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PROJETO DE DOUTORADO:

A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS


MULHERES

PREVENTION OF THE FEMINICIDE AND THE PROMOTION OF WOMEN'S


HEALTH

Projeto de pesquisa submetido à FAPESP


para obtenção de bolsa de Doutorado

Doutoranda: Carolina Russo Simon

Orientador: Professor Titular Raul Borges Guimarães

Presidente Prudente/SP
Setembro de 2020
A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

RESUMO: Este projeto de doutorado tem como objetivo a análise das práticas de promoção da
saúde desenvolvidas pelos movimentos feministas na busca de alternativas para viver sem
violência no Brasil, onde as estruturas de poder que institui os homens como superiores aos
corpos não masculinos ainda é muito forte. O objetivo principal é compreender a
espacialização de dados nacionais sobre violência contra as mulheres e sua relação com o
patriarcado. Para isso, é importante analisar os mecanismos de prevenção ao feminicídio no
país, bem como analisar a promoção da saúde feminista a partir das práticas de sororidade dos
encontros de mulheres violentadas em casas-abrigo. Para isso, buscarei os dados que
permitam identificar os lugares mais violentos no Brasil e que possuam casas-abrigo.
Posteriormente irei realizar trabalhos de campo para avaliar as experiências concretas que
promovem à saúde através de relatos orais de mulheres que estão com a vida em risco e estão
abrigadas. Utilizarei da memória individual para compreensão do patriarcado-classista-racista
que circunda a vida delas a partir de eventos específicos de violência, afim de alcançar os
objetivos de comparação com as realidades das mulheres dentro da produção coletiva das
transrracionalidades feminista. O número de participantes será definido a partir do método de
saturação e a tese será construída em conjunto com as sujeitas participantes.
Palavras-chave: Feminicídio, Promoção da Saúde, Sororidade, Mulheres, Cartografia

PREVENTION OF THE FEMINICIDE AND THE PROMOTION OF WOMEN'S HEALTH

ABSTRACT: This doctoral project aims to analyze the health promotion practices developed by
feminist movements in search of alternatives to live without violence in Brazil, where the
power structures that establish men as superior to non-male bodies is still very strong. The
main objective is to understand the spatialization of national data on violence against women
and its relationship with patriarchy. For this, it is important to analyze the mechanisms of
feminicide prevention in the country, as well as to analyze the promotion of feminist health
based on the sorority practices of the encounters of women raped in shelters. For that, I will
look for the data that allow to identify the most violent places in Brazil and that have shelter
houses. Later on, I will carry out fieldwork to evaluate the concrete experiences that promote
health through oral reports of women who are at risk for their lives and who are sheltered. I
will use individual memory to understand the patriarchy-classist-racist that surrounds their
lives from specific events of violence, in order to achieve the objectives of comparison with the
realities of women within the collective production of feminist transrationalities. The number
of participants will be defined using the saturation method and the thesis will be built together
with the subject participants.
Keyword: Feminicide, Health Promotion, Sorority, Women; Cartography

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A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

1. INTRODUÇÃO

O presente projeto de pesquisa a ser desenvolvido no Programa de Pós-graduação


em Geografia da UNESP, campus de Presidente Prudente, é resultado de um conjunto de
vivências teóricas e práticas no Mestrado Acadêmico em Geografia e, também, na licenciatura
em Geografia, as quais me proporcionaram o despertar da consciência corporal, minha
corporiedade1 de mulher.

A dissertação intitulada A PROMOÇÃO DA SAÚDE, FEMINISMO E CONTRAESPAÇO:


MULHERES CAMPONESAS E SUAS LUTAS PARA SE MANTEREM VIVAS!2 evidenciou a relação do
Feminismo Camponês e Popular como prática de promoção da saúde, produtora de
contraespaços, por ser uma produção social decorrente do enfrentamento das mazelas
causadas pelo sistema-patriarcal-capitalista-racista (SAFFIOTI, 1969) que nega os diversos
sentidos coletivos da saúde. A pesquisa de mestrado proporcionou ouvir a voz das sujeitas e,
apesar da dissertação não tratar a temática da violência como central, ao revisar os apêndices
da dissertação, com todos os relatos transcritos, me saltou aos olhos a questão da violência
como uma realidade concreta das camponesas no Brasil e na Argentina, como as relatadas
abaixo:

“Me acuerdo que, en un momento, en un tiempo, yo ya estaba separada y él venía,


entraba a mi casa, pateaba, rompía todo y me pegaba, capaz; entonces tenía siempre que
estar alguien conmigo y algunos días me tenía que ir de mi casa. Entonces me iba a la casa
de una compañera, me quedaba ahí unos días y bueno, él uno de esos días entró y prendió
fuego a toda mi ropa, me tiró toda la comida, todo… bueno, muy duro” (Entrevistada EMI,
Mendoza-ARG, 2018- p. 390)

“Era el 7 de febrero a las ocho de la tarde, cuando iba a devolverle la plancha a mi tío
Héctor y me mete dedos. Febrero 20… y así sucesivamente le daba la hora, la tarde, la
mañana iba. Les conte que uma mañana me estaba bañando, siento un portazo al que no
doy pelota, escucho un segundo portazo y se me mete a la ducha. Cuando corro la cortina
estaba él ahí, le decía:” ¡no tío, no tío, por favor; no tío!”, me tocaba, me hacía de todo,
hasta que agarré y sentía una voz que decía: “Ahí viene, ahí viene” y digo:” ¡Gracias a Dios
se fue!” (...) Así que sola fui e hice la denuncia y ahí le conté todo. Yo tuve que levantarme
y hacer yo la denuncia. Cuando yo llego de la comisaría con una psicóloga, mi papá de
rodillas lloraba pidiéndome perdón” (Entrevistada KA -Mendonza-ARG, 2018, p.305)

1
A corporeidade, utilizada neste trabalho, se apoia no sentido de fluidez, de representação e das
relações entre anatomia e identidade social, proposto por Linda McDowel (1999).
2
Esta pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP),
processo nº 2017/07058-5 e possui vínculo com o financiamento de Bolsa de Estágio de Pesquisa no
Exterior (BEPE/FAPESP) processo 2018/08455-0.

