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Pais", a argentina Alba Flesler debate alguns temas sobre a importância do brincar e como em
cada momento da infância a criança utiliza o brincar com objetivos variados. Na primeira
parte do capítulo, "A polêmica em Jogo", Flesler introduz um debate antigo na psicanálise,
inicialmente uma abordagem criada para adultos, os primeiros analistas que atenderam
crianças eram incertos de como abordar a análise, já que as crianças ainda estavam em
processo de constituição do aparelho psíquico. O método de talking cure não era tão "válido",
Desse modo, houve uma oposição entre duas visões de como tratar as crianças, uma
parte acreditava que deveriam ser tratadas como adultos e, outra previa o uso de uma
abordagem mais lúdica, que incluiria o brincar. Dentro dessa discussão, é possível ver o
embate entre a escola inglesa de psicanálise e a alemã, a primeira influenciada por Melanie
Klein, com uma abordagem mais analítica, e francamente mais freudiana, e a segunda
Flesler observa esse debate e acredita que essa distinção entre adultos e crianças
parece limitada, e assim, prefere distinguir tempos do sujeito, que não se reduzem a
cronologia ou idade. Com essa ideia, a analista fundamenta sua opinião sobre o brincar na
análise infantil, e a relevância do brincar nos seres humanos no geral. Como função intrínseca
constitutiva do ser humano, ela ressalta quatro aspectos principais na sua prática como
analista: o papel essencial do brincar na construção da fantasia; acentuar o ganho clínico que
se obtém dando atenção à dimensão temporal na armação da fantasia; costurar, com ênfase na
análise infantil dos tempos do sujeito aos tempos da fantasia, as manifestações particulares
que o analista lerá no brincar e suas vicissitudes; e por último, prestar atenção às modalidades
singulares do encontro do sujeito com o Outro primordial, que condicionam cada tempo da
Em "O brincar na estrutura", a autora afirma que brincar é um dos gozos máximos da
"jogo", apesar de se apresentar na infância, não significa que seja apenas natural a ela, a
produção lúdica, ou sua ausência, indica o modo como a estrutura está se estruturando, para
existir essa cena, é necessária uma falta, o pontapé inicial dos jogos vitais para o sujeito na
infância.
A autora expõe na parte sobre "O Primeiro Jogo", que o primeiro jogo apresentado
pela criança é o desmame, que em seu ato de controle sobre o seio materno, e a alternância de
abandono e ânsia pelo mesmo, é vital para a introdução de uma nuance lúdica. Essa relação
Na clínica, a autora exemplifica com alguns casos, como o de uma menina que era
super medicada pela mãe, sem necessidade, e isso foi percebido na clínica quando em uma
brincadeira ela quase comeu, de forma automática, o pó de madeira feito por apontar um
lápis, similar à aspirina triturada que a mãe a dava com constância. Nesse caso, é importante
observar que talvez não se trate de uma intervenção psicanalítica tradicional, mas sim de uma
que reconheça que o tempo do sujeito ainda não apresenta recursos simbólicos para não dar a
demanda materna uma resposta automática. Além disso, o bebê/criança está sujeito por muito
tempos às mãos do Outro, para sua constituição, a criança precisa recriar a perda do objeto
que ela era para o outro, reproduzindo na relação com ele a impossível complementaridade,
impossível que essa criança supra a necessidade dos pais, pois não é exatamente o bebê que
esperavam, a tolerância do Outro diante dessa perturbação é essencial para estruturar o sujeito
e a realização de que entre a criança e o Outro, não haverá "inteireza". De uma forma quase
paradoxal, mas a perturbação é essencial para que tudo dê certo, a criança, dessa maneira,
momento a criança brinca por brincar, ou seja, não mostra e não esconde seu brincar do olhar,
pudor, como um desdobramento do sonho diurno e uma maneira mais pessoal, que a impede
de relatar para os outros. Essa vergonha, se encontra num lugar de pré-recalque, em que o
sujeito repara que sua intimidade está sendo vista, algo que ele não quer mostrar, mas ainda
não consegue preservar totalmente, tendo o temor de que Outro conheça seus pensamentos
mais profundos.
De maneira geral, a autora descreve que a criança utiliza o brincar para se colocar no
mundo, brincando de enganar a demanda do Outro, o sujeito vai recriando o vazio em que
constitui sua existência e o véu que oferece sua aparência, na brincadeira, ele se coloca em
cena, aprende suas vontades. Além disso, quando a criança brinca, ela prepara se prepara para
a aquisição de algo muito importante, a escrita, que dividirá o sujeito entre antes e depois. A
autora ainda pontua, que o brincar não para na infância, os jogos são feitos a vida toda, como
de análise, já que elas revelam os tempos da infância e os destempos das fantasias infantis.
Além disso, a brincadeira se torna grande aliada da transferência, permitindo um trabalho
analítico de qualidade.