraoperatória. tuação desconhecida, medo por um trauma da infância
- Tempo de meia-vida: 2 horas (curto). ou mesmo medo dos custos do tratamento. Por conta
desse medo, um ciclo vicioso é formado: por ter medo, o
Metabolismo: o metabolismo depende de cada fármaco. paciente evita o tratamento oral, por consequência, sua
saúde oral é pobre e isso faz com que ele tenha que ser
Metabolismo do Diazepam: possui uma meia-vida longa, submetido a tratamentos mais complexos e de maior
quando administrado por via intravenosa, por exemplo, custo que geram ainda mais ansiedade/medo. Para evitar
age diretamente no SNC promovendo ações ansiolíticas a consolidação desse ciclo, usa-se a sedação consciente.
muito rápidas. Quando passa pelo fígado, começa a sofrer
metabolismo gerando metabólitos ativos (nordiazepam e
A sedação consciente é o nível mínimo de depressão da porém, nesse caso cirúrgico, o paciente não se recorda de
consciência mantendo-se a habilidade do paciente de res- muitos procedimentos traumáticos utilizados durante a
pirar independente e continuamente, respondendo de cirurgia (sutura, elevação do dente, recebimento do anes-
forma apropriada à estimulação física e ao comando ver- tésico local) fazendo com que ele tenha menos medo de
bal. Ou seja, é um nível intermediário de sedação situado procedimentos cirúrgicos ou odontológicos posteriores.
entre a sedação mínima de ansiólise e a sedação pro-
funda com anestesia geral e analgesia e ventilação ade- Efeitos adversos do uso de benzodiazepínicos
quada. Os BZP possuem efeitos adversos quando usados cronica-
mente para tratar ansiedade, agorafobia, problemas psi-
O paciente não sofre alterações na função cardiovascular quiátricos... por isso, deve-se atentar para os possíveis
e não precisa receber uma intervenção para as vias aé- efeitos crônicos como redução da neurocognição, depen-
reas podendo, ainda, apesar de sedado, responder à esti- dência fisiológica com tolerância e síndrome de retirada
mulação tátil ou verbal. e produção de adição e síndrome de intoxicação por su-
perdosagens (no geral, não fatais, mas perigosas). Por
conta disso, recomenda-se que o paciente, após usar, não
se envolva com tarefas potencialmente perigosas como
dirigir ou operar máquinas.

Além disso, o uso agudo também pode trazer efeitos ad-


Principais BZP utilizados versos como sedação (por exemplo, quem tem ansiedade
Considerando-se administração por via intravenosa ou in- não deseja ficar sedado) e desinibição (perda de inibição,
tramuscular. paciente pode, por exemplo, falar coisas que não falaria
caso estivesse consciente).
1. Diazepam, com nome comercial Valium.
- Doses usuais de 5 a 10 mg.
- Doses para crianças 0,1 a 0,3 mg/Kg.
- Latência: 45 a 60 minutos.
- Duração: 20 a 50 horas.

2. Lorazepam, com nome comercial Lorax.


- Doses usuais de 1 a 2 mg.
- Doses para crianças* de 0,05 a 0,2 mg/Kg.
- Latência: 2 horas.
- Duração: 10 a 18 horas.
* Indicado para crianças cima de 12 anos.

3. Diazepam, com nome comercial Dormonid.


- Doses usuais de 15 mg. Da maneira como é conduzida a situação pré-cirúrgica na
- Doses para crianças de 0,1 a 0,3 mg/Kg. Odontologia, raramente há efeitos adversos. Porém,
- Latência: 20 minutos. quando observados, os mais comuns são sonolência, se-
- Duração: 2 a 5 horas. dação excessiva, perturbação da coordenação motora,
confusão e perda transitória de memória.
A latência é o período de tempo que demora para que,
uma vez administrado, o fármaco comece a exercer seu Cuidados: deve-se evitar o consumo de bebidas alcóolicas
efeito, nesse caso, sedativo e ansiolítico. Assim, o Midazo- concomitante com o uso porque o álcool potencializa os
lam possui um início de atuação mais rápido e uma dura- efeitos sedativos dos benzodiazepínicos. Além disso, para
ção mais curta favorecendo sua utilização em procedi- pacientes idosos, as doses devem ser ajustadas para
mentos odontológicos e cirurgias de curta duração. quantidades reduzidas pela função hepática e renal fre-
quentemente comprometida, mais lenta nesses pacien-
Anamnésia em pacientes: pacientes tratados com Mi- tes. Além disso, os benzodiazepínicos são contraindica-
dazolam tem redução significativa da ansiedade durante dos para mulheres grávidas e lactantes.
a extração do 3º molar e muitos desses pacientes pos-
suem amnésia. Esse efeito pode ser considerado adverso,
Parte II: Interações medicamentosas deos, são enviados para excreção. Assim, fármacos e con-
dições que interajam com o funcionamento do citocromo
Interações medicamentosas P450, consequentemente, alteram os níveis plasmáticos
É importante estudar para investigar a interação com ou- de midazolam e modificam sua ação terapêutica.
tros fármacos com implicação na prática odontológica.

As interações podem ocorrer:


- Entre fármacos.
- Entre fármacos e alimentos.
- Entre fármacos e suplementos alimentares.
- Entre fármacos e condições médicas.

As interações podem ocasionar:


- Redução da ação.
- Aumento da ação.
- Efeitos adversos inesperados. Além do midazolam, alguns outros fármacos como imu-
nossupressores, bloqueadores de canais de cálcio, estati-
Essas interações podem ser tanto farmacocinéticas, nas e alguns antibióticos também são processados pela
quanto farmacodinâmicas. Quando farmacocinéticas, en- enzima CYP3A do citocromo P450.
volvem-se com os processos de absorção, distribuição,
metabolização ou excreção. Por exemplo, antibióticos e Inibidores da enzima CYP3A: esses substratos, quando ad-
antiácidos interagem a nível de absorção porque formam ministrados com inibidores da enzima CYP3A, levam a
aglomerados que não são absorvíveis pelo trato gastroin- produção de interações medicamentosas. Por exemplo,
testinal fazendo com que o antibiótico perca sua ação. Já no caso de administração de midazolam com antifúngicos
interações farmacodinâmicas relacionam-se com fárma- como o itraconazol.
cos de efeito semelhante no organismo. Por exemplo, a
combinação de antidepressivos com pílulas para dormir
potencializa o risco de sedação. Outra combinação entre
anticoagulantes e antiplaquetários potencializa o risco de
sangramento, de hemorragia.

Níveis de relevância de interações

1. Grandes, maiores: altamente clinicamente signifi-


cativo. Deve-se evitar combinações porque o risco da
interação supera o benefício.

2. Moderadas: moderadamente clinicamente signifi-


cativo. Normalmente, deve-se evitar combinações, O gráfico mostra a concentração de Midazolam (T ½
utilizando-as apenas em circunstâncias especiais. curto) em função do tempo. Na presença de itraconazol,
as concentrações plasmáticas se mantêm altas por bas-
3. Pequenas, menores: minimamente clinicamente tante tempo aumentando a área sobre a curva do gráfico,
significativa. Deve-se minimizar o risco avaliando-o e aumentando o T ½ e levando ao aumento dos efeitos te-
considerando um medicamento alternativo. Deve-se rapêuticos do Midazolam inicialmente, com posterior au-
tomar medidas para contornar o risco de interação mento dos efeitos adversos. Por exemplo, o que pode
e/ou instruir um plano de monitoramento. acontece é que, usando o midazolam em uma dose baixa
que, em geral, causa apenas sedação, na presença de itra-
Interação farmacocinética conazol, pode haver efeito hipnótico.
O midazolam sofre metabolismo por enzimas do cito-
cromo P450 do tipo CYP3A4 e CYP3A5 que formam meta- Indutores da CYP3A: uma outra maneira de interação
bólitos inativos que, uma vez conjugados com glucoroní- acontece entre os fármacos substratos da CYP3A relacio-
nada à indução do citocromo P450. Nesse caso, fármacos
como a carbamazepina, rifampicina (usada na tubercu- excretar esse conjugado, assim, há aumento da concen-
lose), fenitorrina (anticonvulsivante), ritonavir (antiviral) tração plasmática do midazolam, assim, o fármaco, que
e a erva-de-São-João (planta utilizada para depressão) era para ter T ½ curto e rápida queda de concentração
podem ativar um receptor nuclear PXR que, quando ati- plasmática, passa a ter alta concentração por tempo pro-
vado, estimula a maquinaria de transcrição aumentando longado. Dessa forma, os efeitos terapêuticos e adversos
a quantidade de RNA mensageiro e, consequentemente, do midazolam em pacientes com insuficiência renal são
de proteína CYP3A, fazendo com que haja efeito aumen- bem mais exacerbados.
tado da atividade enzimática da CYP3A.
 No caso retratado, o paciente teve que fazer uso
No caso do midazolam que, quando sofre metabolismo do Flumazenil, um antagonista de receptores de BZP
pela CYP3A forma um metabólito inativo, esse processo para reverter a intoxicação de Midazolam ocasionada
de indução leva a um aumento do metabolismo e redu- pela condição de insuficiência renal.
ção dos efeitos biológicos do fármaco.
Interação farmacodinâmica: BZP e etanol
O uso de benzodiazepínicos associado ao etanol acontece
porque, além do sítio para GABA, o receptor GABAa pos-
sui um sítio para ligação do etanol que funciona como
agonista alostérico. Na presença do etanol, o midazolam
(como exemplo de BZP) tem um aumento da concentra-
ção efetiva 50 para efeitos biológicos, com consecutivo
aumento da potência. Ou seja:

 Doses menores produzem efeitos biológicos.

Essa aplicação de álcool e etanol é feita por criminosos


que associam os dois no golpe “Boa noite, Cinderela”. A
vítima ingere álcool com midazolam ocasionando amné-
 Estudo comparou a farmacocinética de pacientes
sia ou mesmo hipnose.
com epilepsia que faziam uso de carbamazepina ou
fenitorrina com sujeitos controle. Indutores do CYP3A
do P450 tem grande redução sobre a concentração
plasmática, redução da área sobre a curva e redução
do T ½ do Midazolam, explicando por que o paciente
que tomava carbamazepina ficou pouco responsivo
ao tratamento por via oral com o Midazolam.

Interação com condição médica: o midazolam é metabo-


lizado a dois metabólitos inativos que são excretados pe-
los rins, principalmente a forma glucoronídea (conju-
gada). Pacientes com insuficiência renal não conseguem
 Quando se usa anestésico local ou geral, há vários
tipos de bloqueios. Quando de usa um anestésico lo-
cal, em geral, quer-se um bloqueio de fibras nervosas
sensitivas, contudo, algumas vezes pode haver blo-
queio motor e, como efeito colateral, bloqueio au-
tonômico.

09 abr 21 Via de transmissão da dor


Aula 07 – Anestésicos gerais e locais A capacidade de propagação do estímulo doloroso é
Prof. Yara Medeiros maior e mais rápida nas fibras A/δ em comparação com
as fibras do tipo C (não mielinizadas)
Anestésicos
Anestésicos locais são medicamentos que, quando aplica- As vias da dor são complexas, necessitam de vias aferen-
dos por vias diversas de administração, em concentra- tes e eferentes para que o sistema nervoso processe a in-
ções apropriadas, inibem a condução nervosa, ou seja, formação e envie mensagens para o local afetado. Assim,
promovem o bloqueio reversível da condução neuronal vias cerebrais devem identificar o estímulo doloroso e en-
sensitiva (e/ou motora). viar mensagens periféricas de defesa.