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A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

Como se pode observar nesses relatos, a violência foi um acontecimento na vida


dessas sujeitas que sofrem violências diversas, especialmente no contexto da violência
intrafamiliar, representada pelo ex-marido de EMI e pelo tio de KA. Foi da recuperação de
situações muito concretas como estas relatadas pelas mulheres que o presente projeto de
doutorado foi surgindo, como um compromisso meu, como mulher na academia, de revelar a
nossa luta pela vida feminina, livre das violências!

Essas tristes histórias são reveladoras de momentos marcantes da abordagem da


pesquisa qualitativa, os quais proporcionaram os encontros entre mulheres, sendo estes
encontros sensíveis e carregados de sororidade, termo este que representa a união entre
mulheres que compartilham os mesmos ideais e propósitos, baseado na empatia e
companheirismo, é a união das mulheres para alcançar a liberdade através de informações e
ensinamentos compartilhados, umas com as outras. Segundo a definição da antropóloga
mexicana Marcela Lagarde (2009):

Sororidad/ soridad/ sisterhood: pacto político de género entre mujeres que


se reconocen como interlocutoras. No hay jerarquía, sino un
reconocimiento de la autoridad de cada una. Está basado en el principio de
la equivalencia humana, igual valor entre todas las personas porque si tu
valor es disminuido por efecto de género, también es disminuido el género
en sí. Al jerarquizar u obstaculizar a alguien, perdemos todas y todos. En
ocasiones, la lógica patriarcal nos impide ver esto (LAGARDE, 2009, p.03).

Nesse processo de investigação pude refletir que o fato de vivermos em uma


sociedade que se estrutura em práticas de poder e opressão que institui os homens como
superiores aos corpos não masculinos, relacionam essas práticas de poder diretamente às
práticas culturalmente desenvolvidas pela divisão de gênero masculino e feminino. Este
sistema de opressão/dominação, que conta com mais de 5.000 anos, não é uma condição
humana, mas uma construção histórica - o patriarcado, que é o caráter masculino do contrato
original, ou seja, é um contrato entre homens, cujo objeto são os corpos não masculinos
(HARTMAN, 1979; SAFFIOTI, 2004).

Enfim, trabalhar tantos meses com relatos das mulheres que tiveram suas vidas
marcadas pelas lutas para conter as violências, através das práticas que promovem a vida, com
a construção do feminismo camponês e popular, despertou o interesse pela sororidade
produzida nos movimentos feministas frente ao patriarcado e as violências, afinal, é notório
que “o patriarcado representa tanto uma estrutura de poder baseada tanto na ideologia
quanto na violência” (SAFFIOTI, 2004, p.60).

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A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

Como nos ensina Federici: “a história das mulheres é a história das classes” e, desta
forma, “mulher” é uma categoria de análise legítima (FEDERICI, 2018, p.31). Mulher, como
categoria de análise do fenômeno aqui proposto, não se encerra no sexo feminino, incorpora
as identidades de gênero e sexuais dissidentes que a matriz cultural-colonial não tolera que
existam (BUTLER, 2019; LUGONES, 2014).

São, portanto, os movimentos feministas dentro da Geografia, que começam a


romper com a suposta dicotomia seres humanos/espaço. Demonstrando que os seres
humanos fazem parte do espaço, são também espaço. Enquanto espaço, as sujeitas
encontram em seus corpos as marcas dessa luta. Como pontua a Geógrafa Joseli Maria Silva,

(...) todas as experiências vividas pelas pessoas possuem uma dimensão


espacial e se as pessoas experimentam o mundo com seus corpos e seus
corpos estão organizados socialmente através do gênero, podemos afirmar
que compreender as formas como homens e mulheres experimentam a vida
e, em consequência, o espaço, é certamente profundamente geográfico”
(SILVA, 2014, p. 98).

Logo, os Feminismos aparecem como marco de injustiça- da opressão-dominação


combinada, principalmente entre sexo-gênero. Sendo assim, os feminismos podem e devem
ser analisados como uma teoria reflexiva e emancipatória, uma teoria militante, e um método
pois,

Entender o feminismo é entender que as múltiplas formas em que se


conecta e se reproduz a opressão das mulheres que nunca foram evidentes
e nem de sentido comum; ao contrário, foram o resultado visível de
intensos processos coletivos de elaboração de novos “marcos de injustiça”
(AMORÓS; DE MIGUEL, 2005, p.63- tradução da autora).

Como há movimentos feministas diversos, vejo a necessidade de incorporar o debate


fornecido pelas leituras feministas marxistas, decoloniais e interseccionais as quais são
fundamentais para compreender a representatividade dos feminismos brasileiros. A
interseccionalidade se faz necessária para demonstrar que existem diferentes dimensões
dentro de uma mesma luta, a luta feminista. Estas dimensões presentes nos movimentos não
devem ser reduzidas umas às outras, de forma que muitas das lutas se encontram e se
coincidem como uma grande luta: por vidas femininas.

Desta forma, o objeto de pesquisa deste doutorado se desenha como: a saúde


produzida, vivida e sonhada pelas mulheres brasileiras. Para compreender a saúde produzida e
vivida pelas mulheres, vou analisar a espacialização da violência contra as mulheres e a sua

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A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

relação com o patriarcado no espaço brasileiro a partir dos dados nacionais, disponíveis em
órgãos nacionais e institutos de pesquisa, correlacionando-os com a oferta de equipamentos
de prevenção ao feminicídio no Brasil e, a partir de uma cartografia feminista crítica –
perspectiva que será melhor detalhada adiante, e do método materialista histórico dialético,
viso compreender como as lutas feministas impactam diretamente as políticas municipais e
estaduais para a implementação destes equipamentos públicos. Para lograr com o objetivo de
compreender a saúde sonhada pelas mulheres brasileiras, pretendo identificar as práticas de
promoção da saúde feminista a partir das práticas de sororidade dos encontros de mulheres
violentadas em casas-abrigo, visitadas em trabalhos de campo nos Estados da federação mais
nocivos às vidas femininas.

