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APLICADA À ODONTOLOGIA
Julia Maldonado Garcia | Odontologia | ufsc
Fármacos: substância química ativa de constituição defi-
nida usada terapeuticamente como agente preventivo,
curativo ou diagnóstico.
- Possui capacidade de interagir com os receptores para
alterar processos fisiológicos e bioquímicos já existentes,
ou seja, não cria processos novos.
- Exemplos: adrenalina pode causar uma vasoconstrição,
23 fev 21 assim, altera o processo fisiológico de contração e relaxa-
Aula 01 – Introdução à Farmacologia mento de vasos. Aspirina (ácido acetilsalicílico) bloqueia
Prof. Juliano Ferreira o processo bioquímico de síntese de prostaglandinas.
Droga: qualquer substância química, de origem sintética Medicamento similar: contém o mesmo fármaco, apre-
ou natural, que modifica a função fisiológica com inten- senta a mesma concentração, forma farmacêutica, via de
ção benéfica ou diversa. administração, posologia e indicação terapêutica.
- Intenção benéfica: terapêutica ou experimental. - Equivalente ao medicamento registrado no órgão fede-
- Intenção diversa: recreativa. ral responsável pela vigilância sanitária.
- Exemplos: cocaína, pode ser um anestésico local (inten- - É equivalente quimicamente, mas pode diferir em carac-
ção farmacológica) ou pode ser usada de maneira recre- terísticas como tamanho, recipiente, forma do produto,
ativa, como uma droga. prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e
veículo.
- Não são obrigatoriamente submetidos a teste de bioe- 3. Teste clínico (fase 1): as substâncias testadas e aprova-
quivalência, por conta disso, não se pode garantir a inter- das na última etapa, agora, serão testadas em voluntários
cambiabilidade como acontece com genéricos. humanos sadios.
- É identificado por marca ou ramo comercial. * Nessa etapa, são observados os efeitos nas funções cor-
- Exemplo: Dicoflenato potássio – cataflan. porais, a dosagem e a farmacocinética são definidas.
* Continuam sendo drogas ainda.
A sugestão é de, sempre que possível, usar medicamen-
tos genéricos. São mais baratos e intercambiáveis com 4. Teste clínico (fase 2): a substância começa a se tornar
medicamentos de referência, já que foram submetidos a um fármaco. Agora, é testado em pacientes selecionados,
testes de bioequivalência e só diferem em não possuírem não mais sadios, que apresentem a doença para a qual
a “marca” dos medicamentos de referência. quer se indicar esse fármaco.
* Observa-se o efeito sobre a doença, sobre a segurança
Desenvolvimento da Farmacologia desse fármaco e são estabelecidos mais aspectos sobre
Terapêutica: em 3000 a. C, com o surgimento da terapêu- dosagem e farmacocinética.
tica, poções mágicas e remédios à base de erva eram uti-
lizadas para tratar doenças. Com o passar do tempo, a te- 5. Teste clínico (fase 3): os testes são realizados com gru-
rapêutica se desdobrou em 3 áreas: pos de pacientes de diferentes centros de pesquisa, em
mais de um hospital, cidade ou clínica. O teste estabelece
1 Comércio, 1600 d. C, os boticários comercializavam uma comparação do tratamento padrão ou placebo com
aquilo que produziam, depois dando origem a indústria o novo fármaco, para averiguar se ele é melhor que o pla-
farmacêutica e, posteriormente, aos fármacos sintéticos. cebo ou que um fármaco já existente no mercado.
2 Ciências biomédicas, entre 1800 e 1900.
3 Química, por volta de 1800, representou um grande 6. Aprovação e registro: um dossiê dos resultados de to-
salto com estudo de produtos naturais, isolamento de das as fases é enviado para agencia regulatória.
princípios ativos e estudo da estrutura química dos com- * Aproximadamente 1 fármaco que chega é aprovado.
ponentes das plantas, e, posteriormente, com a química
7. Testes clínicos (fase 4): após aprovação e registro, ini-
sintética, estruturas elucidadas e caracterizadas permi-
cia-se o período de farmacovigilância. Os testes conti-
tindo o uso dessas substâncias quimicamente.
nuam sendo feitos e observa-se o comportamento e os
efeitos do fármaco em uma grande população.
Ciências biomédicas, química e a indústria farmacêutica,
juntos à patologia, fisiologia, bioquímica, biologia mole-
Todo esse processo de testagem é muito extenso. Da sín-
cular e mais muitas áreas, deram origem à Farmacologia.
tese de novos compostos químicos até o teste clínico de
fase 4, demora cerca de 10 anos. É um processo muito
Desenvolvimento dos fármacos
caro e com muitas etapas. Em situações excepcionais,
O desenvolvimento dos fármacos passa por um longo pe-
como por exemplo, a necessidade de uma vacina para
ríodo de várias fases de estudos e testes até a aprovação.
combater uma pandemia (Covid19), há mais investi-
mento e o processo é acelerado, antecipando, até
1. Primeiro, há síntese de novos compostos químicos ou
mesmo, o processo de aprovação e registro pelas agên-
isolamento de compostos já existentes (ex: de plantas).
cias regulatórias, assim, o fármaco pode ser desenvolvido
* Aproximadamente 10 mil substâncias.
em 3 a 4 anos, ainda um tempo longo.
2. Testes pré-clínicos: partindo das 10 mil substâncias sin-
Fatores entre dose prescrita e efeito dos fármacos
tetizadas ou isoladas, algumas passam por testagens pré-
clínicas. Ou seja, são testadas em animais ou em culturas Há muitos aspectos entre a prescrição de uma dose do
em células in vitro, em tubos de ensaio. fármaco e seu efeito. Por exemplo, o fármaco adequado
* Esses testes têm como objetivo observar os efeitos dos pode ter sido prescrito na dose adequada, na posologia
compostos (que anda não são fármacos). Por exemplo, indicada, porém, o paciente pode simplesmente não ter
como interagem com as funções orgânicas, se há alguma acesso ao medicamento, seja financeiramente ou pela in-
toxicidade, quais os mecanismos de ação. disponibilidade, assim, a dose prescrita não obtém efeito.
* Testes em animais: especialmente roedores, cães e ma- Assim, há um caminho entre dose e efeito:
cacos para testagem de toxicidade.
* Dos testes pré-clínicos, apenas cerca de 10 continuam. A dose prescrita de um fármaco adequado requer:
- Acesso ao medicamento.
- Adesão do paciente ao tratamento.
Estudo dirigido
1) Quais as diferenças entre remédios, drogas, fármacos
e medicamentos?
Desvantagens:
- Irritação local.
- Inconveniente.
Eliminação biliar
A circulação êntero-hepática cria um reservatório de fár-
maco recirculante que pode representar até 20% do total
do fármaco presente no organismo, prolongando a ação.
Exceções: ainda assim, há alguns fármacos que não preci- - Como a ação do receptor envolve apenas a abertura do
sam interagir com nenhum tipo de alvo farmacológico, canal, a hiperpolarização ou a despolarização e seu efeito
seja proteico ou não-proteico. Por exemplo, os antiácidos acontecem de modo muito rápido, em milissegundos.
agem pela neutralização do suco gástrico, já os diuréticos
e laxantes agem por osmose alterando a composição de - Exemplo de receptor ionotrópico: receptor nicotínico da
fezes e urinas promovendo a drenagem de água. acetilcolina. O Diazepam tem ação sedativa e hipnótica
agindo nesses receptores ionotrópicos.
2 Receptores metabotrópicos: são proteínas transmem- Gi > ação inibitória na adenil ciclase.
brana que, quando ocupadas pelo ligante, interagem com Gs > ação estimulatória na adenil ciclase.
uma proteína G que está acoplada a sistemas efetores in-
tracelulares. Ou seja, quando o ligante se acopla ao re- Subunidade α da Gq:
ceptor, a proteína G age ativando ou desativando os sis- - Enzima alvo: Fosfolipase C.
temas efetores gerando segundos mensageiros e diferen- - Segundos mensageiros: PIP2 -> DAG/IP3.
tes ativações dentro da célula. - Alvo: DAG -> PKC // IP3 -> [Ca+].
