Título

1
João Paulo Francisconi

1ª edição
Rio de Janeiro
2015
 Criação
João Paulo Francisconi

Edição
Guilherme Moraes

Capa
Tiago H. Ribeiro

arte
Leonel Domingos, Marco Morte

logotipia, Projeto Gráfico

e Diagramação
Tiago H. Ribeiro

Gerente Geral
Rodrigo S. da Silva

Cosa Nostra © 2015 Estúdio V

Esta publicação foi financiada com recursos captados através de crowdfunding pelo
Catarse (catarse.me); 104 apoiadores acreditaram em sua viabilidade.

Publicado em fevereiro de 2015.

ISBN: 978-85-918658-0-2

CIP - Brasil - Catalogação na Publicação

Ficha Catalográfica feita pelo autor.

F819c Francisconi, João Paulo

Cosa Nostra / João Paulo Francisconi. — Rio de Janeiro:
Estúdio V, 2015.
208p. il.

1. Jogos eletrônicos - RPG. I. Francisconi, João Paulo. II. Título.

CDU 794:681.31

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 Agradecimentos
Cosa Nostra é o resultado do trabalho contínuo de uma fabulosa equipe de cinco pessoas em seu
primeiro produto publicado enquanto um estúdio de produção de jogos. A estas pessoas, meus colegas,
devo meus mais sinceros e emocionados agradecimentos por acreditarem em mim e no meu trabalho.
Ao meu amigo do peito, Leonel Domingos, por todos estes anos de amizade verdadeira, pelas milha-
res de conversas e pelos ensinamentos que esculpiram meu caráter, você é como um segundo pai para
mim, e por isto não posso agradecer o suficiente, mas pela sua contribuição como artista para o estúdio,
todos sabemos o seu valor.
Ao artista Marco Morte, suas obras me levam e continuarão a me levar a incontáveis outros mundos
fantásticos, sem você este estúdio não seria tão brilhante. Ao amigo Tiago Ribeiro, designer e diagrama-
dor, você também é uma inspiração para todos nós deste estúdio com seu talento e dedicação. Ao nosso
diretor financeiro Rodrigo Santos da Silva, sem você, teríamos falido antes mesmo de publicarmos um
único trabalho!
Ao amigo Remo Di Sconzi, não apenas pela autoria do quadro lateral sobre a moda nos anos 20 e 30,
mas também por todas as inteligentes discussões iniciadas por você que tive o prazer de acompanhar e
participar. Graças a elas, é fácil dizer que você é uma parte importante da evolução do RPG nacional.
Aos jogadores do playtest Alan Silva, Daniel Figueroa, Davide Di Benedetto, Fillipi Zettermann de
Freitas, Mário Benevides, Matheus Borges Ziderich e Pedro Trevizani que ajudaram a refinar este jogo,
tornando-o ainda mais interessante para todos vocês da versão final de playtest de Cosa Nostra.
Finalmente, ao nosso membro convidado nesta obra, Guilherme Moraes, editor-chefe da Retropunk
Game Design; sem sua experiência e ideias este jogo não teria o brilho que adquiriu até o momento.
A todos estes amigos, colegas e colaboradores um grande, insuperável obrigado!

5
 Ambientação
O que é Cosa Nostra?
Cosa Nostra é um RPG. Esta sigla significa
Role Playing Game, ou jogo de interpretação de
personagens, mas Cosa Nostra é um pouco di-
ferente dos RPGs tradicionais. Em jogos como
Dungeons & Dragons, primeiro RPG do mundo
lançado em 1974, os jogadores interpretam um
personagem em um mundo de fantasia vivendo
aventuras e desafios propostos pelo mestre de
jogo, seus personagens são criados seguindo um
minucioso sistema de regras, podendo ser otimi-
zados para fazer determinadas tarefas, estes jogos
são bastante ligados ao lado jogo, ou game, no
original em inglês, do RPG, sendo por isto cha-
mados de gamistas.
Já Cosa Nostra segue uma vertente mais recen-
te, que foca os esforços do sistema do jogo para
a narrativa da história, sendo por isto conhecidos
como narrativistas. Cosa Nostra é um jogo narra-
tivo, cujo foco é contar histórias sobre a máfia si-
ciliana nos Estados Unidos durante a era de ouro
dos gangsteres, o período da Lei Seca de 1920 a
1933. Por isto o objetivo das regras em Cosa Nos-
tra não é a construção de um único personagem
ou grupo de personagens, mas sim da organiza-
ção criminosa com a qual os jogadores irão contar
uma história, e o principal desafio do jogo é man-
ter o controle da narrativa, seja contra o sistema
do jogo, seja contra outros jogadores que preten-
dem contar uma história diferente.
Ambientação
Embora o sistema de Cosa Nostra possa ser
usado para representar as organizações criminosas
de todas as nacionalidades e orientações morais e
éticas, no livro básico trataremos apenas da má-
fia mais famosa no Ocidente, a italiana, ou ainda
mais especificamente, a máfia siciliana.
A estrada da perdição
Algumas lendas dizem que a máfia italiana
surgiu não como uma organização criminosa,
mas como uma resistência à ocupação francesa na
época das guerras napoleônicas. Nestas histórias
a máfia atuava como uma mão negra (daí outro
13
dos nomes dessa organização) que garantia a vin-
gança contra os abusos das tropas francesas que
causavam sofrimento a população. Por esta época
teria nascido a omertà: a lei da autorregulação das
sociedades influenciadas por esta organização.
A omertà dita uma série básica de regras: não
procure ajuda governamental, mas sim a daqueles
que sempre estiveram dispostos a lhe ajudar (isto
é, a máfia), prefira vingança a justiça, obedeça às
decisões de conselhos de homens mais velhos e res-
peitados, considere uma afronta a alguém de seu
grupo como uma afronta a todos e nunca fale sobre
assuntos da Cosa Nostra para aqueles de fora da
sua Família. Com esse simples código de conduta
pautado na vingança, na colaboração comunitária e
no silêncio a Mão Negra permaneceu um segredo
bem guardado durante décadas, com pessoas du-
vidando de sua existência mesmo quando grandes
operações policiais eram despachadas contra ela.
Durante o fim do século XIX, com o endure-
cimento das ações do governo contra a máfia em
toda a parte na Itália, mas ainda mais na Sicília,
onde eles participaram em uma derrotada guerra
de guerrilha pela independência da ilha, iniciou-
se então uma imigração em massa para o Novo
Mundo seja por necessidade financeira, após a lei
marcial e dura repressão do exército italiano qua-
se falirem muitos mafiosos, seja para evitar serem
presos pela polícia.
Estes criminosos rapidamente fizeram fortu-
nas em cidades como Nova Iorque e Chicago ao
controlarem uma série de negócios ilegais como
extorsão, apostas e prostituição. Tanto dinheiro não
tardaria, é claro, a atrair conflitos entre as diferentes
Famílias (como cada quadrilha chama a si mesma).
Após uma série de conflitos durante as três pri-
meiras décadas do século XX, ao final da Lei Seca
uma reunião entre os chefes de todas as Famílias
importantes dos dois lados do Atlântico literal-
mente criou um estado paralelo, completo com
comissão de “governo”, por assim dizer, compe-
tências e territórios para cada Família e um sis-
tema judiciário para julgar as pendências entre as
facções da Cosa Nostra, além de incluir, ainda que
sem direito a voto, a máfia judia na comissão.
Os conflitos, apesar de apaziguados em qua-
se todo o País, nem por isto deixaram de existir,
 Ambientação
e todos sabem que, em se tratando de homens
ambiciosos, violentos e com tendências vingativas,
nenhuma paz dura para sempre. A qualquer mo-
mento, um grande conflito pode acontecer caso o
equilíbrio de forças se desfaça por qualquer motivo.
Um mundo melhor
Quando pensamos na melhor ambientação pos-
sível para uma história de máfia, os treze anos da
Lei Seca, ou Proibição, logo vem à mente. A razão
é óbvia: com a entrada das bebidas alcoólicas na
ilegalidade, um mercado de bilhões de dólares de
uma hora para outra entrou no território obscuro
das organizações que operam a margem da lei. Esse
é um período onde qualquer um pode começar a
destilar alguns galões de uísque ruim no quintal
de casa e vender por uma pequena fortuna para as
pessoas certas, e as pessoas certas usualmente eram
mafiosos, bons homens de negócios que eles eram.
Mas que mundo é esse em que você vai contar suas
histórias? Um mundo melhor.
A década de vinte começou com um otimismo
com relação ao futuro da nação nos EUA, apesar
dos traumáticos eventos do fim da década de 10: a
entrada na Primeira Guerra Mundial em 1917-18,
a devastadora pandemia da Gripe Espanhola em
1918-19 (ou gripe americana, já que os primeiros
casos registrados aconteceram em março de 1918,
nos estados de Kansas e Nova Iorque), e final-
mente o traumático Red Summer de 1919, quando
distúrbios civis abastecidos pelo preconceito dos
brancos contra os negros varreram os EUA com
morte e destruição
em quase todos
os estados.
Buick K-44
Uma das marcas mais populares do mundo,
com alguns dos carros mais velozes do período,
o Buick K-44 de seis cilindros e 60 cavalos de
potência tinha espaço para quatro pessoas e era
um favorito da classe média alta.
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Apesar disto, cada evento serviu, à sua maneira,
para fortalecer os EUA. A guerra fez com que o
país atingisse níveis industriais nunca antes vistos
para atender a demanda da Europa conflagrada,
enquanto a devastação da Gripe Espanhola co-
locou de joelhos o restante dos países industria-
lizados não atingidos pela guerra mundial. Os
distúrbios civis, embora não tenham resolvido o
problema do preconceito e da Segregação, dimi-
nuíram a pressão nessa panela, que só voltaria a
estourar nas décadas de 50 e 60 com a luta pelos
direitos civis.
Ainda durante este período, em 16 de janeiro de
1919 a 18º emenda à Constituição foi aprovada,
proibindo a manufatura, venda e transportação de
bebidas alcoólicas nos Estados Unidos a partir de
16 de janeiro de 1920. A luta pela proibição do
álcool nos EUA era antiga, remontando a primeira
metade do século XIX, sendo um movimento apa-
drinhado por igrejas protestantes e levado a cabo
por organizações como o Partido da Proibição, a
Liga das Mulheres Cristãs pela Temperança e o
Partido Anti-Saloon, que finalmente conseguiu a
aprovação da emenda durante a Primeira Guerra
Mundial argumentando pela diminuição da vio-
lência interna, a destruição de uma industria do-
minada por alemães (inimigos durante a guerra)
e da corrupção política representada pelos bares.
Para fiscalizar a aplicação da Lei Seca o Con-
gresso dos EUA aprovou o Ato Volstead em 28 de
outubro de 1919, criando uma unidade dentro do
Departamento do Tesouro chamada de Unidade
da Proibição, que acabou sendo ineficaz, subfi-
nanciada e com poucos agentes para o tamanho
da sua tarefa, além de receber pouco ou nenhum
apoio de autoridades locais com pouco interesse
na fiscalização.
Ainda em 1920 é aprovada a 19º emenda à
Constituição que estabelece o voto feminino, uma
culminação de décadas do movimento feminista,
tornando as mulheres, ao menos nos termos da
lei, iguais em direitos aos homens nos EUA. Para
além do direito ao voto, as mulheres também luta-
vam na época pelo direito ao controle de natalida-
de (propagar informação sobre controle de natali-
dade era considerado obsceno por uma lei federal
e quem o fizesse era preso), melhores condições de
trabalho e outras bandeiras. A primeira organiza-
 Ambientação

ção pelo direito das lésbicas só seria formada mui-
to mais tarde, durante os anos 50, e ser gay nesta
época era considerado crime punido com multas e
tempo atrás das grades.
Como já citado anteriormente, os negros eram,
talvez com exceção dos índios, que ainda sofriam
os efeitos do genocídio praticado contra eles no
Século XIX, a minoria mais largamente discri-
minada. Em muitos estados americanos a Segre-
gação estava a pleno vapor, especialmente depois
dos acontecimentos do Red Summer de 1919, um
resultado direto dessas políticas pautadas no ódio
racial. A Segregação constituía um aparthaid às
escondidas: o argumento era de que brancos e ne-
gros viveriam “separados, mas iguais”, em alusão à
Constituição dos EUA que garantia que todos ti-

“O que diabos é isto?”

Em alguns dos quadros laterais de Cosa Nostra você vai encontrar descrições de carros, caminhões e armas
típicas dos anos da Lei Seca nos EUA para ambientar melhor seu jogo. No entanto, como algumas das
descrições podem trazer termos desconhecidos para leigos, decidimos explicar tudo em um breve glossário
para vocês não ficarem perdidos. E também porque é legal saber um pouco mais sobre carros e armas, afinal,
que tipo de gangster não sabe tudo sobre isto?
Ação simples ou dupla: embora a nomenclatura seja a mesma para revólveres e pistolas, referem-se a sistemas
diferentes, revólveres de ação simples devem ter o cão puxado para a posição de disparo sempre que se dese-
jar utilizar a arma, com o gatilho apenas liberando a força do cão sobre o martelo para deflagrar a munição.
Já pistolas de ação simples devem ser armadas apenas da primeira vez, sendo que ao puxar a carretilha que
colocará a primeira munição na câmara também se arma o cão. Das vezes seguintes, os gases da munição
deflagrada empurram a carretilha para trás, armando o cão automaticamente. Pistolas de ação simples
também são chamadas semiautomáticas. Já revólveres e pistolas de ação dupla funcionam de maneira que
o puxar do gatilho arma o cão antes do disparo, mas ainda é necessário puxar a carretilha para colocar a
primeira munição na câmara para as pistolas, pistolas de ação dupla são chamadas de automáticas.
Cão: também chamado de percussor, é a peça de uma arma de fogo responsável por percutir a munição,
causando a explosão que irá disparar o projétil em direção ao alvo.
Câmara: também chamada de câmara de expansão de gases, é o local onde a munição fica alojada até ser
deflagrada, e sua função é conter os gases da explosão da munição, que irá empurrar o projétil para fora
através do cano a grande velocidade (a explosão em si não faria isso, a principal força por trás é a expansão
dos gases resultantes da explosão).
Cavalos de potência: unidade básica de medição de potência de motores. De modo geral, quanto menor for
a relação entre cavalos de potência e peso do automóvel, mais rápido ele será.
Cilindros: em um motor de combustão interna, é nos cilindros que ocorre a explosão do combustível que dá
origem a força mecânica que possibilita ao veículo se mover.
Colete balístico: é a designação militar para os populares coletes à prova de “balas”
Munição: apesar da cultura popular chamar simplesmente de “bala” tanto o cartucho quanto o projétil dis-
parado por uma arma, este é um termo incorreto*. Munição é o nome do projétil disparado por uma arma,
enquanto cartucho é o nome dado ao conjunto de componentes necessários ao disparo. O termo cartucho é
pouco utilizado, no entanto, e atiradores em geral utilizam munição para ambos os casos.
Sistema de municiamento: é a maneira pela qual a arma recebe a sua munição para ser deflagrada, como
tambores, carregadores e outros sistemas utilizados por armas modernas.
* No Exército há um ditado: “bala se chupa, tanque se lava roupa e pente se usa no cabelo”, em alusão aos
termos populares para munição, veículo blindado e carregadores, respectivamente. Mais de um recruta já
passou horas chupando uma munição de fuzil ao pedir mais “bala” ao sargento durante o tiro de guerra.