2. JUSTIFICATIVA DA RELEVÂNCIA DO TEMA

2.1. O patriarcado e a formação socioespacial brasileira

A realidade brasileira atual é proveniente da formação socioespacial3 que foi gestada


como um produto da violência patriarcal, resultado do estupro e do feminicídio4. Chocante?
Sim, mas a verdade é isso! Nascemos do estupro, da violência e da violação das mulheres que
aqui viviam, as mulheres que aqui estavam foram afetadas diretamente:

Como se vê, foram múltiplos os papéis da mulher indígena. Abusadas


sexualmente, exploradas como escravas, dotadas do nobre papel de mães
de famílias de filhos considerados legítimos e ilegítimos. Trabalhavam na
roça e com os cuidados da casa e da família, donde provavelmente
herdamos nossos mais fortes hábitos de higiene. Foram, também, junto com
seu povo, vítimas do extermínio quando este foi conveniente. Geraram, em
seus ventres os primeiros mestiços brasileiros (LACERDA, 2010, p. 44).

A caça às bruxas chegou no “Novo Mundo” proporcionando um grande feminicídio.


Os colonizadores utilizam a caça às bruxas como uma estratégia para propagar o terror e
destruir as resistências coletivas, silenciando comunidades inteiras, como uma forma

3
Formação socioespacial é uma categoria formulada pelo Professor Milton Santos (1977) derivada da
Formação Econômica e Social enquanto modelo teórico de Marx. Segundo ele, trata-se da
"inseparabilidade das realidades e das noções de sociedade e de espaço inerentes à categoria da
formação social e desenvolver uma reflexão original, visando conduzir a uma teoria do espaço, apoiada
nos pressupostos da construção intelectual de uma outra categoria: de formação sócio-espacial”
(SANTOS, 1979, p.19).
4
A expressão feminicídio foi formulada originalmente em inglês e é atribuída a Diana Russell, que a teria
utilizado pela primeira vez em 1976, durante um depoimento perante o Tribunal Internacional de
Crimes contra Mulheres, em Bruxelas.

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A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

pragmática de justificar a escravidão e o genocídio dos povos. A luta das sobreviventes, não
brancas, proporcionou uma fonte de resistência anticolonial e anticapitalista durante mais de
500 anos (FEDERICI, 2017). O contexto era de violência extrema e “as mulheres latinas, as não
brancas, sofrem ainda mais com o sistema de gênero moderno colonial” (LUGONES, 2014,
p.17), porém, “foram as mulheres que defenderam de forma mais ferrenha o antigo modo de
existência, e que se opuseram com mais veemência à nova estrutura de poder- provavelmente
devido ao fato de serem também as mais afetas” (FEDERICI, 2017, p.400).

Mesmo com o fim da colonização, a conformação dos Estados da América Latina


deixou as “feridas” da colonialidade (QUIJANO e MARIÁTEGUI, 1991) e as marcas do homem
branco controlando o poder. Afinal, “o poder é macho, branco e de preferência
heterossexual” (SAFFIOTI, 1987) e “o capital domina e se apropria de formas heterogêneas
de trabalho e exploração” (QUIJANO e MARIÁTEGUI 1991, p. 53), realizada por corpos de
diferentes gêneros e diferentes raças/etnias, não sendo mais aceitável compreender que o
espaço geográfico é o resultante das práticas econômicas, e somente delas, engendradas pelo
capitalismo. Sendo assim, o marxismo sozinho não explana por completo a chamada “questão
da mulher”, mas dá bases importantes para isso. Afinal, os “homens são dois fatos
simultâneos, marco inicial das lutas de classes. Neste sentido, o marxismo abriu as portas para
o tema da opressão específica‟ (MORAES, 2000, p. 89).
Dessa forma, nós mulheres, temos uma carga histórica de luta por direitos à vida, de
reexistir frente ao massacre do homem branco - antes dos colonizadores, e hoje o verdadeiro
“HOMEM”, que se beneficia do trabalho das mulheres, o Estado (FEDERICI, 2019). Enfim, o
espaço brasileiro atual é formado por três subestruturas: gênero, classe, raça/etnia, que é
presidida por uma lógica contraditória, distinta das que regem cada contradição separado.
Assim, não há, de um lado, a dominação patriarcal, e, de outro, a exploração capitalista.
(SAFFIOTI, 2004; 2015).
Diante do exposto acima, no presente projeto de doutorado irei compreender o
espaço geográfico brasileiro enquanto produto social e econômico que tem a sua base
material desenvolvida pela interseccionalidade das opressões-dominações. A
interseccionalidade é um conceito criado por Kimberlé Crenshaw (2002) que correlaciona as
consequências estruturais. Segundo a autora:

A interseccionalidade é uma conceituação do problema que busca capturar


as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais
eixos da subordinação. Ela trata especificamente da forma pela qual o
racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas
discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições
relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras. Além disso, a

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A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

interseccionalidade trata da forma como ações e políticas específicas geram


opressões que fluem ao longo de tais eixos, constituindo aspectos dinâmicos
ou ativos do desempoderamento (CRENSHAW, 2002, p. 117).

A reivindicação das mulheres por direitos humanos não é recente e resulta da


necessidade de buscar dignidade, contrapondo-se a um sistema que as nega violentamente e
cotidianamente (CISNE, 2015). Como os seres humanos também são a corporificação do
próprio espaço, e não apenas estão no espaço, as marcas desse processo de opressão-
dominação estão nos próprios corpos, cuja a história interessa para o presente estudo.

Apesar do Estado brasileiro ter se comprometido, internacionalmente e


nacionalmente5, em prevenir e promover as vidas femininas através da proteção de direitos
humanos das mulheres (COSTA, SILVEIRA e MENDES, 2019), o patriarcado é, ainda hoje, um
dos principais vetores da violência contra as mulheres. Como nos revela os dados do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública-FBSP (2019), há dois registros de violência doméstica a cada
dois minutos no Brasil; as vítimas de violência sexual são 81,8% do sexo feminino- sendo 50,9%
mulheres negras e foram notificadas 4 meninas de até 13 anos estupradas por hora, cerca de
180 estupros por dia!

O Brasil é o 5º país no ranking global de assassinatos de mulheres no contexto


doméstico e familiar. Essa taxa só é maior em El Salvador, na Colômbia, na Guatemala e na
Rússia (ONU, 2016). Em 2018 foram registrados 1026 feminicídios6 (FBSP, 2019). O período de
2007 – 2017; foi marcado pela alta prevalência de mortes de mulheres negras (exigindo uma
atenção à dimensão interseccional para analisar a patriarcal) e o local de cometimento desses
crimes, sendo que parte importante deles, ocorreu dentro de casa.

