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Curso Livre de Capacitação Profissional
Para fins deste estudo, queremos fazer uma ressalva a respeito do texto que
vocês encontrarão a seguir.
ainda que, para a Psicanálise, a psicose infantil é uma estrutura diferente do autismo
e dos demais transtornos globais do desenvolvimento tratados neste módulo.
A VISÃO DO DSM-IV-TR
A função paterna é exercida pelo pai ou por outra pessoa que ocupe esse
lugar, às vezes um tio, avô, ou até mesmo alguém que não tenha uma ligação direta
com a família, porém é alguém que a mãe admira e tem como referência para si
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Para tanto, na psicose, falha a função paterna, essa que porta a lei e
interdita o vínculo mãe-bebê, lançando o sujeito para a vida. A criança psicótica fica
então capturada aos desejos da mãe, não conseguindo dela se separar. Tal situação
fará com que a criança tenha grandes dificuldades de ocupar o lugar de sujeito na
vida.
vê-la fora da sala, falou em alto e bom tom que ela retornasse imediatamente para
junto de seus colegas e que aquele era o momento de estar estudando. O rapaz a
partir desse dia ocupou simbolicamente para Letícia o lugar paterno, aquele que a
interditava toda vez que ela ultrapassa as regras da escola. Letícia fez outras
investidas e muitas fugas se sucederam, porém, a professora lembrava-lhe que o
filho da diretora havia dito que ela não poderia sair da sala à hora que quisesse. Aos
poucos ela foi se organizando e saindo menos da sala de aula.
Não se sabe por que Letícia tomou a figura do filho da diretora como o
representante da lei, o que sabemos é que às vezes essas crianças elegem um
personagem e passam a tê-lo como referência. Nesse caso, um feliz encontro
aconteceu entre Letícia e o filho da diretora. Este conseguiu ocupar o lugar da lei,
exercendo a função paterna: aquele que diz ―não e organiza, de certa forma, a vida
escolar de Letícia.
Esta categoria deve ser usada quando existe um prejuízo severo e invasivo
no desenvolvimento da interação social recíproca ou de habilidades de comunicação
verbal ou não-verbal, ou quando comportamento, interesses e atividades
estereotipados estão presentes, mas não são satisfeitos os critérios para um
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É possível irmos mais além e pensar que a instituição escolar poderá ter
valor terapêutico para esses sujeitos. Assim, de acordo com Kupfer (2001, p.91), a
escola oferece mais do que uma oportunidade de aprender:
Como alternativa ao Outro desregrado, a escola entendida como discurso
social, oferece à criança uma ordenação, oferece as leis que regem as relações
entre os humanos, que regem o simbólico, para delas a criança tomar o que puder.
Aposta-se com isso no poder subjetivante dos diferentes discursos que são
postos em circulação no interior do campo social (...).
Além disso, segundo Kupfer (2001), a escola oferece um lugar social. Toda
criança vai à escola, de forma que o significante criança está ligado ao significante
escola. Na escola o aluno recebe, conforme a autora, o ―carimbo de criança. Essa
designação de lugar social é importante para essas crianças com dificuldades em
estabelecer laço social.
Um primeiro ponto que pode ser pensado no trabalho com esses alunos diz
respeito às estereotipias. O professor precisa estar atento às manifestações
estereotipadas desses sujeitos, buscando dar significado a elas. Por exemplo: na
sala de aula, a professora passava o conteúdo no quadro e os alunos copiavam
quando Mauricio, um menino autista, levanta-se, vai até o quadro e bate o apagador
insistentemente no quadro. A professora olha para ele e diz: ―Quer apagar
Mauricio? Não dá para apagar ainda, agora é hora de copiar. Ouvindo isso o aluno
retorna para sua classe. Esse ―bater no quadro poderia ter sido considerado uma
estereotipia típica do autismo, no entanto a professora deu um significado àquele ato
e isso fez toda a diferença, pois ao invés de permanecer batendo o apagador,
Mauricio retornou a sua classe.
picado, cola branca e água. A técnica desse papel para modelagem consiste no
seguinte:
- picar o papel, pode ser jornal, em pedaços pequenos, deixando de molho na água
por algumas horas. Se a criança não consegue ainda picar o papel com tesoura, ela
poderá rasgá-lo em pequenos pedaços;
- triturar bem os pedaços de papel e, quando estiver bem triturado, espremer até
tirar toda a água;
- por fim, colocar em um recipiente o papel triturado e acrescentar cola branca até
transformá-lo em uma massa adequada para a modelagem. Se adicionarmos um
pouco de detergente líquido, a massa ficará mais fácil de ser trabalhada. Com essa
técnica simples, a criança terá o prazer de manipular e produzir a massa. A
modelagem é o segundo passo da atividade. Basta, então, usar a criatividade e
buscar com a criança formas a serem esculpidas. Essa atividade pode ser realizada
tanto na sala de recursos multifuncionais quanto na sala de aula regular com toda a
turma. Quem sabe outras atividades com papel surjam, como a dobradura, por
exemplo?
escola. Valquiria não gostou da troca e começou a repetir durante a aula: ―Vamos
lá no outro colégio, ―Nós vamos voltar lá (colégio significava sala de aula).
Nenhuma explicação conseguiu diminuir a angústia de Valquiria, tampouco as
atividades apresentadas pela professora atraíram sua atenção. Essa troca repentina
pareceu desestruturar a aluna. A fim de resolver o impasse, sugeriu-se que ela
escrevesse um bilhete para a diretora da escola, pedindo para que os alunos (além
de Valquíria havia outros alunos) pudessem voltar para a antiga sala. Valquiria
concordou. Assim, junto com a professora, Valquíria escreveu e assinou o bilhete
abaixo:
Para iniciar a aula, a professora pedia aos alunos que assinassem uma lista
de presenças. Abaixo segue uma lista, em que a aluna Valquiria escrevia seu nome:
as letras ―V e ―N que aparecem no desenho. Como Vilian pegava a caneta e fazia
riscos, Valquiria o orientava: ―não risca, faz o nome, ―não risca, escreve. Nesse
dia, o aluno esboçou o ―N, conforme aparece na lista.
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Vimos até aqui que o professor do AEE poderá proporcionar momentos para
que o aluno possa, através do brincar, retomar a função simbólica que ficou
adormecida em função das dificuldades encontradas pelo sujeito para se constituir.
O professor do AEE deve trabalhar em conjunto com o professor do ensino regular
para que juntos possam estabelecer estratégias de ensino e atividades que irão ao
encontro do desejo de seus alunos. O professor que estiver disposto a trabalhar de
uma forma diferente, levando em consideração que cada sujeito tem sua forma
peculiar de estar no mundo, com certeza aprenderá muito.
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http://revistaescola.abril.com.br/avulsas/inclusao_matheus_aprende_escrever.shtml
http://revistaescola.abril.com.br/avulsas/inclusao_matheus_aprende_emocoes.shtml
Desenvolvimento:
Click e Assista
https://www.youtube.com/watch?v=tqEUEKC8MOc
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