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Índice
Declaração.........................................................................................................................................iv

Dedicatória........................................................................................................................................vii

Agradecimento...................................................................................................................................x

A todos, meu muito Obrigado!...............................................................................................................x

Resumo.................................................................................................................................................xi

Introdução........................................................................................................................................11

1.1 Enquadramento teórico: Teoria Construtivista...........................................................................15

1.2AbordagemConceptual................................................................................................................16

1.2.1Breve historial da violência......................................................................................................16

1.3Violência Doméstica...................................................................................................................17

1.4Tipos de Violência Doméstica.....................................................................................................19

1.5 Violência doméstica como um fenómeno Social........................................................................20

1.6Violência doméstica contra os homens: alguns Estudos científicos sobre homens vítimas de
violência doméstica..........................................................................................................................21

1.7Violência doméstica em Moçambique.........................................................................................22

1.8A Lei nº 29/2009 de 29 de Setembro...........................................................................................23

1.9Tendências de Casos de Violência Doméstica.............................................................................24

2.1 Tipo de Pesquisa.........................................................................................................................26

2.1.3 Quanto a Procedimentos..........................................................................................................28

2.3População e amostra da pesquisa.................................................................................................29

2.4Local de estudo: Cidade de Nampula – Bairro de Natikiri..........................................................30

2.4.1Localização geográfica e limites da Cidade de Nampula..........................................................30

2.4.2Divisão Administrativa da Cidade de Nampula........................................................................30

3.1Percepções sobre a Violência Doméstica entre casais.................................................................31

3.2Os tipos de violência sofrido pelos homens.................................................................................32

3.3As razões de não recorrer as instâncias policiais para denunciar os actos de violência praticados
pelas parceiras..................................................................................................................................33
iii

3.4Formas de lidar com a violência..................................................................................................35

3.5Os indivíduos recorridos quando os homens são agredidos.........................................................36

3.6 Razões que levam os homens vítimas de violência a continuarem em vivenciar as agressões....37

3.7 A relação com a parceira após as agressões................................................................................38

3.8A importância da denúncia das agressões....................................................................................38

3.9Noções sobre as leis que protegem homens vitimas de violênciadomestica................................39

Conclusão.........................................................................................................................................41

Constrangimento da Pesquisa...........................................................................................................43

Bibliografia......................................................................................................................................45

Apêndice..........................................................................................................................................47

Abreviaturas e Siglas
iv

INE Instituto Nacional de Estatística

LDH Liga Moçambicana dos Direitos Humanos

OMS Organização Mundial de Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

UPN Universidade Pedagógica – Nampula

VD Violência Doméstica

WLSA Women and Lawin Southern Africa


v

Declaração

Declaro que esta Monografia Científica é resultado da minha investigação pessoal e das
orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão
devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.

Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para
obtenção de qualquer grau académico.

____________________________________

(Janete Patrício Maquina)


vi

Dedicatória

Dedico esta monografia aos meus pais, Patrício Máquina e Gema Paulino por tudo que
fizeram para que eu alcançasse os meus objectivos.
vii
viii

Agradecimento

A Deus por me ter dado saúde nesta longa caminhada, e ter me ajudado a não me
desviar dos meus objectivos, mostrando que tudo na vida tem um motivo; Aos meus pais,
Patrício Máquina e Gema Paulino, pelo amor incondicional, e, também, ao trabalho árduo que
tiveram para me manter a estudar e pelos conselhos encorajadores.

Ao meu amigo Octávio Manuel Assane, que foi fonte de inspiração e encorajamento
para que ingressasse ao nível superior.

A cada um dos meus irmãos, Jeremias das Neves Patrício Máquina, Jerusa Patrício
Máquina e Pilma Patrício Máquina, e também a minha melhora amiga Yara Cossa pela força
e coragem que prestaram nesses anos.

Ao meu supervisor, Dr. Aristides Mucopa, pelo encorajamento acompanhamento deste


trabalho e aos docentes da Faculdade de ciências sociais e filosóficas, em especial aos de
sociologia com habilitações em desenvolvimento rural.

Por fim aos meus Colegas e amigos da turma 2015, que estiveram comigo nesta longa
caminhada e passaram a fazer parte da minha vida em todos momentos quanto puderam,
registo em particular a Cármen Américo simpueque, Djidjo Rabuca, Sofonias Armindo, Nura
Cedubai, Arsénia Ressique da Berta Amade e Albuquerque santos.

A todos, meu muito Obrigado!


ix

Resumo

Esta monografia cujo título é A Violência Doméstica contra o homem: Estudo de caso do
bairro de Natikiri (2015 – 2018), tem como objectivo geral analisar as causas que levam os homens,
vítimas da violência doméstica, a não denunciar os actos de violência praticados contra eles. E, de
forma específica: (i) identificar as causas que levam os homens vítimas de violência doméstica a não
denunciar as instâncias policiais os actos de violência perpetrados contra eles; (ii) Descrever como é
que os homens vítimas de violência lidam com a situação; (iii) Descrever o motivo pelo qual os
homens vítimas de violência optem por não denunciar os actos de violência contra eles. No que
concerne a metodologia, foi uma pesquisa qualitativa quanto a sua abordagem, exploratória no que
concerne os seus objectivos, e foi usada, também, a entrevista semi-estruturada como ferramenta de
recolha de dados no terreno, foi usada uma amostra simples ou por conveniência, que envolveu 10
homens. Assim, de acordo com os resultados constatou-se que o medo de divórcio, o gosto pela suas
esposa e a tentativa de manter a sua masculinidade, leva os homens vítimas de violência doméstica a
não optarem pela denúncia dos actos de violência praticadas pelas suas esposas, portanto, suportar os
actos de violência, manter-se no silêncio, afastar-se da promotora da violência, conversação com a
promotora da violência e a sua família ou recorrer bebida são as formas que os homens vítimas de
violência encontram para lidar com os actos de violência praticados pelas suas esposas, por um lado,
as principais causas que fazem com que os homens vítimas de violência optam em não denunciar os
actos de violência consistem na falta de um gabinete que se dedica a casos de homens vitimas de
violência, também por as autoridades não resolverem ou se dedicarem com tanta eficácia nos casos em
que o homem é vítima de violência. Por outro, alguns homens não denunciam os actos de violência
por questões pessoais, como a vergonha de ser visto pela sociedade como homem fraco e subjugado
pela esposa, assim eles, preferem não denunciar a violência que passam para preservar a sua
masculinidade. Com isso, sugere-se o seguinte: (i) Que se desenvolvam ou que haja mais pesquisas
relacionadas a esta temática; sobretudo, no contexto moçambicano, de modo a demonstrar a
ocorrência e as consequências deste fenómeno no seio social; (ii) Que os estudos desenvolvidos acerca
desta temática não descartem a possibilidade dos homens também serem vítimas da violência
doméstica; (iii) Que os resultados da pesquisa relativo a violência doméstica contra homens sejam
apresentados as autoridades oficiais assim como os locais, de modo a não deixar passar despercebido
este fenómeno.

Palavras – Chave: Violência doméstica, Homens, Bairro de Natikiri


x

Abstract

This monograph entitled The Domestic Violence against Man: A case study of the Natikiri
neighborhood (2015-2018), aims to analyze the causes that lead men, victims of domestic violence,
not to report acts of violence against they. And, specifically, identify the causes that lead men who are
victims of domestic violence to resolve not to report to the official bodies the acts of violence
perpetrated against them; Describe how men who are victims of violence deal with the situation;
Explain why men who are victims of violence choose not to report acts of violence against them.
Regarding the methodology, it was a qualitative research regarding its approach, exploratory regarding
its objectives, and the semi-structured interview was used as a data collection tool in the field, a simple
sample or convenience was used, involving 10 men. According to the results, it was found that the fear
of divorce, by still liking the wife or trying to maintain her masculinity, leads men who are victims of
domestic violence not to choose to denounce the acts of violence practiced by their wives or violence,
to remain silent, to distance oneself from the promoter of violence, to talk with the promoter of
violence and to his family, or to resort to drinking are the forms that men who are victims of violence
find to deal with acts of violence committed by their wives and the main causes that cause men who
are victims of violence to choose not to report acts of violence are a lack of a cabinet dedicated to the
cases of men who are victims of violence, or to devote himself so effectively in cases where man is a
victim of violence. On the other hand, some men do not denounce acts of violence on personal
grounds, such as the shame of being seen by society as a weak man and subjugated by the wife, so
they prefer not to denounce the violence they suffer to preserve their masculinity. With this, it is
suggested the following: That are developed or that there is more research related to this subject;
especially in the Mozambican context, in order to demonstrate the occurrence and consequences of
this phenomenon within the social sphere; That the studies developed on this subject do not rule out
the possibility of men also being victims of domestic violence; That the results of the survey on
domestic violence against men be presented to the official authorities as well as the local ones, so as
not to let this phenomenon go unnoticed
Keywords: Domestic Violence, Men, Natikiri Ward
xi

Introdução

A presente monografia tem como titulo A Violência Doméstica contra o homem:


Estudo de caso do bairro de Natikiri (2015 – 2018), busca analisar as causas que levam os
homens, vítimas da violência doméstica, a optarem por não denunciar os actos de violência
praticados contra eles.

Alguns estudos como de CORTES (2012), mostram que nos últimos tempos, a
violência tornou-se um problema central para a sociedade sendo um assunto discutido e
estudado por várias áreas do conhecimento. Neste caso, os estudos referem que a violência
doméstica é um problema de natureza social que vem afectando centenas de mulheres em
todo mundo. A violência do género tem atingindo mulheres de todas as faixas etárias e de
diferentes classes sociais, regiões, grupos étnicos, graus de escolaridade, orientação do desejo
sexual e religião.

Esses estudos incidiram sobre a violência doméstica, dando prioridade a violência


exercida contra a mulher. No entanto, em alguns casos, esta refere-se apenas à mulher como
vítima e ao homem como seu respectivo agressor; sem a perspectiva de que o oposto também
possa ocorrer. (BUSH & ROSENBERG apud CAMPOS, 2016).

