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I. Introdução Geral
Primeiro princípio: Não se deve fazer uma separação absoluta entre a interpretação da Bíblia como
livro meramente humano e a interpretação como livro que contém e é a Palavra de Deus. Esta é a
precompreensão básica do exegeta católico.
Terceiro princípio: Para conhecer o que Deus quer dizer e diz na Sagrada Escritura é necessário
conhecer tanto os condicionamentos e intenção do seu autor ou autores humanos, como os da sua
linguagem, que nem sempre dependem da intenção dos autores humanos.
A Bíblia, originariamente, foi escrita em três línguas: o hebraico, o aramaico e o grego. A maior
parte do texto do Antigo Testamento foi escrita em hebraico. Pequenas porções que podem ser
encontradas em Gênesis 31,47b; Esdras 4,8— 6,18; 7,12—16; Jeremias 10,11b e Daniel 2,4b—7,28, foram
escritas em aramaico. Foram escritos em grego alguns livros do Antigo Testamento, os chamados
deuterocanónicos, e todo o Novo Testamento.
Introdução à Bíblia I
O hebraico era a língua falada na Palestina antes do cativeiro na Babilónia (586 a 538 a.C.). Depois
do cativeiro, o povo, de lá, começou a falar o aramaico. Tanto o hebraico quanto o aramaico são línguas
semíticas que pertencem à mesma família do acádio (língua que era falada pelos Sírios, Assírios e pelos
Babilônios), do amorita, do fenício, do ugarítico, do amonita, do moabita e do árabe.
O grego era a nova língua do comércio que invadiu o mundo daquele tempo, depois das conquistas
de Alexandre Magno, no século IV antes de Cristo.
Embora depois do exílio o povo tenha deixado de falar o hebraico, a Bíblia continuou a ser escrita,
copiada e lida nesta língua. Por isso, para que o povo pudesse ter acesso à Bíblia, devia aprender o hebraico
em alguma escola. Assim, no tempo de Jesus, o povo da Palestina falava o aramaico em casa, usava o
hebraico na leitura da Bíblia, e o grego no comércio e na política.
Graças ao trabalho de inúmeros indivíduos fiéis ao longo de muitos séculos nós podemos ler a
Bíblia hoje. Estes indivíduos são tecnicamente chamados de escribas. Estes homens copiaram, à mão, a
Palavra de Deus, tomando grande cuidado para manter a exatidão daquilo que copiavam.
Os escribas tiveram um papel essencial no mundo antigo. A transmissão fiel de informações
precisas era um dos aspectos mais importante das sociedades da Antiguidade. Os reis contavam com os
escribas para registrar os editos reais. Oficiais administrativos precisavam dos escribas para registrar
transações importantes. Os erros podiam ter implicações políticas, econômicas ou de outra natureza de
grande seriedade.
Os escribas da antiguidade, que copiavam os textos bíblicos, criam que estavam copiando as
palavras do próprio Deus. Consequentemente, tomavam grande cuidado no intuito de preservar as cópias
que haviam recebido. Um dos mais importantes grupos de escribas foi o dos Massoretas.
Os Massoretas (500—1000 d.C.) trabalharam para preservar os textos do Antigo Testamento que
haviam recebido. Eles queriam assegurar um entendimento correto dos textos, bem como sua transmissão
com fidelidade, para as gerações futuras. Eles foram chamados de Massoretas por causa da massora, isto é,
tradição textual, desenvolvida por estes homens, e que era um complexo sistema de símbolos que eles
haviam desenvolvido para ajudá-los a alcançar seus objetivos.
Os Massoretas seguiram três passos para garantir a precisão textual:
a). Primeiro desenvolveram um sistema para escrever as vogais, já que as línguas hebraica e
aramaica são línguas consonânticas, i.e., não possuem vogais e todas as letras de seus alfabetos são
consoantes. Mesmo sendo línguas consonânticas, no entanto, tanto o hebraico como o aramaico possuíam
certas consoantes que soavam como vogais. O que os Massoretas fizeram foi desenvolver um sistema
complexo de vogais - a, e, i, o, u e vogais com sons mais abertos ou mais fechados - visando preservar, na
escrita, as tradições orais que haviam recebido das gerações anteriores.