> Também chamados de GPCRs.
A via da fosfolipase C (PLC) cliva um fosfolipídio de mem-
- Como envolve mais de um passo – ativação do receptor, brana PIP2 em dois produtos, o diacilglicerol (DAG) e o IP3.
ativação da proteína, ativação de segundos mensageiros O IP3 age liberando o cálcio dos estoques intracelulares
–, a ação daqueles que agem nos receptores metabotró- fazendo com a que concentração de cálcio aumente den-
picos é um pouco mais lenta em comparação aos ionotró- tro da célula. O cálcio e o DAG agem ativando a PKC (pro-
picos. Ainda assim, são rápidos e seus efeitos podem ser teína quinase dependente de cálcio). A PKC fosforila alvos
observados em segundos. e é importante para, entre outras coisas, a contração de
músculos lisos.
- Exemplos de fármacos que agem em metabotrópicos:
- Losartana, um anti-hipertensivo. > PKA e PKC fosforilam vários alvos dentro da célula.
- Neosoro/nafazolina, para congestão nasal.
- Ranitidina, para gastrite. 3 Receptores ligados a quinases: são receptores associa-
dos a enzimas nos seus domínios intracelulares e atuam
Funcionamento do receptor metabotrópico: o receptor é regulando a transcrição gênica e a síntese proteica.
composto por uma estrutura que cruza a membrana plas- > Também chamados de receptores catalíticos.
mática celular 7 vezes e tem o domínio intracelular aco-
plado à proteína G. Essa proteína G, por sua vez, é com- Quando o receptor é ativado, na sua porção intracelular,
posta pelas subunidades α, β, γ, sendo a subunidade α induz um processo de fosforilação dele mesmo. Essa fos-
acoplada a uma molécula de GDP (guanina difosfato). forilação age ativando uma cascata de proteínas que cul-
mina na transcrição de genes e na síntese proteica.
Quando o ligante se acopla ao receptor, há uma mudança
conformacional que faz com que a subunidade α ligada Como a ativação envolve a transcrição e a tradução em
ao GDP troque-o por GTP. O fosfato é um grupamento proteínas, o processo é mais demorado. Assim, a ação
bem volumoso, assim, a chegada de mais um induz a dis- desses receptores é vista em horas, são mais lentos que
sociação da subunidade α do dímero formado pelas su- os receptores metabotrópicos.
bunidades β e γ. A partir disso, tanto a subunidade α,
quanto o dímero β-γ podem ter ações em sistemas efeto- Exemplo: receptores de citocinas.
res intracelulares promovendo um efeito.
Funcionamento de receptores ligados a quinases: assim
Após cessado o estímulo, a subunidade α cliva o GTP con- que os agonistas se ligam aos receptores, a dimerização
vertendo-o em um GDP liberando um fosfato. Com um (união de dois receptores) é induzida e há um processo
volume menor, a religação entre α, β e γ é favorecida e a de transfosforilação. Ou seja, um receptor começa a fos-
forma inativa do receptor acoplado à proteína G é rees- forilar o outro criando resíduos de fosforilação na porção
tabelecida. intracelular dos receptores. Quando ativados, recrutam
proteínas que induzem fatores de transcrição na célula.
Principais tipos de proteína G clinicamente relevantes:
- Gs, Gi/0 e Gq. 4 Receptores intracelulares: são receptores que se encon-
- Interação c/ os s. efetores adenil ciclase e fosfolipase C. tram no interior da célula. Diferente de outros subgrupos,
eles não estão inclusos na membrana celular, assim, o fár-
Subunidade α da Gi e da Gs: maco precisa atravessar a membrana e interagir com o
- Enzima alvo: Adenil ciclase. receptor que se encontra no núcleo ou citoplasma.
- Segundos mensageiros: ATP -> AMPc. Quando o fármaco se liga ao receptor, a transcrição ge-
- Alvo: PKA. nética e síntese de proteínas são induzidas. Assim, por ser
um processo mais demorado, o efeito também pode ser Funcionamento dos canais iônicos:
observado a partir de horas ou dias. No repouso, a célula é mais negativa no meio intracelular
do que no meio extracelular. Um canal iônico dependente
Exemplo: corticoides, como a prednisona. de voltagem do tipo NaV permite o influxo do sódio.
Quando há despolarização e a célula fica menos negativa,
Enzimas a abertura do canal é induzida, permitindo o influxo do
Os fármacos que interagem com as enzimas, geralmente, sódio (que segue o gradiente de concentração e caminha
levam à diminuição da atividade enzimática.
do meio extra, onde é mais concentrado, para o meio in-
tracelular). O sódio, por ser um íon de carga positiva, in-
Classificação:
- Inibidor: quando um fármaco se liga à enzima, impede duz a permanência da célula em despolarização.
que ela produza seus produtos, impede que ela atue.
- Falso substrato: quando um fármaco se ligada à enzima, Um fármaco que atua na abertura de canais iônicos é a
induz a produção de um metabólito anômalo que não lidocaína. Seu funcionamento como anestésico local
apresenta uma função normal. deve-se ao fato de inibir os canais iônicos impedindo a
- Pró-Fármaco: fármacos assim, quando administrados, entrada do sódio cessando a despolarização. Quando
não têm ação ou têm ação muito reduzida, assim, quando essa despolarização é interrompida, a propagação do es-
se ligam à enzima, induzem a formação de uma forma ati- tímulo nervoso (que pode ser, por exemplo, de dor) tam-
vada desse fármaco que, agora, possui ação. bém é interrompida e o paciente fica anestesiado.
Por exemplo, em um neurônico, há um transportador de A maioria dos fármacos realiza uma ligação reversível,
serotonina. Esse transportador é responsável por reesto- agindo por formas de ligações mais fracas, fazendo com
car, recaptar, a serotonina liberada na fenda sináptica de- que elas sejam mais dinâmicas (fazem e se desfazem). Po-
pois que ela já agiu na célula pós-sináptica. Os fármacos rém, como nas enzimas, há fármacos como a aspirina,
como a fluoxetina inibem esse transportador fazendo que realizam ligações irreversíveis, inutilizando a enzima.
com que a serotonina não seja recaptada e se acumule
dentro da fenda sináptica e há efeito antidepressivo. As moléculas que realizam a interação fármaco-receptor,
portanto, podem ser classificadas em:
Canais iônicos
São canais de membrana que se ativam por mecanismos - Agonistas:
que independem da ligação de um ligante, diferindo-se Se liga e ativa ao receptor, gera efeito farmacológico.
de canais ionotrópicos.
- Antagonista competitivo:
Por exemplo, os canais NaV e CaV. Se liga ao mesmo sítio que o agonista, mas não possui ca-
- Canal iônico para sódio controlado por voltagem. pacidade de ativar o receptor, portanto, não gera efeito
- Canal iônico para cálcio controlado por voltagem. farmacológico mas induz inibição do efeito do agonista.
Esses dois canais são ativados por mudança de voltagem. - Antagonista não-competitivo:
Na conformação fechada, quando há uma despolarização Se ligam a outros sítios de ação do receptor, não se ligam
da célula, ou seja, quando ela fica menos negativa, o canal ao sítio do antagonista, mas induzem inibição do efeito
é aberto. Porém, caso haja hiperpolarização ou repolari- do agonista.
zação, o canal é fechado novamente.
Agonista Seletividade: é a diferença de atividade que uma molécula
Agente endógeno ou exógeno que interage com um re- biologicamente ativa possui para dois processos. Ou seja,
ceptor resultando em resposta biológico, ou seja, um o efeito e a interação do fármaco podem ser alterados
agente que possui eficácia. conforme a dose dele porque esse fármaco pode interagir
em mais de um receptor.