Na mesma ordem de ideias, MACHADO & MATOS (2012) sustentam que a violência
pode ser bi-direcional e multifacetada, sendo importante compreender o fenómeno de
violência doméstica como um todo, independentemente do sexo da vítima ou perpetrador.

Com base nesta perspectiva, importa referenciar que nos últimos anos, o perfil de
vítima de violência doméstica tem-se transformando, evidenciando diferentes realidades,
como por exemplo, o aumento dos casos em que o homem é vítima de violência doméstica
MATOS & SANTOS, (2014).

Internacionalmente, os dados revelam-se alarmantes. Segundo o National Crime


Victimization Survey (EUA), em 2014, a proporção de violência doméstica foi de 2.4 vítimas
por cada 1000 habitantes. Os estudos sobre a prevalência são díspares, mas reflectem uma
“nova” realidade: os homens são vítimas de violência doméstica (US Departmentof Justice,
2015, S/P).
xii

Sendo assim, a violência doméstica contra homens tem sido negligenciada na


investigação científica, não sendo ainda alvo de atenção social e científica.

Esta realidade é notória em Moçambique, particularmente na cidade de Nampula.A


violência doméstica contra as mulheres tem sido alvo de atenções a nível social, cientifica,
judicial e entres outros, devido a vários casos de denúncia por parte das mulheres, registados
nos gabinetes que se dedicam a resolução de casos de violência doméstica contras as
mulheres, deixando despercebido o lado oposto do caso, em que os homens são vitimas de
violência domestica pelas suas parceiras.

Assim, em Moçambique, a violência doméstica é indicada, segundo MINAYO&


CAPURCGANDE (2009: 49) como sendo um dos principais agravantes das taxas
dehomicídio.

Neste caso, a sociedade civil moçambicana, representada por várias associações e


organizações não governamentais como a Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDH),
o Fórum Mulher, Mulher Lei e Desenvolvimento, a Women and Lawin Southern Africa
(WLSA), a Associação das Mulheres de Carreira Jurídica, só para citar algumas, conscientes
da realidade trazida pela violência doméstica, conjuntamente envidaram esforços para que
oficialmente a violência doméstica fosse combatida.

Entretanto, várias são as instâncias que as mulheres recorrem para denunciar um


determinado acto de violência doméstica, e a estatística de violências doméstica apresentados
pelo INE (2013 – 2015), ilustram apenas os dados referentes a violência contras as mulheres
com base no levantamento das denúncias e registos de casos sobre a violência contra as
mulheres. Assim, com base na problemática descrita, levantou-se a seguinte questão: Porque
é que os homens vítimas de violência doméstica não denunciam as suas parceiras nas
autoridades policiais?

O trabalho tem como objectivo geral: analisar as causas que levam os homens, vítimas
da violência doméstica, a não denunciar os actos de violência praticados contra eles. E como
objectivo específico, os seguintes:

 Identificar as causas que levam os homens vítimas de violência doméstica a não


denunciar às instâncias policiais os actos de violência perpetrados contra eles;
 Descrever como é que os homens vítimas de violência lidam com a situação;
 Descrevero motivo pelo qual os homens vítimas de violência optem por não denunciar
os actos de violência contra eles.
xiii

A partir desses objectivos levantamos as seguintes hipóteses:

 O intuito de preservar a sua masculinidade é uma das causas que faz com que os
homens optem em não denunciara violências que sofrem com suas parceiras;
 O desconhecimento das leis que defendem os homens vítimas de violência contribui
para que os homens não denunciem os actos de violência;
 A construção social sobre a personalidade e potencialidade do homem leva os
homens a não denunciar os actos de violência contra eles.

Como se pode notar há vários estudos que falam sobre a violência doméstica, os
mesmos mostram que a situação é bastante preocupante, e mostram também uma necessidade
de a gente procurar entender esses processos de violência dentro do contexto moçambicano,
porque Moçambique não está inócuos os debates sobre a violência doméstica, e por causa
disso criou-se uma lei sobre a violência doméstica em 2009.

Portanto, é relevante falar deste estudo, neste caso, a violência contra o homem, pois já
existem vários estudos que apontam simplesmente a violência doméstica contra a mulher. Dai
que, é preciso perceber a violência como sendo bi-direccional, pois acontece para ambas as
partes (homens e mulheres). É notória a violência doméstica para mulheres e crianças porque
denunciam em instâncias que tutelam este assunto enquanto, raramente os homens fazem-na.
Devidas as razões acima mencionadas, por isso que é difícil notarmos a violência doméstica
contra os homens.

Como foi referenciado, o estudo foi feito no bairro de Natikiri onde a pesquisadora
notou a ocorrência desse fenómeno, o que justifica fazer este estudo para nos levar a
compreende-lo.

Dai que, os resultados deste estudo podem ser usados para reflectir em torno da violência
contra os homens, que por vezes este assunto passa despercebido para muitos: as autoridades
e a comunidade científica.

Portanto, os resultados dessa pesquisa são lastimáveis, pois os informantes neste caso, homens
mostram-se preocupados pelo desconhecimento das leis que não promovem a violência
doméstica contra eles, temos visto que na própria lei 29, apenas frisa-se, ou faz-se menção à
violência contra a mulher, nos cartazes e até mesmo nas mídias é raro ver a representação dos
homens como paciente ou sofredores desta violência, por esta razão os resultados revelam que
estes são os motivos que fazem com que eles não recorram as autoridades policiais para fazer
denúncia da violência doméstica por parte das suas parceiras.
xiv

As leis e as mídias ou a sociedade não beneficiam ou favorecem aos homens para que eles
possam fazer denúncia desses actos.

Quanto ao contexto disciplinar o estudo enquadra-se na disciplina de Gestão de Conflitos


Locais.

No que concerne a estrutura do trabalho, este está dividido em três capítulos: No


capítulo I será apresentado o enquadramento Teórico ou se quisermos, Conceptual, que
consiste, sobretudo, em apresentar ao leitor as principais teorias que se relacionam, com o
tema em estudo, no qual se faz referência aos principais aspectos que caracterizam a teoria
construtivista, breve historial da violência doméstica, tipos de violência doméstica, violência
como fenómeno social, a lei nº 29/2009 de 29 de Setembro e tendência de casos de violência
doméstica. Portanto são conceitos dique achamos pertinentes e que irão suportar a defesa dos
resultados que serão obtidos ao longo da apresentação do trabalho.

Faz-se, igualmente, a descrição de diferentes abordagens narradas sobre o assunto em


estudo resultantes da pesquisa bibliográfica, discute-se as questões, directa ou indirectamente,
a violência doméstica contra o homem.

No capítulo II apresenta-se também os procedimentos metodológico utilizado para


obtenção dos resultados, faz-se menção também dos tipos de pesquisa,a descrição das técnicas
de colecta de dados, a amostra e universo, em suma apresentam-se os passos que a autora teve
que seguir para a elaboração do estudo.

No capítulo III apresenta-se a análise e interpretação dos resultados, que consiste na


apresentação, analise e interpretação dos dados colectados no campo, não só, faz-se a revisão
das hipóteses com objectivo de validar ou invalidar que foram avançadas consoante o
problema da pesquisa.

Por isso fim, o estudo termina com uma conclusão em que serão apresentados os
resultados obtidos na análise e apresenta-se-ão os pontos mais importantes para a contribuição
da promoção da violência doméstica contra os homens. Possuem igualmente uma referência
bibliográfica onde contem os autores mencionados neste estudo.
xv

CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo apresentamos e definimos os conceitos fundamentais que sustentam o


tema em estudo, segundo diferentes perspectivas. Também, apresentamos a teoria que nos
ajudou a explicar o nosso estudo.

1.1 Enquadramento teórico: Teoria Construtivista

Para a concretização deste trabalho, sobretudo, no que diz respeito a teoria de base,
propôs-se a teoria de construção social. Essa teoria facultou a perceber as razões que fazem
com que os homens, vítimas da violência doméstica não denunciem os actos de violência
praticados pelas suas parceiras.

Assim sendo, BERGER & LUCHRMANN (1978:35), na sua obra “A Construção


Social da Realidade: Tratado de Sociologia do Conhecimento”, fundamentam que, “a vida
quotidiana apresenta-se como uma realidade interpretada pelos homens e subjectivamente
dotada de sentido para eles na medida em que forma um mundo coerente, ou seja, cada
indivíduo possui a sua interpretação particular e pessoal da realidade da vida quotidiana”.

Como se pode notar, na citação acima, deixa bem claro que existem vários conceitos
para cada individuo relativo a ocorrência de um dado fenómeno, o modo como a sociedade
concebe a mulher é diferente de homem, pois o homem é aquele ser dotado de podere a
mulher submissa, ou por outra o homem o elo mais forte e a mulher o elo mais fraco.

Dai que, se o homem sofre de violência doméstica prefere calar-se a não denunciar
porque talvez entre em risco a sua masculinidade e é assim que a sociedades concebe, porém,
vai sofrendo a violência pacificamente, enquanto a mulher vai sobressaindo como a que mais
sofre esta violência.

Portanto, é por causa desta construção social que ate hoje desconhece-se a ocorrência
de violência doméstica contra o homem. Os homens são levados pelos conhecimentos do
senso comum e passam agir de acordo a esse, de forma natural, com medo da reacção da
sociedade.

A construção social aqui referida ocorre por via de interacção entre os indivíduos no
seu quotidiano, tal como referem os autores acima mencionados que a existência no mundo da
vida quotidiana, está condicionada pela interacção com outros indivíduos, portanto, os autores
xvi

afirmam que não se pode existir na vida quotidiana sem estar continuamente em interacção e
em comunicação com os outros.

Com isto, percebe-se que a interacção e a comunicação com os outros só se tornam


possível se existir uma contínua correspondência entre as formas como eu percebo e a do
outro.