Várias cópias em hebraico, do Antigo Testamento, chegaram até nossos dias. Três destas cópias são
de maior importância para os nossos estudos. São elas: O Texto Massorético (TM), o Pentateuco
Samaritano, e os Manuscritos do Mar Morto. A este grupo de três manuscritos podem ser acrescentados
Introdução à Bíblia I
os Fragmentos da Guenizá do Cairo. Importante também é fazer referência ao texto que os precedeu ao
Texto Massorético, designadamente o Texto Protomassorético.
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Após a destruição do segundo Templo e da cidade de Jerusalém, os judeus se reuniram na cidade de Jâmnia para
resolver a situação canônica de certos livros do Antigo Testamento que ainda tinham sua autoridade disputada. Deste
concílio surgiu um texto que foi recebido pelos judeus como oficial. Este concílio, em Jâmnia, aconteceu perto do final
do primeiro século e, desde 100 d.C., todas as comunidade judaicas adotaram-no como a forma textual definitiva e
oficial das Escrituras Sagradas para os judeus. O texto bíblico do Antigo Testamento, tanto de judeus quanto de
cristãos, baseia-se no TM estabelecido há muitos séculos pelos escribas na época antiga e, mais tarde, pelos
Massoretas, durante o período medieval.
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Aqui, cabe lembrar as palavras da mulher samaritana a Jesus quando disse: “Nossos pais adoravam neste monte;
vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar” (João 4,20). Em suas palavras podemos
notar que havia diferenças teológicas entre judeus e samaritanos. O Pentateuco Samaritano possui características que
refletem estas diferenças. O texto do Pentateuco Samaritano oferece um testemunho, muito antigo, de como os
Introdução à Bíblia I
samaritanos interpretavam o Pentateuco. Os samaritanos como que ajustaram o texto do Pentateuco para refletir
suas próprias conveniências.
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Mas na realidade esta cidade de Siquém foi assim chamada por causa do filho de um príncipe heveu homônimo, que
existiu nos dias de Jacó — pelo menos 200 anos depois de Abrão ter passado por lá. Então o que aconteceu? Nós
precisamos entender que quem escreveu o livro de Gênesis foi Moisés por volta do ano 1440—1400 a. C. Portanto,
quando Moisés escreveu o livro de Gênesis aquela localidade já se chamava Siquém. Assim sendo, quando Moisés a
chama de Siquém nos dias de Abrão, ele o faz em sentido de antecipação e não querendo indicar que aquela
localidade já era conhecida por Siquém nos dias de Abrão.
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Introdução à Bíblia I
Nas outras línguas, o texto bíblico do Antigo Testamento chegou até nós na forma de várias versões.
As primeiras e mais importantes são a versão grega, chamada Septuaginta, e os Targuns Aramaicos.
O que é a Septuaginta?
O nome Setenta (ἑβδομήκοντα – ebdomékonta em grego; Septuaginta em latim e, em hebraico,
~ybvh ~grt – tergum ha-siveym - tradução dos Setenta), vem da carta apócrifa conhecida como Carta de
Aristéias, escrita por volta de 130 a.C., e designa a versão grega do texto bíblico do Antigo Testamento.
Trata-se de um dos maiores testemunhos da transmissão do texto bíblico, a primeira tradução completa do
texto bíblico hebraico para outro idioma.
Importância
A importância dessa tradução é enorme pois, além de ser um reflexo do judaísmo helenístico,
também foi fonte de inspiração para os escritores do Novo Testamento e para os escritos teológicos dos
Padres da Igreja. Vários conceitos cristãos foram diretamente tomados da tradução da Septuaginta.
A LXX é considerada, por muitos estudiosos, uma das mais importantes versões da Bíblia Hebraica e
seu texto serviu, e serve até hoje, para estudos, pesquisas e reflexões sobre a tradição textual existente nos
últimos três séculos anteriores à Era cristã. Além disso, o seu texto é uma das principais referências para os
estudos de crítica textual do texto em hebraico.