Eficácia: capacidade de gerar resposta biológica. Os ago-
nistas possuem eficácia, logo, possuem capacidade de ati- Por exemplo: dopamina.
var um receptor e induzir um efeito, uma resposta bioló-
gica. A eficácia liga-se diretamente à sua capacidade de - Dose baixa, age só em receptores dopaminérgicos.
induzir um efeito. - Dose média, age também em α-adrenérgicos.
- Dose alta, age também em β1-adrenérgicos.
Afinidade: medida de tendência do fármaco de se ligar.
Dado receptor possui uma estrutura com um sítio de liga- Ou seja, a dopamina é seletiva para receptores dopami-
ção para o agonista. Há duas moléculas competindo pelo nérgicos já que, em baixas doses, interage apenas com
sítio de ligação, uma delas, por possuir estrutura mais se- eles. Porém, se a dose aumenta, interage com outros, en-
melhante à estrutura do sítio, liga-se primeiro. Dizemos tão não é especifica para receptores dopaminérgicos.
que essa molécula possui mais afinidade que a outra.
Especificidade: nenhum aumento na concentração da
Gráfico de dose x efeito (%), uma ferramenta farmacodi- molécula é suficiente para ativar outros processos. É uma
nâmica para avaliar a intensidade da eficácia: situação bem rara, acontece com poucos fármacos.
Agonista total: fármaco A. É o tipo de agonista capaz de DE50: dose de agonista que induz 50% do efeito máximo.
induzir uma resposta plena ao se ligar ao receptor, ou CE50: concentração do agonista que induz 50% do efeito
seja, conforme aumentada a dose do fármaco, o efeito (a máximo.
resposta biológica) chega a 100%.
E máx = 100%. Por exemplo:
Resposta plena.
Afinidade
A afinidade, ou seja, a capacidade de ligar-se ao receptor
e produzir um efeito biológico, desdobra-se, ainda, em Gráfico do efeito máximo x log da concentração.
outros dois conceitos:
Como encontrar o CE50 ou o DE50? de então, não consegue se ligar a todos os receptores
No gráfico, encontra-se o local do efeito máximo. Depois, para produzir efeito máximo. Subdivide-se em:
encontra-se a metade do valor do efeito máximo. O valor
do CE50 ou do DE50 é o ponto que no eixo da concentra- - Reversível: liga-se ao mesmo sítio, mas as interações
ção que se relaciona com o efeito de 50%. No caso do úl- com o receptor são mais fracas e, quando aumenta a con-
timo gráfico, temos que: centração do agonista, o antagonista é deslocado. Farma-
cologicamente, com o aumento da dose de agonista, o
CE50 A: 10-7 | CE50 B: 10-6 | CE50 C: 10-5 efeito pode ser reestabelecido.
Logo, define-se que, quanto mais potente, menor a con- - Irreversível: liga-se ao mesmo sítio com interações for-
centração necessária para que o fármaco obtenha me- tes, assim, não é possível que o agonista desloque o anta-
tade do efeito máximo. Então, nesse caso: gonista do sítio. Farmacologicamente, não importa
quanto aumente a dose de agonista, o efeito máximo não
Potência A > Potência B > Potência C será reestabelecido.
Índice terapêutico
Razão entre a dose tóxica (DL50) e a dose efetiva (DE50).
> DL50 = Dose letal para 50% dos animais.
> DE50 = Dose para chegar a 50% do efeito máximo.
Dessensibilização e tolerância
São mecanismos que o corpo usa para se proteger de um
estímulo contínuo gerado pela presença de um fármaco.
A dessensibilização, ou taquifilaxia (do grego = proteção
rápida), é quando um fármaco diminui seu efeito gradu-
almente quando administrado de maneira contínua e re-
petida. Quando o fenômeno ocorre por um tempo maior,
pode acabar induzindo tolerância no organismo.
Neurotransmissores:
- Pré-Ganglionar: Acetilcolina (ACh), rec. nicotínicos.
- Pós-Ganglionar: Noradrenalina (NE), rec. adrenérgicos.
01 mar 21 * Há exceções.
Aula 01 – Farmacologia do SNA
Prof. Regina de Sordi Parassimpático: As fibras pré-ganglionares são mais lon-
gas que as fibras pós-ganglionares. A maioria das pré ter-
Sistema Nervoso Autônomo minam nos gânglios distribuídos difusamente ou em re-
O Sistema Nervoso divide-se em: des dos órgãos inervados. As pós-ganglionares são mais
Central: cérebro e medula espinhal. curtas.
Periférico: nervos entre SNC e periferia. Divide-se em:
- Somático, voluntário. Neurotransmissores:
- Autônomo: involuntário, conduz todas as informações - Pré-Ganglionar: Acetilcolina, rec. nicotínicos.
provenientes do SNC para o resto do corpo, exceto para - Pós-Ganglionar: Acetilcolina, rec. muscarínicos.
a inervação motora dos músculos esqueléticos (contro-
lada pelo somático, voluntário). Neurônios, neurotransmissores e receptores: diferenças
nos tamanhos das fibras e nos detalhes dos neurotrans-
Sistema nervoso autônomo: missores liberados do sistema autônomo. Os neurônios
- Simpático. * somáticos, por sua vez, há uma única fibra longa que li-
- Parassimpático. * bera acetilcolina que atua em receptores nicotínicos na
- Entérico. junção neuromuscular ocasionando contração de múscu-
los esqueléticos.
Principais processos regulados pelo SNA são:
* Todos os processos são de controle involuntário. Sinapse colinérgica: A acetilcolina tem dois receptores co-
- Contração/relaxamento da mm. lisa de vasos e vísceras. linérgicos, os nicotínicos e os muscarínicos. Os nicotínicos
- Metabolismo energético (fígado/m. esqueléticos). são canais iônicos controlados por ligantes, enquanto os
- Todas as secreções exócrinas e algumas endócrinas. receptores muscarínicos são receptores acoplados à pro-
- Batimentos cardíacos. teína G. A acetilcolina, na fenda, atua em algum dos tipos
de receptores ou é degradada pela acetilcolinesterase.
Diferença entre via eferente autônoma e somática, na so-
mática um único neurônio motor conecta o SNC à fibra Receptores nicotínicos: formam as sinapses pré-ganglio-
esquelética. No autônomo, a via eferente é formada por nares e são divididos em receptores musculares (Nm),
dois neurônios dispostos em série que se comunicam por confinados na junção neuromuscular esquelética do sis-
sinapses que ocorrem principalmente em gânglios au- tema nervoso somático, e em receptores neuroniais (Nn),
tonômicos: presentes nos gânglios e no SNC. Os presentes nos gân-
glios são responsáveis pela transmissão nos simpáticos e
- Neurônio pré-ganglionar (1º). parassimpáticos. Todos eles são canais iônicos controla-
- Neurônio pós-ganglionar (2º). dos por ligantes (nesse caso, acetilcolina), são pentamé-
ricos (formados por 5 subunidades que formam o canal).
Comunicam-se por sinapses com mediadores químicos. O
neurônico pós-ganglionar, por sua vez, fará a liberação de Receptores muscarínicos: formam as sinapses pós-gangli-
outro neurotransmissor que irá atuar no tecido alvo de- onares são todos acoplados a proteína G transmembrana.
sencadeando uma resposta. São chamados de M1, M2, M3, M4 e M5. Os ímpares aco-
plam-se à proteína Gq (ativam fosfolipase C), os pares são
acoplados a proteína Gi (inibem a adenilil ciclase).
Simpático: As fibras simpáticas pré-ganglionares, geral- M1 = glândulas gástricas e salivares.
mente, são mais curtas e terminam nos gânglios localiza- M2 = coração.