15
 Ambientação
vessem direitos iguais, mas na prática toda e qual-
quer instalação ou serviço dirigido aos negros nos
estados segregacionistas era de qualidade inferior,
para não citar regras que claramente colocavam os
negros como cidadãos de segunda classe, como a
de um negro ter de ceder seu lugar em um ônibus
a passageiros brancos.
Para além da Segregação presente em muitos
estados, em qualquer lugar dos EUA um negro,
mesmo que qualificado, conseguia apenas os pio-
res empregos, e quando conseguia um emprego
um pouco melhor, trabalhava por muito menos
que um branco na mesma função. Apesar disso,
com a economia em alta, não faltavam empregos
ainda que mal remunerados e os negros resistiam
a discriminação de todas as maneiras possíveis,
seja violentamente como aconteceu durante o Red
Summer de 1919, seja politicamente através de vá-
rias associações e instituições que lutavam pelos
direitos civis já no começo do século XX.
A tecnologia nessa época começava a adquirir a
velocidade de inovação pela qual é celebre nos tem-
pos atuais. A partir de 1913, com a implementação
da linha de montagem por Henry Ford, carros se
tornaram baratos o bastante para que a maioria
das famílias pudesse ter pelo menos um Ford T.
Ao mesmo tempo, facilidades de crédito e o pleno
emprego faziam com que as famílias realizassem o
sonho da casa própria, que custava entre dois e três
mil dólares, em maratonas de prestações de $35~40
dólares que poderiam durar décadas (e se mostra-
riam mortais durante a Grande Depressão).
Ao mesmo tempo, a vida doméstica tornava-se
mais agradável e simples. Aparelhos como máqui-
nas de lavar, aspiradores de pó e geladeiras, tornados
possíveis com a chegada da eletricidade às grandes
cidades, eram verdadeiras sensações e podiam ser
vistos muitas vezes mesmo em casas humildes do
ambiente urbano, que faziam grande sacrifício para
terem estes “monumentos da modernidade”. Isto
não era verdade para o campo, no entanto, já que
na década de 30 apenas 10% dos edifícios em zonas
rurais dos EUA tinham acesso à eletricidade. As
telecomunicações avançavam rapidamente, com a
difusão do rádio, cuja primeira emissora abriu em
1920 em Pittsburg, a invenção da televisão em
1924 e do videophone em 1927, sim, um videopho-
ne faz exatamente o que você está pensando: vídeo
16
A moda dos
anos 20 e 30
O estilista francês
Yves Saint Laurent
afirma que, em se
tratando do ves-
tuário masculino,
prevalece até hoje
um punhado de
formas básicas
criado no início
da década de 1930 —
considerado por alguns
o período em que o
estilo americano de vestir chegou ao auge.
Em 1920 já estava estabelecido o terno como
hoje conhecemos — usado com camisa, calça
e colete —, suplementado por sobretudos de la-
pelas largas. Na segunda metade desta década,
o blazer se torna mais curto e justo; as calças,
pregueadas na frente, são muito amplas — mas
retornam a uma largura razoável na década de
1930. Além dos chapéus, os acessórios usados
por homens do período incluíam abotoaduras
e cigarreiras, além de um lenço no bolso do
peito (decorativo) e outro (para uso) enfiado na
manga do casaco.
Na década de 1920 a moda feminina segue
uma direção mais funcional, distanciando-se
do estilo ornamental do séc. XIX que vigorava
até então. A silhueta feminina em 1920 era reta,
com trajes largos e confortáveis — as saias iam
até um pouco acima da altura do tornozelo, e a
cintura é baixa. São usados chapéus, de todas as
formas e tamanhos, de abas largas. A silhueta
andrógina se mantém na segunda metade da
década de 1920, com saias retas terminadas na
linha dos joelhos; as abas dos chapéus se es-
treitam, e a uso de maquilagem tencionava um
aspecto artificial de “máscara”. Em 1930 a si-
lhueta, similar à dos períodos anteriores, torna-
-se longa e sinuosa. As saias, mais longas, têm a
barra alargada e caída nos lados, em tecidos flui-
dos como o cetim ou crepe georgette. Chapéus,
de decoração modesta, ajustados na cabeça, têm
abas tanto curtas quanto amplas, caídas para os
lados ou sobre os olhos; a maquilagem buscava
enfatizar traços faciais angulares.
 Ambientação
conferências, oitenta anos atrás. O único problema
é que o equipamento ocupava uma sala inteira, fora
isto funcionava relativamente bem. As inovações
na medicina não ficavam muito atrás, com tanto a
penicilina quanto o pulmão de aço sendo inventa-
dos em 1928, embora maior vilã da saúde pública
americana, a pólio, só tenha conseguido uma va-
cina em outra era de ouro americana, os anos 50.
Uma cultura efervescente
É impossível entender o cenário cultural dos
Estados Unidos da Lei Seca sem falar do movi-
mento conhecido como a Renascença do Harlem.
Este movimento cultural de expansão da cultura
afro-americana dos EUA começou no final da
década de 10, quando em 1917 estreou Três Peças
para um Teatro Negro, do escritor branco Ridgely
Torrence, que rejeitou os estereótipos tradicionais
e mostrava afro-americanos com complexas emo-
ções humanas. Na poesia, o soneto “If We Must
Die”, de Claude McKay, de 1919 é considerado
outra grande influência do período.
Na música, a introdução do piano no tradi-
cional jazz sulista tornou este um estilo capaz de
comunicar-se com a alta sociedade, da qual al-
guns afro-americanos faziam parte. Logo o jazz e
o blues se tornaram cada vez mais populares com
a população branca dos EUA, tornando-se verda-
deiros fenômenos musicais no final da década de
20. Na literatura, uma comunidade de escritores
afro-americanos e imigrantes do Caribe era es-
pecialmente ativa e popular durante o período.
Uma característica da Renascença do Harlem é
o orgulho racial representado pelo movimento co-
nhecido como New Negro, que defendia que atra-
vés de intelecto e da produção de arte, literatura e
música seria possível lutar contra o racismo e os
estereótipos e promover políticas progressivas e in-
tegração social e racial. Este movimento criou uma
nova identidade cultural para os afro-americanos e
influenciou toda a cultura americana do período.
Claro que nem tudo se resume à Renascença
do Harlem nos EUA nesse período. Uma série de
outras mudanças vem ocorrendo, como é o caso
das flappers e do feminismo. Desde a década de
1910 um movimento vinha ganhando força en-
tre as mulheres americanas chamado flapper, que
17
pode ser entendido como um movimento de resis-
tência feminista que se traduz em um novo modo
de vestir e um comportamento fora dos padrões
normativos da sociedade tradicionalista. Flappers
não apenas desafiavam o estilo de moda vigente,
elas bebiam, fumavam, dirigiam automóveis, ou-
viam jazz, tratavam sexo de forma casual e toda
forma de comportamento que infligisse normas
sociais e sexuais. O movimento ganhou grandes
proporções até a Quebra da Bolsa de Nova Ior-
que, quando o comportamento hedonista caracte-
rístico das flappers foi gradualmente abandonado
em face das graves necessidades econômicas, mas,
ainda assim, este movimento redefiniu a atitude
das mulheres para sempre.
Enquanto isto, Hollywood lentamente ganhava
grandes proporções com o crescimento da indús-
tria cinematográfica decolando nos anos 20, es-
pecialmente com a invenção de novas tecnologias
que tornaram os filmes falados comercialmente
possíveis a partir de 1927, e que viriam a domi-
nar o mercado no final da década. Grandes estrelas
nasceram nesta época, inclusive o adorado Mickey
Mouse em 1928, enquanto outras, como Charles
Chaplin, resistiam à nova tecnologia. Em 1929, a
Academia das Artes e Ciências das Imagens em
Movimento realizou o primeiro prêmio que mais
tarde ficaria conhecido
como Oscar, o mais
Lincoln L
A aquisição da Lincoln em 1922 foi uma
pequena vingança de Henry Ford, que havia
sido expulso em 1902 por um grupo de in-
vestidores liderados de Henry Leland, dono
da Lincoln, da companhia que viria a se tor-
nar a Cadillac. Sob a supervisão do filho de
Ford o Lincoln L se tornou um dos grandes
sucessos do mercado de carros de luxo, ape-
sar de nenhuma mudança digna de nota ter
sido feita no modelo.
 Ambientação
Packard Twin Six
Um carro de luxo com um motor V-12 (na
verdade, um V-6 duplo, daí o nome Twin
Six, ou “seis gêmeos”) lançado em 1916, de-
zenas de milhares de Twins foram vendidos
até o fim de produção em 1923. O Twin
Six era silencioso, tinha uma direção suave
e bom desempenho. Um modelo básico com
espaço para dois passageiros custava cerca de
2,7 mil dólares.
importante da indústria. Em 1932 seria lançado
Scarface, A Vergonha de Uma Nação, filme clássico
que ajudou a definir o imaginário da máfia na men-
te americana.
Ainda em 1920 a primeira rádio comercial licen-
ciada dos Estados Unidos abriria em Pittsburgh,
sendo precedida por duas outras no mesmo ano,
mas que não tinham licenças comerciais para
operar. Logo, uma grande quantidade de estações
se espalharia pelos Estados Unidos, transmitin-
do notícias, música, radionovelas e todo tipo de
programas que pudessem chamar a atenção dos
ouvintes em um mercado que rapidamente se tor-
nou extremamente competitivo. Um passatempo
das crianças de então era montar pequenos cris-
tais receptores de rádio e tentar captar estações de
rádio próximas.
A organização de uma Família
Uma Família possui uma organização hie-
rárquica clara, com vários níveis entre o chefe e
aqueles que cometem os crimes a mando deste, no
caso o Don e os soldados. O objetivo era proteger
os líderes da organização, evitando que ela se de-
teriorasse através das ações policiais, e ao mesmo
tempo garantir proteção e apoio entre os inte-
grantes da máfia. Pois assim a organização podia
18
manter uma rede de apoio a familiares dos inte-
grantes presos, contratação de advogados, exercer
influência sobre juízes, jurados, políticos e carce-
reiros para mantê-los fora da cadeia ou, quando
tudo falhava, pelo menos mais confortáveis em
seu tempo lá.
Numa Família, a primeira instância de poder
é o Don, isto é, o chefe, muitas vezes também
seu fundador. O Don nunca suja suas mãos, a
menos que queira, deixando a execução de seus
desejos por conta de seus subordinados. Ao Don
cabem todas as decisões importantes dentro de
uma Família. Ele é quem decide quando alguém
é promovido, que capos cuidam de que áreas, que
crimes podem ser cometidos pelos membros sob
seu controle e também a decisão mais importante,
quando ir à guerra com outras Famílias.
Para auxiliar o Don na enormidade de sua tare-
fa existe o Consiglieri, literalmente “conselheiro”,
um homem de confiança que auxilia o Don em
todas as suas decisões, além de representar o Don
em reuniões com outras Famílias ou dentro da
própria organização. Apesar de ser o próximo na
hierarquia, um Consiglieri não tem nenhum po-
der real, ele não comanda homens ou tem áreas
de influência como capos, mas isto pode mudar
de acordo com a Família. Completando a trinda-
de administrativa da Máfia vem o Sotto Capo ou
Capo Bastone, algumas vezes chamado pela mídia
Colt Super .38
Essa pistola semiautomática de ação simples
possui o mesmo design geral da Colt 1911, mas
é municiada com o calibre Super .38, carre-
gando um poder de penetração muito maior
e capaz de ultrapassar os coletes balísticos do
período. Além do maior poder de penetração
ainda carregava nove munições no carregador e
mais uma na câmara, em geral era usada quando
se esperava enfrentar resistência blindada, como
em assaltos a banco, confrontos com a polícia ou
outras Famílias.
 Ambientação
de subchefe. Um Sotto Capo é o responsável
por administrar as atividades diárias, dar
ordens aos capos e garantir que o dinheiro chegue
sem problemas ao Don. Muitas vezes o Sotto Capo
é membro da família pessoal do Don, como um fi-
lho ou sobrinho, já que quando o Don fica doente,
é preso ou morto é o Sotto Capo que tradicional-
mente assume a organização.
Abaixo do Sotto Capo vem os capos, também
chamados de capitães pela mídia, que vem da
palavra caporegime. Um capo comanda entre dez e
quinze soldados, e um número variável de associa-
dos. Quando um soldado ou associado pretende
alguma atividade criminosa, ele deve primeiro avi-
sar ao seu capo, que lhe dará permissão para atuar.
Este sistema tem dois propósitos, o primeiro sen-
do a coordenação das atividades criminosas da Fa-
mília, evitando que um soldado inadvertidamente
interfira no território de outra Família, por exemplo.
O segundo é que ao saber das atividades de seus
soldados, o capo pode cobrar a sua porcentagem,
da qual também sai a porcentagem do Don. É uma
ilusão comum acreditar que ao entrar na máfia um
homem receberá dinheiro, quando na verdade é o
oposto, um membro ou associado da máfia deve
pagar aos seus superiores uma taxa para cometer
crimes dentro do território de uma Família.
Finalmente temos os soldados. Eles são o mais
baixo escalão dentre os homens de honra, ou seja,
aqueles que oficialmente integram uma Família.
Soldados são a mão de obra da máfia, a classe tra-
balhadora, por assim dizer. Eles são aqueles que
fazem extorsões, assaltos a banco, sequestros, ven-
da de bebidas, controlam prostíbulos e todo tipo
de atividade criminosa desde que, claro, tenham a
permissão e paguem aos seus capos por esse direito.
Os associados não fazem oficialmente parte
de uma Família, pagando uma porcentagem para
atuarem dentro do território da organização. Um
associado pode variar enormemente em poder,
indo desde o humilde dono de um comércio con-
trolado pela máfia até um poderoso distribuidor
de bebidas. Em comum eles compartilham a baixa
hierarquia dentro da organização de que partici-
pam. Mesmo o mais baixo soldado está, em teoria,
hierarquicamente acima do mais valioso associa-
do. Um homem de honra que prejudique ou mes-
mo mate um associado não recebe penas tão duras
19
Rolls-Royce
Silver Ghost
Considerado “o melhor carro do mundo”
pela imprensa especializada, o Silver Ghost é
incrivelmente silencioso, confiável e elegante.
Mesmo sendo originalmente de 1907, o Silver
Ghost foi produzido até 1922 e continua sendo
um produto de luxo até os dias de hoje ­— um
destes em boas condições, e ainda rodando, foi
avaliado em 2005 em 35 milhões de dólares!
de seus superiores, mas um associado que cause
qualquer mal a um homem de honra, não impor-
tando seu grau hierárquico, pode esperar uma do-
lorosa retribuição da Família por sua atitude.
Como ser um homem de honra
Na máfia italiana, existem algumas tradições
cujo cumprimento separa os verdadeiros homens
de honra das outras pessoas. Dos mafiosos sici-
lianos e associados era esperado que se seguissem
regras rígidas que visavam manter a integridade
da organização e de seus membros. Em 2007, com
a prisão do chefão da Cosa Nostra, Salvatore Lo
Piccolo, foi encontrada em sua casa uma lista que
logo foi batizada pela mídia como “Os Dez Man-
damentos da Máfia”, isto é, um conjunto de regras
que deve guiar os mafiosos. Ainda que esta lista
represente a orientação da Cosa Nostra de nossos
dias, ela é um bom ponto de partida para discutir-
mos como era a perspectiva moral de um mafioso
dos anos 1920 e 1930.
O primeiro mandamento é uma medida de se-
gurança: um homem da Cosa Nostra não pode se
apresentar a outro integrante da organização a me-
nos que um terceiro homem de honra, que conhe-
ça a ambos, faça a apresentação. É fácil pensar que
essa é uma resposta ao cerco das forças policiais
 Ambientação
Dodge
½ tonelada
Os irmãos Dodge eram conhecidos por car-
ros duráveis e de boa qualidade, atingindo
boas vendas. Este caminhão lançado em
1919 tinha capacidade de carga de meia-to-
nelada e boa velocidade média. Sendo um
preferido das companhias de transporte de
cargas leves da época.
na segunda metade do século XX, mas é preciso
lembrar que a Cosa Nostra nasceu do movimento
de resistência aos franceses durante a era napole-
ônica, passou pela repressão de inúmeros gover-
nos italianos, incluindo o fascista, e sobreviveu a
todos eles. Esta medida, portanto, não me parece
ser recente, e seria adequada a um jogo durante
os anos 1920 e 1930. No documentário Os
Dez Mandamentos da Máfia, do Discovery,
um ex-membro da máfia revela um detalhe
interessante: quando alguém é apresentado
como “meu amigo”, esta pessoa não é um
iniciado, um homem de honra, se ao invés
é dito “nosso amigo”, isto quer dizer que o
apresentado faz então parte da máfia.
A lista segue com algo bastante simples:
não se deve olhar para as mulheres dos nossos
amigos. Isto é, não é permitido casos com mulhe-
res de outros integrantes da organização. Razão
simples: evitar conflitos internos. Outra regra
também tem o mesmo objetivo: deve-se respeitar
a esposa. A aura de homens de família é impor-
tante para manter a legitimidade da máfia tam-
bém. Ambas estas regras devem ser usadas num
jogo nos anos 1920 e 1930.
Um mandamento muito importante é o que
proíbe qualquer tipo de relacionamento com a
20
polícia para membros da máfia. Aqueles vistos
com policiais podem ter sua lealdade questiona-
da e serem marcados para eliminação. Esta é uma
regra seguida desde sempre.
Por outro lado, um mandamento pouco segui-
do ao longo da história da máfia, se é que algum
dia chegou a ser seguido, é a proibição da ida de
membros a bares e boates. Por trás desse man-
damento pode estar o passado militar da organi-
zação, ou talvez a ideia de que, quando bêbados
ou entretidos, os mafiosos baixam sua guarda e
podem revelar segredos preciosos.
Existem dois mandamentos que se relacionam:
o de que se deve sempre estar disponível para a
Cosa Nostra e a de que compromissos devem ser
respeitados. Falhar neles demonstra, respectiva-
mente, falta de comprometimento e de respon-
sabilidade. Duas qualidades extremamente valo-
rizadas pela máfia. Aqueles que faltam com essas
regras são colocados “na geladeira” por um tempo,
para aprenderem a lição. Nas décadas de 1920 e
1930, estas regras valem mais do que nunca, dadas
as dificuldades de deslocamento ampliadas desta
época em comparação com a atual.
Provavelmente o mais complicado mandamen-
to a se seguir é o que estabelece que um homem
de honra sempre deva
responder pergun-
tas de superiores
com a verdade.
Dodge ¾ tonelada
Último caminhão com design dos irmãos
Dodge, que morreram no começo da década
de 20, este caminhão de 1929 foi lançado já
sobre o comando da Chrysler, tinha carga
máxima de ¾ de tonelada e motores mais
poderosos que garantiam mais poder de tra-
ção e velocidade média.
 Ambientação

Obviamente, mafiosos de todas as épocas pre-

ferem ocultar seus erros em seus relatórios para
superiores, ainda mais quando isso poderia impli-
cá-los em violações de outras regras importantes.
Inesperadamente, existe uma regra que proíbe o
roubo, mas apenas entre membros da Cosa Nostra,
inclusive outras Famílias. É talvez a única regra
que não poderia ser incluída na época clássi-
ca da máfia, já que ela é posterior, trata-se da
solução encontrada para as inúmeras guerras Browning Automatic
por supremacia em que nasceram as grandes Rifle – B.A.R.
lendas da história criminosa dos EUA.
Usada pelos lendários assaltantes de bancos
O último mandamento trata da entrada de da década de 20 e 30 como Bonnie e Cly-
novos membros na Cosa Nostra. Não são permi- de, o B.A.R. foi criado durante a Primeira
tidos aqueles sem descendência puramente sici- Guerra Mundial, pensada para ser dispara-
liana, com parentes nas forças policiais ou que já da por um atirador em movimento a partir
tenham traído uma Família, que se comportem da cintura. A versão civil dessa arma ficou
mal ou que não sigam os valores morais esperados disponível a partir de 1925. Equipada com
pela máfia. Aqueles que passam em todos esses carregadores de 20 munições calibre .30-06
requisitos são aceitos na Família em um ritual se- M2, ela é capaz de atravessar um carro ou
creto. Alguns dizem que envolve a queima de uma colete balístico como papel, além de ser ra-
imagem de um santo lavada em sangue do inicia- zoavelmente simples de operar.
do, que faz um juramento enquanto isto acontece.
O ritual exato pode mudar de acordo com o que
os jogadores acharem mais adequado.