As comunidades cristãs espalhadas pelo Império Romano, que não falavam grego ou latim, mas que
tinham sua própria língua nacional, conheceram o texto da Bíblia através de traduções feitas a partir da
Septuaginta e isso basta para demonstrar a sua influência e importância dentro da história do cristianismo
primitivo.
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Este material é geralmente composto de cópias dos livros do Antigo Testamento e de livros litúrgicos e outros
materiais usados na liturgia. Este cuidado era necessário pela convicção que os Judeus têm de que todo o material que
contenha o nome inefável de Deus – יהוהYHVH – o eterno, precisa ser sempre guardado com a maior reverência.
Introdução à Bíblia I
Os judeus também usaram a Septuaginta até o início do segundo século da Era cristã, altura em que
o judaísmo sentiu a necessidade de novas traduções, feitas a partir do texto hebraico, mas refletindo os
conceitos do judaísmo rabínico de então.
Com o passar do tempo, a LXX tornou-se a Bíblia por excelência da Igreja Cristã e seu impacto no
cristianismo, nos seus primeiros séculos, foi definitivo pois, nessa tradução bíblica, os cristãos encontraram
fundamentos para as suas afirmações e para suas doutrinas. Quando os apóstolos saíram da Palestina para
pregar o Evangelho à outros povos, eles adotaram esta tradução grega do Antigo Testamento.
Origens da LXX?
Segundo a Carta de Aristeias, a tradução da LXX foi feita por volta do século III a.C. em Alexandria,
no Egito. A mesma carta informa-nos que o rei do Egito, Ptolomeu II Filadelfo (285— 247 a.C.), desejando
ter um cópia da ּתֹורה
ָ (toráh = instrução ou ensino, composta dos 5 primeiros livros do Antigo Testamento
que é também chamada de Pentateuco) traduzida para o grego, enviou uma delegação, incluindo o próprio
Aristeias, para Jerusalém, requisitando a Eleazar, o sumo sacerdote naqueles dias, uma cópia da toráh e um
grupo de sábios para traduzi-la em Alexandria. O seleto grupo de sábios era composto de 72 judeus
versados em hebraico e grego (seis de cada uma das tribos de Israel). Ao chegar a Alexandria, o grupo se
apresentou perante o rei Ptolomeu e expôs a sua sabedoria e conhecimento e, com isso, impressionou
tanto ao rei como à sua corte. Logo após esses acontecimentos, os tradutores iniciaram o trabalho na ilha
de Faros, defronte a Alexandria. Cada um trabalhava em uma cela separada com uma cópia da toráh. A
obra de tradução foi concluída em 72 dias e constatou-se que todas as traduções eram absolutamente
idênticas.
O objetivo do relato da carta de Aristéias era elevar e legitimar o valor da LXX perante os judeus
que viviam em Alexandria e na diáspora, que falavam o grego como língua do cotidiano. Com o passar do
tempo, outros autores, tanto judeus como cristãos, acrescentaram dados à história de sua origem.
Aristóbulo, Fílon de Alexandria, Flávio Josefo, fontes rabínicas e cristãs, colaboraram para que a imagem e a
autoridade da LXX fossem reconhecidas por aqueles que desejavam conhecer e usar a versão da Bíblia
Hebraica na sua versão grega.
Dos vários autores que escreveram sobre a origem da LXX, dois forneceram duas concepções
importantes que seriam seguidas principalmente pelos cristãos. Eles são:
Fílon de Alexandria (25 a.C.— 40 d.C), para quem a LXX era uma tradução inspirada.
Flávio Josefo (c. 37/38— 100 d.C.) que, por sua vez, argumentou que essa versão possuía uma
fidelidade literal ao hebraico, portanto, era de boa qualidade.
Os Padres da Igreja normalmente aceitavam as opiniões tanto de Fílon como de Josefo; entre esses
estavam Justino Mártir, Clemente de Alexandria, Irineu de Lião, Cirilo de Jerusalém, Ambrósio de Milão,
Hipólito de Roma, Agostinho de Hipona, e outros.
Outro dado da carta de Aristéias é que ela só se refere à tradução da toráh não mencionando os
outros livros bíblicos. Em sentido lato, a lenda da origem da LXX foi aplicada também aos demais escritos
bíblicos, traduzidos posteriormente, e sob seu nome, estão englobados todos os livros do cânone hebraico,
juntamente com os livros típicos do cânone grego.
