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Artgo Desvio Fonológico
Artgo Desvio Fonológico
RESUMO
Tema: enfoque das pesquisas realizadas nos últimos dez anos sobre terapia para os desvios fono-
lógicos. Objetivo: realizar análise dos estudos em terapia fonológica, nacionais e internacionais,
publicados a partir do ano de 2000, a fim de verificar as contribuições destes para a clínica fonoaudio-
lógica, além de apontar novas possibilidades em pesquisa. Conclusão: todas as pesquisas trazem
contribuições que podem ser adotadas como recursos na clínica fonoaudiológica. No entanto, não
foram encontrados estudos apontando o número médio de sessões necessárias para determinação
da alta fonoaudiológica nos casos de desvio fonológico, bem como abordagens globais, que dessem
conta de todos os aspectos que podem estar defasados nessas crianças, como processamento audi-
tivo, memória de trabalho, discriminação fonêmica, alterações de consciência fonológica e desenvol-
vimento da linguagem escrita.
sem obter sucesso. As sessões ocorriam duas visto que os recursos utilizados por estes parecem
vezes por semana e tinham duração entre 30 e 40 ser diferentes do que é trabalhado no meio cientí-
minutos. O número total de sessões variou entre os fico. Seria interessante ainda, comparar o trabalho
sujeitos: 12, 27 e 38. Ao final do tratamento, todos os destes profissionais com a aplicação dos tradicio-
meninos evidenciaram ganhos em inteligibilidade, nais modelos de terapia com base fonológica, que
precisão e consistência na produção das palavras. são os mais utilizados em meio acadêmico.
A abordagem centrada no vocabulário mostrou ser A abordagem psicolinguística traz uma valiosa
apropriada para todas as crianças, embora tenha contribuição para a clínica fonoaudiológica, em
havido diferenças individuais24. geral, ao enfatizar que cada indivíduo é único e, por
A abordagem PACT (parents and children isso, necessita de um planejamento específico para
together) envolve a participação dos cuidadores seu caso. Percebe-se que, muitas vezes, é escolhida
na terapia de crianças com DF. Os componentes uma única abordagem para ser aplicada a todos os
desta abordagem são: educação dos pais; treino sujeitos que apresentam determinada patologia,
metalinguístico; treino da produção fonética; terapia sem ser considerada a individualidade e as caracte-
com pares mínimos e bombardeio auditivo; além rísticas de cada paciente, o que pode comprometer
de tarefas para casa. Este tipo de terapia é desen- negativamente o processo terapêutico.
volvido com blocos de terapia e retirada, durante a A abordagem centrada no vocabulário parece
qual os pais trabalham com as crianças em casa25. ser importante para as crianças que apresentam
Os criadores desta abordagem apresentaram o processos fonológicos idiossincráticos e inconsis-
caso clínico de um menino de sete anos de idade, tentes em sua fala, o que tem sido preocupação
com DF grave e fala essencialmente ininteligível, frequente no meio científico. Porém, à medida que
em que foi utilizado este modelo. Os autores encon- os erros de fala tornam-se consistentes, seria mais
traram dificuldades para aplicar a terapia PACT, apropriado utilizar uma abordagem ou estratégia
especialmente pelo fato desta ser mais apropriada terapêutica que vise à produção correta para a
para crianças de três a seis anos de idade26. obtenção de ganhos mais significantes.
Outros autores buscaram investigar a eficácia de
uma abordagem eclética para o tratamento dos DF, Comparação entre abordagens terapêuticas
submetendo as crianças à terapia mais coerente Existem inúmeros artigos comparando aborda-
com a prática clínica e à abordagem que conta gens terapêuticas na literatura científica. Verifica-
com a participação dos pais no tratamento de seus se que a maioria dos artigos brasileiros explora
filhos. Conforme o estudo, os clínicos em geral, os modelos ABAB-Retirada e Provas Múltiplas,
costumam utilizar-se de diferentes abordagens Ciclos e Ciclos Modificado e os modelos de Pares
simultaneamente, a fim de promover mudanças nos Mínimos. Já os trabalhos internacionais são mais
SF de seus pacientes, porém isto não é utilizado ecléticos na aplicação e comparação das abor-
nas pesquisas científicas. Assim, os autores reali- dagens terapêuticas. Seja qual for a comparação
zaram dois pequenos experimentos em clínicas de realizada, estes estudos são relevantes à medida
Fonoaudiologia. No primeiro, o grupo de crianças que podem determinar a superioridade de deter-
tratadas foi comparado com um grupo sem trata- minado procedimento sobre outro, conduzindo o
mento direto, no qual foi utilizada apenas a inter- clínico à conduta terapêutica que trará mais ganhos
venção dos pais por meio de tarefas para serem ao paciente.