21
Título

22
 NOVA IORQUE
Nova Iorque
O final da Primeira Guerra Mundial trouxe
uma nova era para Nova Iorque – uma em que
jazz, bebidas ilegais, crime organizado, comércio
e cultura floresceram. Nos anos 20 a cidade havia
crescido para algo em torno de seis milhões de ha-
bitantes e serviu de um centro para imigrantes, até
o Immigration Act de 1924, e migrantes a partir de
então, incluindo a Grande Migração de centenas
de milhares de afro-americanos dos estados segre-
gacionistas do Sul americano para o Norte.
A moderna Nova Iorque foi criada em 1898
com a consolidação, em uma única cidade, das
antigas cidades de Nova Iorque (hoje os distri-
tos de Manhattan e Bronx), Brooklyn e as, então,
cidades largamente rurais de Queens e Staten
Island. A cidade rapidamente começou a inte-
grar-se em termos de transporte, com a substi-
tuição dos mais de duzentos mil cavalos (e suas
toneladas diárias de dejetos) por automóveis e um
moderno sistema de metro subterrâneo em 1904,
além da fundação das pontes Williamsburg e
Manhattan conectando o distrito de Manhattan
com os subúrbios do Brooklyn.
Ao mesmo tempo em que a nova cidade se co-
nectava, o início do século trouxe um novo pico de
imigração e a mudança do perfil imigratório, que
agora vinham do sul e do leste da Europa, em vez
do oeste. A comunidade germânica de Nova Ior-
que começou a encolher nesta época, subjulgada
pela imigração em massa de italianos, judeus e ou-
tras nacionalidades do sul e leste europeu, com o
desastre do vapor General Slocum sendo um golpe
do qual a comunidade não pode se recuperar, com
a maioria dos mil mortos pertencendo às famílias
germânicas mais bem estabelecidas da comunida-
de. A Primeira Guerra Mundial deu o golpe fatal,
com o sentimento antigermânico generalizado, e
durante os anos 20 mantinha-se apenas a arquite-
tura original alemã. Enquanto isto, outros bairros
com orientação étnica se formavam ou fortale-
ciam: Chinatown, Little Italy e o Harlem, para
citar apenas alguns. A imigração italiana era uma
das mais elevadas de todas, de modo que o Con-
gresso passou a Emergency Quota Act em 1921, que
estabeleceu uma cota de imigração para italianos
23
e serviu de prévia para o Immigration Act de 1924,
que virtualmente parou toda a imigração para os
Estados Unidos.
Durante esse período uma mudança econômica
lentamente ia mudando a cidade. Com a maior
parte da economia baseada na indústria durante
muito tempo, o setor de serviços cresceu até se
tornar responsável pela maior parte dos negócios,
caracterizado pela ascensão do poder financeiro
de Wall Street. O centro financeiro do mundo
esteve no centro das notícias tanto no começo da
década de 20 quanto em seu final, primeiro com o
atentado terrorista contra a Casa de Morgan, sede
do maior conglomerado financeiro dos EUA, que
matou 38 e feriu 143 pessoas no dia 16 de setem-
bro de 1920. O caso nunca foi resolvido pelo FBI,
especialmente porque num primeiro momento
imaginou-se tratar-se de um acidente já que atos
de terror sem um alvo especifico eram então des-
conhecidos, e a cena do crime foi limpa durante a
noite para que os negócios pudessem reabrir no
dia seguinte. Historiadores acreditam que tenha
sido perpetrado por anarquistas italianos, respon-
sáveis por outros atentados no ano anterior. Já em
24 de outubro de 1929, o Crack da Bolsa de Va-
lores de Nova Iorque marcou o início da Grande
Depressão que se estenderia por toda a década de
30 e parte da de 40.
Com a ascensão econômica alcançada a cidade,
que já havia começado uma corrida aos céus des-
de o final do século XIX, encheu-se ainda mais
de arranha-céus, com a arquitetura florescendo e
seguindo os estilos mais modernos, como o Art
Déco, cujos maiores exemplares foram os edifícios
Chrysler, mais alto do mundo de 1930 a 1931
com 319 metros totais de altura, e o Empire State,
mais alto do mundo de 1931 até 1972 com 443
metros totais. As maiores partes dos edifícios da
cidade seguiam o estilo Art Nouveau, ou o cha-
mado eclético. O “estilo” eclético é geralmente as-
sociado com novos ricos e é considerado de mau
gosto, pois se apropria de aspectos de diferentes
estilos arquitetônicos em uma única construção,
algo considerado um grande pecado por arquite-
tos e aristocratas que se consideravam entendidos
em termos de arquitetura.
Tantas novas construções em um período de
proibição do álcool transformaram a cidade em um
 NOVA IORQUE
labirinto de passagens secretas, compartimentos
escondidos e todo tipo de subterfúgio para es-
conder as bebidas. Em alguns casos, mesmo bares
inteiros, conhecidos como speakeasy, blind pig ou
bling tiger, ficavam escondidos do público, dispo-
níveis apenas para uma seleta clientela. Entre essa
clientela estava, provavelmente, o prefeito bon vi-
vant Jimmi Walker, que governou a cidade de 1926
até 1932, quando um escândalo de corrupção o fez
renunciar e fugir para a Europa para escapar de
uma condenação quase certa por seus crimes.
Para completar o cenário, temos a Broadway
como o centro do teatro e dos musicais, que sur-
giram em resposta aos filmes falados, e que se tor-
naram uma marca registrada da cidade, atraindo
milhares de turistas todos os anos. Com a Grande
Depressão, no entanto, a Broadway lentamente
iria se tornar um local de prostituição, até ser reno-
vada durante os anos 80 para o padrão atual, con-
siderado “Disneyficado” para famílias de turistas.
Os Cinco Distritos
Nova Iorque é dividida em cinco distritos que,
por si, poderiam ser consideradas grandes cidades:
Manhattan, Bronx, Brooklyn, Queens e Staten
Island. Cada um destes distritos carrega certas
características sociais e étnicas, ou mesmo arqui-
teturais, que valem a pena ser citados para uma
melhor compreensão do todo.
O distrito de Manhattan é o menor dos cinco
distritos, mas ao mesmo tempo o mais populoso
deles com cerca de dois milhões de habitantes e
concentrando a maioria dos arranha-céus da ci-
dade, como o Empire State e o Chrysler. Aqui se
encontra também o famoso Central Park, consi-
derado o “quintal de Nova Iorque”, que passaria
de local de passeios idílicos nos anos 20 para casa
de milhares de sem teto durante a Grande De-
pressão. Durante a criação do parque, os legisla-
dores “esqueceram” que havia na terra destinada
ao parque várias pequenas comunidades, sendo
a mais desenvolvida delas a Vila de Seneca, ha-
bitada principalmente por afro-americanos e lar
de uma das poucas escolas para não brancos na
cidade. A vila também tinha três templos e cemi-
térios, que não foram transferidos, já que durante
24
Submetralhadora Thompson
Criada pelo General John T. Thompson para
atuar na Primeira Guerra Mundial, a sub-
metralhadora Thompson usava munição .45
ACP em carregadores em forma de tambor
com 50 munições. O sistema de municia-
mento por tambor era conhecido por travar e
mais tarde carregadores retos, mais confiáveis,
foram utilizados. Era amplamente usada por
forças policiais dos EUA, mas rapidamente
passou a ser usada pela máfia também, além
de ainda estar em serviço durante a Segunda
Guerra Mundial.
anos após a criação do parque caixões apareciam
em manutenções de rotina.
Em Manhattan se encontram muitas locali-
dades importantes da cidade, como os bairros de
Chinatown, Lower East Side, Little Italy, Gre-
enwich Village, SoHo, Chelsea, Morningside
Heights, Yorkville e o Harlem. Enquanto Chi-
natown e Little Italy concentram os imigrantes
chineses e italianos, o Harlem concentra a maior
população de afro-americanos da cidade. Lower
East Side e Yorkville são um bairro de imigrantes
operários, enquanto o SoHo concentra a indústria
têxtil da cidade e Chelsea concentra destilarias
que produziam combustível para lâmpadas. Já
Greenwich Villace e Morningside Heights são
bairros conhecidos por suas instituições de ensino,
como a Universidade de Nova Iorque, Universi-
dade de Columbia e a Escola de Música de Ma-
nhattan, fundada em 1917. Além destes bairros
de operários e pequenas indústrias, Manhattan
concentrava a elite financeira dos EUA em Wall
Street e a elite artística na Broadway.
 NOVA IORQUE

O distrito do Bronx foi lar da pequena Feira

Mundial de 1918, sendo então um subúrbio em
rápida expansão após a construção do sistema de
metro, mas se distinguindo por ter a maior parte
da sua área de campo aberto. Notável pelo Jar-
dim Botânico de Nova Iorque, pelo Zoológico
do Bronx e pelos parques de Pelham Bay e Van
Cortlandt e pelo Cemitério de Woodlawn, o dis-
trito é lar principalmente de imigrantes judeus,
chegando a um pico de quase seiscentos mil ju-
deus em 1937 (quase 44% da população do dis-
trito de então).
Além de servir como um subúrbio da mais mo-
vimentada Manhattan, o Bronx também contava
com uma notável indústria de construção de pia-
nos durante os anos 20, com dúzias de empresas
operando no início da década. Com a Proibição, o
Bronx se tornou notório como um centro de pro-
dução e distribuição de álcool ilegal, com gangues
governando as ruas. Ao mesmo tempo, as partes
mais velhas do distrito começaram a se tornar áre-
as de extrema pobreza.
Para os habitantes do Brooklyn o “Grande
Engano de 1898”, como os jornais da época re-
lataram a consolidação de Nova Iorque, é motivo
de arrependimento até hoje. Uma comunidade or-
gulhosa, mas nem tão independente, o Brooklyn
passou por muitas mudanças nos anos 20. Ao
mesmo tempo em que se tornava um centro de
artes e ciências, com a abertura da Academia de
Música do Brooklyn, do Museu do Brooklyn e da
Biblioteca Pública do Brooklyn, ela também se
tornou uma cidade dormitório onde os trabalha-
dores voltavam para descansar depois que saiam
de seus trabalhos em outras partes da cidade.
Já a rural comunidade do Queens teve muito a
ganhar com a conexão com Nova Iorque. Entre
1900 e 1930 o distrito cresceu de cerca de 150
mil habitantes para mais de um milhão. Além
disso, a região ganhou acesso à eletricidade, ao sis-
tema de metro e outras facilidades. Assim como
o Brooklyn, o Queens era principalmente uma
cidade dormitório, com sua mais notável caracte-
rística, os grandes aeroportos que conectam Nova
Iorque ao resto do mundo, só sendo construídos
nas décadas seguintes. Na década de 20, talvez o
Chrysler Six
Este modelo lançado no início de 1924 era
o mais rápido carro que você poderia ver nas
mãos da classe média. Com um motor de
seis cilindros atingia até 110 km/h, mas cus-
tava, na sua versão mais barata, cerca de 1,2
mil dólares. Tal desempenho de velocidade
era alcançado apenas por carros de luxo que
custavam, no mínimo, o dobro desse preço.
local mais notável no distrito seja a casa de John
Bowne, considerado um dos pais pela luta da li-
berdade religiosa nos EUA. Apesar de não ser tão
notável como o Harlem, em Manhattan, durante
os anos 20, o Queens foi lar de uma comunidade
afro-americana e um importante centro de jazz
durante os anos 40, com nomes como Louis Ar-
mstrong entre seus mais ilustres moradores.
Por último temos Staten Island, que durante
todo o período da Proibição e além era chamado
de Distrito de Richmond, ou “O Distrito Esque-
cido” por residentes incomodados com a adminis-
tração municipal negligente com os problemas do
distrito. Sendo o único distrito não conectado ao
sistema de metro, Richmond nunca cresceu mui-
to, já que nem mesmo possuía uma ponte que a
conectasse ao resto da cidade até os anos 60. Entre
1920 e 1930, o distrito contou com uma popu-
lação máxima de 150 mil habitantes, crescendo
muito lentamente durante todo o período. A
maior parte da população aqui é de origem bran-
ca, sendo que muitos italianos fizeram seus lares
aqui, em geral no norte da ilha, enquanto o sul é
mais industrial.

