Você está na página 1de 6

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E GESTÃO

Ivo Júnior

A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS EMERGENTES DOS CONFLITOS EM


CABO DELGADO

Licenciatura em Ciências Jurídicas, pós-laboral, 4º ano

NACALA-PORTO

2020
Ivo Júnior

A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS EMERGENTES DOS CONFLITOS


EM CABO DELGADO

Exame de carácter avaliativo a ser


apresentado no Departamento de
Ciências Jurídicas 4º ano, turma
única, cadeira de Direito de
Comunicação Social, curso de
Licenciatura em Ciências
Jurídicas.

Dr. Alberto Muansinar

Nacala-Porto
2020
A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS EMERGENTES DOS CONFLITOS
EM CABO DELGADO

Os ataques terroristas na província de Cabo Delgado, iniciados há três anos e somando


agora mais de duas mil mortes e aproximadamente 435 mil pessoas deslocadas, trazendo
ao de cima uma crise humanitária, são tem da actualidade dentro e fora do País.

No mundo reclama-se da violação dos Direitos Humanos nesse evento. “Extremamente


chocante” é como classifica a Comissão Europeia.

O extremismo religioso é um “elemento importante” para explicar as causas da guerra em


Cabo Delgado, mas “não é o principal: a motivação econômica está em primeiríssimo
lugar”.

Devido a este fenomeno face à uma situação humanitária muito grave, com pessoas já a
passar fome, a viver em acampamentos sem quaisquer condições e que pode ainda piorar,
as incursões dos grupos armados já terão provocado mais de dois mil mortos e cerca de
600 mil deslocados, de acordo com as ultimas estimativas do Governo actualmente.

CAUSAS DO CONFLITO EM CABO DELGADO

Mais de 3 anos após o primeiro ataque no Cabo Delgado, há mais uma voz a defender
que o conflito em Cabo Delgado não é fundamentalmente religioso. Quem o diz é o bispo
de Pemba, Luís Fernando Lisboa, para quem “a motivação econômica está em
primeiríssimo lugar” do terrorismo em Cabo Delgado.

Entretanto, o comandante das Operações Especiais do AFRICOM considera que o


conflito em Cabo Delgado decorre de causas internas.

Cabo Delgado tem importantes e ricos recursos naturais: a reserva de gasolina é a maior
de África, mas também há rubis, ouro, grafites, mármores e várias madeiras valiosas –
neste caso, explorada “de modo selvagem, sem controlo”, deixando vastas “regiões
desmatadas, com repercussões na natureza”.

A motivação mais forte para os ataques será, por isso, “econômica, por causa dos recursos
naturais…”, diz o bispo: os distritos que tem sido atacados – nove dos 17 que compõem
a província, entre as quais Mocimboa da Praia, Quissanga ou Macomia, Muidumbe ou
Nangade (aqui, um ataque recente fez 14 mortos) – estão na região norte, onde se encontra
o gás.

Além da riqueza de recursos naturais, a pobreza é grande e Cabo Delgado ficou fora do
investimento publico durante muitos anos; há muitos jovens na província sem
escolaridade; e por vezes surgem intrigas internas em grupos políticos ou étnicos.

O bispo insiste que o factor religioso é apenas mais um elemento entre esses vários. E
apresenta factos quem na sua opinião, contrariam a tese de que os ataques são sobretudo
por causa da religião: os ataques tanto vitimam cristãos como muculmanos; há catequistas
católicos e responsáveis islâmicos mortos, há igrejas e mesquitas destruídas e queimadas;
católicos e muçulmanos são “mortos e atacados em conjunto” como quaisquer outras
pessoas das aldeias e vilas. “Não é só Igreja Católica que é atacada”, sublinha.

Por outro lado, a relação entre cristãos e muçulmanos na diocese de Pemba (que abarca
toda a província de Cabo Delgado) é muito positiva: já houve celebrações e caminhadas
pela paz em conjunto; e em todas as aldeias visitadas pelo bispo, o líder muçulmano está
sempre presente a assistir missa e quase sempre leva um presente para o bispo.