executadas em casa. O segundo comparou as A fim de comparar a abordagem metafonológica
crianças tratadas em casa pelos pais com crianças com a abordagem articulatória no tratamento de
que não foram submetidas a tratamento algum. crianças com DF, foram pesquisadas 61 crianças,
Verificou-se então que: no primeiro experimento com idades entre três anos e seis meses e cinco
todas as crianças demonstraram avanços estatis- anos. O estudo contou com um grupo controle
ticamente significantes. No segundo experimento, formado por 59 crianças com desenvolvimento
as crianças tratadas obtiveram ganhos significa- fonológico normal, na mesma faixa etária estudada,
tivos, enquanto as não tratadas não demonstraram a fim de controlar os efeitos maturacionais. Foram
mudanças. Ressalta-se que as crianças tratadas realizadas avaliações de fala e CF antes e após
pelos terapeutas tiveram significativamente mais a intervenção terapêutica para todos os sujeitos e
ganhos do que as tratadas pelos pais. Conclui-se três meses após a terapia para as crianças com
deste modo que, tanto a abordagem eclética quanto DF. Os sujeitos submetidos a ambas as aborda-
a abordagem que envolve os pais na terapia são gens terapêuticas evidenciaram evolução estatisti-
eficientes no tratamento do DF27. Verificar a eficácia camente significante tanto na fala quanto em CF,
do trabalho realizado pelos fonoaudiólogos em quando comparadas às crianças do grupo controle.
clínicas ou consultórios é de extrema relevância, Porém não houve significância estatística entre as
aspectos de fala e escrita, sendo necessárias mais diferentes entre fonemas e o tipo de distinção.
pesquisas para confirmar estas hipóteses37. Sugere ainda, exemplos de pares mínimos para
Outro estudo teve o objetivo de investigar a cada contraste40. Trabalhos como este são extre-
possibilidade de ensinar habilidades de consciência mamente importantes, especialmente pela possi-
fonêmica para crianças em fase de pré-alfabeti- bilidade de serem utilizados didaticamente para
zação que apresentavam DF. A amostra constou de alunos de Fonoaudiologia que estejam iniciando no
42 crianças com idades entre quatro anos e quatro atendimento a pacientes, por apresentarem pouca
anos e seis meses, todas apresentando DF. Para prática no planejamento terapêutico e execução do
a metade das crianças, foi aplicado um programa mesmo, ou ainda, para o clínico que não conhece
envolvendo aliteração, segmentação, manipulação e deseja utilizar os modelos com base fonológica.
e síntese fonêmica e para a outra metade, foi apli- Quanto à estimulabilidade do som-alvo, uma
cado um programa de estimulação da linguagem. pesquisa objetivou verificar o desempenho nas
De modo geral, as autoras verificaram que o grupo produções corretas de três sujeitos com DF, antes
tratado com atividades de consciência fonêmica e após um ciclo de tratamento, quando tratados
mostrou mais avanços (com significância estatís- com fonemas-alvo estimuláveis e não estimulá-
tica) do que o grupo tratado com estimulação da veis, utilizando o Modelo ABAB-Retirada e Provas
linguagem. A conclusão do estudo mostra que é Múltiplas. Participaram do estudo três sujeitos: um
possível ensinar tarefas de consciência fonêmica (S1), tratado com um fonema-alvo estimulável, e
para as crianças em fase de pré-alfabetização, outros dois sujeitos (S2 e S3), que foram tratados
porém as atividades de manipulação e segmen- com fonemas-alvo não estimuláveis. Observou-se
tação são mais difíceis, pois apenas as crianças que o fonema-alvo estimulável provocou maiores
com melhor desenvolvimento cognitivo e mais ganhos no SF de S1 quando comparado às modi-
velhas conseguiram obter sucesso nestas tarefas. ficações provocadas pelos fonemas-alvo não esti-
Além disso, todas as crianças do estudo aprimo- muláveis nos SF de S2 e S3. Entretanto, as autoras
raram a fala38. colocam que novos estudos sobre as estratégias
Aplicando-se um programa de atividades de escolha dos fonemas-alvo são necessários, com
estimulando as habilidades de CF, tendo como uma amostra mais expressiva e maior número de
base teórica a hierarquia dos traços distintivos, sessões41.
