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258 CABALÁ PARA O ESTUDANTE
E disto derivamos uma segunda lei, que não há ninguém no mundo que
possa completamente satisfazer os desejos do seu próximo, porque no fim, não pode
dar ao outro o senso e o sentimento de autorrealização que é necessário para atingir
a perfeição desejada.
E vemos que isto é verdade apenas para os criados, e não é aplicável à exaltada
perfeição do Criador. Este é o motivo pelo qual Ele planejou as coisas para que
possamos lutar e trabalhar através da Torá e das Mitzvot para atingir nossa própria
exaltação, assim que todo o prazer e bondade que vem para nós por Ele, isto é, no
conceito da Dvekút com Ele, é ganhado por nós através de nossas ações, e então
sentimos a verdadeira possessão sem a qual não há senso de realização, como
explicamos.
9) No entanto, é apropriado para nós examinar o significado e a origem desta
lei natural: qual é a fonte e por que sentimos vergonha e impaciência quando
recebemos caridade de alguém? Isto é o que aprendemos da lei conhecida pelos
estudiosos da natureza: que a natureza de cada ramo é próxima e igual àquela da sua
raiz, e todas as coisas em relação à raiz também se aplicam ao ramo, e o ramo as ama,
deseja e deriva sua utilidade delas. E o oposto, há aquelas coisas que não se aplicam
à raiz que o ramo também se afasta e não pode tolerar e é também danificado por
elas. E esta lei se aplica a toda raiz e ramo sem exceção.
Isto nos dá uma abertura para entender a origem de todos os prazeres e
tormentos do nosso mundo. Já que o Criador é a raiz de todas as criações que Ele
criou, portanto todas as coisas que estão incluídas nEle e atraídas por Ele
diretamente, são prazerosas a nós, já que nossa natureza é próxima a nossa exaltada
raiz. Por outro lado, todas as coisas que não se aplicam a Ele e não são atraídas por
nós diretamente, mas através da natureza da própria criação, vai contra nossa
natureza e são difíceis para nós tolerarmos. Isto quer dizer, nós amamos o descanso
e odiamos o movimento, tanto que não fazemos nenhum movimento a menos que
seja para atingir o descanso. Isto é porque nossa raiz não é uma de movimento, mas
sim de descanso e movimento não se aplica a Ele. Portanto vai contra a nossa
natureza e não gostamos disto.
Da mesma forma amamos a sabedoria, a bravura, a riqueza etc., porque todas
estas são incluídas nEle que é nossa raiz. Este é o porquê odiamos seus opostos, como
ignorância, fraqueza e pobreza, porque elas não podem ser encontradas na nossa
raiz, nos fazendo rejeitar, não gostar e odiá-las. Elas também nos fazem sofrer
intoleravelmente.
10) Este é o motivo para nossos sentimentos defeituosos de vergonha e
impaciência quando recebemos caridade dos outros. O Criador não tem aspecto de
receber benefício dos outros em sua natureza. Pois de quem Ele receberia? E já que
este conceito não se aplica à nossa raiz, que é o Criador, nós não gostamos disto,
como explicamos. Por outro lado, sentimos prazer, doçura e conforto quando nós
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compartilhamos com os outros, já que isto se aplica à nossa raiz que compartilha
com todos.
11) Agora nossos olhos foram abertos para examinarmos o propósito da
Criação, que é “Aderir-se a Ele”, com sua verdadeira natureza. Todo este conceito
de elevação e Dvekút que é assegurado a nós através de nossa aplicação na Torá e suas
Mitzvot não é mais e nem menos que o processo dos ramos tornando-se em afinidade
com sua exaltada raiz, pelo qual tudo o que é agradável, eufórico e agradável vem
naturalmente, como explicamos acima. Este prazer é nada mais que obtenção de
uma Similaridade de Forma com seu Fazedor, assim quando nos transformamos
para nos tornarmos iguais em cada detalhe com nossa raiz, sentimos o deleite.
Além disso, tudo que acontece conosco que não é encontrado em nossa raiz
torna-se intolerável, repulsivo e doloroso, como este conceito deixou claro. Assim é
natural que todas as nossas esperanças dependam de quão bem sucedidos estamos
em atingir Similaridade de Forma com nossa raiz.
12) Este é o porquê nossos sábios perguntaram: “Por que Deus se importa se
nós abatemos do pescoço ou de trás do pescoço? Afinal, as Mitzvot foram dadas
apenas para purificar a humanidade”. (Bereshit Raba 44) E o significado deste
processo de purificação é a purificação do corpo sombrio, que é o propósito de
observar a Torá e Mitzvot.
“Um asno selvagem se tornará homem” (Jó 11:12), porque quando nasce
está no nível máximo de imundície e inferioridade, isto é, há muito amor egoísta
inerente nele, pelo qual todas as suas ações são centradas em si mesmo sem nenhum
traço de pensamento de compartilhar com os outros.