Assim, a realidade da vida quotidiana para estes autores é a que se apresenta como
sendo a realidade por excelência. Neste sentido, a vida quotidiana impõe-se á nossa
consciência de forma maciça, urgente e intensa sendo difícil ignorá-la e diminuir a sua
presença imperiosa.
1.2AbordagemConceptual

1.2.1Breve historial da violência

Etmologicamente, o termo violência provém do latim violentia, relacionado a vis e


violare, porta os significados de força em acção, força física, potência, essência, mas também
de algo que viola, profana, transgride ou destrói (XAVIER, 2008: 21).

Neste sentido, a definição de Violência doméstica, embora complexa e distinta de


cultura para cultura é inequívoca para os profissionais que se debruçam sobre este fenómeno.
Assim, a violência doméstica adquiriu relevo na década de 60, como uma violação dos
Direitos Humanos, no entanto pode-se constatar que de acordo com a história da sociedade
este fenómeno não é novo, uma vez que, tradicionalmente a sociedade apresentava como parte
integrante dinâmicas violentas familiares.

Na sociedade pré-industrial, de acordo com GELLES (1997) apud ANDRANDE


(2004:6) “as crianças podiam ser mortas por chorarem demasiado, ou se nascessem
deformadas. Este infanticídio acontecia maioritariamente aos filhos de mães solteiras,
meninas e gémeos. E por isso podemo-nos deparar com uma sociedade violenta, em que
comportamentos hoje considerados criminosos, eram aceites”.

Para TALES & MINAYO (2011) apud MUENDENEe (2012:19) “a violência é, no


geral, entendida como um fenómeno sócio-histórico complexo e que deve ser abordado
respeitando as dimensões espaço e temporais”.

Com base no posicionamento dos autores supramencionados reside a ideia de que a


modalidade da manifestação da violência e a sua motivação devem ser reflectidas dentro de
xvii

um contexto sócio-histórico específico. Assim, se entre a Antiguidade e a Idade Média a


violência era motivada por questões ligadas à mera sobrevivência dos indivíduos e exploração
de uns pelos outros, na Modernidade a manifestação desta é justificada por factores como
pobreza, desemprego, exclusão sócio-política, desigualdades sociais e a falta de acesso aos
recursos básicos para a sobrevivência na sociedade moderna.

No entanto, foi na segunda metade do século XX que a violência doméstica saiu da


esfera privada e se torna uma questão pública, tendo vindo a ganhar uma maior visibilidade.
Hoje é foco de atenção da ciência, da política e do discurso dos mídias.

Partindo desse pressuposto importa ressaltar que o termo “violência doméstica” vem
sendo alterado ao longo do tempo, tal como destaca DIAS (2014:15):
A violência entre parceiros íntimos teve várias denominações ao longo do
tempo, durante a primeira metade do século XX, foi retratada como intra
familiar, nos anos 70, passou a ser denominada de violência contra a mulher,
na década de 80, passou a ser chamada de violência doméstica; por fim, a
partir da década de 90, intitulou-se violência de género.
Assim, após todas estas definições, actualmente a violência específica entre casais tem
se intitulado como violência entre parceiros íntimos. Esse termo não faz limitações apenas à
violência contra a mulher ou somente em relações heterossexuais, mas abrange as novas
configurações familiares presentes na contemporaneidade.

Contudo, cada sociedade de acordo com as suas regras e normas terá critérios
diferentes para a designação do que é a violência na própria cultura.

1.3Violência Doméstica

MACHADO&GONÇALVES (2002) nas suas abordagens sustentam que,

Considera-se violência doméstica qualquer acto, conduta ou omissão que


sirva para infligir, reiteradamente e com intensidade, sofrimentos físicos,
sexuais, mentais ou económicos, de modo directo ou indirecto (por meio de
ameaças, enganos, coacção ou qualquer outro meio) a qualquer pessoa que
habite no mesmo agregado doméstico privado (pessoas – crianças, jovens,
mulheres adultas, homens adultos ou idosos a viver em alojamento comum)
ou que, não habitando no mesmo agregado doméstico privado que o agente
da violência, seja cônjuge ou companheiro marital ou ex-cônjuge ou ex-
companheiro marital.
A conceptualização dos autores supramencionados focaliza que a violência doméstica
pode ser vista como um comportamento violento continuado ou um padrão de controlo
coercivo exercido, directa ou indirectamente, sobre qualquer pessoa que habite no mesmo
agregado familiar ou que, mesmo não coabitando.
xviii

Ainda, na mesma vertente MACHADO & GONÇALVES (2012) avançam que este padrão de
comportamento violento continuado resulta, a curto ou médio prazo, em danos físicos,
sexuais, emocionais, psicológicos, imposição de isolamento social ou de privação económicaà
vítima, visa dominá-la, fazê-la sentir-se subordinada, incompetente, sem valor ou fazê-la viver
num clima de medo permanente.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1998:7), “a violência doméstica


consiste em ameaça ou utilização intencional da força física e/ou força psíquica que pode ser
usada contra si mesmo, contra outros, grupo ou comunidade; que ameaça ou coloca
fortemente em risco de um traumatismo, ou de prejuízo para as suas acções psicológicas, um
mau desenvolvimento ou privações”.

Assim, o relatório Mundial da Saúde de 2002 da OMS enfatiza que a violência tem
aumentado a mortalidade entre os indivíduos e é responsável por um elevado índice de
morbilidade, sequelas tardias em populações de idosos, crianças e mulheres, considerados
mais vulneráveis.

É neste contexto que a Organização Mundial de Saúde, assume a violência doméstica


como sendo um problema que não afecta apenas a família, mas a sociedade em geral,
considerando-a um problema ao nível da saúde pública que compromete o desenvolvimento
saudável da pessoa agredida, como também de toda a sociedade.

A Organização das Nações Unidas (ONU) (2004) apud Quaresma (2012), por seu
turno fomenta que “a violência doméstica consiste na violência que ocorre na esfera da vida
privada, geralmente entre indivíduos que estão relacionados por consanguinidade ou por
intimidade”.

Com base na definição dada pela ONU compreende-se que a violência doméstica é um
fenómeno social que abrange a todos indivíduos, sem distinção de género ou sexo, visto que a
violência doméstica consiste em qualquer acção intencional, perpetrada por indivíduo, grupo,
instituição, classes ou nações dirigida a outrem, que causa prejuízos, danos físicos, sociais,
psicológicos e (ou) espirituais.

A ideologia acima remete-nos a visão de MANITA (2004:19), que afirma “no âmbito
conjugal a violência doméstica é um fenómeno transversal, que não se reporta apenas à
violência do homem para com a mulher, mas também a situação inversa, estando presente
também em casais homossexuais, tanto femininos como masculinos”.
xix

A autora ressalva este factor de transversalidade da violência nas relações conjugais


devido o início do estudo da violência entre parceiros íntimos, que se baseava na tese de a
mulher ser a única vítima desta.Embora, os relatórios médicos, estatísticas, entre outros,
mostrem que estas são as principais vítimas da violência doméstica.

Contudo, a violência doméstica considera-se um fenómeno transversal a todas as


sociedades, no entanto a sua definição não é universal. Esta pode ser, entendida como um
comportamento contínuo praticado, directa ou indirectamente sobre qualquer indivíduo que
habite o mesmo agregado familiar ou que não coabitando, seja ele companheiro, ex-
companheiro ou familiar.

1.4Tipos de Violência Doméstica

Na óptica de GUERRA (2016:31), “a violência doméstica ou conjugal é exercida de


múltiplas formas e tende a aumentar em frequência, intensidade e, logo, gravidade dos actos
perpetrados (e risco para a vítima)”.

Assim, na mesma linhagem GUERRA (idem), acrescenta que a tipologia mais


frequentemente utilizada distingue os seguintes tipos de violência doméstica:

 Violência Física – consiste no uso da força física com o objectivo de ferir ou causar
dano físico ou orgânico, deixando ou não marcas evidentes. Engloba actos como
empurrar, puxar o cabelo, dar estaladas, murros, pontapés, apertar os braços com
força, apertar o pescoço, bater com a cabeça da vítima na parede, armários ou outras
superfícies;
 Violência Psicológica – consiste em actos, condutas, omissões ou exposição a
situações que alterem ou possam alterar o estado afectivo necessário para o
desenvolvimento psicológico normal, tais como: insultos, ameaças, humilhações e
isolamento;
 Violência Sexual – consiste em toda a forma de imposição de práticas de cariz sexual
contra a vontade da vítima (violação, exposição a práticas sexuais com terceiros,
forçar a vítima a manter contactos sexuais com terceiros, exposição forçada a
pornografia), recorrendo a ameaças e coação ou, muitas vezes, à força física para a
obrigar. Dito de outro modo, é toda a actividade dirigida a realização de actos sexuais
contra a vontade da mulher; esta vai desde qualquer tipo de contacto sexual não
desejado até a intenção de violar ou a própria violação;
xx

 Violência Económica – é controlo e limitação de recursos económicos e acções que


impedem o acesso aos bens e serviços;
 Violência Social – são actos e comportamentos que limitam as relações sociais e
familiares, que isolam a mulher e não lhe permitem a utilização das redes de apoio.

1.5 Violência doméstica como um fenómeno Social

Na análise da violência doméstica, enquanto fenómeno social, é necessário ter em


conta a forma como cada indivíduo a percepciona. Percepção esta que é influenciada pelo
contexto sociocultural em que se insere e pelas suas percepções pessoais (Dias;2004).

Assim sendo, para a análise deste fenómeno importa perceber o significado que o
sujeito atribui aos actos violentos, perceber como este configura a violência doméstica, tendo
em conta a cultura que o rodeia. Visto que, os indivíduos e grupos ao atribuir sentido às suas
condutas e compreender a realidade através do seu próprio sistema de referências.