De acordo com as pesquisas dos mesmos estudiosos, acredita-se que a tradução da LXX não foi um
único projeto de algum grupo específico, mas um trabalho realizado por diversos tradutores em épocas
Introdução à Bíblia I
distintas, com estilos e métodos diferentes e, além disso, cada um possuía um conhecimento relativo da
língua hebraica. A LXX demorou a ser concluída. Assim, provavelmente: a toráh apareceu em 250 a.C.; os
Profetas por volta de 75 a.C. e, por último, os Hagiógrafos teriam surgido somente em 90 d.C. Desse modo,
a versão apresenta-se muito irregular e reflete diversas concepções e métodos distintos de tradução.
O empenho de se traduzir as Escrituras hebraicas para o grego, foi fruto da própria comunidade
judaica de Alexandria, que não falando mais o hebraico no dia-a-dia, desejava ler e compreender a Bíblia
Hebraica em sua língua cotidiana, o grego. Os motivos da tradução, possivelmente, foram de ordem
litúrgica, devocional e para estudos. Outro motivo foi fazer da Bíblia Hebraica uma obra conhecida pelos
não judeus, para que estes pudessem lê-la e estudá-la, como em Atos 8,26—33.
Assim, quando havia a necessidade de se traduzir determinado livro bíblico, um grupo ou pessoa
fazia a versão para a comunidade. Muitos livros foram traduzidos por mais de um tradutor. Em relação ao
Pentateuco, cada um de seus livros foi traduzido por uma única pessoa. Os estudiosos argumentam que a
LXX foi, na verdade, uma coleção de traduções gregas feitas de maneira independente por várias pessoas e
grupos da comunidade judaica do Egito, refletindo o espírito e as concepções do judaísmo helenístico e
obedecendo a métodos diversos e técnicas de tradução variadas.
Em muitas passagens, a LXX, em vez de simplesmente traduzir o texto hebraico, faz uma
interpretação e, assim, nem sempre é fiel à sua fonte hebraica. Várias expressões hebraicas foram
adaptadas a um ambiente judaico helenizado. Por exemplo:
Alguns termos hebraicos, também sofreram interpretação quando foram traduzidos na LXX. Entre
estes encontramos:
ִׁקְר א
ָ — ַויwayyiqera` — E chamou — Leuítikon — Levítico
Com a ascensão do império Babilônico, o aramaico tornou-se a língua comum em todo o Oriente
Médio e Mesopotâmia. Os judeus, conquistados no século VI a.C., bem como todos os outros povos
subjugados pelos babilônios e persas, passaram a usar o aramaico como o idioma do dia a dia, do comércio
e posteriormente, também do serviço da sinagoga.
Com o passar do tempo o aramaico adquiriu uma importância crescente no meio do povo judeu,
que passou a utilizá-lo cada vez mais. O aramaico se tornou, por excelência, língua dos judeus, suplantando
o hebraico que se viu reduzido à língua sagrada da Bíblia Hebraica, dos serviços religiosos do templo em
Jerusalém, dos estudos e das discussões rabínicas e era falado no dia a dia, quase que exclusivamente, na
cidade de Jerusalém. Nos serviços religiosos, nas sinagogas, o hebraico era utilizado mas existia uma
tradução para o aramaico após a leitura hebraica de cada versículo, capítulo, porção ou seção do
Pentateuco; e, logo após a leitura de cada dois ou três versículos da conclusão feita com a leitura de algum
dos profetas.
Este trabalho era efetuado por um tradutor profissional chamado de meturgman, que fazia a
tradução livre ou espontaneamente, e sem o uso de nenhum material escrito. Destas traduções nasceram
os targuns, ou seja, uma coleções de escritos baseados no texto do Antigo Testamento. Estes escritos, em
aramaico, são do início da Era Cristã e algumas partes são até mais antigas.
