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Considerações de Cecília Meireles sobre o educador-

professor: crônicas e confrontos por uma nova


educação (Rio de Janeiro, 1930-1931)
Cecília Meireles considerations about the educator-teacher:
chronics and clashes for a new education (Rio de Janeiro, 1930-
1931)
Denilson de Cássio Silva
Mestre em História Social
Professor e pesquisador do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET MG)
E-mail: denicult@hotmail.com

RESUMO: A presente comunicação examina o pensamento político-pedagógico da educadora,


professora, jornalista, tradutora, cronista e poeta Cecília Meireles, durante os anos de 1930 e
1931. O objetivo é compreender a concepção ceciliana sobre a formação, a atuação e as
qualidades do educador-professor, em concatenação com o movimento escolanovista. Mais
especificamente, pretende-se analisar o tipo ideal de educador-professor, traçado por aquela, e o
diálogo de tal convicção com a Escola Nova. Para tanto, o escopo documental utilizado é
constituído por uma amostra de quatorze crônicas, publicadas no Diário de Notícias, do Rio de
Janeiro.
PALAVRAS-CHAVE: Cecília Meireles; Educador-professor; Escola Nova.

ABSTRACT: This communication examines the pedagogical and political thinking of the
educator, teacher, journalist, translator , columnist and poet Cecilia Meireles, during the years
1930 and 1931. The objective is to understand Cecilia’s conception about training, practice and
qualities of the educator - teacher in concatenation with the New School Movement. More
specifically, it is intended to analyze the ideal type of the educator - teacher , tracing for her , and
the dialogue of this conviction with the New School. The documentary scope used consists of a
sample of fourteen chronics, published in Diário de Notícias, in Rio de Janeiro.
KEY WORDS: Cecília Meireles ; Educator - teacher ; New School.

Introdução
O presente trabalho ocupa-se com a concepção de educador-professor, assinalada por
Cecília Meireles, no decorrer dos anos de 1930 e 1931, no Rio de Janeiro e se situa no contexto
de uma pesquisa mais ampla, em andamento.1 O objetivo precípuo é compreender as ideias
cecilianas sobre a formação, a atuação e as qualidades do educador-professor, em concatenação
com o movimento escolanovista.2 Cecília Meireles (1901-1964) é considerada uma das mais
significativas escritoras de língua portuguesa. Além de poeta, foi professora-educadora,

1 Trata-se do projeto intitulado Cecília Meireles e a construção da Educação Nova: a centralidade dos princípios didático-
pedagógicos e da formação do professor (Rio de Janeiro, 1930-1933), que conta com o apoio do Centro Federal de
Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET MG), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas
Gerais (FAPEMIG) e com a participação da aluna Ana Luísa de Oliveira Rocha na condição de bolsista de iniciação
científica jr.
2 Pelos comentários e sugestões, agradeço a todos os componentes da Mesa 3 do Simpósio Temático de História da

Educação, Luísa Marques de Paula – mediadora – Carolina de Oliveira Silva Othero e Manuelle Araújo da Silva. De
modo especial, sou grato a Fabrício Vinhas Manini Ângelo pelo convite em participar do EPHIS e pela interlocução.
1
desenhista, jornalista, cronista, tradutora e folclorista.3 São numerosas as pesquisas sobre sua obra
poética, sobressaindo-se, em muitas delas, as imagens de uma poetisa “diáfana”4, “mais perto das
nuvens que da cidade dos homens lá embaixo”5. Contudo, extrapolando tais considerações, uma
revisão bibliográfica, desde pelo menos os anos 1990, vem matizando tal entendimento. Tanto
em relação à criação poética, quanto a outros tipos de realização, a complexidade do pensamento
de Cecília vem sendo desvelada em sua tensão entre a subjetividade lírica e a realidade social,
política e cultural. Encontra-se em curso o delineamento de duas grandes tendências de estudo
sobre tal obra. Uma centrada na produção poética e outra, que direciona a atenção para tipos
distintos de atividade de Cecília, englobando investigações sobre a incursão da autora nos campos
da educação, do jornalismo e do folclore.6
Uma das pesquisas que contribuíram para redimensionar o entendimento sobre a atuação
de Cecília Meireles na literatura e na história foi A farpa da lira, da jornalista Valéria Lamego,
publicada em 19967. Lamego destaca o envolvimento de Cecília com a luta política pela Educação
Nova, junto ao Diário de Notícias do Rio de Janeiro, de 1930 a 1933. Mais tarde, no ano de 2001,
por ocasião do centenário de comemoração do nascimento de Cecília, veio à baila a obra “Cecília
Meireles: a poética da educação”, organizada por Margarida de Souza Neves, Yolanda Lima Lôbo
e Ana Chrystina Venancio Mignot, que se tornou uma das principais referências acerca da
participação da poetisa nos rumos da educação brasileira8. Ainda no encalço da efeméride, a
editora Nova Fronteira passou a reunir e a publicar as crônicas cecilianas, espalhadas por
diferentes jornais das décadas de 1930 e 1940.9
O estudo, ora apresentado, alinha-se ao interesse em torno da atuação de Cecília Meireles
como educadora e jornalista nos anos de 1930 e 1931. Precavendo-se do risco de incorrer à
teleologia, formadora de uma “ilusão biográfica”10, é dada atenção à imprevisibilidade do

