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ESPAÇO ESCOLAR E PRECONCEITO HOMOFÓBICO: UMA PRÁTICA

HETERONORMATIVA
William Hanke
Universidade Estadual de Ponta Grossa, hankegete@gmail.com
Márcio Jose Ornat
Universidade Estadual de Ponta Grossa, geogenero@gmail.com

INTRODUÇÃO

O presente trabalho problematiza a relação entre espaço escolar e preconceito


homofóbico na cidade de Ponta Grossa, Paraná. Esta pesquisa qualiquantitativa foi
realizada a partir de um projeto de pesquisa desenvolvido no Grupo de Estudos
Territoriais (GETE) - Protocolo de Pesquisa 'Espaço Escolar e Preconceito Homofóbico'
no Município de Ponta Grossa / Universidade Estadual de Ponta Grossa – Paraná –
Brasil, o qual faz parte do departamento de Geociências da Universidade Estadual de
Ponta Grossa -PR.
Esta análise teve início em abril de 2011, tendo por escopo instigar a relação
entre o preconceito e a escola. Durante esse ano foram aplicados mil novecentos e
quarenta e seis questionários1 a alunos do ensino médio de seis instituições do ensino
público localizadas no perímetro urbano da cidade. Os questionários eram compostos
por informações como local de nascimento, sexo, idade, cor/etnia, afiliação e
participação religiosa, acesso à informação e características de moradia, e também por
um conjunto de treze sentenças que envolviam situações do cotidiano escolar orientadas
às circunstâncias de preconceito e discriminação, e ainda mais sete questões referentes a
relacionamentos homoafetivos e de amizade, sendo que a cada afirmação os alunos
realizavam a escolha de concordância ou discordância.
A utilização do OpenOffice.org Base auxiliou na análise dos dados devido ao

1 . As frases que compuseram o referido questionário foram adaptadas do questionário aplicados


