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BASE PARA O RESUMO DO FILME O PEQUENO PRINCIPE

Com uma trilha sonora à base de composições do aclamado Hans Zimmer, O


Pequeno Príncipe (versão de 2015) repagina a clássica obra do francês
Antoine de Saint-Exupéry, ao narrar a estória de uma garota (Mackenzie Foy)
que se muda com sua mãe (Rachel McAdams) para um dado setor da cidade –
cujo traçado, do alto, provavelmente de forma proposital, lembra os circuitos de
um computador -, e acabam por ter como vizinho um piloto idoso (Jeff Bridges)
que tenta a todo custo fazer decolar um velho avião estacionado no quintal.

O filme é marcado inicialmente por três traços que saltam aos olhos: a
tendência da mãe obsessiva-compulsiva em hiper-racionalizar a vida da filha,
criando uma rotina exaustiva e com pouco contato afetivo; uma criança com a
infância negligenciada, que vive as projeções da mãe; e um idoso com
fantasias que pululam a imaginação – que poderia ser rapidamente associadas
a traços de psicose.

A trama começa de fato a se delinear a partir de um acidente provocado por


uma das muitas tentativas de o piloto idoso decolar o avião. A hélice se
desprende do mesmo e acaba atingindo a casa das novas vizinhas. A criança é
tomada de profunda curiosidade e, então, inicia um lento e frutífero contato
com o vizinho. Aos poucos, a garota vai entrando no universo de fantasias do
piloto, num cenário que recria a trajetória do Pequeno príncipe. Neste ínterim, a
mãe insiste em manter a rotina da garota, que aos poucos se distancia do
agendamento cotidiano e começa a experimentar uma vida minimamente
parecida com um ideal infantil.
O filme aborda algumas das teses centrais da Gestal-Terapia. Como mãe e
filha compunham um núcleo narcísico – isoladas do mundo –, aos poucos a
garota foi arrastada pela necessidade de relacionar-se com o mundo, com o
outro, a partir do conceito de contato. Isso ocorre porque, na visão de Perls, o
ato de relacionar-se é algo inerente à condição humana, sob pena de sua
ausência criar sérias restrições psicológicas ao sujeito. No entanto, como bem
explicita o filme, este contato nem sempre ocorre de maneira fluída e rápida.
Cada pessoa possui uma “fronteira de contato” que delimita a interação entre a
dimensão interna (subjetividade) e a dimensão externa (meio). Uma coisa é
certa, e fica clara no filme: o contato, quando ocorre de modo autêntico,
provoca mudanças profundas nos sujeitos. É deste contato que surge a
possibilidade de ajustar-se criativamente. Configura-se mesmo como elemento
de cura para eventuais desajustes.
Há, portanto, um paradoxo: ao mesmo tempo em que o ser humano necessita
de contato para suprir necessidades psicológicas e também biológicas, ele é
contingenciado por uma separação visceral. Em Gestalt-Terapia, este fato é
comumente associado às células do corpo, que estão em constante processo
de troca de moléculas com o meio, em que pese a sua individualidade. Essa
troca, no entanto, para que supra as necessidades básicas, deve ocorrer de
modo satisfatório. Psicologicamente falando, sem o contato não se obtém as
condições necessárias para viver como ser humano.

Na fronteira de contato há o aprendizado que lança o sujeito para a vida. A


interação sob a forma do Eu-Tu, onde de fato dois sujeitos se permitem ser
“tocados”, afastando a tendência à coisificação da relação, é base para que se
possa haver um encontro profundo. No filme, a relação com ausência de afeto
e excesso de racionalidade entre mãe e filha é marcada por Eu-Isso, numa
troca em que, sobretudo, a mãe objetifica a filha, que claramente é
representada como uma projeção de seus desejos. A relação Eu-Tu só começa
a ser estabelecida quando a criança se permite (por estar propensa a julgar
menos que um adulto) a se aproximar do piloto idoso e, à sua maneira,
entender o seu mundo. Nasce então uma amizade balizada pelo coração, com
uma linguagem marcadamente afetiva.

O ápice do filme ocorre quando, já transformada pelo contato com o idoso, a


criança acaba por influenciar a mãe, que reavalia suas estratégias de atuação
e, por fim, também é impactada pela dinâmica.

Por fim, o filme tem forte pegada humanista e existencial (duas das bases da
Gestalt-Terapia) ao enfocar questões como medo, alienação, amor, amizade,
esperança e projetos de vida. Desta forma, toda a obra mostra uma virada
rumo à tomada de consciência, num percurso marcado por incertezas,
fantasias, curiosidade e abertura para o novo, cujo processo revela uma das
facetas mais belas da condição humana: a capacidade de reinventar-se e
lançar-se para o futuro.

Referências

FRAZÃO, Lilian Meyer. Gestalt-terapia. Fundamentos Epistemológicos e


Influências Filosóficas. São Paulo: Summus, 2013 (versão e-Pub Amazon).

Resenha do filme O Pequeno Príncipe (2015). Disponível em


<: http://www.redecanais.com/o-pequeno-principe-dublado-2015-
1080p_0687893a2.html >. Acesso em 05 de dez. 2017.

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