M3 = glândulas gástricas e salivares, musculatura lisa do Parassimpático:
trato gastrointestinal, olhos, vias aéreas, bexiga, endoté- Acetilcolina é o neurotransmissor liberado em ambas as
lio vascular. sinapses, sendo que na pré-ganglionar atua em recepto-
res nicotínicos e na pós-ganglionar atua em receptores
Sinapse adrenérgica: a noradrenalina, quando liberada na muscarínicos dos órgãos alvos.
fenda, pode atuar em receptores do tipo α-adrenérgicos
e β-adrenérgicos. Todos os receptores adrenérgicos são Ações do simpático e parassimpático:
acoplados à proteína G. Geralmente opostas, mas com exceções:
- Glândulas salivares (estimulada por ambas).
> α1-adrenérgicos = proteína Gq. - Glândulas sudoríparas (apenas simpática).
> α2-adrenérgicos = proteína Gi.* - Vasos sanguíneos (maioria simpática).
> β2 /β1-adrenérgicos = proteína Gs.
* auto-receptores, inibitórios, a noradrenalina, quando Farmacologia do SNA Simpático
em grande quantidade, atua no receptor tipo α2 e inibe a Didaticamente, esse é o sistema ativado nos momentos
liberação dela mesma, pré-sinápticos principalmente. de luta e fuga. Ocorre bronquiodilatação para respirar
melhor, o coração bate mais forte, mais rápido, a pressão
Principais efeitos do SNA: O parassimpático também é arterial aumenta pela vasoconstrição, a pupila dilata para
chamado de craniossacral porque as fibras saem do SNC enxergar melhor, o fígado aumenta a liberação de glicose,
através dos nervos cranianos e das raízes espinhais cen- o fluxo sanguíneo no músculo esquelético aumenta para
trais. Já o sistema nervoso simpático também é chamado as movimentações. O fluxo sanguíneo no trato gastroin-
de toracolombar porque as fibras simpáticas saem do testinal reduz, os movimentos peristálticos reduzem, o
SNC pelos nervos espinhais, torácicos e lombares. tônus do esfíncter aumenta...
Simpatomiméticos adrenérgicos
Fármacos que mimetizam as ações da adrenalina ou da
noradrenalina. São:
- Agonistas α-adrenérgicos.
- Agonistas β-adrenérgicos.
Exemplos:
Agonista α-1:
- Fenilefrina, Nafazolina (α1 >>>>> β).
Agonistas α e β mistos:
A maior parte das ações de simpático e parassimpático - Noradrenalina (α1 >>>> β1 >> β2).
são opostas. Por exemplo, enquanto o parassimpático - Adrenalina (α1 = β1 = β2).
causa miose (contração da pupila), o simpático causa mi-
dríase (dilatação da pupila). Mas isso nem sempre é ver- Agonistas β:
dade, por exemplo, ambos estimulam a salivação, con- - Dobutamina (β1 > β2 >>>> α).
tudo, a composição salivar é diferente para cada caso. - Isoproterenol (β1 = β2 >>>> α).
- Terbutalina e Salbutamol (β2 >> β1 >>>> α).
Resumindo...
Focaremos nos agentes fenilefrina, adrenalina e noradre-
Simpático: nalina porque são muito importantes na Odontologia. Por
ACh pela pré-ganglionar que atua em receptores nicotíni- exemplo:
cos, e NE pela pós-ganglionar que atua em receptores
adrenérgicos (α e β). Exceção: Usos – Agonistas α e β mistos:
- Glândula sudorípara, a fibra pós-ganglionar é colinér- Adrenalina (epinefrina) e noradrenalina (norepinefrina)
gica, ACh atua em receptores muscarínicos. são muito importantes para os anestésicos locais.
- Medula suprarrenal, única fibra colinérgica, ACh atua - Fenilefrina (α1 >>>>> β).
em receptores nicotínicos (como no S. Somático). - Noradrenalina (α1 >>>> β1 >> β2).
- Adrenalina (α1 = β1 = β2).
Felipressina = não é um agente adrenérgico, mas é um - Gestantes (recomenda-se que não se exceda 2 tubetes
análogo da vasopressina. e não se deve utilizar a Felipressina porque causa com-
pressão uterina).
Esses agentes são utilizados em associação com anestési- - Crianças (no máximo 1 tubete com adrenalina).
cos devido à ação em receptores α1-adrenérgicos em va- - Diabéticos (contraindicado adrenalina pelo risco de hi-
sos sanguíneos, causando vasoconstrição, contraindo o perglicemia, de preferência, utilizar felipressina)
músculo liso vascular. - Asmáticos (alérgicos dependentes de corticoides, geral-
mente, possuem alergia a sulfitos, conservantes utiliza-
Qual a função do vaso constritor em anestésicos locais? dos em soluções com aminas, deve-se utilizar outro vaso-
A maioria dos anestésicos locais têm ação vasodilatadora constritor, não relaciona ao SNA, mas sim ao conservante
direta, isso faz com que a taxa com que são absorvidos que pode desencadear uma reação alérgica).
aumente, assim, vão para a circulação sistêmica mais rá-
pido aumentando sua toxicidade, algo que não é dese- Além disso, muitos estudos apontam que a ansiedade do
jado porque reduz a ação como anestésico local. paciente é o principal determinante do aumento de pres-
são arterial que acontece durante o procedimento de
Esses agentes vasoconstritores são colocados juntos com anestesia local. Pacientes com traços de ansiedade ele-
anestésicos locais para causar a vasoconstrição promo- vado, mesmo na ausência de vasoconstritor, exibem au-
vendo uma absorção mais lenta, reduzindo sua toxici- mento de pressão arterial quando comparados com paci-
dade, aumentando o efeito e a duração da anestesia e re- entes menos ansiosos. Então, a quantidade de catecola-
duzindo a quantidade necessária sem causar efeitos far- minas endógenas liberadas na circulação em situação de
macológicos sistêmicos. As principais desvantagens são a estresse é muito acima da quantidade de um tubete
administração em grandes volumes (um agente a mais a odontológico. Mas, então, é importante acalmar o paci-
ser injetado) e, por exemplo, a fenilefrina, por ser um ente antes de anestesia-lo para que reduza a ansiedade.
agente de baixa potência, necessitando de um volume
maior (em comparação aos outros), podendo gerar des- Usos – Agonistas α1-adrenérgicos:
conforto. Além disso, há o risco de injeções intravascula-
res que podem causar efeitos sistêmicos nos pacientes. Olhos: A ativação de receptores α1 nos olhos causa dila-
tação da pupila (midríase) por causa da contração do
Efeitos sistêmicos adversos: músculo radial da íris que, quando contrai, expande a pu-
- Aumento da pressão arterial, pelo aumento da vaso- pila. Dessa forma, há colírios midriáticos com fenilefrina
constrição após atuação em receptores α1 (noradrena- que são utilizados no pré-operatório de cirurgias intrao-
lina e fenilefrina principalmente). culares ou para exames de rotina. Alguns colírios lubrifi-
- Taquicardia, pela atuação em receptores β1 aumen- cantes possuem nafazolina ou fenilefrina (em quantidade
tando a força de contração, a frequência cardíaca e a ve- menor da necessária para causar midríase), são utilizados
locidade de condução do coração (adrenalina). para reduzir a vermelhidão dos olhos por causar a vaso
- Hiperglicemia, pela atuação em receptores β2 aumen- constrição dos pequenos vasos.
tando a liberação de glicose pelo fígado (adrenalina).
Sistema respiratório: a ativação de receptores α1 nos va-
Contraindicações para o uso de sos sanguíneos do trato respiratório superior causa vaso-
vasoconstritores em anestésico locais: constrição. Os agonistas são utilizados em descongestio-
- Pacientes com angina instável. nantes tópicos ou orais nasais. Por exemplo: sorine (na-
- Infarto do miocárdio recente (até 6 meses). fazolina), oximetazolina e fenilefrina. Presentes em quase
- Acidente vascular cerebral recente. todas as associações de antigripais.
- Arritmias refratárias.
- Insuficiência cardíaca congestiva não controlada. Usos – Agonistas β2-adrenérgicos:
- Diabetes não controlado. Como a terbutalina e o salbutamol.
Débito cardíaco = FC x VS
Sabendo disso, quando um paciente hipertenso utiliza: Pressão sistólica = o que acontece com coração.
