Geertz abre o excerto selecionado explicando que a principal razão pela
qual os antropólogos fogem das particularidades culturais quando confrontados com a questão de definição da essência do homem, buscando refúgio na universalidade, é a de que são perseguidos pelo medo do historicismo, diante de uma imensa diversidade do comportamento humano.
Dentro da mesma discussão, ele segue defendendo que a questão
chave para as ciências sociais é objetivar a procura de relações sistemáticas entre fenômenos diversos, e não identidades substantivas entre fenômenos similares. A questão colocada por Geertz é a de que devemos integrar diferentes tipos de teorias e conceitos para formularmos proposições significativas que incorporem descobertas hoje separadas em áreas de estudo.
O autor chega a propor, entre duas ideias, a própria "redefinição" da
forma que concebemos a cultura. Hoje a enxergamos como um conjunto de costumes, comportamentos, usos, tradições, hábitos, mas Geertz propõe vê-la como um conjunto de mecanismos de controle: planos, receitas, regras, instruções, fazendo uma analogia com o que os engenheiros da computação chamariam de programas - aquilo que governa o comportamento.
E segue, em sua segunda ideia, dizendo que o homem é desesperadamente
dependente da cultura, ou de determinados mecanismos de controle, dos ditos programas culturais, para ordenar seu comportamento. Dentro dessa perspectiva é que podemos adentrar agora no pressuposto de que o pensamento humano é tanto social como público. Geertz vai mostrando que o próprio processo de se tornar humano, de ser um sujeito, é ao mesmo tempo coletivo e individual. A forma como cada um particularmente se torna é muito diferente do outro, do seu vizinho, é muito singular. E Geertz da conta da singularidade do ser humano, se opondo à ideia de uma essência do homem relacionada a fatores gerais e universais. O autor, de alguma forma, combina a abordagem estrutural e a perspectiva da agência como padrões compartilhados, e esse processo de completude leva a esse nível citado pelo autor de singularidade do sujeito: não há nenhum sujeito igual ao outro.
Nosso ambiente natural poderia ser o pátio familiar, a praça da cidade.
Isso porque, segundo Geertz, pensar não se refere a "acontecimentos que passam em nossa cabeça", mas num tráfego entre signos, significantes: palavras, gestos, desenhos, sons, joias - qualquer coisa que se afaste da realidade simples e possua a possibilidade de impor um significado à experiência. Dos signos significantes nós extraímos significados. O grande desafio da pesquisa antropológica é entender quais são os signos significantes que estão em operação em determinado contexto e quais são os significados atribuídos a eles. Tais signos, ou significantes, já são dados. Eles já estão em uso dentro da comunidade a que pertence o indivíduo e continuarão em uso mesmo após sua morte. Agora há também um pressuposto novo colocado para discutir o que seria a “essência” do homem: "Todos nós começamos com o equipamento natural para viver milhares de espécies de vidas, mas terminamos por viver apenas uma espécie".
O homem possui, afastado de suas fontes simbólicas de iluminação, ou
seja, de forma inata, capacidades de resposta extremamente gerais e regulado com pouquíssima precisão. O argumento de Geertz está presente aqui: Quando não dirigido por padrões culturais (entendamos já como sistemas organizados de signos, ou símbolos significantes) o comportamento do homem seria "virtualmente ingovernável", nas palavras do autor. E segue: "Um simples caos de atos sem sentido e de explosões emocionais, e sua experiência não teria praticamente qualquer forma".
A cultura, portanto, entendida por Geertz como a totalidade de tais padrões
(símbolos significantes), é condição essencial para a existência humana, sendo, segundo ele, a principal base de sua especificidade. O homem depende desses mecanismos pra se viabilizar.
Corpos do Futuro e o Futuro do Corpo. Metáforas corporais no cinema de horror e de ficção-científica e seus usos para a intervenção/invenção de direitos civis no âmbito da diferença/deficiência física