pelo projeto de estudo sobre ações discriminatórias no âmbito escolar, organizadas de acordo com áreas
temáticas, a saber, étnico-racial, gênero, geracional, territorial, necessidades especiais, socioeconômica e
orientação sexual (Ministério da Educação – MEC Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais – INEP. 2009.)
seu potencial de cruzamento das informações a partir das ferramentas de Chave de
Consulta. No segundo semestre, logo após a sistematização dos questionários, ocorreu
a segunda etapa da pesquisa que buscou compreender, a partir das entrevistas com as
pedagogas dos seis colégios, como estava sendo concebido o preconceito na
espacialidade escolar.
Foram entrevistadas dezoito pedagogas com questionários semiestruturados e
um diálogo aberto sobre os gráficos dos resultados dos alunos de cada colégio. Essas
entrevistas totalizaram mais de quinze horas, as quais foram transcritas e armazenadas
em um banco de dados. Essas falas resultaram em quinhentas e noventa e seis
evocações, entretanto, escolheu-se utilizar e analisar mais de 200 evocações que tinham
em suas características três caminhos discursivos que serão apresentados a seguir.
Uma vez que a vivência escolar está presente em grande parte da vida dos seres
humanos e auxilia a composição dos mesmos como pessoas que interagem em
sociedade, percebe-se que esta espacialidade tem um papel de grande importância na
formação humana nos mais diversos assuntos, dentre eles o da homossexualidade. O
modo como cada escola, e toda a estrutura que a compõe, entende e aborda as questões
relacionadas à sexualidade será decisivo no processo de combate - ou não - da
homofobia em específico, mas também das discussões relacionadas à transfobia, a
lesbofobia, ao racismo e ao sexismo.
Está pesquisa pode auxiliar muito ao combate a descriminação e preconceito.
Com a materialização do preconceito observa-se a realidade do espaço escolar, e
também como alunos, professores e equipes pedagógicas estão discutindo ou não o
preconceito homofóbico e a diversidade sexual na escola. Assim, este trabalho visa não
só diminuir o preconceito homofóbico, mas ser também uma forma de acesso para
profissionais e afins repensarem tanto suas práticas educacionais quanto visualizarem
esse sentimento de ódio, medo e aversão àquele que não segue os padrões sociais
vigentes.
OBJETIVOS E METODOLOGIAS
O presente texto tem por escopo refletir sobre as conexões entre espaço escolar e
preconceito homofóbico, a partir da cidade de Ponta Grossa, Paraná. Tivemos por objeto
de discussão o resultado da aplicação de 1946 questionários aplicados com alunos do
ensino médio, com idade entre 15 e 18 anos, de 6 instituições públicas de ensino
localizadas no espaço urbano da cidade. Outra relação é compreender como as
pedagogas, das respectivas escolas, veem o preconceito homofóbico pelo espaço
escolar. Para este objetivo foram entrevistadas 18 pedagogas, que totalizaram mais de
15 horas de entrevistas.
O que as respostas de campo coletadas nestas instituições de ensino públicas
evidenciam dizem respeito a uma espacialidade estruturada por ações de preconceito
direcionadas aos homossexuais, ações estas que estruturam relações sociais a partir da
homofobia. Como analisado por Bryant e Vidal-Ortiz (2008), a palavra 'homofobia' tem
se colocado tanto como uma ferramenta conceitual quanto como um recurso discursivo
das pessoas que não se alinham as normas de gênero e sexualidade.
A forma como a homofobia tem sido pensada pelas ciências sociais aponta para
o fato de que ela é produzida por intersecções de outros vetores de relações de poder,
como as relações interseccionais que ocorrem a partir de grupos de renda, questões
étnicas e raciais. Mesmo tendo sido cunhado a partir da Psicologia, consideramos que
estas relações homofóbicas ocorrem através de espacialidades como do rural, do urbano,
e nesta discussão, através do espaço escolar.
Assim como tratado por Silva (2009), o espaço escolar tem sido visualizado
como uma possibilidade de existência cotidiana estruturada segundo a compreensão de
um mundo organizado por polos de normalidade e de não normalidade. Em específico, a
espacialidade escolar é estruturada naquilo que Valentine (1993) denomina como espaço
heterossexual. Segundo esta autora, esta condição é invisível, até que suas fronteiras
sejam transgredidas, a partir da existência de pessoas localizadas no polo da 'não
normalidade', ou como nos termos de Butler (2008), a partir da relação entre corpos
objetos e 'abjetos.
RESULTADOS
A primeira etapa da pesquisa dos questionários aplicados aos alunos teve início
em abril de 2011 e foi encerrada em abril de 2012. Através do Projeto de Pesquisa e
Iniciação Científica PROVIC/CAPES/UEPG e de todo o Grupo GETE (Grupo de
Estudos Territoriais), em especial a pesquisadora Andressa C. Carvalhais, tornou-se
viável a efetuação dessa pesquisa e a sistematização dos dados.
Para a realização da pesquisa foi feito um recorte de oito instituições de ensino
público da cidade de Ponta Grossa - PR, no entanto, apenas seis aceitaram a efetuação
da pesquisa. As seis instituições resultaram em mil novecentos e quarenta e seis
questionários aplicados a alunos do ensino médio. Nestes questionários continham além
de sentenças com informações pessoais, afirmações e situações de um cotidiano
preconceituoso na escola.
Os alunos tinham como opção de resposta concordar ou discordar de tal
sentença dada a eles. As sentenças eram orientadas através das relações entre alunos
heterossexuais com colegas supostamente homossexuais. Havia também a associação
em ter uma colega lésbica e ter um colega gay, ter um filho ou filha homossexual, e a
hipótese de existir professores homossexuais. Todos os questionários foram lançados em
um banco de dados do sistema BrOffice que permite a realização de variadas consultas.
Para início dessa discussão, traçou-se um perfil dos sujeitos entrevistados que traz as
seguintes informações:
Do total de entrevistados, 42,7% são meninas, 51,7% meninos e 5,6% não
responderam sobre tal sentença. No tocante a idade dos alunos, 97,4% tem entre quinze
e dezenove anos, 2,3% entre vinte e vinte e nove anos e 0.3% entre trinta e trinta e nove
anos. Quanto ao acesso à informação, 96% do total acessam programas televisivos,
83,2% através do rádio, 73,9% leem jornais e 87,1% acessam a internet como fonte de
informação. A participação religiosa é um dado importante, uma vez que a religião cria
formas de entendimento acerca do corpo e também cria esferas comportamentais que
serão desenvolvidas pelas pessoas. Assim, em relação à religião dos alunos temos:
11,5% não possuem religião, 0,5% participam da Umbanda ou Candomblé, 0,2 % do
Budismo, 1,4 % são espíritas, 31,2% evangélicos e 55, 2% declaram-se católicos.
Tendo o perfil dos nossos sujeitos, instituíram-se os dados quantitativos que
representam as espacialidades escolares ponta-grossenses em proporção de preconceito.
Entretanto, optou-se neste trabalho identificar apenas as concordância com o
preconceito nas seis escolas pesquisadas. Pode-se constatar no gráfico abaixo que
alunos apresentam-se mais preconceituosos que as alunas, e identificar qual escola entre
as seis possui mais preconceito, a partir da quantidade de concordância por parte de seus
alunos.

