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ISSN 1806-9312

Quarta, 15 de Dezembro de 2010

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2538 - Vol. 66 / Edição 6 / Período: Novembro - Dezembro de 2000

Seção: Relato de Casos Páginas: 697 a 700

Autor(es):

Ricardo F. Bento*,
COMPLICAÇÃO NASAL DOS IMPLANTES Luiz U. Sennes**,
DENTÁRIOS. APRESENTAÇÃO DE UM CASO Saramira C. Bohadana***,
CLÍNICO.
Natasha A. Braga***,
Sueli de Lima ****.

Palavras-chave: implantes dentários, complicações, cavidade naso-sinusal

Keywords: dental implants, complications, nose and paranasal sinus

Resumo: Introdução: Os implantes dentários constituem um método terapêutico auxiliar na reabilitação


oral, permitindo a fixação permanente de próteses substitutivas de um ou mais dentes. Quando
realizados na arcada dentária superior, apresentam-se em intima relação com as cavidades naso-sinusais.
Objetivo: O objetivo deste trabalho é apresentar caso em que foi realizado um implante agulhado e de
parafuso na arcada dentária superior, com transfixação do assoalho da fossa nasal e exteriorização no
interior da mesma em três pontos distintos. A paciente foi submetida à secção das porções exteriorizadas
dos implantes por via endonasal com micromotor e broca diamantada. Resultados: O resultado final
mostrou reintegração da mucosa nasal recobrindo os implantes, sem prejuízo da fixação da prótese.
Conclusão: Os autores alertam para a possibilidade da tentativa de um tratamento que preserve o
implante, nos casos de complicações menores.

Abstract: Introduction: Dental implants are an auxiliary method in oral rehabilitation, which allows
permanent fixation of prosthesis of one or more teeth. When applied in the superior dental arcade, there
is an intimate relation-with the pose and paranasal sinus. Aim: The goal of this work is to present a case
submitted to neddled implants and screwed dental implants in the superior dental arcade, with
transfixation of the nasal floor in thee differents points. The exteriorized portions of the implants were
sectioned by endonasal approach with diamond burs. Results: The final result showed reintegration of the
nasal mucosa covering the implants, without damage of the prosthesis fixation. Conclusion: In cases of
lesser complications, the authors warn out the possibility of conservative treatment preserving-the
implants.

INTRODUÇÃO
Os implantes dentários representam um grande avanço na restauração estética e funcional dos dentes.
Quando realizados na arcada dentária superior, podem trazer complicações nasossinusais, via de regra
determinando sua remoção. Os implantes no primeiro e segundo molares podem projetar-se para o
interior do seio maxilar, levando a sinusite infecciosa7, 10, enquanto que, na região anterior (incisivos e
caninos), podem trazer complicações nasais. O adequado conhecimento da anatomia nasossinusal e o
controle radiológico durante sua colocação são de fundamental importância na prevenção dessas
complicações1.
O objetivo deste trabalho é apresentar um caso que houve exteriorização do implante dentário para as
cavidades nasais, destacando a possibilidade de um tratamento conservador que preserve o implante.
REVISÃO DE LITERATURA
As primeiras referências aos implantes dentários datam do século III a.C., descritos em antigos textos
chineses de medicina. Sushruta (600 a.C.) recomendava a recolocação de dentes traumaticamente
avulsionados em jovens2. Enquanto isso, os maias foram provavelmente os primeiros a conhecer
implantes aloplásticos, ostentando esta prioridade já no século VIII.

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Os primeiros implantes endo-ósseos aloplásticos ocorreram no início do século XIX, na forma de parafusos,
agulhas, lâminas e outras derivações. Os metais utilizados eram de ouro, prata e platina, considerados
inadequados pela ionização resultante do contato com os fluidos bucais, levando à proliferação exagerada
dos tecidos moles e inibição da osteogênese.
Metais mais inertes, como ligas metálicas de cromo, cobalto, níquel e tântalo, sofrem menos ionização e
são mais tolerados pelos tecidos. Entre estes, o titânio mostra-se como um dos metais de melhor
tolerabilidade pelos tecidos bucais, embora outros, como aço inoxidável, carbono vítreo, materiais
cerâmicos e ligas metálicas porosas, também apresentem essas características.
Os vários tipos de implantes dentários, osseointegrados, são fixados de diferentes formas. Atualmente, os
implantes osseointegrados destacam-se pela sua alta eficiência, sendo geralmente compostos de titânio,
mais curtos e utilizados na sustentação de um único dente. A osseointregração é definida como unia
conexão estrutural direta e funcional entre o osso vivo e a superfície de um implante, o que geralmente
demora cerca de quatro a seis meses. Esse intervalo de tempo deve ser respeitado antes de atribuir carga
ao mesmo2, 3.
Devido à proximidade anatômica dos dentes superiores com as cavidades nasais e paranasais,
complicações otorrinolaringológicas por manipulação, extração dentária e, especialmente, por implantes
dentários intra-ósseos, são freqüentes, tais como:

Figura 1. Implante metálico perfurando o assoalho da fossa nasal até o septo.