Com a decorrente quarentena (isolamento social) deflagrada por causa da pandemia


do novo Coronavírus, o ano de 2020 tem sido um grande desafio para nós mulheres. Como
demonstra a Organização das Nações Unidas, especialmente pelo pronunciamento do
secretário-geral Antonio Gutierrez em 06 de abril de 2020: “vimos uma onda global horrível de

5
O Brasil é signatário da Declaração dos Direitos Humanos (1948); Convenção Americana de Direitos
Humanos (1969); da Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher
(1979) e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, mais
conhecida como Convenção de Belém do Pará (1994). Em âmbito nacional, o direito das mulheres é
assegurado na Constituição Federal (1988) e reforçado pela Lei Maria da Penha LEI Nº 11.340, (2006).
6
O termo feminicídio ganhou grande representação política nos movimentos feministas na América
Latina e foi incorporado na Lei Brasileira em 2015 com a Lei do Feminicídio (13.104/2015), que alterou o
Código Penal brasileiro ao tipificar esse crime – homicídio de mulheres, mortas pelo fato de serem mulheres.

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A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

violência doméstica". "Em alguns países, o número de mulheres que telefonam para serviços
de apoio dobrou.7"

A ONU mulheres, em seu documento "A sombra da pandemia: violência contra


mulheres e meninas e Covid-19", demonstra que a situação piorou muito, pois sequer tem sido
possível às mulheres em situação de Violência Doméstica pedir socorro. Obviamente, o Brasil
não está alheio a essas tendências. Os dados brasileiros de feminicídio produzidos pelo Fórum
Brasileiro de Segurança Pública mostram que houve aumento expressivo do assassinato de
mulheres dentro de casa em março de 2020, em São Paulo (46%), Acre (100%), Rio Grande do
Norte (300%) e Mato Grosso (400%).

Como demonstrado, a violência doméstica contra as mulheres não é um fenômeno


que surgiu no período do isolamento social. O que aconteceu foi um agravamento de situações
preexistentes, a ponto de intensificar a ocorrência de crimes fatais contra as mulheres.
Acredita-se que os números apresentados não retratem a realidade, uma vez que durante a
pandemia, o agressor está convivendo mais intensamente com a mulher em situação de
violência. Tal situação gera uma subnotificação geral em termos das várias formas de violência
às quais mulheres estão submetidas, dentre as quais, as tentativas de feminicídio.

Uma das formas de prevenir o feminicídio e proteger a vida da mulher é o


abrigamento das mulheres vítimas de violência doméstica e conjugal que correm risco de vida
ao permanecerem em suas casas. Na maioria dos casos, o rompimento com a situação de
violência somente é feito com intervenção ou ajuda externa (SAFFIOTI, 2004). Surgem assim,
como alternativas feministas a violência do patriarcado-. as casas-abrigo.

2.2 As Casas-abrigo como estratégia de prevenção contra o feminicídio

A primeira casa criada para ser um abrigo para mulheres vítimas de violência foi em
1971, na Inglaterra, com o nome “Refúgio de Chiswick”. Já na metade da década de 70
diversos países como a Irlanda, o Canadá, os Estados Unidos, a Austrália, contavam com
abrigos para mulheres (SOARES, 1999). Segundo SEIXAS (2008), nos Estados Unidos o combate
à violência contra a mulher foi muito tensionado e, em 1974 criou-se o primeiro abrigo no
país. Seis anos depois já existiam 150 abrigos em funcionamento, chegando a mais de 1300 na
década de 1990.

7
https://nacoesunidas.org/chefe-da-onu-alerta-para-aumento-da-violencia-domestica-em-meio-a-
pandemia-do-coronavirus/ Acesso em 06 de abril de 2020.

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A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

O primeiro abrigo da América Latina se chamou “Casa Protegida Júlia de Burgos” e foi
criado em 1979, em Porto Rico. No ano de 1982 surgiu no Peru o abrigo “A Voz da Mulher”. Ele
foi criado por uma mulher indígena que transformou sua própria casa em um local para
receber mulheres que sofriam violência. O primeiro abrigo do Brasil foi criado em São Paulo
(SP), no ano 1986, com o nome “Centro de Convivência para Mulheres Vítimas de Violência
Doméstica” (CONVIDA) e esteve em funcionamento por três anos. No ano de 1990, em Santo
André (SP), foi criada a segunda casa abrigo e funcionou por dois anos.

As primeiras casas-abrigo no Brasil surgiram e fecharam rapidamente, revelando a


dificuldade de implantação do projeto no setor público (SEIXAS, 2008; SOARES, 1999). Frente a
essa dificuldade, no início dos anos noventa, as mulheres articuladas pressionaram os
governos populares eleitos no país e, por pressão feminista, voltou a reabrir e criar casas-
abrigo em diversos locais. Em 1992 inaugura-se casas-abrigo em Porto-Alegre-RS e em
Fortaleza- CE. No ano seguinte, 1993, o Distrito Federal inaugura sua primeira casa (SEIXAS,
2008).

Em 1997, o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) publicou o Termo de


Referência do Programa de Casas-Abrigo, colocando-as como prioridade de investimento no
combate à violência contra a mulher. O documento foi editado algumas vezes desde a sua
primeira publicação. Em 2005, a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) editou o
referido documento e as Casas-Abrigo foram definidas como locais seguros para o
atendimento às mulheres em situação de risco de vida iminente em razão da violência
doméstica. Assim, “trata-se de um serviço de caráter sigiloso e temporário, onde as usuárias
poderão permanecer por um período determinado, após o qual deverão reunir condições
necessárias para retomar o curso de suas vidas” (SPM, 2005).

Sendo assim, a casa-abrigo é uma medida emergencial para manter protegidas as


mulheres. Logo, seu endereço não é identificado em nenhum lugar público e a vigilância deve
ser ininterrupta. O abrigamento realizado vai além de uma prevenção de vidas pela retirada da
mulher do convívio com o agressor, pois as mulheres atendidas no abrigamento são orientadas
para reflexão referente às relações de gênero enquanto construção histórico-cultural do
patriarcado, promovendo, para as mulheres que foram abrigadas, uma vida autônoma e
recuperação de sua autoestima (CARLOTO e CALÃO, 2006).

