Você está na página 1de 45

RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

Alexander Silva de Resende


Pesquisador Embrapa Agrobiologia
OBJETIVOS

Conceituar degradação, fazer uma estimativa das áreas degradadas


no País e no mundo e mostrar alguns resultados sobre o uso de
plantas da família das leguminosas para recuperação de áreas
degradadas.
APRESENTAÇÃO DO CONTEÚDO
 Etapas da degradação.
 Quanto está degradado?
 Quando começa a degradação nos trópicos?
 Como recuperar áreas degradadas?
 A fixação biológica de nitrogênio e as plantas da família das
leguminosas.
 Uso de microrganismos na recuperação de áreas degradadas.
 Estudos de caso de eficiência da técnica de recuperação de áreas
degradadas com leguminosas.
ETAPAS DA DEGRADAÇÃO

Desmatamento Atividades Agrícolas


ETAPAS DA DEGRADAÇÃO
Práticas agrícolas inadequadas e uso do fogo

Fotos: Alexander Resende


ETAPAS DA DEGRADAÇÃO
Construção de açudes, expansão urbana, mineração, etc

Fotos: Eduardo Campello


ETAPAS DA DEGRADAÇÃO
Todas essas atividades causam algum nível de degradação...

Foto: Eduardo Campello


QUANTO ESTÁ DEGRADADO ?

Estimativa de terras degradadas no mundo. Adaptado de FAO, 1994.


Local Nível de degradação (%) Área em 1000 km2
Severa Muito severa
Europa 36 12 3.274
Ásia e Pacífico 22 7 8.407
Norte da Ásia 17 4 4.423
Norte da África 27 7 4.263
África sub-sahariana 15 10 5.932
América do Norte 16 0 3.158
América do Sul e Central 22 5 5.553
Brasil 23 4 2.367
Mundo 20 6 35.010
QUEM MAIS DEGRADA?

Desmatamento + exploração vegetal 36,2%

Superpastejo 34,5%

Atividades Agrícolas 28,1%

Ativ. industriais (inclui mineração) 1,2%


QUANDO COMEÇA A DEGRADAÇÃO?

Quase sempre com a redução da matéria orgânica do solo!!!


QUANDO COMEÇA A DEGRADAÇÃO?
Nutrientes Principal fonte no solo para as Necessidade das
plantas plantas

Nitrogênio Matéria orgânica (MO) 1,5 a 4,0 %


Fósforo MO e colóides minerais 0,1 a 0,4 %
Potássio Colóides minerais e MO 1,0 a 2,5 %
Enxofre MO e minerais 0,2 a 1,0 %
Cálcio Colóides minerais e MO 0,2 a 2,0 %
Magnésio Colóides minerais e MO 0,1 a 0,6 %
B, Cu, Fe, Mn e Zn Colóides minerais e MO 10 a 150 ppm
Mo MO e colóides minerais 0,1 a 5 ppm
Franco e Resende, 2003.
COMO RECUPERAR?

Voltando a matéria orgânica ao solo para suportar produção de


biomassa a níveis desejáveis e com sustentabilidade.

Recuperação
t1 C+N > C+N
t2 C+ N = C+N
Sustentabilidade
COMO RECUPERAR?
20
Relação C/N 18
próxima a 10 nos R2= 0,924
16 Y = 2,7395 + 9,2876x
solos tropicais.

Carbono (g kg-1)
14

12

10

4
0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8

Nitrogênio (g kg-1) Macedo et al., 2008


COMO RECUPERAR?

Fonte: Curcio, G.R.


SOLO DE APP FLUVIAL (MÉDIA/ARGILOSA)

Ap 10 cmolckg 73,5 cm h-1

ARGISSOLO
31,91 cm h-1
AMARELO
Bt1 8 cmolckg
Distrocoeso
latossólico
Bt2 6 cmolckg 53,18 cm h-1

Baixa CTC e redução na permeabilidade ao


longo do perfil, sugerindo espécies
adaptadas para essa situação e cuidados na
adubação.
Fonte: Curcio, G.R.
SOLO DE APP FLUVIAL (MÉDIA/ARGILOSA)

Ap 10 cmolckg 73,5 cm h-1

ARGISSOLO
31,91 cm h-1
AMARELO
Bt1 8 cmolckg
Distrocoeso
latossólico
Bt2 6 cmolckg 53,18 cm h-1

Baixa CTC e redução na permeabilidade ao


longo do perfil, sugerindo espécies
adaptadas para essa situação e cuidados na
adubação.
Fonte: Curcio, G.R.
SOLO DE APP FLUVIAL (MÉDIA/ARGILOSA)

Ap 10 cmolckg 73,5 cm h-1

ARGISSOLO
31,91 cm h-1
AMARELO
Bt1 8 cmolckg
Distrocoeso
latossólico
Bt2 6 cmolckg 53,18 cm h-1

Baixa CTC e redução na permeabilidade ao


longo do perfil, sugerindo espécies
adaptadas para essa situação e cuidados na
adubação.
Fonte: Curcio, G.R.
SOLO DE APP FLUVIAL (ARGILOSO)

Ap 31,8 cmolckg 12 cm h-1

Bt1 33,5 cmolckg 2 cm h-1


LUVISSOLO
HÁPLICO
Pálico
saprolítico
BCg 35,5 cmolckg 0 cm h-1
gleissólico

Boa CTC, mas num com forte impedimento


de drenagem, sugerindo espécies
adaptadas para essa situação.