Pressão diastólica = o que acontece na resistência
(a) um antagonista alfa1-adrenérgico: vascular periférica.
- Prazosina, terazosina ou doxazosina.
1 Redução do efeito vasoconstritor local de qualquer um
dos agentes por ser via alfa1, portanto, pode haver au-
mento da absorção sistêmica do anestésico aumentando
a quantidade que deve ser utilizada do mesmo.
2 Os receptores beta1 e beta2 estão sem oposição, então
pode ocorrer hipotensão arterial (pela vasodilatação da
ativação do B2) e taquicardia (aumento da força e fre-
quência de contração pelo B1) quando administrada a
adrenalina.
* DÚVIDA: Isso seria porque mais quantidade de adrena- Porém, quando se faz uso de betabloqueadores não-sele-
lina pode atuar nos receptores B1 e B2? Tipo, antes a tivos, ao bloquear o efeito vasodilatador mediado por re-
quantidade se dividia em 3 e agora se divide em 2? Seria ceptores beta2-adrenérgicos, a administração de adrena-
isso? lina (que atuará preferencialmente nos receptores alfa1-
adrenérgicos) pode causar um aumento significativo da
(b) betabloqueadores antagonistas beta1-seletivos: pressão arterial com bradicardia reflexa.
- Atenolol, metoprolol ou bisoprolol.
Menos problemas são gerados, bloqueiam apenas os re-
ceptores beta1-adrenérgicos cardíacos.
1. Ansiolíticos e sedativos: também chamados de hipnóti- 5. Anestésicos gerais: são os fármacos utilizados para pro-
cos ou tranquilizantes menores, são os fármacos que re- duzir anestesia geral interagindo nos processos de despo-
duzem a ansiedade, o nível de consciência e causam sono, larização por potencial de ação propagado, influxo de
atuando pelo mecanismo de interação com os receptores Ca2+ em resposta à despolarização e interação com recep-
pós-sinápticos. Algumas das classes químicas ou funcio- tores pós-sinápticos.
nais desses fármacos são benzodiazepínicos, barbitúricos. - São utilizados e prescritos por odontólogos.
- São utilizados e prescritos por odontólogos. - Não costumam ser usados por pacientes odontológicos.
- Costumam ser utilizados por pacientes odontológicos. - Exemplos: óxido nitroso, isoflurano, cetamina e pro-
- Exemplos: Diazepam, Midazolam e fenobarbital. pofol.
6. Antipsicóticos: também chamados de neurolépticos ou um médico. Vários desses fármacos com ação no SNC po-
tranquilizantes maiores, são os fármacos utilizados para dem influenciar o funcionamento dos fármacos prescritos
tratar sintomas de esquizofrenia por meio da interação por odontólogos, por isso, é extremamente importante o
com processos de interação com receptores pós-sinápti- entendimento do funcionamento desses fármacos.
cos e interação com receptores pré-sinápticos. Podem ser
classificados química e funcionalmente em fenotiazinas e Farmacologia das benzodiazepinas
butirofenonas. As benzodiazepinas recebem esse nome pela estrutura
- Não são utilizados e prescritos por odontólogos. química da molécula que possui um anel benzênico e dos
- Costumam ser utilizados por pacientes odontológicos. átomos de hidrogênio (azoto).
- Exemplos: clorpromazina, haloperidol e clozapina.
Por isso se chamam benzo-di-azepinas.
7. Nootrópicos: são os fármacos que melhoram a memó-
ria e o desempenho cognitivo por meio de interação com Os efeitos clínicos de benzodiazepinas dependem da con-
os processos de liberação do transmissor por exocitose e centração plasmática e da dose de BZP utilizados. Assim:
inativação do transmissor.
- Não são utilizados e prescritos por odontólogos.
- Não costumam ser usados por pacientes odontológicos.
- Exemplos: donepezila e piracetam.
Midazolam: é rapidamente inativado, pode ser adminis- Muitos pacientes desenvolvem ansiedade e medo dos
trado por via intravenosa, intramuscular e oral. É indica- procedimentos dentários, medo da dor, medo de uma si-
ção como medicação pré-anestésica e intraoperatória. tuação desconhecida, medo por um trauma da infância
- Tempo de meia-vida: 2 horas (curto). ou mesmo medo dos custos do tratamento. Por conta
desse medo, um ciclo vicioso é formado: por ter medo, o
Metabolismo: o metabolismo depende de cada fármaco. paciente evita o tratamento oral, por consequência, sua
saúde oral é pobre e isso faz com que ele tenha que ser
Metabolismo do Diazepam: possui uma meia-vida longa, submetido a tratamentos mais complexos e de maior
quando administrado por via intravenosa, por exemplo, custo que geram ainda mais ansiedade/medo. Para evitar
age diretamente no SNC promovendo ações ansiolíticas a consolidação desse ciclo, usa-se a sedação consciente.
muito rápidas. Quando passa pelo fígado, começa a sofrer
metabolismo gerando metabólitos ativos (nordiazepam e
A sedação consciente é o nível mínimo de depressão da porém, nesse caso cirúrgico, o paciente não se recorda de
consciência mantendo-se a habilidade do paciente de res- muitos procedimentos traumáticos utilizados durante a
pirar independente e continuamente, respondendo de cirurgia (sutura, elevação do dente, recebimento do anes-
forma apropriada à estimulação física e ao comando ver- tésico local) fazendo com que ele tenha menos medo de
bal. Ou seja, é um nível intermediário de sedação situado procedimentos cirúrgicos ou odontológicos posteriores.
entre a sedação mínima de ansiólise e a sedação pro-
funda com anestesia geral e analgesia e ventilação ade- Efeitos adversos do uso de benzodiazepínicos
quada. Os BZP possuem efeitos adversos quando usados cronica-
mente para tratar ansiedade, agorafobia, problemas psi-
O paciente não sofre alterações na função cardiovascular quiátricos... por isso, deve-se atentar para os possíveis
e não precisa receber uma intervenção para as vias aé- efeitos crônicos como redução da neurocognição, depen-
reas podendo, ainda, apesar de sedado, responder à esti- dência fisiológica com tolerância e síndrome de retirada
mulação tátil ou verbal. e produção de adição e síndrome de intoxicação por su-
perdosagens (no geral, não fatais, mas perigosas). Por
conta disso, recomenda-se que o paciente, após usar, não
se envolva com tarefas potencialmente perigosas como
dirigir ou operar máquinas.
1. Pela escada (escolher o degrau conforme intensidade). Os efeitos possuem várias implicações clínicas:
- Analgesia (uso como analgésico).
2. Pela boca (preferir via oral ao invés de parenterais de-
vido à boa aceitabilidade dos pacientes). - Euforia/disforia (uso recreativo ou em superdosagens).
- Reflexo de tosse (útil como antitussígeno, codeína).
Além disso, podem ocasionar efeitos adversos importan- Porém, por exemplo, enquanto a morfina é um
tes e relevantes como, por exemplo, causados pela de- agonista total do receptor µ-opióide, a codeína é um
pressão respiratória. agonista parcial, assim, enquanto a morfina classifica-
se como um opióide forte, a codeína é classificada
Farmacodinâmica e sinalização dos opióides como opióide fraco, se assemelhado ao tramadol.
Em uma situação basal, o potencial de ação que chega na
sinapse espinhal leva a uma despolarização com ativação Farmacocinética dos opióides
de canais de cálcio pré-sinápticos com liberação de vesí- Como é a biodisponibilidade de opióides por diferentes
culas contendo neurotransmissores, por exemplo, o glu- vias de administração.
tamato. Esses neurotransmissores vão agir pós-sinaptica-
mente em receptores como os NMDA aumentando a ex- (a) Endógenos: são peptídeos, então, não ativados
citabilidade neuronal e estimulando receptores metabo- quando administrados por via oral, sendo assim, devem
trópicos que vão aumentar a quantidade de AMP cíclico. ser administrados por via endovenosa. Possuem pouca
penetração no sistema nervoso central e, por isso, quase
Assim, os opióides agem pré-sinapticamente inibindo a não são utilizados como analgésicos.
adenilato ciclase reduzindo os níveis intracelulares de - Exemplo: metaencefalina.
