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Karma Jnana Bhakti

Por Jayadvaita Swami


De acordo com a literatura Védica, existem três campos de atividades
humana - o campo de karma, o de jnana e aquele de bhakti.

Karma
Karma refere-se à ação realizada para o benefício do corpo e seus sentidos. O
trabalho que fazemos para nos manter é karma. Nossos esforços para nos
divertir também é karma. Quando comemos, isso é karma. Quando
dormimos, isso é karma. Quando assistimos TV, escutamos Beethoven ou
Ravi Shankar ou Madonna, quando temos filhos ou dirigimos nosso carro, ou
seja, praticamente tudo que fazemos - isso também é karma.

Karma pode também ser do tipo “extendido”. Não é apenas aquelas coisas
que fazemos para nós mas também o que fazemos para outros, em relação ao
corpo e sentidos. Quando ajudamos um amigo, damos alimentos aos pobres,
servimos nas forças armadas, ou mostramos ao nosso tio como preencher
sua declaração de imposto de renda para pagar menos impostos –
novamente, tudo isso é karma.

Karma pode ser “bom” ou “mal” (ou, mais freqüentemente, misturado).


Portanto, karma pode lhe trazer bons ou maus resultados (ou, novamente,
um pouco de ambos). Esses resultados são às vezes também chamados de
karma. (Mais precisamente são resultados kármicos).

Às vezes os resultados são imediatos e óbvios: trabalhamos duro e obtemos


um bom resultado, comemos demais e ficamos com indigestão. Mas às vezes
os resultados podem vir depois de muitos anos, ou, de acordo com a
literatura védica, vidas. Eu posso fazer algo nessa vida e só obter o resultado
na próxima, ou daqui a dez vidas, ou até daqui a milhares. Assim, karma cria
uma teia complexa de resultados.

Se alguém nasce feio, pobre ou doente, isso é um sinal de mal karma. Ou se


alguém tem dificuldades com a polícia, tem problemas legais – mal karma. E
se é bonito, tem dinheiro, boa saúde – bom karma.

Estamos experimentando agora as reações de nossas ações no passado e


criando futuras reações com nossas atuais ações. Fica meio complicado, né?

As escrituras do mundo, incluindo os Vedas, nos alertam contra os perigos


do mal karma e nos guiam em direção ao bom karma.

Mas nós nem sempre aceitamos essas instruções. E mesmo quando a


aceitamos, o melhor que obtemos são apenas bons resultados kármicos. E
bom ou mal, continuamos presos nessa teia. Bom karma ou mal,
continuamos presos à roda de nascimentos e mortes.
Jnana
Jnana é a busca pelo conhecimento. Claro que de certa forma conhecimento
inclui qualquer tipo de informação – como martelar um prego, como tocar o
piano, como programar um computador. Conhecimento de história,
negócios, medicina, etc. Mas basicamente isso não é superior a karma e não é
o sentido de conhecimento nesse caso. Jnana, mais precisamente, diz
respeito à busca pelas grandes perguntas existenciais: Quem sou eu? Por que
estou aqui? Por que estou sofrendo? Da onde vem tudo? Qual o propósito da
vida? Qual o sentido

Jnana é o campo de ação de filósofos, intelectuais e os pensadores. Por


reflexão, especulação, lógica, intuição, debate, explorando e avaliando idéias,
tentamos compreender a realidade profundamente. Podemos tentar resolver
essas questões através da física, biologia ou psicologia ou apenas pensando
profundamente sobre isso. Quando, de alguma forma ou outra, nos situamos
nessa busca por respostas desse tipo, estamos no campo de jnana.

Mas isso é também um mundo no qual podemos ficar preso. Podemos passar
vidas e vidas especulando, buscando e buscando, e não estar fazendo mais do
que exercícios mentais.

A literatura védica, portanto, nos fornece ajuda no caminho do


conhecimento. Nos dá acesso aos pensamentos e realizações de sábios que já
trilharam esse caminho. Nos leva, finalmente, da especulação para o
conhecimento, da busca para a descoberta, da pergunta para a resposta.

Bhakti
Logo no início do caminho do conhecimento Védico, compreendemos que
somos uma faísca de pura consciência, além do corpo, além mesmo da
mente. Podemos entender que usamos o corpo e a mente. Quando
mandamos nosso dedo coçar a cabeça – o dedo obedece. Quando dirigimos
nosso pensamento, vamos de um assunto para outro. Mas corpo e mente
estão além de nossa real identidade, nosso ser interno. Esse conhecimento é
chamado de auto-realização.

Porém, auto-realização não é tudo. Indo mais além, se não ficarmos presos
em estágios inferiores de compreensão, podemos entender que nossa
consciência, nossa existência espiritual, não é tudo. Podemos entender que
nossa identidade última não é tudo ou o limite do que há de ser
compreendido. Existem outros seres vivos e eles não são meras projeções do
nosso “eu”. E existe o cosmos, facilmente percebido por nossos sentidos, que
dificilmente também é algo apenas imaginado por nós. E mesmo se
chegarmos ao limite de achar que em toda essa variedade não há distinções,
que na verdade é tudo uma unidade absoluta, e que tudo mais é ilusão, ainda
assim precisamos nos perguntar, “E da onde vem essa ilusão?”.

Dessa forma chegamos a realização que existe uma Verdade Absoluta, a fonte
de todas as energias, todas as realidades e nos vemos como parte desse
Supremo Absoluto. Levando em consideração nossa própria identidade
como uma consciência individual, uma pessoa consciente, chegamos em
última análise à compreensão da natureza pessoal desse Supremo Absoluto.
Podemos então reconhecer o relacionamento eterno entre nós e esse
Supremo Absoluto. E, assim, finalmente, atingimos a plataforma de bhakti, o
campo de relacionamentos pessoais entre nós e o Supremo Absoluto. Em
bhakti, o indivíduo alegremente se engaja em servir amorosamente a
Personalidade de Deus, que, em perfeita reciprocidade, Se relaciona com o
indivíduo. Essa é a fase última da auto-realização

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