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Rodrigo Silva do Nascimento

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O filme conta a história de Daniel Blake, operário residente na cidade Newcastle
na Inglaterra que afastado de suas atividades laborais, pela ocorrência de um ataque
cardíaco, busca obter a concessão do seguro por invalidez junto a previdência social de
seu País. No entanto, ele esbarra em uma série de questões burocráticas para sua
obtenção. O foco principal do filme se encontra na crítica a precariedade dos serviços
públicos. Relacionando esta fragilidade a sua terceirização, o que traz consigo maior
impessoalidade, falta de compaixão e empatia, fazendo com que os serviços públicos
tenham desvirtuado o seu o objetivo primordial de satisfazer as necessidades coletivas
do povo, tornando-se, pelo contrário, uma ferramenta de obstrução da consecução de
direitos.
O filme tem início durante um diálogo entre o protagonista e uma agente da
previdência. A agente busca colher informações relacionadas à saúde de Daniel
avaliando se este cumpre os requisitos para manutenção do recebimento do referente
benefício. O protagonista se mostra extremamente incomodado com as perguntas, uma
vez que estas não tocam no problema cardíaco a qual este foi acometido. As perguntas
se relacionam com restrições que não tem ligação com sua enfermidade, fazendo o
trabalhador aparentar estar apto para voltar a exercer suas atividades. Neste trecho é
destacado que a agente não é uma funcionária do governo da Inglaterra e sim pertence a
uma empresa privada americana que foi nomeada pelo Governo para fazer as avaliações
de concessões do seguro por invalidez. A grande burocracia, destacada no formulário de
52 páginas preenchido pelo protagonista, bem como as perguntas humilhantes, a
arrogância e aspereza da agente demonstram que o real objetivo da avaliação seria de
justificar, mesmo que de forma obliqua, a não concessão do benefício a quem teria o seu
direito.
Após avaliação, Daniel recebe uma carta informando que a manutenção do
benefício foi interrompida, mesmo tendo apresentado os laudos de seus médicos que
indicavam que ele não poderia retornar a suas atividades. Buscando reaver o benefício
ele entra em contato com a previdência social, onde é informado que antes de recorrer
da decisão deveria discutir com o profissional que o avaliou. Mais uma vez é
apresentado no filme que objetivo da empresa nomeada pelo governo na realidade é de
tornar mais difícil a obtenção do seguro, trazendo uma imensa burocracia, levando
muitos possíveis beneficiários a desistência.
Uma vez que não logrou êxito por meio do telefone, Daniel se dirige a uma
agência do Departamento do Trabalho onde é informado que as requisições devem ser
realizadas utilizando um computador, ele argumenta não saber operar o equipamento,
entretanto, a alternativa que lhe dão também está relacionado a operação de um
computador. A crítica deste trecho fica clara, e esta relacionada a falta de acessibilidade
relacionada a pessoas que não estão familiarizadas com a operação de computadores. A
grande informatização que existe no mundo atual, está grandemente relacionada a
velocidade e a praticidade, mas também a diminuir custos. Muitas vezes pessoas que
não dominam estes processos podem ter seus direitos cerceados pela simples
dificuldade de acesso à informação.
Neste trecho, ainda, são inseridas as personagens de Kate e seus dois filhos.
Kate é mãe solteira que acabara de chegar e Newcastle, por não conhecer a região chega
atrasada a agência do Departamento do Trabalho onde tinha hora marcada, entretanto, a
funcionária se recusa a recebê-la o que poderia ocasionar uma perda financeira para
Kate. O tratamento recebido por Kate demonstra uma grande falta de empatia dos
funcionários, este fato é ainda mais ressaltado quando Daniel pede ao homem que seria
o próximo da fila a ser chamado para ceder seu lugar a Kate, e este aceita sem
demonstrar problemas, entretanto os funcionários da agência seguem intransigentes não
permitindo que ela fosse atendida.
Kate com grandes dificuldades financeiras e sem conseguir emprego, abre mão
inclusive de comer para poder alimentar seus filhos. Os problemas de Kate levantam
outra relevante discussão relacionada ao abandono do Estado para com alguns cidadãos.