Fonte: Curcio, G.R.


SOLO DE APP FLUVIAL (ARGILOSO)

Ap 31,8 cmolckg 12 cm h-1

Bt1 33,5 cmolckg 2 cm h-1


LUVISSOLO
HÁPLICO
Pálico
saprolítico
BCg 35,5 cmolckg 0 cm h-1
gleissólico

Boa CTC, mas num com forte impedimento


de drenagem, sugerindo espécies
adaptadas para essa situação.

Fonte: Curcio, G.R.


SOLO DE APP FLUVIAL (ARGILOSO)

Ap 31,8 cmolckg 12 cm h-1

Bt1 33,5 cmolckg 2 cm h-1


LUVISSOLO
HÁPLICO
Pálico
saprolítico
BCg 35,5 cmolckg 0 cm h-1
gleissólico

Boa CTC, mas num com forte impedimento


de drenagem, sugerindo espécies
adaptadas para essa situação.

Fonte: Curcio, G.R.


BAIXA FERTILIDADE, ALTA PERMEABILIDADE
Ap 4,3 cmolckg 120 cm h-1

C 2,3 cmolckg 132 cm h-1


NEOSSOLO
QUARTZARÊNICO
Hidromórfico
Cg1 2,1 cmolckg 98 cm h-1 típico

Cg2 1,7 cmolckg 101 cm h-1 Baixa CTC e solo com boa drenagem! Um
grupo maior de espécies se adapta, mas
temos que buscar fontes pouco solúveis de
nutrientes.

Fonte: Curcio, G.R.


BAIXA FERTILIDADE, ALTA PERMEABILIDADE
Ap 4,3 cmolckg 120 cm h-1

C 2,3 cmolckg 132 cm h-1


NEOSSOLO
QUARTZARÊNICO
Hidromórfico
Cg1 2,1 cmolckg 98 cm h-1 típico

Cg2 1,7 cmolckg 101 cm h-1 Baixa CTC e solo com boa drenagem! Um
grupo maior de espécies se adapta, mas
temos que buscar fontes pouco solúveis de
nutrientes.

Fonte: Curcio, G.R.


BAIXA FERTILIDADE, ALTA PERMEABILIDADE
Ap 4,3 cmolckg 120 cm h-1

C 2,3 cmolckg 132 cm h-1


NEOSSOLO
QUARTZARÊNICO
Hidromórfico
Cg1 2,1 cmolckg 98 cm h-1 típico

Cg2 1,7 cmolckg 101 cm h-1 Baixa CTC e solo com boa drenagem! Um
grupo maior de espécies se adapta, mas
temos que buscar fontes pouco solúveis de
nutrientes.

Fonte: Curcio, G.R.


BAIXA FERTILIDADE, ALTA PERMEABILIDADE
Ap 4,3 cmolckg 120 cm h-1

C 2,3 cmolckg 132 cm h-1


NEOSSOLO
QUARTZARÊNICO
Hidromórfico
Cg1 2,1 cmolckg 98 cm h-1 típico

Cg2 1,7 cmolckg 101 cm h-1 Baixa CTC e solo com boa drenagem! Um
grupo maior de espécies se adapta, mas
temos que buscar fontes pouco solúveis de
nutrientes.

Fonte: Curcio, G.R.


HOR argila C V D.S C.H.
g kg-1 g kg-1 % kg dm-3 cm h-1

Ap 0 10,0 15 1,17 102,8

Baixa fertilidade e alta


C1 0 7,0 13 1,07 99,8 permeabilidade! Forte risco
ambiental ao adubarmos com
fontes solúveis!

Fonte: Curcio, G.R.


C2 0 0 9 1,02 173,4

NEOSSOLO QUARTZARÊNICO Distrófico típico


HOR argila C V D.S C.H.
g kg-1 g kg-1 % kg dm-3 cm h-1

Ap 0 10,0 15 1,17 102,8

Baixa fertilidade e alta


C1 0 7,0 13 1,07 99,8 permeabilidade! Forte risco
ambiental ao adubarmos com
fontes solúveis!

Fonte: Curcio, G.R.


C2 0 0 9 1,02 173,4

NEOSSOLO QUARTZARÊNICO Distrófico típico


HOR argila C V D.S C.H.
g kg-1 g kg-1 % kg dm-3 cm h-1

Ap 0 10,0 15 1,17 102,8

Baixa fertilidade e alta


C1 0 7,0 13 1,07 99,8 permeabilidade! Forte risco
ambiental ao adubarmos com
fontes solúveis!

Fonte: Curcio, G.R.