25
 NOVA IORQUE
As Cinco Famílias
Em Nova Iorque, assim como em outras cida-
des americanas na época da Proibição, um grande
conflito eclodiu entre as diversas gangues e Famí-
lias tentando obter a supremacia do crime orga-
nizado na maior cidade dos EUA. Ao final deste
grande conflito, o lendário gangster Lucky Lucia-
no obteve o título de Capo di Tutti Capi, o capo
dos capos, mas, em vez de dominar brevemente
pela força, como outros que detiveram esse títu-
lo antes, Luciano optou pela diplomacia e criou
um verdadeiro estado paralelo conhecido como
“A Comissão” ou o Sindicato Nacional do Crime.
Em 1931, Luciano criou o corpo de governo
chamado por seus membros de a Comissão e pela
mídia como Sindicato Nacional do Crime ao reu-
nir os chefes das cinco principais famílias de Nova
Iorque, o líder da máfia de Buffalo e o líder da má-
fia de Chicago em uma comissão que decidiria os
conflitos entre os membros e as demais Famílias
da Cosa Nostra nos Estados Unidos. A Comis-
são funcionava efetivamente como um corpo de
governo, legislando, julgando e executando suas
próprias decisões para o resto do País. A forma-
ção do sindicato acabou com uma era de conflitos
internos entre as diferentes famílias da máfia e se-
ria essencial para que elas sobrevissem ao fim da
Proibição, dois anos depois. Por sua incrível visão,
Lucky Luciano é considerado o maior de todos
os mafiosos, sendo também o primeiro presidente
da Comissão.
Colt M1911
Esta lendária pistola de ação simples era a
pistola padrão das forças armadas dos EUA
nos anos da Lei Seca, sendo conhecida por
sua robustez, confiabilidade e poder. O car-
regador suporta sete munições .45 ACP mais
uma munição na câmara.
26
As Cinco Famílias de Nova Iorque, e seus res-
pectivos territórios, são os seguintes.
A Família Gagliano era liderada por Tommy
Gagliano a partir de setembro de 1930. Ela ope-
rava principalmente no Bronx, onde controlava
um monopólio de distribuição de gelo no distrito.
A Família Bonanno era liderada por Joseph
“Don Peppino” Bonanno em 1931, quando ele
tomou o controle da família do falecido Salvatore
“Caesar” Maranzano, que lutou pelo título de Capo
di Tutti Capi na Guerra de Castellammarese. Ela
operava principalmente no Brooklyn, e apesar de
ser uma das menores das Cinco Famílias, era uma
das mais lucrativas ao operar agiotagem, prostitui-
ção e apostas ilegais entre outras atividades. Bon-
nano também é o mais jovem mafioso a se tornar
Don de uma Família, com apenas 26 anos em 1931,
e um dos mais bem sucedidos, jamais sendo conde-
nado por qualquer crime em toda a sua vida.
A Família Mangano é formada em 1931 por
Vincent Mangano, operando principalmente nas
docas do Brooklyn, extorquindo trabalhadores e
roubando cargas. Inexistente antes de 1931, Mon-
gano é uma das famílias formadas artificialmen-
te por Lucky Luciano em sua reestruturação da
Cosa Nostra nos Estados Unidos.
A Família Luciano é formada pela antiga famí-
lia de Joe “The Boss” Masseria, morto ao final da
Guerra de Castallamarese, quando seu sotto capo
Lucky Luciano secretamente o trai e assume a fa-
mília, tornando-se o Capu di tutti i capi e então
formando a Comissão. A família Luciano operava
em todo tipo de atividade criminosa e tinha seu
principal território em Manhattan.
A Família Profaci, uma gangue do Brooklyn
liderada por Joseph Profaci, é formalmente reco-
nhecida como uma Família e introduzida a Co-
missão. Ela controlava prostituição, agiotagem e
tráfico de drogas entre outras atividades crimino-
sas dentro do Brooklyn. Profaci tinha pouca expe-
riência como chefe de crime organizado, e muitos
se perguntam por que a Comissão não só o reco-
nheceu como Don, mas também o convidou para
fazer parte da organização que lideraria o crime
organizado nos EUA. Especula-se que sua família
fosse influente na Itália ou ele de alguma maneira
tivesse mais influência do que se acredita.
 Chicago
Chicago
Chicago é uma filha da Corrida para o Oeste,
alimentou e foi alimentada por ela até se tornar
um gigante, mas soube se adaptar muito bem
aos tempos modernos. Em 1830 o município de
Chicago, então com uma população de menos
de 100 habitantes, foi oficialmente reconheci-
do pelo estado de Illinois. Dez anos depois, em
1840, já era conhecido como cidade e tinha uma
população de mais de quatro mil. A razão disto
é a localização estratégica da cidade, às margens
dos Grandes Lagos e próxima o bastante do
Mississipi para que fosse construído um canal
em 1848, transformando a cidade num nó im-
portantíssimo do transporte de cargas nos EUA.
A chegada das ferrovias nos anos 1850 só au-
mentou a concentração desse nó, com mais de
30 linhas passando por Chicago, que se tornou a
principal conexão ferroviária entre a Costa Leste
e Oeste dos EUA.
Não se contentando em ser apenas um impor-
tante nó no sistema de transportes americano,
Chicago, que de menos de 100 habitantes em
1830 passou para um milhão e setecentos mil
habitantes em 1900, na época a cidade que mais
crescia no mundo, também se tornou um centro
da manufatura de quase tudo que se podia imagi-
nar. Cargas de matéria-prima chegavam por trem,
eram manufaturadas pelas indústrias na cidade
e então enviadas para todos os lugares no país,
como se tivessem sido magicamente transforma-
das de matéria-prima em produto manufatu-
rado dentro dos vagões do sistema ferroviário.
Todo este crescimento é ainda
mais impressionante conside-
rando que, em 1871, o Grande
Incêndio de Chicago des-
truiu mais de dezoito mil
edifícios, deixando 100 mil
dos então 300 mil habitantes
da cidade sem teto da noite para
o dia. Uma das razões para um incên-
dio tão poderoso era o grande uso de madei-
ra nas construções da cidade, que a utilizava em
edifícios, calçadas e mesmo ruas inteiras. Como
resultado dessa grande tragédia, Chicago adotou
27
Cadillac Type 61
O Type 61 era uma família de automóveis da
lendária Cadillac que incluía carros de passeio
e limusines lançados entre 1922 e 1923 que
tinham entre 4 e 6 assentos e motores de 8
cilindros com mais de 60 cavalos de potência.
Custavam entre 4 e 5 mil dólares, valor que
apenas os mais ricos podiam dispor.
uma dura legislação anti-incêndios e uma grande
predileção por construções de alvenaria.
A culminação do crescimento espetacular
aconteceu em 1893 com a realização da Feira
Mundial de Chicago, que atraiu cerca de vinte e
sete milhões de visitantes para a cidade e é con-
siderada a mais bem sucedida de todas as feiras
mundiais tão populares no século XIX e início do
XX. Também merece destaque a construção do
primeiro arranha-céu do mundo em 1884, o edi-
fício Home Insurance, com “apenas” 10 andares,
sendo também o primeiro edifício a usar vigas de
aço em toda sua estrutura.
O crescimento continuou com o novo século,
e Chicago se tornou um centro viário, industrial
e comercial, com muitos se-
tores de serviços tomando a
cidade como sede, especial-
Chevrolet Capitol
Primeiro carro a desbancar a
supremacia da Ford nos EUA, foi lan-
çado em 1927 e vendeu centenas de
milhares de unidades apenas neste ano.
Com modelos de 4 a 5 lugares, o Capitol
custava entre 525 e 745 dólares em suas di-
versas versões, sendo um carro típico da clas-
se média americana do período.
 Chicago

mente a indústria da publicidade, que na cidade
tem sua figura principal em Albert Lasker, conhe-
cido como o “pai da publicidade moderna”.
O lado negativo de tanto crescimento desenfre-
ado, segundo alguns, foi uma cidade cujo governo
nunca conseguiu acompanhar os desafios que esse
crescimento impunha. Um governo frágil logo se
torna corrupto e, nos anos da Lei Seca, a corrup-
ção no governo municipal de Chicago era endê-
mica em todos os níveis ao ponto de simplesmen-
te ser honesto como os homens de Eliot Ness lhes
renderia o apelido na imprensa de “Intocáveis”.
Os três lados da Cidade dos Ventos
Chicago é dividida tradicionalmente em quatro
distritos principais: Central Chicago, North Side,
West Side e South Side.
Central Chicago é o centro comercial e político,
especialmente o bairro conhecido como The Loop
e seus arredores que concentra a maior parte do
poder financeiro da cidade, assim como a sede da
prefeitura e do condado de Cook, do qual a cida-
de faz parte. Aqui se encontra também o edifício
da Junta de Comércio de Chicago, construído

Quanto custa isto?

Você verá algumas referências a valores de compra dos veículos (quando nós encontramos isto durante a
pesquisa histórica), mas é difícil entender certos preços depois de quase um século de inflação mais o fato
de ser uma moeda estrangeira, por isto tentaremos dar certa noção de valores aqui.
Uma informação útil é saber quanto esses valores correspondem quando corrigidos pela inflação a moeda
atual: 100 dólares da década de 20 equivalem, mais ou menos, a 1,2 mil dólares atuais. Mas claro que isso
não necessariamente lhe dá uma noção apurada de quanto algo vale, porque isto depende de outros fatores,
como quanto um trabalhador do período ganhava por ano em média. Em nome da praticidade na sua mesa
de jogo vamos dividir a sociedade do período em quatro linhas de rendimento: miserável, pobres, classe
média e podre de rico.
Os miseráveis faziam menos de 150 dólares por ano, o que não é suficiente para alugar uma casa ou mesmo
um quarto decente, e muito menos para uma alimentação saudável ou roupas novas. Nesta faixa de rendi-
mento, tudo que se pode esperar é sobreviver, talvez por tempo o bastante para que as coisas melhorem. Em
geral essa categoria incluía imigrantes recém-chegados, negros e outras minorias discriminadas, como os
asiáticos, que eram pagas abaixo do normal por empregadores brancos da elite. Na máfia, alguns associados
ficavam nessa categoria, mas mesmo o pior dos capos não deixaria um soldado ficar nessa miséria, ou seria
“substituído” rapidamente.
Os pobres são os trabalhadores pouco especializados, mas com um emprego sólido, fazendo menos de 500
dólares por ano. Nesta faixa, o básico, como moradia, alimentação e vestuário, ainda que sem grande quali-
dade, é garantido e pequenos luxos podem ser alcançados com alguma poupança e planejamento. Algumas
famílias têm até casa própria (com muitos anos de prestações para pagar pela frente) ou um carro simples
como um Ford T, mas não os dois. Em geral essa categoria descreve a maior parte da população, incluindo
alguns negros e membros de outras minorias que conseguiram prosperar apesar do preconceito. Na máfia,
alguns associados e soldados ficavam nessa faixa de renda, especialmente os novatos.
A classe média se trata de trabalhadores especializados e pequenos empresários com uma renda entre mil
e seis mil dólares anuais. Com essa renda pode-se esperar uma residência própria paga ou próxima de ser
paga, bem mobiliada e com alguns eletrodomésticos, um carro lançado na década atual e talvez até o bas-
tante para manter uma amante, dependendo da mordida do imposto de renda. Na máfia, a maior parte dos
soldados e alguns capos caem nessa categoria, além de associados de valor.
Os podres de rico de então são como os podres de rico atuais, com mais dinheiro do que poderiam esperar
gastar nas suas vidas, mesmo se elas durassem mil anos. Durante a década de 20 o imposto sobre a renda
de grandes fortunas podia chegar a 90% mas, contrário à crença liberal, o mundo não acabou nem os milio-
nários deixavam de ser menos milionários. Neste ponto, a diferenciação de poder não se trata de dinheiro,
embora quanto mais, melhor, mas de conexões, status e certos recursos. Na máfia, associados e capos impor-
tantes, sotto capos, consiglieris e o Don caem nessa categoria, em diferentes níveis.

28
 Chicago
em 1930, e o Federal Reserve Bank of Chicago,
aberto em 1915. Esta região também concentra
um grande número de escritórios de grandes em-
presas estabelecidas em Chicago e que empregam
milhares de trabalhadores de outros distritos que
utilizam o sistema de transporte todos os dias.
O North Side é uma área mais residencial, com
uma população de origem irlandesa e polonesa em
sua maioria. Aqui se encontra a vasta área verde do
Parque Lincoln, e também as melhores escolas pú-
blicas dos Estados Unidos de então, largamente fi-
nanciadas pelos moradores mais ricos do distrito. A
comunidade polaca era muito forte nesta época, ao
ponto de estarem em circulação não um, mas cinco
jornais diários em polonês no começo dos anos 20.
O West Side é lar das comunidades italianas,
gregas, ucranianas e de ainda mais poloneses.
Aqui também se localizam a Faculdade de Far-
mácia de Chicago (então com cursos de medicina,
odontologia e farmácia) e o Parque Garfield. Esta
região possui alguns bairros com um longo histó-
rico de problemas socioeconômicos. Uma das ra-
zões seria a escolha dos imigrantes pela segurança
da casa própria em vez de perseguir a mobilidade
social através da educação, isto é, as crianças, para
ajudarem a pagar pela casa da família, saiam da
escola tão cedo quanto pudessem trabalhar por
um salário.
A região mais industrializada da cidade é o
South Side, e também aquela com a maior popu-
lação de afro-americanos, que mudaram-se para
a cidade durante a Grande Migração e tornaram
o distrito o ambiente urbano com a maior con-
centração de afro-americanos depois do Harlem
em Nova Iorque. Este é o chamado Cinturão Ne-
gro, uma região com cerca de 30 quarteirões, com
uma concentração de mais de 90% de moradores
negros. Em 1919, as animosidades entre a popu-
lação branca e os afro-americanos chegaram ao
limite com os eventos do Red Summer, em que
distúrbios civis varreram os Estados Unidos e ti-
veram um resultado sangrento em Chicago, onde
a população afro-americana decidiu lutar contra
as agressões dos brancos, gerando 38 mortos (28
afro-americanos, 15 brancos) e mais de 500 feri-
dos (dois terços deles afro-americanos).
Fora os afro-americanos, o South Side também
é lar de uma população de imigrantes italianos,
29
Granada de mão Mk 2
As primeiras versões dessas granadas produ-
ziam um silvo continuo após a retirada do
pino, além de chances de detonar imediata-
mente, tornando-a uma opção perigosa. A
fragmentação produzida pela explosão tem
uma área letal de cerca de 3 a 4 metros, mas
ferindo ou mesmo matando alvos desprotegi-
dos muito além desse alcance.
irlandeses e poloneses que se estabeleceram aqui
tão cedo quanto 1840. Lugares importantes do
South Side incluem o Porto de Chicago e vários
parques, herança da Feira Mundial de Chicago de
1893, realizada nesta região.
Estes quatro distritos são ligados pelo maior
sistema de trens urbanos dos Estados Unidos. Em
oposição ao sistema de metro de Nova Iorque, os
trens em Chicago cortam a cidade a céu aberto
e em muitos elevados, e o barulho da passagem
destes trens logo ao lado de edifícios residenciais
ou de escritórios se tornou uma marca registrada
de filmes noir com a cidade como cenário.
North Side Gang VS
The Chicago Outfit
Durante toda a década de 20 duas gangues
batalharam pelo controle do crime organizado
em Chicago: a irlandesa e polanesa North Side
Gang e a Cosa Nostra italiana representada pela
South Side Gang, mais tarde conhecida como The
Chicago Outfit.
A North Side Gang atuava em roubos de lo-
jas locais e gerenciando casas de apostas e com a
entrada em vigor da Proibição a gangue foi bene-
ficiada pelo fato de que quase todas as destilarias
da cidade se encontraram em seus territórios no
North Side, lhes dando a capacidade de produzir
boa cerveja e uísque de alta qualidade, enquanto
seus rivais da South Side Gang tinham que impor-
tar bebidas de baixa qualidade de fora da cidade.
Título

