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FARMACOLOGIA
ABSORÇÃO DE FÁRMACOS
É o processo de movimentação do fármaco do local de administração em
direção à circulação sistêmica.
Transporte e difusão
2 lados de uma membrana difere – para um ácido fraco, quanto maior o pH,
menor a taxa de frações não ionizadas para ionizadas. Considerar o coeficiente
de partição de um ácido fraco (p. ex., pK a 4,4) entre o plasma e o suco gástrico.
No plasma (pH 7,4) a relação entre as formas não ionizadas para ionizadas é
1:1.000; no suco gástrico (pH1,4) a relação é invertida, isto é, 1.000:1. Quando o
ácido fraco é administrado por via oral, um alto gradiente de concentração é
estabelecido entre o estômago e o plasma, uma condição favorável para difusão
através da mucosa gástrica. No equilíbrio, as concentrações do fármaco não
ionizado no estômago e no plasma são iguais porque é a única espécie química
que pode penetrar as membranas. Ao contrário, a concentração do fármaco
ionizado no plasma o equilíbrio será aproximadamente 1.000 vezes maior do que
no lume gástrico. Para uma base fraca com um pK a de 4,4, a situação é
invertida. Assim, ácidos fracos (p. ex., aspirina) teoricamente devem ser mais
rapidamente absorvidos de um meio ácido (lume gástrico) que bases fracas (p.
ex., quinidina). Entretanto, independente do pH, a maior absorção do fármaco
ocorre no intestino delgado conforme discutido sob o título Administração Oral,
adiante.
Difusão facilitada – Para certas moléculas (p. ex., glicose), as taxas de
penetração são muito maiores que as esperadas para a sua baixa
lipossolubilidade e gradientes de concentração observados. É postulado que um
“componente transportador” se liga reversivelmente com substratos moleculares
na membrana externa da célula e que o complexo transportador-substrato se
difunde rapidamente através da membrana com o substrato sendo liberado na
superfície interna. Esse processo de difusão mediado pelo transportador é
caracterizado por seletividade e saturação. O mecanismo de transportador
aceita para transporte apenas àqueles substratos que possuem uma configuração
molecular relativamente específica e o processo é limitado pela disponibilidade do
transportador. Não é requerido gasto de energia para esse processo; o substrato
não é transportado contra um gradiente de concentração.
Transporte ativo – Além da seletividade e da saturação, o transporte ativo requer
gasto de energia pela célula e os substratos podem sofrer acúmulo intracelular
contra um gradiente de concentração. O processo de transporte ativo parece ser
limitado a agentes com similaridades estruturais aos constituintes normais do
organismo. Estes agentes usualmente são absorvidos de locais específicos do
Farmacocinética 4
ADMINISTRAÇÃO ORAL
Como a via oral de administração é a mais comum, a absorção usualmente
se refere ao transporte de fármacos através da membrana de células epiteliais
dentro do trato GI. A absorção após a administração oral é confundida por
diferenças entre o canal alimentar no pH luminal; a área de superfície por volume
luminal; perfusão do tecido, bile e fluxo mucoso; e membranas epiteliais. A
absorção mais rápida de ácidos no intestino comparada com a estomacal parece
contradizer a hipótese de que a forma não ionizada do fármaco atravessa mais
prontamente a membrana. A discrepância pode ser reconciliada pelo grande
aumento de área de superfície e maior permeabilidade das membranas no
intestino delgado.
(p. ex., vitamina B), que são dissolvidos lentamente (p. ex., griseofulvina) ou são
muito polares para cruzar as membranas rapidamente (p. ex., muitos antibióticos).
ADMINISTRAÇÃO PARENTERAL
A colocação de um fármaco diretamente na corrente sangüínea
(usualmente EV) assegura uma liberação completa da dose para a circulação
geral. Entretanto, a administração por uma via que requeira a transferência do
fármaco através de uma ou mais membranas biológicas para alcançar a corrente
sangüínea impede a garantia de que todo o fármaco eventualmente será
absorvido. A administração IM ou s.c. de fármacos atravessa a barreira cutânea,
mas o fármaco deve atravessar a parede de capilares. Como os capilares tendem
a ser muito porosos, a perfusão (fluxo sangüíneo/grama de tecido) é o fator
principal na taxa de absorção. Assim, o local da injeção pode influenciar
criticamente a taxa de absorção de um fármaco; p. ex., a taxa de absorção do
diazepam administrado IM num local com pouco fluxo sangüíneo pode ser muito
menor do que uma dose oral do mesmo fármaco.
A absorção pode se tornar tardia ou errática quando sais de ácidos e bases
pouco solúveis são administrados IM; p. ex., a forma parenteral da fenitoína é
uma solução em 40% de propileno glicol do sal de Na com pH em torno de 12.
Quando a solução é administrada IM, o propileno glicol é absorvido e os fluidos
teciduais atuando como tampão, diminuem o pH produzindo um desvio no
equilíbrio entre as formas ionizadas e ácido livre do fármaco. O ácido livre pouco
solúvel então precipita. Subseqüentemente, a absorção e a dissolução ocorrem
muito lentamente (em cerca de 1 ou 2 semanas).
A absorção através do sistema linfático contribui muito pouco para a
absorção total de moléculas do fármaco porque o fluxo linfático é relativamente
lento. Entretanto, a absorção linfática pode ser significante no caso de moléculas
grandes (p. ex., insulina) ou fármacos altamente lipossolúveis (p. ex.,
griseofulvina).
ideal, os fármacos disponíveis para essas formas de dosagens são aqueles que
requerem administração freqüente devido a uma meia-vida biológica curta e a
uma duração curta do efeito.
As formas de liberação controlada via oral freqüentemente são designadas
para manter a concentração terapêutica do fármaco por 12h ou mais. Geralmente
atuam liberando uma dose terapêutica normal do princípio ativo e
subseqüentemente liberam quantidades constantes mais lentamente. A redução
da taxa de absorção pode ser alcançada de várias formas; p. ex., através do
revestimento das partículas com cera ou substâncias insolúveis em água,
embebendo o fármaco numa matriz da qual o princípio ativo é lentamente
liberado durante o trânsito através do trato GI ou por complexar suas moléculas
com resinas trocadoras de íons. As formas tópicas de liberação controlada são
indicadas para uma liberação do fármaco por períodos extensos; p. ex., difusão
de clonidina através da membrana provê uma liberação controlada do fármaco
por um período de 1 semana e um polímero impregnado com nitroglicerina ligado
a uma bandagem adesiva provê uma liberação controlada do fármaco por um
período de 24h. Os medicamentos para liberação transdérmica devem ter
características que permitam a penetração pela pele e alta potência.