Fibras nervosas Essas vias nervosas ascendentes e descendentes são


Motoras Amielinizadas complexas e envolvem várias interações neuronais na
Sensitivas Mielinizadas medula espinhal, mais especificamente no corno dorsal,
Autonômicas Finamente mielinizadas até chegar a sua identificação no tálamo e identificação
propriamente dita no córtex cerebral.
Fibras nervosas autonômicas
São constituídas por: Para que a dor seja percebida, é necessário que o estí-
- Fibras finamente mielinizadas (A/δ). mulo doloroso seja conduzido através de uma terminação
- Fibras amielinizadas (C). nervosa do tipo C ou A/δ pelo nervo periférico sensorial.
A ativação dessas fibras pelos sistemas nervosos simpá- Esse mesmo estímulo será conduzido até a medula espi-
tico e parassimpático são responsáveis pelo controle da nhal e, posteriormente, até vias cerebrais onde será codi-
frequência cardíaca, pressão arterial, sudorese, funções ficado para percepção da dor. Essa condução nervosa de-
do sistema gastrointestinal e genitourinário. codificada como uma sensação dolorosa vai retornar para
a periferia.
Fibras nervosas motoras:
São constituídas por fibras mielinizadas (Aα) que são res-  Toda sensação dolorosa é um ato reflexo para que
ponsáveis pelo controle da musculatura esquelética, con- organismo se lembre de evitar e tome providências.
tração e relaxamento.
Nas terminações nervosas periféricas há nociceptores
Fibras nervosas sensitivas: (receptores para dor) que são ativados por vários media-
Relacionam-se com os anestésicos e podem ser: dores. Os mais comuns são os mediadores do processo
- Fibras mielinizadas (Aα/β), responsáveis pelo tato, vibra- inflamatório (prostaglandina, bradicilina, histamina...).
ção e propriocepção (se estamos em pé, sentados...).
- Fibras finamente mielinizadas (A/δ), responsáveis pela Tipos de dor
condução da dor e pela percepção do frio. Cada tipo de dor com neurotransmissores diferentes.
- Fibras amielinizadas (C), responsáveis pela condução da - Neurogênica (enxaquecas...).
dor e pela percepção do calor. - Inflamatória (mediadores do processo inflamatório que
atuam nos nociceptores ativando-os desencadeando
uma condução nervosa e um estímulo doloroso).
- Neuropática (neuropatias, nevralgias do trigêmeo).
- Outros vários tipos de dor.
Canais de sódio Os anestésicos locais têm acesso ao meio intracelular da
São os locais de ação dos anestésicos locais. As células célula nervosa na forma ionizada via canal de sódio ou en-
nervosas responsáveis pela dor do tipo A/δ e C são ricas tão através da forma não-ionizada pela membrana celu-
em canais de sódio. O estímulo nervoso sensitivo desen- lar. No citoplasma, novamente, formas ionizada e não-io-
cadeia despolarização da membrana celular do neurônio nizada entram em equilíbrio de forma que apenas a ioni-
com abertura do canal de sódio. O aumento do sódio zada exerce o mecanismo de ação bloqueando a parte in-
(Na+) no citoplasma desencadeia a condução do estímulo terna do canal de sódio.
nervoso que chega até vias centrais no sistema nervoso
central e, ao ser decodificado, retorna por vias eferentes Farmacocinética dos anestésicos locais
onde há percepção da dor, desconforto e coisas do tipo. Os anestésicos locais são indicados para:
- Anestesia infiltrativa (submucosa).
 Estímulo nervoso pode ser doloroso, geralmente - Tópica (mucosa ou pele, em gel ou spray).
de causa inflamatória, pode ser tátil causando des- - Para bloqueio dos nervos periféricos (na Medicina, utili-
conforto em uma superfície com terminações nervo- zada para extração de unhas, drenagem de abscessos, pe-
sas expostas (comum na Odontologia = estímulos tér- ridural ou raquianestesia).
micos, frio). Exemplo: tátil, térmico numa cavidade
dentária exposta ou com processo inflamatório.  Bloqueiam a condução nervosa em apenas uma
parte do corpo. Algumas vezes, esse bloqueio, além
Numa célula nervosa sensitiva em repouso, a concentra- de sensorial, pode ser motor também.
ção de sódio é baixa em comparação com o meio extra-
celular, já o contrário acontece com o potássio. Com des- Classificação de anestésicos locais
polarização, a concentração dos íons se inverte e o estí- A molécula de anestésico é formada por dois grupamen-
mulo nervoso é propagado. tos, um lipofílico com anel benzeno, um hidrofílico com
grupo amina aceptor de prótons. Esses dois radicais li-
Os canais de sódio possuem 4 subunidades e há vários gam-se entre si por meio de um éster que é a base para a
subtipos, também são encontrados, por exemplo, no classificação dos anestésicos locais.
músculo cardíaco. Ao se agruparam as 4 subunidades,
ocorre formação de um poro permitindo a entrada do só- (a) Anestésicos locais ésteres: são os mais antigos,
dio do meio extracelular para o meio intracelular. em desuso. Por exemplo, a cocaína era utilizada pelos
incas em neurocirurgias. Além dela, há também clor-
 Quatro subunidades que, quando agrupadas, for- procaína, procaína e tetracaína.
mam um poro que permite o influxo de sódio. (b) Anestésicos locais amidas: mais utilizados atual-
mente. Como exemplo, pode-se citar a bupivicaína, a
Apesar dos canais estarem relacionados com a despolari- ropivacaína, a lidocaína, a etidocaína e a prilocaína.
zação, há pelos 3 tipos conforme carga elétrica:
 As vias metabólicas das classes são diferentes.
Em repouso  Os anestésicos locais do grupo dos ésteres causam
Inativos mais reações alérgicas.
Abertos ou ativos
Características dos anestésicos locais
Os canais de sódio voltagem-dependentes em repouso Os anestésicos locais são bases fracas. O início da reação
estão fechados. Conforme se segue a despolarização ce- depende do pKa e os anestésicos atuam apenas de forma
lular, ou seja, a mudança no potencial de ação, o canal ionizada.
iônico torna-se ativo e se abre. Posteriormente, irá se ina-
tivar novamente. Segue-se então a repolarização da  pKa é o ponto de equilíbrio em que há 50% do fár-
membrana plasmática e ocorre uma lenta reversão dos maco na forma ionizada, 50% na forma não-ionizada.
canais da forma inativa para o estado de repouso.
Tanto o início do efeito, quanto o tempo de duração do
Ação do anestésico: para que o anestésico local exerça o efeito dependem do tipo de anestésico escolhido com va-
mecanismo de ação, é necessário que se concentre no ci- riações dentro da mesma classe.
toplasma da célula nervosa. Apenas na forma ionizada o
medicamento bloqueia o canal de sódio na sua porção in-  Efeito é sempre reversível.
terna.
Processo inflamatório e redução do pH: nessas situações, Eliminação:
o pH torna-se mais ácido, ou seja, diminui e, consequen- A maior parte dos anestésicos locais é eliminada por via
temente, há diminuição da ionização do anestésico local renal, porém, alguns podem ser eliminados por via biliar
tanto no meio extracelular, quanto no meio intracelular. ou mesmo por via pulmonar.
Além disso, a passagem no anestésico pela membrana
plasmática na forma não-ionizada também é diminuída Vasodilatadores
(em tecidos normais, o pH possibilita que haja ionização Todos os anestésicos locais, com exceção da cocaína, uma
e lipossolubilidade aumentadas). droga recreacional, são vasodilatadores em doses tera-
pêuticas. Assim, em oposição a esse efeito, comumente
 Por conta disso, em casos de processo inflamató- são utilizados em associação com a epinefrina/adrenalina
rio, as concentrações de anestésico não-ionizado au- para que haja prolongamento do efeito e diminuição do
mentam no meio extracelular reduzindo a difusão sangramento pelo efeito vasoconstritor.
pela membrana plasmática das células nervosas e, > Simpatomiméticas.
consequentemente, pela menor proporção de ioniza-
ção, há redução do efeito anestésico.  A associação com vasoconstritores diminui a ab-
sorção por via sistêmica, prolonga a duração e dimi-
Ao ser administrado por qualquer via, o anestésico local nui a chance de toxicidade.
se deposita próximo a uma estrutura nervosa. No espaço
extracelular, passa a ser disponível sob duas formas: ioni- Ordem de bloqueio dos anestésicos locais
zada e não-ionizada. 1 Diminuição dos estímulos dolorosos.
2 Perda de sensação de temperatura.
 As formas ionizada e não-ionizada dependem de: 3 Perda de tato e pressão.
- pKa de cada um. 4 Perda da função motora.
- Lipossolubidade.
 A recuperação ocorre na ordem inversa. Ou seja,
Potência: primeiro, recupera-se a função motora, seguida da
Depende da lipossolubilidade, ou seja, da capacidade do sensibilidade e, por último, a função dolorosa.
anestésico de atravessar a membrana celular.
Efeitos adversos dos anestésicos locais
Difusão e latência: Não é comum efeitos tóxicos, colaterais, pela administra-
Capacidade de, assim que aplicado, se difundir pela pele ção inadvertida na técnica ou erro na dose. Porém,
ou interstício para começar a fazer efeito. O início do blo- quando presentes, as manifestações, geralmente, são
queio é determinado pelo pKa de cada anestésico. neurológicas e cardiovasculares.

 Início de ação:  Toxicidade em alta concentração plasmática.


- Lidocaína, início de ação rápido (2 min).
- Bupivacaína, início de ação lento (10 min). Os primeiros sinais de uma intoxicação relacionam-se
com o sistema nervoso central. O paciente pode apresen-
Duração do efeito: tar tontura, alterações visuais, tremores musculares, alte-
Relaciona-se com o grau de afinidade do anestésico com ração do estado mental, agravação para convulsão, de-
os sítios dos canais de sódio onde se ligam. Assim: pressão do estado de consciência e depressão respirató-
ria. Com toxicidade ainda maior, pode haver comprome-
 Duração de ação: timento cardiovascular com bradicardia, hipotensão, cho-
- Procaína, duração curta (20 min). que, taquicardia, arritmias e parada cardíaca.
- Lidocaína, duração intermediária (1h a 1,5h).
- Bupivacaína, duração prolongada (2h a 4h). Lidocaína
Um dos anestésicos locais mais utilizados, pertence à
Metabolização: classe das amidas e possui início rápido e duração da ação
Cada classe é metabolizada de forma diferente. intermediária. É também utilizada como antiarrítmico (via
> Ésteres: metabolizados pelas pseudo-colinesterases. parenteral). Já como anestésico, pode ser utilizado em as-
> Amidas: metabolizados por enzimas hepáticas (CP450). sociação com a epinefrina.
Anestésicos gerais trados pelo sistema de ventilação dos aparelhos de anes-
O cirurgião-dentista às vezes pode precisar utilizar algum tesia para não contaminar a sala. A absorção para a cor-
anestésico geral. rente sanguínea é feita por meio dos alvéolos.
- Mais comum administrado pela sonda endotraqueal.
A anestesia geral confere analgesia, perda da função mo- - Exemplos: óxido nitroso, sem perda de consciência.
tora e perda da consciência sob controle, assim, há:
- Estado reversível de analgesia.  O gás hilariante é o único anestésico inorgânico e
- Perda de consciência (hipnose, sono profundo ou coma). gasoso.
- Amnésia (não se recorda do procedimento pela perda
da consciência).  Muitos anestesistas utilizam protocolos em cen-
- Relaxamento muscular (para o procedimento ocorrer de tros cirúrgicos onde o N2O é associado a outros anes-
forma rápida, adequada e cirúrgica). tésicos gerais inalatórios do tipo halogenados. Os ha-
logenados são mais utilizados, não disponíveis em
Componentes dos anestésicos: forma gasosa, mas sim, líquido. Pelo aparelho, a
- Hipnose (abolir a consciência). forma líquida passa para vapor, assim, a forma gasosa
- Analgesia (ausência de dor). é administrada. Moléculas de flúor, cloro ou bromo.
- Relaxamento muscular (facilita proced. cirúrgico).  Efeitos colaterais dos halogenados:
- Bloqueio de reflexos autonômicos (ex: bloqueio de - Aumento da pressão intracraniana (raro).
hipertensão, taquicardia). - Hipertermia maligna (raro).

Etapas da anestesia geral em condições eletivas - Metabolização hepática.


Para cada uma das seguintes etapas, um ou mais medica- - Eliminação renal.
mentos são necessários.
Mecanismo de ação
1. Medicação pré-anestésica (feita no quarto). Os anestésicos gerais agem por meio de:
2. Indução. - Ativação de canais de K+.
3. Manutenção (depende do tempo). - Bloqueio de canais de Na+.
4. Recuperação.
Há vários mecanismos de ação que ainda estão sendo
Medicamentos utilizados: descritos, ainda não elucidados para esses anestésicos.
- Ansiolíticos (benzodiazepínicos). De um modo geral, agem aumentando o limiar para a des-
- Analgésicos opióides para indução da anestesia para a polarização diminuindo a atividade neuronal.
analgesia. Exemplo: fenantrênicos como morfina e code-
ína, mas os mais utilizados são os sintéticos. Óxido nitroso (N2O)
- Relaxantes musculares. É um anestésico pouco potente, faz efeito sem que haja
- Anestésicos propriamente ditos (inalatórios ou endove- perda da consciência quando utilizado adequadamente.
noso). Atua como um bom analgésico e, isoladamente, não pro-
move anestesia cirúrgica, necessitando de associações a
Tipos de administração geral outros fármacos. Dentre os riscos de administração, há a
- Inalatório: pulmonar. formação de uma mistura hipóxica.
- Endovenoso.
- Balanceada (inalatório + endovenoso).  Alta concentração (50% a 70%, mantendo a fração
inspirada de O2 mínima de 30%).
 A anestesia pode ser local, geral ou combinada.
Michael Jackson e Propofol
Via endovenosa: início mais rápido em comparação com O propofol é um anestésico endovenoso insolúvel em so-
pulmonar. Exemplos: propofol, tiopental e cetamina. lução aquosa com indução e recuperação rápidas e indu-
- Administrado por acesso venoso. ção e manutenção de anestesias. É utilizado para sedação
- Efeito imediato. em anestesia regional em procedimentos ambulatoriais e
UTI. Quando monitorado adequadamente, é bem seguro
Via inalatória: via pulmonar. Necessária intubação endo- (não é o caso do Michael Jackson que fazia uso domici-
traqueal para haja chegada do anestésico à via. Adminis- liar).
Tipos de dor
A IASP, International Association for the Study of Pain, de-
fine três grandes grupos de dores: nociceptiva, neuropá-
tica e nociplástica.