30
 Chicago
Liderada por Dean O’Banion, a North Side
Gang obtinha proteção política ao ajudar políticos
a cometerem fraude eleitoral, enquanto ganhavam
a admiração do público com uma larga campa-
nha publicitária que incluía largas doações para
orfanatos e distribuição de comida e empréstimos
para os pobres e desempregados. Em poucos me-
ses de Proibição eles consolidaram seu poder em
North Side com a ajuda do dinheiro do álcool.
Do outro lado o líder da South Side Gang,
Jim Colosimo, recusou seus membros a entrar
no negócio de venda de álcool, convencido que
prostituição, casas de apostas e extorsão seria o
suficiente, o que viria a causar sua morte, supos-
tamente a mando de Johnny Torrio, seu sobri-
nho, que havia sido trazido da Itália para ajudá-
-lo nos negócios. Torrio assumiu a gangue, com
Al Capone como seu Sotto Capo, e rapidamente
construiu um acordo com todas as outras gan-
gues dividindo toda Chicago em territórios para
a venda de álcool.
Ambas as gangues conviveram em relativa paz
até que, em 9 de novembro de 1924, depois de
repetidas ofensas de O’Banion contra Torrio, in-
cluindo a venda por meio milhão de dólares de
uma destilaria que O’Banion sabia que sofreria
uma batida da polícia para Torrio, que se encon-
trava na destilaria e foi preso, o líder da South
Side Gang ordenou que três homens assassinas-
sem O’Banion, marcando o início da guerra que
duraria anos.
Bastão de baseball
O bastão de baseball era usado para punições
ou assassinatos. Um golpe bem dado pode
quebrar uma perna ou esmagar um crânio.
A melhor parte é que andar por aí com um
destes é completamente legal e raramente a
policia vai sequer questionar o portador, ape-
sar da força letal que carrega, por se tratar de
um instrumento esportivo.
31
Em janeiro de 1925 Torrio sofreria uma tenta-
tiva de assassinato que quase o matou, depois da
qual ele se aposentou e se mudou para a Europa,
deixando o controle da South Side para Al Ca-
pone. O mais famoso dos gangsteres sofreu duas
tentativas de assassinato, mas foi bem sucedido em
matar o novo líder da North Side, Hymie Weiss.
Por outro lado, seus aliados, a Família Genna, fo-
ram destruídos pela North Side no processo.
Depois de mais alguns meses de assassinatos,
atentados a bomba e outras amenidades, uma
conferência de paz foi realizada, com Capone
e George “Bugs” Moran, então líder da North
Side junto com Vincent Drucci, comparecendo
e acertando uma paz que durou durante um bom
tempo, durante o qual uma pequena Guerra Fria
entre Capone e Moran seria travada, com roubo
de carregamentos de cerveja e pistas de corrida
de cachorros incendiadas até que Moran que-
brou definitivamente a paz ao ordenar o assas-
sinato de dois líderes sindicais aliados e amigos
pessoais de Capone.
Capone retaliaria durante o famoso Massacre
do Dia de São Valentin, durante o qual homens
da South Side vestidos como policiais metralha-
ram seis membros da North Side (mais um desa-
fortunado amigo de um dos gangsteres que por
acaso estava lá). Embora o ataque tenha falhado
em atingir seu alvo, George Moran, todos os mor-
tos eram experientes membros da North Side, que
entraria em decadência e seria eventualmente des-
truída pela Comissão durante a segunda metade
da década de 30.
Durante todo o período, assume-se que Ca-
pone sozinho estaria lucrando cerca de 100 mi-
lhões de dólares por ano com a venda de álcool.
Em valores atualizados, isto equivaleria a um lu-
cro de 1.2 bilhão de dólares anuais para Capone,
mas todo esse dinheiro acabaria por se tornar a
ruína do chefe do Chicago Outfit, que seria preso
em 1931 por sonegação fiscal através do trabalho
do lendário agente da Proibição Eliot Ness e sua
equipe de “Intocáveis”.
 Los Angeles
Los Angeles
Assim com toda a Califórnia, Los Angeles era
originalmente parte da Nova Espanha, a colônia
espanhola que, em 1821, se tornaria o México.
Durante a maior parte da sua história seria uma
cidade relativamente desimportante, só vindo a
adquirir notoriedade no século XX. Fundada
em 1781 por um grupo de 44 colonos, ela expe-
rimentaria um crescimento bastante modesto,
chegando a 650 moradores durante a guerra de
independência mexicana. Mais tarde, ainda sob o
governo mexicano, ela seria apontada como capi-
tal regional da Alta Califórnia.
O destino de cidade modesta começaria a mu-
dar com a revolução texana de 1836, que formou
a República do Texas, não reconhecida pelos me-
xicanos, que consideravam o Texas uma provín-
cia rebelde, a República Texana seria anexada aos
Estados Unidos em 1845 por pedido da mesma,
o que provocaria uma escalada do conflito entre
a então província rebelde e seu estado de origem
para uma guerra aberta entre EUA e México em
1846. Os EUA venceriam a guerra no decorrer
dos próximos dois anos, ocupando territórios
que viriam a formar a totalidade ou partes dos
atuais estados do Novo México, Nevada, Cali-
fórnia, Utah, Arizona, Colorado e Wyoming e
finalmente conquistando a capital mexicana e
forçando o governo derrotado a assinar o Tratado
de Guadalupe Hidalgo, pelos qual os EUA ad-
quiram os territórios ocupados ao norte em tro-
ca de um pagamento de 15 milhões de dólares e
de assumir as dívidas do governo mexicano para
com cidadãos estadunidenses.
A cidade passaria a crescer com a imigração es-
tadunidense, que substituiriam a população mexi-
cana local como principal etnia em toda a região,
intensificada com a chegada da ligação ferroviária
com a Costa Leste em 1876 e a descoberta de
petróleo em 1892, atingindo a marca de mais de
cem mil moradores em 1900, uma marca ainda
modesta quando comparada a outras grandes ci-
dades americanas da época como Nova Iorque e
Chicago. O que finalmente colocaria LA no mapa
foram duas indústrias: a do petróleo e a cinemato-
gráfica. No início da década de 1920, a cidade era
32
Smith & Wesson
“Triple Lock”
Com o nome oficial de S&W
.44 Hand Ejector 1st Model New
Century, este poderoso revólver de ação
dupla foi o primeiro revólver da S&W a
ser lançado no século 20, daí a designação
New Century. É conhecido por Triple Lock
por causa da terceira trava, considerada ne-
cessária devido ao poder destrutivo do calibre
.44 Special. É tida até hoje por entusiastas e
especialistas como um dos melhores revólve-
res já criados.
responsável por um quarto da produção mundial
de petróleo e, ainda mais impressionante, oitenta
por cento da produção cinematográfica mundial
(que logo chegaria ao pico de 90%!). A população
da cidade quintuplicou em 20 anos graças a isso,
indo de cem mil em 1900 para mais de quinhen-
tos mil em 1920.
Todo o dinheiro proveniente destas poderosas
indústrias manteria o pior da Grande Depres-
são fora da cidade, que atingiria a marca de um
milhão de habitantes já na segunda metade dos
anos 20, e coroaria esta explosão de prosperida-
de sediando as Olimpíadas de 1932. Em vez de
miséria, a Grande Depressão traria uma onda
de imigrações que aumentariam a tensão racial
na cidade, que elegeu como prefeito um antigo
membro da Ku Klux Klan em 1929 (ainda mais
surpreendente é que isto pode ser visto como uma
melhora, visto que o prefeito anterior era contro-
lado pela famosa City Hall Gang, uma poderosa
máquina de corrupção alimentada pela máfia). A
minoria mexicana era a mais expressiva, com sua
população triplicando entre 1920 e 1930, quando
atingiu cerca de cem mil habitantes, mas também
os negros formavam um grupo considerável, assim
como judeus, armênios, italianos, russos, chineses
e japoneses. Apesar da enorme migração que
acontecia, a prosperidade local evitou o surgimen-
to de favelas como em outros lugares durante a
Grande Depressão, em vez disto formando enor-
 Los Angeles
mes subúrbios que expandiram a cidade continu-
amente. Como uma mostra dessa prosperidade,
mais de um terço das residências de Los Angeles
eram de propriedade de seus próprios moradores,
enquanto no resto dos EUA a vasta maioria das
residências eram alugadas.
Além das indústrias do petróleo e cinemato-
gráfica, outras se fixavam na região, em especial
a nascente indústria aeronáutica que tinha na
cidade sua capital nos EUA, e o porto, o segun-
do mais movimentado dos EUA, era a porta de
entrada e saída da Costa Oeste dos EUA, com
toda essa prosperidade também garantindo que
o setor bancário se tornasse um dos maiores do
país à época.
As luzes de Hollywood
A vida cultural ganharia peso também com essa
prosperidade. Além das óbvias estrelas de cinema
e grandes produções cinematográficas, a cida-
de também passaria a contar com um Museu de
História Natural que tinha a maior parte da sua
coleção de fósseis locais, retirados dos poços de
piche presentes na região. Lá os visitantes podiam
se maravilhar com os enormes fósseis de animais
pré-históricos como tigres dentes-de-sabre, pre-
guiças gigantes e até mesmo os restos mortais de
uma mulher, enterrada no piche há cerca de milê-
nios até sua descoberta em 1914.
Os eventos musicais locais eram realizados no
Hollywood Bowl, inaugurado em 1921, que é um
anfiteatro a céu aberto em formato de concha (daí
seu nome de “bacia” [Bowl]). Apesar de parecer
Colt Police Positive
Famosa por ser uma das armas pre-
feridas de Al Capone, a Colt Police
Positive é um revólver de ação dupla com
tambor para seis munições e versões para os
calibres .32 e .38, sendo por muito tempo a
arma padrão de muitas forças policiais ameri-
canas a partir de 1907.
33
Cadillac V-16
Produzido sob encomenda e primeiro mo-
delo com motores de 16 cilindros a serem
produzidos nos EUA, este carro de luxo de
165 cavalos de potência atingia entre 130 e
160 km/h e possuía modelos de 4 e 5 luga-
res. Lançado em 1930, no inicio da Grande
Depressão, poucas unidades foram vendidas
até o fim da produção em 1938.
temeroso um local de eventos tão importante a
céu aberto, o clima da cidade é de muito sol, com
uma média de pouco mais de um mês de chuva
ao longo de todo o ano, sendo muito raro que o
calendário de eventos fosse afetado. O famoso
letreiro “Hollywood” que identifica a cidade na
imaginação mundial foi fundado em 1923, com os
dizeres “Hollywood Land Development” (apenas
após uma tempestade derrubar o letreiro original
em 1942 é que ele seria reconstruído apenas com
o dizer “Hollywood”) como um letreiro para um
projeto imobiliário de Harry Chandler, dono do
Los Angeles Times, em Hollywood Hills.
Em 1925 o Grand Olympic Auditorium foi
inaugurado como parte das preparações das Olim-
píadas de 1932, com a primeira de muitas lutas de
boxe que aconteceriam ali durante décadas em in-
tervalos de duas semanas. Na noite de estreia em 13
de janeiro, a luta dos pesos-pesados Jimmy McLar-
nin e Fidel LaBarba foi prestigiada por mais de dez
mil pessoas, entre elas o lendário campeão mundial
dos pesos pesados Jack Dempsey e sua esposa, a es-
trela de Hollywood Estelle Taylor.
Até a construção do hoje famoso Chinese The-
ater em 1929, o cinema de escolha para a premiere
das grandes produções de Hollywood era o Million
Dollar Theater, aberto em 1918. Ambos represen-
tam duas eras do entretenimento em Los Angeles.
Durante o início do século, o lugar onde aconte-
ciam as grandes estreias das produções de cinema
 Los Angeles

Como ganhar dinheiro como um homem de honra

Enquanto organização criminosa, uma Família funciona de maneira muito parecida com uma corpora-
ção, com várias “empresas subsidiárias” atuando em diferentes ramos, e, exatamente como uma corpora-
ção, alguns destes ramos podem até estar de acordo com a lei! Os negócios legítimos de uma máfia são
tão diversos quanto possível e funcionam normalmente, servindo tanto de fachada quanto de centro de
lavagem de dinheiro sujo, e podem muito bem ser tão lucrativos quanto possível. Mas é fato que a maior
parte do faturamento vem de operações ilegais.
A imaginação é o limite quando se trata de atividades ilegais que se pode fazer para ganhar dinheiro, e a
decisão de uma Família sobre entrar para determinado negócio ilegal é uma simples conta de custo-be-
nefício. Se o dinheiro é bom, não há praticamente nada que uma Família não faça por dinheiro. A seguir,
você vai encontrar uma breve lista de atividades criminosas típicas da época da Proibição.
Agência de Apostas: as agências de apostas, ou casas de aposta como também são chamadas, funcionam
mais como uma atividade burocrática, sem o glamour dos cassinos. Uma agência pode aceitar todo tipo de
apostas, algumas trabalham com apostas esportivas enquanto outras com loterias, mas o importante é que as
chances sejam sempre controladas para ficarem a favor da casa. Por isto, Famílias com agências de apostas se
envolvem também com fraude e extorsão para controlar resultados esportivos a seu favor, quando possível.
Bordel: talvez a prostituição seja a profissão mais antiga do mundo, mas logo que a primeira prostituta
atendeu o primeiro cliente, o primeiro cafetão apareceu para coletar a sua parte. Na década de 20 o
controle das redes de prostituição rendia centenas de milhares de dólares por si só e era uma parte impor-
tante das operações de qualquer Família, pois era um excelente ponto de venda de álcool e drogas, além
de ser uma fonte de material para extorsão. E o melhor de tudo é que um bordel, dependendo do estado
e condado, podia até mesmo ser um negócio legítimo!
Cassinos: assim como bordéis, os cassinos controlados por uma Família são mais do que apenas o lucro
dos jogos de azar que acontecem em seus salões, que não é desprezível, mas também pontos de venda de
álcool, drogas e outros produtos ilícitos.
Contrabando: o contrabando em si é uma fraude fiscal, onde se evita pagar impostos sobre um produto,
mas dependendo da natureza do produto, como armas pesadas, álcool e outros produtos ilegais, o con-
trabando pode ser o único meio de se obter determinados produtos para suprir outras operações de uma
Família. Também pode ser ele mesmo um negócio em si, com determinados capos que se especializam
em operações de contrabando, terceirizando seus serviços para diversas Famílias e criminosos aliados que
pagam caro pelo serviço.
Extorsão: uma das principais atividades de qualquer Família é a extorsão, que pode vir em diferentes
sabores, sendo o mais tradicional a extorsão em troca de “proteção” para negócios locais. Outra bastante
comum era a infiltração de sindicatos de trabalhadores, para então convocar greves e extorquir dinheiro
dos patrões em troca do fim das mesmas. Nem sempre a extorsão visava vantagens econômicas, era co-
mum obter material comprometedor contra políticos, policiais, juízes, promotores, empresário e outras
pessoas de interesse para usar como vantagem de acordo com a situação.

era o distrito Broadway Theater, na área central de
Los Angeles, que seria coroado como tal com a
construção do Million Dollar Theater, mas a par-
tir da metade dos anos 20 os cinemas começariam
a se mudar para Hollywood, com a construção
do Chinese Theater confirmando a hoje lendária
Hollywood Boulevard como o centro internacional
da indústria do cinema. A Calçada da Fama só será
criada na década de cinquenta e não faz parte da
paisagem do período da Proibição.
Além de todos estes lugares lendários e de alta
classe, cinemas e casas de shows menores se mul-
tiplicavam por toda a cidade, com destaque para
Chinatown, que concentrava a maior parte dos
cassinos ilegais e casas de prostituição da cidade.
Todos estes lugares, claro, contavam com amplos
estoques de álcool durante todo o período da
Proibição. Tudo abastecido pelas forças do crime
organizado na Califórnia.

34
 Los Angeles

Como ganhar dinheiro como um homem de honra

Falsificação: um negócio bastante complexo, mas bastante lucrativo, era o de falsificação. Poucas Famílias
atuavam nele, pois atraia grande atenção das autoridades e exigia mão de obra altamente especializada,
mas a produção de dinheiro falso não era uma atividade estranha assim como a falsificação de títulos da
dívida americana que eram então revendidos para investidores ingênuos. Muito mais comum era a falsi-
ficação de documentos de identificação, que tinha mercado entre a própria população de criminosos, que
pagavam bem para usá-los em ações diversas, mas era uma atividade de baixo lucro quando comparada
com outras, sendo deixada normalmente a cargo de associados de pouco valor.
Fraude: outro clássico de múltiplos sabores, a mais comum sendo a fraude financeira com os chamados
esquemas de pirâmide, mas também se fazia fraude de seguros, fraude fiscal e a fraude de saúde. Esta últi-
ma era particularmente mal vista quando aplicada contra membros da comunidade, pois envolve a venda
de remédios falsos para pessoas doentes, sendo mais aceito que se fizesse isto apenas fora da comunidade
que servia de base para a Família.
Lavagem de Dinheiro: a mais importante atividade em qualquer Família é a lavagem do dinheiro sujo
de atividades ilegais. Basta lembrar que o mais famoso mafioso de todos os tempos, Al Capone, acabou
sendo preso justamente por fraudar o imposto de renda! Por esta razão, a maioria das Famílias mantém
uma série de negócios legítimos através dos quais eles lavam parte de seu dinheiro através de fraude fiscal.
Apesar disto, o intenso escrutínio das autoridades somada ao intenso fluxo de dinheiro sujo torna esta
uma atividade difícil, e por isto algumas Famílias acabam se especializando em lavar dinheiro, cobrando
um porcentual do dinheiro lavado para outras Famílias em troca de seus serviços.
Tráfico de Drogas: nesta categoria entra o contrabando e a venda de álcool, praticada por quase todas as
Famílias, mas também de ópio, heroína e outras drogas ilegais já durante a Proibição (cocaína e anfeta-
minas eram vendidas em qualquer farmácia nesta época). O envolvimento com qualquer coisa além do
álcool era extremamente mal visto por praticamente todos na Cosa Nostra, com punições exemplares
para quem tentasse “vender esse veneno na nossa comunidade”. As razões principais para isto eram duas:
a perda de apoio popular e o enorme aumento do escrutínio das autoridades. Ou seja, drogas faziam
com que a máfia perdesse todo o seu ar de “homens de bem” tão bem construído ao longo de décadas,
tornando seus membros simples criminosos comuns.

As sombras de Hollywood
No início do século, o crime organizado em
Los Angeles era dividido entre várias gangues
de rua, com a mais proeminente destas sen-
do a Família Matranga, criada por familiares
de Charles Matranga, fundador da Famí-
lia de Nova Orleans. Eles tinham um
negócio legítimo na venda de frutas, mas
usavam de ameaças, violência, extorsão e Duesenberg
incêndios criminosos para controlar o distrito Model J
Plaza, centro da comunidade italiana em Los An-
geles. Entre 1906 e 1917 os Matranga cresceram Lançado em 1929 e produzido sobre en-
em poder através de um acordo com a polícia, comenda, é um dos carros mais rápidos do
para quem eles forneciam informação sobre seus período, cujo motor V-8 de 265 cavalos de
inimigos em troca de imunidade para os crimes potência atingia a impressionante velocidade
máxima de 192 km/h. Todo esse poder tinha
da família. Mas em 1917 o Don da Família Ma-
um custo exorbitante: o modelo mais comple-
tranga, Orsario “Sam” Matranga, e seu sucessor
to chegava a custar 25 mil dólares!
Pietro “Peter” Matranga foram assassinados em