Têm sido formulados muitos preparados parenterais não endovenosos para
prover níveis sangüíneos mantidos. Em alguns casos, sais insolúveis (p. ex.,
penicilina G benzatina) injetados IM podem prover atividade por várias semanas
ou um mês. Para outros medicamentos, são formuladas suspensões ou soluções
em veículos não aquosos; p. ex., insulina pode ser injetada em suspensões
cristalinas para ação prolongada. A insulina amorfa, com uma grande área de
superfície para dissolução, tem início e duração de ações intermediárias. O sal
procaína da penicilina é pouco solúvel e lentamente absorvido quando injetado
IM.
BIODISPONIBILIDADE
É a taxa na qual e a extensão pela qual o princípio ativo (fármaco ou
metabólito) entra na circulação geral, adquirindo assim acesso ao local de ação.
Enquanto as propriedades físico-químicos de um fármaco orientam o seu
potencial para absorção, as propriedades da forma de dosagem também podem
ser o principal determinante de sua biodisponibilidade. Assim, o conceito de
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Estimativa da biodisponibilidade
Considerações sobre a biodisponibilidade são mais comumente
encontradas para
medicamentos
administrados por via oral.
O valor da
biodisponibilidade é
determinada através da
medida da concentração
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igual à taxa de absorção. Quanto mais lenta a absorção, maior o tempo gasto até
que o pico seja atingido. As determinações da biodisponibilidade baseadas no
pico de concentração plasmática podem ser malcompreendida, uma vez que a
remoção do fármaco inicia imediatamente após a sua entrada na corrente
sangüínea. O tempo decorrido para o pico de concentração plasmática está
relacionado com a absorção e é o índice geral mais inteiramente utilizado da taxa.
A área sob a curva da concentração é a medida de biodisponibilidade mais
importante. É diretamente proporcional à quantidade total de fármaco inalterado
no organismo. Para determinar com precisão a área sob a curva, deve-se colher
amostra do sangue em intervalos freqüentes e por uma extensão suficiente de
tempo para observar virtualmente a eliminação completa. Os fármacos podem ser
considerados bioequivalentes tanto em extensão quanto em taxa de absorção
quando as curvas de seus níveis plasmáticos estiverem essencialmente
sobrepostas. Dois fármacos que apresentem áreas sob as curvas similares mas
diferem na forma do tempo decorrido para concentração plasmática são
equivalentes em extensão mas são absorvidos em taxas diferentes.
DISTRIBUIÇÃO DE FÁRMACOS
Depois que o fármaco entra na circulação geral, se distribui através dos tecidos
do organismo. A distribuição geralmente é irregular devido às diferenças nos
locais de ligação nos tecidos, variações regionais no pH e diferenças na
permeabilidade de membranas celulares.
A taxa de entrada de um fármaco em um tecido depende da taxa do fluxo
sangüíneo para o tecido, a massa tecidual e as características de partição do
fármaco entre o sangue e o tecido. Áreas ricamente vascularizadas alcançam
equilíbrio com o sangue (as taxas externas e internas são as mesmas) mais
rapidamente que áreas pouco perfundidas, a menos que barreiras de difusão
através de membranas sejam um passo de taxa limitante. Após obtido o
equilíbrio da distribuição, as concentrações do fármaco nos tecidos e fluidos
extracelulares são refletidas pela concentração plasmática. O metabolismo e
excreção ocorrem simultaneamente com a distribuição, tornando o processo
dinâmico e complexo
Espaço de diluição
O volume de fluido no
qual o fármaco parece
estar distribuído ou
diluído é chamado
volume aparente de
distribuição. Todo o fármaco é distribuído no organismo de uma única maneira.
Alguns apresentam afinidade por lipídios, outros permanecem no FEC, enquanto
outras ainda ligam-se avidamente a tecidos específicos, como ocorre
freqüentemente no rim ou fígado. O volume aparente de distribuição não fornece
informações sobre o padrão específico de distribuição, mas fornece uma
referência para a concentração esperada de uma dose administrada e,
inversamente, a dose requerida para alcançar uma dada concentração. Muitos
ácidos (p. ex., varfarim e ácido salicílico) são altamente ligados a proteínas e
assim apresentam um pequeno volume de distribuição. Muitas bases (p. ex.,
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Componentes de ligação
A extensão da distribuição dos fármacos nos tecidos depende da ligação
com proteínas do plasma e componentes teciduais.
Ligação com proteínas do plasma – Os fármacos são transportados na corrente
sangüínea parcialmente em solução (como fármaco livre) e parcialmente ligados a
vários componentes sangüíneos (p. ex., proteínas plasmáticas e células
sangüíneas). O principal determinante para as taxas de ligação do fármaco livre
no plasma é a interação reversível entre uma molécula do fármaco e uma
molécula da proteína a qual ele se liga, uma interação governada pela lei da Ação
das Massas. Muitas proteínas plasmáticas podem interagir com fármacos.
Albumina, glicoproteína a 1 -ácida e lipoproteínas são as mais importantes. Os
fármacos ácidos geralmente se ligam mais extensivamente à albumina, enquanto
os básicos freqüentemente são mais extensivamente ligados a uma ou 2
proteínas citadas. Como apenas a forma não ligada está disponível para difusão
passiva para locais teciduais ou extravasculares onde ocorrem os efeitos
farmacológicos, a ligação com proteínas plasmáticas influencia a distribuição e a
relação aparente entre a atividade farmacológica e a concentração (total) do
fármaco no plasma.
Conforme o fármaco livre deixa a circulação, a forma remanescente ligada
à proteína (p. ex., sulfonamidas) pode ser largamente confinada ao
compartimento plasmático, servindo como um depósito que pode liberar mais
fármaco à medida que este é removido da circulação através da distribuição,
metabolismo e excreção. Conforme aumenta a dose do fármaco, o número de
locais ocupados se aproxima de um limite, o número de locais totalmente
disponíveis para ligação. Considera-se então a ocorrência de saturabilidade.
Este comportamento cinético é a base para o deslocamento das interações entre
fármacos.
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ELIMINAÇÃO DE FÁRMACOS
É a soma dos processos de perda do fármaco no organismo. A remoção dos
fármacos do organismo ocorre através do metabolismo e excreção.
METABOLISMO
É o processo de alteração química do medicamento no organismo. O
fígado é o principal, mas não o único, local de metabolismo do fármaco. Alguns
metabólitos são farmacologicamente ativos. Quando a substância administrada é
inativa e um metabólito ativo é produzido, o componente administrado é
determinado pró-fármaco. As reações metabólicas podem ser classificadas como
não sintéticas e
sintéticas.
