23 

Quando Ló chegou a Zoar, o sol já havia

nascido sobre a terra.  24  Então o Senhor, o
próprio Senhor, fez chover do céu fogo e
enxofre sobre Sodoma e Gomorra.  25  Assim ele
destruiu aquelas cidades e toda a planície, com
todos os habitantes das cidades e a vegetação.
 26  Mas a mulher de Ló olhou para trás e se
transformou numa coluna de sal.
27 
Na manhã seguinte, Abraão se levantou e
voltou ao lugar onde tinha estado diante
do Senhor. 28  E olhou para Sodoma e Gomorra,
para toda a planície, e viu uma densa fumaça
subindo da terra, como fumaça de uma
fornalha.
29 
Quando Deus arrasou as cidades da planície,
lembrou-se de Abraão e tirou Ló do meio da
catástrofe que destruiu as cidades onde Ló vivia.

Genesis 19
O que está fazendo aqui................ Padre
Miguel?

A voz ecoava profunda, e lentamente

pelo enorme salão da igreja, parecia
sair de dentro dos bancos de madeira e
subir pela abobada estremecendo os
vitrais.

O homem vestido de terno e com a

gravata suja de sangue ajoelhou-se
diante do altar, fez um sinal da cruz e
colocou a testa no chão.

_ Vim procurando por sua sabedoria,

santíssima pontífice.

_ Eu não tenho nada a lhe esclarecer

Miguel, você caiu em danação, se
entregou à fraqueza e ao pecado, e eu
não compactuo com os defendem o
pecado.

_ Santíssima, eu rogo por misericórdia,

deixe que eu volte para a arquidiocese,
servirei à igreja com tamanha fé que
não haverá missão que eu não cumpra
em nome do Senhor.

_ Você já provou que não consegue

cumpris os desígnios de Deus [a voz
ecoou mais grave] Eu dei ordem para
que você e sua ordem acabassem com
a abadia de Santo Expedito quando os
padres que lá viviam começaram a se
corromper e deixar que o pecado
entrasse na igreja... Eles se aliara a
bruxas e satanás adentrou na paróquia
deles. Não havia salvação, não existe
salvação para o ímpio que compactua
com a bruxaria.

_ Mas Pontífice....

_ Não tem mas! Não há desculpa, eu

sabia que a sua fraqueza colocaria
toda a sua ordem em desgraça, a
ordem dos sudários foi criada para
guardar os segredos da igreja, para agir
nas sombras, os Mekhets mais fieis e
habilidosos, e hoje eu soube que a sua
ordem também fracassou, seus irmão
estão se deitando com prostitutas.
Uma sombra gigantesca e nebulosa se
estendeu da escuridão por detrás do
altar e contaminou lentamente cada
coluna e cada janela escurecendo
tudo lá dentro até que não restou
nenhuma fresta de luz.

_ Minha senhora, eu imploro por

misericórdia, os membros da minha
ordem foram fracos diante da tentação
de satã.

_ Você está pedindo misericórdia por

um grupo de padres degenerados
exatamente como a uma década atrás
você intercedeu pela abadia de santo
Expedito.

_ Dessa vez é diferente minha senhora,

eles são meus irmão.

_ Mais um motivo para você mesmo

limpar o pecado de sua igreja Miguel,
seus próprios irmãos te traíram. Você
não teve coragem de exterminar a
abadia, eu mesma tive que ir até lá e
transformar o pecado em cinzas... Você
vai conseguir limpar a sua própria
igreja? Ou será que eu vou ter que ir eu
mesma fazer o serviço?

Miguel estremeceu, sentia logo atrás

dele, uma presença sinistra, feita de
escuridão misturada ao escuro do lugar,
mas depois de tanto tempo de olhos
fechados ao olhar reconheceu a
silhueta feminina. Diké.

Ela o explorou por tanto tempo, e de

tantas formas, que ele já não conseguia
sentir mais nada por ela a não ser
remorso.

_ Vá em bora Miguel, Vá em bora daqui,

eu não quero ter que destruí-lo por
pensar coisas tão hediondas sobre mim.
Vá e não volte mais. Agora você tem
sua própria igreja, longe de mim e da
diocese, espero que viva o resto de seus
dias covardes lá dentro em oração,
pedindo perdão pela sua fraqueza. Vá
Miguel! Não volte mais aqui.
Miguel deixou a Arquidiocese com o
coração amargo. Caminhou pelas ruas
que cruzam-se na Praça Sete, alimentou-
se de um dois desatentos que
perambulavam por ali, tão rápido e
silencioso que nem mesmo as vítimas
perceberam muito bem o que lhes havia
acontecido.

Talvez a cachaça no sangue tomado o

tenha deixado um pouco fora de si, no
caminho espancou um badboy que
cantava abusivamente uma moça em um
ponto de ônibus, tomou-lhe a jaketa de
couro e a vertiu, roubou uma moto
robusta e acelerou para a área da quinta
corte.

