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Apontamentos: capítulo 2, pp.

55-66

Discente: Pedro Mazzari Ramos

Geertz abre o excerto selecionado explicando que a principal razão pela


qual os antropólogos fogem das particularidades culturais quando confrontados
com a questão de definição da essência do homem, buscando refúgio na
universalidade, é a de que são perseguidos pelo medo do historicismo, diante
de uma imensa diversidade do comportamento humano.

Dentro da mesma discussão, ele segue defendendo que a questão


chave para as ciências sociais é objetivar a procura de relações sistemáticas
entre fenômenos diversos, e não identidades substantivas entre fenômenos
similares. A questão colocada por Geertz é a de que devemos integrar
diferentes tipos de teorias e conceitos para formularmos proposições
significativas que incorporem descobertas hoje separadas em áreas de estudo.

O autor chega a propor, entre duas ideias, a própria "redefinição" da


forma que concebemos a cultura. Hoje a enxergamos como um conjunto de
costumes, comportamentos, usos, tradições, hábitos, mas Geertz propõe vê-la
como um conjunto de mecanismos de controle: planos, receitas, regras,
instruções, fazendo uma analogia com o que os engenheiros da computação
chamariam de programas - aquilo que governa o comportamento. 

E segue, em sua segunda ideia, dizendo que o homem é desesperadamente


dependente da cultura, ou de determinados mecanismos de controle, dos ditos
programas culturais, para ordenar seu comportamento. Dentro dessa
perspectiva é que podemos adentrar agora no pressuposto de que o
pensamento humano é tanto social como público. Geertz vai mostrando que o
próprio processo de se tornar humano, de ser um sujeito, é ao mesmo tempo
coletivo e individual. A forma como cada um particularmente se torna é muito
diferente do outro, do seu vizinho, é muito singular. E Geertz da conta da
singularidade do ser humano, se opondo à ideia de uma essência do homem
relacionada a fatores gerais e universais. O autor, de alguma forma, combina a
abordagem estrutural e a perspectiva da agência como padrões
compartilhados, e esse processo de completude leva a esse nível citado pelo
autor de singularidade do sujeito: não há nenhum sujeito igual ao outro.

Nosso ambiente natural poderia ser o pátio familiar, a praça da cidade.


Isso porque, segundo Geertz, pensar não se refere a "acontecimentos que
passam em nossa cabeça", mas num tráfego entre signos, significantes:
palavras, gestos, desenhos, sons, joias - qualquer coisa que se afaste da
realidade simples e possua a possibilidade de impor um significado à
experiência. Dos signos significantes nós extraímos significados. O grande
desafio da pesquisa antropológica é entender quais são os signos significantes
que estão em operação em determinado contexto e quais são os significados
atribuídos a eles. Tais signos, ou significantes, já são dados. Eles já estão em
uso dentro da comunidade a que pertence o indivíduo e continuarão em uso
mesmo após sua morte. Agora há também um pressuposto novo colocado para
discutir o que seria a “essência” do homem: "Todos nós começamos com o
equipamento natural para viver milhares de espécies de vidas, mas terminamos
por viver apenas uma espécie".

O homem possui, afastado de suas fontes simbólicas de iluminação, ou


seja, de forma inata, capacidades de resposta extremamente gerais e regulado
com pouquíssima precisão. O argumento de Geertz está presente aqui:
Quando não dirigido por padrões culturais (entendamos já como sistemas
organizados de signos, ou símbolos significantes) o comportamento do homem
seria "virtualmente ingovernável", nas palavras do autor. E segue: "Um simples
caos de atos sem sentido e de explosões emocionais, e sua experiência não
teria praticamente qualquer forma". 

A cultura, portanto, entendida por Geertz como a totalidade de tais padrões


(símbolos significantes), é condição essencial para a existência humana,
sendo, segundo ele, a principal base de sua especificidade. O homem depende
desses mecanismos pra se viabilizar.

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