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“Quem não possui uma coleção ─ e os grandes colecionadores particulares são cada vez
mais raros ─ só pode conhecer a pintura e a escultura em grande escala nos museus. E
quando o desconforto com eles fica muito grande e se tenta exibir os quadros em seu
ambiente original ou em ambientes reconstruídos [...], o mal-estar produzido é mais
constrangedor do que quando as obras se apresentam fora de qualquer contexto,
simplesmente amontoadas nas salas de exposição. O refinamento pode trazer mais
danos á arte do que a confusão.” (p.171)
“Com a crença em que o original pode ser reconstituído a partir do arbítrio, corremos o
risco de nos enredar em um romantismo sem saída; sem produzir benefícios, a
modernização do passado apenas o violenta.” (p.171)
“Valéry declara que não morre de amores pelos museus. Por mais que conservem coisas
admiráveis, diz ele, não guardam coisas deliciosas.” (p.172)
“Somente onde impera aquela rígida distância entre a obra de arte e o observador, a
distância que permite o gozo, é que pode surgir a questão de a obra estar viva ou morta.
Aquele que vive com a obra de arte como se estivesse em sua casa, em vez de visitá-la,
dificilmente terá este tipo de questionamento.” (p. 176)
“O que lhe importa [Valéry] é a obra de arte como objeto de uma contemplação que não
é perturbada por nada, mas que agarra o objeto durante tanto tempo e tão fixamente que
este [...], acaba morrendo. A obra pura é ameaçada pela coisificação e pela indiferença.
Com esta experiência, o museu a domina.” (p.177)
“Na capacidade das coisas de erodir, Proust descobre sua semelhança com o belo
natural. Ele considera a fisiognomia da decadência das coisas como fisiognomia da sua
segunda vida. […] A questão da qualidade estética é secundária para o estetismo
proustiano […].” (p.179)
“O aspecto caótico do museu que desagrada a Valéry por confundir a expressão das
obras, ganha em Proust uma expressão própria: a trágica. Para Proust, a morte das obras
no museu desperta-as novamente para a vida […].” (p. 179-180)
“A luta contra os museus tem algo de quixotesco não apenas porque, nesta luta, o
protesto da barbárie não é ouvido, mas também porque carrega uma esperança
excessiva. [...] Aquelas penduradas em lugares antigos [...], são peças de museu sem
museu. Aquilo que devora a vida da obra de arte é ao mesmo tempo sua própria vida.”
(p.182)
“Os museus não podem ser fechados, e isto nem sequer seria desejável. Os gabinetes de
história natural do espírito, na verdade, transformaram as obras de arte na escrita
hieroglífica da história, acrescentando-lhe um novo conteúdo, enquanto o velho
encolhia. Contra isso, porém, não há como oferecer um conceito de arte pura tomado de
empréstimo ao passado e, ao mesmo tempo, expressão inadequada dele. [...] Ao mesmo
tempo, os museus demandam insistentemente o que toda obra de arte exige: algo
daquele que contempla [...]. A única relação com a arte que ainda seria própria dessa
realidade ameaçada pela catástrofe seria uma que levasse as obras de arte tão
drasticamente a sério como se tornou o rumo do próprio mundo.” (p.183)