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Universidade Estadual de Campinas

Instituto de Artes

Camille Saint- Saens: Breve biografia e obras

História da música IV
Jéssica de Moura Cruz
RA 237343
Introdução

Camille Saint-Saens, grande organista, pianista e também compositor


atuante durante o período de transição entre o romantismo e o contemporâneo
ficou conhecido devido ao seu grande talento precoce, tendo sido considerado o
Mozart da França. Autor teatral, poeta, escritor de um livro sobre arqueologia
romana, de ensaios sobre filosofia, botânica, acústica, astronomia e música
antiga, Saint-Saens atuou em diversas áreas, mas considerando os aspectos
musicais era um grande gênio da época e nos deixou um legado de mais de 300
obras para mais diversas formações, entre concertos, sonatas e óperas.

Biografia

Charles Camille Saint-Saens foi considerado um prodígio de sua época


na área da música. Compositor do Romantismo, nascido em Paris em 9 de
outubro de 1835, era filho único de Jacques-Joseph-Victor Saint-Saens (1798–
1835), um funcionário do Ministério do Interior Francês, e sua mãe, Françoise-
Clémence. Perdeu seu pai muito cedo vítima da tuberculose, e Camille, que
também tinha sai saúde frágil foi levado da cidade para Corbeil, a 29 km de Paris,
para ser cuidado por uma enfermeira por dois anos de sua vida. Aos três anos
de idade iniciou seu aprendizado em pião, sedo ensinado pela sua tia-avó que
notou que o pequeno Saint-Saens possuía dons para a música, se tornando mais
tarde aluno de Camille-Marie Stamaty. Com essa idade o compositor já sabia ler
e escrever e posteriormente se destacaria em várias áreas como literatura
francesa, mitologia grega, romana, matemática, filosofia, arqueologia e
astronomia, sendo estes últimos três assuntos que se dedicaria pelo resto da
sua vida.

Sua mãe estava ciente que Saint-Saens era um pequeno gênio , mas a
ideia de talento precoce não lhe agradava, tanto que aos cinco anos fazia
pequenas apresentações, aos sete escreveu sua primeira peça nomeada de
tendo somente aos 10 anos de idade realizado seu primeiro concerto,
executando obras de Beethoven e Mozart, como Concerto de piano em Si bemol
maior de Mozart (K450), e o Terceiro Concerto de Piano de Beethoven e
desafiando-se a tocar qualquer uma das 32 sonatas para piano de Beethoven de
memória. Este concerto trouxe grande visibilidade para o jovem músico, pois a
notícia se espalhou com grande velocidade.

Na década de 1840 Saint-Saens foi aceito no Conservatório de Paris, na


qual estudou órgão com o professor Alexandre Pierre François Boely e
composição com o professor Pierre Maleden. Seu professor possuía um jeito um
pouco peculiar de ensinar órgão, jeito este que agradou muito o compositor no
futuro. O professor utilizava uma barra de ferro em frente as teclas do piano para
que os alunos apoiassem os braços, pois segundo ele todo o foco deviria estar
nos dedos e mãos, locais da onde saia todo virtuosismo de um músico. Na época
a carreira de organista era muito mais promissora que de músico pianista pois
haveria oportunidades de o mesmo atuar em igrejas, motivo este que fez Saint-
Saens escolher o curso, que fez com que atuasse como organista em várias
igrejas em Paris. Compos ainda como estudantes sua sinfonia em Lá Maior
(1850), uma peça de coral chamada Les Djinns (1850), feita para um poema
de Victor Hugo.

Saint-Saens ganhou importantes prêmios durante seus estudos no


Conservatório de Paris; que deixou em 1851, embora não tenha conseguido
ganhar o prestigioso Prix de Rome em 1852 e 1864. Sua reputação por toda
França só aumentava e o mesmo, em 1857, ocupa o lugar de Lefébure-Wely sob
o órgão Cavaillé-Coll da igreja da Madeleine e manteve este cargo até os anos
de 1877. O salário neste cargo era bom, pois além desse tocava em centenas
de casamentos e funerais que aconteciam na região, dando a ele um bom
rendimento mesmo em um ano tão atípico na qual toda França ainda se
recuperava pelos estragos deixados pela Revolução Francesa. O órgão da igreja
havia sido restaurado dos danos causados pela revolução, era apto para
serviços religiosos, mas não oferecia a qualidade necessária para recitais mais
elaborados que eram populares em toda Paris. Saint-Saens estava inspirado e
nesta época compôs a obra que posteriormente seria chamada de Opus 2, a
Sinfonia em Mi bemol, composta de seções com fanfarras militares, metais e
percussão aparente transmitindo o sentimento predominante na época devido à
posse de Napoleão III e a restauração do Império Francês. Conquistou neste
ano o prêmio de composição no Concours Sainte-Cécile de Bordeaux com sua
cantata chamada Ode à Sainte-Cécile.
Foi professor na École de Musique Classique et Religieuse - Escola de
Música Clássica e Religiosa de Paris, sendo designado por Louis
Niedermeyer estabeleceu em 1853 para ser responsável pelo treinamento de
regentes de corais e organistas em elevado nível para ocupar posições frente as
igrejas francesas. Foi orientado pelo próprio Niedermeyer ao piano; que veio a
falecer em 1861, e designado a ocupar seu lugar no gerenciamento dos estudos
de piano na escola após sua morte, causando grande reboliço ao introduzir obras
de compositores de sua época como Schumann, Liszt e Wagner que não eram
bem aceitos a seus alunos. Saint-Saens teve como aluno Gabriel Fauré, que
possuía grade apreço ao mestre devido a genialidade, que demonstrava no final
de suas aulas obras de compositores que até então não aceitas na época.