Classificação
Em reações
não sintéticas, o
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Variação individual
A variabilidade entre os indivíduos é de difícil previsão quanto a resposta clínica a
uma dada dosagem de medicamento. Alguns pacientes podem metabolizar o
medicamento tão rapidamente que terapeuticamente níveis teciduais e
sangüíneos eficazes não são alcançados; em outros, o metabolismo pode ser tão
lento que resulta em doses tóxicas com as doses usuais. Por exemplo, os níveis
plasmáticos de fenitoína variam de 2,5 a > 40mg/L
em diferentes pessoas que tenham recebido a mesma dose. Alguma dessas
variabilidades é devido a diferenças na quantidade da enzima chave, citocromo P-
450, disponível no fígado e as diferenças na afinidade da enzima pelo fármaco.
Os fatores genéticos desempenham um papel principal na determinação dessas
diferenças. Também contribuem o estado concorrente da doença, particularmente
doença hepática crônica, interações medicamentosas, especialmente aquelas
envolvendo indução ou inibição do metabolismo e outros fatores.
Limitação da capacidade
Os fármacos são metabolizados por enzimas que compartilham a propriedade
cinética de um limite superior numa relação através da qual possam catalisar uma
reação. Assim, espera-se que haja uma limitação de capacidade na taxa do
Farmacocinética 20
EXCREÇÃO
É o processo pelo qual o fármaco ou um metabólito é eliminado do organis-
mo sem alterações suplementares em sua forma química. O rim é o principal
órgão de excreção e é responsável pela eliminação de substâncias
hidrossolúveis. O sistema biliar também excreta certos fármacos e metabólitos.
Embora os fármacos também possam ser eliminados através de outras vias (p.
ex., intestino, saliva, suor, leite materno e pulmões), a contribuição geral dessas
vias geralmente é pequena. Uma exceção é a excreção de anestésicos voláteis
através do pulmão no ar expirado. Embora a eliminação via leite materno possa
não ser importante para a mãe, para o lactente pode ocorrer o contrário.
EXCREÇÃO RENAL
Reabsorção tubular e filtração glomerular – Cerca de um quinto do plasma que
alcança o glomérulo é filtrado através de poros no endotélio glomerular; o
remanescente passa ao longo das arteríolas eferentes para os túbulos renais. Os
fármacos que se ligam às proteínas do plasma não são filtrados; apenas o
fármaco não ligado aparece no filtrado. Os princípios que governam a reabsorção
tubular renal de fármacos são aqueles de qualquer passagem transmembrana. Os
componentes polares e íons são inaptos a se difundir de volta para a circulação e
são excretados a menos que existam mecanismos específicos de transporte para
sua reabsorção, p. ex., como há para a glicose, ácido ascórbico e vitaminas B.
as formas não ionizadas de bases fracas não polares e de ácidos fracos tendem a
ser prontamente reabsorvidas da urina tubular, a acidificação da urina aumenta a
reabsorção (isto é, diminuindo a excreção) de ácidos fracos e diminui a
reabsorção de bases fracas (isto é, são excretados mais rapidamente). O oposto
é verdadeiro para alcalinização da urina.
Esses princípios podem ser aplicados em alguns casos de superdosagens
para aumentar a eliminação de fármacos fracamente ácidos ou básicos. Com os
ácidos fracos fenobarbital ou aspirina, p. ex., a alcalinização da urina aumenta a
sua excreção. Ao contrário, a acidificação pode acelerar a eliminação urinária de
certas bases, como metanfetamina. A capacidade geral de obter resultados de
alteração na excreção de um fármaco através da alteração do pH urinário
depende da contribuição da via renal para a eliminação total, bem como da
polaridade (da forma não ionizada) e o grau de ionização da molécula.
EXCREÇÃO BILIAR
Os fármacos e seus metabólitos são extensivamente excretados na bile e
transportados através do epitélio biliar contra um gradiente de concentração,
requerendo um processo secretor ativo. Esse mecanismo pode se tornar saturado
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se preocupa com a forma pela qual o princípio ativo age no organismo; a segunda
lida com a forma pela qual o organismo reage ao fármaco. Devido às diferenças
individuais, uma terapia bem sucedida requer planejamento da administração do
medicamento de acordo com as necessidades de cada paciente.
Tradicionalmente, isto tem sido acompanhado pelo ajuste empírico da dosagem
até que o objetivo terapêutico seja satisfeito. Este método freqüentemente é
inadequado devido a efeitos tardios ou ocorrência de toxicidade. Uma abordagem
alternativa é iniciar a administração do fármaco de do fármaco no paciente e
ajustar a dosagem através de monitoração das concentrações plasmáticas, um
reflexo do fármaco no local ativo, além dos efeitos terapêuticos. Esta abordagem
requer o conhecimento da farmacocinética como uma função do peso e da idade,
e das conseqüências para a cinética da presença de doença hepática, renal,
cardiovascular ou uma combinação de doenças. Para identificar e quantificar as
variáveis em farmacocinética, o isolamento dos processos de absorção e
disposição é útil.
Clearance
A taxa pela qual um fármaco é eliminado do organismo é proporcional a
suas concentrações plasmáticas, o parâmetro que relaciona as duas é o
“clearance”. Os parâmetros que relacionam taxas de excreção renal e
metabolismo com concentração plasmática são “clearance” enal, Como a taxa
de eliminação é a soma das taxas de excreção renal e eliminação extra-renal,
usualmente metabolismo, segue que “Clearance” total = “Clearance” renal +
“Clearance” extra-renal (metabólico) A relação entre a taxa de excreção renal com
a taxa de eliminação total, também a relação entre o “clearance” renal com o
“clearance” (total), é a fração excretada inalterada,. Esse parâmetro é útil para
avaliar o efeito potencial das doenças hepática e renal na eliminação do fármaco.