3 Ver: DAMASCENO, Darcy. Notícia biográfica. In: MEIRELES, Cecília. Flor de poemas. 4. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1972, p. 41-47; LÔBO, Yolanda. Cecília Meireles. Recife: Fund. Joaquim Nabuco, 2010.
4 BANDEIRA, Manuel. Apud: MEIRELES, Cecília. Crônicas de educação. Vol. 3. Apresentação e planejamento

editorial de Leogedário A. de Azevedo Filho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, contracapa.
5 PAES, José Paulo. Os perigos da poesia. Rio de Janeiro: Topbooks, 1997, p. 34.
6 Para uma listagem da bibliografia sobre o trabalho da autora, ver: PIMENTA, Jussara Santos. As duas margens do

Atlântico: um projeto de integração entre dois povos na viagem de Cecília Meireles a Portugal (1934). 374 f. Tese
(Doutorado em Educação) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Educação,
Rio de Janeiro, 2008.
7 LAMEGO, Valéria. A farpa na lira: Cecília Meireles na Revolução de 30. Rio de Janeiro: Record, 1996.
8 NEVES, Margarida de Souza; LÔBO, Yolanda Lima & MIGNOT, Ana Chrystina Venancio (Orgs.). Cecília Meireles:

a Poética da Educação. Rio de Janeiro: Ed. PUC RJ: Loyola, 2001.


9 MEIRELES, Cecília. Crônicas de educação. Apresentação e planejamento editorial de Leogedário A. de Azevedo Filho.

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. Vols. 1 a 5.


10 BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: AMADO, Janaina & FERREIRA, Marieta M. (orgs.). Usos e abusos da

história oral. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996, p. 183-191. Para um balanço historiográfico concernente
à análise biográfica, conferir: SCHMIDT, Benito Bisso. História e Biografia. In: CARSOSO, Ciro F. & VAINFAS,
Ronaldo (Orgs.). Novos Domínios da História. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, p. 187-205. Nessa direção, vale atentar
para o ângulo prioritário de análise, ora proposto, distinto do empregado em estudos literários, amiúde ancorados na
2
processo histórico, às tensões e às possibilidades de ação e de acomodação dos diferentes
indivíduos e interesses em jogo. A identificação de um possível dilema entre as imagens de uma
poetisa “pastora das nuvens” e de uma educadora jornalista “engajada”, é repensada a partir da
compreensão de uma relação dialética, regada por influências mútuas entre a atividade criativa,
artística e humanística, e os dramas, pessoais e interpessoais, experimentados por Cecília e seus
intelocutores.11 Assim, entendemos que o problema concernente às “fases”, supostamente ora
menos ora mais “engajadas” de Cecília possa ser arrostado por meio da consideração do devir da
história, apreendendo-se as imbricações entre as experiências e as expectativas, entre o realizado e
o ainda-não acessado12.
A base empírica, na qual essa comunicação se respalda, é constituída por uma amostra de
quatorze crônicas publicadas no Diário de Notícias, do Rio de Janeiro13. Dentre 46 escritos, foram
selecionados quatorze, com base no critério de reconhecimento, no título, de referências
diretamente relacionadas com a formação e a atuação docentes. Feita essa escolha, passou-se à
transcrição dos trechos mais significativos para a análise almejada e, a seguir, à identificação de
vocábulos e/ou expressões que se destacassem no processo de caracterização do educador-
professor. Na sequência, os dados foram organizados em dois quadros, visando tornar a análise
mais clara, em contato com a bibliografia pertinente. O texto divide-se em três partes. A primeira
situa a atuação de Cecília Meireles junto à Página de Educação do Diário de Notícias. Na sequência, é
encetado o estudo das qualidades do educador-professor e suas aproximações com a Escola
Nova, na perspectiva ceciliana. Por último, seguem as considerações finais.
Cecília Meireles e a Página de Educação
Os artigos em que Cecília Meireles expunha suas opiniões acerca da formação e da ação
do educador-professor possuíam um suporte material – folha impressa – social, político e
intelectual. Sem pretender esgotar a apreciação de tais aspectos, cabe salientar que o
[...] sentido dos movimentos que conduzem de uma posição a outra (de um
posto profissional a outro, de uma editora a outra, de uma diocese a outra etc)