Sua incrível reputação atingida devido a sua popularidade naqueles anos


por suas composições, trabalhos e prêmios adquiridos conquistou a confiança
de Franz Liszt; que ficara impressionado com suas improvisações, endo este um
importante compositor na qual mais tarde se tornaram grandes amigos e que
também o consideraria como um dos maiores organistas do mundo. Ganhou o
apoio de outros compositores importantes da época que foram apreciar os
talentos do músico como Berlioz, Liszt, Gounod e Rossini.

Ao mesmo tempo que compunha sua primeira sinfonia, foi nomeado


organista oficial da igreja de Saint-Merry em Paris. Para Saint-Saens, esse foi
um doa anos mais felizes de sua vida pois se dedicou intensamente à música e
a composição , pois além de tudo recebeu uma encomenda de uma partitura dos
Seis duetos para piano e harmônio que com os rendimentos adquiriria um
telescópio para suas observações astronômicas, e contribuiu também na edição
de novas publicações das obras de Gluck, Mozart, Beethoven, mas também de
seu amigo Liszt, possuindo também grande apreço pelas obras de Schumann e
de Wagner que não eram bem vistas conservatório de Paris devido ao seu
conteúdo e linguagem. O compositor apoiava o estilo modern ista de Wagner,
mas não trouxe a linguagem do mesmo para suas composições.

Em 1871, -Saens participou da fundação da Sociedade Nacional de


Música, importante organização que participou da apresentação e divulgação de
obras orquestrais francesas das gerações seguintes, fortalecendo a música. Em
1872, perde sua tia-avó, a responsável por lhe ensinar piano e no mesmo ano
estreia sua ópera, a Princesa Amarela, na qual é um fracasso.
Em 1875, casou-se com Marie Truffot, filha do industrial Rodrigues
Philippe Truffot, também prefeito de Le Cateau , de 19 anos, onde esta união lhe
trouxe dois filhos, que morreram tragicamente com diferenças de semanas, um
de queda e outro por doença. Estes episódios trágicos desestabilizaram a vida
do casal, que já não andava bem, levando seu casamento à separação em 1881.
Historiadores consideram que o casamento do compositor foi uma mera
formalidade, pois o mesmo não desejava se casar e realizou o mesmo mais para
estar de acordo com as restrições sociais impostas na época. Estranhamente
este período trágico de sua vida lhe rendeu as obras mais significativas de sua
história como Danse macabre (1875) e Samson et Dalila (1878). Em 1875
também foi convidado pela Sociedade Russa de Música para realizar uma turnê
musical pela cidade de São Petersburgo, na qual apresentou suas obras e dirigiu
sua obra, a “La Danse macabre” (A Dança Macabra), sendo executada com o
pianista Anton Rubinstein, ele toca suas variações sobre os temas de Beethoven
em dois pianos.

O compositor, comparando sua vida artística do pessoal, era mais


realizado profissionalmente, já que sua vida intima era repleta de perdas e
frustrações. Nos anos de 1877, Saint-Saens recebe uma doação de um Albert
Libon; que morreria no mesmo ano, e o compositor resolve então, na igreja de
Saint-Sulpice compor um Requiem dedicado à memória do mesmo. Neste
mesmo ano várias executou vários poemas sinfônicos de Liszt; que foi o primeiro
compositor a escrever poemas sinfônicos, que serviram de inspiração para que
na década de 1870 composse seus quatro poemas sinfônicos, chamados estes
de Le rouet d'Omphale (1871), Phaéton (1873), La Danse macabre (1874), La
Jeunesse d'Hercule (1877). Em 1888, perdeu sua mãe, que fez com que o
mesmo entrasse numa profunda depressão, beirando o suicídio, motivando o
mesmo a viajar durante muitos anos em busca de inspiração por países de
cultura digamos que um pouco exótica para o compositor, como Argélia, Egito e
África, inspirando-o a compor obras famosas como a África (1891) e seu
Concerto para Piano nº 5, o "Egípcio" e a Sinfonia nº 3. Até então o compositor
não era muito aclamado em sua terra, foi a partir da década de 1890 que Saint-
Saens passou a ser aclamado como um dos maiores compositores ainda vivo
da França até o atual século.

