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Trabalho Conceitual I – Piaget

EP129B - Psicologia II – Profa. Dra. Lavínia Magiolino

Ana Karolina Alves de Oliveira – 212815


Anna Paula Ferreira Borges Pereira – 260966

Um dos grandes teóricos da psicologia da educação é o biólogo Jean Piaget,


que buscou criar uma explicação biológica do conhecimento. Interessado pelo
processo cognitivo infantil, dedicou seus estudos e suas pesquisas para o
desenvolvimento do conhecimento, do pensamento e da linguagem em indivíduos
desde a primeira infância.
Em seu estudo sobre as funções da linguagem em crianças pequenas, é
possível ver as diferenças entre as linguagens egocêntricas e socializadas. A
linguagem egocêntrica é caracterizada pela ausência de preocupação da pessoa em
ser ouvida por outro indivíduo e é dividida em três categorias: a repetição, o
monólogo e o monólogo coletivo. Já a linguagem socializada é dividida em cinco
categorias: a informação adaptada, a crítica, as ordens, súplicas e ameaças, as
perguntas e as respostas.
Um exemplo de linguagem egocêntrica está presente em um dos episódios do
seriado de televisão Friends, na terceira temporada. Ross precisa deixar seu filho
Ben com Mônica, sua irmã, e em uma das brincadeiras que a tia está fazendo com o
sobrinho, a criança bate a cabeça ao ser jogada no ar por ela. Mônica, preocupada,
vendo se está tudo bem com o sobrinho, surpreende-se ao ouvir do menino apenas:
“Mônica bam!”. Ele repete várias vezes, o que faz a tia ficar ainda mais apreensiva,
afinal, Ross havia deixado seu filho sob cuidados dela, e ela não queria que o irmão
ficasse sabendo do descuido. Ross poderia desconfiar que tinha algo errado, pois o
filho ficou falando o nome da tia e o som de uma batida.
Podemos classificar essa situação com uma das funções da linguagem infantil,
na perspectiva de Piaget: Fala egocêntrica. Mais precisamente, pode ser
considerada da categoria repetição. A criança repete uma sílaba ou palavras, no
caso, “Mônica bam”. Essa fala é uma reprodução ou representação do que a cerca,
e, sem entender o que significa, ela passa a repetir diversas vezes. Ou seja, Ben
tomou aquela situação do seu entorno e reproduziu com estas palavras. O fato é
que ele não queria entregar propositalmente a tia, afinal, essas falas são
inconscientes, característica da repetição.
Já com a linguagem socializada, podemos tomar como exemplo um dos
episódios da quarta temporada da série Modern Family. Lily, de 4 anos, apresenta
algumas respostas sarcásticas quando seus pais, Mitchell e Cameron, conversam
com ela sobre o que eles usarão em um evento de família. Ela usa a expressão “cry
me a river”, que podemos traduzir como “pare de choramingar” ou até mesmo “pare
de mimimi”. Quando os pais se espantam e dizem que não estão gostando daquela
atitude, Lily responde “sorry, should I call you a wambulance?”. Wambulance é uma
junção do som de um bebê chorando “wam” e da palavra “ambulance”, que significa
ambulância em inglês. Ou seja, em português o que ela quis dizer com essa
pergunta sarcástica foi “desculpe, devo ligar para uma ambulância, já que você está
chorando como bebê?”.
Mitchell e Cameron ficam sem saber como mediar a situação e de onde Lily
está tirando essas respostas maldosas, mas logo descobrem, no final do episódio,
que a responsável por apresentar à criança respostas tão sarcásticas é Claire, irmã
mais velha de Mitchell. Naquela semana, Claire estava passando mais tempo com
Lily pois os pais estavam ocupados, então a criança aprendeu as expressões com a
tia e passou a repetí-las em contextos de reclamação.
É possível classificar essa situação como a categoria crítica e zombaria,
presente dentro da linguagem socializada de Piaget. Segundo o autor, a crítica e
zombaria não necessariamente comunicam os pensamentos da criança, mas
apenas satisfazem instintos não intelectuais. Pode-se afirmar que essa situação com
a Lily não faz parte da repetição da linguagem egocêntrica por se tratar de uma
criança que já é um ser socializado e aplica as expressões em contextos
específicos. A crítica e zombaria possuem um julgamento de valor subjetivo, se
assemelhando com o monólogo coletivo, visto que o “eu” é muito presente.
Partindo para outra teoria, Piaget divide o processo de desenvolvimento da
inteligência da criança em períodos: Sensório-Motor (0 a 2 anos), Pré-Operatório (2
a 7 anos), Operatório-Concreto (7 a 11 anos) e Operatório-Formal (a partir de 12
anos). De acordo com ele, no período sensório-motor o bebê vai começar a construir
esquemas para assimilar o meio. Uma inteligência prática, não um pensamento.
Para o autor, é nesse momento que surge a função semiótica e, através dela, a
criança é capaz de evocar em objeto ausente. A função semiótica é separada em
níveis de complexidade, começando pela imitação diferida, o jogo simbólico, o
desenho, a imagem mental e a evocação verbal, respectivamente.
Na quinta temporada do seriado de televisão Fuller House, Pam, filha de Jesse,
aparece com mordidas frequentes no braço. A primeira reação do pai é achar que
alguma das crianças da escola de Pam está mordendo-a. Entretanto, no final do
episódio, Jesse vai descobrir que a autora das mordidas é a própria filha. Ao
questioná-la sobre o porquê de fazer isso, Pam responde que faz isso para ganhar
os curativos coloridos.
Ou seja, na perspectiva de Piaget, Pam, que tem cerca de 2 anos, está
desenvolvendo a função semiótica e se apresenta no primeiro estágio: imitação
diferida. Nessa etapa, há o início de representações e de significantes diferenciados,
além de uma conduta de imitação sensório-motora. Trazendo para a situação de
Pam, a menina imitou uma ação anterior que resultou no curativo, e para ela, a
mordida tornou-se uma representação do próprio. Como se a mordida fosse um
símbolo, no conceito de Piaget, pois, mesmo que de maneira diferenciada, ela
significa ganhar um curativo colorido.
Tendo em vista as considerações apresentadas acima, podemos perceber
como as teorias do teórico Jean Piaget se aplicam em situações da vida real, para
além da teoria escrita. No caso do estudo sobre as funções da linguagem,
encontramos exemplos de repetição da linguagem egocêntrica na série Friends e
crítica e zombaria da linguagem socializada em Modern Family. Por fim, na função
semiótica ou simbólica, temos exemplo de imitação diferida no seriado Fuller House.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS

PIAGET, Jean. As funções da linguagem de duas crianças de seis anos. In: PIAGET,
Jean. A Linguagem e o Pensamento da Criança. Rio de Janeiro: Editora Fundo de
Cultura, 1959. p. 28-78. Tradução de Manuel Campos.

PIAGET, J; INHELDER, B. A função semiótica ou simbólica. In: A psicologia da


criança. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993.

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