emissão de juízo de valor ético e, mormente, estético. Não sustentamos o sofisma de que os historiadores são isentos
de preferências e, em última instância, de subjetividade e, sim, a percepção de que vem adotando “procedimentos
descritivos mais do que avaliativos na apresentação de seus objetos”, fazendo “sobressair a pluralidade de pontos de
vista sobre um mesmo evento, pelo confronto de versões antagônicas ou interpretações divergentes.” SOUZA,
Roberto Acízelo de. História da literatura: trajetória, fundamentos, problemas. 1. ed. São Paulo: É Realizações, 2014, p.
94. O processo de controle crítico-compreensivo sobre a subjetividade e o objeto de pesquisa é dinâmico e
tensionado por fatores múltiplos, devendo ser considerado para além de possíveis simpatias ou antipatias.
11 Sob esse prisma, tendemos a matizar a colocação de Valéria Lamego, que parece sugerir uma incompatibilidade

entre a imagem da poetisa e a da jornalista. LAMEGO, A farpa na lira, p. 17-18.


12 KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: Contribuição à semântica dos tempos históricos. Trad. Wilma P. Maas;

Carlos Almeida Pereira. Rio de Janeiro: Contraponto, 2006.


13 MEIRELES, Crônicas de educação. Leogedário Azedo Filho organizou a seleção das crônicas por meio de núcleos

temáticos. Os textos ora considerados para análise, integram o sétimo núcleo, intitulado “Nova Educação, Escola
Nova, Escola Normal e ensino público. Formação do magistério e qualidades do professor”.
3
se define na relação objetiva entre o sentido e o valor, no momento
considerado, dessas posições num espaço orientado.14

Interessa, pois, indagar: por que e como Cecília conseguiu o cargo em tal jornal? Quais
eram os proprietários desse periódico? Qual a orientação política de tal veículo de informação?
Como a Página de Educação se situava no corpo do jornal? Quais eram as características dessa
seção? Como esta se organizava e de que era composta?15 O Diário de Notícias foi lançado em 12
de junho de1930, fundado por Orlando Dantas, Nóbrega da Cunha e Alberto Figueiredo
Pimentel, tendo como redator João Maria dos Santos. O periódico expressava simpatia à Aliança
Liberal e à Revolução de outubro daquele ano. Dentre suas seções, havia a de política nacional e
internacional, economia e esportes. Destacava-se ainda uma divisão – a Página da Educação -
dedicada, especificamente, a assuntos educacionais, indicando o valor desse tema para os debates
públicos sobre os projetos de país em curso.16 Cecília Meireles aproximou-se dessa empresa por
meio de sua rede de sociabilidade, que vinha sendo tecida no decurso dos anos 1920 17. Nota-se,
por exemplo, que Nóbrega da Cunha era amigo de Cecília Meireles e de Correia Dias – seu
primeiro marido -, tendo sido, inclusive, padrinho de uma das filhas do casal18. Tal trabalho, além
de permitir a amplificação do alcance das ideias de Cecília, de constituir um âmbito de luta
intelectual e de possível consagração19, garantiria também uma fonte de renda para a família.
Uma vez assumida a direção da Página de Educação, Cecília passou a organizar seu trabalho,
enriquecendo esse espaço com uma coluna intitulada “Comentário”, assinada diariamente por ela,
e com entrevistas, artigos de autores convidados, notícias, reportagens e fotografias. De junho de
1930 a janeiro de 1933, ao longo de mais de 700 publicações, a gama de eventos e de educadores
abrangidos pela Página foi extensa e revela as vinculações educacionais e ideológicas de Cecília,
confluindo para a defesa da Escola Nova20. Em seus textos, Cecília pautava-se pela exposição de

14 BOURDIEU, A ilusão biográfica, p. 190.


15 Sobre a exploração de jornais como fonte histórica, ver: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes Históricas. São
Paulo: Contexto, 2005.
16 LAMEGO, A farpa na lira; LÔBO, Cecília Meireles. Sobre o conturbado cenário político, social, econômico e

cultural dos anos 1930, ver: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucília de Almeida Neves (Org.). O tempo do nacional-
estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. 7ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
(Coleção O Brasil republicano, v. 2).
17 Dentre outros contatos e círculos de sociabilidade, Cecília participou do grupo literário de tradição simbolista e

“espiritualista”, reunido em torno da revista A Festa, que agregava escritores como Tasso da Silveira e Murilo
Mendes. Ver: BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 50. ed. São Paulo: Cultrix, 2015, p. 366-367.
18 LÔBO, Cecília Meireles, p. 21. Cecília e Correia Dias tiveram três filhas, nascidas nos anos 1920.
19 Ver: ENGEL, Magali G. et. al. (Orgs.). Os intelectuais e a imprensa. Rio de Janeiro: Mauad X, 2015. VIEIRA, Carlos