Os targuns não são considerados uma testemunha fiel do Antigo Testamento, apesar de nos
auxiliarem a compreender as primeiras interpretações judaicas, porque, se em certas partes refletem uma
tradução relativamente culta do Antigo Testamento, juntamente com a tradução encontramos comentários
e histórias que reforçam o significado do texto.
a) A Lei ou TORAH - para os hebreus esta palavra (Lei) é mais abrangente do que para nós, pois
para eles, a Lei inclui a história. Através da Torah Deus dá a direção, traça a trajetória para a história do seu
povo. A Lei, portanto, não é letra morta, mas tem sentido dinâmico. A Torah é formada pelos cinco
primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Esse conjunto de livros é
também chamado de Pentateuco (de Penta = cinco e Teukos = vasos de barro onde eram guardados os
rolos da lei). A Lei é o núcleo fundamental da bíblia para os hebreus.
b) Os Profetas ou NEBYIM - São livros complementares à Lei. Os profetas são pessoas que orientam
o povo nos caminhos da Lei. Dos que deixaram livro escrito, conhece-se 6 grandes profetas e 12 profetas
menores, porém muitos mais devem ter sido os profetas em Israel, os chamados profetas não escritores.
c) Os Escritos ou KETUBYIM - são os demais livros, dentre os quais se incluem alguns dos que hoje
chamamos Históricos e Sapienciais.
2. Novo Testamento: Que são todos os livros escritos após a vinda de Jesus até o final do séc. I d.C..
Traz a vida e as obras de Jesus, a criação e a expansão da Igreja, além de documentos de formação
do povo cristão.
Essas duas grandes divisões estão ainda subdivididas de acordo com o conteúdo dos livros. Temos
assim, para o Antigo Testamento:
1. Pentateuco (5): O Pentateuco (5 livros), que corresponde à Lei ou Torah dos judeus, é formado
pelos mesmos cinco livros que abrem a Bíblia, e falam da Criação de Deus e da formação de seu
Povo Eleito, Israel. São eles: GÊNESIS, ÊXODO, LEVÍTICO, NÚMEROS, DEUTERONÓMIO.
2. Livros Históricos (16): são os livros que descrevem as guerras de Israel, bem como a história de
seus reinos. São eles: JOSUÉ, JUÍZES, RUTH, I e II SAMUEL, I e II REIS, I e II
CRÔNICAS, ESDRAS, NEEMIAS, TOBIAS, JUDITE, ESTER, I e II MACABEUS.
3. Livros Sapienciais/Poéticos (7): apresentam a sabedoria e poesia dos hebreus. São eles: JÓ,
SALMOS, PROVÉRBIOS, ECLESIASTES (ou COÉLET), CÂNTICO DOS CÂNTICOS,
SABEDORIA e ECLESIÁSTICO (ou SIRAC).
4. Livros Proféticos (18): foram escritos por profetas que pregavam o arrependimento e preparavam
o povo eleito para a chegada do Messias Salvador: ISAÍAS, JEREMIAS (+ LAMENTAÇÕES e
BARUC), EZEQUIEL,*DANIEL (os chamados profetas maiores), OSEIAS, JOEL, AMÓS,
ABDIAS, JONAS, MIQUEIAS, NAUM, HABACUC, SOFONIAS, AGEU, ZACARIAS e
MALAQUIAS.
1. Os Evangelhos (4): narram a vida, os ensinamentos, os milagres e a obras do Messias Jesus Cristo.
São eles:
2. Os Actos dos Apóstolos: apresenta a instituição e expansão da Igreja Cristã, primeiro na Palestina
e, a seguir, no mundo até então conhecido.
3. As Epístolas: são as doutrinas e exortações escritas por alguns Apóstolos de Cristo e encaminhadas
a comunidades ou fiéis cristãos. Normalmente se subdividem em:
a) Epístolas Paulinas (13): Romanos, I e II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I
e II Tessalonicenses, I e II Timóteo, A Tito, A Filemon.
c) Epístolas Católicas (7): Epístola de São Tiago, I e II Epístola de São Pedro, I, II e III Epístola I
de São João, Epístola de São Judas Tadeu.
4. Apocalipse de S. João: traz a vitória de Cristo e sua Igreja sobre as forças do mal e o juízo final.
Para os protestantes a Bíblia também está dividida em duas grandes partes, AT e NT, mas conta
com apenas 66 livros, isto é com 7 livros a menos que a Bíblia católica que são: Tobias, Judite, Baruc,
Eclesiástico, Sabedoria, I Macabeus, II Macabeus, além de algumas partes de Daniel e de Ester.