(a) Dor nociceptiva: dor que surge de ameaça ou de da-


nos reais ao tecido não neural e deve-se à ativação de no-
06 mai 21 ciceptores. Exemplos: dor em pós-operatório, artrite...
Aula 08 – Analgésicos (b) Dor neuropática: dor causada por uma lesão ou do-
Prof. Juliano Ferreira ença do sistema nervoso somatossensorial. Exemplos:
dor pós-herpética, neuralgia do trigêmeo...
Analgésicos (c) Dor nociplástica: dor que surge da nocicepção alte-
A analgesia é a perda ou a ausência de sensibilidade à dor rada, apesar de não haver evidência clara de ameaça ou
e pode ser induzida por fármacos. Há várias classes tera- de dano tecidual real causando a ativação de nocicepto-
pêuticas e químico-funcionais de fármacos utilizados para res periféricos ou evidências de doença ou lesão do sis-
analgesia. Os analgésicos clássicos são os opióides, alca- tema somatossensorial causando dor. Exemplos: enxa-
loides do ergots, triptanos, paracetamol e dipirona. queca, fibromialgia, transtornos da articulação temporo-
mandibular.
 Triptanos para enxaqueca.
 Paracetamol e dipirona não esteroides com boa Terapia da dor baseada na etiologia
ação analgésica e baixa atividade antidematogênica. A terapia da dor baseia-se, também, em sua etiologia, as-
sim, tanto para dor nociceptiva, nociplástica ou neuropá-
Além desses analgésicos classes, alguns outros tipos de tica, há terapias farmacológicas ou não-farmacológicas
fármacos também são utilizados para analgesia como: específicas indicadas.
- Anti-inflamatórios (AINEs e glicocorticoides).
- Antidepressivos (Tricíclicos e IRSN). Farmacológica Não-farmacológica
- Anticonvulsivantes (gabapentinoides e carbamazepina). Nociceptiva
- Anestésicos (lidocaína e cetamina). AINEs Exercício
- Relaxantes musculares (toxina botulínica). Opioides Massagem
- Antieméticos (metoclopramida). Anestésicos TENS (estimulação
locais nervosa elétrica
transcutânea)
Há vários fatores que afetam o uso e a escolha de fárma-
cos analgésicos, por exemplo:
Neuropática
Anticonvulsiv. Exercício
1. Intensidade da dor (escada analgésica). Antidepressivos
2. Duração da dor (aguda ou crônica). Anestésicos
3. Etiologia (inflamatória/neuropática/nociplástica). locais
4. Apresentação (em queimação, ao toque, ao frio...).
5. Idade do paciente (de neonatos a idosos). Nociplástica
6. Comorbidades (hipertensão, insuficiência renal...). Triptanos e Exercício
7. Condições coexistentes (gravidez ou lactação). ergotaminas Massagem
8. Uso de outros fármacos (interações medicamentosas). Anticonvulsiv. TENS
9. Variabilidades genéticas (farmacogenética). Antidepressivos Educação
Manipulação
 Por exemplo, em termos de duração da dor, o uso
crônico do fármaco faz com que os pacientes fiquem
Ainda assim, alguns pacientes podem apresentar uma
mais sujeitos aos efeitos adversos pelo acúmulo da
mistura de etiologia de dores, por exemplo, pacientes
substância no organismo. Além disso, a idade do pa-
com câncer podem apresentar dor neuropática por conta
ciente altera suas características farmacocinéticas e
de alguns quimioterápicos, e dor nociceptiva por conta
farmacodinâmicas, e há impacto na segurança dos
dos procedimentos cirúrgicos ou de biópsia, dificultando
analgésicos.
o tratamento da dor.
Local de ação dos fármacos Após o processamento e a somatização dos aspectos sen-
A lesão de tecidos periféricos causa a liberação de vários soriais e afetivos da dor, há vias descendentes são ativa-
mediadores químicos da dor como substâncias inflamató- das culminando na liberação de noradrenalina e seroto-
rias (ex: prostaglandinas) e neurotrofinas liberadas por nina no tronco encefálico e na medula espinhal que,
células residentes do tecido lesionado, como os mastóci- agindo sob receptores específicos, irão impedir a neuro-
tos, ou células que se infiltram no tecido pós-lesão, como transmissão da informação dolorosa.
os macrófagos.
 Assim, os fármacos também podem atuar potenci-
Essas substâncias químicas estimulam as terminações pe- alizando o efeito das vias descendentes inibitórias.
riféricas de subtipos de neurônios sensoriais que detec- - Inib. da receptação de noradrenalina e serotonina.
tam estímulos doloroso, os nociceptores. Por exemplo,
quando há prostaglandina agindo nos receptores especí- * As terapias não farmacológicas e mesmo as farma-
ficos dos nociceptores, ativam canais iônicos geradores cológicas podem, por fim, agir induzindo a analgesia
de potencial, como o receptor TRPV1 e, posteriormente, pelo estímulo de estruturas encefálicas.
canais iônicos que causam a despolarização, como os ca-
nais de sódio ativados por voltagem, os NAV. Essa despo- Intensidade da dor e eficácia de analgésicos
larização dos nociceptores causa a liberação de neuro- A intensidade da dor é um dos fatores considerados na
peptídios, como o CGRP que induz a vasodilatação, e escolha do fármaco mais adequado para o tratamento da
pode levar informação dolorosa ao corno dorsal da me- dor, dessa forma, há várias maneiras de avaliá-la.
dula espinhal.
Escala visual analógica
 Atuação periférica de fármacos: Uma maneira mais simples de avaliar a dor é pode meio
- Inibidores da síntese de substâncias inflamatórias. de escalar visuais analógicas que definem que:
- Inibidores da liberação de neuropeptídios. - 1, 2, 3 – corresponde à dor leve.
- Bloqueadores de canais de sódio. - 4, 5, 6 – corresponde à dor moderada.
- Dessensibilizadores do receptor TRPV1. - 7, 8, 9 e 10 – corresponde à dor intensa.

- Por exemplo, inibidores da síntese de substâncias


inflamatórias (AINEs e corticoides), inibidores da libe-
ração de neuropeptídios (toxina botulínica), bloquea-
dores de canais de sódio (carbamazepina e lidocaína)
e dessensibilizadores do receptor TRPV1 (capsaicina).

Se a informação nociceptiva chegar ao corno da medula


espinhal, há ativação de canais de cálcio neuronais, CAV2
pré-sinápticos, com liberação de glutamato que irá atuar
pós-sinapticamente ativando seu receptor NDA e irá esti-
mular canais de sódio a produzirem uma despolarização
que envia a informação dolorosa para regiões do tronco
e do córtex cerebrais por vias ascendentes. Então, haverá
processamento e somatização dos aspectos sensoriais e
afetivos da dor.

 Nesse ponto, há fármacos que são:


- Inibidores de canais de cálcio.
- Antagonistas do receptor NDA.
- Impedidores da neurotransmissão.
Por exemplo: inibidores de canais de cálcio (gabapen- A partir dessa classificação, sabe-se que a intensidade da
tina), antagonistas do receptor NDA (cetamina), im- dor altera a eficácia de fármacos analgésicos, assim, de
pedidores da neurotransmissão (opióides). acordo com o gráfico que mostra a curva de respostas tí-
picas em pequenas cirurgias, percebe-se que:
 Doses baixas de morfina não apresentam efeito 3. Pelo relógio (tomar as doses continuamente em horá-
analgésico, porém, o aumento das doses leva a redu- rio certo para prevenir a dor já que, caso haja falha, a dor
ções graduais e importantes da dor até aboli-la. pode vir e pode ser necessária uma superdosagem).
 Fármacos como ibuprofeno e paracetamol redu- 4. Para o indivíduo (sob medida para as circunstâncias e
zem a dor até atingir um platô, ou seja, comparada à necessidades individuas como comorbidades, idade...).
eficácia total produzida por fármacos como a mor- 5. Atenção aos detalhes (explorar todas as fontes de dor
fina, apresentam apenas uma eficácia parcial. e os efeitos adversos do tratamento, saber o porquê de
ela ser gerada).
Por conta disso, para dores de grandes intensidades, uti-
liza-se morfina. AINEs como ibuprofeno e paracetamol Farmacologia dos Opióides
podem ser utilizados isoladamente para dores leves ou Os opióides derivam da papoula. As flores da planta libe-
combinados com opióides para tratar dores moderadas ram um látex que, quando seco, recebe o nome de ópio
ou intensas. e há milhares de anos é usado de maneira ritualística e
medicinal.
Farmacoterapia baseada na escada analgésica
Baseando-se na intensidade da dor e na eficácia dos fár- Apenas há 200 anos, a morfina, o princípio ativo da pa-
macos, a OMS desenvolveu uma farmacoterapia baseada poula, foi isolada e começou a ser utilizada tanto para do-
numa escada analgésica de três degraus: res pós-operatórias quanto como forma de auxiliar na
anestesia numa época de poucas alternativas terapêuti-
cas anestésicas.

Entre 1970 e 1980, foram descobertos os opióides endó-


genos, substâncias produzidas pelo organismo que ti-
nham ação semelhante à da morfina e que exerciam sua
ação pela interação com três receptores diferentes, sub-
tipos de receptores opióides µ, δ e κ.

Efeitos dos opióides sobre diferentes sistemas e órgãos


Exercem ação em diferentes sistemas e órgãos, tanto os
opióides endógenos, quanto os opióides exógenos. A
maior parte dos efeitos é mediada por receptores µ-opió-
ides, com exceção da distrofia que é mediada por recep-
Essa escada analgésica é muito importante para o trata- tores κ-opióides.
mento de vários tipos de dores, como em casos de cân-
cer, contudo, não é utilizada, por exemplo, para trata-
mento de dores neuropáticas já que os opióides possuem
eficácia muito baixa e analgésicos simples não funcionam.
Essa escada analgésica baseia-se no tratamento da dor
até o menor nível possível, para zerá-la, pode acabar in-
duzindo o uso exagerado de opióides ou uma dose maior
para alívio completo ou total da dor, associando-se ao
aparecimento em maior frequência de efeitos adversos.

Princípios para administração


de analgésicos na dor relacionada ao câncer
A dor relacionada ao câncer, como dito anteriormente, é
uma dor de difícil tratamento, por isso, a OMS estabele-
ceu princípios para direcionar o seu tratamento:

1. Pela escada (escolher o degrau conforme intensidade). Os efeitos possuem várias implicações clínicas:
- Analgesia (uso como analgésico).
2. Pela boca (preferir via oral ao invés de parenterais de-
vido à boa aceitabilidade dos pacientes). - Euforia/disforia (uso recreativo ou em superdosagens).
- Reflexo de tosse (útil como antitussígeno, codeína).
Além disso, podem ocasionar efeitos adversos importan-  Porém, por exemplo, enquanto a morfina é um
tes e relevantes como, por exemplo, causados pela de- agonista total do receptor µ-opióide, a codeína é um
pressão respiratória. agonista parcial, assim, enquanto a morfina classifica-
se como um opióide forte, a codeína é classificada
Farmacodinâmica e sinalização dos opióides como opióide fraco, se assemelhado ao tramadol.
Em uma situação basal, o potencial de ação que chega na
sinapse espinhal leva a uma despolarização com ativação Farmacocinética dos opióides
de canais de cálcio pré-sinápticos com liberação de vesí- Como é a biodisponibilidade de opióides por diferentes
culas contendo neurotransmissores, por exemplo, o glu- vias de administração.
tamato. Esses neurotransmissores vão agir pós-sinaptica-
mente em receptores como os NMDA aumentando a ex- (a) Endógenos: são peptídeos, então, não ativados
citabilidade neuronal e estimulando receptores metabo- quando administrados por via oral, sendo assim, devem
trópicos que vão aumentar a quantidade de AMP cíclico. ser administrados por via endovenosa. Possuem pouca
penetração no sistema nervoso central e, por isso, quase
Assim, os opióides agem pré-sinapticamente inibindo a não são utilizados como analgésicos.
adenilato ciclase reduzindo os níveis intracelulares de - Exemplo: metaencefalina.
AMP cíclico, mas, também pré-sinapticamente, agem fa-
zendo bloqueio nos canais de cálcio. Pós-sinapticamente, (b) Naturais ou sintéticos: são administrados por diferen-
os opióides permitem o efluxo e a ativação de canais de tes vias, por exemplo, a morfina (natural) pode ser admi-
potássio levando a uma hiperpolarização pós-sináptica. nistrada por via oral, intramuscular, endovenosa ou intra-
Sob efeito de um opióides, então, há redução da neuro- tecal. Já o Fentanil (sintético), possui um metabolismo de
transmissão. Assim, se a sinapse apresenta papel impor- primeira passagem muito grande e não é ativo por via
tante para a dor, haverá redução da transmissão dela. oral, assim, precisa ser utilizado como adesivo de libera-
ção transdérmica ou por via endovenosa.
Se seu uso é repetido por muito tempo, há adaptação das
vias. Há uma dessensibilização rápida internalizando o re- Os opióides possuem o tempo de meia-vida curto, então,
ceptor opióide em endossomos com perda da capacidade o intervalo de administração é curto. Isso depende ainda
de serem estimulados por agonistas, causando desenvol- parcialmente da formulação farmacêutica.
vimento de tolerância e analgesia insuficiente. Contudo,
posteriormente, com a retirada do agonista do receptor  Morfina possui um tempo de meia-vida que gira
opióides, ele pode reciclar para a membrana plasmática. em torno de 2 a 3 horas, mas pode ser aumentado
em formulações de liberação lenta. Enquanto isso, a
 No tratamento crônico, o receptor internalizado Metadona possui meia vida longa comparativa-
pode fazer uma assimilação anômala produzindo fe- mente.
nômenos paradoxais como a hiperalgesia.