Segundo a Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM, a partir de 1998, a


quantidade de Casas-Abrigo aumentou rapidamente, chegando ao número de mais de 70. Ao
buscar os dados nacionais de abrigamento de mulheres em situação de risco à vida, encontrei

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A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

a Pesquisa de Informações Básicas Municipais - Munic 2018, realizada pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística - IBGE. Este estudo identificou todos os 5.570 municípios brasileiros,
revelando que somente 134 municípios brasileiros possuem casa-abrigo. Conclui-se daí que a
insuficiência de casa-abrigo é reforçada pela problemática da sua distribuição irregular pelo
país, como mostrado na figura 01:

Figura 01: Distribuição das casas-abrigo por região brasileira.

Fonte: Pesquisa de Informações Básicas Municipais (IBGE, 2018). Elaboração: A autora, 2020.

As mulheres que estudaram casas-abrigo coadunam com a constatação de que tal


iniciativa para romper o ciclo da violência contra as mulheres foi e ainda são, em sua maioria,

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A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

projetos independentes do serviço público, criado e gestado por mulheres ativistas (SOARES,
1999; ROCHA,2007; SEIXAS, 2008). Segundo Rocha, “eram mulheres se solidarizando com
outras mulheres, realizando uma intervenção voltada ao atendimento de seus problemas e
necessidades diante da situação de violência, na perspectiva de sua libertação” (ROCHA, 2007,
p. 213).

Ainda segundo o IBGE, em 2018, dos 1109 municípios com organismo executivo de
política para mulheres, 90,5% foram geridos por mulheres que, em sua maioria, encontram-se
na faixa de 41 a 60 anos (48,9% do total de mulheres), demonstrando que são as mulheres
que respondem à urgência na redução das desigualdades de gênero sob uma perspectiva
emancipatória, com base nos direitos humanos e não mais sob a ótica assistencialista
tradicional (FARAH, 2004; HIRATA, 2014; SILVEIRA, 2004).

2.3. A promoção da saúde feminista e a prática da sororidade

Interessa ao projeto a análise nessas experiências de um objeto em processo de


significação - a saúde (CZERESNIA, 1999), pois se trata de um valor de construção social, “um
bem humano com diversos sentidos” (STOTZ e ARAUJO, 2004, p.6). Compreendendo-a pelos
pressupostos da Saúde Coletiva, no presente projeto a saúde será analisada como uma visão
ampliada, a partir da qual é uma pauta a ser realizada por um projeto de sociedade, por
conseguinte de nação brasileira. Afinal,

a saúde não constitui campo separado da realidade social; pelo contrário,


faz parte de uma realidade complexa que expõe simultaneamente problema
e intervenção, o que demanda conhecimentos distintos e ao mesmo tempo
integrados. Isso torna a análise qualitativa em saúde especialmente
importante (MACEDO, LAROCCA, CHAVES e MAZZA, 2008, p.649)

A promoção da saúde, que venho estudando desde a graduação8 e, se configurou no


mestrado como categoria de análise para compreensão do contraespaço do campesinato, é
resultado da compreensão de que a saúde é produzida pela materialidade de práticas de
saúde, as quais se desenham como práticas de vida e não de morte, de saúde e não
enfermidade - uma mudança de paradigma, baseada em um movimento ideológico
proveniente da denominada “Nova promoção da saúde”.

8
Na graduação, a promoção da saúde começou a ser estudada quando a aluna desenvolveu o projeto
de iniciação científica com o título “Acessibilidade aos serviços de saúde e mobilidade urbana de
pessoas com Esclerose Lateral Amiotrófica na Região da Alta Paulista”, fomentado pela FAPESP, com a
duração de um ano e prorrogação por mais um ano, suscitando em dois anos de bolsa para pesquisa de
Iniciação Científica sob o processo: 2014/05095-2

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A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

Este paradigma é baseado no entendimento de que há uma ruptura entre prevenir e


promover a saúde (NUTBEAN,1998), e pontua a necessidade de explicitar de que a promoção
da saúde não é sinônimo de Prevenção de Doenças. Sendo assim, é a promoção que “define
como requisitos e condições para a saúde: paz, educação, moradia adequada, alimentação
saudável, renda suficiente, ecossistema estável, justiça social e equidade” (STOTZ e ARAUJO,
2004, p. 07).

Ao analisar a promoção da saúde construída nos movimentos sociais de luta de


mulheres, estou partindo das experiências concretas que permeiam a vida a partir das
experiências da saúde e da doença pelas quais toda e qualquer vida se manifesta,
perpassando, principalmente, sobre a opressão de classe e gênero para o acesso ao trabalho e
às condições dignas de vida.

Dessa maneira, este doutorado se propõe a analisar Saúde como resultado da


prevenção dos feminicídios e da promoção da saúde produzida pelos movimentos feministas
através prática da sororidade. Uma das práticas que pretendo enfocar neste estudo é
exatamente a prática da sororidade, pois apesar de o termo sororidade ser amplamente
conhecido nos movimentos que lutam pelo feminismo, principalmente em práticas cotidianas,
como demonstra a tese de Tatiana Costa9, “ a sororidade – ao menos enquanto conceito – é
construída como algo novo e precisa ser não só explicada, mas defendida e praticada” (COSTA,
2019). Afinal, a valorização das vidas (não só a vida do homem-branco-heterossexual) se
conquista, principalmente, por meio de uma construção histórica de resistência das mulheres,
a qual se materializa na luta diária de se manter com esperança de alcançar à saúde. Isso
reforça a ideia de Canguilhem (1976, p. 100) de que o vivo somente se revela na “experiência
de estar vivo”.

Logo, este projeto pretende evidenciar os movimentos feministas pelas suas práticas
de promoção de saúde e a notoriedade destas pela busca de alternativas para produzir e se
reproduzir no espaço atual, o qual constitui-se de tensão (MOREIRA, 2010), principalmente
pelos diferentes corpos que o constituem, produzem e importam nas experiências espaciais.
Como propõe a geógrafa Haraway (1988), todas as formas de conhecimentos são
“conhecimento situado e corporificado”.Sendo assim, a promoção da saúde exige o aporte do
raciocínio da Geografia, pois se faz necessário o reconhecimento da saúde enquanto produção
de transrracionalidades, como ato revolucionário de se manter viva!

