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Ivo Júnior
NACALA-PORTO
2020
Ivo Júnior
Nacala-Porto
2020
A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS EMERGENTES DOS CONFLITOS
EM CABO DELGADO
Devido a este fenomeno face à uma situação humanitária muito grave, com pessoas já a
passar fome, a viver em acampamentos sem quaisquer condições e que pode ainda piorar,
as incursões dos grupos armados já terão provocado mais de dois mil mortos e cerca de
600 mil deslocados, de acordo com as ultimas estimativas do Governo actualmente.
Mais de 3 anos após o primeiro ataque no Cabo Delgado, há mais uma voz a defender
que o conflito em Cabo Delgado não é fundamentalmente religioso. Quem o diz é o bispo
de Pemba, Luís Fernando Lisboa, para quem “a motivação econômica está em
primeiríssimo lugar” do terrorismo em Cabo Delgado.
Cabo Delgado tem importantes e ricos recursos naturais: a reserva de gasolina é a maior
de África, mas também há rubis, ouro, grafites, mármores e várias madeiras valiosas –
neste caso, explorada “de modo selvagem, sem controlo”, deixando vastas “regiões
desmatadas, com repercussões na natureza”.
A motivação mais forte para os ataques será, por isso, “econômica, por causa dos recursos
naturais…”, diz o bispo: os distritos que tem sido atacados – nove dos 17 que compõem
a província, entre as quais Mocimboa da Praia, Quissanga ou Macomia, Muidumbe ou
Nangade (aqui, um ataque recente fez 14 mortos) – estão na região norte, onde se encontra
o gás.
Além da riqueza de recursos naturais, a pobreza é grande e Cabo Delgado ficou fora do
investimento publico durante muitos anos; há muitos jovens na província sem
escolaridade; e por vezes surgem intrigas internas em grupos políticos ou étnicos.
O bispo insiste que o factor religioso é apenas mais um elemento entre esses vários. E
apresenta factos quem na sua opinião, contrariam a tese de que os ataques são sobretudo
por causa da religião: os ataques tanto vitimam cristãos como muculmanos; há catequistas
católicos e responsáveis islâmicos mortos, há igrejas e mesquitas destruídas e queimadas;
católicos e muçulmanos são “mortos e atacados em conjunto” como quaisquer outras
pessoas das aldeias e vilas. “Não é só Igreja Católica que é atacada”, sublinha.
Por outro lado, a relação entre cristãos e muçulmanos na diocese de Pemba (que abarca
toda a província de Cabo Delgado) é muito positiva: já houve celebrações e caminhadas
pela paz em conjunto; e em todas as aldeias visitadas pelo bispo, o líder muçulmano está
sempre presente a assistir missa e quase sempre leva um presente para o bispo.
“Os muçulmanos de Cabo Delgado não aceitam a motivação religiosa como fundamento
para a guerra” e há “um bom relacionamento entre religiões”, resume, repetindo de novo
que “o principal problema é econômico”.
A situação criada, entretanto, é muito grave: mortos e deslocados (40 mil na cidade de
Nampula, mais à sul, 150 mil só na cidade de Pemba), acampamentos extretamente
precários, onde não há barracas, tendas, cobertores ou sequer esteiras. “Tudo é muito
precário ”, diz o bispo Lisboa, oriundo do Brasil, que trabalha em Pemba como
missionário (da Congregação da Paixão de Cristo, ou Passionistas) desde 2011, e é bispo
desde 2013.
Portanto, o meu posicionamento face às causas deste conflito reside não só na motivação
econômica como na falha de governação, e não no propalado envolvimento muçulmano.
POSSÍVEIS SOLUÇÕES
Analisando este cenário bárbaro que nos deparamos com situação de terrorismo em Cabo
Delgado, salienta-se que este quadro corre o risco de se agravar ainda mais: o PAM
(Programa Alimentar Mundial, das Nacoe sUnidas), a principal organização a ajudar na
distribuição de comida, já avisou que os recursos estão a esgotar e a comida pode faltar,
se a ajuda internacional não acudir a urgência.
O Governo de Moçambique, aliás, “tem feito a sua parte para ajudar os deslocados” e já
pediu ajuda a União Europeia, Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral
(SADC, na sigla inglesa), aos Estados Unidos… Sobretudo nas áreas de formação,
material logístico e assistência humanitária. E há várias organizações e agências
internacionais a ajudar no terreno, além do PAM.
O que se tem comentado recentemente é que o Governo estará a contratar grupos privados
sul africanos de segurança, que deverão ser muito caros. Casos como o do grupo de
militares que, em Setembro, perseguiu e matou uma mulher que caminhava nua numa
estrada serão raros, diz o bispo.
Deste modo, indicando as possíveis soluções face a violação dos Direitos Humanos
emregentes em Cabo Delgado, na minha sincera e humilde opinião, o País agora,
rapidamente, tem que investir na educação, na saúde, criar condições de emprego
imediato para aqueles jovens de Cabo Delgado, e outros, para que sintam que de facto em
Moçambique há uma oportunidade. A não acontecer, esses jovens vão ser vulneráveis.
Um jovem que acorda de manhã não sabe o que vai acontecer, não sabe o que vai comer.
E, aparece alguém com 100, 200 mil meticais e diz vamos treinar, ele vai… essa também
a essência do pensamento humano. Então, o Governo tem que inverter estas situações.
OS SENTIMENTOS DOS REFUGIADOS FACE AO CONFLITO