Interação com os receptores opióides


Diferentes opióides possuem diferentes níveis de intera-
ção com os receptores. Grande parte desses opióides são
ligantes dos receptores µ-opióides.

A morfina, administrada por vira oral, tem boa absorção


e sofre metabolismo de primeira passagem no fígado for-
mando dois metabólitos: Morfina-3-glucaronídeo, ina-
tivo, que pode ser excretado pelos rins, e Morfina-6-glu- Por exemplo, a codeína apresenta metabolização de fase
caronídeo, que também pode ser excretado, mas que 1 pela CIP2D6 do P450 e o metabólito gerado é a morfina.
pode ter uma ação direta no sistema nervoso central. Já o Tramadol, também metabolizado pela CIP2D6 ou
pela CIP3A4, também forma metabólitos ativos.
Relações de vias de administração e de posologia
com as concentrações plasmáticas de opióides  Isso nem sempre ocorre. Por exemplo, o metabo-
Quando os opióides são administrados por via endove- lismo do Fentanil gera um metabólito inativo.
nosa, há um grande pico de concentração plasmática em
comparação com a via oral. Ao mesmo tempo que isso é Farmacogenética aplicada aos opióides
interessante pelo efeito muito rápido, pelo aumento da Alguns opióides funcionam bem em alguns pacientes e
concentração plasmática, há facilidade no aparecimento não funcionam tão bem em outros, isso é explicado pela
de intoxicações e efeitos adversos. farmacogenética.

A concentração plasmática é mais baixa e mais estável Codeína, por exemplo, 10% a 15% pode ser metabolizada
quando o opióide é administrado por via oral, principal- pela CIP3A4 produzindo Norcodeína, um metabólito
mente em formulações de liberação lenta, havendo uma ativo. Já na fase 2, de 50% a 70% são metabolizados pela
analgesia mais sustentada. UGT2B7 produzindo codeína 6-glucoronídeo. Contudo,
entre 0 a 15%, dependendo da genética do paciente, so-
Morfina, T½ = 2 horas fre metabolismo pela CYP3D6 formando a morfina como
O primeiro gráfico metabólito ativo, uma condição importante para que se
mostra a administra- alcance o efeito analgésico.
ção de uma dose baixa
a cada 4 horas com Assim, há tipos diferentes de pacientes com genótipos di-
analgesia mais susten- ferentes para a enzima CYP2D6:
tada, porém, devido à
frequente necessidade  Metabolizadores extensos: possuem 1 ou 2 alelos
de administração, a para a enzima, alcançam analgesia intermediária (-5).
adesão ao tratamento é dificultada. O segundo gráfico  Metabolizadores pobres: possuem 2 alelos inati-
mostra a administração de uma dose alta a cada 12 horas, vos para a enzima, a morfina continua dando efeito
apesar de a administração ser menos frequente facili- analgésico, porém, a codeína perde o efeito.
tando a adesão, há risco transitório de intoxicação e
perda de analgesia. Após a administração, há picos com  No sul do Brasil, 80% das pessoas são metaboliza-
analgesia e intoxicação, mas que, após algumas horas, fi- dores extensos, porém, 3% são metabolizadores po-
cam abaixo da janela terapêutica e há perda da analgesia bres, assim, a codeína não é muito eficaz para esses
podendo, potencialmente, haver síndrome de retirada. pacientes.

Metabolismo de fármacos opióides Além disso, pode haver polimorfismos na enzima


Geralmente, os opióides sofrem reação de fase 1 e reação UGT2B7, ABCB1 e polimorfismos para o receptor µ-opió-
de fase 2. É importante porque muito opióides apresen- ide que também pode alterar o efeito dos fármacos.
tam metabólitos ativos.
Efeitos adversos induzidos por fármacos opióides
Os efeitos adversos podem ser:
- Constipação.
- Náusea e vômito.
- Sedação.
- Depressão respiratória.
- Retenção urinária.
- Prurido.
- Transtorno por uso (adição).
Fatores associados ao risco de superdosagem ou adição Mecanismo de ação dos Gabapentinóides
Há vários fatores relacionados ao fármaco administrado e Os Gabapentinóides são uma das principais classes utili-
ao paciente que podem estar associados ao risco de su- zadas no tratamento da dor neuropática.
perdosagem ou ao transtorno de uso (adição). Para isso,
utiliza-se a ferramenta de escore de risco para identificar Recebem esse nome porque foram originalmente desen-
a possibilidade de o paciente desenvolver algo. volvidos para serem análogos estruturais do neurotrans-
missor ácido gama-aminobutírico (GABA) de maneira a se
Tratamento para a constipação induzida fazer uma modificação química que fizesse com que o
por opióides em pacientes com doença avançada GABA aumentasse sua resistência à degradação e produ-
Como a constipação é um efeito adverso frequente, al- zisse efeitos anticonvulsivantes. Com o passar do tempo,
guns pacientes com doença avançada como câncer que o fármaco até começou a ser utilizado como anticonvul-
podem se encontrar, por exemplo, em cuidados paliati- sivante, porém, não se conhecia o seu exato mecanismo
vos, podem apresentar uma reação bem grave. Assim, de ação e os gabapentinóides apresentavam interações
uma ferramenta utilizada para reverter a intoxicação é o muito fracas com o sistema gabaérgico.
uso de um antagonista do receptor µ-opióide periférico,
ou seja, sem a capacidade de atravessar a barreira hema- Hoje em dia, sabe-se que os gabapentinóides são ligantes
tocefálica. Como agem perifericamente, atuam no trato de uma subunidade acessória α2δ dos canais de sódio ati-
gastrointestinal, onde há constipação, revertendo as vados por voltagem do tipo neuronal. Esses canais são
ações dos opióides no intestino, revertendo, também, os bem encontrados na pré-sinapse da medula espinhal
efeitos gastrointestinais sem, contudo, agir no sistema onde facilitam a liberação de glutamato. Agindo na me-
nervoso central reduzindo a analgesia ou causando a sín- dula espinhal, a gabapentina reduz a ativação dos canais
drome de retirada porque não apresenta capacidade de de cálcio voltagem-neuronal impedindo a liberação de ve-
atravessar a barreira hematocefálica. sículas com neurotransmissores.

Boa prática para opióides no tratamento da dor Mecanismos de ação e efeitos adversos
O objetivo é usar a dose total mais baixa que forneça o dos antidepressivos tricíclicos
controle adequado da dor com menos efeitos adversos. Antidepressivos tricíclicos interagem com vários alvos far-
macológicos. Por exemplo, pode atuar na receptação de
Aplicam-se 3 etapas (3 Ts, titration, tailoring, tapering): serotonina e monoamina, mas também podem interagir
1. Titulação (teste), ao iniciar a administração, deve-se co- com receptores para histamina, receptores muscarínicos
meçar como uma dose baixa e ir devagar. e podem interagir com canais de sódio bloqueando-os.
2. Ajuste (individualização), reconhecer os vários fatores
que contribuem para a experiência pessoal da dor. Reco- Além do efeito antidepressivo e analgésico, os antide-
nhecer questões como comorbidades e faixa etária. pressivos tricíclicos podem produzir uma série de efeitos
3. Transição (redução gradual), evitar consequências ne- adversos como:
gativas da retirada rápida como síndrome de abstinência. - Boca seca, constipação, retenção urinária, relacionados
ao efeito anticolinérgico.
- Taquicardia e arritmia, interação com canais de sódio.
- Náusea e sonolência, pela interação com receptores his-
taminérgicos.

Fármacos disponíveis para o


tratamento da dor neuropática
São recomendações de primeira, segunda ou terceira li-
nha de tratamento.
Bases farmacológicas para
terapia da dor neuropática A maneira clínica de verificar a eficácia desses fármacos é
A dor neuropática pode ser classificada de acordo com o o NNT, ou seja, o número de pacientes necessários para
local da lesão e o tipo de patologia. Assim, o local pode tratar para se obter um paciente positivo com redução de
ser periférico, espinhal ou encefálico, enquanto a patolo- 50% a mais que o placebo. Vários dos fármacos utilizados
gia pode ser genética, metabólica, traumática, vascular, no tratamento da dor neuropática possuem NNT alto, ou
neoplástica, imunológica, infecciosa ou tóxica. seja, as dores neuropáticas são de difícil tratamento. Mui-
tas vezes, os pacientes não respondem ao primeiro fár- Seletividade de triptanos e ergots
maco utilizado, então é preciso encontrar qual é o fár- Os Ergots são fármacos mais antigos, a ergotamina foi iso-
maco que melhor se adapta ao paciente promovendo lada de um fungo que cresce em cereais como a cevada.
uma maior eficácia. É não-seletiva e age como agonista de receptores para se-
rotonina e de receptores dopaminérgicos e adrenérgicos,
 Inclusive, em muitos casos assim, faz-se a combi- interessante para a vasoconstrição e a analgesia, mas
nação de fármacos para o tratamento. também podendo produzir efeitos adversos como náu-
seas, hipertensão, astenia e tontura.
Farmacoterapia em tipos específicos de dor neuropática
As recomendações de primeira, segunda e terceira linha Já os triptanos são mais seletivos e agem principalmente
são para dores neuropáticas de maneira geral, porém, ge- em receptores 5-HT1B, 5-HT1D e 5-HT1F produzindo efei-
ralmente relacionam-se com neuropatia diabética e neu- tos benéficos de vasoconstrição e analgesia da enxa-
ralgia pós-herpética, assim, algumas dores neuropáticas queca, com exceção do receptor 5-HT1A em que alguns
com tratamentos específicos não são contempladas com triptanos também podem interagir induzindo náuseas.
essa farmacoterapia, como a neuralgia do trigêmeo.
 Os pacientes que têm enxaqueca já apresentam
Neuralgia do trigêmeo: um pouco de náusea, então, ao administrar um fár-
A dor é resistente a antidepressivos e gabapentinóides, maco que também interage com o 5-HT1A induzindo
porém, é sensível ao anticonvulsivante carbamazepina náusea pode não ser tão interessante.
(bloqueador de canais de sódio, NAV).

Efeitos adversos
Sonolência Anemia aplástica
Ganho de peso Malformações congênitas
Reações alérgicas

Além disso, pode haver interação medicamentosa com in-


dução da CYP450 com interação com múltiplos fármacos.

Bases farmacológicas Fármacos para o tratamento sintomático de crises


para o tratamento da enxaqueca As crises de enxaqueca são extremamente dolorosas e, às
vezes, podem levar um paciente à intoxicação, como no
A enxaqueca aparece de maneira episódica, em forma de
caso de problemas no fígado gerados pelo uso do parace-
crises, mas há possibilidade de evoluir para um quadro
tamol. Além disso, os fármacos podem estar isolados ou
crônico. Assim pensando, o tratamento é importante não
associados com triptanos em formulações como a de Ce-
só para evitar as crises, mas para prevenir a cronificação
falium com, inclusive, associação de antieméticos para
do processo.
combater náuseas que podem acompanhar as crises de
enxaqueca.
Farmacodinâmica de triptanos/ergots
Triptanos/Ergots são agonistas de receptores para sero-
Farmacocinética, relação com desfechos clínicos
tonina da subfamília 5-HT1, todos acoplados à proteína G
A maior parte dos triptanos tem um T½ curto, por volta
inibitória (Gi):
de 2 a 3 horas e pico de concentração plasmática em 2 a
3 horas.