A taxa de extração de um fármaco do sangue em um órgão de eliminação, como
o fígado, não pode exceder a taxa de sua apresentação no órgão. Assim, o
“clearance” possui um limite superior. Quando existe uma extração alta, a
eliminação é limitada à liberação do fármaco e o aumento através do fluxo
sangüíneo para o órgão. Suplementarmente, quando o órgão de eliminação é o
fígado ou parede do intestino e um medicamento é administrado por via oral, uma
porção da dose administrada pode ser perdida durante a sua via de passagem
dos tecidos para a circulação geral. Este é chamado efeito de primeira
passagem; aplica-se ao metabolismo na parede do intestino bem como no
fígado. Assim, sempre que um fármaco é altamente extraído (“clearance” alto) em
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ADMINISTRAÇÃO DE FÁRMACOS
DOSE ÚNICA
DOSAGENS MÚLTIPLAS
Peso e idade
Para alguns fármacos, alterações na farmacocinética com a idade e peso
estão bem estabelecidas. Em crianças e jovens (6 meses a 20 anos), a função
renal parece se correlacionar bem com a área de superfície corpórea. Assim, para
fármacos primariamente eliminados inalterados pela excreção renal, o “clearance”
varia com a idade de acordo com alterações na área de superfície. Numa pessoa
com idade acima de 20 anos, a função renal decresce em cerca de 1%/ano.
Considerando estas alterações pode-se determinar a dosagem permitida desses
fármacos de acordo com a idade. A área de superfície corpórea tem também sido
correlacionada com o “clearance” metabólico em crianças, embora sejam comuns
as exceções. Para neonatos e lactentes pequenos, as funções renal e hepática
não estão completamente desenvolvidas e não pode ser feita nenhuma
generalização, exceto para a ocorrência de alterações rápidas.
decréscimo na ligação com tecidos. Para fenitoína, ácido salicílico e muitos outros
fármacos, o volume de distribuição aumenta devido ao decréscimo em ligações
com proteínas plasmáticas. No estresse fisiológico (p. ex., infarto do miocárdio,
cirurgia, colite ulcerativa e doença de Crohn) ocorre aumento na concentração de
glicoproteína a 1-ácida da fase aguda de proteína. Conseqüentemente, nas
ligações de vários fármacos básicos, como propranolol, quinidina e disopiramida,
essa proteína é aumentada. O volume de distribuição desses fármacos apresenta
o adequado decréscimo.
Doença hepática
Produz alterações no “clearance” metabólico, mas não é disponível uma
boa correlação ou previsão das alterações. O metabolismo dramaticamente
reduzido do fármaco tem estado associado com cirrose hepática. A redução da
ligação com proteínas plasmáticas freqüentemente é observada nesta doença
devido à redução da albumina no plasma. Hepatite aguda com elevação de
enzimas séricas, usualmente não está associada com alteração no metabolismo
de fármacos. Insuficiência cardíaca, pneumonia, hipertireoidismo e muitas outras
doenças também alteram a farmacocinética de medicamentos.
Interações medicamentosas
As interações medicamentosas podem causar alterações nos parâmetros
farmacocinéticos e, portanto, na resposta terapêutica. As interações que
sabidamente afetam cada um desses parâmetros. A maioria dessas interações
está graduada e a extensão da interação depende das concentrações dos
fármacos que estão interagindo. Para essas reações, nessas situações se torna
difícil prever e ajustar a administração do medicamento.
MONITORAÇÃO DA FARMACOTERAPIA
Uma vez definidos os objetivos terapêuticos e o regime de fármacos e
dosagens para o paciente, a farmacoterapia é convencionalmente monitorada
pela incidência e intensidade de efeitos terapêuticos e indesejáveis.
MONITORAÇÃO DA RESPOSTA
Embora preferível, uma medida direta do efeito terapêutico nem sempre é
possível. Para muitos fármacos são utilizados pontos finais alternativos, p. ex.,
tempo de protrombina para anticoagulantes orais, teste de inibição de rosetas
para agentes imunossupressores, glicose urinária ou sangüínea para fármacos
hipoglicêmicos e ácido úrico sérico na terapia com uricosúricos. Também são
utilizados sinais de toxicidade, p. ex., zumbido e nistagmo na terapia com
salicilatos e fenitoína, respectivamente. Como a toxicidade menor nem sempre
ocorre antes de toxicidades mais graves e devido às reações tóxicas inerentes e
indesejáveis, esse procedimento evidentemente apresenta suas limitações.
FATORES COMPLICANTES
A ocorrência de metabólitos ativos é uma das principais limitações da
monitoração plasmáticas. O agente antiarrítmico procainamida, p. ex., forma um
metabólito ativo acetilado, N-acetilprocainamida, através de enzima hepática que
apresenta diferenças genéticas. A procainamida é excretada parcialmente
inalterada, enquanto o metabólito é quase inteiramente processado pelos rins.
Assim, em pacientes que são rápidos acetiladores e que apresentam a função
renal comprometida, a correlação entre concentração de procainamida e resposta
é esperada diferir da observada em pacientes que são acetiladores lentos e
apresentam uma função renal normal. A concentração de ambos os fármacos e
seus metabólitos deve ser monitorada, especialmente na presença de doença
renal.
Farmacocinética 36
alterados nas proteínas das membranas e nos canais de Na, diminuindo o influxo
de Na + ; isto inibe a despolarização e a atividade celular é reduzida. Para
sustentar essa teoria, tem sido observado que animais anestesiados se
recuperam rapidamente de anestesia geral quando colocados numa câmara
hiperbárica para reverter o efeito da membrana.
Anestésicos locais – Procaína e fármacos relacionados atuam de forma similar.
Após a aplicação nos nervos periféricos, a condução cessa. Se forem aplicadas
doses tóxicas, resultando em absorção sistêmica, os anestésicos locais também
podem inibir os neurônios centrais.
INTERAÇÃO QUÍMICA
Alguns fármacos produzem um efeito terapêutico reagindo diretamente
com substâncias endogenosas ou exógenas. Antiácidos (p. ex., hidróxido de
alumínio, hidróxido de magnésio) combinam-se com HCl para gerar produtos
relativamente inativos. Eles neutralizam o excesso de acidez gástrica e são
benéficos para tratar a irritação gástrica e distúrbios relacionados. Bicarbonato de
sódio na forma de pó nunca deve ser utilizado como um antiácido; em alguns
pacientes, o grande volume de CO 2 produzido pode resultar em ruptura do tecido
gástrico minutos após a ingestão.
Agentes quelantes combinam com vários metais para formar um complexo
químico inativo ou quelato. Utilizados no tratamento de intoxicação por metais,
incluindo edetato cálcio sódico (para combinar com chumbo), deferoxamina (para
combinar com o ferro) e dimercaprol (para combinar arsênico).
RELAÇÃO DOSE-RESPOSTA
É a correspondência entre a quantidade de fármaco administrada e a
magnitude da reação evocada. O conhecimento da relação dose-resposta auxilia
na tomada de decisões terapêuticas e suas características são uma base da
farmacologia experimental. Os dados dose-resposta são tipicamente descritos
Farmacocinética 41
A figura ao lado
ilustra 4 quadros
variáveis de uma
curva dose-efeito
hipotética:
1. potência
(localização da
curva ao longo do
eixo dose); 2. eficácia máxima ou efeito máximo (a maior resposta obtida do
sistema sob avaliação);
3. inclinação (alteração
na resposta por unidade
de dose); e 4. variação
biológica (variação em
magnitude de resposta
entre itens testados na
mesma população
recebendo a mesma
dose de fármaco).
