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FORTALEZA

DE SANTA CRUZ

Sítio Histórico
do Exército Brasileiro

Tenente-Coronel de Artilharia
A Fortaleza de Santa Cruz da Barra, Carlos Chagas dos Santos
considerada uma das mais belas for-
tificações da costa brasileira, teve suas
primeiras edificações construídas há
quase cinco séculos com o objetivo de O Passado Revivido
defender a entrada de navios inimigos
O Vice-Almirante francês Nicolau Durand
na Baía de Guanabara. Na época, as in-
Villegagnon em 1555 improvisou uma fortifica-
vasões francesas eram iminentes. A for-
ção para a defesa da França Antártica, colocan-
taleza é um marco registrado em nossa
do então duas peças de artilharia sobre o pro-
história. Atualmente, além de abrigar o
montório na entrada da baía. Em 1567, com a
8o Grupo de Artilharia de Costa Moto- expulsão final dos invasores franceses, começou
rizado, é um ponto turístico importante a ocupação militar lusitana em Niterói. Entre
na cidade de Niterói, tendo visitação tu- 1568 e 1572 foram construídas fortificações en-
rística intensa. Para que possamos en- tão denominadas inicialmente de Bateria Nossa
tender a imponência desta belíssima Senhora da Guia.
obra e de sua arquitetura, faz-se neces- Já em 1599 seus canhões sofreram a pro-
sário voltarmos ao passado para reviver- va de fogo inicial, pois até então não haviam
mos as passagens históricas que culmi- entrado em ação. O corsário holandês Oliver
naram com sua atual configuração. Van Noord é rechaçado em sua tentativa de
penetrar na Baía de Guanabara. Este seria seu

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A majestosa fortificação vista por quem
entra na Baía de Guanabara
Foto – Jayme Moreira Crespo Filho

batismo de fogo. Em 1612, já com vinte bocas trada de navios na baía, são realizadas novas
de fogo, a fortificação recebeu a denominação obras de ampliação. Em 1710, suas baterias são
de Fortaleza de Santa Cruz da Barra. Neste postas novamente em ação, repelindo a tentati-
mesmo ano foram construídas a capela origi- va de invasão do corsário francês Duclerc. Já
nal e as prisões. em 1715 a fortaleza foi levada a última perfei-
Em fins do século XVII e início do século ção, recebendo novas peças de artilharia. Con-
XVIII, tendo a nobre missão de controlar a en- tava então com 53 peças, o maior volume de

Bateria de Santa Tereza (Bateria do Imperador). Ao fundo a bela vista


da Cidade do Rio de Janeiro com o Pão de Açúcar em destaque
Foto – Jayme Moreira Crespo Filho

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fogo dos fortes do Rio de Janei-
ro. Em 1730 totalizava 135 ca-
nhões em constante prontidão.
Suas edificações começam a
partir daí a tomar o aspecto atual,
verdadeira obra arquitetônica de
fortificação da colonização portu-
guesa no Brasil. Suas muralhas fo-
ram construídas com pedras já cor-
tadas e numeradas vindas de Por-
tugal. A fortaleza mantém-se ma-
jestosa até os dias atuais. Em seu
interior encontram-se vários locais
que imortalizam passagens de nos-
sa história. As celas, os salões de
pedra, a capela e o paredão de fu-
zilamento nos mostram a riqueza
de seu interior em inúmeros deta-
lhes. O relógio de sol construído
Interior da fortaleza, que,
em 1820, o local da forca e a cis- ao caminharmos por ele, nos leva ao passado
terna são alguns pontos do passa- Foto – Oswaldo Forster

do desta edificação.

Foto – Jayme Moreira Crespo Filho

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Salão de Pedra, originalmente um paiol
onde eram guardadas as munições e que hoje
é utilizado para recepções solenes
Foto – Oswaldo Forster

Na primeira metade do século XIX, motiva- Cristie, em que o Brasil se envolveu com a Inglater-
do por redução do orçamento público, a fortaleza ra, casamatas foram construídas para aumentar seu
manteve um contingente reduzido. Sofreu um de- poderio bélico. A ameaça inglesa culminou com a
sarmamento quase que total. Devido à Questão reconstrução da fortaleza. Neste mesmo ano foi

Planta da Fortaleza no ano de 1764 por ocasião


da reforma feita pelo Conde de Cunha
Foto – Ricardo Siqueira

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lançada a pedra fundamental da ba-
teria do primeiro andar, a Bateria 25
de Março. Em 1880, já estavam con-
cluídas as 41 casamatas. Em 1872,
recebeu dois canhões Amstrong
155mm e dois canhões Whitworth
120mm, passando então a ser cons-
tituída por seis baterias.
Com a Revolta da Armada,
suas fortificações sofrem diversas
avarias, e em 1896 recebe novamen-
te obras de recuperação. Passam-se
os anos e a fortaleza mantém-se ina-
balável por todo o século XX.
Uma das escadas e pátio interno. Percorrer o interior da Forta-
Uma ponte levadiça que lhe dava acesso leza de Santa Cruz é fazer uma vi-
tornou-se obsoleta e foi substituída
por um caminho. Ao redor, agem de volta ao passado e reviver
um fosso constituía obstáculo a momentos marcantes de nossa his-
eventuais ataques
Foto –– Oswaldo
Oswaldo Forster
Forster
tória. Estar dentro dela é contem-
Foto
plar um verdadeiro tesouro envol-
to por muralhas incólumes ao tem-
po e guardado por canhões cente-
nários. Palco de importantes acon-
tecimentos na evolução do Brasil,
a fortaleza resistiu bravamente às
invasões européias, tornando-se atu-

Placa em latim, de 1872, homenageando D. Pedro II como o


Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil
Foto – Oswaldo Forster

Os funcionários civis Murillo Machado e


Nicanor King de Abreu, que faziam o abastecimento por
mar de mantimentos e água para a fortaleza, quando ainda não
havia o acesso por terra. Trabalham até hoje na fortaleza
Foto – Jayme Moreira Crespo Filho

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Uma das mais belas vistas da
Cidade do Rio de Janeiro, possível somente
desse ponto – Fortaleza de Santa Cruz
Foto – Jayme Moreira Crespo Filho

almente um ponto turístico que possui uma vis- podem transportar-se a momentos importantes
ta privilegiada da Baía de Guanabara. Servindo da história brasileira.
de cenário para produções de TV e do cinema, Os visitantes podem conhecer as instalações
suas belezas já percorreram o mundo. da fortaleza com soldados treinados como guias
Tombada pelo Patrimônio Histórico Naci- turísticos que darão informações detalhadas de
onal em 1939, a Fortaleza de Santa Cruz tem seu interior. Os primórdios da obra e a passagem
atraído grande número de turistas. Erguida em de importantes personalidades da nação por ali
Jurujuba, em ponto estratégico na entrada da podem ser contados também por antigos funcio-
baía, mantém-se intacta até hoje. Por trás de ras- nários, como o Sr Murillo Machado e o Sr
tros históricos que o tempo tentou, mas não con- Nicanor King de Abreu, funcionários civis que
seguiu apagar, escondem-se cultura, história e, prestam serviço à fortaleza desde 1953.
principalmente, uma incontestável beleza natu-
ral e arquitetônica. Muralhas, canhões, rochedos
A Fortaleza de Santa Cruz está aberta
e o mar podem ser contemplados pelos visitan- à visitação diariamente das 9 às 17 horas
tes, que inseridos nas construções centenárias

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