Eduardo et. al. (Orgs.). História intelectual e educação: trajetórias, impressos e eventos. Jundiaí: Paco Editorial, 2015.
20 Os seguintes trabalhos abordam, de forma não exaustiva, a problemática das leituras efetivadas por Cecília

Meireles: ALVES, Daniela Utescher. A crônica de Cecília Meireles: uma viagem pela ponte de vidro do arco-íris. 188 f.
Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira, São
Paulo, 2012. ALMEIDA, Patrícia Vianna. Lacerda de. Crônicas de Cecília Meireles: leitura e literatura em prol da
renovação educacional (1930-1933). 157 f. Tese (Doutorado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Programa
de Pós-Graduação em Educação, Rio de Janeiro, 2014.
4
argumentos e pelo caráter denotativo. Por se tratar de um agente que faz de seu ofício a arte de
escrever, convém atinar para a singularidade de tais crônicas, por um lado, pautadas por certa
objetividade, de feição jornalística, por outro, acolhedoras da técnica e da sensibilidade literárias.
Nas palavras de Darcy Damasceno,
Registro do mundo circundante, a crônica de Cecília Meireles é também uma
projeção de sua alma no universo das coisas. Alimenta-se da referencialidade,
das coisas concretas, de fatos e situações que envolvem o ser humano em seu
comércio diário, mas matiza subjetivamente tudo isso.21

Esses textos não são vistos, aqui, de maneira estritamente instrumental, ou seja, como
meras fontes de pesquisa, reduzidas à função de reflexo da realidade educacional, social e política.
A despeito de não mirar a investigação dos aspectos estético-formais da escrita, em si, o presente
estudo considera a linguagem como produto e expressão da sociedade, mas também, por um viés
dialético, como produtora da realidade e dotada de regras de funcionamento próprio.22
O educador-professor e a Escola Nova

Os assuntos abordados por Cecília Meireles foram os mais variados, tais como didática,
pedagogia, direitos humanos, guerra, política, religião, pacifismo, arte e família. Em meio a essa
pluralidade temática, como seriam tratados e delineados os aspectos relativos à formação e à
atuação do educador-professor? Por que esses profissionais deveriam se adaptar aos valores da
Escola Nova? Quais seriam esses valores didático-pedagógicos? Para que os educadores
precisariam se atualizar? Quais procedimentos urgiam ser tomados para o aperfeiçoamento do
corpo docente e, por extensão, da educação? Mais: Por que seria importante tratar de tais
questões, mediante um suporte informativo, que excedia os círculos de especialistas e atingia um
público mais amplo? O quadro abaixo lista as datas de publicação e os títulos das quatorze
crônicas selecionadas para análise.
Quadro 1 – Datas de publicação e títulos das crônicas
Data Título Data Título

21 DAMASCENO, Darcy. Introdução. In: MEIRELES, Cecília. Ilusões do mundo. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1976,
p. 10.
22 Reinhart Koselleck, ao enfatizar a irredutibilidade da história à linguagem, pondera: “[...] Sem dúvida, para serem

eficazes, quase todos os elementos extralinguísticos dos acontecimentos, os dados naturais e materiais, as instituições
e os comportamentos, dependem da mediação da linguagem. Mas não se restringem a ela. As estruturas pré-
linguísticas e a comunicação linguística, graças à qual os acontecimentos existem, permanecem entrelaçados, embora
jamais coincidam diretamente.” KOSELLECK, Futuro passado, p. 267. Já Luiz Costa Lima, chamando mais a atenção
para as limitações de análises de caráter sociológico, assinala: “[...]. Não levar em conta a existência dessa dupla
ordem de regras [dos fenômenos sociais e políticos e dos processos linguísticos] levará ao reducionismo socializante
ou [...] ao reducionismo formalizante.” LIMA, Luiz Costa. Teoria da literatura em suas fontes. Vol. 2. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2002, p. 664. De nossa parte, almejamos considerar o entrelaçamento entre a história e a
linguagem, priorizando a primeira, sem, contudo, simplificar ou subestimar os elementos linguístico-comunicativos,
inerentes à experiência intelectual e educacional. Sobre o agir comunicativo, aproximamo-nos da perspectiva
habermasiana. Ver: HABERMAS, Jürgen. Teoria do agir comunicativo. Vols. 1 e 2. Trad. Flávio Beno Siebeneichler. São
Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.
5
24/06/1930 Ser professor 24/08/1930 Formação do professor [I]
26/06/1930 O professor moderno e a sua 01/10/1930 A consciência dos educadores
formação
08/07/1930 Professoras de amanhã 18/10/1930 As qualidades do educador
30/07/1930 Sacrifícios do educador 19/10/1930 A esperança dos educadores
10/08/1930 Qualidades do professor [I] 16/01/1931 A formação do professor [II]
16/08/1930 Qualidades do professor [II] 17/01/1931 A atuação do professor moderno
22/08/1930 Como se distingue o educador 14/08/1931 O novo tipo de educador
Fonte: MEIRELES, Cecília. Crônicas de Educação. Vol. 3. Apresentação e planejamento de Leogedário A. de Azevedo
Filho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: Fundação Biblioteca Nacional, 2001, p. 127-204.