9
COSTA, T. L. A invenção da sororidade: sentimentos morais, feminismo e mídia. Tese (doutorado) -
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola da Comunicação, Programa de Pós-Graduação em
Comunicação, 2019.

13
A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

Milton Santos, em 1996, chama de contrarracionalidade a racionalidade alternativa


produzida por sujeitos considerados minorias do sistema capitalista- pobres, migrantes, os
excluídos- contrarracionalidades esta oposta à racionalidade hegemônica, do ponto de vista
econômico, instaurando-se paralelamente a este. Segundo o autor, estes sujeitos
cotidianamente realizam a “descoberta de sua exclusão e à busca de formas alternativas de
racionalidade, indispensáveis à sua sobrevivência” (SANTOS, [1996] 2017, p.310).

No presente projeto de doutorado, tomo como ponto de partida essa ideia de


contrarracionalidades, mas é preciso ir além dessa lógica econômica. Pois, os movimentos
feministas estão produzindo lógicas espaciais avessas a essa lógica econômica. Isso porque
esses movimentos compreendem que esta racionalidade está pautada em três estruturas de
poder interseccionadas: o patriarcado, o capitalismo e o racismo. Sendo assim, não criam
somente uma contrarracionalidade e sim várias, e por esse motivo que pretendo desenvolver
ao longo desta pesquisa o que passo a denominar de transrracionalidades feministas.

Os movimentos feministas10 são grandes exemplos de transrracionalidades, porque


transcendem, adentrando assim os mais diversos lugares e territórios através de afeto,
sensibilidade e, principalmente, sororidade. Assim, defendo que a sororidade, enquanto
prática da luta feminista, é representada na práxis cotidiana na construção de um projeto de
sociedade diferente, e o espaço geográfico, configurado pela luta feminista, tem uma bandeira
principal- de se viver, não de sobreviver e assim, viver livre de violências!

Em resposta à essa situação de opressão, as mulheres estão criando e reinventando a


história e a geografia, revolucionando conceitos e práticas, se levantando, construindo e não
desistindo - esperançando, como nos ensina Paulo Freire com seu verbo esperançar, pois se
juntam, agregam formas renovadas de organização para refazer o presente e projetar um
futuro como uma forma de ação das excluídas que criam contrarracionalidades (SANTOS,
1996). Sendo mais radical, de transrracionalidades que promovem vidas femininas e
masculinas. Como a academia tem que estar a favor dos interesses do povo, e acredito que a
Geografia é o compromisso com essa realidade, buscarei as experiências concretas de
sororidade que promovem à saúde através de relatos orais de mulheres que sofrem a violência
patriarcal.

10
Ao longo dos anos vimos amplo debate sobre o conceito de gênero nas ciências sociais, porém, este
conceito sem vincular no tempo e no espaço, ou seja, com a sociedade patriarcal, não apresenta as
relações de poder, de dominação-exploração do masculino pelo feminino. Sendo assim, falar sobre
FEMINISMOS se faz necessário, pois não podemos considerar o gênero como um conceito “neutro”,
pois, sem contextualizar a estrutura social que sustenta os gêneros, não conseguimos vincular este
conceito a emancipação humana (SAFFIOTI, 2004).

14
A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

3. OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAl

Compreender a promoção da saúde feminista a partir das práticas de sororidade dos


encontros de mulheres violentadas em casas-abrigo a partir da análise de dados nacionais
sobre violência contra as mulheres e sua relação com o patriarcado no Brasil .

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

3.2.1. Analisar dados nacionais sobre violências contra as mulheres, bem como,
identificar os Estados da Federação mais violentos para com os corpos não masculinos

3.2.2 Identificar e analisar as práticas feministas para implementação de casas-


abrigo como produção de transrracionalidades medidas pelas ações da manutenção da vida
feminina da luta feminista contra a violência com as mulheres, assim como os mecanismos
de prevenção ao feminicídio no país.

3.2.3. Analisar as práticas de promoção da saúde e a implementação de


equipamentos públicos de prevenção de vidas femininas, tendo em vista sua
interseccionalidade com questões étnicas e de classe, bem como sua relação com o
conceito de sororidade.

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A Geografia, como forma original de pensar se constrói pela instauração da dúvida e


do debate sobre o por que um determinado fenômeno está localizado ali? Ao recompor
explicações e revisitar procedimentos avançamos na atividade científica, “mesmo quando isso
não se mostra suficiente para demover completamente as posições já estabelecidas” (GOMES,
2017). E tendo em vista que o método é um instrumento racional para adquirir, demonstrar ou
verificar conhecimentos (CHAUÍ, 1995), a cartografia considerada como um método será
fundamental dessa pesquisa. Especialmente, a perspectiva da cartografia crítica desenvolvida
nos últimos anos. Afinal, a cartografia crítica, pela ótica da teoria social, tem teor político e
situa os mapas nas relações de poder específicos, tendo em vista que estes documentos
científicos não são neutros (CRAMPTON e KRYGIER, 2008, p.86).

Em vista dessa perspectiva metodológica, o projeto exigirá o detalhamento do que


posso denominar de cartografia feminista crítica e social, pois o que se pretende é construir
uma cartografia da resistência feminista, produzindo mapeamentos alternativos do espaço
brasileiro na perspectiva das mulheres que lutam contra a violência de gênero no país. Para

15
A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

isso, a produção de mapas não será somente o fim, o resultado, mas o ponto de partida para
as análises, conforme algumas referências consideradas fundamentais para o projeto.

Em primeiro lugar, parto das ideias de Crampton e Krygier (2008, p.89) quando
afirmam que os "mapas são ativos: eles constroem conhecimento ativamente, eles exercitam
poder e eles podem ser meios poderosos de promoção de mudanças sociais".

Segundo Prado Filho e Teti (2003) “existem tantas cartografias possíveis quanto
campos a serem cartografados” (p.46) e a metodologia adotada não pode ser um conjunto de
procedimentos estabelecidos duramente, pois deve se levar em consideração que a
cartografia social se refere a campos de forças e diz mais a respeito a movimentos do que algo
estático. Sendo assim, o método não é um conjunto de regras, mas “estratégia de análise
crítica e ação política, olhar crítico que acompanha e descreve relações, trajetórias, formações
rizomáticas, a composição de dispositivos, apontando linhas de fuga, ruptura e resistência”
(PRADO FILHO e TETI, 2003, p.47).