Farmacocinética 42
A figura ao lado mostra uma comparação entre a morfina e a codeína com relação
às suas diferentes potências e sua eficácia máxima, utilizando elevação
no limiar de dor como o efeito farmacológico comum. As curvas dose-resposta
mostram que é necessária mais codeína que morfina para alcançar o mesmo grau
de analgesia. Assim, a morfina possui uma atividade biológica maior por dose
equivalente e é mais potente que a codeína. Além disso, não interessa quanta
codeína é administrada, há um ponto além do qual não há qualquer aumento no
efeito prático. Assim, a morfina não é apenas mais potente que a codeína, mas
possui também uma eficácia máxima mais alta ou efeito máximo.
FARMACOGENÉTICA
Uma reação farmacogenética é uma variação na resposta ao fármaco
causada por fatores hereditários. Muitos desses efeitos são inesperados e podem
ser adversos; quando ocorrem num pequeno número de indivíduos, são
denominados idiossincrásicos. As respostas farmacogenéticas podem ser
classificadas como diretas ou indiretas.
Resposta farmacogenética direta - Apenas uns poucos exemplos clínicos têm
sido identificados que vinculam efeito farmacológico não usual diretamente a
alterações genéticas na função de um tecido particular ou local receptor.
Redução na atividade de varfarim – Certos indivíduos exibem uma atividade
anticoagulante substancialmente mais baixa após doses terapêuticas usuais de
varfarim; pode ser necessária uma dose até 20 vezes maior que a normal para
produzir o efeito farmacológico desejado. Uma vez que a
biotransformação não é anormal nesses casos, esse efeito familiar pode ser
devido à redução na afinidade para ligação de varfarim ao seu receptor.
Hipertermia maligna – Após receber uma combinação de relaxante muscular
(usualmente succinilcolina) e inalação de anestésicos gerais (mais
freqüentemente halotano), certos pacientes (cerca de 1:20.000) sofrem uma
elevação de risco na temperatura corpórea. A rigidez muscular freqüentemente é
o primeiro sinal; outros (além da hipertermia) incluem taquicardia e outras
Farmacocinética 43
REDUÇÃO NA BIOTRANSFORMAÇÃO
As reações adversas a certos fármacos se desenvolvem mais
freqüentemente e em doses terapêuticas menores em pacientes com esse tipo de
alteração enzimática.
Acetilação – Em cerca de 50% da população americana, a N-acetiltransferase
hepática é hipoativa (acetiladores lentos). Como resultado, isoniazida e outros
fármacos (p. ex., hidralazina, fenelzina, procainamida, sulfametazina) são
lentamente metabolizados por essa enzima. Acetiladores lentos tendem a ser
mais suscetíveis a reações adversas associadas com esses medicamentos, p.
ex., neurite periférica (isoniazida), lúpus eritematoso (hidralazina, procainamida),
sedação e náusea (fenelzine).
Hidrólise – Pessoas com deficiência em pseudocolinesterase no plasma
(cerca de 1:2.500) apresentam um decréscimo na capacidade para inativar
succinilcolina, resultando em paralisia prolongada nos músculos respiratórios
Farmacocinética 44
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
É a alteração dos efeitos de um medicamento através da administração
concorrente ou anterior de outro (interações fármaco-fármaco); alteração dos
efeitos de um medicamento pelo alimento (interações fármaco-alimento). Os
efeitos de um dos fármacos usualmente são aumentados ou diminuídos. As
interações desejadas são alcançadas com uma combinação da terapia (p. ex., no
tratamento de hipertensão, asma, certas infecções e malignidades) nas quais 2 ou
mais fármacos são utilizados para aumentar os efeitos terapêuticos ou reduzir a
toxicidade. Interações indesejadas podem causar reações adversas à drogas
(RADs) ou falha terapêutica.
Uma vez que freqüentemente é difícil prever o significado clínico de interações
medicamentosas presumidas ou conhecidas, a possibilidade de desenvolvimento
de problemas deve ser observada em perspectiva. Se uma interação parecer
provável, as alternativas terapêuticas devem ser consideradas; mas este não
deve ser um argumento para que não se efetue um tratamento. Os mecanismos
de interações medicamentosas usualmente são farmacodinâmicos ou
farmacocinéticos. Embora a maioria seja farmacodinâmico, boa parte da literatura
lida com o tipo farmacocinético.
Farmacocinética 46
INTERAÇÕES FARMACODINÂMICAS
As interações farmacodinâmicas incluem a administração concorrente de
medicamentos tendo ações farmacológicas semelhantes (ou opostas) e a
alteração da sensibilidade ou da responsividade do tecido a um fármaco por
outro. Muitas dessas interações podem ser previstas a partir do conhecimento da
farmacologia de cada um dos medicamentos. Através da monitoração clínica do
paciente, desvios do efeito esperado freqüentemente podem ser detectados e as
dosagens ajustadas adequadamente.
Fármacos com efeitos farmacológicos opostos
As interações resultantes do uso de 2 medicamentos com efeitos
farmacológicos opostos devem estar entre os mais fáceis de detectar, mas vários
fatores podem impedir a identificação precoce desse antagonismo. Por exemplo,
tiazídicos e certos outros diuréticos podem elevar os níveis sangüíneos de
glicose. Quando um diurético é prescrito para um diabético que toma insulina ou
um agente hipoglicêmico oral, a ação hipoglicêmica do fármaco antidiabético pode
ser parcialmente contra-atacada, necessitando de um ajuste na dosagem.
Fármacos com efeitos farmacológicos similares Um exemplo desse tipo de
interação é o aumento do efeito depressor do SNC, que freqüentemente ocorre
quando o paciente está tomando agentes ansiolíticos, antipsicóticos, anti-
histamínicos ou outros medicamentos com efeitos depressores das bebidas
alcoólicas. Muitas pessoas arriscam essas combinações sem dificuldades sérias,
mas elas podem ser mortais. A associação de medicamentos com atividade
depressora do SNC aumenta o risco de sedação excessiva e tontura. Pacientes
mais idosos são especialmente suscetíveis e são de maior risco de queda e
injúrias, p. ex., fratura de quadril.
