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A presença ignorada de Deus

RESUMO CAPÍTULO 7 – PSICOTERAPIA E RELIGIÃO

Neste capítulo, Frankl destaca que a religiosidade ou irreligiosidade do


paciente não interessa ao terapeuta por si mesma, mas, enquanto parte da sua
cosmovisão, deve ser respeitada com tolerância incondicional e com o máximo
de interesse em que esta religiosidade se manifeste de forma espontânea. Frankl
insiste em que a religiosidade só é genuína enquanto existencial, ou seja,
quando a pessoa não é impelida para ela, mas se decide por ela. E também que
deve ser dado o tempo necessário para que a religiosidade verdadeira brote de
forma espontânea.1 Desta forma, tanto o terapeuta irreligioso não deve alienar
do paciente a sua fé, quanto o terapeuta religioso não deve exceder o seu
cuidado ao campo de um ministério sacerdotal.
Frankl alerta ainda para o fato de que a religião só pode ter efeito
psicoterapêutico se seu motivo primário não for absolutamente psicoterapêutico.
Mesmo que a religião exerça um efeito secundário, influenciando positivamente
aspectos como saúde e equilíbrio psíquico, ainda assim este não se dá pela
objetivação da cura psíquica, uma vez que o foco da religião não é este.
A religião não pode ser tomada, portanto, como garantia de bem estar
psíquico, pois encontra-se em outra dimensão, que não deve, jamais, ser
sobreposta ao campo da psicoterapia. Embora os efeitos de ambas possam
eventualmente coincidir, elas diferem essencialmente em sua intencionalidade.

1
Destaca-se aqui, em consonância com os apontamentos de Freitas (2017) que o termo
religiosidade, principalmente nos escritos de origem europeia, não possui a mesma conotação
que costumamos atribuir-lhe, especialmente nos dias atuais. A ideia de religiosidade é muito
mais abrangente que a identificação que muitas vezes fazemos com a simples afiliação a uma
religião institucionalizada, ou a observação de seus preceitos ou ainda a frequência aos seus
rituais públicos. Trata-se não apenas de uma adesão à instituição, ao dogma, e às ortodoxias
que se inclinam para a defesa de normas tradicionais e, mesmo, fundamentalistas, mas de
uma referência ao “modo pessoal como cada pessoa elabora subjetivamente suas respostas
às demandas de sentido existencial, ainda que também ancoradas na crença no
transcendente. Tais respostas podem, por sua vez, estar ou não ancoradas num sistema
específico de crenças religiosas. A religiosidade pode se mostrar, então, como propõe Valle
(1998, p. 260), na face subjetiva da religião, expondo a realidade psicológica e humana de
cada indivíduo em seu modo específico de encontrar sentido, com uma resposta ancorada
numa dimensão que o transcende” (Freitas, 2017, p. 100).
Dessa forma, segundo Frankl, é necessário que a psicologia mantenha
sua autonomia como ciência e sua independência da religião, sem assumir uma
posição de subserviência à teologia. Aqui Frankl estende o conceito de liberdade
incondicional, tão caro à logoterapia, também à condição de ciência da
psicologia, que, enquanto tal, deve garantir a independência de suas
investigações. Paradoxalmente, é justamente esta “dignidade” – enquanto valor
intrínseco e não utilitário – de uma investigação independente e seus resultados
imparciais que podem garantir o valor útil que a psicologia poderia ter para a
religião. Afinal, se de alguma forma a psicologia obtiver qualquer comprovação
de preceitos religiosos, é somente na confirmação de uma ciência autônoma que
a mesma encontraria seu valor.
Nas palavras do próprio Frankl, “quanto menos a psicoterapia se dispor a
servir à teologia como uma ‘criada’, tanto maiores serão os serviços que poderá
prestar a ela”, uma vez que “não é preciso ser ‘criada’ para poder servir” (Frankl,
2017, p. 72).

Referências

Frankl, V. E. (2017). A presença ignorada de Deus. Sinodal / Vozes.


Freitas, M. H. de. (2017). Psicologia Religiosa, Psicologia da
Religião/Espiritualidade, ou Psicologia e Religião/Espiritualidade. In M. R.
G. Esperandio & M. H. de Freitas (Eds.), Psicologia da Religião no Brasil
(pp. 61–76). Juruá Editora.
https://periodicos.pucpr.br/index.php/pistispraxis/article/view/7229/16137

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