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RITO DE YORK

Importância da memorização do ritual e da


prática do jantar após a sessão
Considerando que este texto poderá ser lido por Irmãos que não tem maior
familiaridade com o Rito de York praticado no Grande Oriente do Brasil,
esclareço que o mesmo não é parte o sistema Norte Americano, mas do Inglês,
expresso através do Ritual de Emulação. O texto a seguir é tradução livre (e com
adaptações) do espanhol para o português de parte de um texto publicado na
página http://eruizf.com/masonico/masonico82.html.

Elder Madruga (Loja Cavaleiros de Aço do Pantanal, n° 4288, Cuiabá, MT.)

“(...)
Minoritário na tradição Maçônica brasileira e latina, o Rito
de York1 surpreende o Irmão que visita uma de suas
sessões pela primeira vez. Não encontrará certos aspectos
que consideraria fundamentais, como por exemplo, a
purificação pelos elementos2. No entanto muitos desses
“aspectos fundamentais” não são, na verdade, de uma
antiguidade imemorial como às vezes nos fazem supor.
Na segunda metade do século XVIII, elementos herméticos
desembarcaram em nossas tradições maçônicas. Surgiram
na Europa central, fruto do interesse pelas curiosidades
alquímicas, e aos poucos foram sendo incorporadas na
maçonaria. Introduzido ao ritual original, através da Estrita
Observância Alemã, dará lugar ao nascimento de todo
Escocismo, de onde surgirá o Regime Escocês Retificado e
depois o Rito Escocês Antigo e Aceito.
A tradicional e arcaica Inglaterra permanecerá, no entanto,
apartada. Ainda que também contasse com seus
alquimistas, como o conhecido Elias Ashmole e outros, o
fenômeno da absorção produzido no continente europeu
não cruza o Canal da Mancha, encontrando espaço apenas
de maneira marginal em algum dos chamados graus
colaterais. O ritual de base permanecerá zelosamente fiel
ao caráter “operativo” de suas origens.

1
NT.: denominação dada no Brasil, pelo GOB, ao ritual de Emulação inglês.
2
NT.: procedimento realizado durante cerimônia de iniciação do REAA.
A origem e a mentalidade inglesa insuflaram no seu ritual a
força que fez dele a coluna dórica do templo, ao mesmo
tempo que sua alergia a certas fantasias imaginativas.
A hipótese guenoniana (R. Guenon3) de uma “tradição
primordial” que não considera a história científica, lhes
resulta algo desconhecido, estranho e incompreensível. Seu
realismo não da espaço a isso.
Graças aos trabalhos desenvolvidos pela ilustre e
reconhecida Loja Quatuor Coronati desde 1884, se tem
distanciado da velha concepção mítica da história da Ordem
a qual tem chamado “Lenda dourada Maçônica”. Não se
considera continuadora das lendárias lojas de São João,
nem daquelas dos templários, nem muito menos da Gnosis.
Podemos chegar a pensar que a visão inglesa de Franco-
maçonaria seria a de uma certa classe de racionalização
que nos levaria à criação de uma disciplina epistemológica?
Crer nisso seria negar sua alma.
Em Emulação, os Rituais são um elemento
imprescindível e fundamental. Podemos recorrer a eles
para encontrar a visão de Arte Real que tem este Rito.
Que é Franco-maçonaria? Um sistema peculiar de
moralidade, velado em alegorias e ilustrado por símbolos.
A definição, verdadeira e autêntica da Ordem, de seus
objetivos e de seu significado espiritual, nos tem sido
legado por nossos antecessores. Os desvios pseudo-
místicos ou pseudo-racionalistas pouco importam. A Ordem
não é uma escola de pensamento se não uma escola de
moral, de ascese4. O que se oferece a este construtor
simbólico, que é o iniciado, é uma técnica própria em
virtude de sua moralização, extraída do que as
Constituições de Anderson denominam Geometria, termo
que para ele é sinônimo da “Arte de construir”.
Um indivíduo pode deter os mais altos diplomas
universitários porem pode não ser “iniciável”; sua pedra
bruta não se transformará jamais em pedra cúbica, e
permanecerá sempre como uma rocha porosa.