Nesta perspectiva de GONÇALVES & MACHADO (2002:86) afirmam que a


crescente visibilidade deste fenómeno se deve à alteração das valorizações de certos actos, ou
seja, à forma como os indivíduos e as sociedades representam e percebem os actos cometidos.
Por isso, a violência doméstica permaneceu, segundo os mesmos autores, dentro de portas, só
o passar do tempo foi mostrando a família como um lugar de violência.

Assim, a violência doméstica é, consensualmente vista como sendo, um fenómeno que


faz parte da experiência de muitos lares e a casa é considerada o espaço privilegiado da
violência. E, é ainda mais, vista como sendo transversal a todas as classes sociais,
diferenciando-se, porém, quando analisada segundo as suas motivações e formas de
manifestação.

Segundo estudos feitos sobre o fenómeno, a violência doméstica não atinge só os lares
de estratos mais baixos, pois classes de posição social elevada (médicos, políticos e
professores universitários), cometem também esta prática.

Em geral, vários são os factores apontados como estando por detrás da manifestação
da violência doméstica, desde factores da ordem psicológica a factores de ordem cultural.

Desses factores, segundo ALVES (2005), consistem em perturbações mentais;


frustração; alcoolismo ou toxicodependência; problemas financeiros; desemprego; vivências
infantis de agressão ou violência parental.
xxi

Portanto, pode-se afirmar que desde problemas psicológicos do indivíduo (agressor) a


questões ligadas a uma trajectória social exposta á situações de violência, podem levar o
indivíduo a se tornar num potencial actor de violência doméstica.

1.6Violência doméstica contra os homens: alguns Estudos científicos sobre homens


vítimas de violência doméstica

As literaturas sobre a violência doméstica contra o homem revelam que este fenómeno
é ainda uma realidade pouco estudada, em parte devido à resistência face à denúncia e à
partilha de vivências por parte dos mesmos. Pode afirmar-se que embora os registos
demonstrem que as mulheres sofram as mais elevadas taxas de violência, também os homens
se vêm envolvidos em relações conjugais violenta.

Assim, os estudos defendem que a violência pode ser bidirecional e multifacetada


sendo importante compreender o fenómeno de violência doméstica como um todo,
independentemente do sexo da vítima ou perpetrador. Para tal, é crucial admitir que a
violência doméstica não se circunscreve só a vítimas no feminino e que a investigação não se
deve focar apenas em quem perpetra mais, nem em quem é mais vítima deste fenómeno.
(MACHADO & MATOS, 2012).

Ainda na óptica dos autores supracitados, segundo os dados mais recentes do National
Crime VictimizationSurvey, 18% dos homens inquiridos foram vítimas de violência
doméstica. E a nível europeu, dados da organização Parity revelaram que aproximadamente
40% das vítimas de violência doméstica eram homens.

A revisão da literatura de DESRMARIAS et al (2012), revelou que um em cada cinco


homens é vítima de violência doméstica. BARROS et al (2015), avaliou a prevalência de
violência doméstica na Europa, revelou que homens e mulheres apresentavam prevalências
similares para a vitimação e para a perpetração, exceptuando a coerção sexual que é
maioritariamente perpetrada por homens.

O mesmo estudo informou ainda que a mulher tendencialmente pratica mais violência
física do que o homem, dados que são congruentes com a meta-análise. (CAMPO 2016:6).

Num estudo de CARROTO et al (1994) apud SILVA (2012:39), demonstra que 90%
das mulheres que agridem os homens fazem-no porque se encontram furiosas, ciumentas,
sobre efeito de drogas ou álcool, devido a impulsos violentos ou para o controlar e não em
auto-defesa.
xxii

Além desta perspectiva o estudo revela ainda que a não representatividade da realidade
da violência doméstica contra o homem deve-se ao facto destes:

 Não serem considerados em recolhas de dados;


 Em alguns estudos realizados foi impossível concretizar a análise estatística uma vez
que a violência doméstica contra o homem foi muito pouco referida;
 Normalmente as pesquisas neste sentido indicam que os homens têm mais recursos
para sair das relações íntimas violentas antes mesmo de ocorrer um abuso violento
considerado grave.

No entanto, os pontos acima referenciados sobre as dificuldades existentes em abordar


sobre a violência doméstica contra os homens, verifica-se no contexto Moçambicano, visto
que, os dados estatísticos e os estudos científicos realizados se cingem muitos mais na
violência doméstica que ocorre contra a mulher.

1.7Violência doméstica em Moçambique

A violência doméstica, é uma violação dos direitos fundamentais do Homem e pode


ter impacto na saúde física e psíquica da vítima no momento da ocorrência e assim como no
futuro. Na maioria dos países africanos a prática de violência doméstica é comum.
Moçambique, não é excepção, pois, o país conta com mais de 20 mil casos de violência
doméstica reportados, com destaque violência contra mulheres e crianças. Este número de
casos reportados pode não corresponder a realidade do que se passa no país todo, pois muitas
vítimas podem preferir manterem-se no silêncio por necessidade de protecção do agressor ou
considerar como uma situação normal (INE 2017:7).

Em Moçambique, a prática de violência doméstica é crime e é punível por lei.


Segundo o Inquérito de Indicadores Múltiplos MICS (2008) as atitudes de aceitação de
violência doméstica são mais frequentes nas áreas rurais que nas áreas urbanas.

Na actualidade, a principal fonte de dados sobre a violência doméstica são as


autoridades policiais, de onde as vitimas tem se dirigido para denunciar as ocorrências. No
entanto, a outra parte de informação é captada a partir dos serviços de saúde, quando vitimas
se dirigem para os cuidados e tratamento pós-violência, que são denunciadas as autoridades
policiais. Umas das fontes de informação sobre violência doméstica são os inquéritos por
amostragem realizados pelo INE, por exemplo: O Inquérito Demográfico e de Saúde (IDS) e
o Inquérito de Indicadores Múltiplos (MICS).
xxiii

Na óptica de MINAYO & CAPURCHANDE (2009: 49), “em Moçambique, a


violência doméstica é indicada, como sendo um dos principais agravantes das taxas de
homicídio”.

Neste sentido, a sociedade civil moçambicana, representada por várias associações e


organizações não governamentais como a Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDH),
o Fórum Mulher, Mulher Lei e Desenvolvimento, a Womenand Law in Southern Africa
(WLSA), a Associação das Mulheres de Carreira Jurídica, só para citar algumas, conscientes
da realidade trazida pela violência doméstica, conjuntamente envidaram esforços para que
oficialmente a violência doméstica fosse combatida.

Assim, foi num longo processo de campanhas e debates promovidos a nível nacional
sobre o combate à violência doméstica contra a mulher que foi elaborado um dispositivo legal
exclusivamente virado para a luta contra a violência doméstica praticada contra a mulher, a
Lei 29/2009.

Portanto, a elaboração da proposta de Lei contra a violência doméstica foi baseada nos
princípios defendidos na Constituição da República de Moçambique e na Declaração
Universal dos Direitos Humanos. Tanto a Constituição da República como a Declaração
Universal dos Direitos Humanos defendem o princípio de igualdade de direitos entre os
homens e as mulheres.

1.8A Lei nº 29/2009 de 29 de Setembro

A Lei 29/2009 de 29 de Setembro – narra a violência doméstica praticada contra a


mulher, foi aprovada pela Assembleia da República ao 21 de Julho de 2009 e promulgada no
dia 1 de Setembro de 2009 e, entrou em vigor 180 dias após a sua publicação.

Esta Lei defende, nos três primeiros artigos do seu primeiro capítulo, o seguinte:

Artigo 1:

1- A presente Lei tem como o objecto a violência praticada contra a mulher, no


âmbito das relações domésticas e familiares e de que não resulte a sua morte.
2- Nos casos em que dos actos de violência resulte a morte, são aplicadas as
disposições do Código Penal.

Artigo 2:
xxiv

É objectivo desta Lei prevenir, sancionar os infractores e prestar às mulheres vítimas


da violência doméstica a necessária protecção, garantir e introduzir medidas que forneçam
aos órgãos do Estado os instrumentos necessários para a eliminação da violência doméstica.

Artigo 3:
A presente Lei visa proteger a integridade física, moral, psicológica, patrimonial e
sexual da mulher, contra qualquer forma de violência exercida pelo seu cônjuge, parceiro,
ex-parceiro, namorado, ex-namorado e familiares.

Entretanto, os artigos acima citados mostram claramente que, a lei em alusão foi criada
para servir como um dispositivo legal que proteja a mulher da prática da violência doméstica.
Esta lei prevê igualmente as formas de sancionar os agressores.

1.9Tendências de Casos de Violência Doméstica

No período de 2014 a 2016, o país apresentou aumento de casos de violência


doméstica reportados, ao passar de mais de 23 mil para 25 mil, o que resultou também no
aumento do rácio em cada 10000 (mil) pessoas (INE2017:9).

No geral, mais de 60 % de casos de violência doméstica foram reportados em adultos e


40 % em crianças. Segundo os resultados de uma pesquisa apresentados pelo INE de 2014-
2016 o número de casos de vítimas de violência doméstica aumentou em 3% em adultos e
15% em crianças.

Assim, portanto, os resultados demonstram também que o número acumulado de casos


de adultos e crianças vítimas de violência doméstica de 2014 a 2016 por província, onde
Nampula registou mais casos de crianças vítimas de violência doméstica com um total de
5534, enquanto a Província de Tete registou menos casos com 902 registos. As províncias de
Sofala, Maputo e Cidade de Maputo, foram as que registaram mais casos de violência
doméstica em adultos com 6136, 5939 e 5583 respectivamente.

1.10Masculinidade

As diferentes percepções existentes na sociedade actual do que é ‘ser homem’


enfatizam a importância de se discutir a masculinidade a partir de uma perspectiva género,
que percebe esta identidade como um resultante natural do processo de desenvolvimento; e o
paradigma da tensão do papel de género, que propõe a construção cultural da masculinidade e
xxv

a permanente tensão gerada pela tentativa, por parte dos homens, de agir de acordo com esse
papel socialmente estabelecido COCHRAN, (2010) apud GUERRA (2014: 156).