Efeitos anticolinérgicos excessivos são comuns com o uso concorrente de
medicamentos como antipsicóticos (p. ex., clorpromazina), um anti-parkinsoniano
(p. ex., triexifenidil) e um antidepressivo tricíclico (p. ex., amitriptilina). Em alguns
indivíduos, particularmente pacientes idosos, o efeito aditivo pode resultar em
delírio semelhante ao devido à atropina que pode ser erroneamente interpretado
como uma piora nos sintomas psiquiátricos ou presença de demência. A distinção
entre os sintomas das condições sendo tratadas e os efeitos da farmacoterapia
pode ser difícil mas é essencial. O uso concorrente de medicamentos com
atividade anticolinérgica também pode resultar em sialosquese e complicações
Farmacocinética 47
INTERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS
As interações farmacocinéticas são mais complicadas e difíceis de prever
porque as interações entre medicamentos freqüentemente possuem princípios de
ações não relacionados; as interações são principalmente devido à alteração da
absorção, distribuição, metabolismo ou excreção, com alterações na quantidade e
duração da disponibilidade dos locais receptores do fármaco. O tipo de resposta
esperada de interações entre fármacos não é alterada, apenas a magnitude e
duração. Assim, uma interação farmacocinética representa um efeito alterado de
um ou possivelmente de ambos os fármacos envolvidos e é previsível a partir do
conhecimento do que os fármacos individualmente podem fazer. Essas interações
podem ser detectadas por procedimentos de monitoração do paciente.
Usualmente ocorre alteração nos níveis sangüíneos e pode-se obter informações
úteis pela medida desses níveis.
Alteração do pH
Muitos fármacos são ácidos ou bases fracas, e o pH do conteúdo GI pode
influenciar a absorção. Uma vez que a forma não ionizada (mais lipossolúveis) de
Farmacocinética 49
Complexação e adsorção
Tetraciclinas podem combinar com íons metálicos (p. ex., Ca, Mg, Al e Fe)
no trato GI para formar complexos precariamente absorvidos. Assim, certos
alimentos (p. ex., leite) ou fármacos (p. ex., antiácidos, produtos contendo Mg, Al,
sais de Ca ou preparados de Fe) podem diminuir significativamente a absorção de
tetraciclina. A absorção de doxiciclina e minociclina é influência em menor
extensão pelo alimento ou leite e ambas devem ser preferidas quando ocorrer
irritação gástrica ou esta parecer provável. Contudo, antiácidos contendo alumínio
diminuirão a absorção dessas tetraciclinas. O aumento no pH do conteúdo GI
provavelmente também contribui para a redução da absorção de tetraciclina.
Antiácidos também reduzem criticamente a absorção de derivados de
fluoroquinolona (p. ex., ciprofloxacina), provavelmente como resultado de
complexação de íons metálicos com o fármaco. Antiácidos não devem ser
utilizados simultaneamente ou < 2h (ou preferivelmente por um período mais
longo) após ciprofloxacina.
Pode-se prever complexação com colestiramina e colestipol. Além de prever a
reabsorção de ácidos biliares e para ligação, esses agentes podem se ligar com
fármacos no trato GI, tendo maior afinidade por fármacos ácidos, p. ex., hormônio
da tireóide ou varfarim. Para minimizar a possibilidade dessas interações, o
intervalo entre a colestiramina ou colestipol e outros fármacos deve ser o maior
possível (de preferência, pelo menos 4h).
Alguns antidiarréicos (p. ex., aqueles contendo caulim e pectina), bem como
antiácidos, podem adsorver outros fármacos, resultando em decréscimo da
Farmacocinética 50
Alteração da motilidade
Pelo aumento da motilidade GI, metoclopramida ou um catártico pode
acelerar a passagem do fármaco através do trato GI, resultando em decréscimo
da absorção, particularmente de fármacos que requerem contato prolongado com
a superfície de absorção e aqueles que são absorvidos apenas em um local
particular ao longo do trato GI. Problemas similares podem ocorrer com
formulações de liberação prolongada e para revestimento entérico.
Através do decréscimo da motilidade GI, anticolinérgicos podem reduzir a
absorção pelo retardo da dissolução e lentidão do esvaziamento gástrico, ou
aumento da absorção conservando o fármaco por um período mais longo de
tempo na área de absorção ótima.
Efeito do alimento
O alimento pode atrasar ou reduzir a absorção de muitos fármacos.
Freqüentemente o alimento torna mais lento o esvaziamento gástrico, mas
também pode afetar a absorção ligando-se com outros fármacos, diminuindo o
seu acesso aos locais de absorção, alterando suas taxas de dissolução ou
alterando o pH dos conteúdos GI. O alimento no trato GI reduz a absorção de
muitos antibióticos. Embora haja exceções (p. ex., penicilina V potássica,
amoxicilina, doxiciclina, minociclina), geralmente é recomendado que derivados
de penicilina e tetraciclina, estearato de eritromicina e formulações à base de
eritromicina não possuam revestimento entérico, bem como com vários outros
antibióticos, devem ser administrados pelo menos 1h antes ou 2h após as
refeições para alcançar uma absorção ótima. Há relatos de que o alimento reduz
a absorção de muitos outros agentes terapêuticos incluindo astemizol, captopril e
penicilamina, e é importante que esses medicamentos sejam administrados fora
do horário das refeições. Embora o alimento não altere significativamente a
atividade da teofilina, quando o fármaco é administrado numa formulação de
liberação imediata, há uma variação considerável entre o tempo ou formulações
de liberação controlada com relação ao seu potencial para interagir com o
Farmacocinética 51
Alteração da distribuição
Pode ocorrer deslocamento do fármaco dos locais de ligação com
proteínas quando 2 fármacos capazes de se ligar com proteínas são
administrados concorrentemente, especialmente quando eles são capazes de se
ligar aos mesmos locais na molécula de proteína (deslocamento competitivo).
Uma vez que o número de locais de ligação às proteínas do tecido ou ao
plasma é limitado, os fármacos podem deslocar uns aos outros. Embora a fração
ligada a proteínas do fármaco não seja farmacologicamente ativa, existe um
equilíbrio entre as frações ligadas e não ligadas. Como o fármaco livre ou não
ligado é metabolizado e excretado, o fármaco ligado é gradualmente liberado para
manter o equilíbrio e a resposta farmacológica. O risco de interações do
deslocamento de proteínas é primariamente significante com fármacos que são
altamente ligados a proteínas (> 90%) e possuem um pequeno volume aparente
de distribuição, especialmente durante os primeiros dias da terapia concorrente.