Uma referência importante para essa abordagem metodológica é a geógrafa Gisele


Girardi (2009). Segundo ela, o mapa é um objeto-símbolo, fruto do desejo e este desejo
costuma incidir justamente naquilo que nos falta, sendo assim, “todo mapa deseja que
olhemos seus signos não como algo grafado numa superfície, mas como a própria superfície
manifestada diante de nós” (GIRARDI, 2009, p.53).

Sendo assim, a cartografia feminista crítica e social que pretendo produzir se baseia no
desejo de produzir uma cartografia crítica para além da consolidada cartografia crítica, pois
“propõem outras ontologias e epistemologias espaciais” (SILVA, 2014, p. 97), se conformando
como uma cartografia fruto do desejo de ser subversiva, e o desafio de se produzir
heterotopias, como proposto por Focault (2001), que possibilitem a liberdade (PRADO FILHO e
TETI, 2003), sendo esta cartografia parte de um projeto de resistência política de nós
mulheres.

Em vista desses pressupostos teóricos-metodológicos, em um primeiro momento,


será feita uma análise dos lugares de maior violência contra a mulher e um levantamento das
casas-abrigo através dos dados nacionais. Posteriormente, vou elencar os Estados mais
violentos e que possuem o equipamento para prevenção do feminicídio para realização do
campo.

Nesta etapa, o relato oral será utilizado para captar eventos específicos que a
pesquisadora pretende enfocar no trabalho, portanto, geralmente é mais curto em questão de

16
A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

tempo ao se inserir na história oral- o relato oral não tem perguntas fixas como explica Harres
(2008):

Em história oral, dificilmente trabalhamos com um quadro de perguntas


fixas, isso porque o interesse é estimular o processo de rememoração, o
qual tem um fluxo próprio que inclui cadeias de associações reveladoras da
lógica interna do depoimento. Recomenda-se não propriamente uma
entrevista, mas uma conversa livre em que a pessoa é convidada a falar de
um assunto de interesse comum (HARRES, 2008, p. 10).

Pretendo com os relatos orais das mulheres abrigadas compreender a memória


individual para compreensão do fenômeno social que circundava a vida delas a partir de
eventos específicos, partindo da liberdade das entrevistadas de contarem o que elas acham
importante, mas também com algumas intervenções, afim de alcançar os objetivos de
comparação com as realidades das mulheres dentro da produção coletiva da
transrracionalidade feminista.

O número de participantes será definido pelo método de saturação, onde as


entrevistas vão ser encerradas somente quando os depoimentos não demonstrarem mais
relevância para os objetivos. Pretendo agrupar em categorias as práticas transrracionais
feministas que promovem saúde das mulheres encontradas nos relatos orais. Assim, a
categorização visa a identificação das similitudes e diferenças entre as sujeitas entrevistadas.

Os resultados obtidos através desta pesquisa serão analisados através da união entre
a teoria e o trabalho empírico. Afinal, os trabalhos de campo são a base para a compreensão
do real concreto, do fenômeno social a partir das contradições de sua própria existência, o
entendimento acerca do papel do trabalho de campo, muito se aproxima de Cecília Minayo
(1994):

“(...) em síntese, é fruto de um momento relacional e prático: as


inquietações que nos levam ao desenvolvimento de uma pesquisa nascem
no universo do cotidiano. O que atrai na produção do conhecimento é a
existência do desconhecido, é o sentido da novidade e o confronto com o
que nos é estranho. Essa produção, por sua vez, requer sucessivas
aproximações em direção ao que se quer conhecer. E o pesquisador[a], ao
se empenhar em gerar conhecimentos, não pode reduzir a pesquisa à
denúncia, nem substituir os grupos estudados em suas tarefas político-
sociais” (MINAYO, 1994, p. 64).

É por causa disso que método materialista histórico dialético é intrínseco à essa
pesquisa, pois “o fato de que a maior parte dos fenômenos não possam ser explicados de
forma isolada é uma consequência da complexidade destes fenômenos na realidade” (FLICK,

17
A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

2009, p. 23). Neste sentido, esta pesquisa de doutorado, enquanto um estudo geográfico,
serve sobremodo,

[...] à tentativa de elucidar aspectos relativos à dialética das experiências


induzidas ou diretamente capitaneadas por esses agentes hegemônicos em
suas tentativas de promover a homogeneização dentro de
heterogeneidades espaciais, bem como à análise dos posicionamentos
opostos, resultantes, por sua vez, da ação de agentes locais
(BRANDÃO,2012, p. 181).

Uma referência importante da pesquisa é o Ruy Moreira (2014) que, ao dissertar


sobre “Ciência e Práxis em Geografia”, elucida que é frequente nas pesquisas da Geografia a
diluição do eixo metodológico no eixo lógico, onde se confunde a investigação com o uso de
técnicas com a quantificação, a análise dos sistemas e modelos, e que esse percurso errôneo
injeta nos resultados grande força lógica e mostram-se incapaz de permitir o salto de
qualidade da explicação cientifica. Sendo assim, o autor propõe enquanto práxis na Geografia:

“[...] analisar os modos de produção dominante e dominados à medida


mesmo que se investiga estrutura e movimentos do espaço, uma vez que
investigando a organização do espaço em verdade está-se investigando a
forma como se inter-relacionam as relações de classe no seu todo. E sua
compreensão significa a compreensão da própria dialética da sociedade,
uma vez que as lutas de classe são a essência do seu movimento, o motor
que está por de trás de seus processos e formas. [...]” (MOREIRA, 2014, p.
58).

Desta forma, a pesquisa qualitativa será o eixo condutor para a análise do real. E
trabalhar com pesquisa qualitativa é assumir uma postura- política-geográfica frente a
construção de dados do real, pois:

No caso da Geografia, [a pesquisa qualitativa] tratam-se de pesquisas que


tem seu foco no sujeito, mais do que nos espaços. São pesquisas que se
perguntam pelas práticas espaciais, pelas formas de apropriação do espaço,
pela territorialização e geograficidade de pessoas e grupos sociais (TURRA
NETO, 2010, p. 2-3).