Todos os textos foram publicados no primeiro ano do trabalho de Cecília, junto à Página
de Educação, com exceção do último, que aqui foi incorporado devido ao seu teor, potencialmente,
elucidativo. A recorrência dos termos “professor” e “educador”, presentes, um ou outro, em
todos os títulos, assinala que Cecília, com efeito, parecia ter “[...] como objetivo marcar as
posições ideológicas e filosóficas com as quais conduziria seu trabalho”.23 Dentre essas posições,
a formação e a atuação do professorado, conforme revelam os indícios, ocupavam um espaço de
destaque, regular e reiterativo. Ainda nos títulos são identificadas duas ocorrências do termo
“moderno”. As palavras “amanhã”, “esperança” e a expressão “novo tipo”, aparecem uma vez
cada. Somados, tais termos emergem cinco vezes e remetem a uma ideia de tempo, situando
educadores e educandos em um processo histórico, que se diferencia do passado, ainda não
superado, e anseia por um futuro, em vias de construção, mas ainda não atingido. Na esteira
dessa percepção da necessidade de mudanças na educação brasileira, então vista como chave
crucial para a superação do autoritarismo e do analfabetismo, que grassavam no país24, Cecília
apontava nos títulos de seus textos uma “experiência de transição”, a qual aglutinaria o
professorado e se caracterizaria pela “diferença de qualidade que se espera para o futuro” e pela
“mudança dos ritmos temporais da experiência: a maior rapidez com que o tempo presente se
diferencia do passado”.25 Mesclando convicções autênticas e diagnósticos de sua época com
estratégias de retórica, voltadas para criação de contrastes entre o “novo” e o “velho”26, em

23 LAMEGO, A farpa na lira, p. 33.


24 Malgrado a complexidade e a variedade dos posicionamentos ideológicos e políticos, as idiossincrasias individuais e
grupais, a convicção de que a educação era o caminho para a superação dos problemas nacionais e para o
desenvolvimento cultural, político, econômico e social do país, perpassava a mentalidade de vários intelectuais. Nesse
afã, muitos desses agentes da educação viam-se como responsáveis pelo esclarecimento da nação e tomavam para si
o papel de guia. Ver: VELLOSO, Mônica Ribeiro. Os intelectuais e a política cultural do Estado Novo. In:
FERREIRA & DELGADO, O tempo do nacional-estatismo, p. 145-180. BOMENY, Helena. Os intelectuais da educação. 2.
ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.
25 KOSELLECK, Futuro passado, p. 288.
26 Marcus V. da Cunha e Aline V. de Souza avaliam a atuação de Cecília no Diário de Notícias, lançando mão da teoria

da análise retórica. Esses autores assinalam que “[...] Esse tipo de veículo de comunicação [o jornal] facilita ao autor
expressar suas paixões – sinceridade, fé [...] - que outros meios não permitem. Tendo a chance de expor seus
sentimentos dessa maneira, o orador caminha pela linha tênue que o separa de seu auditório, visualizando a diferença
que almeja eliminar por meio da negociação de sentidos.” CUNHA, Marcus V. da & SOUZA, Aline V. de. Cecília
Meireles e o temário da Escola Nova. Cadernos de Pesquisa. Vol 41. n. 144. set./dez. 2011, p. 864. Embora pensemos
que os jornais, nas primícias dos anos 1930, talvez não facilitassem tanto a livre expressão de “paixões” de seus
6
defesa do projeto escolanovista, os apontamentos de Cecília traçavam as qualidades
indispensáveis aos professores. O quando 2 permite visualizar alguns trechos textuais, que
incrementam as noções preconizadas nos títulos.
Quadro 2 – Expressões e vocábulos*
Alma do aluno; personalidade. [...] Formação cultural, formação técnica, - mas, acima de tudo, -
formação da personalidade, constituição do caráter.
Paixão pela psicologia infantil. Sua profissão é de exemplo. [...] coragem de se corrigir.
Flama interior; esperança da humanidade. Contínuo buscar; constante aprender.
Sacrifício; renúncia. Autômatos; criaturas humanas.
Personalidade segura e complexa [do professor]; Reforma de Ensino Primário [do Distrito Federal]; Escola
[Capacidade de] se emocionar, ter imaginação, ter Normal atrasadíssima.
conhecimentos.
Vaidade, ambição e cálculo está completamente [Precisamos] do [ser humano] que não queira ser professor para
errado, em matéria de educação. mandar, mas para servir, do que não queira deixar sobre a terra
edificada a sua opressão...
Há uma coisa necessária a quem vai educar, essa é, [O educador] dever ser um tipo humano capaz de se poder
sem dúvida, ser educado, primeiro... desiludir todos os dias, e de todos os dias renascer em ilusões.
[...]. Precisa haver um acordo geral, não só na maneira de agir, mas
na maneira de ser, antes de agir. Desta, naturalmente, é que há de
resultar aquela. E é por esses motivos que o problema da
formação do professor, por ser o problema da formação do
educador**, se reveste, dia a dia, de uma gravidade maior. O tipo
do profissional, apenas, já não é suficiente. [...] Precisamos de
idealistas. Em educação, como em tudo mais.
Fonte: MEIRELES, Cecília. Crônicas de Educação. Vol. 3. Apresentação e planejamento de Leogedário A. de Azevedo
Filho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: Fundação Biblioteca Nacional, 2001, p. 127-204.
* A ordem dos excertos corresponde, respectivamente, à dos títulos no quadro 1. **Itálicos originais.