Saint-Saens morreu solitário em Argel, na Argélia em 16 de dezembro de


1921, onde passou as duas últimas décadas de sua vida apreciando a cultura do
país. Tem como composições mais conhecidas a Introdução e Rondo
Caprichoso (1863), seu Segundo Concerto para Piano (1868), seu Primeiro
Concerto para Violoncelo (1872), Dança Macabra (1874), a ópera Sansão e
Dalila (1877), o Terceiro Concerto para Violino (1880), sua Terceira Sinfonia
(1886) e O Carnaval dos Animais (1886). Além de um notório músico possuía
aptidão em outras diferentes áreas e foi se destacando em seus estudos como
no estudo da literatura francesa, mitologia grega e romana e matemática,
filosofia, arqueologia e astronomia, sendo a última uma das grandes paixões que
se dedicou durante toda sua vida.

A obra mais conhecida por todos, O Carnaval dos Animais foi composta
em 1886, quando este passava férias na Áustria após retornar de uma frustrante
turnê pela Alemanha. Esta obra foi uma espécie de crítica para as composições
populares na França naquele século, e por este motivo Saint-Sens jamais
permitiu que esta fosse tocada em sua integra ou publicada enquanto era vivo,
pois temia que esta arruinasse toda sua carreira devido ao seu grande aspecto
de ironia, tendo sido executada somente duas vezes e depois se torou proibida
devido ao seu conteúdo, permitindo que somente o movimento “O cisne” para
piano e violoncelo fosse executado antes de sua morte. Com sua morte, a peça
se tornou pública a partir de 1922 e vem sido executada por grandes grupos no
mundo e é considera uma das obras mais apreciadas e popular de todos os
tempos. A obra “o Carnaval dos Animais “é constituída de 14 movimentos, sendo
eles I - Introdução e Marcha Real do Leão, II - Galinhas e Galos, III – Mulas, IV
– Tartarugas, V - O Elefante, VI – Cangurus, VII – Aquário, VIII - Personagens
de orelhas compridas, IX - O cuco nas profundezas dos bosques, X – Pássaros,
XI – Pianistas, XII – Fósseis, XIII - O Cisne e XIV – Final.
Com exceção do movimento XI e o último, todos são nomeados
relacionando a animais. Neste mesmo ano compôs também sua sinfonia nº 3,
obra dedicada a memória de Liszt para órgão e dois pianos. Posteriormente
compôs obras de grande relevância como o Concerto para Piano nº 5 (1895) e
o Concerto para Violoncelo nº 2 (1902).

Conclusão
Como Philip Hale um crítico americano o descrevia, Saint-Saens se
tratava de um “organista, pianista, caricaturista, cientista amador, apaixonado
por matemática e astronomia, comediante amador, folhetinista, crítico, viajante,
arqueólogo – era um homem que nunca descansava”. Saint-Saens pode não ter
sido um dos mais amados compositores da época, mas com certeza foi um dos
que nos deixou um dos maiores acervos de obras nas mais diferentes formações
e estilos. Com um acervo de 300 composições nos mais diferentes gêneros
como óperas, sinfonias entre outras, deixava claro seu gênero de composição
conservador e polido, que criticava as tendências composicionais de seu tempo
por aderir aos modelos clássicos de escrita francês, de certa forma refinado,
profundo e com uma ironia musical, ironia esta que causou certo mal-estar na
França devido ao estilo impressionista pregado na época por Debussy e Ravel.
Suas obras, hoje famosas são executadas e aclamadas por todos e inspiram
compositores através da genialidade expressa nestas.
Referências

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Bierley, Paul E. (2001). John Philip Sousa: American Phenomenon. Miami, FL:
Warner Bros. Publications. p. 76.
Flynn, Timothy. NetLibrary, Inc., Camille Saint-Saens: a guide to research, NY:
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Rees, Brian. Camille Saint-Saens: a life, London: Chatto & Windus, 1999. ISBN
1856197735
Schonberg, Harold C. The Lives of the Great Composers, NY: WW Norton &
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Stegemann, Michael. Camille Saint-Saëns e o Concerto Franch Solo de 1850 a
1920, Portland, OR: Amadeus Press, 1991. ISBN 0931340357
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https://www.fnac.com/Camille-Saint-Saens/ia264095/bio > Acesso em: 15 de
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CAMILLE SAINT-SAËNS. Disponível em:<
https://www.britannica.com/biography/Camille-Saint-Saens > Acesso em: 10 de
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CAMILLE SAINT-SAENS. Disponível em:
<https://www.larousse.fr/encyclopedie/personnage/Camille_Saint-
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CAMILLE SAIN-SAENS. Disponível em: <
https://pt.wikipedia.org/wiki/Camille_Saint-Sa%C3%ABns > Acesso em: 01 de
dez. 2020

SAINT-SAËNS CAMILLE [CHARLES]1835-1921.


Disponível em: < https://www.musicologie.org/Biographies/saint_saens_c.html
> Acesso em 05 de out. de 2020.

SAINT-SAËNS, (CHARLES ) CAMILLE. Disponível em:


<https://www.oxfordmusiconline.com/view/10.1093/gmo/9781561592630.001.0
001/omo-9781561592630-e-
0000024335;jsessionid=8BC0942CF0F5A4C275F2D235BE7E989D#S24335.>
Acesso em: 12 de out. 2020

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