AMP cíclico, mas, também pré-sinapticamente, agem fa-
zendo bloqueio nos canais de cálcio. Pós-sinapticamente, (b) Naturais ou sintéticos: são administrados por diferen-
os opióides permitem o efluxo e a ativação de canais de tes vias, por exemplo, a morfina (natural) pode ser admi-
potássio levando a uma hiperpolarização pós-sináptica. nistrada por via oral, intramuscular, endovenosa ou intra-
Sob efeito de um opióides, então, há redução da neuro- tecal. Já o Fentanil (sintético), possui um metabolismo de
transmissão. Assim, se a sinapse apresenta papel impor- primeira passagem muito grande e não é ativo por via
tante para a dor, haverá redução da transmissão dela. oral, assim, precisa ser utilizado como adesivo de libera-
ção transdérmica ou por via endovenosa.
Se seu uso é repetido por muito tempo, há adaptação das
vias. Há uma dessensibilização rápida internalizando o re- Os opióides possuem o tempo de meia-vida curto, então,
ceptor opióide em endossomos com perda da capacidade o intervalo de administração é curto. Isso depende ainda
de serem estimulados por agonistas, causando desenvol- parcialmente da formulação farmacêutica.
vimento de tolerância e analgesia insuficiente. Contudo,
posteriormente, com a retirada do agonista do receptor Morfina possui um tempo de meia-vida que gira
opióides, ele pode reciclar para a membrana plasmática. em torno de 2 a 3 horas, mas pode ser aumentado
em formulações de liberação lenta. Enquanto isso, a
No tratamento crônico, o receptor internalizado Metadona possui meia vida longa comparativa-
pode fazer uma assimilação anômala produzindo fe- mente.
nômenos paradoxais como a hiperalgesia.
A concentração plasmática é mais baixa e mais estável Codeína, por exemplo, 10% a 15% pode ser metabolizada
quando o opióide é administrado por via oral, principal- pela CIP3A4 produzindo Norcodeína, um metabólito
mente em formulações de liberação lenta, havendo uma ativo. Já na fase 2, de 50% a 70% são metabolizados pela
analgesia mais sustentada. UGT2B7 produzindo codeína 6-glucoronídeo. Contudo,
entre 0 a 15%, dependendo da genética do paciente, so-
Morfina, T½ = 2 horas fre metabolismo pela CYP3D6 formando a morfina como
O primeiro gráfico metabólito ativo, uma condição importante para que se
mostra a administra- alcance o efeito analgésico.
ção de uma dose baixa
a cada 4 horas com Assim, há tipos diferentes de pacientes com genótipos di-
analgesia mais susten- ferentes para a enzima CYP2D6:
tada, porém, devido à
frequente necessidade Metabolizadores extensos: possuem 1 ou 2 alelos
de administração, a para a enzima, alcançam analgesia intermediária (-5).
adesão ao tratamento é dificultada. O segundo gráfico Metabolizadores pobres: possuem 2 alelos inati-
mostra a administração de uma dose alta a cada 12 horas, vos para a enzima, a morfina continua dando efeito
apesar de a administração ser menos frequente facili- analgésico, porém, a codeína perde o efeito.
tando a adesão, há risco transitório de intoxicação e
perda de analgesia. Após a administração, há picos com No sul do Brasil, 80% das pessoas são metaboliza-
analgesia e intoxicação, mas que, após algumas horas, fi- dores extensos, porém, 3% são metabolizadores po-
cam abaixo da janela terapêutica e há perda da analgesia bres, assim, a codeína não é muito eficaz para esses
podendo, potencialmente, haver síndrome de retirada. pacientes.
Boa prática para opióides no tratamento da dor Mecanismos de ação e efeitos adversos
O objetivo é usar a dose total mais baixa que forneça o dos antidepressivos tricíclicos
controle adequado da dor com menos efeitos adversos. Antidepressivos tricíclicos interagem com vários alvos far-
macológicos. Por exemplo, pode atuar na receptação de
Aplicam-se 3 etapas (3 Ts, titration, tailoring, tapering): serotonina e monoamina, mas também podem interagir
1. Titulação (teste), ao iniciar a administração, deve-se co- com receptores para histamina, receptores muscarínicos
meçar como uma dose baixa e ir devagar. e podem interagir com canais de sódio bloqueando-os.
2. Ajuste (individualização), reconhecer os vários fatores
que contribuem para a experiência pessoal da dor. Reco- Além do efeito antidepressivo e analgésico, os antide-
nhecer questões como comorbidades e faixa etária. pressivos tricíclicos podem produzir uma série de efeitos
3. Transição (redução gradual), evitar consequências ne- adversos como:
gativas da retirada rápida como síndrome de abstinência. - Boca seca, constipação, retenção urinária, relacionados
ao efeito anticolinérgico.
- Taquicardia e arritmia, interação com canais de sódio.
- Náusea e sonolência, pela interação com receptores his-
taminérgicos.
Efeitos adversos
Sonolência Anemia aplástica
Ganho de peso Malformações congênitas
Reações alérgicas
Durante o processo inflamatório, leucócitos, mastócitos e Sabendo que o sítio catalítico da COX2 é maior que o sítio
sinoviócitos podem ser sua COX induzindo a liberação de catalítico da COX1 pela presença do bolso lateral da
prostaglandina E2 e prostaglandina IE estimulando IP e EP COX2, foram desenvolvidos coxibes (como o celecoxibe)
causando alterações endoteliais. Há sensibilização de que possuem uma cadeia lateral volumosa que ocupa o
neurônios sensoriais hipotalâmicos gerando edema, dor sítio ativo da COX2, mas não da COX1, assim, os glicocor-
e febre. Essas ações explicam os efeitos anti-inflamató- ticoides também agem inibindo a expressão da COX2,
rios, analgésicos e antipiréticos dos AINEs e, ao mesmo mas não da COX1.
tempo, os efeitos adversos causados pelas prostaglandi-
nas I2 sintéticas utilizadas no tratamento da hipertensão Efeitos terapêuticos e adversos dos AINEs
pulmonar. Os efeitos terapêuticos e adversos dependem tanto da
dose, quanto do AINE utilizado no tratamento.
A classes dos prostanoides possui funções fisioló-
gicas importantes. A eficácia analgésica é avaliada pelo NIT, número neces-
sário para tratar, e depende da dose dos diferentes AINEs.
Por exemplo, o etocoxibe é potente e eficaz no alívio de Farmacocinética de AINEs por via oral
dor, enquanto o ibuprofeno é praticamente equificaz ao Administrados por via oral, os AINEs apresentam diferen-
coxib, mas em potência menor. Já o AAS e o paracetamol tes tempos de meia-vida, sendo divididos em:
são menos potentes e suas eficácias máximas não podem - T½ curta (ibuprofeno, dipirona, paracetamol).
ser alcançadas porque atingem o limite de doses máximas - T½ intermediária (celecoxibe, meloxicam).
diárias que podem induzir toxicidade. - T½ longa (piroxicam).
Dose máxima diária de AAS e ibuprofeno é 3600 E Piroxicam, por exemplo, é parcialmente excretado
4000 mg respectivamente e podem ser facilmente al- pela bile e reabsorvido pela circulação entero-hepá-
cançadas com administração 3 vezes ao dia de doses tica, o que explica a meia-vida longa. Já o dipirona, de
de 550 e 1000 mg. meia-vida curta, possui um metabólito ativo que faz
com que sua meia-vida seja ligeiramente maior que a
Por outro lado, os efeitos indesejáveis dependem do tipo do paracetamol (também de meia-vida curta).
de AINEs utilizado. Tradicionalmente, o AAS em doses al-
tas (>3500 mg) atuam como inibidores não-seletivos de Administrados por via oral, AINEs ácidos ou não-ácidos
COX e causam efeito analgésico, anti-inflamatório e anti- possuem tempos diferentes para a concentração plasmá-
pirético, contudo, causando também toxicidade gastroin- tica máxima indicativo da velocidade da ação terapêutica.
testinal, aumento da pressão sanguínea, risco cardiovas- Assim, alguns AINEs como o ibuprofeno e o paracetamol
cular e sangramentos. possuem tendência a produzir efeitos terapêuticos mais
rapidamente que outros fármacos como piroxicam e me-
Os coxibes são mais seguros em relação à toxici- loxicam.
dade gastrointestinal e aos sangramentos.