Um primeiro vislumbre sobre a terminologia supracitada revela que as considerações de


Cecília, atinentes ao educador-professor, confluem para a centralidade do aluno no processo
educativo; a indispensabilidade de estudos psicológicos para a compreensão da criança, entendida
como um ser complexo; o idealismo norteador das convicções do educador-professor, contrário
a ambições alheias ao bem comum da educação e atento à formação técnica e humana, em
constante processo de aprendizagem. Em todos esses quadrantes, condicionantes e qualificativos
da atividade docente, manifestam-se os eixos orientadores da Escola Nova, plasmada pelo
ativismo.27 Cecília reconhece o papel da criança no processo educativo (“descobrir a alma do
aluno”), chama a atenção para a importância do despertar no educando o interesse pela
aprendizagem (seres humanos não devem ser “autômatos”), opõe-se ao autoritarismo (em vez de
“mandar”, “servir”) e desconfia do intelectualismo verbalista (acima da erudição e da técnica, a
capacidade de “se emocionar”, a “constituição do caráter”). O primeiro e o segundo aspectos

articulistas – os quais negociavam com outros agentes da empresa seus espaços de autonomia e pagavam, às vezes,
um alto preço político por tais escolhas - vale atentar para as estratégias discursivas de Cecília Meireles, voltadas para
o convencimento de seus leitores em torno das vantagens da Escola Nova. Além disso, as retóricas ceciliana e
escolanovista recorriam à ideia de pioneirismo e de novidade, apesar de as experiências e as concepções do
escolanovismo internacional já encontrarem alguma ressonância, há décadas, em determinadas iniciativas no país.
Ver: SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2007.
27 CAMBI, Franco. História da Pedagogia. Trad. Álvaro Lorencini. São Paulo: Fundação Editora UNESP, 1999, p. 515.

7
abarcam, mais diretamente, a situação dos alunos, o terceiro e o quarto, dos educadores-
professores. Percebe-se, pois, que a visão educacional de Cecília buscava projetar os ideais
escolanovistas, estabelecendo um equilíbrio entre os diferentes vetores e reconhecendo a
relevância de cada um. Em outras palavras, ao avaliar as condições da atuação e da formação
professorais, a figura do educando continua central, mas compreendida por meio da interligação
com outros agentes da educação.28
Ao apregoar suas ideias, sintetizando leituras e influências variadas, entrelaçadas com os
princípios escolanovistas, Cecília exprimia sua singularidade e, ao mesmo tempo, suas limitações.
O idealismo ceciliano apresentava uma faceta pragmática, ao enveredar pelas sendas da imprensa
e se engajar na luta por uma proposta educacional. Concomitantemente, no desempenho de
Cecília podem ser identificadas características dos intelectuais “ideólogos”, mais do que dos
“expertos”. Segundo Norberto Bobbio, o primeiro tipo pode ser entendido como “aqueles que
fornecem princípios-guia” e, o segundo, “aqueles que fornecem conhecimentos-meio”.29 Tal
nomenclatura não é concebida de forma estanque e, sim, operacional, explorando ângulos
distintos de observação. Insta enfatizar que os intelectuais podem condensar em sua atuação e
sua trajetória atributos de ambos os feitios, uma mesma pessoa pode “[...] ser tanto um ideólogo
quanto um experto”.30 Trata-se de avaliar qual a função, em determinados contextos,
circunstâncias, campos e redes de sociabilidade, externa-se de modo proeminente, sobressaindo-
se em relação a outras particularidades.
Nesse sentido, é inequívoco o fato de que Cecília Meireles detinha conhecimentos
técnicos, capazes de resolver problemas específicos da área educacional, tanto em relação ao
cotidiano das práticas escolares, quanto às articulações sociais e político-institucionais – a
exemplo das reformas do ensino, tão debatidas nos anos 1920 e 1930. Sustentamos, porém, que
essa intelectual primou sua atuação, junto ao Diário de Notícias, pelo exercício da função de

28 Esse empenho em atentar para todos os sujeitos envolvidos no referido processo manifesta-se também na
participação da família e do Estado. Ver: MAGALDI, Ana Maria Bandeira de Mello. A poesia no mundo: educando
educadores. In: NEVES et. al. Cecília Meireles, p. 146.
29 BOBBIO, Norberto. Os intelectuais e o poder: dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea.