Nesta conjuntura é possível que as pessoas desesperadas sejam levadas a fazer qualquer
tipo de ato, até mesmo renunciar a sua dignidade e seus princípios. Em certo momento
de desespero Kate chega a roubar produtos em um supermercado e logo após, por conta
de sua grave situação financeira, começa a se prostituir para poder prover algum
alimento a seus filhos.
Daniel, uma vez que não obteve o seguro para invalidez, tenta obter o seguro-
desemprego, entretanto, para que este seja concedido deve cumprir uma série de
formalidades para se tornar apto a recebê-lo. Mesmo tendo o impedimento médico de
retornar ao trabalho deve buscar emprego. Como não tem familiaridade com
computadores entrega seu currículo escrito a mão em cada local. Entretanto, para fins de
concessão do seguro os esforços de Daniel são inúteis, uma vez que ele não pôde
comprovar a entrega dos currículos, nem mesmo conseguiu realizar o cadastro nos sites
de procura de empregos. Mais uma vez o Departamento de Trabalho personificado na
funcionária que atende Daniel se apresenta inflexível e intransigente determinado a
suspensão do seu pagamento por 4 semanas.
Mais uma vez Daniel se dirige ao Departamento do Trabalho procurando
finalmente conseguir marcar uma data para recorrer ao indeferimento do seu pedido de
concessão do benefício. Entretanto, mais uma vez esbarra na burocracia. Humilhado e
indignado, Daniel picha a parede da agência onde diz exigir que seja marcada a data do
seu recurso antes que morra de fome. Em que pese as pessoas passantes demonstrar
estar ao seu lado, talvez se reconhecendo nele quando buscam a tutela do estado, Daniel
acaba sendo encaminhado para delegacia e fichado.
Por fim, Daniel, com ajuda de sua amiga Kate, contrata um advogado para
defendê-lo, este em uma reunião expõe que a situação a qual Daniel se encontra é
absurda sendo certa sua vitória. Eis que Daniel, aguardando sua audiência com o juiz,
tem outro ataque cardíaco e acaba por falecer. Em seu velório, Kate lê uma carta que
Daniel pretendia ler na audiência, onde exalta que é um cidadão e deveria ser respeitado
como tal.
Como já demonstrado, o filme sugere uma severa crítica a burocracia imposta
pelo Estado para que os cidadãos implementem os seus direitos previstos. Este tema é
correlato a realidade brasileira, levando em conta a grande burocracia existente para
obtenção dos direitos abarcados pela previdência social. Considerando, ainda, a rigidez
relacionada aos critérios de concessão dos benefícios imposta pela reforma da
previdência.
Tomando em conta que os direitos relacionados a previdência social fazem parte
dos denominados direitos fundamentais sociais. Eles têm por fim possibilitar condições
de vida mais salubre para os mais necessitados, buscando realizar a igualdade.
Entretanto, assim como Daniel, que se encontrava em uma situação de vulnerabilidade,
no Brasil inúmeros cidadãos têm imensas dificuldades, mesmo tendo adimplidos todos
os requisitos para a sua concessão, alcançar os direitos previdenciários. Além da
dificuldade de obtê-los, com a reforma da previdência, estes direitos foram
precarizados, tornando o adimplemento dos requisitos extremamente uma tarefa árdua.
Isto atinge diretamente a dignidade das pessoas que, como na situação de Kate, acabam
tendo que recorrer a expedientes extremos para poderem continuar vivendo.
Outro ponto de conexão do filme com a realidade brasileira se encontra na
privatização dos serviços públicos. A agência que realiza as avaliações para concessões
dos benefícios previdenciários na Inglaterra é uma empresa privada americana. Pelo que
se percebe no filme, os funcionários desta empresa, estão focados em outras questões
que não a de realizar os direitos dos cidadãos. O Brasil passa, também, por um processo
de forte privatização dos serviços públicos, considerando a velocidade que se encontra
este processo, difícil imaginar até que ponto poderá chegar.

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