Como vimos, ao falarmos da transmissão da Bíblia nas outras línguas, no século III a.C., um grupo
de sábios judeus resolveu traduzir o Antigo Testamento do hebraico para o grego. Esta foi a primeira
tradução da Bíblia, chamada de SEPTUAGINTA ou SETENTA. A partir de então, passou a existir duas versões
da Bíblia, uma em hebraico, usada pelos judeus que moravam na Palestina e outra em grego, usada pelos
judeus que viviam no Egito. Ocorre que na época em que foi feita a tradução grega dos Setenta, a lista (ou
cânon) dos livros sagrados ainda não estava definida e os judeus da diáspora foram acrescentando mais
livros à sua bíblia (em grego). Com isso, a lista dos livros da versão grega ficou maior que a lista dos livros da
Bíblia hebraica em 7 livros.
Pelo facto do grego ser a língua falada em quase todo o mundo conhecido da época, a tradução
grega da bíblia sempre teve maior difusão do que a hebraica. Assim, mais tarde, quando os Apóstolos
saíram a pregar o Evangelho aos povos que falavam o grego, eles adotaram a tradução grega dos Setenta e
a espalharam pelo mundo. Quanto aos judeus, permaneceram com a sua bíblia em hebraico, sendo que no
ano 97 d.C. declararam oficialmente como texto inspirado apenas os livros constantes da versão hebraica.
Os cristãos continuaram a utilizar a versão grega até que, por volta do século IV d.C., grande parte
dos povos do Império Romano já não falava mais o grego e sim o latim, a nova língua oficial do Império. Foi
então que o Papa Dâmaso pediu a São Jerônimo, grande estudioso e biblista da época, que traduzisse a
bíblia para o latim. Jerônimo traduziu toda a bíblia considerando as duas versões, mas estabeleceu a
distinção entre os livros "protocanónicos" (da primeira lista ou cânon) e os "deuterocanónicos" (da
Segunda lista, ou cânon). Essa tradução da Bíblia para o latim, feita por São Jerônimo em 350 d.C., chamou-
se "Vulgata", (isto é, a Divulgada).
Com a tradução de São Jerônimo, reacende-se a polêmica entre os defensores da lista menor
(protocanónicos) e os da lista maior (deuterocanónicos). Essa questão arrastou-se até o Concílio de
Florença, em 1430, quando os bispos pronunciando-se sobre o assunto, afirmaram que os católicos
reconhecem como palavra de Deus inspirada todos os livros da lista maior (ou seja, da versão grega), e
estabeleceram assim, uma trégua nas discussões.
O assunto voltou à tona no século XVI com a reforma protestante quando Lutero, resolvendo
traduzir a bíblia do latim para o alemão (sua língua materna), traduziu apenas os livros da versão hebraica
(ou do primeiro cânon). Novamente o assunto foi discutido pelos bispos católicos e, no Concílio de Trento,
foi reafirmada como inspirada por Deus toda a Bíblia, incluindo os livros da versão grega. Desse modo, os
católicos, seguindo o exemplo dos apóstolos, ficaram com a bíblia da versão grega e os protestantes
ficaram com a bíblia hebraica, o que perdura até os dias de hoje.
2.2. Delimitação
Entende-se a região localizada entre o Oriente Médio (vales dos rios Tigre e Eufrates) e nordeste da
África (vale do rio Nilo). Abrange áreas da Mesopotâmia e do Levante (os territórios ou partes dos
territórios da Palestina, Israel, Jordánia, Líbano, Síria e Chipre), sendo delimitado a Sul pelo deserto da Síria
e a Norte pelo planalto da Anatólia.
Introdução à Bíblia I
Solo fértil, ou seja, excelente para a prática agrícola. Os vales ficavam mais férteis quando os
rios transbordavam, pois este processo depositava nos solos materiais orgânicos.
Presença de sistemas de irrigação voltados para a agricultura.