A biodisponibilidade é, em geral, muito boa, indicando
Doses baixas de AAS não causam efeito analgésico, anti- que os fármacos possuem boa absorção e baixo metabo-
pirético ou anti-inflamatório, mas causam efeito anti- lismo de primeira passagem. Contudo, alguns AINEs po-
agregante plaquetário, útil para proteger pacientes que dem depender de características genéticas do paciente,
apresentam risco de infarto e AVC, mas danoso por cau- como ocorre nos polimorfismos de CYP2C9 em relação a
sar sangramentos e toxicidade gastrointestinal. biodisponibilidade do celecoxibe.
O paracetamol pode causar lesão hepática ou renal por Toxicidade gastrointestinal causada por AINEs
conta de um metabólito citotóxico (n-acetilparabenzo- É o efeito adverso mais frequente e por variar de uma azia
quinonamida, o NAPK). Em doses abaixo da máxima diá- simples até uma ulceração perfurada hemorrágica grave.
ria, é metabolizado por conjugação de fase II com gluco-
ronídeo e sulfato não-tóxico, é excretado pelos rins. Já em Os AINEs, inclusive doses baixas de AAS, produzem dano
altas doses, também sofre metabolismo de fase I pelo na mucosa gástrica tanto por efeitos tóxicos locais, como
CYP450 gerando o NAPK citotóxico que pode sofrer fase a toxicidade à mitocôndria, quanto por efeitos sistêmicos
II gerando um mercapturato não-tóxico após conjugação relacionados à inibição da COX2 com redução de prosta-
com glutationa se os estoques desse antioxidante endó- glandinas, bicarbonato e muco citoprotetor.
geno estiverem altos. Porém, se esses estoques forem de-
predados com o uso continuado de doses altas, a NAPK A lesão da mucosa é amplificada pela bactéria H. pylori
pode atacar inúmeras biomoléculas (proteínas e lipídeos) presente em muitos pacientes. Assim, durante a digestão,
causando citotoxicidade no fígado e em outros órgãos ocorre a produção de prótons e liberação de pepsina que
como os rins. pode causar a quebra da mucosa lesionando artérias sub-
mucosas causando sangramento amplificado pelo efeito
anti-agregante plaquetário produzido por muitos AINEs
tradicionais.
Efeitos adversos frequentes no uso de AINEs Farmacodinâmica e mecanismo de ação
Esses efeitos adversos são causa relevante de morte. Vários estímulos, incluindo mediadores inflamatórios,
TAMPS e BAMPS, podem estimular seus receptores enzi-
Pode haver toxicidade renal por retenção de sódio e água máticos em membranas celulares que associam e ativam
induzindo edema e reduzindo a eficácia de anti-hiperten- quinases para fosforilar e levar à degradação do fator pro-
sivos e diuréticos. Pode ainda, haver toxicidade ao SNC, teína anti-inflamatório (Iκβ). Sem Iκβ, subunidades do fa-
especialmente com o uso de salicilatos que provocam tor de transcrição nuclear NFKB, como a P65 e a P50, mi-
vertigem, tontura, zumbido no ouvido, hiperventilação e gram para o núcleo estimulando a transcrição de RNA
salicilismo, ou mesmo hipersensibilidade mediada por mensageiro para genes que codificam proteínas inflama-
IgE, causando de urticárias a choque anafilático, ou por tórias, COX2, IL1, IL6 e IL8, moléculas de adesão, metalo-
desvio da rota de prostanoides para a rota de leucotrie- proteases 9 e 13, e a própria fosfolipase A2, favorecendo
nos resultando em crises em pacientes com asma e rinite. o processo inflamatório.
Imunossupressores
Imunossupressores como a ciclosporina e o taprolimo são
utilizados por transplantados e podem trazer efeitos ad-
versos importantes na Odontologia.
DMARDs biológicos
DMARDs são anti-reumáticos modificadores de doença.
Fármacos como etarnecepte e adalimumabe são fárma-
cos biológicos, são proteínas que neutralizam a ação do
TNF que media várias doenças crônicas como a artrite
Por exemplo, em ambiente hospitalar, há mais antibióti-
cos sendo utilizados. Por conta disso, é comum que haja
infecções hospitalares muito resistentes.
Introdução aos antibióticos Portanto, os antibióticos devem ser usados apenas no tra-
Os antibióticos devem ser utilizados apenas no trata- tamento de infecções bacterianas de acordo com a pres-
mento de infecções bacterianas de acordo com a prescri- crição médica. Sua eficácia relaciona-se diretamente ao
ção médica. Dessa forma, resfriados e gripes não devem agente causador da infecção. Assim, nem todos os anti-
ser tratados com o uso de antibióticos. bióticos são adequados a uma mesma infecção.
Algumas pessoas têm o hábito de usar antibióticos para Podem ser tratadas com antibióticos: infecções
tratar qualquer dor de garanta, por exemplo, contudo, causadas por bactérias, pneumonia bacteriana, otite,
essa prática é perigosa porque, com uso exagerado, na sinusite e amigdalite (sendo que pneumonia, sinusite,
hora que houver uma real necessidade de uso, o remédio otite e amigdalite podem, também, serem causadas
pode não fazer efeito. por vírus. Resfriados e a maioria das dores de gar-
ganta e gripes não devem ser tratados com antibióti-
Além disso, expostas progressivamente aos antibióticos, cos.
as bactérias acabam “aprendendo” como o antibiótico
funciona e tornam-se mais resistentes (> bactérias com Erros graves e comuns cometidos ao tomar antibióticos
algum tipo de resistência sobrevivem e se reproduzem, as - Antibiótico para prevenir infecção.
não resistentes morrem). Essas bactérias com algum tipo - Antibiótico para evitar que a gripe seja forte. *
de resistência se multiplicam dando origem a bactérias - Antibiótico para evitar evolução de gripo a pneumonia.
descendentes resistentes aos antibióticos. Por conta - Antibiótico que sobrou em casa, sem orientação médica.
disso, é de extrema importância que o remédio seja utili- - Parar de tomar antibiótico antes do término do trata-
zado apenas com prescrição médica. mento. *
A prescrição médica é controlada. Doenças virais, * Duas principais causas para que haja desenvolvi-
com raras exceções, também não devem ser tratadas mento de resistência bacteriana.
com antibióticos. Como, no geral, as dores de gar-
ganta estão associadas a uma infecção viral, o uso Características peculiares dos antibióticos
pode ser inadequado favorecendo a seleção de espé- O tratamento com o uso de antibióticos é muito peculiar.
cies resistentes. O paciente deve ser bem orientado para que faça o uso
da maneira mais correta evitando que haja favoreci-
Trilhões de bactérias circulam pelo corpo humano. Elas mento para a resistência bacteriana. Afinal, esse compor-
estão nos cabelos, na pele, nas mucosas, nos pelos e em tamento pode oferecer um risco à sociedade e ao meio
todos os órgãos. Apesar disso, só provocam algum tipo de ambiente.
doença se as pessoas estão com a imunidade baixa.