C2 0 0 9 1,02 173,4

NEOSSOLO QUARTZARÊNICO Distrófico típico


RECONSTRUÇÃO DE PAISAGENS E AS
FUNCIONALIDADES ECOLÓGICAS
AÇÃO EM TOPO DE ENCOSTA
AÇÃO PRÓXIMA A PLANÍCIE

TRANSFERÊNCIA
SUPERFICIAL

TRANSFERÊNCIA
SUBSUPERFICIAL

Fonte: Curcio, G.R.


FREÁTICO

RECARGA E DESCARGA HIDROLÓGIA


POTENCIAL DE CONTAMINAÇÃO
A VEGETAÇÃO SEGUNDO O GRAU DE
HIDROMORFIA DO SOLO
ESPÉCIES HIDRÓFILAS
Solos hidromórficos
(l. freático 0-50 cm)
ESPÉCIES HIGRÓFILAS
Solos Semi-hidrom.
(l. freático 50-100 cm)
ESPÉCIES MESÓFILAS
Solos Não-hidrom.
(l. freático acima de 100 cm)
Curcio, 2006.
ESTRATÉGIA DE PLANTIO

- hidrófilas
- mesófilas

rio

terraço bacia de terraço bacia de dique dique


embutido inundação isolado
inundação
Curcio, 2006.
A FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO

N2 + 8H+ + 8e 2 NH3 + H2 .......................................


Nitrogenase ou 16Mcal/kg de N-fixado por
fontes fósseis

FBN - processo acidificante


A FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO

Foto: Roriz L Machado


SMF 1382 100 kg/ha de N T
USO DE MICRORGANISMOS ASSOCIADOS A
LEGUMINOSAS ARBÓREAS DE RÁPIDO CRESCIMENTO
COMO ESTRATÉGIA DE REVEGETAÇÃO DE BAIXO CUSTO
O início do uso da técnica para RAD - 1989

Fotos: Eduardo F.C.Campello e Avílio A. Franco


POR QUE BASEAR A RECOMPOSIÇÃO DE
AMBIENTES EM ESPÉCIES DA FAMÍLIA DAS
LEGUMINOSAS?
 Alta diversidade da família, ocorrendo em todos os biomas brasileiros.
 Relativa facilidade de obtenção de sementes.
 Associações com microrganismos do solo.
ASSOCIAÇÃO ENTRE PLANTAS E MICRORGANISMOS

Micorrizas

Fotos: Acervo Embrapa Agrobiologia


M+R R TN T
SIMBIOSE
Bact. diazotrófica - PLANTA - fungo MA

Bactéria Fungo MA
diazotrófica PlANTA (biotrófico
(saprofítica) (autotrófica - fixa C) obrigatório)

Planta micorrizada
Planta nodulada (fixa C, + tol. est.
(fixa C e N) + efic. abs. nutr.
e água

Planta nodulada e micorrizada


(fixa C e N, + tol. est. + efic. abs. água e nut.)
PREMISSA DA TÉCNICA

Adaptado de Resende et al, 2006


PRINCIPAIS MECANISMOS PARA
REABILITAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS
Fontes de
propágulos

Substrato Agentes
dispersores
Reabilitação
ambiental de áreas
alteradas

Conformidade Fatores
do relevo ambientais
ESTUDOS DE CASO E
CONSIDERAÇÕES SOBRE SUCESSÃO
VEGETAL
NÚMERO DE ESPÉCIES SOB PLANTIOS DE
LEGUMINOSAS E NÃO LEGUMINOSAS ARBÓREAS
COM 12 ANOS
Porto 80
a
a
Trombetas
Número de espécies

60
- PA
40 b b b

20

Campello, 1998
BIOMASSA DA REGENERAÇÃO NATURAL 12 ANOS
APÓS PLANTIO
Porto
Trombetas
– PA

Campello, 1998
ENCOSTA URBANA
Angra dos Reis - RJ

10 anos
Fotos: Acervo Embrapa Agrobiologia
SUCESSÃO VEGETAL EM ÁREAS REVEGETADAS
COM LEGUMINOSAS ARBÓREAS, EM ANGRA DOS
REIS, 10 ANOS APÓS PLANTIO
M eliaceae 42,63%
Eup ho rb iaceae 10,01%
Pip eraceae 9,16%
Lauraceae 5,87%
Famílias

Gramineae 5,72%
M o raceae 5,29%
M yrs inaceae 3,58%
M yrt aceae 2,72%
So lanaceae 2,58%
1 6 res t ant es 12,45%

0% 10% 20% 30% 40% 50%

% In di ví du os
RESUMO
 A degradação muitas vezes só é observada quando os custos para sua reversão
são elevados. Portanto, fazer uso de sistemas produtivos menos impactantes em
áreas mais frágeis, é o melhor caminho.
 Existem uma série de estratégias para se recuperar uma área e infelizmente tudo
é caso a caso, não há receitas de bolo.
 Avaliar o nível de degradação do solo é fundamental para definir espécies mais
adequadas, adubos e adubação.
 O uso de leguminosas associadas a microrganismos é uma estratégia aplicável em
alguns casos e pode aumentar o nível de sucesso e reduzir custos.
 Em áreas com abundância de fontes de propágulos e agentes dispersores o
sucesso da técnica é mais frequente.
OBRIGADO!
Alexander Silva de Resende

Você também pode gostar