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Caso de negociação: tratado de paz e desarmamento nuclear

Contexto histórico (disponível para as duas partes)

Cerca de 15 anos atrás uma guerra eclodiu entre dois países, o País A
(República Democrática Presidencialista) e o País B (Ditadura autoritária), que
perdurou por 5 anos e que levou à morte de milhares de pessoas (civis e militares)
junto à uma grande destruição para ambas as partes. O País A saiu como vencedor,
mas um tratado de paz entre as partes nunca foi assinado (a guerra acabou devido a
incapacidade do País B de continuar sustentando-a). Após o fim da guerra, o destruído
País B adotou uma postura isolacionista no sistema internacional, denunciando e se
retirando de todas as organizações e tratados internacionais que fazia parte. Iniciando,
também, um projeto de desenvolvimento e uso de energia atômica que visava a
criação de armamentos bélicos nucleares de grande magnitude/alcance; e a produção
de energia para uso no seu território. Em reação à este comportamento “agressivo e
ameaçador”, a comunidade internacional decidiu adotar algumas medidas contra o
País B, como sanções econômicas e diplomáticas, buscando conter o avanço do
mesmo.  

O resultado dessas medidas gerou fortes impactos sobre o País B


(empobrecimento geral, queda do PIB, redução da qualidade de vida da população,
aumento da violência, escassez de produtos básicos, defasagem tecnológica, etc.).
Devido à uma recente mobilização da comunidade internacional em prol da paz,
passou-se a direcionar esforços para o encerramento do projeto atômico do País B e
para a realização de um tratado de paz entre as partes, visando garantir que as
disputas entre elas estão de fato cessadas e que um novo conflito não virá a ocorrer.
Alguns encontros, mediados e apoiados pela Organização das Nações Unidas (ONU),
entre representantes das duas partes já ocorreram, e agora você se encontra na mesa
da negociação final para a conclusão deste acordo.

É de extrema importância que a conclusão do tratado seja bem-sucedida (tanto


para os países diretamente envolvidos quanto para a comunidade internacional como
um todo).

As questões que estão sendo negociadas são:


 Desmobilização do projeto de energia atômica:
o Prazo para desmobilização;
o Forma: parcial ou total
 Parcial: desmobilização apenas do setor bélico.
 Total: desmobilização total do projeto, incluindo o setor de
abastecimento de energia.
o Assinatura, ou não, do Tratado de Não-Proliferação de Armas
Nucleares (TNP)
o Fiscalização: quem será responsável por fiscalizar o procedimento de
desmobilização do projeto e garantir que ele não será reinstalado?
 Diversas opções: não fiscalização por nenhuma equipe
estrangeira (apenas o compromisso do País B de cumprir com o
acordo); equipe nacional do País A; Organização
Intergovernamental; Organização Não-Governamental; equipe
nacional de um país terceiro; entre outros.
 Obs.: em caso de assinatura do TNP, a fiscalização se dá
obrigatoriamente pela Agência Internacional de Energia Atômica
(AIEA).     
 Delimitação de fronteiras:
o Ao fim da recente guerra, o País A acabou dominando parte do território
que antes era de controle do País B. Esta porção de território é de
grande relevância para ambos os países porque constitui uma saída
para o mar.
 Sanções econômicas/comerciais - punições aplicadas pela comunidade
internacional (sob comando do Conselho de Segurança das Nações Unidas -
CSONU) ao País B por sua postura agressiva e ameaçadora da paz no
sistema:
o Proibição total da compra de carvão mineral exportado pelo País B.
o Proibição total da compra de títulos da dívida pública do País B por
cidadãos e organizações estrangeiras.
 Devolução de prisioneiros:
o Durante o conflito entre as partes, o País B tomou como prisioneiros, e
ainda os mantém, milhares de indivíduos (a maioria militares, mas
também existe a presença de civis) de origem do País A.
 Tamanho das forças armadas:
o Existe uma demanda internacional pela redução e controle do tamanho
e da capacidade das forças armadas do País B (país historicamente
agressivo e constantemente envolvido em guerras - desejo da
comunidade internacional de eliminar/controlar essa postura ofensiva
do mesmo).