De acordo com BONOMO at el (2008, p. 3) citados por GUERRA (2010: 157), a


masculinidade pode ser definida como “o sentimento de pertença em relação à categoria
masculina”.

Para CONNELL (1997:39) define masculinidade como “uma configuração de práticas


em torno da posição dos homens na estrutura das relações de género”.

Com base nos conceitos acima, compreende-se que o termo masculinidade consiste
naquilo que possui qualidades ou características consideradas típicas ou necessárias para um
homem.

Portanto, não é possível falar desse conceito sem que antes se compreenda a
construção da identidade de género, bem como a dinâmicas das relações entre homens e
mulheres, a normalização da homossexualidade e a categorização de grupo.

Neste sentido, como afirma GROSSI (2004:5), que este aspecto precisa ser conside-
rado enquanto “uma categoria de análise”. Ou seja, o conceito de género permite a
problematização do que vem a ser o masculino e o feminino em nossa sociedade, uma vez que
é por meio das experiências de género que homens e mulheres dão forma e significado às suas
representações e práticas.
xxvi

CAPÍTULO II: METODOLOGIA

Neste capítulo, pretendemos mostrar qual foi a metodologia usada para a recolha de
dados, o universo com qual trabalhamos, a composição do nosso corpus. Portanto, Para
LAKATOS& MARCONI (1992, p. 40) metodologia é a explicação minuciosa detalhada,
rigorosa e exacta de toda a acção, desenvolvimento no método do trabalho de pesquisa”.

Segundo GIL (2008:8) conceitua método como o “caminho que se usa para chegar a
um determinado fim”.

Dai que, é importante frisar que, para este trabalho usou se o método indutivo como
sendo aquele que mais espelha ou se aproxima ao nosso estudo. Portanto para GIL (2008:10)
“o método indutivo procede parte do particular e coloca a generalização como um produto
posterior do trabalho de colecta de dados particulares”.
Indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados
particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou
universal, não contida nas partes examinadas. Portanto, o objectivo dos
argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo
do que o das premissas nas quais se basearam1.
De acordo com a perspectiva acima, importa ressaltar que essa generalização não
ocorre mediante escolhas a priori das respostas, visto que essas devem ser repetidas,
geralmente com base na experimentação. Isso significa que a indução parte de um fenómeno
para chegar a uma lei geral por meio da observação e de experimentação, visando a investigar
a relação existente entre dois fenómenos para se generalizar.

2.1 Tipo de Pesquisa


A pesquisa é uma actividade voltada para a solução de problemas, através do emprego
de processo científico. De acordo com os objectivos a serem alcançados, este estudo adquire
varias designações: quanto a natureza do próprio estudo, quanto aos procedimentos usados
1
LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5.ed. São
Paulo, 2003, p. 83.
xxvii

para colecta de dados, quanto a abordagem do estudo. Portanto, tendo em conta a estes
critérios, o presente trabalho pode ser:

2.1.1 Quanto a abordagem

O tipo de abordagem adaptada para este estudo será a qualitativa. Segundo MINAYO (2001)
apud GERHARDT e SILVEIRAL (2009:32), “a pesquisa qualitativa trabalha com o universo
de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um
espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenómenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis”.

Como se pode notar, quando compreender o fato pelo qual as vítimas de violência
doméstica que é objecto de estudo, não denunciam, no entanto, não nos importaremos em
levantar dados estatísticos, apenas de forma indutiva vamos aprofundando e analisando os
dados que obtivemos dos informantes, mostrando as causas sobre as quais a maioria dos
homens vítimas de violência doméstica fica no silêncio.

2.1.2Quanto à natureza

Quanto à natureza, foi uma pesquisa básica, pois interessa-nos a compreensão de


fenómeno que diz ser despercebido não se tem levado a cabo pelos homens vítimas de
violência doméstica, portanto, o estudo objectiva aumentar a nossa base de conhecimento de
modo a facilitar a compreensão do comportamento deles, muitos deles não tem denunciado as
autoridades quando sofrem de violência doméstica, dai que a pesquisa básica nos ajudou a
compreender este facto.

Para GERHARDT & SILVEIRA “pesquisa básica objectiva gerar conhecimentos


novos, úteis para o avanço da Ciência, sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e
interesses universais”.

2.1.3Quanto ao objectivo

Como vimos de antecipadamente, o objectivo é analisar as causas que levam os


homens, vítimas da violência doméstica, a não denunciar os actos de violência praticados
contra eles. A pesquisa é do tipo exploratório, porque pretende descobrir e compreender o
facto que faz com que as vitimas, neste caso, os homens de violência doméstica perpetrada
pelas esposas optem pelo silêncio e não denunciam no bairro de Natikiri que é o nosso foco,
área de estudo2.

2
A violência doméstica contra o homem: Estudo de caso do bairro de Natikiri (2015-2018)
xxviii

Portanto, para GIL (2002:41) “as pesquisas exploratórias têm como objectivo
proporcionar maior familiaridade com problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a
constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objectivo principal o
aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições”.

2.1.3 Quanto a Procedimentos

No que concerne aos procedimentos, a pesquisa é do tipo estudo de caso. Para


FONSECA (2010:31), “um estudo de caso pode ser caracterizado como um estudo de uma
unidade bem definida como um grupo, uma instituição, um sistema educativo, uma pessoa, ou
uma unidade social”.

Portanto, este tipo de estudo objectiva esclarecer de forma profunda o como e o porque
de uma determinada situação que se supõe ser única em muitos aspectos, procurando
descobrir o que há nela de mais essencial e característico.

Dai que nesta pesquisa faz-se um estudo de caso no bairro de Natikiri, portanto, este é
o único caso, em que se procuram as causas de não denúncia da violência doméstica
perpetrada pela mulher para com os homens.

2.2 Técnicas e instrumentos de colecta de dados

Os dados foram colhidos por meio de três (3) técnicas: entrevista, observação simples
e história oral.

2.2.1 Entrevista

A entrevista representa uma das técnicas de colecta de dados, na qual o pesquisador


tem um contacto mais directo com a pessoa, no sentido de se inteirar de suas opiniões a cerca
de um assunto.

Segundo HAGUETTE (1999:86), “a entrevista é um processo de interacção social, no


qual o entrevistador tem a finalidade de obter informações do entrevistado, através de um
roteiro contendo tópicos em torno de um problema central”.

Para GIL (1994, p. 112) “a entrevista é uma técnica em que o investigador se apresenta
frente a frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objectivo de obtenção dos dados
que lhe interessam à investigação”

O tipo de entrevista que foi usado é entrevista semi-estruturada. Neste caso,


GONÇALVES (2004:182) sustenta que, “entrevista semi-estruturada intercala perguntas do
roteiro e outras que surgem com o desenvolver da entrevista”.
xxix

A razão da escolha deste tipo de entrevista deu-se pelo facto de a mesma permitir o
entrevistado a possibilidade de expressar as suas experiências a partir dos pontos principais
elaborados para a entrevista, e permitindo de igual modo respostas livres e espontâneas do
informante e ao entrevistadora colocar perguntas ao longo da conversa que não estavam
previstas no roteiro.

2.2.2 Observação Simples

A observação simples é aquela em que o pesquisador, permanecendo alheio à


comunidade, grupo ou situação que pretende estudar, observa de maneira espontânea os factos
que aí ocorrem. GIL, (2008:101).

Neste procedimento, o pesquisador é muito mais um espectador que um actor. Daí


que, pode ser chamado de observação reportagem, já que apresenta certa similaridade com as
técnicas empregadas pelos jornalistas. Portanto, ajudou na obtenção de elementos para a
delimitação de problema de pesquisa, favorecendo a construção de hipóteses a cerca do
problema pesquisado.

2.2.3 História oral

A história oral, “é uma técnica de colecta de dados baseada no depoimento oral,


gravado, obtido através da interacção entre o especialista e o entrevistado, actor social ou
testemunha de acontecimentos relevantes para a compreensão da sociedade”. HAGUETTE,
(1999, p. 95).

Este procedimento ajudou a pesquisadora a colher depoimento dos informantes sobre o


inicio da violência doméstica prática pelas suas esposas.

2.3População e amostra da pesquisa

A pesquisa realizou-se na cidade de Nampula, concretamente no bairro de Natikiri.


Foram envolvidos nesta pesquisa, apenas homens do mesmo bairro, ora citado.

A população alva da presente pesquisa foi seleccionada de forma aleatória, e é composta por
10 (dez) informantes. A amostra, como foi citado, foi de 10 (dez). Dessa selecção aleatória, os
informantes foram submetidos às técnicas acima mencionadas.

No entanto, a partir dessa amostra foi possível obter o corpus que constitui a matéria de
analise do presente estudo e que permitiu verificar a existência de homens vitimas de
violência perpetrada pelas esposas, cujos homens não denunciam aqueles comportamentos
macabros.
xxx

A amostra é uma parcela convenientemente relacionada do universo da população em estudo,


isto é, é um conjunto do universo (MARCONI & LAKATOS, 2007, 175).

Baseando assim, nos registos de tendência de casos de violência doméstica


apresentados pelo INE no período de 2014 a 2016, onde Moçambique apresentou um aumento
de casos de violência doméstica, ao passar de mais de 23 mil para 25 mil, o que resultou
também no aumento do rácio em cada 10000 pessoas INE, (2017:9).

Neste contexto, no geral mais de 60 % de casos de violência doméstica foram


reportados em adultos e 40 % em crianças. Segundo os resultados de uma pesquisa
apresentados pelo INE de 2014-2016 o número de casos de vítimas de violência doméstica
aumentou em 3% em adultos e 15% em crianças.