50% do uso mundial de antibióticos concentra-se
Quando tomamos antibióticos, todas as bactérias (fisioló- na agropecuária, ou seja, não restrito a humanos,
gicas ou patológicas) acabam diminuindo. As mais frágeis, mais um fator importante para o desenvolvimento de
mais sensíveis, morrem primeiro e outras bactérias po- resistência bacteriana.
dem apresentar algum tipo de resistência podendo conti-
nuar se proliferando. Por conta disso, ao utilizarmos al- Causas de resistência bacteriana
gum antibiótico, pode haver um desequilíbrio entre as - Uso abusivo de antibióticos em humanos/agropecuária.
bactérias que normalmente estão em nossos corpos e as - Viagens através do planeta.
bactérias patogênicas, favorecendo uma infecção (princi- - Número crescente de indivíduos imunossuprimidos (que
palmente em indivíduos com a imunidade reduzida). fazem de uso de corticosteroides, quimioterápicos, por-
tadores de HIV, transplantados, que mais frequente- desenvolvimento de candidíase mucocutânea, por exem-
mente quando precisam usar mais frequentemente anti- plo, a fungovaginite ou balanopostite, necessitando de
bióticos). tratamento.
As causas mais comuns da resistência ligam-se ao con- Outra infecção secundária muito importante pode resul-
trole inadequado de infecções e ao uso inadequado (seja tar no desenvolvimento de colite pseudomembranosa.
por tempo inadequado ou indicação inadequada). Por Uma infecção grave no intestino grosso causada princi-
conta disso, a indústria farmacêutica não consegue acom- palmente pela bactéria Clostridium difficile. Geralmente,
panhar a resistência bacteriana, assim, quanto mais des- pós o 5º dia de uso do antibiótico, há um desequilíbrio da
controlado é o uso, maior a deficiência de antibióticos microbiota intestinal com proliferação excessiva dessa es-
para tratamento de doenças. pécie de bactéria levando a um processo infeccioso infla-
matório que, se não tratado, pode ocasionar perfuração
Nos últimos anos, a entrada de medicamentos está na parede do intestino. Os pacientes geralmente se quei-
bem menor para o tratamento de bactérias devido a xam de dor abdominal e diarreia e, em exame de colonos-
essa dificuldade. copia, evidencia-se na luz do intestino a presença de
pseudomembranas. A conduta clínica é de suspensão do
Efeito colaterais antibiótico para evitar a perfuração intestinal e o trata-
Cada antibiótico possui suas particularidades, mas há al- mento do paciente com outro antibiótico voltado para a
guns efeitos colaterais que são comuns a maioria deles. colite pseudomembranosa.
Os efeitos colaterais sofrem influência de: As reações alérgicas também são comuns e podem ocor-
rer tanto nas primeiras 48 horas, quanto no final do tra-
(a) Idade. Acontecem principalmente nas faixas etá- tamento ou mesmo após terminado. Algumas vezes, é ne-
rias mais extremas já que, bebês e crianças ainda pos- cessário suspender o antibiótico. A manifestação mais co-
suem órgãos de metabolização e excreção imaturos mum da alergia é a presença de urticária.
(fígado/rins), e idosos costumam ter comorbidades.
(b) Função renal. Quando a função renal está alte- A melhor maneira de evitar a infecção e a propa-
rada, é necessário haver ajustes em dose e intervalo gação das bactérias é pela lavagem das mãos, na clí-
de uso de acordo com o nível de disfunção verificado nica, no consultório ou mesmo em casa.
a partir da análise da creatinina pela taxa de filtração.
(c) Função hepática. Como o fígado é o órgão respon-
sável pela metabolização, é importante que ajustes Mecanismos de ação dos antibióticos
sejam feitos, por exemplo, quando o paciente possui Os antibióticos podem atuar por meio de 4 vias:
hepatopatia crônica. - Ataque à parede celular.
(d) Gravidez ou lactação. Os antibióticos ultrapassam - Ataque ao genoma.
a barreira transplacentária e podem ser transferidos - Ataque à síntese proteica.
pelo leite materno, assim, o feto ou o bebê podem - Ataque a vias metabólicas.
sofrer algum tipo de efeito colateral caso a mãe use.
Alteração na microbiota, por exemplo, favorece desen- Antibióticos que atuam na parede celular
volvimento de infecções secundárias. O mais comum é o A parede celular das bactérias tem como função protege-
las das agressões do ambiente. Os betalactâmicos são um
grupo de antibióticos que agem inibindo a síntese da pa- Indicações das penicilinas naturais:
rede celular. São tanto utilizados para infecções comuni- - Cocos Gram (+).
tárias, quanto para infecções hospitalares. - Cocos Gram (-).
- Bacilos Gram (+).
BETALACTÂMICOS - Treponema pallidum.
- Patógenos anaeróbios.
Penicilina Cefalosporina Carbapenens Não devem ser utilizadas para bacilos Gram (-).
Meropenens
As penicilinas podem ser recomendas em casos de:
- Amigdalites bacterianas.
Os betalactâmicos mais conhecidos são a penicilina e a - Pneumonias pneumocócica.
cefalosporina, a estrutura dessa classe de antibióticos - Doença causada por espiroquetas (sífilis/leptospirose).
possui um anel betalactâmico que só pode ser observado - Tétano.
em estrutura tridimensional.
Por exemplo, em caso de amigdalites, no exame fí-
Mecanismo de ação dos betalactâmicos: inibem de forma sico, as placas de pus na orofaringe são indicativos de
irreversível as enzimas transpeptidases, enzimas em vá- uma procedência bacteriana (e não viral).
rias isoformas responsáveis pela síntese final dos pepti-
doglicanos que compõem e estruturam a parede celular. Efeitos colaterais:
As reações alérgicas são os efeitos mais comuns em casos
Efeito bactericida, provoca lise e morte celular. de uso de penicilinas naturais. Contudo, a ocorrência de
choque anafilático é bem rara.
Mecanismo de resistência bacteriana: as bactérias, no en-
tanto, passaram a produzir betalactamases, enzimas que 2. Penicilinas de largo espectro
atacavam o anel betalactâmico. Apesar de terem um local As penicilinas de largo espectro foram assim nomeadas
de ação comum, essas enzimas são heterogêneas nas es- porque possuem um espectro de atuação ampliado po-
truturas moleculares. dendo ser utilizadas, também, para bacilos Gram (-)
Penicilinases, cefalosporinases, carbapenamases... como E. coli, Proteus mirabillis, Salmonela, Shigela e Hae-
mophilus influenzae.
Penicilinas
As penicilinas são um dos grupos mais conhecidos dos be- Haemophilus influenzae = comum causadora de
talactâmicos, são classificadas em: infecções respiratórias no outono e no inverno.
- Penicilinas naturais.
- Penicilinas de largo espectro. Esse grupo de penicilinas divide-se em:
- Penicilinas antiestafilococos. - 2ª geração (por exemplo, amoxacilina e ampicilina).
- 3ª e 4ª gerações (= penicilinas antipseudomonas). Utili-
1. Penicilinas naturais zadas em ambiente hospitalar, ação bem específica con-
As penicilinas naturais foram as primeiras a serem tra essas bactérias.
introduzidas no mercado, a maioria é de uso injetável e,
por sua vez, são classificadas em: Resistência às penicilinas e inibidores de betalactamases:
A forma mais comum de resistência é a síntese de
(a) Penicilina G cristalina, de uso intra-hospitalar, enzimas heterogêneas molecularmente contra o anel
essa penicilina é aplicada de 6 em 6 horas. betalactâmico, ou seja, produção de betalactamases
(b) Penicilina G procaína, uso intramuscular, mantém (penicilinases, cefalosporinases, carbapenamases, etc.).
os níveis séricos por 24 horas. Assim, como a produção de penicilinases é bem comum,
(c) Penicilina G benzatina, uso intramuscular, a indústria farmacêutica desenvolveu medicamentos “ini-
mantém os níveis séricos por até 30 dias. bidores de betalactamase”. Esses medicamentos não são
antibióticos, mas são associados as 2ª, 3ª e 4ª gerações
Além dessas penicilinas G de maioria injetável, há um dos antibióticos de largo espectro para combater a resis-
quarto tipo de penicilina natural: tência ofertada pelas bactérias.