Principalmente quando se faz uma administração por via


oral (ex: sumatriptana), o pico de efeito ocorre após 2,5
horas da administração. Ou seja, se o paciente estiver
com uma crise de enxaqueca, irá demorar bastante
tempo até que esse fármaco exerça seu efeito. Assim, o
ganho que se terá por volta das duas primeiras horas de
tratamento ficará por volta de 30% (ou menos).
Porém, a sumatriptana pode, também, ser administrada
via subcutânea, assim, o tempo de pico de concentração
plasmática será mais rápido e acontecerá por volta de 0,2
horas (12 minutos). Assim, haverá um aumento do ganho
da resposta para enxaqueca em duas horas.

 Reduzido o tempo do pico da concentração plas-


mática, aumenta a disponibilidade e o efeito é mais
rápido (funciona melhor para enxaqueca).
 Os sumatriptanos, apesar disso, independente da
via de administração, têm efeito de 30% de recorrên-
cia de enxaqueca em até 24 horas.

Já o naratriptano, comparado aos outros, possui um T½


maior que fica entre 5 e 6 horas. Isso faz com que a por-
centagem de recorrência de enxaqueca após 24 horas
seja mais baixa para esse fármaco.

 Triptanos de meia-vida curta por via subcutânea


apresentam um bom efeito sobre a enxaqueca nas
duas primeiras horas.

Terapia durante gestação e lactação


Deve-se tomar cuidado na administração desses fárma-
cos para mulheres em gestação ou lactação. Por exemplo,
o paracetamol é um dos fármacos mais seguros em qual-
quer fase da gestação e da lactação (mas tem risco hepa-
totóxico).

Além disso, entre os triptanos, o mais seguro é a suma-


triptana, porém, deve-se levar em consideração principal-
mente que fármacos anticonvulsivantes (como o valpro-
ato) são bem perigosos em todas as fases de gestação
porque são teratogênicos.
que fazem fagocitose de patógenos ou de resíduos celu-
lares liberando citocinas pós-inflamatórias (TNF, IL1β,
IL6).

Em fases mais tardias, os macrófagos mudam do perfil


anti-inflamatório para o perfil resolutivo e passam a libe-
rar fatores como o TGFβ que facilitam o restauro na ho-
meostasia do tecido afetado.
06 mai 21
Aula 09 – Anti-inflamatórios  Vários mediadores são alvos farmacológicos.
Prof. Juliano Ferreira

Bases farmacológicas do tratamento da inflamação


A inflamação, inicialmente, possui um propósito fisioló-
gico. Por exemplo, em casos de doença periodontal, após
cirurgias odontológicas ou após o deslocamento do disco
da articulação temporomandibular.

Caso os propósitos não sejam atingidos, com falha na re-


solução do processo inflamatório, pode haver conse-
quências patológicas como artrite reumatoide, escaras
hipertróficas pós-cirurgia ou mesmo disfunção temporo-
mandibular.

Anti-inflamatórios na prática odontológica


Há diferentes classes de fármacos anti-inflamatórios que
podem ser prescritos por odontólogos e médicos. Por
exemplo, os AINEs podem ser receitados no pós-operató-
rio de exodontia de inclusos, em cirurgias periodontais,
após a colocação de implantes múltiplos ou mesmo em
casos de disfunção temporomandibular. Por outro lado, a
administração por automedicação ou prescrição médica
de anti-inflamatórios para pacientes odontológicos deve
ser observada com cuidado já que eles facilitam o sangra-
mento.
Os gatilhos inflamatórios promovem a inflamação que
age com propósito patológico, no descontrole ou falha do Já os glicocorticoides também apresentam impacto na sa-
processo inflamatório, há consequências patológicas. úde bucal já que, utilizados em sprays nasais ou inalados,
podem aumentar o risco de infecções na cavidade bucal
Sinais cardinais e mediadores inflamatórios levando a casos de candidíase por exemplo. Ao mesmo
Durante o curso da inflamação, os sinais cardinais são: tempo, crianças que usam anti-histamínicos por meio de
xaropes para tratar alergias também dever ser monitora-
Calor Tumor das com cuidado pelos dentistas já que, pela grande
Rubor Perda de função quantidade de sacarose, os xaropes usados com frequên-
Dor cia podem facilitar o desenvolvimento de cáries.

Inicialmente, há exsudação pela histamina e quimiotaxia Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs)


de leucócitos pelo sistema complemento. Normalmente, Os AINEs recebem esse nome porque são anti-inflamató-
os neutrófilos são os primeiros a migrar gerando radicais rios que não são derivados do hormônio cortisol.
livres, liberando prostaglandinas e leucotrienos que am-
pliam o processo inflamatório. Inicialmente, eram encontrados em plantas medicinais
como o salgueiro. Em 1859, para aumentar o tempo de
Aos poucos, os neutrófilos entram em apoptose e há mi- ação e reduzir os efeitos gastrointestinais adversos do
gração de células mononucleares, como os macrófagos, princípio ativo, o ácido acetilsalicílico (AAS) foi sintetizado
em laboratórios e depois produzir por laboratórios farma- Os prostanoides têm capacidade de modular o processo
cêuticos. Posteriormente, vários outros fármacos foram de relaxamento e dilatação de vasos sanguíneos, bem
sintetizados gerando novos AINEs. como a agregação plaquetária. Além disso, no sistema
respiratório, reduzem a liberação da histamina de mastó-
Em 1970, os prostanoides foram identificados e a COX, citos e, no endométrio, funcionam como indutores de
responsável pela sua síntese, também foi identifica e co- parto ou indutores de aborto (no caso de prostaglandinas
dificada, e, então, foi possível esclarecer o mecanismo de sintéticas E2).
ação dos AINEs pela inibição da COX.
 Por conta da ação endometrial, há contraindicação
 A COX1 foi a primeira a ser purificada. do uso de AINEs no último trimestre de gravidez.

Prostanoides: bioquímica, fisiopatologia e farmacologia Classificação dos AINEs


Os prostanoides são eicosanoides, ácidos graxos de 20 Os AINEs podem ser classificados por meio de diferentes
carbonos, sintetizados pela via da cicloxigenase (COX) da critérios como:
cascata do ácido araquidônico, assim, pertencem ao
grupo dos prostanoides: (1) Similaridade química:
- Prostaglandinas. - Ácidos (maioria, como ibuprofeno, AAS e piroxicam).
- Prostaciclinas. - Não ácidos (paracetamol, dipirona e silocoxibe).
- Tromboxanos.
(2) Seletividade por isoforma de COX:
Muitos estímulos como padrões moleculares associados - Seletivos para COX1 (AAS).
aos patógenos ou a danos, citocinas pré-inflamatórias e - Não-seletivos (ibuprofeno, paracetamol).
outros agentes agem nos receptores celulares ativando a - Seletivos para COX2 (silocoxibe).
enzima fosfolipase A2 que migra do citosol para o retículo
endoplasmático onde libera resíduos de ácido araquidô- (3) Tempo de meia-vida plasmática:
nico da posição 2 do glicerol de fosfolipídeos de mem- - Curta duração (AAS, ibuprofeno, paracetamol).
brana. No retículo endoplasmático, o ácido araquidônico - Média duração (silocoxibe).
livre é utilizado como substrato para as enzimas COX1 e - Longa duração (piroxicam).
COX2 que sintetizam prostaglandina H2 (inativa). Muitos
estímulos podem induzir o gene da COX2 para que seja Características das COXs e inibição por AINEs
aumentada a transcrição do seu RNA mensageiro e, con- As isoformas de COX possuem grandes similaridades em
sequentemente, a expressão dessa forma de COX. relação à homologia de aminoácidos, peso molecular, afi-
nidade pelo substrato, atividade catalítica e inibição irre-
Sintases específicas utilizam a prostaglandina H2 como versível produzida pelo AAS que se liga covalentemente a
substrato para produzir os estanoides ativos como as um resíduo serina no sítio catalítico da COX impedindo a
prostaglandinas E2, I2, D2, F2α e tromboxano A2 que, por entrada do substrato.
sua vez, são liberados por células produtoras e agem em
células que contêm receptores específicos para esses Ainda assim, há uma importante diferença no padrão tis-
prostanoides levando a alterações na função do tecido e sular que explica os efeitos cetogênico de inibidores sele-
efeitos fisiopatológicos explicando efeitos terapêuticos e tivos de COX1 e efeitos antipiréticos de inibidores seleti-
adversos dos AINEs, prostanoides sintéticos e antagonis- vos de COX2 (como o coxib).
tas para os receptores de prostanoides. * que produz corpos cetônicos.

Durante o processo inflamatório, leucócitos, mastócitos e Sabendo que o sítio catalítico da COX2 é maior que o sítio
sinoviócitos podem ser sua COX induzindo a liberação de catalítico da COX1 pela presença do bolso lateral da
prostaglandina E2 e prostaglandina IE estimulando IP e EP COX2, foram desenvolvidos coxibes (como o celecoxibe)
causando alterações endoteliais. Há sensibilização de que possuem uma cadeia lateral volumosa que ocupa o
neurônios sensoriais hipotalâmicos gerando edema, dor sítio ativo da COX2, mas não da COX1, assim, os glicocor-
e febre. Essas ações explicam os efeitos anti-inflamató- ticoides também agem inibindo a expressão da COX2,
rios, analgésicos e antipiréticos dos AINEs e, ao mesmo mas não da COX1.
tempo, os efeitos adversos causados pelas prostaglandi-
nas I2 sintéticas utilizadas no tratamento da hipertensão Efeitos terapêuticos e adversos dos AINEs
pulmonar. Os efeitos terapêuticos e adversos dependem tanto da
dose, quanto do AINE utilizado no tratamento.
 A classes dos prostanoides possui funções fisioló-
gicas importantes. A eficácia analgésica é avaliada pelo NIT, número neces-
sário para tratar, e depende da dose dos diferentes AINEs.
Por exemplo, o etocoxibe é potente e eficaz no alívio de Farmacocinética de AINEs por via oral
dor, enquanto o ibuprofeno é praticamente equificaz ao Administrados por via oral, os AINEs apresentam diferen-
coxib, mas em potência menor. Já o AAS e o paracetamol tes tempos de meia-vida, sendo divididos em:
são menos potentes e suas eficácias máximas não podem - T½ curta (ibuprofeno, dipirona, paracetamol).
ser alcançadas porque atingem o limite de doses máximas - T½ intermediária (celecoxibe, meloxicam).
diárias que podem induzir toxicidade. - T½ longa (piroxicam).

 Dose máxima diária de AAS e ibuprofeno é 3600 E  Piroxicam, por exemplo, é parcialmente excretado
4000 mg respectivamente e podem ser facilmente al- pela bile e reabsorvido pela circulação entero-hepá-
cançadas com administração 3 vezes ao dia de doses tica, o que explica a meia-vida longa. Já o dipirona, de
de 550 e 1000 mg. meia-vida curta, possui um metabólito ativo que faz
com que sua meia-vida seja ligeiramente maior que a
Por outro lado, os efeitos indesejáveis dependem do tipo do paracetamol (também de meia-vida curta).
de AINEs utilizado. Tradicionalmente, o AAS em doses al-
tas (>3500 mg) atuam como inibidores não-seletivos de Administrados por via oral, AINEs ácidos ou não-ácidos
COX e causam efeito analgésico, anti-inflamatório e anti- possuem tempos diferentes para a concentração plasmá-
pirético, contudo, causando também toxicidade gastroin- tica máxima indicativo da velocidade da ação terapêutica.
testinal, aumento da pressão sanguínea, risco cardiovas- Assim, alguns AINEs como o ibuprofeno e o paracetamol
cular e sangramentos. possuem tendência a produzir efeitos terapêuticos mais
rapidamente que outros fármacos como piroxicam e me-
 Os coxibes são mais seguros em relação à toxici- loxicam.
dade gastrointestinal e aos sangramentos.
A biodisponibilidade é, em geral, muito boa, indicando
Doses baixas de AAS não causam efeito analgésico, anti- que os fármacos possuem boa absorção e baixo metabo-
pirético ou anti-inflamatório, mas causam efeito anti- lismo de primeira passagem. Contudo, alguns AINEs po-
agregante plaquetário, útil para proteger pacientes que dem depender de características genéticas do paciente,
apresentam risco de infarto e AVC, mas danoso por cau- como ocorre nos polimorfismos de CYP2C9 em relação a
sar sangramentos e toxicidade gastrointestinal. biodisponibilidade do celecoxibe.