2.4Local de estudo: Cidade de Nampula – Bairro de Natikiri


2.4.1Localização geográfica e limites da Cidade de Nampula

A cidade de Nampula localiza-se aproximadamente no Centro do espaço geográfico do


distrito que responde por Nampula, também, um pouco afastado para o norte e ocupa uma
área de 404 km2. Do este para oeste tem uma extensão de 24,5 km entre os meridianos 39 o 23’
28” e 39o 10’ 00” Este; no sentido norte. Sul estende-se por 20,25 km a partir da barragem do
rio Monapo a um altitude de 15o 01’33” S ate ao riacho Muepelume no paralelo 15o 13’15”S”.
AraujoA, (2005: 210).

De acordo com Lopes (1995: 5), “a cidade de Nampula encontra-se rodeado taxativamente
pelo distrito de Nampula, pelo qual ocupa uma posição sensivelmente central”.

I. Norte, o Rio Monapo, que separa do Posto Administrativo de Rapale;


II. Oeste, os Postos Administrativos de Rapale, Namaita e Anchilo,
III. Sul e Este, ainda pelo Posto Administrativo de Anchilo.

2.4.2Divisão Administrativa da Cidade de Nampula

A cidade está organizada em 6 postos administrativos urbanos que estes por sua vez
são compostos por 18 bairros, consoante a exposição da tabela abaixo.

Assim, o posto administrativo central constitui a cidade de cimento, com 6 bairros,


além disso, a distribuição administrativa é de maneira radical e em cada bairro estende-se o
limite do posto administrativo central que faz limite com o distrito de Nampula. Lopes (1995:
6).
xxxi

CAPÍTULO III: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo, faz-se análise dos dados colhidos no campo, de acordo com os
objectivos específicos previamente traçados. Assim, fez-se a apresentação, análise e
interpretação de dados, a discussão e validação das hipóteses tendo como suporte os dados
colectados por meio da entrevista, com intuito de responder a questão ou o
problema3levantado.

Neste contexto, para a materialização do presente trabalho a amostra foi constituído


por 10 homens que vivem maritalmente e que os mesmos se encontram em situação de
violência doméstica, tal como indicam os nossos objectivos específicos.

Assim, durante a recolha de dados garantiu-se a confidencialidade das identidades dos


nossos entrevistados, de modo a colaborarem durante o processo de entrevista, por isso os
dados colhidos foram codificados, com vista a manter aquilo que foi o acordo na obtenção dos
dados no campo. Portanto, os nomes que foram arrolados neste trabalho não são nomes reais,
são nomes fictícios ou imaginários.

3. Análise e interpretação dos dados

3.1Percepções sobre a Violência Doméstica entre casais

Neste ponto, tivemos como objectivo avaliar o nível de percepção dos nossos
entrevistados acerca da violência doméstica entre casais. Assim sendo, constatamos que os
nossos entrevistados possuem percepções diferenciadas sobre a violência doméstica entre
casais, mas todas abordagens por eles apresentadasvão ao encontro da ideia da falta de
conversa no relacionamento e também na ideiade agressão, seja ela, física, psicológica, sexual
e entre outros. Tal como ilustram os depoimentos que se seguem:

Eu considero a violência doméstica entre os casais como a falta de diálogo ou


compreensão entre os casais e falta de um bom gesto dentro do lar (SAMUEL, possui
nível médio).

É falta de entendimento entre os casais, por exemplo, quando uma mulher ou homem
não cumpre com os seus deveres, e cada um começa a falar muito e faltando respeito
ao outro (MIGUEL, possui nível básico).
3
Porque é que os homens vítimas de violência doméstica não denunciam as suas parceiras nas autoridades
policiais?
xxxii

Essas percepções sobre a violência doméstica que os entrevistados dispõem estão


relacionadas com o modo que cada um percebe ou interpreta sobre a violência de acordo com
aquilo que na sociedade em que está inserido é tida ou vista como um acto de violência.

Além dessa perspectiva, outros olham a violência doméstica como sendo uma forma
de agressão ao outrem dentro do relacionamento marital, o mesmo pode confirmar-se nos
depoimentos a baixo:

Violência doméstica entre casais é quando um homem agride sua esposa, batendo ela
ou falar-lhe coisas desrespeitosas. (ANTONIO, nível básico de escolaridade).

Para mim, violência domestica e quando um homem bate uma mulher e uma mulher
bate num homem (ADDUL, nível médio de escolaridade).

Com estes depoimentos, percebe-se que a VD (violência domestica), é um acto de


desvio social praticado contra alguém de modo a feri-lo. No entanto, essa percepção dos
nossos entrevistado vai ao encontro do pensamento que sustenta que considera-se violência
doméstica qualquer acto, conduta ou omissão que sirva para infligir, reiteradamente e com
intensidade, sofrimentos físicos, sexuais, mentais ou económicos, de modo directo ou
indirecto (por meio de ameaças, enganos, coacção ou qualquer outro meio) a qualquer pessoa
que habite no mesmo agregado doméstico privado (pessoas – crianças, jovens, mulheres
adultas, homens adultos ou idosos a viver em alojamento comum) ou que, não habitando no
mesmo agregado doméstico privado que o agente da violência, seja cônjuge ou companheiro
marital ou ex-cônjuge ou ex-companheiro marital4.

3.2Os tipos de violência sofrido pelos homens

Para compreender o tipo de violência que os homens abrangidos pela pesquisa sofrem,
primeiro procuramos saber como forma de sondagem se os nossos entrevistados já tinham
passado ou ainda passam por uma situação de violência perpetrada pelas suas parceiras ou
esposas. Portanto, no mesmo questionamento, eles afirmaram terem passado ou ainda sofrem
actos de violências oriundos nas suas esposas ou parceiras.

Neste contexto, os tipos de violência que os homens vítimas de violência sofrem, os


nossos entrevistados revelaram que sofrem três tipos de violência doméstica, que são os
seguintes: violência física, económicae psicologia. Os depoimentos que se seguem ilustram
essa realidade:

4
Machado & Gonçalves (2002)
xxxiii

Foi física, aconteceu quando eu estava desconfiando de ela, que estava me traindo e
quando quis tirar satisfação com isso, ela exaltou-se e acabamos em espancamento,
onde ela bateu-me com pau no rosto e fiquei inchado toda cabeça. (HÈLDER).

Física, ela me bate sempre que chego tarde e embriagado a casa, mas eu a deixo.
(Carlos, nível médio de escolaridade).

No entanto, a violência física pode consistir muitas vezes no uso da força física com o
objectivo de ferir ou causar dano físico ou orgânico, deixando ou não marcas evidentes.
Englobando assim, actos como empurrar, puxar o cabelo, dar estaladas, murros, pontapés,
apertar os braços com força, apertar o pescoço, bater com a cabeça da vítima na parede,
armários ou outras superfícies5.

Assim, na mesma linha de pesquisa, outros nossos entrevistados sublinham a violência


psicológica e económica, como as que mais sofrem, a mesma acontece por via discussão,
onde as mulheres depreciam os seus esposos ou companheiro, de modo a inferioriza-los na
relação.

Já sofri e até hoje sofro violência psicológica, ela sempre está a me chamar de nomes
feios, nomes que fazem sentir-me mal. (VALENTIM, nível médio de escolaridade).

Económica, eu quando recebo meu salário, ela me obriga a entrega-la todo dinheiro,
para ela fazer compras de mantimentos da casa e coisas pessoais dela, e para mim
nada sobra. (SAMUEL, nível médio de escolaridade).

Entretanto, de acordo com os depoimentos dos nossos entrevistados, constatamos que


os tipos de violência que se manifesta no seio dos nossos entrevistados consistem na violência
física, económica e psicológica.

3.3As razões de não recorrer as instâncias policiais para denunciar os actos de violência
praticados pelas parceiras

Neste ponto, interessamo-nos em procurar saber se os homens vítimas de violência


doméstica (os entrevistados) por parte das suas parceiras denunciam os actos de violência que
passam. Assim, de acordo com os nossos entrevistados, constatamos que certos homens
vítimas de violência denunciam os actos de violência que sofrem, mas essa denúncia
normalmente ocorre a nível local, isto é, eles não optam recorrer logo a prior a esquadra ou a
qualquer posto policial para meter queixa sobre o ocorrido.

5
GUERRA (2016)
xxxiv

Esses, quando se sente violentados ou desrespeitados pelas suas esposas, recorrem


primeiro aos chefes do bairro ou a família, onde denunciam os actos de violência que as
esposas praticam contra eles. Tendo assim, uma sentada com a família, com intuito de
persuadir a mulher a não pautar pela violência. As declarações a baixo revelam essa vertente:

Sim já denunciei, denunciei para ela diminuir o seu comportamento de violência,


denunciei aos secretários do bairro, para que falassem com ela. (CARLOS, nível
médio de escolaridade).

Sim já denunciei, porque sinto-me descriminado por ela e dependente dela. (ANIFO,
nível superior de escolaridade).

Esse acto dos homens de não recorrer de antemão às instâncias policiais para submeter
denúncia dos actos de violência por eles sofridos consiste na consciencialização social de que
os problemas conjugais ou matrimoniais resolvem-se no antes seio da família com intuito de
preservar certos valores matrimoniais.

Com os depoimentos acima, compreende-se que os homens que vivem o seu dia-a-dia
repleto de actos de violência vindos por parte das suas esposas ou parceiras, sentem a
necessidade de denunciar esses actos de violência com intuito de amenizar, de modo que não
volte a acontecer. Todavia, a razão de fazer denúncia consiste na necessidade de persuadir a
mulher a não optar pela violência como modo de resolver os problemas caseiros e procura de
um bem-estar para ambos. Como ilustra a declaração abaixo:

Sim denunciei porque denunciando podemos resolver o problema e voltar a ter um lar
de sossego e feliz. (VALENTIM, nível médio de escolaridade).