foram tratadas quatro crianças com DF de seis a Especificamente, em relação à seleção das
oito anos de idade. O processo terapêutico teve palavras-alvo para terapia, os ambientes favoráveis
duração de 13 sessões de 30 minutos cada. Os consistem de contextos facilitadores à produção e
resultados mostraram que todos os pacientes apre- aquisição do segmento tratado42. Alguns autores42-46
sentaram evolução significativa após o término do estudaram a relevância destes contextos na facili-
programa, superando todos os processos fonoló- tação da produção correta e aquisição fonêmica por
gicos presentes e adquirindo os traços que estavam parte das crianças.
ausentes. Os pacientes ampliaram seu SF à medida Uma autora realizou um levantamento das
que melhoraram seu desempenho nas atividades pesquisas sobre a aquisição do fonema /r/ suge-
de CF39. rindo, a partir destes estudos, uma hierarquia de
palavras em relação ao padrão de facilitação linguís-
Cuidados na seleção dos alvos de tratamento tica. Estes padrões de facilitação foram divididos
Esta temática pode ser analisada sob diversos em 12 níveis hierárquicos, considerando a posição
prismas, pois se pode explorar a escolha dos sons- que o segmento ocupa na sílaba e na palavra, o
alvo ou das palavras-alvo, além disso, pode ser ambiente fonético antecedente e seguinte, a tonici-
considerado o contexto linguístico de determinado dade da sílaba em que o segmento está inserido e
som-alvo ou o quanto este é estimulável, ou seja, o número de sílabas das palavras. Assim, as pala-
a capacidade de repetição do fonema pela criança. vras mais favorecedoras (padrão 1) foram “peru” e
Alguns autores, ainda propõem listas de palavras “peruca”, devido ao /r/ estar antecedido de /i/ (reali-
possíveis de serem utilizadas em terapia. Deste zação fonética) e na sílaba tônica. As menos favo-
modo, atualmente são frequentes os estudos sobre recedoras estão no padrão 10, “zero” e “pérola”,
este tema no Brasil. são antecedidas pela vogal /ε/ e estão em sílaba
Em 2001 foi proposta uma lista de palavras-alvo postônica43.
que podem ser utilizadas no tratamento de crianças A partir dos pressupostos teóricos da pesquisa
com DF a partir da abordagem de pares mínimos. descrita anteriormente43, foi realizada uma análise
A autora propõe uma lista com todos os possíveis das palavras-alvo selecionadas para terapia, no
contrastes de fonemas consonantais do Portu- estudo de caso de um menino, apresentando DF,
guês, classificando-os quanto ao número de traços com seis anos e oito meses. Foi aplicado o modelo
ABAB- Retirada e Provas Múltiplas, utilizando-se segmentos /f/, /v/, / / e / / de 46 crianças com
todas as palavras na posição de onset medial, a desenvolvimento fonológico atípico, na segunda
posição mais favorável; apenas três palavras com etapa, oito crianças desta amostra foram selecio-
/r/ na sílaba tônica (favorável) e nenhuma das nadas e tiveram seu processo terapêutico anali-
palavras encontrava-se em ambiente favorável sado. Nesta última etapa, o objetivo foi verificar o
quanto ao contexto antecedente e seguinte. Os efeito do valor de favorecimento que as palavras-
resultados indicaram que as palavras que conti- alvo de tratamento, gerado pela tonicidade, número
nham ambientes facilitadores foram produzidas de sílabas, posição na palavra, contexto fonológico
corretamente um maior número de vezes durante o precedente e seguinte, envolvendo as fricativas,
tratamento. As autoras sugerem, que mais estudos tem no sucesso da terapia. O modelo de terapia,
sejam realizados analisando ambientes favoráveis da mesma forma que nas outras pesquisas, foi
no tratamento para outros modelos, como Modelo o ABAB-Retirada e Provas Múltiplas. Os dados
de Ciclos ou Oposições Máximas42. da pesquisa foram submetidos à análise pelo
Em 2009, novo estudo foi realizado utilizando programa computacional VARBRUL. Desta forma,
os mesmos pressupostos teóricos43 objetivando a partir dos resultados selecionados pelo programa
analisar a aquisição de /r/ em duas crianças com referentes aos valores de favorecimento absolutos,
DF, comparando-as por meio da generalização a autora atribuiu para cada valor um conceito, tendo
obtida. Foram considerados os ambientes toni- cada conceito um peso que variou de 0 a 3, consi-
cidade da sílaba, contexto precedente e contexto derando-se então a soma dos pesos para deter-
seguinte da líquida não-lateral na posição de onset minar o favorecimento da palavra. O resultado da
medial. Um sujeito foi submetido à terapia com os soma indica se a palavra é muito favorável (peso
sons-alvo em contextos mais favoráveis e o outro 15), favorável (peso de 14 a 10), neutra (peso 9),
em contextos menos favoráveis utilizando-se para pouco favorável (peso 8 a 3) ou desfavorável (peso
ambos o modelo ABAB-Retirada e Provas Múlti- igual ou inferior a 2). As conclusões obtidas a
plas. Os resultados evidenciaram melhor evolução partir do estudo foram que: embora não haja uma
terapêutica no sujeito tratado com o contexto relação diretamente proporcional entre as palavras
mais favorável, demonstrando que a escolha das favoráveis usadas em terapia e o número de sons
palavras-alvo para terapia baseando-se em variá- adquiridos, os sujeitos que tiveram apenas uma
veis lingüísticas facilitadoras é um fator importante ou nenhuma palavra-alvo favorável no tratamento
para a aquisição fonológica e para a ocorrência de foram os que menos apresentaram generalizações;
generalizações46. as palavras-alvo selecionadas para serem usadas
Uma dissertação de mestrado também foi dedi- na terapia representam um papel favorecedor,
cada à pesquisa sobre o papel dos contextos faci- porém não determinante na reorganização dos SF
litadores na aquisição de /r/ por crianças com DF. dos sujeitos com DF45.