Trad. Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Editora UNESP, 1997, p. 73. Embora Bobbio investigue,
prioritariamente, a relação dos intelectuais com a esfera política, pensamos serem válidas as observações para o
campo educacional, que, em nosso estudo, é percebido na intersecção com as dimensões da imprensa e da política.
Esse autor ressalta ainda que, embora tal tipologia – “ideólogos” e “expertos” – possa se aproximar da distinção
gramsciana entre intelectuais orgânicos e tradicionais, e da distinção entre humanistas e técnicos, não corresponde a
elas. Conforme a terminologia proposta por Bobbio, não se trata de mencionar a dependência ou a independência
dos intelectuais em relação às classes sociais, em disputa pela hegemonia, nem de distinguir as diferentes formações e
competências, e, sim, de identificar a “diversa tarefa que desempenham [os intelectuais] como criadores ou
transmissores de ideias ou conhecimentos politicamente relevantes”, revelando a “diversa função que eles são
chamados a desempenhar no contexto político.” _____ Os intelectuais e o poder, p. 72. Sobre os conceitos de campo
intelectual e campo de poder, a ser aprofundados no decorrer da pesquisa, ver: BOURDIEU, Pierre. A economia das
trocas simbólicas. Trad. Sérgio Micelli et. al. São Paulo: Perspectiva, 2013.
30 _____ Os intelectuais e o poder, p. 72.

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criadora de concepções de mundo, mais do que pela atuação direta nos meandros das realizações
políticas e institucionais, encetadas, de modo acentuado, por educadores reformistas como
Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira.31 No que concerne à possível figura do educador-
professor essa hipótese mostra-se ainda mais plausível, pois Cecília afunila sua análise nos
predicados daquela, não dando semelhante ênfase aos problemas referentes, por exemplo, às
condições de trabalho, de profissionalização e de salário dos docentes – embora tenha se
lembrado desses temas.32 Não por acaso, ao discutir os meandros da formação e da atuação
docentes, Cecília observa, antes de tudo, a posição ética do professorado diante dos educandos.
Assinala a demanda de sacrifícios, o desenvolvimento de sensibilidade em relação às criaturas
humanas, sob seus cuidados, o ímpeto em perceber e assumir a responsabilidade de intervir na
elaboração do futuro da humanidade. Nas entrelinhas das crônicas, pode ser notado o confronto
com a realidade de então, na qual a articulista verificava sujeitos encaminhando-se para a área de
ensino, visando, prioritariamente, ganhos monetários e de status, encarando a docência como um
serviço mais ou menos burocratizado.33 O educador-professor, na perspectiva ceciliana, deveria
envolver-se com a educação, a partir da tomada de consciência da importância de sua função e de
uma postura aberta a um constante processo de aprendizagem e de aperfeiçoamento.34 Por um
lado, tais colocações poderiam abrir flancos para interpretações outras, voltadas para a
responsabilização do professorado e a acomodação das autoridades; por outro, frisavam a
autonomia docente, vincada no protagonismo desse agente em sua própria formação e atuação.
Nesse processo, almejava-se ainda a reestruturação das instituições formadoras de
professores – como as reformas do ensino primário, que vinham ocorrendo no Distrito Federal e
no Espírito Santo. A essas medidas, vistas por Cecília como indispensáveis para uma “mudança

31 O estudo de Diana Gonçalves Vidal tende a corroborar a perspectiva aqui explorada, a despeito de não se valer da
conceitualização indigitada por Norberto Bobbio. Vidal recorre às imagens de “sonhadora” e “arquiteto”, referindo-
se, respectivamente, a Cecília Meireles e Fernando de Azevedo. Acautelando-se de incorrer a uma possível dicotomia,
a autora acentua: “[...] Confortáveis, essas imagens teimam em suscitar a desconfiança, por fixarem em posições
muito definidas as duas personagens. Invertidas, as figuras não se opõem. A Cecília, sonhadora, era também arquiteta
da felicidade. (Seria Fernando, em seu reverso, um sonhador?).” Entendemos que o emprego das categorias
“ideólogos” e “expertos”, atravessadas de permeabilidades, seja preferível ao uso das noções de “sonhadora” e
“arquiteto”, quiçá mais suscetíveis, pelas imagens que evocam, a interpretações bifurcadas.
32 Cecília também se preocupou com as condições salariais e de trabalho dos professores. Ver: MEIRELES, Crônicas

de educação, vols. 1 a 5. Contudo, ao longo das crônicas em que abarcou a formação do magistério e as qualidades do
professor, aqueles motes foram postos em um plano secundário e, escassamente, interconectados com estas.
33 Tal aspecto foi também percebido pela análise de Yolanda Lôbo. Ver: LÔBO, Yolanda L. O ofício de ensinar. In:

NEVES et. al. Cecília Meireles.