Ainda na mesma linha de pensamento, verificamos que para além destes que optam
em denunciar os actos de violência que sofrem, existem outros que preferem não denunciar os
actos de violência porque têm medo de a mulher pedir divorcio, ainda gostando das esposas e
por querer preservar a sua masculinidade. As declarações a baixo demonstram essa realidade:

Eu não denuncio o que ela me faz, porque tenho medo de ela divorciar-se de mim.
(HÈLDER).

Não denuncio nada, porque ainda gosto dela e quero viver com ela. (ANTONIO,
nível básico de escolaridade).
xxxv

Assim, enquanto uns não denunciam por medo de divórcio e por ainda gostar da sua
esposa, outros não denuncia porque querem preservar a sua masculinidade. Tal como revela o
depoimento que se segue:

Eu não denuncio, porque eu não sou mulher, mulher é que faz isso, eu sou homem e
posso resolver isso com ela. (MIGUEL, possui nível básico).

Entretanto, o medo de divórcio, por ainda gostar da esposa ou por tentar manter a sua
masculinidade, leva os homens vítimas de violência doméstica a não optarem pela denúncia
dos actos de violência praticadas pelas suas esposas ou parceiras. Neste caso, dos 10
entrevistados, 6 não denunciam a violência que sofre e o restante denuncia os actos de
violência que sofre pelas suas esposas. Contudo, há menos homens a fazerem denúncia sobre
os actos de violência praticadas pelas mulheres contra os homens.

3.4Formas de lidar com a violência


Neste ponto, tivemos como objectivo perceber dos nossos entrevistados como lidam
com a violência doméstica no seu dia-a-dia. Por via dos depoimentos dos nossos
entrevistados, constatamos que várias são as formas de lidar com a violência doméstica que os
homens passam, essas formas consistem geralmente em suportar os actos de violência e
manter-se no silêncio ese distanciar ou afastar-se sempre da promotora da violência, de modo
a evitar a sua ocorrência frequente.

Geralmente para mim a melhor opção é manter-me calado e fazer de tudo para
afastar-me do local onde ela está. (ANIFO, nível superior de escolaridade).

A minha forma de lidar com isso é suportar os actos de violência que sofro.
(MIGUEL, possui nível básico).

A luz disso, essas todas formas de lidar com a violência doméstica vivida dia após dia,
consiste na vergonha de se expor no acto de prestar queixa nas instâncias policiais como um
homem fraco e dominado pela esposa porque socialmente o homem é dominador perante a
mulher e não o contrário.

Assim, para além desses que optam pelo silêncio, existem outros que lidam de um
modo diferente, pautando assim pela conversa com a esposa ou com a família, mas os
mesmos revelam que não é uma tarefa fácil, lidarcom a violência, porque quem a comete é
uma pessoa que tanto a querem e a mãe dos filhos, por essa razão continuam na relação
mesmo com as ocorrências dos actos de violência. Como se pode notar nas declarações a
baixo:
xxxvi

As vezes tenho chamado os familiares dela para mediar o conflito, depois disso, tudo
volta a normalidade. (HÈLDER).

Acontece, são coisas da vida, é minha esposa e mãe dos meus filhos, apenas
conversamos depois de tudo e fica tudo ok. (PEDRO, nível médio de escolaridade).

Nem todos optam pela conversa e nem pelo afastamento do local, alguns recorrem ao
álcool como forma de lidar com a violência, pois, estando embriagado esquecem tudo que
passam pelas suas esposas.

Eu normalmente quando isso acontece, vou beber muito para esquecer isso, saio com
amigos para conversar e beber, mas eles não costumam saber que estou a beber para
esquecer alguma coisa. (JANEIRO, nível médio de escolaridade).

Todavia, com base nos depoimentos supracitados reside a ideia de que suportar os
actos de violência, manter-se no silêncio, afastar-se da promotora da violência, conversa com
a promotora da violência ou a sua família, beber são as formas que os homens vítimas de
violência encontram para lidar com os actos de violência praticados pelas suas esposas.

3.5Os indivíduos recorridos quando os homens são agredidos

Com intuito de levantar informações de quem os homens recorrem quando são


agredidos, constatamos que os homens vítimas de violência, recorrem a seus familiares ou os
familiares da esposa, os padrinhos do casamento, com intuito de resolver os problemas que
originam as agressões que passam. Essa perspectiva é ilustrada pelas declarações que se
seguem:
Sim tenho a quem recorrer, quando isso acontece recorro aos nossos padrinhos de
casamento. (SAMUEL, possui nível médio).

Sim, aos familiares da minha esposa, se caso não haver uma boa concordância única
entre nós, recorro nas estruturas de base. (VALENTIM, nível médio de escolaridade).

Com base nessas declarações, constata-se que recorrer a família é o meio que homens
vítimas de violência encontram para resolver os problemas. Esse acto dos homens de
recorrerem a família quando são agredidos ou violentados consiste na construção social de
que a família é uma instância apropriada para resolução dos problemas conjugais ou
matrimoniais. Neste caso, a família continua sendo uma instância crucial e principal na
resolução de problemas maritais.
xxxvii

Além dos familiares, os homens vítimas de violência recorrem também aos secretários
do bairro. Tal como ilustram os depoimentos que se seguem:

Sim tenho, normalmente recorro os secretários do bairro. (CARLOS, nível médio de


escolaridade).

Contudo, os nossos entrevistados têm a quem recorrer quando são violentados, esses
consistem em familiares, padrinhos e secretários do bairro.

3.6 Razões que levam os homens vítimas de violência a continuarem em vivenciar as


agressões

Neste ponto, tínhamos como objectivo principal procurar saber as razões que fazem
com que os homens vítimas de violência a continuar na relação, mesmos com as agressões
que têm passado.

Assim sendo, constatamos que várias são as razões que fazem com que homens
vitimas de violência continuem vivenciando os actos de violência na relação. Porem, esses
revelaram que continuam vivenciando as agressões vindas das suas esposas por causa dos
filhos, isto é, com intuito de fazer acompanhamento do crescimento dos filhos, os homens se
sentem obrigados a continuarem na relação, também por causa dos bens e de tudo que juntos
constituíram.

O que me leva a suportar tudo isso, é por causa das crianças. (CARLOS, nível médio
de escolaridade).

Os filhos, os bens que temos juntos, são coisas que me levam ainda a permanecer no
casamento. (JANEIRO, nível médio de escolaridade).

Para além destes que continuam numa relação repleta de agressões devido a filhos, os
bens, deparamo-nos com alguns homens que são movidos por outras razões para continuar
vivenciando as agressões, como ainda gostar e amar a esposa e não querer perde-la, por não
querer estar a trocar de mulheres, sustentando assim, que em qualquer relação existem
qualquer tipo de violência, por isso continuam com as suas esposas.

O que me leva a continuar vivenciadas as agressões que tenho passado, é porque amo
muito minha esposa e não quero perde-la. (ANIFO, nível superior de escolaridade).

O que me leva a suportar tudo isso, porque evito trocar de esposas e para não deixar
os meus filhos vivendo nas trevas. (VALENTIM, nível médio de escolaridade).
xxxviii

A partir desses dados, nota-se que os homens vitimas de violência continuam


vivenciando os actos de violência perpetrados pelas suas parceiras ou esposas por causados
seus filhos, dos bens e por ainda amar a esposa ou parceira. Neste caso, a construção social de
que o homem é o zelador ou provedor da sua família e a potencialidade do homem perante a
mulher, e na tentativa de preservar essa superioridade em relação a mulher leva esses homens
a continuarem vivenciando as agressões nas suas relações, com receio de divorciar e ter que
expor as reais motivações do divorcio.

3.7 A relação com a parceira após as agressões

Neste ponto objectivávamos compreender o estado da relação dos homens e as


parceiras após os actos de agressão. E, quanto a isso, captamos dos nossos entrevistados as
diversas perspectivas, as mesmas confluem na medida que todos afirmam que após as
agressões a relação tem sido tensa no começo e com tempo tudo volta a sua normalidade.
Como ilustram o depoimento que se segue:

Geralmente nos primeiros instantes é muito frustrante, mas após algum tempo tudo
volta a normalidade e pelo amor que sentimos um para com outro. (ANIFO, nível
superior de escolaridade).

A mesma realidade compartilha também por Janeiro, (nível médio de escolaridade) ao


afirma que nos primeiros momentos ninguém fala com outro, mas depois tudo volta ao
normal.

Contudo, com base nos depoimentos acima percebemos que por mais sejam as
agressões que ocorrem na relação, a relação sempre volta a sua normalidade. Portanto, após as
agressões vindas das esposas que homens vivenciam, a relação volta a sua normalidade, que é
uma relação de amor, respeito e paz.

3.8A importância da denúncia das agressões

Neste ponto o objectivo central era de perceber dos nossos entrevistados se tinham
noção da importância da denúncia da violência doméstica por eles sofrido as autoridades
policiais. A decisão de denunciar os actos de violência depende de cada um que se encontra
numa situação de violência na sua relação. Assim sendo, de acordo com os nossos dados,
demonstram que os nossos entrevistados acham importante fazer denúncia das agressões que
passam pelas esposas, assim encontram soluções para que essas agressões cheguem ao seu
fim e não se tornem rotineiras.
xxxix

Esses, acreditam que denunciando, a promotora das agressões será persuadida a não
pautar pela agressão ao resolver os problemas domésticos. Tal como demonstram as
declarações a baixo:

Acho importante porque lá ambos recebemos conselhos para não resolver os nossos
problemas com base na violência. (SAMUEL, nível médio de escolaridade).

Sim acho importante porque denunciando evita que as agressões se tornem uma
rotina. (ANTONIO, nível básico de escolaridade).

Com base nestes depoimentos, reside a ideia de que homens olham a denúncia dos
actos de violência que passam pelas suas esposas como uma forma de resolver o problema,
isto é, denunciando, a mulher recebera conselhos, oriundos das pessoas que ficarão em frente
do caso, assim a relação volta ao seu estado normal.