35
 Los Angeles
Ford T
Lançado em 1908, o Ford T era seguro, con-
fiável, fácil de dirigir e de consertar e, princi-
palmente, barato, principalmente a partir de
1913, quando Ford implementou o conceito
de linha de montagem e fez o preço despen-
car. Em 1927, último ano que foi produzido,
um Ford T novo custava 290 dólares. Tinha
espaço para até 5 pessoas e seu motor de 20
cavalos de potência atingia a velocidade má-
xima de 75 km/h.
um intervalo de 33 dias, supostamente por Mike
“Rizzo” Marino, um aliado de Joseph Ardizzone,
que possuía uma desavença com os Matranga que
vinha desde 1906 (e que supostamente tinha sido
“resolvida” em 1914). Embora Tony Buccola, Don
posterior dos Matranga, tenha conseguido matar
Mike “Rizzo” em 1919, os anos de violência ar-
ruinaram a Família, que entraria em decadência
com o início da Proibição e desapareceria por
completo em 1930 com o misterioso desapareci-
mento de Buccola.
A guerra entre os Ardizzone-Matranga deu a
oportunidade para Vito Di Giorgio se mudar para
Los Angeles em 1920, vindo de Nova Orleans, ele
era primo de Giuseppe Morello, primeiro líder da
Família Morello, que mais tarde se tornaria a Fa-
mília Luciano, umas das Cinco Famílias de Nova
Iorque e a fundadora da Comissão. Além disso,
mantinha fortes conexões com outros mafiosos de
Chicago, Colorado e Nova Orleans, e conseguiu
colocar alguma ordem em Los Angeles até ser
assassinado enquanto cortava o cabelo em 1922.
Seu sotto capo Rosario DeSimone assumiu a posi-
ção de Don até decidir deixar o cargo em 1925 em
favor de Joseph Ardizzone, que fundia sua Família
a de DeSimone e assim fundava a Família de Los
Angeles, a mais poderosa das Famílias da cidade.
36
Curiosamente, durante a maior parte dos anos
20, não era a Cosa Nostra a organização crimi-
nosa mais poderosa de Los Angeles, mas sim a
chamada City Hall Gang. A gangue era mais
ou menos organizada em torno de Kent Kane
Parrot, Charles H. Crawford e “Albert” Marco
Albori. Parrot detinha enorme poder político
e influência sobre George E. Cryer, prefeito de
Los Angeles entre 1921 e 1929, além de prati-
camente controlar o departamento de polícia da
cidade, fazendo transferências de oficiais sem
nem mesmo consultar o chefe de polícia, ele agia
para proteger criminosos a pedido de Charles H.
Crawford, dono de inúmeros cassinos e bordéis
na região que possuía ótimas conexões políticas,
especialmente Albert Marco. Assim, Parrot era
o poder político, acessível através das conexões
de Crawford, com Albert Marco sendo o mais
poderoso entre os criminosos que o utilizavam.
Apesar do poder, e de ser chamada de gangue
pelos jornais, ela não era nem de perto tão orga-
nizada quanto a Cosa Nostra, e começou a cair
após 1928, quando Marco foi preso e a Família
de Los Angeles iniciou uma guerra pelo poder
contra a City Hall Gang, que estava decaindo a
olhos vistos. Em 1929, Cryer decidiu não mais
concorrer a prefeito, e Parrot decidiu se aposen-
tar da vida pública, se mudando de Los Ange-
les. A Família de Los Angeles acabaria saindo
vitoriosa com a eliminação de Tony Buccola, da
Família Matranga, em 1930 e de Crawford, da
City Hall Gang, em 1931, e Ardizzone se torna-
ria a figura mais importante do crime organizado
na cidade.
No entanto, esse pico de poder duraria muito
pouco, pois Ardizzone se recusava a aceitar or-
dens da recém-fundada Comissão. Ele desapare-
ceu misteriosamente em 1931, após ter sobrevi-
vido duas tentativas de assassinato nas semanas
anteriores, e seu corpo nunca foi encontrado. Seu
sotto capo Jack Dragma assumiria a posição de
Don em seu lugar e fez as pazes com a Comissão,
que o aceitou como membro, iniciando o período
de maior poder e prosperidade da Família de Los
Angeles em toda a sua história. Dragma domi-
naria a Família por vinte e cinco anos, até sua
morte em 1956.
 Regras do Jogo
Regras do Jogo
As regras são a estrutura que permite aos jo-
gadores narrarem uma história de uma maneira
direcionada, é com elas que Cosa Nostra se di-
ferencia de uma brincadeira de contar histórias
em volta da fogueira, e é com elas que a narrativa
encontra as histórias da máfia. Afinal, sem um có-
digo de honra, qual a diferença entre um mafioso
e um reles criminoso?
Criação da Máfia
Em Cosa Nostra os jogadores devem criar, em
conjunto, a Máfia com a qual irão contar uma his-
tória de glamour, honra e violência.
A princípio, os jogadores definem pontos-cha-
ve da Máfia que estão criando, começando pelo
jogador mais velho para os mais novos (respeite os
mais velhos, garoto, seus pais nunca lhe ensinaram
isto?). A fila segue até que tenham sido definidos
seis (6) pontos-chave da Máfia dos jogadores.
Os pontos-chave então devem ser divididos en-
tre as três funções narrativas do jogo: Músculos,
Negócios e Legitimidade. Uma função narrativa
determina a forma como seus problemas serão re-
solvidos dentro do jogo. Músculos representa a for-
ça dos soldados e a capacidade de intimidação da
sua Máfia. Negócios é a força financeira e a capaci-
dade de influência através de subornos, enquanto
Legitimidade representa quanto a sua Máfia conta
com o carinho e o respeito da comunidade onde
está instalada.
Para cada ponto-chave que for colocado numa
função narrativa o valor desta é aumentado em
um (1). Sendo estes pontos-chave os pilares do
valor de cada função narrativa, se durante o jogo
um ponto-chave de alguma maneira for destruído
ou deixado de lado, a Máfia perde um ponto na
função narrativa em que ele estava alocado. Não
mais do que quatro (4) e não menos do que um
(1) ponto-chave deve ser alocado em cada função
narrativa durante a criação da Máfia. Caso não
haja consenso sobre a alocação usa-se a mesma
lógica da definição dos pontos-chave, com o jo-
gador mais velho iniciando a alocação de um pon-
to-chave e os mais novos definindo os seguintes.
37
Após a alocação, começa a primeira rodada de
narração em Cosa Nostra. Esta rodada, chamada
Nascimento, é a única que funciona sem testes,
mas também a única com limitações claras, já que
cada jogador que escolher narrar uma cena deve
obrigatoriamente usar ela para explicar como um
ponto-chave se encaixa dentro de uma função
narrativa. Todos os jogadores podem narrar suas
próprias cenas, e não há problema em narrar mais
de uma cena para um ponto-chave, mas cada pon-
to-chave deve ter pelo menos uma cena narrada
pelos jogadores.
Exemplo: Adão, Felipe, Jairo, João e Rangel co-
meçam a criação da sua Máfia. Como é mais velho,
Rangel decide que o primeiro ponto-chave será “Ita-
lianos”, seguido por Jairo, o segundo mais velho, que
define “bebidas” como um ponto-chave, e assim em
diante até o limite de seis (6) pontos-chave. Como há
cinco jogadores a fila volta de volta ao mais velho, e
Rangel define o último ponto-chave. Caso houvesse
mais de seis jogadores, os mais novos não teriam di-
reito a definir um ponto-chave, ei!, quem disse que é
fácil ser o caçula da família!? Ao fim, ficam definidos
os seis pontos-chave da Máfia: “Italianos”, “bebidas”,
“jogo”, “assassinato”, “armas” e “amizade”.
Ford A
Em 1925 as fábricas da Ford pararam por
dois anos enquanto as linhas de produção
eram adaptadas do modelo T para o novo
modelo A, lançado em 1927. Com visual e
especificações modernas, o modelo manti-
nha o que fez o Ford T um sucesso: ser con-
fiável e barato. A versão básica custava 500
dólares, e mesmo a versão mais cara chegava
a apenas 1,2 mil dólares. O motor de quatro
cilindros tinha apenas 40 cavalos de potência
que davam ao veículo uma velocidade máxi-
ma de 105 km/h.
 Regras do Jogo
Terminada a definição de pontos-chave, os jogado-
res não conseguem definir por consenso onde alocá-los,
então o mais velho, Rangel, decide alocar “Italianos”
em Legitimidade, já Jairo coloca “armas” em Múscu-
los, e Adão coloca “bebidas” em Negócios, e assim por
diante até que a fila volte a Rangel, que termina por
colocar “assassinato” em Legitimidade. Com isto, as
alocações ficam assim: “armas” e “amizade” em Mús-
culos, “jogo” e “bebidas” em Negócios e “Italianos” e
“assassinato” em Legitimidade.
Durante a primeira rodada de narrativa, chama-
da de Nascimento, cada ponto-chave recebe pelo menos
uma cena narrada pelos jogadores, que podem narrar
quantas quiserem até partir para o próximo passo.
Rangel narra duas cenas. Primeiro, ele narra como
“Italianos” contribui para a Legitimidade da Máfia,
pois a Máfia nasceu com o jovem Dom Giovanni, um
imigrante italiano que amealhou respeito de seus con-
terrâneos com um ato do passado. Em seguida ele nar-
ra este ato do passado, um “assassinato” de um crimi-
noso que extorquia os imigrantes italianos na cidade.
Jairo narra uma cena em que Dom Giovanni abre
um bar onde vende “bebidas”, mas que é brutalmente
fechado pela polícia quando da instauração da Lei Seca.
Sem desistir, o Dom começa a destilar bebidas num po-
rão e a vendê-las escondido no seu, agora, restaurante.
Já Adão prefere narrar como um grupo de policiais
começa a beber no restaurante do Dom, que começa
uma grande “amizade” com esses policiais. Alguns de-
Ford Tt
Este caminhão produzido pela Ford custa-
va apenas 380 dólares e, carregado com até
1 tonelada de carga , atingia entre 24 e 35
km/h. Passou a ser vendido a partir de 1918
e era muito durável, apesar de lento se com-
parado com outros caminhões da época.
38
Um aviso importante
Pode parecer tentador, à primeira vista, concen-
trar todos os pontos-chave numa única função
narrativa e obter o maior valor nela, mas isto é
perigoso. Algumas Cartas da Lei obrigam os jo-
gadores a utilizar determinada função narrativa
durante algumas cenas ou diminuem tempora-
riamente os valores de alguma função, fazendo
com que mais e mais Cartas da Lei sejam sa-
cadas e a situação da Máfia dos jogadores fique
cada vez mais complicada.
les saem da polícia anos mais tarde e vem trabalhar
com o Dom, outros se mantêm dentro da corporação,
fornecendo ajuda e proteção à família de Dom Gio-
vanni em nome dos velhos tempos.
Felipe narra como o Dom decidiu conseguir “armas”
para enfrentar um grupo de criminosos que aterroriza-
va a região, tornando seu negócio uma verdadeira Cosa
Nostra quando o extermínio dos criminosos acabou.
Por último, João narra como, para conseguir finan-
ciar as armas, o Dom começou a trabalhar com apostas
e “jogos”, e para isso teve que espancar e expulsar um
criminoso que já trabalhava com isto no bairro.
Os jogadores poderiam continuar narrando his-
tórias do passado da Máfia, mas como eles querem
ver a história seguir em frente, resolvem ir para o
próximo passo, o que nos leva à próxima sessão.
Estrutura Narrativa
A estrutura narrativa em Cosa Nostra é pré-de-
terminada. O que isso quer dizer? Devemos lem-
brar que as histórias da Máfia seguem um padrão,
e que Cosa Nostra tenta emular este padrão.
Ao contrário de outros jogos de RPG, Cosa
Nostra não é sobre a história de um único perso-
nagem, mas sobre a história da organização ma-
fiosa em si, composto por muitos personagens e
histórias, heróis e lendas, vilões e tragédias. E a
história de uma Máfia, salvo raros, muito raros ca-
sos, é a de um eterno clico de nascimento, ascen-
são, auge, e então uma virada de mesa seguida por
decadência e queda, que pode ou não ser seguida
de um renascimento.
Em Cosa Nostra esta é a estrutura narrativa do
jogo, que é dividido em rodadas narrativas onde
 Regras do Jogo
cada jogador tem a chance de narrar eventos e
histórias da máfia utilizando as funções narrati-
vas, que permitem resolver a história de diferentes
maneiras (trataremos disto mais a frente). A se-
guir vamos tratar de cada rodada narrativa com
suas particularidades.
O Nascimento: é a etapa em que os jogadores
criam a sua Máfia, definindo pontos-chave e alo-
cando-os nas funções narrativas, para então narrar
ao menos uma cena para cada ponto-chave. Nesta
rodada não há testes ou apostas a serem feitas, e
os jogadores são livres para narrarem suas cenas
como desejarem.
A Ascensão: nesta etapa, os jogadores come-
çam a fazer testes e apostas, estas últimas tem seus
valores dobrados quando são positivas, e caem
pela metade quando negativas, sendo que cada um
tem direito a narrar uma cena antes de partir para
a próxima rodada.
O Auge: quando atingem o auge as máfias
parecem praticamente imunes à lei, nesta rodada
narrativa, os jogadores tem a escolha de ignorar
uma Carta da Lei a sua escolha e efeitos negativos
de Cartas de Aposta são anulados. No entanto, o
auge é curto, e apenas metade dos jogadores (ar-
redondado para baixo) tem direito de narrar uma
cena nesta rodada. A decisão sobre quais jogado-
res devem narrar cenas fica a cargo dos próprios,
embora recomendemos uma partida rápida de
pôquer, ou usando o critério de idade se quiserem
uma resolução mais rápida.
A Virada de Mesa: os agentes da lei não ficam
dormentes para sempre, e a sociedade logo se re-
compõe da admiração pelo glamour do modo de
vida da Máfia. É chegada a hora da virada de mesa.
Nesta rodada, todos os jogadores devem narrar
uma cena, e toda cena deve ser resolvida com uma
aposta, cujos resultados numericamente positivos
são ignorados. Independente do resultado da apos-
ta, o jogador deve sacar uma Carta da Lei, e se a
aposta falhar, deve sacar duas Cartas da Lei.
A Decadência: a Máfia sobrevive, mas luta uma
guerra desigual contra a lei, seus líderes envelhe-
cem, morrem ou são presos. Nesta rodada, cada
jogador pode narrar uma cena: se decidir narrar,
ela será uma aposta, se não o próximo jogador a
narrar deve sacar uma Carta da Lei extra. Essa
39
penalidade se acumula, e pelo menos um dos joga-
dores deve narrar uma cena nesta etapa. Exemplo:
Rangel, Jairo, Adão e Felipe decidem não narra-
rem nesta etapa, deixando para João quatro Cartas
da Lei e a responsabilidade de fazer uma aposta.
João falha em seu teste e saca cinco Cartas da Lei
e uma Carta de Aposta, esta será uma cena para
ser lembrada...
A Queda: nada vive para sempre, mas as len-
das são lembradas. A Máfia chega ao fim, o capo
está velho demais para comandar, os jovens agem
como criminosos comuns, a polícia está em todo o
lugar recolhendo provas. Nesta última etapa, todo
jogador deve narrar uma cena final como uma
aposta, quaisquer efeitos negativos das Cartas de
Aposta são dobrados enquanto efeitos positivos
caem pela metade (arredondando para baixo),
e todos devem sacar uma Carta da Lei antes de
narrarem a sua cena final, ou duas, se falharem em
suas apostas.
O Renascimento: caso decidam continuar
o jogo, os jogadores podem reiniciar a estrutura
narrativa do começo, com a mesma Máfia (talvez
um ramo da família que havia migrado para outro
estado ou país?). O Renascimento equivale à ro-
dada de Nascimento, exceto que os jogadores não
precisam escolher pontos-chave desta vez nem
atrelar suas cenas a eles.
Testes, Apostas
e Funções Narrativas
Em Cosa Nostra os jogadores são livres para
criarem personagens, romances, tiroteios, propos-
tas irrecusáveis e outras cenas clássicas das histó-
rias de máfia. Toda rodada narrativa os jogadores
tem o direito de narrarem uma ou mais cenas, no
entanto esse poder não é irrestrito, pois os homens
da lei estão sempre à espreita.
Sempre que for narrar uma cena o jogador deve
determinar a que função narrativa ela pertence. As
funções narrativas são Músculos, Negócios e Legi-
timidade, conforme previamente comentado estas
três funções representam, respectivamente, a força
bruta e intimidatória, a influência financeira e a
força da omertà da Máfia dos jogadores.
Ao determinar a função narrativa, o jogador diz
a todos como, dentro do escopo daquela função
 Regras do Jogo
narrativa, pretende evitar que a lei interfira com a
sua cena, e então faz um Teste: rola um número
de dados de seis lados igual ao valor da função
narrativa utilizada, com uma margem de sucesso
variando conforme a rodada narrativa, durante a
Ascensão, qualquer 5 e 6 nos dados é considerado
um sucesso; no Auge, de 4 até 6; na Virada de
Mesa, Decadência e Queda, apenas um 6 garante
um sucesso. Se falhar, deve sacar uma Carta da
Lei, incluindo o elemento descrito na tabela den-
tro da cena que pretendia narrar.
Exemplo: Adão decide que irá legitimizar uma
casa de apostas junto a comunidade, para impedir
que denúncias sejam feitas a polícia. A Máfia do
grupo de Adão tem um valor 2 (dois) na função
narrativa Legitimidade, e agora eles estão na fase
de Ascensão, de forma que Adão rola dois dados
de seis lados e obtém um 2 e um 5, garantindo
sucesso no seu Teste e narrando a cena sem inter-
rupções. Se os valores nos dados fossem menores,
Adão teria de sacar uma Carta da Lei e incluído a
situação descrita dentro da sua cena.
Uma Aposta funciona da mesma maneira, mas
independente do resultado do Teste o jogador irá
sacar uma Carta de Aposta. Cartas de Aposta po-
dem ser positivas ou negativas, alguns exemplos
de seus efeitos incluem aumentar ou diminuir va-
lores das funções narrativas, permitir ignorar uma
Carta da Lei a escolha do jogador nesta rodada
narrativa ou fazer todos os jogadores sacarem uma
Carta da Lei extra nas suas cenas.
Apesar de voláteis, as Cartas de Aposta são a
única maneira de aumentar os valores das funções
narrativas, e os jogadores fariam bem em tentarem
Apostas quando tem menos chances de obterem
resultados muito negativos, nas rodadas de Ascen-
são e Auge.
Exemplo: Jairo decide que, já que estão durante
a fase de Auge da Máfia, é seguro fazer uma apos-
ta. Ele saca uma Carta de Aposta e faz um Teste,
mas falha neste, tendo de sacar uma Carta da Lei
também. A Carta de Aposta define que, caso uma
Carta da Lei seja sacada na mesma cena que ela,
o jogador deve perder um ponto de Músculo. Se
Jairo não tivesse falhado em seu Teste, a Carta
de Aposta concederia a ele dois pontos extras em
Negócios. Jairo discute com os outros jogadores e
juntos eles decidem utilizar a habilidade da fase
40
O que acontece quando uma
função narrativa chega à zero?
Ainda é possível narrar cenas com aquela função
narrativa, mas sem dados, o que significa que o
Teste sempre falhará e a polícia, na forma das
Cartas da Lei, sempre irá interferir com as cenas
dos jogadores naquela função narrativa.
Além disso, se todas duas ou mais funções nar-
rativas chegarem a zero durante a fase de De-
cadência ou Queda, a Máfia é debandada pela
polícia e o jogo acaba aí, com uma rodada final
de narração, sem Testes, para os jogadores defi-
nirem como aconteceu o fim da sua Máfia.
de Auge de ignorar uma Carta da Lei, fazendo
com que a Carta de Aposta aumente em dois
pontos a função narrativa Negócios, e evitando a
perda de um ponto em Músculos.
Traições e Assassinatos
A qualquer momento durante a cena de um jo-
gador, daqui para frente denominado Don, outro
jogador, daqui para a frente denominado Traidor,
pode anunciar que vai tentar uma Traição, isto é,
tentar tomar o controle da cena do Don. Isto pode
ser feito uma vez por rodada narrativa por um
mesmo jogador, e nunca contra o mesmo alvo de
uma traição já ocorrida na rodada anterior.
Uma traição é resolvida através de uma Dispu-
ta de Poder, em que o Don sacará uma Carta de
Aposta e o traidor uma Carta da Lei. O jogador
que obter o número mais alto na sua carta (valetes,
damas, reis e ases valem 11, 12, 13 e 1, respec-
tivamente) será o vencedor da disputa de poder,
com a vantagem do empate pertecendo ao Don.
No entanto, qualquer dos dois pode declarar um
Assassinato e sacar uma Carta de Aposta (para o
Don) ou da Lei (para o traidor) extra para tentar
bater o valor alcançado pelo inimigo. Nenhum jo-
gador pode declarar mais de um assassinato por
disputa de poder.
Se o traidor vencer a disputa, tomará o contro-
le da cena para si, recebendo também as Cartas
da Lei, para serem usadas a qualquer momento
durante o jogo pelo traidor, na sua ou nas cenas
de outros jogadores, enquanto o Don manterá as
Cartas de Aposta para si, para usar a qualquer mo-
 Regras do Jogo
mento durante o jogo, na sua cena ou na de outros
jogadores. Se o Don vencer, o mesmo acontece,
mas o controle da cena continua em suas mãos.
No entanto, quando alguém declarar um assas-
sinato e perder a disputa de poder, tudo irá se tor-
nar mais complicado para esta pessoa. Que deve
então aplicar todas as suas cartas ganhas ime-
diatamente assim que aplicável e com quaisquer
efeitos negativos duplicados e efeitos positivos
anulados.
Exemplo: Jairo decide anunciar uma traição
durante a cena de Adão, por considerá-la pou-
co atrativa da maneira que está sendo manejada.
Depois de alguns xingamentos saudáveis em uma
situação como esta, ambos sacam uma carta cada,
Adão consegue do baralho de aposta um 10 de
Paus, é um bom número, por outro lado, Jairo
conseguiu apenas um 6 de Copas do baralho da
lei, um resultado medíocre. Ele considera que tem
uma boa margem de segurança e declara um as-
sassinato, sacando uma segunda Carta da Lei, ob-
tendo um Rei de Ouros, somando 19! Adão perde
o controle da cena, mas obtêm a Carta de Aposta
para usar quando bem entender (inclusive não as
jogando até o fim do jogo, se julgar adequado).
Adão poderia ter tentado também declarar um
assassinato, mas como o resultado necessário se-
ria alto, achou melhor ficar com a carta extra que
tinha adquirido. Jairo tomou o controle da cena e
ainda obteve duas Cartas da Lei para usar quando
quiser deixar as coisas mais emocionantes!
Dicas de narrativa
Uma partida de Cosa Nostra pode ser difí-
cil para jogadores de RPG acostumados com a
perspectiva gamista de jogos como Dungeons &
Dragons, Tormenta RPG e 3D&T. Nestes jogos,
você descreve as ações de um personagem, e cabe a
apenas um jogador, geralmente chamado de mes-
tre ou narrador, a tarefa de descrever cenários e
outros personagens que não os controlados pelos
jogadores, isto é, o resto do mundo.
Em Cosa Nostra optamos por uma perspectiva
narrativista, onde o controle narrativo sobre a his-
tória, o cenário e os personagens é dividido entre
todos os jogadores, que trabalham em conjunto
para criar uma história memorável de ambição,
41
violência e glamour. Como diabos você vai fazer
isso, no entanto, é o que tentamos responder aqui.
As cenas em Cosa Nostra funcionam como
aquelas de um filme, ou, algumas vezes, como um
conjunto destas, conectadas por um denominador
comum. Em primeiro lugar, você deve estabelecer
suas bases. 1. Qual o ambiente em que a cena se
passa? 2. O que está acontecendo ao redor deste
ambiente? 3. Que personagens estão envolvidos
na cena? 4. Eles estão ali com que finalidade?
Respondidas estas perguntas, haverá uma boa no-
ção de onde está procurando chegar.
Exemplo: “No escritório privado de Don Lucci em
sua casa (1), durante as festividades de aniversário
de seu filho mais novo (2), o Don, seu consiglieri e
um guarda-costas ouvem Giuseppe, o famoso cantor e
afilhado do Don (3) pedir ao padrinho se ele poderia
lhe ajudar a conseguir um contrato com um cassino de
Las Vegas (4)”.
Estabelecendo estes elementos temos uma no-
ção mais clara de onde estamos e podemos então
decidir para onde a história irá a partir daí. Inde-
pendente de sua intenção, o que os outros jogado-
res realmente querem saber é a resposta para um
par de perguntas: como e por quê? Isto é, como
será a resolução desta cena e por quais motivos.
Exemplo: “Giuseppe comenta que sua carreira está
indo bem, mas seria muito bom ter uma garantia para
os anos duros da velhice que se aproximam, ele diz que
ouviu falar que alguns contratos de Las Vegas pagam
bem durante um longo período de tempo”.
“Don Lucci entende o recado e diz que irá cuidar
disso com uns conhecidos de Nevada, e que o afilhado
deve ir aproveitar a festa, e lembrar-se de falar com
sua madrinha antes de ir embora”.
“O Don diz a seu consiglieri para falar com Bugsy
de Las Vegas e que assim que os recursos na Suíça es-
tiverem disponíveis para uso nos EUA, arranjar para
que Giuseppe venha trabalhar no hotel da Família,
afinal, é sempre agradável ter os bons companheiros
por perto”.
Nem todas as cenas precisam se passar em um
mesmo lugar, às vezes elas são uma sequência de
elementos que conectam-se para um fim comum
como, por exemplo, o conjunto de cenas que for-
mam a última etapa da história do passado de Don
Vito em O Poderoso Chefão 2. Para formar esse
 Regras do Jogo
conjunto de cenas você deve ter em mente dois
focos: fluídez e objetivo.
A fluídez é alcançada com a concatenação efi-
ciente das diferentes cenas, ou seja, apresentar
estas cenas numa sequência e de maneira a fazer
sentido e/ou surpreender os outros jogadores. Já o
objetivo é a necessidade de evitar divagações des-
necessárias. Não perca o tempo dos outros joga-
dores com aquilo que não seja importante ou in-
teressante para a história. Os jogadores podem até
estar interessados na relação entre o filho do Don
e a femme fatale, e gostaria de ouvir mais sobre a
sua visão sobre isto, mas descrever todo o flete dos
dois por quinze minutos é demais.
Exemplo: “A cena corta do escritório do Don para
Las Vegas, onde Bugsy, o chefe da máfia judia, tenta
negociar os favores em troca do contrato de Giuseppe.
Finalmente entendeu o motivo da atuação de Don
Lucci naquela cidade, um favor fácil de conceder, pelo
preço certo”.
“Do outro lado da cidade, o consiglieri assina o
contrato comprando muitas ações do hotel dos sócios
do Bugsy, todas elas, para falar a verdade. Será muito
mais fácil negociar agora que eles não precisam mais
daquele judeu”.
Compartilhando a narrativa
Quando um jogador obtém o controle nar-
rativo de uma cena ele é denominado, em Cosa
Nostra, como o Don. O Don tem controle total
sobre a sua cena e não precisa dividir este poder
com mais ninguém. A menos que deseje. Um Don
pode delegar funções para os outros jogadores na
narrativa de sua cena. As funções que um Don
pode delegar são organizadas de forma a emular
a estrutura de poder de uma Família, aumentando
assim a imersão para os jogadores, ao mesmo tem-
po em que mantém o ritmo de jogo inalterado.
Consiglieri: ao delegar a função de consiglieri
o Don dá ao jogador o poder de aconselhá-lo em
todas as suas decisões, mas não de efetivamente
decidir ou narrar qualquer coisa. Por um lado é a
função com mais liberdade criativa e por outro a
mais limitada. Apenas uma posição de consiglieri
pode ser delegada numa mesma cena.
Exemplo: Rangel fez de Adão seu consiglieri
nesta cena e decide narrar uma cena de negocia-
42
ção de uísque que acaba mal. Adão o aconselha a
fazer isto fora da cidade, num descampado, para
evitar os olhos curiosos e vítimas inocentes, além
de dizer que seria interessante que um dos crimi-
nosos oponentes consiga sobreviver e escapar, para
ser silenciado numa próxima cena. Rangel decide
fazer a cena no porto enquanto o uísque é descar-
regado, mas concorda com a sugestão de deixar
um dos criminosos sobreviver. O tiroteio ocorre e
o sobrevivente pula na água e fica por lá até todos
acreditarem que ele havia morrido e irem embora.
Sotto Capo: um jogador com esta função tem
toda a liberdade para narrar uma cena completa,
mas deve fazer isto seguindo quaisquer orienta-
ções gerais do seu Don como qual será a com-
posição do cenário, que personagens estarão en-
volvidos, como a cena irá começar ou terminar,
detalhes que devem acontecer, etc. Não existe um
padrão para quão detalhadas serão as orientações
do Don, podendo ser tão simples e geral como
“um tiroteio na noite” ou tão detalhado como “Na
festa do santo protetor do bairro deve acontecer
o assassinato dos três chefes do crime, já que os
homens estarão bêbados e descuidados por causa
da festividade, tudo deve acontecer como o plano,
exceto por um tiro de sorte que vai ferir mortal-
mente um dos irmãos do Don”. Além disso, um
Sotto Capo também pode nomear capos (estes com
a autorização do Don) e soldados para ajudá-lo
com uma cena. Apenas uma posição de Sotto Capo
pode ser delegada numa mesma cena.
Capo: esta posição funciona de forma similar
a um Sotto Capo, mas mais limitada. Em vez de
uma cena completa, o capo pode narrar, dentro
das orientações do Don ou Sotto Capo, parte de
uma cena, como “o tiroteio em que é ferido o ir-
mão do Don” ou “a morte de um dos chefes do
crime” da cena anterior. Capos tem a liberdade de
delegar funções de soldados com a autorização de
seu Sotto Capo.
Exemplo: Na sua vez de narrar Jairo sente que
não estão lhe faltando ideias, mas sim as palavras
para narrar bem a sua cena. Ele decide fazer de
Felipe o seu Sotto Capo e lhe dá as instruções ge-
rais, ao que Felipe pede então para nomear Adão
como seu Capo e narrar parte da cena, ao mes-
mo tempo em que nomeia os outros jogadores na
mesa como soldados para lhe ajudar com os diálo-
 Regras do Jogo