“Os muçulmanos de Cabo Delgado não aceitam a motivação religiosa como fundamento
para a guerra” e há “um bom relacionamento entre religiões”, resume, repetindo de novo
que “o principal problema é econômico”.

Tudo é muito precário, mas pode ainda piorar.

A situação criada, entretanto, é muito grave: mortos e deslocados (40 mil na cidade de
Nampula, mais à sul, 150 mil só na cidade de Pemba), acampamentos extretamente
precários, onde não há barracas, tendas, cobertores ou sequer esteiras. “Tudo é muito
precário ”, diz o bispo Lisboa, oriundo do Brasil, que trabalha em Pemba como
missionário (da Congregação da Paixão de Cristo, ou Passionistas) desde 2011, e é bispo
desde 2013.

Portanto, o meu posicionamento face às causas deste conflito reside não só na motivação
econômica como na falha de governação, e não no propalado envolvimento muçulmano.

POSSÍVEIS SOLUÇÕES
Analisando este cenário bárbaro que nos deparamos com situação de terrorismo em Cabo
Delgado, salienta-se que este quadro corre o risco de se agravar ainda mais: o PAM
(Programa Alimentar Mundial, das Nacoe sUnidas), a principal organização a ajudar na
distribuição de comida, já avisou que os recursos estão a esgotar e a comida pode faltar,
se a ajuda internacional não acudir a urgência.

No entanto, na tentativa de contrariar esta situação, o Governo tem agora um plano de


uma centena de assentamentos para dar as pessoas o mínimo de abrigo e uma pequena
machamba para cultivo.

O Governo de Moçambique, aliás, “tem feito a sua parte para ajudar os deslocados” e já
pediu ajuda a União Europeia, Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral
(SADC, na sigla inglesa), aos Estados Unidos… Sobretudo nas áreas de formação,
material logístico e assistência humanitária. E há várias organizações e agências
internacionais a ajudar no terreno, além do PAM.

Contudo, militarmente, a situação também não tem melhorado: as forças mocambicanas


de defesa, apesar da boa vontade e de o numero de efectivos ter aumentado, “não
conseguiram conter os ataques”. Muitos dos militares não conhecem a região e os
terroristas terão mais meios do que as Forças Armadas de Moçambique. Falta um serviço
de inteligência forte.

O que se tem comentado recentemente é que o Governo estará a contratar grupos privados
sul africanos de segurança, que deverão ser muito caros. Casos como o do grupo de
militares que, em Setembro, perseguiu e matou uma mulher que caminhava nua numa
estrada serão raros, diz o bispo.

Deste modo, indicando as possíveis soluções face a violação dos Direitos Humanos
emregentes em Cabo Delgado, na minha sincera e humilde opinião, o País agora,
rapidamente, tem que investir na educação, na saúde, criar condições de emprego
imediato para aqueles jovens de Cabo Delgado, e outros, para que sintam que de facto em
Moçambique há uma oportunidade. A não acontecer, esses jovens vão ser vulneráveis.
Um jovem que acorda de manhã não sabe o que vai acontecer, não sabe o que vai comer.
E, aparece alguém com 100, 200 mil meticais e diz vamos treinar, ele vai… essa também
a essência do pensamento humano. Então, o Governo tem que inverter estas situações.
OS SENTIMENTOS DOS REFUGIADOS FACE AO CONFLITO

O sentimento é de intensas lágrimas!

Tivemos a oportunidade de entrevistar uma das vítimas dentre os refugiados aqui em


Nacala-porto, na zona da Opca, na Cidade-Alta, a deslocada de Quissanga em lágrimas
ao relembrar o ataque do grupo armado al-Shabab: “Decapitam homens e rapazes,
batem nas mulheres e raptam meninas….” diz Manjuma, alarmada com o cenário que
acontece em Cabo Delgado; Entre outras e mais pessoas refugiadas.

Você também pode gostar