AINEs atípicos ou não-tradicionais Os AINEs ácidos possuem baixo volume de distribuição,


Os AINEs não-tradicionais possuem efeito analgésico e enquanto os AINEs não-ácidos possuem maiores volumes
antipirético, mas limitados efeitos anti-inflamatórios e de distribuição. Como os fármacos ácidos têm melhor pe-
anti-agregantes plaquetários e, além disso, não são tóxi- netração em tecido ácidos, como os tecidos inflamados e
cos ao trato gastrointestinal. o estômago, geralmente, possuem tanto efeito anti-infla-
- Dipirona, paracetamol. matório, quanto cetogênico. Por outro lado, os não-áci-
dos, incluindo os atípicos, causam efeitos anti-inflamató-
Causam reações alérgicas incluindo anafilaxia, mais co- rios ou cetogênico limitados, mas seu alto volume de dis-
mum com o uso de dipirona que pode induzir efeito su- tribuição permite sua penetração no SNC facilitando os
pressor na medula óssea (ainda raro e grave). efeitos analgésicos e antipiréticos.

O paracetamol pode causar lesão hepática ou renal por Toxicidade gastrointestinal causada por AINEs
conta de um metabólito citotóxico (n-acetilparabenzo- É o efeito adverso mais frequente e por variar de uma azia
quinonamida, o NAPK). Em doses abaixo da máxima diá- simples até uma ulceração perfurada hemorrágica grave.
ria, é metabolizado por conjugação de fase II com gluco-
ronídeo e sulfato não-tóxico, é excretado pelos rins. Já em Os AINEs, inclusive doses baixas de AAS, produzem dano
altas doses, também sofre metabolismo de fase I pelo na mucosa gástrica tanto por efeitos tóxicos locais, como
CYP450 gerando o NAPK citotóxico que pode sofrer fase a toxicidade à mitocôndria, quanto por efeitos sistêmicos
II gerando um mercapturato não-tóxico após conjugação relacionados à inibição da COX2 com redução de prosta-
com glutationa se os estoques desse antioxidante endó- glandinas, bicarbonato e muco citoprotetor.
geno estiverem altos. Porém, se esses estoques forem de-
predados com o uso continuado de doses altas, a NAPK A lesão da mucosa é amplificada pela bactéria H. pylori
pode atacar inúmeras biomoléculas (proteínas e lipídeos) presente em muitos pacientes. Assim, durante a digestão,
causando citotoxicidade no fígado e em outros órgãos ocorre a produção de prótons e liberação de pepsina que
como os rins. pode causar a quebra da mucosa lesionando artérias sub-
mucosas causando sangramento amplificado pelo efeito
anti-agregante plaquetário produzido por muitos AINEs
tradicionais.
Efeitos adversos frequentes no uso de AINEs Farmacodinâmica e mecanismo de ação
Esses efeitos adversos são causa relevante de morte. Vários estímulos, incluindo mediadores inflamatórios,
TAMPS e BAMPS, podem estimular seus receptores enzi-
Pode haver toxicidade renal por retenção de sódio e água máticos em membranas celulares que associam e ativam
induzindo edema e reduzindo a eficácia de anti-hiperten- quinases para fosforilar e levar à degradação do fator pro-
sivos e diuréticos. Pode ainda, haver toxicidade ao SNC, teína anti-inflamatório (Iκβ). Sem Iκβ, subunidades do fa-
especialmente com o uso de salicilatos que provocam tor de transcrição nuclear NFKB, como a P65 e a P50, mi-
vertigem, tontura, zumbido no ouvido, hiperventilação e gram para o núcleo estimulando a transcrição de RNA
salicilismo, ou mesmo hipersensibilidade mediada por mensageiro para genes que codificam proteínas inflama-
IgE, causando de urticárias a choque anafilático, ou por tórias, COX2, IL1, IL6 e IL8, moléculas de adesão, metalo-
desvio da rota de prostanoides para a rota de leucotrie- proteases 9 e 13, e a própria fosfolipase A2, favorecendo
nos resultando em crises em pacientes com asma e rinite. o processo inflamatório.

Glicocorticoides Os glicocorticoides penetram passivamente para o meio


Ao contrário dos AINEs, os glicocorticoides são fármacos intracelular e, no citosol, uma parte do cortisol pode ser
anti-inflamatórios esteroides derivados do cortisol. Atual- armazenada em forma de metabólito inativo cortisona. O
mente, são derivados de modificações químicas na estru- cortisol ou fármacos glicocorticoides podem estimular re-
tura do cortisol. ceptores para glicocorticoides, GR, para migrar para o nú-
cleo em um processo de sinalização genômica.
Regulação dos níveis de glicocorticoides
pelo eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA) Uma parte das ações anti-inflamatórias dos glicocorticoi-
O ritmo cardíaco e o estresse fisiológico (por exemplo, je- des reside na habilidade dos receptores de glicocorticoi-
jum prolongado ou situações de luta e fuga) induzem o des, ativados após a ligação do agonista, interagiram di-
hipotálamo a liberar o hormônio liberador de corticotro- retamente e inibirem o Iκβ pelo mecanismo de interação
fina, o CRH, pela pituitária anterior que, por sua vez, esti- proteica que causará repressão dos genes que codificam
mula a liberação de corticotrofina, ACTH, que atua esti- proteínas anti-inflamatórias.
mulando o córtex das adrenais a liberar cortisol.
Outra parte da ação anti-inflamatória dos glicocorticoides
O cortisol e os fármacos glicocorticoides atuam em diver- reside na habilidade dos receptores de glicocorticoides,
sos tecidos produzindo ações metabólicas, como a Glico- quando ativados, se ligarem diretamente em elementos
neogênese em jejum, e ações anti-inflamatórias, redu- responsivos do DNA induzindo genes que codificam pro-
zindo danos induzidos em situações de luta e fuga. teínas anti-inflamatórias, como o Iκβ, anixina1 (inibidor
catalítico da enzima geradora de ácido araquidônico) pela
O cortisol ainda controla a própria liberação por meca- regulação dependente de DNA.
nismo de retroalimentação negativa ao eixo hipotálamo-
pituitária-adrenal agindo diretamente sobre o hipotá- Ou seja, os glicocorticoides agem por duas formas:
lamo ou sobre a hipófise controlando sua liberação. Os 1) Sinalização genômica.
fármacos glicocorticoides também ativam esse meca- 2) Sinalização não-genômica.
nismo de retroalimentação inibitória e inibem a liberação
do cortisol endógeno, situação que pode causar insufici- Efeitos terapêuticos e adversos
ência renal após a retirada abrupta dos fármacos. Os efeitos terapêuticos e os efeitos adversos dos glicocor-
ticoides dependem da dose administrada e da sinalização.
As ações do cortisol também são controladas por diferen- - S. genômica, doses baixas, médias, altas ou muito altas.
tes isoformas da desidrogenase 11B de hidroxiesterois - S. não-genômica, apenas em doses altas ou muito altas.
que faz a conversão do cortisol ativo em inativo.

 As concentrações plasmáticas de ACTH e cortisol


seguem uma flutuação circadiana com pico no início
da manhã, após sono e jejum prolongado, por isso, é
indicado que esses fármacos glicocorticoides sejam
administrados no início da manhã para coincidir com
o pico e não alterar a flutuação circadiana após a re-
tirada desses fármacos.
Terapias: Impacto na Odontologia
Subagudas não-fatais – crises de artrite reumatoide. Dentre as vias utilizadas, na Odontologia, prefere-se o uso
Agudas fatais – choque anafilático. por via oral (em cirurgias) ou por via tópica (em formula-
Crônicas – para atingir a emissão da artrite reumatoide. ção especial para cavidade oral no tratamento de aftas).
Reposição – para pacientes com deficiência na adrenal.
 Pacientes que apresentam asma ou rinite que uti-
Quanto maior o tempo e a dose do tratamento com gli- lizam glicocorticoides estão mais predispostos para
cocorticoides, maior a probabilidade de efeitos adversos. infecções na cavidade oral como a candidíase.
Para isso, utiliza-se como ferramenta de comparação de
potência para definir a faixa de dose de glicocorticoides a Os glicocorticoides são metabolizados por reações de
conversão da dose para dose equivalente de predniso- conjugação e excretados pelos rins.
lona. Assim, classifica-se as doses em altas, muito altas,
médias ou baixas. Anti-histamínicos
A histamina é responsável por várias ações fisiopatológi-
 Dose equivalente de prednisolona: cas: induz alergias quando liberada por mastócitos após
Por exemplo, se a dose equivalente de prednisolona ativação dos receptores para IgE, induz a neurotransmis-
é 4 mg, isso significa e 1 mg de prednisolona é igual a são em áreas do SNC ligadas com a aemese, despertar,
4 mg do fármaco glicocorticoide. Essa relação de po- vigília e cognição quando liberada por neurônios, e tam-
tência relaciona-se diretamente sobre o efeito dos bém induz a secreção de ácidos no estômago quando li-
GCT sobre os receptores GR. berada por células enterocromafins.

Seletividade, duração e indicação  No estômago, age em receptores H2. Os antiácidos


Alguns GCT como o cortisol endógeno, a hidrocortisona e são antagonistas desses receptores.
prednisolona são agonistas de receptores de glicocorti-  Em alergias e na neurotransmissão, age em recep-
coides e também de receptores mineralocorticoides, au- tores A1. Os antialérgicos, antieméticos e sedativos
mentando a chance de efeitos semelhantes aos da aldos- são antagonistas desses receptores.
terona, ou seja, retenção de sódio e água aumentando a
pressão arterial. Farmacodinâmica
Os anti-histamínicos agem bloqueando a ação da hista-
 Como os efeitos nesses dois receptores da hidro- mina liberada por mastócitos. Os antagonistas H1 conse-
cortisona são semelhantes ao do cortisol, ela é prefe- guem reduzir a permeabilidade vascular, a vasodilatação
rível na terapia de reposição. em vasos sanguíneos e o prurido em neurônios sensoriais
(efeitos causados classicamente pela histamina).
Além disso, dexametasona e betametasona interagem
minimamente com os MR evitando retenção de sódio e Em mastócitos e leucócitos, a estimulação do receptor H1
água, assim, são reservados para condições agudas e gra- ativa a proteína Gq aumentando o cálcio intracelular esti-
ves. mulando quinase C e o fator nuclear Iκβ. Assim, os anta-
gonistas H1, maioria agonistas inversos, podem reduzir a
Os GCT têm tempo de meia-vida plasmática entre 1 e 2 liberação de mediadores e a estabilização de mastócitos,
horas, já o tempo de pico de concentração é entre 2 e 8 além de apresentação de antígeno e expressão de prote-
horas. A duração do efeito pode ser de até 72 horas com- ínas anti-inflamatórias nos leucócitos.
patível com a sinalização genômica estimulada pelos re-
ceptores de glicocorticoides. Efeitos terapêuticos, farmacocinética e indicações
Os anti-histamínicos dividem-se em duas gerações, am-
Início de duração demora algumas horas, mas dura por bas as gerações têm efeito anti-alérgico, mas apenas os
períodos prolongados. Como a duração de ação da pred- de primeira geração possuem efeitos antieméticos e se-
nisolona é compatível com o cortisol endógeno, esse gli- dativos porque atravessam a barreira hematocefálica e
cocorticoide é preferível no tratamento de doenças crô- produzem efeito no SNC.
nicas.
A meia-vida, após administração oral, geralmente varia
Efeitos adversos entre intermediária e longa. O Tmáx, em geral, é curto,
Alguns pacientes apresentam a síndrome de Cushing ia- entre 1 e 4 horas.
trogênica que induz alterações físicas.
Segunda geração: fármacos seletivos para H1, penetram reumatoide. O uso de anti-TNFs está associado com o au-
pouco no SNC e, por isso, são mais seguros. Ajustes de mento do risco de infecções, principalmente tuberculose.
dose devem ser realizados em pacientes com insuficiên- Além disso, alguns relatos demonstram tuberculose oral
cia renal e hepática. e infecção de implantes dentários nesses pacientes.

Primeira geração: não-seletivos, ativam o H1 e alvos se- DMARDs sintéticos


cundários, por isso, possuem uma ampla gama de efeitos Agem pela inibição da atividade lisossomal e da sinaliza-
adversos. ção mediada por receptores do tipo TLR, Toll, eventos
importantes para que as APCs ativem linfócitos T e B.
Efeitos adversos
Causam diversos efeitos adversos em diferentes órgãos
que variam desde prurido até arritmias potencialmente
fatais. Na cavidade oral, esses fármacos como cloroquina
e hidroxicloroquina podem causar a Hiperpigmentação.

Imunossupressores
Imunossupressores como a ciclosporina e o taprolimo são
utilizados por transplantados e podem trazer efeitos ad-
versos importantes na Odontologia.

Esses fármacos são inibidores da ativação do fator de


transcrição NFAT pela calcileurina, um passo essencial na
sinalização de receptores de células T que leva a indução
de IL2, 3 e 1. As citocinas são importantes na proliferação
e diferenciação dos linfócitos T que causam a doença do
enxerto versus hospedeiro.

 O uso desses fármacos pode ter impacto na saúde


oral pela indução de hiperplasia gengival ou pela in-
dução de aftas.