Assim está na maior distância possível da sua Raiz. Está diametralmente
oposto, porque a Raiz apenas compartilha com os outros sem um pensamento de
receber, Deus proíba. O recém-nascido está em um estado total de receber para si
mesmo sem um único pensamento de compartilhar com os outros, e portanto é
considerado estando no ponto mais baixo da inferioridade e imundície no nosso
mundo humano.
E quanto mais cresce, mais recebe medidas parciais de “compartilhar com os
outros” de seu ambiente, que é dependente do desenvolvimento de valores do seu
ambiente. Ele é então ensinado a cumprir a Torá e Mitzvot para seu próprio benefício
– para uma recompensa neste mundo e no Mundo Vindouro. Isto é considerado Lo
Lishmá (não em Nome Dela), já que é impossível fazer uma criança se acostumar em
alguma outra forma.
E conforme cresce, lhe é mostrado como aplicar-se em Torá e Mitzvot Lishmá
(em Nome Dela), ou seja, que os faz apenas para dar prazer ao seu Criador.
Conforme o RAMBAM (Maimônides) disse, “Mulheres e crianças não devem ser
ensinadas a aplicarem-se em Torá e Mitzvot Lishmá, pois elas não são capazes de
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Portanto, apenas aqueles que guardam a Torá e Mitzvot são capazes disto. Ao
se acostumarem a guardar a Torá e as Mitzvot para trazer contentamento ao seu
Fazedor, gradualmente separam a si mesmos do seio da natureza humana e adquirem
uma segunda natureza, que é o acima mencionado amor aos outros.
Este é o porquê os sábios do Zohar excluíram as nações do mundo
completamente da característica de amar os outros e disseram que todo ato de
bondade que fazem é apenas para seus próprios benefícios, já que não tem nada que
ver com a aplicação da Torá e Mitzvot Lishmá. O propósito de todas as adorações de
seus deuses é pelo bem de recompensa e redenção neste mundo e no próximo, e
assim vemos que sua adoração aos deuses é procedente do amor egoísta. Em todo
caso, eles nunca tomarão uma ação de valor que será fora do âmbito do seu próprio
corpo; que levantem a si mesmos e sequer um fio de cabelo acima do chão da
natureza humana.
14) Assim vemos com nossos próprio olhos que não há diferença entre estes
dois tipos de preceitos da Torá, em termos de aplicarem-se à Torá e Mitzvot Lishmá,
mesmo em termos da aplicação prática da Torá. É uma necessidade que, antes que
seja recompensado, todas as ações em relação aos outros, seja em relação ao Criador
ou em relação a outras pessoas, parecem ser vazias e imperceptíveis. No entanto,
através de grande esforço pode elevar-se gradualmente e atingir uma segunda
natureza, como mencionado acima, e então imediatamente atinge a meta final, que
é a Dvekút com o Criador, como explicamos.
Já que isto é assim, a lógica dita que a parte da Torá em relação ao homem e
seu próximo é mais capaz de trazer o homem à sua meta desejada. E já que o
cumprimento das Mitzvot entre o homem e o Criador é predeterminada e específica,
e não há feedback nisto, e acostuma-se a eles facilmente, qualquer coisa que é feita
por hábito não é mais capaz de trazer algum benefício, como bem conhecido. Isto
não é verdade nas Mitzvot em relação ao homem e seu próximo, que não são
predeterminados ou específicos. Eles são muito exigentes que se transforme, e,
portanto, sua capacidade é mais assegurada e é mais fácil e mais próximo de atingir
a meta através deles.
15) Agora podemos entender claramente as palavras de Hilel HaNasi para o
convertido, onde ele declara que a essência da Torá é “Ame ao próximo como a ti
mesmo e as outras seiscentas e doze Mitzvot são um comentário e preparação para
este”, (veja acima no Item 2). Mesmo as Mitzvot em relação ao homem e o Criador
são incluídas nesta Mitzvá, já que é a meta derradeira de toda a Torá e Mitzvot, como
os sábios disseram: “A Torá e Mitzvot foram dadas apenas para purificar os Israelitas”,
(veja acima no Item 12), que significa a purificação do corpo ao ponto onde adquire
uma segunda natureza que é definida como amar os outros, isto é, a única Mitzvá de
“Ame ao próximo como a ti mesmo”, que é a meta derradeira da Torá, depois da
qual brevemente atinge a Dvekút com o Criador.
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Não há necessidade de perguntar por que isto não é definido pelas palavras:
“Ame o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a alma e com todo o
teu poder” (Deuteronômio 6:5), pois de acordo com o motivo explicado acima, não há
diferença entre o amor do Criador e o amor aos outros.