3
NT.: René Guénon – Foi um filósofo metafísico e crítico social francês (1886-1951)
4
sf (gr áskesis) 1 Prática da devoção ascética. 2 Aspiração às mais altas virtudes.
UM SISTEMA PECULIAR
Em que consiste este sistema maçônico, esta aspiração às
mais altas virtudes? Essencialmente em uma transposição
do operativo no especulativo. Tudo gira ao seu redor. Os
rituais de abertura, de suspensão e de retomada dos
trabalhos e de encerramento têm, todos eles, dois
significados: um operativo e outro esotérico.
Ocorre o mesmo com a segunda e a terceira das Grandes
Luzes (o comp. e o esq.), complementares à primeira
(V.L.S.) e mais importante das três. O mesmo duplo
sentido se verá reafirmado na apresentação das
ferramentas, do avental e da tábua de delinear. O
esoterismo será levado aos mais altos níveis quando se
refere a um ponto situado no meio de um circulo e
denominado Centro. Por quê? Os iniciados o sabem.
O fim supremo deste ascetismo define, em sentido
figurado, na edificação do Templo de Salomão, entendendo
por tal o que se encontra no mais profundo interior de cada
iniciado, que já não trabalhará desde este momento na
construção de uma obra humana, contingente e
perecedora, se não A.G.D.G.A.D.U. É ai, oculto pelo véu da
limitada linguagem humana, onde se encontra o Segredo
Maçônico.
A necessidade de praticar o ritual de memória, pelo
menos ao máximo possível, sem cair em um literal
fetichismo, nasce da mesma profundidade do Ritual.
Muitos Irmãos sinceros têm percebido que quanto mais se
aprofundam nele, mais o descobrem e, por tanto, mais se
iniciam. Uma palavra pode revelar-nos bruscamente novos
horizontes não imaginados. É aí aonde o obreiro construtor
vai para receber seu salário. Pelo contrário, quem
simplesmente lê o ritual em Loja, engana os Irmãos.
Não assimilará de seu Ritual mais que os elementos
superficiais. Permanecerá profano e simplesmente
verá o brilho do verniz, sem avançar mais.
Em Emulação, ao contrário de outros ritos, se dá o
predomínio do Ritual sobre os artigos ou trabalhos lidos nas
sessões. O “Rito de York” jamais proibiu os trabalhos
escritos, mas entende de boa fé que o coração da
Maçonaria se encontra no seu Ritual.
A utilidade dos trabalhos aparece em outro nível, tanto
como um modo de dos Irmãos expressar seus sentimentos
e sensações, sobretudo quando aprendizes e companheiros
em suas respectivas seções do grau, assim como material
de trabalho em Lojas de Estudos e Investigação que, para
cumprir melhor suas funções, se abstêm de iniciar. Como
exemplo temos a Athanor nº 47 em Castilla, Quatuor
Coronati em Londres e em outras célebres oficinas.
Outra característica personalíssima deste rito é o jantar.
Não estamos frente a um simples jantar cordial, entre
camaradas, para terminar a jornada. Em sua concepção o
ágape tem um caráter ritualístico e é parte inseparável da
Sessão, daí seu caráter obrigatório, já que é a continuação
dos trabalhos sob outra forma. Os obreiros, tendo
trabalhado de forma satisfatória, merecem ser
recompensados. Fora dos jantares ritualísticos não se deve
reproduzir os procedimentos maçônicos, a não ser o que diz
respeito aos brindes.
Estamos diante de um novo exemplo da transposição
operativa, mas em que o ambiente e o entorno mudam
radicalmente. Uma sessão maçônica deve desenrolar-se
dentro de um ambiente formal, sério, solene, como
corresponde ao fato de que o V.L.S. se encontra aberto no
pedestal do V.M. Se há desacordos ou discrepâncias entre
Irmãos, isso deve ser resolvido fora do templo ou no
Comitê da Loja. Nunca em Loja aberta. Em um jantar
ritualístico, reunidos em torno de uma mesa sob a
presidência de um Venerável bonachão, a amizade flui e a
alegria desborda. As tristezas e as dificuldades da vida
profana ficam no exterior.
Em manifestações sucessivas, os brindes se constituem
símbolo do amor fraternal, conduzindo à lembrança de
todos aqueles maçons pobres ou na desolação, aos que
nunca podemos nem devemos esquecer nem deixar de
lado.”

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