Antes de ir até a igreja ele foi à casa de

Josué, um dos mais antigos e sábios
Mekhets que Belo Horizonte já conheceu.
Josué foi coroinha de Marco Antônio do
período de seu principado e quando se
tornou adulto, depois de uma vida de
seminário, foi transformado pelo próprio
Pontífice, se tornando o irmão mais novo
de Diké e herdando um compromisso sem
igual para com a corte.

_ Josué, eu quero me confessar!

_ Você não precisa Padre Miguel, pelo
menos não comigo, você é o Líder de
nossa ordem, e eu sei exatamente a dor
que invade o seu coração.
_ Meu caro amigo, você já sabe o que eu
pretendo fazer. Porém eu não posso fazer
isso sem ajuda, nossa família é esperta e
assim que eu botar o olho neles eles
saberão o que eu pretendo fazer. Não
poderei limpar minha igreja. Não porque
eu não quero, mas porque é impossível.

Durante toda a noite conversaram

assentados em uma sala refinada com
amontoados de coleções de quadros e
objetos antigos por todos os lados.

_ O Sacrifício é a peça mais importante de

nossa fé, e você compreende isso Padre
Miguel, você se sacrificaria caso tivesse
participado do bacanal com as Devas...
Mas os outros talvez não sejam tão
corajosos assim para se sacrificar.
“...Eles irão lutar, pois sabem que
foram enfeitiçados pelos gracejos dos
Devas, eles não acham que são
pecadores, mesmo se lembrando
com desejo da formicação da qual
participaram na semana passada.”

_ Eu não posso deixar que minha

ordem se perca Josué!
_ Não não pode, mas eu faço parte
de sua ordem, e sei seus planos, e não
pretendo ver meu fim, eu terei que
tentar impedi-lo.

Um silêncio estranho e desconfiado

tomou conta da sala.

_ Eu sei que você é esperto Miguel,

não faria um ataque á ordem,
sabendo que eu sou capaz de prever
suas ações e interromper seu plano.
Sei que veio até aqui me destruir, mas
você não vai sair desta casa esta
noite. Não poderei deixar que você
faça isso.
_ Está enganado Josué, eu não vim te
destruir, eu vim te salvar.
Existem entre os membros da Ordem
dos Sudários 3 capazes de prever um
ataque meu, Irmã Martha, Frei Gaspar
e você Padre Josué.
E sei que quando os outros dois
perceberem o que vai acontecer ele
vão se juntar a você... E nessa hora
meu caro, eu vou precisar da sua
ajuda.
Ninguém nunca soube exatamente as
palavras que foram ditas naquela sala
antiga. Certas partes da história
simplesmente se perdem. Só o que se
sabe é que milagrosamente Miguel
saiu de lá no final da noite,
caminhando normalmente, ainda
enjaketado em couro.

Seguiu para a igreja e adormeceu.

“... Quero falar com você meu amigo”

A voz parecia vir do além, de algum

lugar profundo nos sonhos. Miguel
vagou até a névoa onírica e lá
encontrou Ivan.

_ Você está ficando realmente bom

nisso hein Ivan, já consegue chamar
por mim em sonhos
_ O sono para criaturas como nós é
semelhante ao torpor, e como você
bem sabe eu posso invadir os
pensamentos de qualquer um que
esteja entorpecido.
_ O que deseja meu amigo?
_ Eu soube de sua conversa com a
Pontífice, não deveria ter ido lá.
_ Você está espionando a Primeira
Corte? Não deveria estar fazendo isso,
está se arriscando de mais.
_ Eu vi pouca coisa, ela sabia que eu
estava lá e escureceu a igreja, depois
disso não consegui ver mais nada,
mas o Josué, não foi tão cuidadoso,
seu acordo com ele é uma loucura.
Não faça isso Miguel.

Miguel fechou os olhos com tristeza, a

fumaça dos sonhos envolveu Ivan e o
fez desaparecer completamente,
Miguel caminhou ainda um pouco
pelo mundo dos sonhos pensando, e
por fim acordou.

“ Convoco toda a Ordem dos

Sudários para uma Missa Negra em
honra ao fim de ano”
Miguel previa exatamente os
membros de sua igreja que seriam
capazes de desconfiar de seu plano e
contar aos demais. Durante seu
passeio dos sonhos ele visitou cada
um deles influenciando-os a caçar em
becos e cortiços onde Miguel já os
esperava e os abateu antes mesmo
que pudessem reagir, antes da meia
noite entrou na igreja, ofuscado na
escuridão. Viu Josué celebrando
tranquilamente a cerimonia e estudou
cada um dos presentes.

“Ao fim da ceia nosso Senhor tomou a

cálice nas mãos, deu graças dizendo:
Tomai todos e Bebei, este é o meu
sangue que será derramado por vós e
por todos para remissão de todos os
pecados, fazei isso em memória de
mim...”

Miguel parecia ter entendido as

palavras, estava disposto a derramar
o sangue em nome do senhor. Uma
escuridão caminhou pelos corredores
e bancos, a igreja ficou densamente
escura e os disparos começaram.

Tiro após tiro os mais fracos da ordem

dos Sudários caíram, desaparecendo
em cinzas por entre as colunas
adornadas de anjos. Miguel fez o
serviço tão rápido e tão secretamente
que a maioria nem sequer percebeu.