A agricultura colaborou para a sedentarização;
A sedentarização contribuiu para o surgimento das primeiras organizações sociais e cidades.
A extensão territorial é de, aproximadamente, 450 km².
A região começou a ser habitada há, aproximadamente, 11 mil anos. Povos nômades
começaram a fixar moradia no Crescente Fértil, fundando as primeiras vilas agrárias.
Atualmente, a região do Crescente Fértil é ocupada pelos territórios dos seguintes países:
Egito, Líbano, Jordânia, Israel, Síria, Turquia, Irão e Iraque. A região continua hoje sendo
muito povoada. Moram nesta área cerca de 50 milhões de habitantes.
a). Sumérios
Habitantes do sul da Mesopotâmia, esses povos construíram grandes complexos de irrigação e
drenagem de água, além de desenvolverem a escrita cuneiforme e ter construído as primeiras
cidades da história da humanidade.
b). Babilônios
Foram os responsáveis pela elaboração do primeiro código de leis da atualidade, o Código de
Hamurabi. O Código foi feito baseado na Lei de Talião (olho por olho, dente por dente). Os
babilônicos também construíram os Jardins Suspensos da Babilônia, considerado uma das sete
maravilhas do mundo antigo.
Introdução à Bíblia I
c). Assírios
Povos extremamente militares, os assírios eram cruéis com seus inimigos e consideravam a guerra
a principal forma de conquistar poder e desenvolver a sociedade.
Para se poder compreender o Antigo Testamento é importante que se conheça a história do povo
hebreu, pois sabemos que é através deste povo que Deus se manifestou à humanidade, e preparou-a para
receber o seu Filho amado.
É chamada “Era dos Patriarcas” a primeira fase da presença do povo hebraico na região da
Palestina (Canaã). Tal era se inicia com a migração de Abraão e seu grupo da cidade de Ur (atual Iraque) por
volta do sec. XVIII tem a sua conclusão aproximadamente no sec. XIII a.C., com o episódio referido como
“Êxodo”, onde Moisés lidera a volta de seu povo do Egito, onde se encontrava submetido à escravidão.
A Era dos Patriarcas recebe tal nome pelo fato da organização dos hebreus estar fundada em torno
de patriarcas, isto é, líderes de grandes famílias, que reuniam funções diversas, como a de chefe militar,
sacerdote e líder político.
Não há nenhum indício arqueológico que indique com exatidão a existência de Abraão, Isaac e Jacó,
e por isso muito do que se conhece deste período é encontrado em textos religiosos como os da Bíblia.
Sabe-se, porém, duma grande expansão das tribos nómadas que, vindas do norte a partir da idade do
Bronze médio (2100 a 1550 a.C.), em sucessivas vagas migratórias, chegaram até à Palestina, e a
arqueologia confirma a vida seminómada, os nomes e os costumes de Génesis como correspondentes ao
modelo sociológico do Oriente no início do II milénio.
A data de 1850, aproximadamente, para a emigração de Abraão a Canaã é uma data razoável pois
parece permitir uma melhor correlação entre os acontecimentos bíblicos e os seculares. Esta data igualaria
a entrada de Jacó e José no Egito com o período dos hicsos.
Os mais importantes patriarcas foram Abraão, Isaac e Jacó. É nesta fase que se forma e consolidam
as principais características do povo hebreu. Porém, não podemos ainda falar de um povo, muito menos de
uma nação. Eram grupos seminômades que começaram a povoar a Palestina, mas somente alguns desses
grupos se tornaram sedentários, sobretudo os que se estabeleceram ao norte, às margens do lago da
Galileia. Os do centro e do sul tinham uma vida mais móvel e nas épocas de fome, eles desciam ao Egito.