Isto é porque aquele que ainda está sujeito à natureza humana, já que tudo
externo a si mesmo não é real e não existe. E já que este converso perguntou o Hilel
HaNasi para explicar a essência do que a Torá requere em uma forma que sua meta
seria fácil para atingir e próximo de encontrá-la, dizendo, “Me ensine toda a Torá
enquanto pulo de um pé só”, o Hilel definiu isto como o amor aos outros, já que
esta meta é a mais próxima e rápida a ser revelada (veja acima no Item 14), pois é
seguro e pode ser cumprida sem erro e é acompanhada com um mecanismo de
feedback firme.
16) Nisto encontramos uma abertura para entender como a Torá demanda
algo de nós que não possamos cumprir, (veja acima nas Seções 3 e 4 especificamente
o conteúdo da Mitzvá “Ame ao próximo como a ti mesmo”). Leia isto atentamente
e entenda!
Este é o motivo pelo qual a Torá não foi dada para nossos santos patriarcas
Abraão, Isaac e Jacó, mas foi adiada até o Êxodo do Egito; apenas quando eles se
tornaram uma nação completa de seiscentos mil homens acima da idade de vinte
anos. Todo membro da nação foi perguntado se concordava com este trabalho
elevado. E apenas quando cada uma das pessoas na nação concordou com todo seu
coração e alma e disse “Faremos e ouviremos” (Êxodo 24:7), apenas então foi possível
cumprir o princípio de toda a Torá, que é deixar o reino da impossibilidade e entrar
no reino da possibilidade.
Pois então é absolutamente certo, se seiscentos mil homens tirarem sua
atenção de suas próprias necessidades e concordar em adiá-las por outra atividade e
devotarem-se na certificação que nenhum de seus amigos próximos careçam de algo,
e fizeram assim com incrível amor, com todos seus corações e com todas suas almas
e completamente cumprissem a Mitzvá “Ame ao próximo como a ti mesmo”, então
não há dúvida que nenhum homem da nação precisaria se preocupar com seu
próprio sustento
Através disto, cada pessoa tornou-se absolutamente livre da preocupação de
seu próprio sustento e podia facilmente guardar a Mitzvá “Ame ao próximo como a
ti mesmo” de acordo com todas as condições explicadas nas Seções 3 e 4. Pois como
alguém poderia se preocupar com seu próprio sustento quando seiscentos mil
amigos amados e leais estavam constantemente se certificando que todas as suas
necessidades fossem satisfeitas?
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Assim, depois que todos os membros da nação concordaram com isto, a Torá
foi imediatamente entregue a eles, já que eram então capazes de cumpri-la. Antes de
eles atingirem o tamanho de uma nação completa, falando do tempo dos patriarcas,
quando eram poucos, não eram verdadeiramente capazes de cumprir a Torá
propriamente, já que um pequeno número de pessoas não pode mesmo começar a
se envolver nas Mitzvot em relação ao homem e seu próximo à extensão de “Ame ao
teu próximo como a ti mesmo” como explicado nas Seções 3 e 4, é por isto que a
Torá não foi entregue a eles.
17) Assim podemos entender um dos ditos mais assombrosos dos sábios:
“Todos os Israelitas são responsáveis uns pelos outros” (Midrash Raba, Shir HaShirim
7:14) que parece totalmente injustificável. É possível se outra pessoa pecar, ou
transgredir e se irritar com seu Criador, e eu nem mesmo a conheça nem tenha nada
a ver com ela, que o Criador me fizesse pagar por sua transgressão? Há uma passagem
na Torá que diz: “Pais não serão mortos pelos pecados de seus filhos. Cada pessoa
deve ser mota por seu próprio pecado”, (Deuteronômio 24:16), assim como pode ser
dito que eu sou responsável pelos pecados de um completo estranho, de quem você
não conhece nem ele, nem seu paradeiro?
E como se isto não fosse suficiente, no Tratado Kiddushin, pg. 40b, é dito,
“Rabi Elazar filho do Rabi Shimon disse, ‘Já que o mundo é julgado pela maioria, e
o indivíduo é julgado pela maioria, aquele que cumpre uma Mitzvá faz com que ele
mesmo e o mundo todo aponte a escala do mérito; e ai daquele que comete uma
transgressão, pois ele faz com que ele mesmo e o mundo todo aponte para a escala
do demérito, como está escrito: ‘Um pecador causa a perda de muitos bens’”.
Dizendo isto, Rabi Elazar filho do Rabi Shimon nos faz responsáveis pelo
mundo todo, pois em sua opinião todas as pessoas no mundo são responsáveis umas
pelas outras. Cada pessoa provoca ou o mérito ou o demérito para o mundo todo
através de suas ações. E este é um grande enigma.
No entanto, de acordo com o que explicamos acima, suas palavras são
precisas e simples, já que claramente provamos que todas as 613 Mitzvot na Torá
revolvem ao redor desta única Mitzvá “Ame ao próximo como a ti mesmo”, e não
pode ser cumprida a menos que toda a nação, cujos todos membros, estejam prontos
para fazer isto.