Quando finalmente chegou ao fim do

corredor Miguel abriu a porta da
sacristia, lá dentro estavam três
membros, sentados serenamente nas
cadeiras de uma mesa bem forrada,
pela expressão displicente pareciam
já saber que Miguel faria aquela
chacina.

_ Meu senhor Miguel, eu sinto muito,

mas já sabíamos que você faria isso,
por isso não estávamos no salão.
Perdoe-nos, por isso, mas teremos que
detê-lo antes que isso piore ainda
mais.
_ Então vocês vão me parar?
_ Sim Padre Miguel, o que você está
fazendo é uma atrocidade, não
justifica uma ação dessas por causa
de uma mera provocação Devas, se
alguém precisa ser derrubado são eles,
os degenerados, e não nós, seus
irmãos de igreja.
_ Irmã Martha, ainda que você e o Frei
Gaspar se juntassem não seriam
capazes nem sequer de fugir de mim,
quem dirá conseguiriam me derrubar.
_ Eu sei Padre, mas teremos que tentar.
..

Irma Martha e Frei Gaspar

desapareceram diante dos olhos de
Miguel e ele não saiu do lugar nem
mesmo um instante, ouvia o estalo do
ponteiro do relógio atrás dele por
cima da porta da sacristia.

Toc..... Uma segundo se passou.

Toc... Outro segundo
Toc. O terceiro e ultimo segundo se
passou, o lugar escureceu
completamente e quando a luz voltou
a reinar Miguel viu Padre Josué em
cima da mesa, debruçado sobre o
corpo de Irmã Martha que já
agonizava e os ossos de Frei Gaspar
descansavam solenes na cadeira
onde estavam sentados.

Irmã Martha se desfez em cinzas, e

Padre Josué olhou com olhos
demoníacos para Miguel como quem
ainda tem sede.

Miguel juntou as mãos, trançando os

dedos, e começou a rezar. A besta
fera tentou avançar contra ele, mas
mesmo esticando os braços na
direção de Miguel não conseguia
alcança-lo, era como de uma coleira
invisível o mantivesse a uma distancia
segura. A Fera de repente parou,
encolheu-se e Miguel percebeu que
não estava mais sozinho.
Virou-se em um golpe tão rápido que
no instante seguinte já estava no chão
caído em cima de Ivan, apontando
sua arma UV para a cara do norferatu.
_ Sou eu meu amigo!!! Tira logo essa
arma da minha cara!
_ Desgraçado o que está fazendo
aqui na igreja?
_ Vim te tirar daqui...

Antes que acabasse de falar Ivan e

Miguel sentiram uma pancada terrível
e foram arremessado na parede da
sacristia.

A Besta alí com eles estava forte de

mais para um combate físico e
possivelmente insana de mais para
qualquer tipo de controle mental.

Miguel disparou algumas vezes contra

a criatura Josué, mas não conseguia
atingi-la, ela saltou em cima dele,
Miguel chegou a ver a garrar imensas
do monstro quase tocando seu rosto
quando Ivan o esmurrou com vontade
jogando a Besta para o outro lado da
sala.

_ Eu não vou conseguir fazê-lo dormir

nesse estado!!! Gritava Miguel
tentando mais alguns disparos.
Juntou novamente as mãos enroladas
com um terço e começou uma reza
em alto e bom tom, _ Eu o ordeno
criatura!!! Deus o ordena!!! A Criatura
mais uma vez não conseguiu se
aproximar. Ficou presa a uma parede
e Ivan viu sua chance.

Ivan olhou profundamente nos olhos

da fera, ela gritava como se sentisse
dor, fichou os olhos profundamente,
uma aura de medo encheu o lugar, e
a fera se calou, caiu desmaiada no
chão.

Estava finalmente apagada a criatura.

_ Quantos ele diablerizou Miguel?
_ Muitos, possivelmente uma dezena.
Muitos de nossos irmão não poderiam
chegar à missa a colocariam tudo a
perder.
_ Eu cheguei tarde de mais, Você não
poderia ter feito isso Miguel.
_ Está feito Ivan, não precisava ter
vindo me salvar.
_ O que vai fazer com essa fera?
_ Vou entrar nos sonhos dela e
manipular seus pensamentos antes
que acorde.
_ Ela não está dormindo Miguel, está
em torpor, façamos um trato, eu
apago todas as lembranças dessa
criatura, tenho dons para isso, e você
me jura lealdade no dia em que eu
me tornar Príncipe.
_ Pretende derrubar o Arthur?
_ Não, mas é isso que vai acontecer
se ele fizer o que eu acho que vai
fazer. Ele pretende enfrentar a Diké, e
se fizer isso, alguém vai precisar liderar
nosso pedaço.

Tão hedionda e sinistra era a criatura

diante de Miguel, sem nenhuma
lembrança de sua existência, ela não
conhecia o medo, ou a dor, ou o
desejo, ela somente precisava se
alimentar, através dos sonhos Miguel
conseguiu manipula-la a seguir suas
ordens, mas um monstro desses não
demoraria a se tornar uma Praga para
a cidade.