Fenilbutazona e varfarim são extensivamente ligados a proteínas plasmáticas,
especialmente albumina, mas fenilbutazona possui uma afinidade maior aos
locais de ligação. Quando os 2 fármacos são tomados concorrentemente, menos
locais de ligação são disponíveis para varfarim, aumentando assim a quantidade
de anticoagulante livre e o risco de hemorragia.
Fenilbutazona também inibe o metabolismo de varfarim, resultando em
aumento contínuo de seu efeito anticoagulante. As ligações de fármacos ácidos à
albumina sérica têm sido estudadas mais extensivamente; entretanto, as ligações
de fármacos básicos com glicoproteínas a ácidas também são importantes.
Alteração do metabolismo.
Farmacocinética 52
Estimulação do metabolismo
Muitas das interações entre fármacos resultam da capacidade de um
fármaco estimular o metabolismo de outro pelo aumento na atividade de enzimas
hepáticas envolvidas em seu metabolismo (indução enzimática). Nessa maneira,
o fenobarbital aumenta a taxa do metabolismo de anticoagulantes cumarínicos
como varfarim, resultando num decréscimo da resposta anticoagulante. A dose do
anticoagulante deve ser aumentada para compensar esse efeito, mas isto é
potencialmente arriscado se o paciente interromper o fenobarbital sem reduzir
apropriadamente a dose anticoagulante. O uso de sedativos alternativos (p. ex.,
benzodiazepínicos) elimina esse risco. Fenobarbital também acelera o
metabolismo de outros fármacos como hormônios esteróides. A indução
enzimática também é causada por outros barbitúricos e por vários agentes
terapêuticos (p. ex., carbamazepina, fenitoína e rifampina).
Distúrbio no metabolismo de cálcio e osteomalacia estão associados com o uso
de anticonvulsivos como fenobarbital e fenitoína. Redução nos níveis de cálcio
sérico são causados por deficiência de vitamina D, resultando da indução
enzimática por anticonvulsivos. O risco é maior quando a ingestão de vitamina D
pela dieta do paciente é limítrofe.
A piridoxina pode antagonizar a atividade antiparkinsoniana do fármaco levodopa
por acelerar a conversão da levodopa a seu metabólito ativo, dopamina, nos
tecidos periféricos. Ao contrário da levodopa, a dopamina não pode cruzar a
barreira hematencefálica, onde é requerido para o efeito antiparkinsoniano. Em
pacientes recebendo levodopa e carbidopa (um inibidor da descarboxilase), a
adição de piridoxina não reduz a ação da levodopa. Investigações têm mostrado
que a eficácia de certos fármacos (p. ex., clorpromazina, diazepam, propoxifeno,
teofilina) pode ser diminuída em tabagistas pesados devido ao aumento na
atividade de enzimas hepáticas pela ação de hidrocarbonetos policíclicos
encontrados na fumaça do cigarro.
Inibição do metabolismo
Um fármaco pode inibir o metabolismo de outro, tornando sua atividade
prolongada e mais intensa. Por exemplo, dissulfiram, utilizado no tratamento de
alcoolismo, inibe a atividade da aldeído desidrogenase, inibindo assim a oxidação
Farmacocinética 53
PLACEBOS
São substâncias supostamente inativas utilizadas em estudos
controlados para comparação com fármacos supostamente ativos ou
prescritos para alívio dos sintomas ou para satisfazer a demanda do paciente.
Um placebo pode ser qualquer manobra terapêutica, inclusive técnicas
cirúrgicas e psicológicas, ou qualquer forma de medicação (p. ex., tópica,
parenteral, oral); essa discussão é limitada aos fármacos.
O termo placebo refere-se ao Salmo 116 da Bíblia Hebráica. Devido a
vários erros de tradução, a versão do latim vulgar originou a palavra “placebo”
(serei agradável). No decorrer dos séculos o termo passou a ser aplicado em
velórios, depois zombeteiramente a aduladores, servis e bajuladores e a cantos
chorados em funerais por pranteadores profissionais.
Em 1785 a palavra placebo apareceu pela primeira vez num dicionário
médico como “um método ou medicamento comum”. Duas edições depois, o
placebo se tornou “medicamento para fazer crer”, supostamente inerte e não
prejudicial. Nós sabemos atualmente que os placebos podem ter efeitos
profundos, benéficos ou nocivos.
Reator ao placebo
Investigações para determinar se certas características de personalidade
estão correlacionadas com as respostas a placebos têm apresentado
discordâncias extravagantes. Isto não é surpreendente, uma vez que alguns
investigadores chamam um “reator ao placebo” aquele que obtém benefícios de
placebos, e outros usam o termo para pessoas que relatam efeitos colaterais
devido a placebos. Parece improvável que os mesmos traços de personalidade
estejam predispostos a estas respostas diferentes. Provavelmente seja mais
preciso falar sobre o espectro da “reatividade ao placebo” do que dos “reatores ao
placebo”, uma vez que virtualmente qualquer um pode ser sugestionável sob
algumas circunstâncias. Entretanto, algumas pessoas parecem mais propensas à
influência que outras. Nós podemos apenas especular, mas estas diferenças
algumas vezes podem estar relacionadas com a personalidade do paciente; p.
ex., personalidades dependentes, que desejam satisfazer seus médicos podem
ser mais prováveis de apresentar efeitos benéficos e personalidades histriônicas
podem ser mais prováveis de não apresentar qualquer efeito, bom ou ruim
Provavelmente os fatores mais importantes sejam aqueles relacionados
com atitudes especificamente vinculadas à doença, medicação e médico. Por
exemplo, quando um paciente com dor aguda apresenta uma atitude favorável
com relação a medicamentos e recebe um placebo de um médico preocupado e
confidente, pode ocorrer uma resposta melhor do que quando o paciente com dor
crônica que vê os medicamentos como agentes químicos perigosos e recebe o
placebo de um médico frio ou que parece inseguro.
Farmacocinética 57
Adição a placebos
Há relatos de pelo menos 2 pacientes com adição a placebos. Um deles
apresentou um consumo de 10.000 placebos em 1 ano. O outro apresentou muito
das características de um verdadeiro dependente de fármacos: uma tendência a
aumentar a dose, incapacidade de interromper o “medicamento” sem auxílio
psiquiátrico, um desejo compulsivo de tomar os comprimidos e uma síndrome de
abstinência quando privado dos comprimidos.
