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CONSIDERAÇÕES SOBRE O FILME “A CAÇA”

A trama relata uma problemática lamentavelmente corriqueira no meio


da sociedade. Percebe-se no desenrolar da história um nítido desequilíbrio
familiar, em que contendas matrimoniais, bebedices por parte de Theo
juntamente com seus amigos, somadas as cenas pornográficas a que a criança é
exposta contribuíram para o desencadear de uma situação genuinamente
psicológica a que Lucas é abordado. O comportamento da menina em relação ao
adulto que também cultiva um laço de amizade profunda com seu pai traz luz ao
nível de influência que havia dentro da sua própria casa. A inocência de uma
pequena criança estava manchada por fatores sérios e decisivos no que concerne
ao desenvolvimento mental do indivíduo ainda em fase de crescimento físico e,
sobretudo, mental. Desta forma, aquilo que para a menina era apenas uma
brincadeira acabou por se tornar em caso judicial onde alguém sem culpa é
submetido sem qualquer chance lógica de ser visto como inocente, uma vez que
a palavra da criança (na maioria dos casos tida como isenta de falsidades e
declarações dolosas) foi considerada como ponto digno de toda a aceitação em
detrimento do contraditório do homem acusado.

Também podemos observar a atuação do profissional da Psicologia em


face de um caso tão delicado quanto uma cirurgia de risco; o modo como este
aborda a criança em busca de um relato claro e concreto revela os mecanismos
utilizados pelo psicólogo para descobrir, ou pelo menos ter certa noção do que se
passa na psique do ser humano. Fato é que as informações eram distorcidas e
confirmadas com a mesma temática pelas demais crianças que estudavam na
escola em que Lucas atuava como instrutor infantil.

É digna de nota a pressão psicológica semelhante a um rolo compressor


que passou a oprimir a saúde emocional do protagonista do filme, compreensível
pelo telespectador quando analisado a situação nitidamente desfavorável de um
réu inocente sendo acusado por crianças que foram elevadas a peças definitivas,
mas que eram assaltadas por uma criação meramente virtual de ideias que jamais
se materializaram por meio de atitudes oriundas do homem que delas cuidava.
Além disso, é possível perceber a realidade do campo inconsciente da psique que
armazena memórias adquiridas ao longo da trajetória existencial e são ativadas
por estímulos externos como, por exemplo, através de pessoas, objetos, aromas e
ambientes. Analisando com afinco as cenas apresentadas na trama, ainda pode-
se notar a realidade do que o autor e psiquiatra Augusto Cury nomeia como
sendo janelas Killer ou traumáticas, isto é, informações que remontam
experiências desagradáveis do passado e que estão dispostas no córtex cerebral,
influenciando na conduta e reações face aos estímulos promovidos nas situações
que tanto Lucas quanto a criança fazem parte.

De maneira sinuosa, dramática e agoniante o filme vai erguendo o


monumento da veracidade se utilizando de peças fictícias com o propósito de
expor o funcionamento da mente humana diante dos estímulos externos. É
notório que os demais participantes da temática enquanto coadjuvantes
transmitem a ideia do peso social que eventos envolvendo supostos abusos de
vulneráveis causam no seio da massa. Assim, se torna possível compreender a
importância da Psicologia Jurídica no que diz respeito à contribuição que esta
exerce diante de casos concretos não limitados a meras ações passíveis de
julgamento, mas a mentes que, uma vez analisadas sob o ponto de vista
psicológico podem oferecer as devidas medidas para a resolução plena e justa
dos casos que, com tanta frequência se repetem no cenário da existência
humana.

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