gos. Jairo não gosta das ideias de Adão, então nega
a Felipe a autorização para fazer dele um capo.
Felipe coloca Adão de soldado para lhe ajudar na
cena especifica com os diálogos, enquanto tenta
narrar toda a cena da melhor maneira possível
dentro das orientações de Jairo.
Soldado: esta posição é aquela com a menor
liberdade criativa, ainda que seja possível fazer
bastante com certa criatividade. Um soldado deve
ajudar com o diálogo de uma cena, fazendo papel
de um personagem especifico dentro de um con-
junto de diretrizes fornecidas pelo Don, Sotto Capo
ou Capo que delegou a ele esta função.
Exemplo: Felipe delega a Adão o papel do ir-
mão do Don baleado durante o tiroteio, o qual ele
irá interpretar durante a cena de despedida entre
os dois. Ele aponta para Adão que ele deverá evi-
tar falar qualquer palavrão, pois o personagem é
religioso e nunca fez isto na vida, e também deve
ser preocupar com a sua família. Fora isto Adão
tem liberdade para escolher como seu personagem
irá se comporta no diálogo, decidindo então que
o irmão irá dizer ao irmão no leito de morte que
tem um bastardo e implora para que ele cuide do
sobrinho no seu lugar.
outros elementos. Mesmo que isso signifique Don
Vito Corleone pilotando um robô steampunk para
acabar com as Cinco Famílias de Nova York. O
que particularmente acho muito legal1, mas, defi-
nitivamente, não se encaixa no gênero.
Quando você descrever uma cena ou palavra-
-chave tente se inspirar em filmes como O Pode-
roso Chefão, Os Bons Companheiros e Scarface (entre
outros da nossa lista de sugestões). Se pretender
algo mais maluco, tente conversar com seus co-
legas primeiro ou insira elementos que lembrem
filmes como Fargo: Uma Comédia de Erros ou Jo-
gos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes em vez de
Marte Ataca! ou Cowboys & Aliens. Ou talvez seja
interessante você pensar em jogar outra coisa nes-
te dia, o importante é não deixar a sua vontade
de sair do gênero estragar a diversão dos outros
jogadores.

O Contrato Social
Quando você sentar para jogar uma partida de
Cosa Nostra com seus amigos existe um contrato
social implícito para essa atividade: não chegue
atrasado, não interrompa quando os outros estive-
rem falando, não tente ser o centro das atenções,
não seja rude, não fique mexendo no smartphone
nem atenda o celular no meio do jogo a menos
que seja uma emergência. Na maior parte das ve-
zes não é como se você precisasse de um cartaz
com as “regras da casa” porque elas não são nem
um pouco diferentes do que se espera das pessoas
em qualquer atividade social.
Uma partida de Cosa Nostra tem outra cláusula
neste contrato social que não envolve evitar ser
um babaca, que é o compromisso com o gêne-
ro. Cosa Nostra é sobre contar histórias sobre a
Máfia e nos esforçamos para apresentar um sis-
1 Se você também ama robôs gigantes steampunks não deixe
tema que ao mesmo tempo direciona-a em uma de conferir o jogo de miniaturas e cenário de RPG War-
estrutura clássica de filmes do gênero e deixa aos machine/Reinos de Ferro (este último trazido ao Brasil pela
jogadores liberdade completa para criar todos os Jambô Editora).