- Rinites infecciosas.
- Sinusites infecciosas.
- Osteomielite.
- Fístulas oroantrais.
- Fístulas oronasais.
- Reação de corpo estranho.
Outras complicações dos implantes dentários são raras, mas pode ocorrer lesão neural, perda óssea,
infecção, lesão no dente adjacente e nas estruturas de suporte, além de perda prematura dos implantes e
fratura óssea6. As perfurações iatrogênicas do seio maxilar têm sido consideradas, atualmente, como uma
das causas mais freqüentes de sinusite fúngica, especialmente pelo Aspergilus4.
APRESENTAÇÃO DO CASO CLÍNICO
J. R. S., com 43 anos de idade, do sexo feminino, branca. Refere ter procurado odontologista para
colocação de implante dentário, há seis meses. Durante a cirurgia, teve dor e sangramento na fossa nasal
e, desde então, vem apresentando secreção nasal bilateral, de aspecto purulento associado a epistaxes
leves e recorrentes.
Ao exame otorrinolaringológico, observou-se presença dos implantes metálicos cruzando ambas as
cavidades nasais nos seguintes locais:
- Do assoalho da fossa até o septo à direita (implante em agulha) (Figura 1).
- Do assoalho da fossa até o corneto inferior esquerdo (implante em parafuso).
- Da porção inferior do septo nasal em direção ao corneto inferior esquerdo (implante em agulha).

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Figura 2. Raio-X dos seios da face demonstrando: dois implantes agulhados penetrando nas fossas nasais,
atingindo o repto nasal e um implante em parafuso transfixando o palato.

A paciente apresentava prótese dentária fixa e bem adaptada.


No exame radiológico dos seios da face, foram visualizados: dois implantes agulhados penetrando nas
fossas nasais, atingindo o septo nasal e um implante em parafuso transfixando o palato (Figura 2).
Foi proposto um tratamento conservador, removendo somente a porção exteriorizada do implante,
objetivando a preservação e a fixação da prótese dentária. A cirurgia foi realizada sob anestesia geral e,
após retração dos cornetos com vasoconstritor, foi possível uma boa vizualização dos implantes no interior
das fossas nasais. Estes foram seccionados e desgastados com micromotor e broca de diamante, até
próximo à sua emergência no osso maxilar, preservando a mucosa do assoalho nasal adjacente ao mesmo.
Foi utilizada antibioticoterapia (cefalexina) por 10 dias.
No pós-operatório, a paciente evoluiu com regressão da sintomatologia. Não houve prejuízo da fixação do
implante (Figura 3), ocorrendo boa epitelização da cavidade nasal, recobrindo os mesmos (Figura 4).
DISCUSSÃO
A presença de um corpo estranho intra-nasal e/ou sinusal constitui uni reservatório de bactérias e,
conseqüentemente, favorece infecções de repetição. O tratamento consiste na sua retirada, geralmente
resultando na remoção do implante6.

Figura 3. Pós-operatório: observa-se que não houve prejuízo na fixação do implante.

Figura 4. Nota-se boa epitelização da cavidade nasal após remoção da porção dos implantes
exteriorizados.

Em pacientes que apresentam uma camada óssea muito delgada na arcada dentária superior, alguns

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autores têm proposto a colocação de um enxerto ósseo sob o mucoperiósteo do seio maxilar, elevando seu
assoalho previamente à colocação do implante dentário, com o objetivo de reduzir as fistulas oroantrais e
outras complicações sinusais5, 8, 9, 11.
No caso apresentado, foram utilizados os implantes agulhados e o de parafuso, para fixação de uma
prótese externa. Esses são normalmente de tântalo e fixam-se perfurando o tecido ósseo na sua
profundidade. Na colocação, deve-se atentar para o comprimento (geralmente longos), direção e
angulação, que devem ser adequados à zona de implantação.
Para evitar perfuração do assoalho da fossa nasal e seio maxilar, é necessária uma tomografia
computadorizada, para avaliar a anatomia e determinar medidas da densidade óssea1.
Quando existem complicações maiores, como osteomielite e fístulas, há necessidade de remoção de todo o
implante e debridamento cirúrgico do osso acometido. No caso apresentado, não foram identificadas estas
complicações, sendo indicada a secção da porção intranasal do implante na tentativa de preservar a
fixação da prótese.
Devido à resistência do material, utilizamos brocas diamantadas para seccioná-los, ocorrendo desgaste
completo da broca durante o procedimento, inutilizando-a.
O implante foi desgastado até a emergência no osso, possibilitando que a mucosa nasal se regenerasse,
cobrindo completamente o mesmo.
Alguns autores consideram a retirada apenas da porção exteriorizada do implante, preservando-se o
mesmo, desde que haja uma perfeita fixação da prótese. Se houver instabilidade do implante e/ou
complicações maiores, deve ser feita a remoção completa1.
COMENTÁRIOS FINAIS
Na colocação dos implantes dentários pode ocorrer sua exteriorização para cavidade nasal ou sinusal,
proporcionando infecções. Na ausência de outras complicações maiores, pode-se tentar remover somente
a porção exteriorizada do implante, preservando a sustentação da prótese, evitando sua remoção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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perspective. Am J Rhinol., 12(5): 311-6, 1998.

* Professor Associado da Disciplina de Clínica Otorrinolaringológica da Faculdade de Medicina da


Universidade de São Paulo.
** Professor Doutor da Disciplina de Clínica Otorrinolaringológica da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo.
*** Pós-Graduanda da Disciplina de Clínica Otorrinolaringológica da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo.
**** Médica Otorrinolaringologista da Clínica Otorhinus - São Paulo/ SP.
Trabalho realizado na Disciplina de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo e no Centro de Estudos Alexandre Médicis da Silveira, na Clínica
Otorhinus. Apresentado na 11ª Reunião da Sociedade Brasileira de Otologia e 2° Encontro Brasileiro de

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Trabalhos Científicos em Otorrinolaringologia, de 2 a 6/11/1995, em Belo Horizonte /MG.


Endereço para correspondência: Prof. Dr. Ricardo F. Bento - Rua Pedroso Alvarenga, 1255, Conjt°. 22 -
04531-012 São Paulo /SP - Telefone: (0xx11) 3064-6556.
Artigo recebido em 9 de dezembro de 1999. Artigo aceito em 9 de fevereiro de 2000.

Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO


(Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C

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