A história dos patriarcas nos é narrada na segunda parte do livro do Gênesis e, sobre a base dos
personagens importantes da narrativa da idade patriarcal, pode convenientemente ser dividida como
segue: Abraão, Gn 12,1-25,18; Isaque e Jacó, Gn 25,19-36,43; José, Gn 37,1-50,26. Nela, a formação do
povo de Israel tem início quando Deus aparece a Abrão (que terá seu nome mudado para Abraão) e lhe
ordena que deixe sua terra e parta para outra posteriormente indicada (Canaã). Em troca, recebe a
promessa de formar uma grande nação, que irá ganhar todas as terras, do rio Nilo ao Eufrates. Abraão,
segundo o livro do Gênesis, obedece a ordem divina e sua família posteriormente dará origem a todas as
nações da região. Após Abraão, a liderança passou para Isaque, seu filho, e depois para Jacó, que acabaria
por ter seu nome mudado para Israel, e cujos doze filhos dariam origem às doze tribos de Israel, a saber:
Ruben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, zebulon, Dan, Neftali, Gad, Aser e José. Este último é o elemento de
ligação com o acontecimento sucessivo da história de Israel.
Introdução à Bíblia I
3.2. O tempo do êxodo: Saída do Egito e travessia do deserto (meados do século XIII)
Por causa de uma seca intensa, os hebreus foram parar no Egipto (≈ 1700 a.C.) e estabeleceram-se na
terra de Goshen (Delta do Nilo), também chamada “Terra de Ramsés”. Inicialmente, eles achavam-se bem
pois o Egipto era governado pelos Hicsos (reis pastores), de cuja proteção a casa de Israel se beneficiava.
Por lá vivem e se desenvolvem durante cerca de 400 anos.
Com a expulsão dos Hicsos pelos príncipes de Tebas, a presença dos hebreus torna-se cada vez mais
incómoda. Por isso, os egípcios tomam, mesmo, medidas repressivas contra eles que, em certo momento,
atingem dimensões de perseguição. Os grupos que se estabeleceram no Egito, de facto, com o passar do
tempo, foram obrigados pelos faraós aos trabalhos forçados. Neste momento de opressão surge um
personagem fundamental, Moisés, a quem Deus confia a missão de libertar seu povo e de fazê-lo retornar à
Palestina, no acontecimento que ficou conhecido como Êxodo. No livro da Bíblia com o mesmo nome
temos o relato deste grande acontecimento.
Estudiosos modernos entendem que, com toda a probabilidade, o Êxodo não foi uma experiência
uniforme. Possivelmente outros grupos empreenderam o seu “Êxodo” noutras circunstâncias diferentes
das da fuga. Os mesmos estudiosos distinguem o Êxodo “expulsão” (Ex 6,1ss) do Êxodo “fuga”. Os grupos
que partiram com a expulsão teriam entrado, primeiramente, na terra prometida. O grupo de Moisés, terá
fugido, e depois de vaguear pelo deserto, introduziu-se, sob a guia de Josué, pela Transjordânia. Este último
Êxodo terá prevalecido sobre o outro, provavelmente, porque foi uma experiência mais intensa, e, por isso
mesmo, tenha sido fixado na tradição religiosa.
Depois de muitas discussões é hoje quase unânime colocar o Êxodo no sec. XIII a.C., entre 1250 e 1220
a.C.. A Bíblia menciona dois faraós: Ramsés II (1301-1235) e seu filho Merneptah (1235 – 1223). O primeiro
seria o faraó opressor e o segundo o faraó do Êxodo.
Depois da travessia do deserto, onde o acontecimento capital é a aliança do Sinai , chega-se à estepe de
Moab, diante da terra prometida. Após a morte de Moisés, Josué assume o comando, cruza o Jordão,
conquista Jericó e aos poucos vai-se apoderando da Palestina (Jos 1,24).
Normalmente descrita como guerra-relâmpago, a penetração na terra de Canaã foi, na prática, muito
mais lenta, difícil e distribuída em fases e zonas distintas, do que o relato do livro de Josué indicau ff6.
Como vimos, muito provavelmente, as tribos tinham viajado separadamente para a Palestina e ocupado a
terra também separadamente.
Grupo Central, que poderia ser considerado como o grupo de Josué, formado pelas tribos de
Benjamim, Efraim e Manassés (esta última só parcialmente), e tinham com centro Silo e Siquém.
O grupo setentrional, na Galileia, que estava composto pelas tribos de Issacar, Zabulão, Asser,
Neftali e Dan (a outra metade). Há quem afirme que estas tribos do norte não teriam emigrado
para o Egipto, e, portanto, não teriam participado do Êxodo.