43

Espadas
+2 em Músculos ou –1 na função
narrativa apostada caso seja saca-
Ás
da uma Carta da Lei simultane-
amente.
+1 em Músculos ou –2 na
função narrativa apostada caso
2
seja sacada uma Carta da Lei
simultaneamente.
Os próximos dois Testes ou
Apostas devem ser realizados
3
utilizando a função narrativa
Músculos.
Os próximos quatro Testes ou
Apostas devem ser realizados
4
utilizando a função narrativa
44
Músculos.
5 +1 em Músculos.
6 +2 em Músculos.
7 –1 em Músculos.
8 –2 em Músculos.
Saque uma Carta da Lei, elas
9 ficam na sua mão até que decida
usá-las, na sua vez ou não.
Os próximos dois Testes ou
Apostas não podem ser realiza-
10
dos utilizando a função narrativa
Músculos.
+4 em Músculos durante os
Valete
próximos dois testes.
Permite ignorar uma Carta da
Dama Lei advinda de uma falha num
teste de Músculos.
Rei +3 em Músculos.
Cartas de Aposta
Ouros
+2 em Negócios ou –1 na função
narrativa apostada caso seja
sacada uma Carta da Lei simul-
taneamente.
+1 em Negócios ou –2 na função
narrativa apostada caso seja
sacada uma Carta da Lei simul-
taneamente.
Os próximos dois Testes ou
Apostas devem ser realizados
utilizando a função narrativa
Negócios.
Os próximos quatro Testes ou
Apostas devem ser realizados
utilizando a função narrativa
Negócios.
+1 em Negócios.
+2 em Negócios.
–1 em Negócios.
–2 em Negócios.
Saque uma Carta da Lei, elas
ficam na sua mão até que você
decida usá-las, na sua vez ou não.
Os próximos dois Testes ou
Apostas não podem ser realiza-
dos utilizando a função narrativa
Negócios.
+4 em Negócios durante os
próximas dois testes.
Permite ignorar uma Carta da
Lei advinda de uma falha num
teste de Negócios.
+3 em Negócios.
Copas
+2 em Legitimidade ou –1 na
função narrativa apostada caso
seja sacada uma Carta da Lei si-
multaneamente.
+1 em Legitimidade ou –2 na
função narrativa apostada caso
seja sacada uma Carta da Lei
simultaneamente.
Os próximos dois Testes ou
Apostas devem ser realizados
utilizando a função narrativa
Legitimidade.
Os próximos quatro Testes ou
Apostas devem ser realizados
utilizando a função narrativa
Legitimidade.
+1 em Legitimidade.
+2 em Legitimidade.
–1 em Legitimidade.
–2 em Legitimidade.
Saque uma Carta da Lei, elas
ficam na sua mão até que decida
usá-las, na sua vez ou não.
Os próximos dois Testes ou
Apostas não podem ser realiza-
dos utilizando a função narrativa
Legitimidade.
+4 em Legitimidade durante os
próximos dois testes.
Permite ignorar uma Carta da
Lei advinda de uma falha num
teste de Legitimidade.
+3 em Legitimidade.
Paus
+2 nas três funções narrativas ou
–6 na função narrativa apostada
caso seja sacada uma Carta da Lei
simultaneamente.
+1 nas três funções narrativas ou
–3 na função narrativa apostada
caso seja sacada uma Carta da Lei
simultaneamente.
Os próximos dois Testes ou
Apostas devem ser realizados
utilizando uma função narrativa à
escolha dos jogadores.
Os próximos quatro Testes ou
Apostas devem ser realizados
utilizando uma função narrativa à
escolha dos jogadores.
+1 nas três funções narrativas.
+2 nas três funções narrativas.
Regras do Jogo
–1 nas três funções narrativas.
–2 nas três funções narrativas.
Saque duas cartas da lei, elas
ficam na sua mão até que decida
usá-las, na sua vez ou não.
O próximo Teste ou Aposta feito
pelos jogadores falhará automa-
ticamente.
+4 em todas as funções narrativas
durante o próximo teste.
Permite ignorar uma Carta da Lei
advinda de uma falha num teste.
+3 nas três funções narrativas.
 Cartas da Lei
Espadas Ouros Copas Paus
Toda uma operação fechada,
O contador da Máfia desaparece O Don é desrespeitado pela polí-
A morte de um capo da Máfia em homens presos e matéria de
Ás com todos os rendimentos cia/político influente em frente de
um tiroteio. capa nos jornais de todo o
do mês! toda a comunidade.
estado!
Conflito com um bando crimi- Um trapaceiro rouba uma grande A Máfia é desafiada por um líder Um filho do Don entra para
2
noso comum. quantidade de dinheiro da Máfia. comunitário. a polícia!
Um assassino profissional se volta Uma político honesto age contra O Don é levado para interrogató- Um sermão contrário à Máfia
3
contra a Máfia. a rede de prostituição da Máfia. rio pela polícia pelo padre da comunidade.
O cobrador de apostas leva
Um dos capangas vira a casaca e Muitas pessoas vencem na casa O padre precisou ser silenciado,
4 uma surra de um estivador
testemunha para os federais. de apostas por coincidência. mas os fiéis perceberam.
do porto.
O centro de processamento Alguém tem colocado cimento O carro do Don é roubado.
Um grupo de capangas é encon-
5 de carros roubados da Máfia é nos pés de membros da família e De dentro da sua casa, rodea-
trado morto no porto.
desbaratado pela polícia. levado eles para nadar... da de capangas.
Um grupo de capangas é preso Os comerciantes se unem e recu- Os policiais amigos da Máfia são A família do Don se desinte-
6

45
por assassinato. sam-se a pagar por proteção! expostos e presos. gra em filhos desajustados.
Os filhos do Don brigam pela
Uma rixa interna faz vários O governo descobre a fraude dos Um dos capangas comete um
7 mesma mulher, dividindo a
Regras do Jogo

membros da família partirem. títulos da dívida dos EUA. horrível crime e é pego.
família.
Os advogados da família perdem O filho do Don perde uma O filho alcoólatra do Don causa Uma lei dá amplos poderes ao
8
muitas causas. enorme quantia no pôquer. problemas na comunidade. FBI para enfrentar a Máfia.
Um capo da Máfia comete O Don arranja uma mulher que O político financiado pela Máfia Um mau Don assume o
9
suicídio. ama diamantes... é preso pela polícia. controle da Máfia.
Uma rixa termina em massa-
Vários dos capangas se alistam
O fim da Lei Seca causa um Um cidadão comum enfrenta a cre quando invadem a festa
10 no exército para lutar na guerra
baque nos negócios da Máfia. Máfia e sai impune. da família com metralhadoras
na Europa.
nas mãos.
A casa de apostas da Máfia é A amante do filho do Don faz O filho do Don vira a casaca e
Valete O filho do Don é assassinado!
explodida! escândalo na festa da família. testemunha para os federais.
A mulher do Don morre em seu A mulher do Don foge com uma A mulher do Don vira a casa-
A mulher do Don é vista aos bei-
Dama lugar numa tentativa de assas- grande quantidade de dinheiro ca para se vingar e testemu-
jos com um homem mais jovem.
sinato! da Máfia. nha para os federais.
O Don é preso no meio do
O Don é pego por sonegação A amante do Don faz escândalo
Rei O Don é assassinado! cassino da família, rodeado
fiscal! na festa da família!
por prostitutas!
 Lista de apoiadores

Associado Capanga
Jean da Silva Daniel Martins
David Di Benedetto Rafael Lopes
Ronaldo Kluge Domingos Manoel de Sousa Aguiar Júnior
Tiago Machado Felipe PEP
Leonardo Maia Raul Bressan
Tendrils Entertainment Cristiano “Ronassic” Lagame
Ricardo Mallen João Guilherme
Vicente Pedro Eduardo Guimarães Dupim
Alan Silva Caio Gonçalves

Soldado Homem de Confiança

Coisinha Verde Reginaldo Dias dos Santos
Marlon Willian Teske Vitor Joenk
João Paulo de Sousa Pedro Dias
Wulfgar Beornegar Eduardo Amarães
pedro_htb cochise césar
Francis Diego Janio Lima
yurijlima Eduardo Espeschit
Milu Samuel Longo
Fabiano “Chikago” Saccol Thiago Bernardon
Marcus Alves Pedrosa Júnior Lucasoriebir
Álvaro Freitas Thiago Fernandes (@thiwtf )
Matheus Henrique César Luz David
Felipe Ferreira de Oliveira Rovalde
Max Santiago Leandro
Newton Rocha “Tio Nitro”
Paulo Diovani Goncalves

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 Lista de apoiadores

Capo Consiglieri
Alex Cuenca Martina Sales
Airechu Leishmaniose Deanovani
Jaolemes K.Wendell Fiametti
Bardovalfenda Bárbara Zanetti Pugliese
Marco Gilvan José Gouvêa
Odair de Paula Junior Rodrigo Allef Tolentino Nunes
Bruno Da Silva Soares Marcelo Carratu
GeisaS Joao Petry
Gabriel Gomes De Oliveira Ribas Mengarios
Bruno Alysson Bruno
Willferst Marcus “Gordo Zerohum” Santana
João Ricardo Bittencourt Max Moraes
Rafael Rocha Shido
Edson Carli Gabriel Madeira Pessoa
landracke Bio
Andre Neves Luiz Fernando
Guilherme Moraes Theógenes Rocha
Alex Angelo Daniel Paes Cuter
Demian Machado
Dornelles
Amizade do Don
Sotto Capo Renato Shoiti Yamakawa
Dornelles
Taís Barbosa
Fabio Cesar de Carvalho
Douglas Fernandes Padrinho
Helio Paiva Neto
kupper
Raphael Fernandes
Dom Petrus Silva Costa
Adão Pinheiro
Lipe “Angelus” Ragazzi
Geraldo
Lucas Salim Sanches
Aislan Adi de Borba
Rodrigo Quaresma

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 Referências
O material de referência sobre a máfia é vasto e praticamente impossível de listar, mas aqui tentamos
incluir para você uma lista das principais influências de Cosa Nostra entre filmes, literatura, HQs, RPGs
e games. Não é de maneira alguma uma lista definitiva, mas apenas uma lista de sugestões para inspira-
ção, e encorajamos você a continuar procurando por mais boas histórias de máfia para além desta lista.

RPGs East Side, West Side: Organizing Crime in New

Gangbusters (TSR, originalmente publicado em
1982, 3ª edição publicada em 1990)
Omertà, El Poder de La Mafia
(Ediciones Holocubierta, publicado em 2012)
Complete Mafia for d20
(Living Room Games, publicado em 2005)
Mob Justice
(Contested Ground Studios, publicado em 2007)
Hillfolk (Pelgrane Press, publicado em 2013)
Dog Town (Cold Blooded Games, gratuito, última
edição publicada em 2012)
Violentina (Secular Games, publicado em 2011)
Literatura
York, 1930-1950 – Alan Block
Dry Manhattan: Prohibition in New York City –
Michael E. Lerner
Filmes
O Poderoso Chefão, Parte 1 (1972), 2 (1974)
e 3 (1990) – Francis Ford Coppola
Scarface, A Vergonha de Uma Nação (1932)
– Howard Hawks
The Big House (1930) – George W. Hill
Inimigo Público (1931) – William A. Wellman
Era Uma Vez na América (1984) – Sergio Leone
Os Bons Companheiros (1990) – Martin Scorsese
Casino (1995) – Martin Scorsese

O Poderoso Chefão – Mario Puzo Os Intocáveis (1987) – Brian De Palma

O Siciliano – Mario Puzo Donnie Brasco (1997) – Mike Newell

The Last Don – Mario Puzo Scarface (1983) – Brian De Palma

Omertà – Mario Puzo Estrada Para a Perdição (2002) – Sam Mendes

Minha Vida Secreta na Máfia – Joseph D. Pistone O Pagamento Final (1993) – Brian De Palma
Minha Vida na Máfia – Vincent Teresa Os Infiltrados (2006) – Martin Scorsese
O Último Testamento – Lucky Luciano Pulp Fiction (1994) – Quentin Tarantino
O Último Mafioso – John Gotti Bugsy (1991) – Barry Levinson
O Traidor – Jimmy Breslin Chinatown (1974) – Roman Polanski
A Firma – John Grisham Ajuste Final (1990) – Joen Coen
Gomorra – Roberto Saviano O Gângster (2008) – Ridley Scott
Honra Teu Pai – Gay Talese Inimigos Públicos (2009) – Michael Mann
História da Máfia: Das Origens aos Nossos Dias – Cidade de Deus (2002) – Fernando Meirelles
Salvatore Lupo Snatch, Porcos e Diamantes (2000) – Guy Ritchie

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 Referências
Seriados
Boardwalk Empire
(2010 – em andamento, HBO, EUA)
Os Sopranos (1999-2007, HBO, EUA)
The Mob Doctor (2012-2013, Fox, EUA)
Wiseguy (1987-1990, CBS, EUA)
Vegas (2012-2013, CBS, EUA)
The Untouchables (1959-1963, ABC, EUA)
The Untouchables (1993-1994, Syndication, EUA)
Crime Story (1986-1988, NBC, EUA)
Cain’s Hundred (1961-1962, NBC, EUA)
Falcone (2000, CBS, EUA)
The Lawless Years (1959-1961, NBC, EUA)
La Piovra (1984-2001, RAI, Itália)
Poder Paralelo (2009-2010, Rede Record, Brasil)
Weeds (2005-2012, Showtime, EUA)
Mob City (2013, TNT, EUA)
Histórias em Quadrinhos
Violent Cases (Neil Gaiman e Dave McKean,
originalmente publicado em 1987 pela Escape
Books, mais recentemente publicado em 2002
pela Dark Horse, Reino Unido e EUA)
Torpedo: Matar é viver
(1988, Martins Fontes, Brasil)
Torpedo: Morte sob encomenda
(1988, Martins Fontes, Brasil)
Torpedo: Nem coroas, nem flores
(1988, Martins Fontes, Brasil)
Torpedo: Frente quente
(1988, Martins Fontes, Brasil)
Skreemer (1991, Abril, Brasil)
Masks & Mobsters (2012 – em andamento,
Monkeybrain Books and Comics, EUA)
Morgan, Repose en Paix
(1989, Les Humanoïdes Associés, França)
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Morgan, Le Zombie
(1991, Soleil Productions, França)
Morgan, Le Contrat
(1991, Soleil Productions, França)
Morgan, Don Gaetano
(1992, Soleil Productions, França)
Morgan, Petits Nègres et Négriers
(1993, Soleil Productions, França)
Morgan, Les Vampires
(1993, Soleil Productions, França)
Games
Gangsters (1999, Hothouse Creations)
The Godfather (2006, EA)
The Godfather 2 (2009, EA)
Scarface: The World is Yours
(2006, Radical Entertainmend)
Mafia 2 (2010, 2K Games)
GTA III (2001, Rockstar Games)
GTA: Vice City (2002, Rockstar Games)
GTA: San Andreas (2004, Rockstar Games)
GTA IV (2008, Rockstar Games)
GTA V (2013, Rockstar Games)
Omerta – City of Gangsters (2013, Kalypso Media)
Resumo de regras
Na página a seguir, apresentamos um resumo
das regras de Cosa Nostra, criado com o intuito de
ser fotocopiado e distribuído a todos os jogadores
para melhor andamento do jogo (e também para
evitar destruir o livro em checagens e rechecagens
das regras). Uma boa ideia é também distribuir
fotocópias das tabelas para Cartas da Lei e Aposta
para os jogadores.
 Cosa Nostra Fastplay
Para Jogar Cosa Nostra
Criação da Máfia
1. A ordem de jogo inicia com o jogador mais
velho e segue até o mais novo.
2. Os jogadores definem seis palavras-chave
para sua Máfia. Uma palavra-chave pode ser qual-
quer coisa que sirva de “força” para uma organiza-
ção criminosa, de acordo com a imaginação dos
jogadores. Exemplo: Italiana, Bebida, Apostas, etc.
3. Os jogadores fixam as palavras-chave (míni-
mo de um, máximo de quatro) dentro das funções
narrativas Músculos, Negócios e Legitimidade.
Regras Básicas
Etapa Narrativa: divisão básica da estrutura
narrativa, sendo que cada etapa contém um con-
junto de Cenas.
Cena: elemento básico de narrativa. Para narrar
uma Cena sem interferência, o jogador deve passar
em um Teste usando uma Função Narrativa.
Função Narrativa: ao usar uma Função Narra-
tiva em um teste ou aposta, o jogador deve nar-
rar sua cena usando uma linha de ação adequada
a mesma.
Testes: role um número de dados igual a Função
Narrativa empregada. Qualquer valor dentro da
margem de sucesso da Etapa Narrativa (5 e 6 para
Ascensão, 4 a 6 no Auge, 6 a partir da Virada de
Mesa). Em caso de falha, saque uma Carta da Lei.
Apostas: exatamente como um teste, mas inde-
pendente do resultado, o jogador saca uma Carta
de Aposta.
Cartas de Aposta e da Lei: elementos do jogo
que interferem com a narrativa das Cenas, criam
situações especiais e alteram os valores das Funções
Narrativas.
Traição: uma Traição permite a um jogador (o
Traidor) tomar o controle narrativo de outro joga-
dor (o Don) a qualquer momento durante a Cena
deste. É resolvida através de uma Disputa de Poder.
Disputa de Poder: o Traidor saca uma Carta da
Lei e o Don uma Carta de Aposta. Aquele com o
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valor mais alto vence a Disputa de Poder, mas o
perdedor pode declarar um Assassinato. Ambos os
jogadores mantém suas cartas sacadas na Disputa
de Poder para serem usadas quando desejarem, seja
nas suas Cenas ou nas Cenas de outros jogadores.
Assassinato: permite sacar uma segunda Carta
da Lei ou de Aposta (para Traidores e Dons, res-
pectivamente). Se ainda assim perder a Disputa de
Poder, o jogador deve aplicar as suas cartas sacadas
imediatamente, com efeitos positivos anulados e
efeitos negativos duplicados.
Estrutura Narrativa
Nascimento: nesta etapa os jogadores não pre-
cisam fazer Testes nem podem fazer Apostas. As
Cenas devem ser relacionadas com as palavras-
-chaves (uma cena para cada palavra-chave) das
Funções Narrativas.
Ascensão: resultados de Cartas de Aposta, quan-
do positivos, são dobrados. Cada jogador pode
narrar uma Cena.
Auge: os jogadores podem ignorar uma Carta
da Lei a sua escolha e efeitos negativos de Cartas
de Aposta são anulados. Apenas metade dos jo-
gadores (arredondado para baixo) podem narrar
uma Cena.
Virada de Mesa: todo jogador narra uma Cena,
e toda Cena é uma Aposta em que qualquer resul-
tado positivo é anulado. Independente do resulta-
do saca-se uma Carta da Lei.
Decadência: cada Cena é uma Aposta, mas um
jogador pode escolher não narrar sua Cena, acu-
mulando uma Carta da Lei automática para o pró-
ximo jogador a narrar uma Cena. Pelo menos um
dos jogadores deve narrar uma Cena.
A Queda: todo jogador deve narrar uma Cena
como uma Aposta, cujos resultados negativos são
dobrados e os positivos caem pela metade; tam-
bém sacam uma Carta da Lei automática.
Renascimento: retorno a fase de Nascimento.
Título

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