DMARDs biológicos
DMARDs são anti-reumáticos modificadores de doença.
Fármacos como etarnecepte e adalimumabe são fárma-
cos biológicos, são proteínas que neutralizam a ação do
TNF que media várias doenças crônicas como a artrite
Por exemplo, em ambiente hospitalar, há mais antibióti-
cos sendo utilizados. Por conta disso, é comum que haja
infecções hospitalares muito resistentes.

Assim, com o uso inadequado de antibióticos, pode haver


um processo de seleção das bactérias resistentes que
permanecem e se multiplicam, enquanto as bactérias
sensíveis são eliminadas.
28 abr 21
Aula 10 – Antibióticos  Resistência: bactéria mostra-se resistente ao trata-
Prof. Yara Medeiros mento feito com antibióticos convencionais.

Introdução aos antibióticos Portanto, os antibióticos devem ser usados apenas no tra-
Os antibióticos devem ser utilizados apenas no trata- tamento de infecções bacterianas de acordo com a pres-
mento de infecções bacterianas de acordo com a prescri- crição médica. Sua eficácia relaciona-se diretamente ao
ção médica. Dessa forma, resfriados e gripes não devem agente causador da infecção. Assim, nem todos os anti-
ser tratados com o uso de antibióticos. bióticos são adequados a uma mesma infecção.

Algumas pessoas têm o hábito de usar antibióticos para  Podem ser tratadas com antibióticos: infecções
tratar qualquer dor de garanta, por exemplo, contudo, causadas por bactérias, pneumonia bacteriana, otite,
essa prática é perigosa porque, com uso exagerado, na sinusite e amigdalite (sendo que pneumonia, sinusite,
hora que houver uma real necessidade de uso, o remédio otite e amigdalite podem, também, serem causadas
pode não fazer efeito. por vírus. Resfriados e a maioria das dores de gar-
ganta e gripes não devem ser tratados com antibióti-
Além disso, expostas progressivamente aos antibióticos, cos.
as bactérias acabam “aprendendo” como o antibiótico
funciona e tornam-se mais resistentes (> bactérias com Erros graves e comuns cometidos ao tomar antibióticos
algum tipo de resistência sobrevivem e se reproduzem, as - Antibiótico para prevenir infecção.
não resistentes morrem). Essas bactérias com algum tipo - Antibiótico para evitar que a gripe seja forte. *
de resistência se multiplicam dando origem a bactérias - Antibiótico para evitar evolução de gripo a pneumonia.
descendentes resistentes aos antibióticos. Por conta - Antibiótico que sobrou em casa, sem orientação médica.
disso, é de extrema importância que o remédio seja utili- - Parar de tomar antibiótico antes do término do trata-
zado apenas com prescrição médica. mento. *

 A prescrição médica é controlada. Doenças virais, * Duas principais causas para que haja desenvolvi-
com raras exceções, também não devem ser tratadas mento de resistência bacteriana.
com antibióticos. Como, no geral, as dores de gar-
ganta estão associadas a uma infecção viral, o uso Características peculiares dos antibióticos
pode ser inadequado favorecendo a seleção de espé- O tratamento com o uso de antibióticos é muito peculiar.
cies resistentes. O paciente deve ser bem orientado para que faça o uso
da maneira mais correta evitando que haja favoreci-
Trilhões de bactérias circulam pelo corpo humano. Elas mento para a resistência bacteriana. Afinal, esse compor-
estão nos cabelos, na pele, nas mucosas, nos pelos e em tamento pode oferecer um risco à sociedade e ao meio
todos os órgãos. Apesar disso, só provocam algum tipo de ambiente.
doença se as pessoas estão com a imunidade baixa.
 50% do uso mundial de antibióticos concentra-se
Quando tomamos antibióticos, todas as bactérias (fisioló- na agropecuária, ou seja, não restrito a humanos,
gicas ou patológicas) acabam diminuindo. As mais frágeis, mais um fator importante para o desenvolvimento de
mais sensíveis, morrem primeiro e outras bactérias po- resistência bacteriana.
dem apresentar algum tipo de resistência podendo conti-
nuar se proliferando. Por conta disso, ao utilizarmos al- Causas de resistência bacteriana
gum antibiótico, pode haver um desequilíbrio entre as - Uso abusivo de antibióticos em humanos/agropecuária.
bactérias que normalmente estão em nossos corpos e as - Viagens através do planeta.
bactérias patogênicas, favorecendo uma infecção (princi- - Número crescente de indivíduos imunossuprimidos (que
palmente em indivíduos com a imunidade reduzida). fazem de uso de corticosteroides, quimioterápicos, por-
tadores de HIV, transplantados, que mais frequente- desenvolvimento de candidíase mucocutânea, por exem-
mente quando precisam usar mais frequentemente anti- plo, a fungovaginite ou balanopostite, necessitando de
bióticos). tratamento.

As causas mais comuns da resistência ligam-se ao con- Outra infecção secundária muito importante pode resul-
trole inadequado de infecções e ao uso inadequado (seja tar no desenvolvimento de colite pseudomembranosa.
por tempo inadequado ou indicação inadequada). Por Uma infecção grave no intestino grosso causada princi-
conta disso, a indústria farmacêutica não consegue acom- palmente pela bactéria Clostridium difficile. Geralmente,
panhar a resistência bacteriana, assim, quanto mais des- pós o 5º dia de uso do antibiótico, há um desequilíbrio da
controlado é o uso, maior a deficiência de antibióticos microbiota intestinal com proliferação excessiva dessa es-
para tratamento de doenças. pécie de bactéria levando a um processo infeccioso infla-
matório que, se não tratado, pode ocasionar perfuração
 Nos últimos anos, a entrada de medicamentos está na parede do intestino. Os pacientes geralmente se quei-
bem menor para o tratamento de bactérias devido a xam de dor abdominal e diarreia e, em exame de colonos-
essa dificuldade. copia, evidencia-se na luz do intestino a presença de
pseudomembranas. A conduta clínica é de suspensão do
Efeito colaterais antibiótico para evitar a perfuração intestinal e o trata-
Cada antibiótico possui suas particularidades, mas há al- mento do paciente com outro antibiótico voltado para a
guns efeitos colaterais que são comuns a maioria deles. colite pseudomembranosa.

Os efeitos colaterais sofrem influência de: As reações alérgicas também são comuns e podem ocor-
rer tanto nas primeiras 48 horas, quanto no final do tra-
(a) Idade. Acontecem principalmente nas faixas etá- tamento ou mesmo após terminado. Algumas vezes, é ne-
rias mais extremas já que, bebês e crianças ainda pos- cessário suspender o antibiótico. A manifestação mais co-
suem órgãos de metabolização e excreção imaturos mum da alergia é a presença de urticária.
(fígado/rins), e idosos costumam ter comorbidades.
(b) Função renal. Quando a função renal está alte-  A melhor maneira de evitar a infecção e a propa-
rada, é necessário haver ajustes em dose e intervalo gação das bactérias é pela lavagem das mãos, na clí-
de uso de acordo com o nível de disfunção verificado nica, no consultório ou mesmo em casa.
a partir da análise da creatinina pela taxa de filtração.
(c) Função hepática. Como o fígado é o órgão respon-
sável pela metabolização, é importante que ajustes Mecanismos de ação dos antibióticos
sejam feitos, por exemplo, quando o paciente possui Os antibióticos podem atuar por meio de 4 vias:
hepatopatia crônica. - Ataque à parede celular.
(d) Gravidez ou lactação. Os antibióticos ultrapassam - Ataque ao genoma.
a barreira transplacentária e podem ser transferidos - Ataque à síntese proteica.
pelo leite materno, assim, o feto ou o bebê podem - Ataque a vias metabólicas.
sofrer algum tipo de efeito colateral caso a mãe use.

 Todas essas informações constam na bula do me-


dicamento, onde fala sobre crianças e idosos, ajustes
em caso de disfunção renal ou de disfunção hepática
e informações sobre uso em gravidez e lactação.

Dentre os efeitos colaterais, os mais comuns são:

(a) Alteração da microbiota. Ao fazer o uso, o antibió-


tico não atua apenas na bactéria patogênica, mas,
sim, em toda a microbiota, seja ela mucosa, intesti-
nal... podendo causar mudanças e desequilíbrios.
(b) Reações alérgicas.
(c) Resistência bacteriana.

Alteração na microbiota, por exemplo, favorece desen- Antibióticos que atuam na parede celular
volvimento de infecções secundárias. O mais comum é o A parede celular das bactérias tem como função protege-
las das agressões do ambiente. Os betalactâmicos são um
grupo de antibióticos que agem inibindo a síntese da pa- Indicações das penicilinas naturais:
rede celular. São tanto utilizados para infecções comuni- - Cocos Gram (+).
tárias, quanto para infecções hospitalares. - Cocos Gram (-).
- Bacilos Gram (+).
BETALACTÂMICOS - Treponema pallidum.
- Patógenos anaeróbios.

Penicilina Cefalosporina Carbapenens  Não devem ser utilizadas para bacilos Gram (-).
Meropenens
As penicilinas podem ser recomendas em casos de:
- Amigdalites bacterianas.
Os betalactâmicos mais conhecidos são a penicilina e a - Pneumonias pneumocócica.
cefalosporina, a estrutura dessa classe de antibióticos - Doença causada por espiroquetas (sífilis/leptospirose).
possui um anel betalactâmico que só pode ser observado - Tétano.
em estrutura tridimensional.
 Por exemplo, em caso de amigdalites, no exame fí-
Mecanismo de ação dos betalactâmicos: inibem de forma sico, as placas de pus na orofaringe são indicativos de
irreversível as enzimas transpeptidases, enzimas em vá- uma procedência bacteriana (e não viral).
rias isoformas responsáveis pela síntese final dos pepti-
doglicanos que compõem e estruturam a parede celular. Efeitos colaterais:
As reações alérgicas são os efeitos mais comuns em casos
 Efeito bactericida, provoca lise e morte celular. de uso de penicilinas naturais. Contudo, a ocorrência de
choque anafilático é bem rara.
Mecanismo de resistência bacteriana: as bactérias, no en-
tanto, passaram a produzir betalactamases, enzimas que 2. Penicilinas de largo espectro
atacavam o anel betalactâmico. Apesar de terem um local As penicilinas de largo espectro foram assim nomeadas
de ação comum, essas enzimas são heterogêneas nas es- porque possuem um espectro de atuação ampliado po-
truturas moleculares. dendo ser utilizadas, também, para bacilos Gram (-)
 Penicilinases, cefalosporinases, carbapenamases... como E. coli, Proteus mirabillis, Salmonela, Shigela e Hae-
mophilus influenzae.
Penicilinas
As penicilinas são um dos grupos mais conhecidos dos be-  Haemophilus influenzae = comum causadora de
talactâmicos, são classificadas em: infecções respiratórias no outono e no inverno.
- Penicilinas naturais.
- Penicilinas de largo espectro. Esse grupo de penicilinas divide-se em:
- Penicilinas antiestafilococos. - 2ª geração (por exemplo, amoxacilina e ampicilina).
- 3ª e 4ª gerações (= penicilinas antipseudomonas). Utili-
1. Penicilinas naturais zadas em ambiente hospitalar, ação bem específica con-
As penicilinas naturais foram as primeiras a serem tra essas bactérias.
introduzidas no mercado, a maioria é de uso injetável e,
por sua vez, são classificadas em: Resistência às penicilinas e inibidores de betalactamases:
A forma mais comum de resistência é a síntese de
(a) Penicilina G cristalina, de uso intra-hospitalar, enzimas heterogêneas molecularmente contra o anel
essa penicilina é aplicada de 6 em 6 horas. betalactâmico, ou seja, produção de betalactamases
(b) Penicilina G procaína, uso intramuscular, mantém (penicilinases, cefalosporinases, carbapenamases, etc.).
os níveis séricos por 24 horas. Assim, como a produção de penicilinases é bem comum,
(c) Penicilina G benzatina, uso intramuscular, a indústria farmacêutica desenvolveu medicamentos “ini-
mantém os níveis séricos por até 30 dias. bidores de betalactamase”. Esses medicamentos não são
antibióticos, mas são associados as 2ª, 3ª e 4ª gerações
Além dessas penicilinas G de maioria injetável, há um dos antibióticos de largo espectro para combater a resis-
quarto tipo de penicilina natural: tência ofertada pelas bactérias.