Para além desses, deparamo-nos com uns que preferem não denunciar os actos de
violência que passam sob pretexto de resolver tudo entre casal, não envolvendo assim, outros
indivíduos no caso. A declaração que se segue aclara essa realidade:

Eu que não é importante, porque o problema é de nós os dois e então devemos


resolver apenas nós. (JANEIRO, nível médio de escolaridade).

3.9Noções sobre as leis que protegem homens vitimas de violênciadomestica

O objectivo desse ponto era de perceber dos nossos entrevistados se conhecem


alguma lei que as protegem. Quanto as leis que defendem ou protegem homens vítimas de
violência doméstica, constatamos a partir dos nossos dados de campo que os homens vítimas
de violência não têm noção de existência de uma lei que o protege e o defende das agressões
oriundas da sua esposa. Esse desconhecimento consiste na falta de divulgação das leis ou na
não existência das mesmas. Como demonstram o depoimento a baixo:

Não existem, aliás não me recordo ter visto em alguma parte porque a maior parte
das leis estão mais centradas na mulher. (ANIFO, nível superior de escolaridade).

Este pensamento de desconhecimento das leis, é manifestado por muitos dos nossos
entrevistados, os mesmos olham o desconhecimento das leis como sendo uma das razões que
levam os homens vítimas de violência a não pautarem pela denúncia das agressões que sofrem
pelas esposas. O depoimento que se segue ilustra essa realidade:

Não conheço nenhuma lei, por isso muitos de nós homens não temos hábito de
denunciar uma violência doméstica. (SAMUEL, nível médio de escolaridade)
xl

Confrontação das hipóteses

No que concerne as hipóteses, houve a necessidade de valida-las ou consolidar de


acordo com os argumentos dos entrevistados. Assim sendo, avança-se o seguinte:

Primeira hipótese: “O intuito de preservar a sua masculinidade é uma das causas que faz com
que os homens optem em não denunciar sobre a violência que sofrem com suas parceiras”.
Confirmar-se com o seguinte depoimento dos entrevistados: “Porque muitas das vezes tem
sido por vergonha, não quero ser visto como um homem dominado pela esposa”.

Segunda hipótese: “O desconhecimento das leis que defende os homens vítimas de


violência contribui para que os homens não denunciem sobre os actos de violência”,
confirma-se com o seguinte argumento: “Não conheço nenhuma lei, por isso muitos de nós
homens não temos hábito de denunciar uma violência doméstica”.

Terceira hipótese: “A construção social sobre a personalidade e potencialidade do


homem leva os homens a não denunciar os actos de violência feitos pelas suas parceiras”,
valida-se com a seguinte declaração dos entrevistados: “Eu não denuncio, porque eu não sou
mulher, mulher é que faz isso, eu sou homem e posso resolver isso com ela”.

Portanto, a teoria de construção social ajudou-nos a compreender que a construção


social sobre a personalidade e potencialidade do homem leva alguns homens a não denunciar
nas instâncias policial os actos de violência praticados contra eles.
xli

Conclusão

A presente monografia tem como tema Violência Doméstica contra o homem: estudo
de caso do bairro de Natikiri (2015 – 2018), procurou se analisaras causas que levam os
homens, vítimas da violência doméstica, a não denunciar os actos de violência praticados
contra eles.

O objectivo era analisar as causas que levam os homens, vítimas da violência


doméstica, a não denunciar os actos de violência praticados contra eles. E de forma específica
procurava-se (i) Identificar as causas que contribuem no silêncio dos homens acerca dos actos
de violência perpetrado pelas suas parceiras; (ii) Descrever como é que os homens vítimas de
violência lidam com a situação; (iii) Descrever o motivo pelo qual os homens vítimas de
violência optam em não denunciar os actos de violência.

O trabalho teve a seguinte questão de pesquisa: porque é que os homens vítimas de


violência doméstica não denunciam as suas parceiras nas autoridades policiais?

A partir dessa questão formulamos as seguintes hipóteses: (i) O intuito de preservar a sua
masculinidade é uma das causas que faz com que os homens optem em não denunciar a
violência que sofrem com suas parceiras; (ii) O desconhecimento das leis que defendem os
homens vítimas de violência contribui para que os homens não denunciem os actos de
violência; (iii) A construção social sobre a personalidade e potencialidade do homem leva os
homens a não denunciar os actos de violência contra eles.

Assim sendo, com base nossos dados constatamos que os tipos de violência que se
manifestam no seio dos homens que foram o nosso grupo alvo consistem na violência física,
económica e psicológica.

No entanto, constatamos também que o medo de divórcio, por ainda gostar da esposa
ou por tentar manter a sua masculinidade, leva os homens vítimas de violência doméstica a
não optarem pela denúncia dos actos de violência praticadas pelas suas esposas ou parceiras.
Neste caso, a construção social de que o homem é o zelador ou provedor da sua família, a
potencialidade do homem perante a mulher, e na tentativa de preservar essa superioridade em
relação a mulher leva esses homens a continuarem vivenciando as agressões nas suas
relações, com receio de se divorciar e ter que expor as reais motivações do divorcio a
sociedade.

Assim, em relação a forma de lidar com os actos de violência, constatamos que


suportar os actos de violência, manter-se no silêncio, afastar-se da promotora da violência,
xlii

conversação com a promotora da violência e a sua família ou recorrer bebida são as formas
que os homens vítimas de violência encontram para lidar com os actos de violência praticados
pelas suas esposas. A luz disso, essas todas formas de lidar com a violência doméstica vivida
dia após dia, consiste na vergonha de se expor no acto de prestar queixa nas instâncias oficiais
como um homem fraco e dominado pela esposa porque socialmente o homem é dominador
perante a mulher e não o contrário.

Notamos ainda que os homens vitimas de violência continuam vivenciando os actos de


violência perpetrados pelas suas parceiras ou esposas por causa dos seus filhos, dos bens e por
ainda amar a esposa ou parceira.

Quanto as leis que defendem ou protegem homens vítimas de violência doméstica,


constatamos que os nossos entrevistados que não têm noção de existência de uma lei que os
protege e os defende das agressões oriundas da sua esposa. Esse desconhecimento consiste na
falta de divulgação das leis.

Concluímos que as principais causam que fazem com que os homens vítimas de
violência optem em não denunciar os actos de violência esta no facto de as autoridades não
resolver e se dedicar com tanta eficácia nos casos em que o homem é vítima de violência. Por
outra, alguns homens não denunciam os actos de violência por questões pessoais, como a
vergonha de ser visto pela sociedade como homem fraco e subjugado pela esposa, assim, eles
preferem não denunciar a violência que passam para preservar a sua masculinidade.
xliii

Constrangimento da Pesquisa

Durante a pesquisa enfrentamos certas limitações, essas limitações foram registadas


em duas fases, a fase bibliográfica e na fase de trabalho de campo.

Neste caso, na fase bibliográfica do trabalho enfrentamos dificuldade na aquisição de


matérias bibliográficos que abordam sobre a violência doméstica contra os homens no
contexto moçambicano. E na fase de trabalho de campo, registamos dificuldade durante a
entrevista, onde os entrevistados numa primeira fase demonstraram rejeição da entrevista,
alegando ser um assunto pessoal e que não deve ser revelado a qualquer pessoa, mas isso foi
ultrapassado, após lhes garantir confidencialidade das informações.
xliv

Sugestões

De acordo com as conclusões e com aquilo que foi constatado durante a pesquisa,
sugere-se o seguinte:

 Que se desenvolvam ou que haja mais pesquisas relacionadas a esta temática;


sobretudo, no contexto moçambicano, de modo a demonstrar a ocorrência e as
consequências deste fenómeno no seio social;
 Que os estudos desenvolvidos acerca desta temática não descartem a possibilidade dos
homens também serem vítimas da violência doméstica;
 Que os resultados da pesquisa relativo a violência doméstica contra homens sejam
apresentados as autoridades oficiais assim como os locais, de modo a não deixar
passar despercebido este fenómeno.
xlv

Bibliografia

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Coimbra. Coimbra: Fontes de Informação Sociológica, 2005.

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INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA. Estatísticas de Violência Doméstica.


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MACHADO, A & MATOS, M. Homens vítimas na intimidade: Análise metodológica


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XAVIER, M. Arendt, Young e Humanismo: um olhar interdisciplinar sobre a
violência, Saúde Social, 2008.
xlvii

Apêndice
xlviii

Questionário

Bom dia!
Sou estudante do curso de Sociologia – Universidade Pedagógica – Nampula. Pretendo com o
presente questionário, recolher dados referentes a Violência Doméstica contra o homem:
Estudo de caso do bairro de Natikiri(2015 – 2018), para aquisição de grau de licenciatura em
Sociologia com habilitações em Desenvolvimento Rural. As suas respostas e o nome não
serão revelados a nenhuma outra pessoa. Agradecemos desde já pela sua colaboração!

1. O que você entende por Violência Doméstica entre casais?

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________

2. Você já foi vítima de violência doméstica por parte de sua


esposa/companheira/namorada? Sim () Não ( )

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________

3. Que tipo de violência sofre ou sofreu?

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________

4. Já denunciou os actos de violência, praticados pela sua esposa? sim/ não. porque

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________

5. Como lida com a violência que tem passado?

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________

6. Quando o senhor é agredido tem a quem recorrer? Se sim, quem?


xlix

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________

7. O que leva o senhor a continuar vivenciando as agressões que tem passado?

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________

8. Como fica a sua relação com a sua parceira após as agressões?

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________

9. Acha importante fazer denúncia das agressões? Porque?

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________

10. Conhece alguma lei que protege os homens vítimas de violência doméstica? Qual?

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________

11. Porque os homens vítimas de violência não denunciam as agressões que sofrem?

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________

Dados demográficos

1. Nome (opcional): ______________________________


2. Nível de escolaridade: Básico____ Médio_____ Superior_____ Nenhum____
3. Estado civil: _________________________________

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