Fonte: Roteiro estruturado aplicados aos alunos do Ensino Médio de seis escolas estaduais de Ponta
Grossa – PR, entre os anos de 2011 e 2012. Organizador: HANKE, 2013

Feito um recorte sobre as concordâncias das espacialidades que identificou a


espacialidade mais preconceituosa (F), bem como os alunos sendo mais preconceituosos
do que as alunas. A partir dessa configuração visualizada no gráfico, observa-se que
encontram-se meninos concordando mais que meninas com as proposições
homofóbicas, o que permite realizar algumas reflexões. Como visto em Rose (1999)
compreende o espaço como composto por discurso, fantasia e corporeidades. Esses
discursos são proferidos por pessoas que compõem o espaço escolar, sejam docentes
e/ou discentes possuindo corporeidades e discursos marcados pela linearidade entre
sexo, gênero e desejo que temporalmente e espacialmente são construídos socialmente.
Esta linearidade vem sendo reafirmada segundo práticas sociais relacionadas ao mundo
bipolar – homem/mulher.
Há também uma configuração em relação às escolas, pois foi possível
identificar as mais preconceituosas, realizando a média de concordância em cada
questão e em relação a cada instituição de ensino. Assim, para este momento entende-se
a escola F como a mais preconceituosa, com o resultado de 41% dos meninos e 22% das
meninas concordando com as sentenças preconceituosas.
Isso possibilita a delimitação e existência de uma fronteira preconceituosa
invisibilizada e incumbida em diversas relações e ações entre sujeitos que em uma co-
constuição mútua vivenciam o espaço escolar. Problematizar o preconceito e
materializá-lo neste trabalho, reforça o objetivo de fazer uma Geografia de novas
perspectivas que analisa a realidade escolar e o fenômeno comportamental (preconceito)
da sociedade contemporânea.
Pensar o espaço escolar e os sujeitos marginalizados socialmente e
espacialmente, é pensar em um espaço de paradoxos de inclusão e exclusão, segundo
Ornat (2011):
espaço escolar é, por um lado, estes corpos não existem fora da sociedade, e
por outro, suas relações não se fazem em uma condição de insider ou
outsider, de que forma esta venha a ser pensada. Nosso argumento é que o
espaço escolar se faz a partir de paradoxos de inclusão e exclusão, processos
vividos simultaneamente, pois serão estas áreas inabitáveis que definirão o
que é habitável, constituindo uma local de reivindicação a existência e a vida.
(Ornat, 2011, p. 208).