34 Essa ponderação ceciliana sugere a imagem de pessoas partícipes de um processo histórico móvel,
dinâmico e mutável. Esses aspectos são identificados por diferentes autores como traços de determinada
noção de modernidade. Ver: KOSELLECK, Reinhart. Estratos do tempo: estudos sobre história. Trad.
Markus Hediger. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014. BAUMAN, Zygmunt. A modernidade líquida. Trad. Plínio
Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. Trad. Raul Fiker. São
Paulo: Editora Unesp, 1991. VALLE, Ione Ribeiro et. al. (orgs.). Moderno, modernidade e modernização: a
educação nos projetos de Brasil – séculos XIX e XX. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2014. v. 2.
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estrutural”, percebida e transformada em “evento”35, haveria empecilhos e resistências, com os
quais se defrontariam a colunista e seus colaboradores escolanovistas.36 O enfrentamento de tais
circunstâncias seria empunhado por Cecília pela via comunicativa, ou seja, com um “tipo de
discurso em que os participantes tematizam pretensões de validade controversas e procuram
resolvê-las ou criticá-las com argumentos.”37 Também por essa busca de pretensão à validade de
suas palavras, Cecília, provavelmente, entendida como relevante investir em um meio de
comunicação, que transbordava do métier educacional para um público mais abrangente.
A última crônica na berlinda é esclarecedora acerca do afinco de Cecília em elaborar e
difundir valores ou princípios, norteadores da educação. Ao intitular o texto de “O novo tipo de
educador”, a autora assinala uma diferenciação entre os termos “professor” e “educador”. O
primeiro estaria mais próximo de saberes, competências e procedimentos instrumentais, da
“maneira de agir”. O segundo, da capacidade de “se poder desiludir” e de “renascer em ilusões”,
da “maneira de ser”. Parece haver, aqui, uma distinção entre “instrução” e “educação”, correlata,
respectivamente, àquela entre “professor” e “educador”, “tipo profissional” e “idealista”.38
Cecília, assim, afirmava, peremptoriamente, a precedência do idealismo sobre a mera
profissionalização. Da “maneira de ser” resultaria, “naturalmente”, a “maneira de agir”. O
equacionamento do problema da “formação do professor” passaria também pela “formação do
educador”.
Considerações finais
A análise em pauta revela que os fundamentos didático-pedagógicos assumidos,
enunciados e anunciados por Cecília Meireles, estavam entrelaçados pelas propostas da Escola
Nova. Ao mesmo tempo, a concepção de Cecília sobre a educação, a formação e a atuação
docentes, denota a presença de um idealismo, imbuído de subjetividade autoral e de certas
limitações, alusivas às ações de institucionalização. Os confrontos e as resistências às ideias
propaladas na Página de Educação serviram como contraposição às convicções de Cecília, então
reafirmadas a cada edição. Tais princípios foram alterados no decorrer do período? Há
características do educador-professor, realçadas pela articulista, em outros textos e contextos?
Essas e outras perguntas deverão ser respondidas no decorrer da pesquisa.

35 Segundo Koselleck, a possibilidade da percepção imediata de tal mudança [estrutural] seria a característica da
modernidade, ao amalgamar diferentes estratos de tempo, tornando o futuro objeto de expectativa, a ser modelado
pela experiência do presente. KOSELLECK, Reinhart. Estratos do tempo, p. 221.
36 LÔBO, Yolanda L. O ofício de ensinar. In: NEVES et. al. Cecília Meireles. SAVIANI, História das ideias pedagógicas.
37 HABERMAS, Teoria do agir comunicativo, p. 48.
38 Todavia, essa terminologia foi utilizada de forma funcional pela cronista, não constituindo compartimentos fixos e,

sim, meios flexíveis de expressão. Portanto, os significados das palavras e dos conceitos precisam ser inquiridos no
interior do texto e do contexto de cada crônica. Vale destacar, por exemplo, que, em determinados artigos, Cecília
utiliza os vocábulos “professor” e “educador”, basicamente, como sinônimos, evitando a repetição constante de um
ou outro termo, a fim, provavelmente, de tornar mais fluente a leitura.
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