A autora em questão comparou o tratamento, por Os estudos sobre ambientes linguísticos facili-
meio do modelo ABAB-Retirada e Provas Múltiplas, tadores ainda são pouco explorados e apresentam
de sete crianças a partir das abordagens gerativa resultados discrepantes entre as pesquisas, sendo
e gestual, testando ambientes neutros e ambientes necessários mais estudos, com mais sujeitos, apli-
favoráveis. Todas as crianças possuíam grau de cando-se diferentes modelos de terapia fonológica,
desvio médio e dificuldades apenas na produção do e utilizando também outras classes de sons, como
fonema /r/. Os resultados não indicaram diferenças as plosivas, por exemplo.
entre as abordagens gerativa e gestual, porém o
contexto neutro mostrou-se mais favorecedor para Modificações propostas aos Modelos de
aquisição do segmento, na posição de onset medial Terapia Fonológica
e coda medial do que o contexto favorável. Uma A partir da vivência dos modelos de terapia na
das conclusões do estudo foi que o contexto lingüís- prática clínica, muitos pesquisadores verificam a
tico favorável de ambas as abordagens teóricas necessidade de modificar os modelos existentes ou
consideradas (gerativa e gestual) não é aplicável à inserir procedimentos que venham a contribuir para
seleção das palavras no tratamento do DF. Porém, a evolução terapêutica adequada.
é necessário considerar que há divergências na lite- Uma das autoras do Modelo de Ciclos, ao
ratura em relação à quais contextos são favoráveis apresentar o caso clínico de uma criança com DF,
ou neutros para aquisição do fonema /r/44. propõe a inserção de atividades de CF ao modelo,
Outra pesquisa encontrada sobre a aplicabili- além de admitir maior flexibilidade na determi-
dade dos ambientes favoráveis em terapia é uma nação do número de sessões semanais necessário
tese de doutorado. Na primeira etapa da pesquisa, e ampliação do número de palavras lidas para a
a autora pesquisou a aquisição fonológica dos criança no bombardeio auditivo47.
O Modelo de Oposições Máximas foi modifi- de alterações foram determinantes para a escolha
cado quanto à seleção dos alvos de tratamento, dos sons-alvo /r/ x /l/ x /l/ x / / x /z/, na posição
procedimentos terapêuticos e estrutura da sessão. de onset medial. Além disso, as autoras optaram
Quanto ao primeiro item, faz-se necessária a reali- por realizar pequenas modificações na estrutura
zação de uma avaliação fonológica detalhada do da sessão terapêutica. Os resultados mostraram
SF da criança e uma análise por traços distintivos. que após dez sessões de fonoterapia, o sujeito
O intuito destas avaliações é selecionar fonemas adquiriu os fonemas trabalhados, exceto o /r/,
com os traços distintivos que o sujeito tenha difi- generalizando-os para outras posições na palavra,
culdade, atentando também neste momento para
para a mesma classe de sons e para outras classes
que as palavras-alvo tenham significado e, na
de sons. As autoras concluíram que a proposta
medida do possível, ambientes fonéticos contro-
mostrou-se efetiva, evidenciada pela melhora no
lados. Em relação aos procedimentos terapêuticos,
é realizada a linha de base a cada cinco sessões SF da criança17.