Para realizar um aprofundamento dos dados obtidos na pesquisa quantitativa,


fez-se necessário uma pesquisa qualitativa, a qual buscou compreender como a temática
“preconceito homofóbico” está sendo pensada na espacialidade escolar e como os
sujeitos se comportam com a diversidade sexual. Para isto, foram realizadas entrevistas
com dezoito pedagogas das respectivas escolas (6). Nesse levantamento, com entrevista
semiestruturada, foram feitas perguntas pessoais, bem como questionamentos referentes
às respostas dos próprios alunos do colégio em que essas profissionais atuavam.
Essas entrevistas resultaram em mais de quinze horas gravadas que foram
transcritas e depois lançadas em um banco de dados para que pudessem ser mais bem
compreendidas. As entrevistas foram realizadas de fevereiro a março de 2013, e através
do banco de dados foi possível traçar o perfil das entrevistadas e identificar caminhos
discursivos que se relacionam a negar, assumir e reconhecer o preconceito homofóbico.
Assim, traçou-se um perfil geral dessas profissionais da educação atuantes nas
redes pública e privada de ensino, os resultados mostram que são mulheres entre vinte e
oito e sessenta e quatro anos de idade, sendo a média em torno de quarenta e oito anos.
No que diz respeito à cor/etnia, 85% declararam-se brancas, 5% negras, 5 % morenas e
5% pardas.
Do total das entrevistadas, 73% nasceram na cidade de Ponta Grossa e 27% em
cidades próximas, como Londrina, Palmital, Prudentópolis, Jaguariaíva e Arapoti.
Quanto à formação acadêmica, 100% possuem graduação em Pedagogia pela
Universidade Estadual de Ponta Grossa, uma possui mestrado em Mídias e
Comunicações e duas tem mais de uma graduação (Psicologia e Licenciatura em
História). Além disso, todas possuem especialização nas mais diversas áreas como:
psicopedagogia, neuropsicologia e fundamentos da educação. No que se refere à
religião, 70% são católicas, 10% Evangélicas, 10% dizem não possuir religião, 5%
Budista e ainda 5% Luterana. Em relação à participação religiosa, 50% dizem participar
muito da religião, 40% pouco e 10% participação muito pequena.
No tocante ao acesso à informação, estado civil, quantidade de filhos e com
quem moram: 100% dizem utilizar a internet, jornais/revistas e televisão como meio de
acesso de informação; 56% moram com companheiros, 29% moram com outros
familiares, 10% sozinhas e 5% com os pais. O número de pessoas que residem na
mesma casa varia de uma até seis pessoas. 61% possuem dois filhos(as), 17% possuem
três filhos(as), 17% não possuem filhos (as) e 5% tem um filho(a). As perguntas
também se relacionavam ao nível de ensino em que as pedagogas atuam e foram
encontrados os seguintes resultados: 56% atuam no ensino médio e fundamental, 10%
só no ensino fundamental, 17% no ensino médio e superior e ainda 17% só no ensino
médio. Quanto ao número de escolas em que atuam 73% das entrevistadas trabalham
em duas escolas e 27% em uma escola apenas, com jornada semanal de trabalho de
quarenta horas semanais (61%), vinte horas semanais (23%) e sessenta horas semanais
(16%). Todas possuem contrato efetivo e dez trabalham quarenta horas semanais.
O ano de graduação em Pedagogia varia de 1974 a 2006, sendo que em 2010
houve outras duas graduações, Psicologia e Licenciatura em História. O tempo de
atuação/exercício dessas profissionais varia de dez a quarenta e um anos. Observa-se
que durante esse tempo a discussão de sexualidade na escola foi colocada à margem
pelo Governo Estadual, ainda que tenham se inserido no contexto universitário, e
consequentemente nas escolas a partir dos anos 90 e 2000. Esta temática pouco ou nada
aparece em sala de aula, como apontam as pedagogas, e por consequência, produz-se
uma educação tradicional, influenciada pela religião e por valores tradicionais
familiares.
Quanto às repostas nas entrevistas, totalizaram quinze horas de falas que foram
agrupadas em três caminhos discursivos: de negar, assumir e reconhecer o preconceito
no espaço escolar. Foi identificado um total de 225 frases que se alinharam aos
agrupamentos propostos.
Todos esses resultados corroboram com proposições de autores como: Junckes
e Silva (2009) e o espaço escolar como polos de normalidade e não normalidade, Butler
(2008) em corpos abjetos, ou seja, aqueles que não se enquadram a 'padrões' de
determinada espacialidade. Quando se pensa o caminho discursivo de “negar” o
preconceito, é o momento em que o preconceito se torna invisibilizado pelas pedagogas
e pela própria escola. Assim se tem 24% do total de frases que negam a existência de
preconceito na escola, como pode ser visto nas seguintes falas:

[...] a gente na escola aqui, principalmente a gente não nota essa


discriminação desses alunos homossexuais ou não, tanto meninas quanto
meninos [...]. (Pedagoga O - Entrevista realizada em: 28/02/1013, Escola F).

[…] diretamente nunca eu percebi, nunca presenciei [...]. (Pedagoga B -


Entrevista realizada em: 01/03/2013, Escola A).

[…] Eu acho que não porque aqui no colégio a gente teve uns anos pra cá
sabe alunos assim (homossexuais) […] (Pedagoga G - Entrevista realizada
em: 26/02/2013, Escola C).

[…] Não, eu não lembro de ter tido alguma coisa assim, que precisasse de um
trabalho ou tenha visto algum preconceito, eu não sei, os alunos, nessa parte
eles se relacionam bem, por mais que eles tenham algum preconceito às
vezes, eles não demonstram [...]. (Pedagoga M - Entrevista realizada em:
18/02/2013, Escola E).