(d) Penicilina V, administrada por via oral de 8 em 8 Exemplos de inibidores:


horas (não é a mais comum, a mais comum são as - Ácido clavulânico.
injetáveis por via endovenosa ou muscular). - Sulbactam.
- Tazobactam.
- Avibactam.
Esses inibidores da betalactamase ligam-se irreversivel- (b) 3ª, 4ª e 5ª gerações: são mais resistentes às beta-
mente à enzima β-lactamase para que os antibióticos be- lactamases em comparação às cefalosporinas de 1ª e
talactâmicos possam agir. As associações mais comuns 2ª gerações. Além disso, ao contrário delas, essas três
são: gerações são capazes de atravessar a barreira hema-
tocefálica. Também atuam mais em Gram (-) em com-
- Amoxacilina + ácido clavulânico. paração com as de 1ª e 2ª gerações.
- Ampicilina + Sulbactam.
 Todas, cefalosporinas e penicilinas, atravessam a
3. Penicilinas antiestafilococos barreira transplacentária, mas não causam efeitos te-
Essas penicilinas foram criadas e utilizadas para combater ratogênicos ao feto.
a bactéria Staphylococcus aureus já que, logo após a in-
trodução das penicilinas, foram identificadas várias cepas
dessa bactéria que era produtores de penicilinases.

Como a Staphylococcus aureus era a mais perigosa de to-


das as bactérias comuns, bem patogênica e causadora de
doenças bem importantes do século passado, desenvol-
veu-se uma classe de penicilinas anti-Staphylococcus au-
reus penicilinases resistentes.

Meticilina: foi o primeiro antibiótico desta classe a entrar


no mercado. Porém, por outros mecanismos, o S. aureus
também se tornou resistente à meticilina, assim, algumas - H. influenzae, Gram (-), infecções respiratórias.
de suas cepas, desde então, foram denominadas MRSA, - Bacteriodes spp., comuns em infecções peritoneais e ou-
ou seja, methicilin resistant S. aureus. tros tipos de complicações em pós-operatórios.
- Última geração mais potentes, uso em UTIs.
Resistência bacteriana contra os
antibióticos betalactâmicos Efeitos colaterais das cefalosporinas:
Ocorre por meio de dois mecanismos: O efeito mais frequente é o mesmo da penicilina, ou seja,
a possibilidade de reação alérgica (com raros casos de
1) Síntese de enzimas 2) Mutações nos genes choques anafiláticos).
contra o anel betalac- da bactéria, como é o
tâmico (betalactama- caso dos S. aureus re-  Antibióticos que atuam na
ses, penicilinases, cefa- sistentes às penicilinas parede celular não-betalactâmicos
losporinases, carbape- antiestafilococos Há ainda antibióticos que atuam na parede células das
nemases). (MRSA). bactérias, mas que não possuem anel betalactâmico, ou
seja, são não-betalactâmicos.
- Exemplo: vancomicina.
 Assim, os S. aureus apresentam vários tipos de re-
sistência aos antibióticos. Essa é uma bactéria encon- Esses antibióticos são utilizados exclusivamente em am-
trada em condições comensais na pele e há uma biente hospitalar, atuam contra cocos Gram (+) e bacté-
grande dificuldade de encontrar antibióticos capazes rias resistentes, como os MRSA (cepas resistentes de S.
de tratar infecções causadas por elas. aureus para os antibióticos convencionas, as penicilinas
antiestafilococos).
Cefalosporinas
As cefalosporinas, outro grupo dos betalactâmicos, são Antibióticos que atuam no genoma
mais resistentes às betalactamases em comparação com As bactérias são procariontes, por conta disso, seu DNA
as Penicilinas. Geralmente, são administradas por via oral, encontra-se disperso no citoplasma, ou seja, não apre-
intramuscular ou intravenosa. senta nenhum tipo de envoltório como nos eucariontes.

Classificação das cefalosporinas: Os antibióticos que atuam no genoma são inibidores da


As cefalosporinas são divididas em gerações criadas con- síntese de ácidos nucleicos e podem ser divididos em:
forme foram introduzidas no mercado. - Metronidazol.
(a) 1ª e 2ª gerações: não ultrapassam a barreira he- - Quinolonas.
matocefálica exceto em casos de inflamação menín-
gea. Portanto, não tratam abscessos cerebrais isola-
dos (mesma característica das penicilinas).
Metronidazol Indicação clínica:
O metronidazol é um fármaco bactericida administrado São indicadas para infecções por bactérias Gram (-), Gram
como pró-droga, com baixo peso molecular, difundido fa- (+), aeróbicas e alguns anaeróbicos. Por exemplo:
cilmente pela parede da membrana celular da bactéria. - Norfloxacina para infecções urinárias.
No citoplasma da bactéria, é metabolizado pela oxirredu- - Ciprofloxacina combate Gram (+) e Gram (-) em infec-
tase ferrodoxina, uma enzima da via de síntese do ATP, e ções urinárias e infecções respiratórias (+ e -).
há produção de radicais livres e de outros compostos in- - Levofloxacina para infecções respiratórias por Gram (-).
termediários que são tóxicos para a bactéria, especifica-
mente tóxicos para o DNA. Assim, impede a síntese de Efeitos colaterais:
ácidos nucleicos. As quinolonas podem causar dores articulares e tendi-
nite. Inclusive, caso o paciente esteja fazendo uso de cor-
Via de administração: ticoides, pode haver rotura do tendão de Aquiles. Por
- Oral. isso, são contraindicadas para crianças e adolescentes em
- Parenteral. fase de crescimento.
- Endovenosa.
- Tópica (pomada ou óvulo vaginal). Apesar disso, o principal efeito colateral das quinolonas é
a infecção secundária causando uma colite pseudomem-
Indicação clínica: branosa. Quando prescrita, deve-se prestar atenção a
O Metronidazol é indicado para o tratamento de infec- queixas do paciente durante a evolução do tratamento
ções causadas por bactérias anaeróbicas Gram (+) e Gram como: dor abdominal, diarreia ou alteração do ritmo in-
(-). Além disso, pode ser utilizado em caso de infecções testina.
por protozoários, como para amebíase, giardíase ou tri-
comaníase. Antibióticos que inibem a síntese proteica
Nas bactérias, a síntese proteica ocorre nos ribossomos
Efeitos colaterais: dispersos no citoplasma. Os antibióticos inibidores rever-
Os mais comuns são os efeitos gastrointestinais, assim, síveis da síntese proteica são classificados de acordo com
pode haver vômito, diarreia, cólica abdominal ou candidí- o local onde atuam e dividem-se em dois grupos:
ase oral (infecção secundária). Além disso, em pacientes
internados, podem haver efeitos no sistema nervoso - Inibidores da fração 50S.
como convulsões, neuropatia periférica, cefaleia e tremo- - Macrolídeos
res. Dermatologicamente, há possibilidade de reações - Clindamicina.
alérgicas. Por fim, no sistema gastrourinário, o efeito co- - Linezolida.
lateral pode ser a urina escura.
- Inibidores da fração 30S.
 Interação álcool e metronidazol: essa interação - Aminoglicosídeos.
pode ocorrer durante o uso ou após alguns dias do - Tetraciclinas.
término do uso, é uma interação controversa e há vá-
rias hipóteses que buscam explicar. Esses efeitos po- Efeitos colaterais: os ribossomos humanos e bacterianos
dem ocorrer mesmo com a ingestão de bombons ou são totalmente diferentes, por conta disso, não existem
xaropes que contenham álcool na formulação e os efeitos colaterais importantes para os seres humanos.
principais sintomas (súbitos) são:
- Sensação de mal-estar. Macrolídeos
- Vermelhidão (flushing, tórax e face). São inibidores da fração 50S dos ribossomos. A inibição é
- Taquicardia. reversível e esses antibióticos são bacteriostáticos. Ex:
- Sudorese. - Azitromicina.
Por isso, a bula do medicamento recomenda que não - Claritromicina.
haja ingestão de álcool até 48 horas após a ingestão
do metronidazol para qualquer formulação. Entre- Via de administração:
tanto, o uso de álcool-gel na pele não oferta qualquer - Oral (mais comum).
tipo de risco ou efeito colateral. - Parenteral.
- Endovenosa.
Quinolonas
As quinolonas ou fluorquinolonas são antibióticos que Indicação clínica:
atuam diretamente na síntese do DNA bacteriano. Esses Infecções respiratórias adquiridas na comunidade, medi-
antibióticos bloqueiam a DNA-girase e a topoisomerase camento de escolha para pacientes alérgicos à penicilina
IV impedindo a formação da dupla-hélice e, portanto, im- nessas infecções comunitárias, utilizado, também, no tra-
pedindo que o DNA exerça suas funções.
tamento de infecções por micobactérias (exceto: Myco- Além disso, não são absorvidas por via oral, apenas pa-
bacterium tuberculosis) e DSTs (Mycoplasma, clamídia, renteral (injetáveis ou pomada).
Aeromophylus nutri).
Efeitos colaterais:
Efeitos colaterais: - Nefrotoxicidade que pode ser reversível.
Até 33% dos pacientes apresentam efeitos colaterais - Ototoxicidade irreversível.
gastrointestinais como náuses, vômitos, diarreia e - Lesão vestibular (tontura, alteração do equilíbrio, sensa-
dispepsias (desconforto abdominal alto). Além disso, ção de cabeça leve, náuseas e vômitos).
alguns pacientes podem apresentar efeitos - Lesão coclear (zumbido, perda da audição).
cardiovasculares como o aumento do espaço QT e o uso
deve ser feito com cuidado por portadores de arrtimia Tetraciclina
pela maior pré-disposição. A tetraciclina corresponde a um grupo e ao nome de um
dos antibióticos pertencente a esse grupo. Os fármacos
Clindamicina são bacteriostáticos e inibem de forma reversível a fração
Também atua inibindo a fração 50S dos ribossomos. 30S do ribossomo bacteriano. São representados por:
- Doxiciclina.
Indicação clínica: - Minociclina.
É indicada para infecções por anaeróbios, por exemplo, - Tigeciclina.
nos casos de vulvovaginites. Além disso, pode ser utili- - Tetraciclina.
zada em infecções por protozoários ou fungos
(toxoplasmose, actinomicose, nocardiose). Indicação clínica e administração:
São indicados para infecções causadas por Gram (-) e
Administração: Gram (+) aeróbicas. Além disso, podem ser administrados
- Via oral. por via oral ou parenteral (intravenosa ou tópica, muito
- Parenteral. comum em géis para acne e colírios oftalmológicos).
- Endovenosa.
- Tópica (óvulos e pomadas na ginecologia). Efeitos colaterais:
Podem causar efeitos colaterais gastrointestinais como
Efeitos colaterais: diarreia e até mesmo colite pseudomembranosa, podem
O efeito principal é a infecção secundária levando à colite causar reações alérgicas e têm implicação em ossos e
pseudomembranosa devido à modificação da microbiota dentes.
intestinal.
As tetraciclinas causam malformações dentárias e os-
sos nos fetos, portanto, não devem ser utilizadas du-
rante a gravidez porque também podem causar lesão
hepática grave em gestantes por infiltração gordu-
rosa do fígado (esteatose hepática). Além disso, po-
dem ser excretados pelo leite materno e, portanto,
não devem ser utilizados em períodos de amamenta-
ção. As malformações dentárias e ósseas podem
ocorrer também pela ingestão do leite da gestante
medicada (tanto pela mãe, quanto na segunda denti-
Aminoglicosídeos ção da criança).
Esses antibióticos são inibidores da fração 30S dos ribos-
somos bacterianos, são os únicos inibidores da síntese Antibióticos que atuam em vias metabólicas
proteica que são bactericidas e são representados por: Esses medicamentos se diferem porque são antimicrobi-
anos derivados de produtos sintetizados em laboratório e
- Amicacina. não de animais (como a maioria dos antibióticos).
- Estreptomicina (para tuberculose)
- Gentamicina. Suflas
- Neomicina (pomada) Interferem em vias metabólicas, são bacteriostáticas e
- Tobramicina. inibem a síntese de ácidos nucleicos que são precursores
para a produção de DNA e RNA na bactéria.
Indicação clínica e administração: - Também são utilizadas para infecções não-bacterianas
Com exceção da estreptomicina, esse grupo de antibióti- como as causadas pelo Toxoplasma gondii (infecções que
cos aminoglicosídeos só atuam em bactérias Gram (-). causam toxoplasmose).
As suflas agem inibindo uma enzima que atua na conver-
são do PABA (ácido para-aminobenzoico) em ácido fólico,
um precursor importante para síntese de ácidos nuclei-
cos.

 Em humanos, o ácido fólico é obtido a partir da di-


eta e é incorporado às células por transportadores es-
pecíficos. Porém, as bactérias não dispõem de trans-
portadores de ácido fólico e precisam sintetizar o te-
tra-hidrofolato a partir do PABA, essa diferença na
origem do ácido fólico entre humanos e bactérias é
essencial para o mecanismo de ação das suflas.

Combinação suflametoxazol e trimetoprim


A combinação entre esses dois antibacterianos atua si-
nergisticamente contra uma série de bactérias Gram (+)
e Gram (-) de forma bacteriostática.
- Recebe o nome comercial de Bactrim.

Enquanto o suflametoxazol inibe a enzima que converte


PABA em ácido fólico, o trimetoprim age na conversão de
ácido fólico em ácido folínico.

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