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História da Saúde Mental no Brasil

A construção da loucura como doença mental e a propagação de instituições


assimilares especialmente destinadas aos alienados, assinalando “a formulação de
políticas públicas de tratamento e/ou repressão dos doentes mentais, identificados
com base nos limites cada vez mais abrangentes da anormalidade”, distingue-se como
um processo desencadeado no Brasil entre os anos 1830 e os anos 1920.
As políticas de saúde mental são aqui consideradas como um acordo político-jurídico
que se estabelece numa determinada sociedade sobre a concepção e respostas aos
problemas da loucuras/doença mental. O foco da análise são as transformações das
instituições psiquiátrica no Brasil, constituída historicamente em seu modelo asilar
como o lugar de confinamento e tratamento especial destinados aos loucos. O que se
convencionou denominar como “reforma psiquiátrica”.
A loucura só vem a ser objeto de intervenção por parte do Estado no início do século
XIX, com a chegada da Família Real no Brasil, depois de ter sido socialmente ignorada
por quase trezentos anos. Nesse período de modernização e consolidação da nação
brasileira como um país independente, passa-se a ver os loucos como “resíduos da
sociedade e uma ameaça à ordem pública”. Aos loucos que apresentassem
“comportamento agressivo” não mais se permitia continuar vagando nas ruas,
principalmente quando sua situação socioeconômica era desconfortável, e “seu
destino passou a ser os porões das Santas Casas de Misericórdia.
Em 1830, a recém-criada Sociedade de Medicina e Cirurgia lança uma nova palavra de
ordem: “aos loucos o hospício”. Para Machado (1978, p. 376), só é possível
compreender o nascimento da psiquiatria brasileira a partir da medicina que incorpora
a sociedade como novo objeto e se impõe como instância de controle social dos
indivíduos e da população. O hospício, considerado na época o principal instrumento
terapêutico da psiquiatria.
Pode-se situar o marco institucional da assistência psiquiátrica brasileira como a
fundação do primeiro hospital psiquiátrico, o Hospício D. Pedro II, explicitamente
inspirado no modelo asilar francês (elaborado por Pinel e Esquirol), que ocorreu em
1852, no Rio de Janeiro. De acordo com Machado (1978, p. 431), o isolamento foi uma
“característica básica do regime médico e policial do Hospício Pedro II”.
Durante o Segundo Reinado (1840-1889), foram criadas outras instituições, que se
denominavam “exclusivas para alienados” em São Paulo (1852), Pernambuco (1864),
Pará (1873), Bahia (1874), Rio Grande do Sul (1884) e Ceará (1886).
Entretanto, a ênfase no carácter religioso e caritativo das instituições criadas durante
este período acabaria por restringir o caráter medicalizado destes hospícios, onde, até
o fim do Império, não havia presença significativa de médicos. Não só a nosologia
psiquiátrica estava ausente das instituições, como também eram leigos os critérios de
seleção dos pacientes, a juízo da autoridade pública em geral.
Os poucos médicos existentes na instituições tinham pouca influência nas questões
administrativas e, somente no início do século XIX.

Bibliografia:
periódicos.ufepe.br/revsocio

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