O não reconhecimento do preconceito, mesmo que constatado pelos resultados


dos alunos, é considerar que aqueles corpos “abjetos” não existem ou pouco importam
naquela espacialidade. Esses corpos são postos a margem da educação e da própria
escola, uma vez que, considerando a existência de polos de normalidade e da não-
normalidade, esses alunos homossexuais são classificados e estereotipados a uma
anormalidade.
Em relação a outro caminho discursivo em que as pedagogas assumem o
preconceito, 7% das entrevistadas dizem 'assumir' ter preconceito, isso refere-se
principalmente ao momento em que são questionadas quanto a possibilidade de ter
um(a) filho(a) homossexual:

[…] Olha, é uma pergunta assim bem, bem delicada. Confesso pra você.
Porque uma coisa é você ver essa situação na casa do outro, outra coisa é
você ver na sua casa, sabe. Eu confesso pra você que eu venho de uma
educação bem tradicional, bem rigorosa, onde essas coisas não eram nem
sequer comentadas dentro da minha casa, confesso pra você, eu pessoalmente
ainda não me sinto preparada pra ter um filho ou uma filha homossexual [...].
(Pedagoga F - Entrevista realizada em: 26/02/1013, Escola C).

[…] difícil porque seria um choque, primeiro seria um choque muito grande,
pela formação que a gente tem, pela educação que a gente recebeu. Seria um
choque muito grande, porque a gente quer que eles sejam ditos né como
normais, que tenham né uma família estruturada, tenham filhos, uma família
dita normal. Quando a gente tem filhos né, a gente pensa o melhor pra eles né
[...]. (Pedagoga G - Entrevista realizada em: 26/02/2013, Escola C).

[…] é uma pergunta bem difícil de responder (risos) eu acho que o primeiro
momento realmente a gente não aceita né [...] (Pedagoga H - Entrevista
realizada em: 26/02/2013, Escola C).

Este caminho pode ser analisado junto com as respostas dos alunos, pois
quando também questionados a aceitarem que um filho ou filha se casasse com um
homossexual, mais da metade dos alunos e alunas dizem não aceitar tal sentença.
Observa-se que o discurso é o mesmo e o preconceito também, quando a hipótese
homossexual é o aluno ou o colega as respostas aparentemente são mais positivas do
que em relação a ter um ‘caso’ mais próximo ou familiar.
Por fim, o último caminho discursivo encontrado, onde há realmente o
reconhecimento do preconceito no espaço escolar, 69% das frases reconhecem que
existe preconceito no espaço escolar e que ele está imbricado nas relações sociais que
ocorrem através desta espacialidade, mesmo que muitas vezes omitido e invisibilizado
pela escola. Por um lado, a luta contra a homofobia além de ser difícil, é algo a ser
alcançado a longo e médio prazo e espera-se que esta pesquisa levantada seja um
“pontapé” inicial para retomar as discussões de um tema transversal na educação. Por
outro lado, outras Pedagogas em conformidade e aceitação a esta situação reafirmam o
preconceito como sentimento que sempre existiu e sempre vai existir.
[…] existe sim, tem vários níveis, dificilmente você encontra uma situação
longe do preconceito, existe sim aqui na escola [...] (Pedagoga E - Entrevista
realizada em: 22/02/1013, Escola B).

[…] bom o que mais diretamente vem pra gente é alguma situação com o
aluno mesmo, às vezes o aluno se sente descriminado pelos colegas, pelo fato
dele ter uma sexualidade diferente, a gente já teve recentemente e outros anos
que nem aqui no colégio eu estou mais tempo né, já tivemos em outros anos
né, só que eu percebo assim com o tempo, isso (preconceito) foi aumentando
[...].(Pedagoga K - Entrevista realizada em: 18/02/2013, Escola D).

[...] eu acho assim, tem as situações de preconceito, não adianta a gente dizer
que não tem porque tem, a outros casos, tem aquelas brincadeiras de mau
gosto, que eu acredito que tem [...]. (Pedagoga P - Entrevista realizada em:
28/02/2013, Escola F).

Este trabalho problematizou a relação entre o preconceito homofóbico e a


espacialidade escolar. O preconceito não nasce na escola, mas é desenvolvido nas ações
discriminatórias que alunos, professores ou funcionários praticam sobre aquele que não
segue as regras da heteronormatividade. Os dados aqui discutidos produziram novas
perguntas, tais como, as maneiras que as discussões de sexualidade estão ou não sendo
discutidas pela escola. Como pode-se observar em Junckes e Silva (2009 p. 150) “O
espaço escolar é vivido cotidianamente e as práticas que o confortam também se
convertem em aprendizagem, já que a educação ultrapassa os limites do sentido
convencional do conhecimento tecnocrático”.
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School of Geography, University of Manchester, Manchester, M 13 9PL, England
Received on July 22, 1992; final review on December 11, 1992, 1993. p. 395-413.

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