de estimulação do som-alvo até alcançar de 20 a É importante ressaltar os estudos que propõem
25 sessões. Quanto à estrutura da sessão, foi inse- modificações aos modelos terapêuticos existentes,
rido o Bombardeio auditivo e a criança deve atingir já que a vivência com os modelos é que mostra
80% de produções corretas na fase de imitação suas falhas e as possibilidades de mudança. Deste
para chegar à produção espontânea. Este modelo modo, o terapeuta deve ter liberdade para modificar
foi testado, em falantes do português brasileiro em o modelo adotado de acordo com suas experiên-
um menino com DF de seis anos e quatro meses, cias anteriores e, principalmente, com as necessi-
mostrando-se eficaz em relação à melhora na inte- dades de cada paciente.
ligibilidade da fala, propiciando ampliação do inven-
tário fonético da criança por meio da ocorrência de
generalizações¹¹. CONCLUSÃO
Utilizando o modelo citado anteriormente, foi
realizado um trabalho, cujo objetivo foi verificar A partir dos trabalhos apresentados pode-se
as mudanças fonológicas obtidas pelo tratamento concluir que, apesar do grande volume de estudos
utilizando a abordagem do ‘reforço’ ou ‘contraste’, na área de terapia fonológica, muito ainda pode ser
em sujeitos com diferentes gravidades do DF. A feito com o objetivo de reduzir o tempo de terapia
abordagem do ‘contraste’ utiliza dois sons-alvo fonoaudiológica para crianças com DF, conforme
que possuem valores opostos para o mesmo traço foi sugerido. Além disso, todas as pesquisas trazem
(mais marcado X menos marcado), enquanto a do contribuições que podem ser adotadas como
reforço considera o uso de sons-alvo com valores recursos na clínica fonoaudiológica.
idênticos para o mesmo traço. Assim, três sujeitos
com idade média de seis anos foram submetidos Não foram encontrados estudos apontando o
à terapia fonológica pelo modelo de Oposições número médio de sessões necessárias para deter-
Máximas Modificado, considerando-se a abor- minação da alta fonoaudiológica nos casos de
dagem do ‘reforço’ ou ‘contraste’, verificando-se desvio fonológico, bem como abordagens globais,
assim, as seguintes generalizações: para itens não que dessem conta de todos os aspectos que podem
utilizados no tratamento; para outra posição na estar defasados nessas crianças, como processa-
palavra; dentro de uma mesma classe de sons; e mento auditivo, memória de trabalho, discriminação
para outra classe de sons. O inventário fonético dos fonêmica, alterações de consciência fonológica e
três sujeitos estava completo após a terapia; porém, desenvolvimento da linguagem escrita.
o SF ainda encontrava-se incompleto para todos os Ressalta-se a preocupação da maioria dos
sujeitos. Após o processo terapêutico, observou-
autores com as crianças que apresentam DF grave
se evolução para todos os tipos de generalização
e/ou com fala ininteligível e processos fonológicos
estrutural analisados, de modo equilibrado entre os
inconsistentes e idiossincráticos. As soluções
sujeitos48.
apontadas para estes casos parecem estar sendo
O Modelo de Oposições Múltiplas6 recebeu
efetivas, embora ainda seja necessária a busca
uma proposta de modificação no tratamento de um
constante por novos recursos.
sujeito do sexo masculino, falante do português
brasileiro, com DF de grau moderado-grave e idade Por fim, salienta-se que o terapeuta deve atentar
de 6:6. A modificação consistiu em considerar os para o fato que crianças diferentes respondem de
traços distintivos alterados na escolha dos sons- maneira diferenciada às diversas abordagens apre-
alvo e na verificação das mudanças proporcionadas sentadas, sendo necessária cautela por parte do
pela terapia. Os traços que sofriam maior número clínico no planejamento terapêutico.
ABSTRACT
Background: focus on studies conducted over the last ten years on therapy for phonological disorders.
Purpose: to analyze the national and international studies on phonology, conducted from the year
2000, in order to check their contributions for the clinical treatments, while identifying new opportunities
in research. Conclusion: all analyzed studies bring out contributions that can be adopted as tools
for the speech clinic. The therapist should pay attention to the fact that different children respond
differently to the different approaches, so that therefore, caution should be taken clinician in treatment
planning. The report suggests research possibilities and aspects that could be more widely used in the
scientific work. However, no studies were found indicating the average number of sessions required in
order to determine the discharge in speech pathology cases, and global approaches, that could solve
all the issues that may be delayed in these children, such as auditory processing, working memory,
phonemic discrimination, phonological awareness and written language development.
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