Utilização em pesquisa
A dificuldade de separar os 2 componentes da resposta ao placebo não
torna menor a utilidade do placebo como um controle em testes clínicos, onde
seus efeitos devem ser subtraídos dos resultados gerais em muitas das vezes
serve como um “branco” serve ao químico para avaliar o resultado final do ensaio
químico. Sempre que a importância relativa da sugestão e da alteração
espontânea estiver presente, o medicamento teste deve apresentar um
desempenho melhor que o placebo para justificar sua comercialização. Em
algumas investigações (p. ex., comparação com um novo fármaco para aliviar
angina pectoris), o alívio com o placebo comumente excede 50%, pressentindo
um desafio importante para demonstrar a eficiência do teste do fármaco ativo.
Uso na terapia
Há um fator placebo em cada manobra terapêutica; entretanto, os efeitos
atribuídos ao medicamento variam de paciente para paciente e de médico para
médico, dependendo da reatividade ao placebo. Os pacientes com uma
orientação “positiva” com relação ao medicamento, médicos, enfermagem e
hospitais são mais prováveis de responderem favoravelmente ao placebo do que
os pacientes com uma orientação “negativa”. Os últimos podem negar os
benefícios ou queixar-se de efeitos colaterais. Um efeito placebo positivo é mais
provável quando o médico e o paciente acreditam no benefício terapêutico como
resultado.
Assim, um agente ativo sem efeito farmacológico aceito no processo em
tratamento (p. ex., vitamina B 12 num paciente com artrite) pode oferecer uma
resposta favorável ou um agente medianamente ativo (p. ex., um vasodilatador
num paciente com claudicação intermitente) pode ter um efeito aumentado. Com
Farmacocinética 58
o uso deliberado do placebo (que é raro na prática clínica atual, como oposto às
triagens de investigações), há vários riscos adicionais principais:
1. como o médico está decepcionando o paciente, pode haver um efeito
adverso na relação médico-paciente. Ou pelo menos, o médico deve manter-se
mais cuidadoso para não deixar sua decepção ser descoberta. Se descoberto, o
paciente atônito pode se sentir traído e sua confiança no médico serão
prejudicados;
2. o médico pode interpretar mal a resposta do paciente; a conclusão
inadvertida é particularmente perniciosa de que a resposta positiva do paciente
signifique que os seus sintomas não são baseados em doença somática ou que
são neuroticamente exagerados. Quando há o envolvimento de outros médicos
ou enfermeiros na decepção (como uma prática do grupo ou da equipe do
hospital), o potencial para modificar adversamente as atitudes e comportamentos
de alguns ou de todos os outros com relação ao paciente ou o potencial para
descobertas é aumentado. Considerando a disponibilidade de medicamentos
existentes que possuam pelo menos o potencial para aliviar a maioria das queixas
observadas na prática clínica e o risco ou destruição da relação médico-paciente
pelo uso do placebo, os placebos como tais raramente (se forem) são indicados.
Atualmente os médicos podem prescrever vitaminas “tônicas” ou injeções
de B 12 que são freqüentemente equivalentes do placebo, embora raramente
prescrevam comprimidos de lactose. Por exemplo, a maioria dos médicos jovens
que recebe pacientes de outros médicos que tenham deixado a prática médica.
Dentre esses pacientes, aqueles que tomam B 12 ou outras vitaminas
como “tônico” com grande fé e observam seu benefício durante anos,
freqüentemente se sentem doentes e podem tornar-se seriamente comprometidos
se vêem negado o seu “medicamento”. Com base em situações psicológicas ou
culturais, alguns pacientes parecem requerer e obter benefícios de uma
medicação não requerida ou de uma forma particular de dosagem (p. ex., uma
injeção quando um agente oral seria suficiente).
Farmacocinética 59
FARMACOLOGIA .................................................................................................... 1
ABSORÇÃO E BIODISPONIBILIDADE DE FÁRMACOS ............................................................ 1
ABSORÇÃO DE FÁRMACOS ................................................................................................ 1
Administração oral ............................................................................................................. 4
Administração parenteral.................................................................................................... 7
BIODISPONIBILIDADE ...................................................................................................... 8
Causas de valores baixos de biodisponibilidade .................................................................. 9
Estimativa da biodisponibilidade ........................................................................................10
Doses múltiplas versus única ............................................................................................12
DISTRIBUIÇÃO DE FÁRMACOS ..........................................................................................13
Espaço de diluição............................................................................................................13
Componentes de ligação...................................................................................................14
Ligação com tecido - .........................................................................................................15
ELIMINAÇÃO DE FÁRMACOS .............................................................................................17
METABOLISMO ...............................................................................................................17
Classificação....................................................................................................................17
Alterações com a idade .....................................................................................................19
Variação individual............................................................................................................19
Limitação da capacidade...................................................................................................19
EXCREÇÃO ........................................................................................................................20
Excreção Renal ................................................................................................................20
Excreção Biliar .................................................................................................................21
PRINCÍPIOS CINÉTICOS DA ADMINISTRAÇÃO DE FÁRMACOS .........................................22
PARÂMETROS FARMACOCINÉTICOS BÁSICOS.............................................................23
Volume de distribuição e fração não ligada.........................................................................24
Meia-vida e taxa de eliminação constante ..........................................................................25
ADMINISTRAÇÃO DE FÁRMACOS ......................................................................................26
Dose única.......................................................................................................................27
Dosagens múltiplas...........................................................................................................28
VARIABILIDADE DOS PARÂMETROS .................................................................................30
Peso e idade ....................................................................................................................30
Dependências de tempo e dose.........................................................................................31
MONITORAÇÃO DA FARMACOTERAPIA ............................................................................32
Critério relacionado à situação...........................................................................................34
FARMACODINÂMICA .............................................................................................................36
MECANISMOS DE AÇÃO DO FÁRMACO .............................................................................36
INTERAÇÃO COM MEMBRANA .......................................................................................36
INTERAÇÃO COM RECEPTORES....................................................................................37
INTERAÇÃO QUÍMICA .....................................................................................................40
RELAÇÃO DOSE-RESPOSTA ..............................................................................................40
FATORES QUE AFETAM A RESPOSTA TERAPÊUTICA ......................................................42
FARMACOGENÉTICA ......................................................................................................42
Redução na biotransformação...........................................................................................43
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS .................................................................................45
INTERAÇÕES FARMACODINÂMICAS ..............................................................................46
Fármacos com efeitos farmacológicos opostos ...................................................................46
INTERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS...............................................................................48
Alteração na absorção gastrintestinal.................................................................................48
Alteração da distribuição ...................................................................................................51
Alteração da excreção urinária ..........................................................................................53
PLACEBOS .........................................................................................................................55
Natureza binária do efeito placebo .....................................................................................55
Reator ao placebo ............................................................................................................56
Utilização em pesquisa .....................................................................................................57
Uso na terapia..................................................................................................................57