Deste modo, ao trabalhar com a pesquisa qualitativa neste estudo da Geografia da


Saúde das mulheres que sofrem violências, partindo dos relatos orais, mais que “coletar
dados, organizá-los e fazer as análises” é preciso compreender e evidenciar que “ouvir a voz
das sujeitas” é trazer à luz os fenômenos sociais- carregados de emoções, sentimentos e,
principalmente, de sofrimento- expressos pelos relatos entra o dito e não dito. Segundo Flick;

18
A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

“a pesquisa qualitativa se refere apenas ao emprego da técnica e da habilidade aos métodos,


mas inclui uma atitude. Além da curiosidade, uma reflexão sobre o tema” (FLICK, 2009, p.36).

Compreendendo que a memória tem uma dimensão individual e que muitos de seus
referentes são sociais, nós pesquisadoras devemos ver para além da memória individual
(CHAUÍ, 1995). Ao captar a memória individual pelos relatos orais das mulheres que sofreram
violência doméstica e estão abrigadas em casas-abrigo, viso compreender o fenômeno social
ao qual a pessoa está inserida, porém é necessário que se apreenda a potencialidade da
totalidade a partir da memória intersubjetiva, da memória compartilhada e da coletiva para a
compreensão destas como representações sociais do fenômeno.

5. PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

Esta pesquisa será construída em conjunto com orientador, grupos de pesquisa,


professoras e com as próprias sujeitas deste processo. Também contribuirá para futuras
pesquisadoras do tema trabalhado, uma vez que serão publicados artigos científicos em
revistas e eventos, buscando esta troca de experiências em relação ao estudo e a construção e
maior consolidação da Geografia da Saúde. As leituras dos principais referenciais bibliográficos
e os dados coletados através de fontes secundárias serão analisados sobre a perspectiva da
promoção da saúde, dentro da ciência geográfica e serão amplamente divulgados.
Posteriormente, realizarei trabalhos de campo utilizando como procedimentos metodológicos
o uso de relatos orais, buscando identificar as conflitualidades do processo de construção do
feminismo brasileiro nos diferentes movimentos sociais. Por fim, a elaboração de mapas,
quadros e tabelas contribuirão para compreensão das dinâmicas e espacialização do
patriarcado no Brasil e o desenvolvimento do que denomino de cartografia feminista crítica e
social tendo em vista práticas de transrracionalidades.

Desta forma, o plano de trabalho da pesquisa foi pensado em 12 atividades, as quais


não são isoladas umas das outras, mas constructos da linha de pensamento proposta no
projeto. Logo, visam junto com o cronograma de execução lograr com os objetivos propostos,
como se pode ver especificadas abaixo as atividades são:

1. Cumprimento dos créditos em disciplinas;


O Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG/UNESP), exige o cumprimento
de 18 créditos. Visando cumpri-los, foi cursada a disciplina Organização do Trabalho Científico:

19
A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

Espaço, Tempo e Memória, ofertada pela coordenação do programa e que tem caráter
obrigatório, a disciplina corresponde a 06 créditos e está em processo de avaliação de
conceito. No momento estou cursando no PPGG/UNESP a disciplina Movimentos
Socioterritoriais e Questão Agraria da América Latina e Caribe, com total de 06 créditos e
estou matriculada na disciplina Tópicos Especiais: Oficina de escrita científica, que tem
previsão de início no mês de outubro, e equivale a 03 créditos. Informo que para os créditos
vou cursar como aluna especial a disciplina Tópicos Especiais II: Geografias Feministas e das
Sexualidades do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Ponta
Grossa (PPGG/UEPG), que tem equivalência de 04.

2. Levantamento bibliográfico;
Será realizado um intenso levantamento de estudos sobre o tema por meio de
artigos científicos, notícias, periódicos – tanto nacionais quanto internacionais- teses e
dissertações, considerando a abordagem de revisão narrativa, a fim de se realizar uma síntese
qualitativa crítica sobre o desenvolvimento da temática da pesquisa nas Ciências Humanas
com ênfase na ciência geográfica. O levantamento será realizado a partir de bases de acesso
livre a ciência a partir das palavras-chave dessa pesquisa, as quais destacam-se: prevenção do
Feminicídio; promoção da saúde feminista e práticas de sororidade.

3. Levantamento de dados nacionais quantitativos sobre violência contra as mulheres;


Os principais dados trabalhados serão das plataformas de saúde pública, como o
DATASUS, das bases de segurança pública nacional, como secretarias estaduais e o Fórum
Brasileiro de Segurança Pública. Também será de usufruto deste doutorado os dados
levantados pelas as pesquisas elaboradas por institutos de pesquisa, como o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA).

4. Realização de trabalho de campo;


Os campos serão realizados nos Estados brasileiros que apresentam os maiores
índices de violência contra as mulheres, visando a coleta de relatos orais de mulheres
violentadas e que foram acolhidas em casas-abrigo.

5. Sistematização dos dados de campo e transcrição dos relatos levantados;


A transcrição dos relatos será feita visando a análise minuciosa destes. Pretendo
agrupar em categorias as práticas transrracionais feministas que promovem saúde das
mulheres. Assim, a categorização visa a identificação das similitudes e diferenças entre as
sujeitas entrevistadas.

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A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

6. Organização, sistematização e análise crítica dos dados levantados;


Os dados quantitativos e qualitativos serão organizados visando a elaboração de
mapas, gráficos, quadros e tabelas sobre a espacialização do patriarcado e as
transrracionalidades que previnem do feminicídio, sistematizando uma proposta metodológica
que denomino de cartografia feminista crítica e social.

7. Redação do trabalho;
A produção textual da tese será feita durante todo o processo de pesquisa, sendo
esta uma atividade cotidiana e continuada.

8. Publicação dos resultados


Todos os resultados serão publicados visando a produção de dados abertos na
ciência, desta forma pretendo publicar, principalmente, em periódicos científicos avaliado por
pares e de acesso livre, bem como, em anais de eventos científicos que fomentem o debate
sobre o trabalho.

9. Exame de qualificação;
10. Revisão final e defesa.

CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO DA PESQUISA


ATIVI- 1º sem 2º sem 3º sem 4º sem 5º sem 6º sem 7º sem 8º sem
DADES
Mar-Jul Ago-Dez Jan-Jun Jul-Dez Jan-Jun Jul-Dez Jan-Jun Jul-Nov
1

09

10

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A PREVENÇÃO DO FEMINICÍDIO E A PROMOÇÃO DA SAÚDE DAS MULHERES

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