Informações importantes

 Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP): acordo entre Estados


soberanos assinado em 1968, vigorando a partir de 5 de março de 1970.
Atualmente conta com a adesão de 189 países, cinco dos quais reconhecem
ser detentores de armas nucleares: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido,
França e China. Em sua origem, o Tratado tinha como objetivo limitar o
armamento nuclear desses cinco países que ficaram obrigados a não transferir
essas armas para os chamados "países não nucleares", nem auxiliá-los a obtê-
las. Os signatários não detentores de armas nucleares concordaram em não
desenvolver ou adquirir esse tipo de arma, embora possam pesquisar e
desenvolver a energia nuclear para fins pacíficos, desde que monitorizados por
inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), sediada em
Viena, na Áustria.
 Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA): organização parte do
sistema ONU. Com o incremento da proliferação nuclear na década de 1990,
as tarefas da AIEA passaram a incluir as inspeções e investigações de
suspeitas violações do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares sob
mandato das Nações Unidas.
Diplomata País B

Você é um dos diplomatas da equipe do Ministério de Relações Exteriores do


seu país que foi designada, por escolha pessoal do líder, para a realização das
negociações, e a conclusão de um possível tratado, com o País A. A negociação já
está em andamento a algum tempo e é extremamente delicada, no entanto, vem
caminhando relativamente bem. Agora que os ânimos estão mais controlados e que a
tensão das primeiras reuniões foi amenizada, chegou a hora de buscar a finalização
do acordo.

O relacionamento entre o seu país e o País A é historicamente conflituoso,


existindo alguns exemplos de guerras entre as partes ao longo do tempo. Sendo
assim, tanto o seu governo quanto a sua população possuem certos receios em
relação ao acordo que está sendo desenvolvido. O maior medo existente é o de
descumprimento das disposições acordadas entre os dois lados, devido à falta de
confiança na outra parte.

O projeto de energia atômica existente em seu país é de extrema importância


para a sua sociedade como um todo. Além do desenvolvimento de armamentos
nucleares que garantem a sua segurança e integridade territorial, a planta atômica
também é responsável pela produção de 35% da sua matriz energética, que, em caso
de encerramento total do projeto, deverá ser substituída por outra fonte de energia (o
que será muito custoso para o país). Você sabe que terá que encerrar seu projeto
atômico bélico e se comprometer ao desarmamento nuclear, no entanto seria
extremamente benéfico a manutenção do projeto energético, já que este representa
uma parcela tão significativa do seu suprimento.

Devido ao relacionamento historicamente tenso com grande parte da


comunidade internacional (em especial com o País A), o seu país (líder e população) é
extremamente desconfiado e inseguro em relação à basicamente qualquer outro.
Sabe-se que existirá a exigência de uma fiscalização para o processo de
desmobilização do projeto nuclear, e a garantia de que este não será reiniciado no
futuro. O ideal para você seria não se envolver em mais nenhum acordo ou instituição
internacional, e é claro que a presença estrangeira dentro de seu território,
especialmente analisando setores estratégicos de defesa nacional, é temida e
negativamente vista por praticamente todos os cidadãos do seu país. Já que a
existência da fiscalização não é algo que possa ser discutido, o melhor seria que essa
fosse feita por uma Organização Internacional (governamental ou não).

Outro aspecto que é previsto pela sua equipe diplomática é a exigência de uma
redução das suas forças militares, como costumeiramente é feito com países
considerados “agressivos” no sistema (ex.: Alemanha no pós primeira guerra mundial).
Sabe-se que nada pode se fazer em relação à esta questão, e como seu objetivo é de
fato atingir a paz e a estabilidade, a redução das suas forças armadas já está sendo
considerada como uma realidade, até porque se o tratado for bem sucedido o governo
pretende direcionar os altos gastos com o setor militar para o setor social-econômico.
Apesar da boa vontade do seu Estado em relação à redução do seu poderio militar, é
obviamente necessário que se permaneça com uma força suficientemente grande
para realizar a proteção e a segurança das suas fronteiras e do seu território.

Pelo fato de ser uma ditadura, o líder autoritário do seu Estado tem a
capacidade de decidir individualmente quais rumos serão tomados pela sua nação,
sem precisar se preocupar muito com a opinião e repercussão pública dos seus atos.
Sendo assim, foi passada à você e sua equipe uma lista de requisitos mínimos
impostos pelo seu líder para que o acordo possa ser realizado. Ou seja, se algum
desses requisitos não estiver presente o acordo não poderá ser concluído (caso seja,
o seu ditador não irá fazer valer o acordo realizado e você e sua equipe sofrerão duras
penalidades por não cumprirem o que os foi ordenado).  

Condições necessárias para a conclusão do acordo:

1. Desmobilização parcial do projeto de energia atômica.


1. Prazo: mínimo de 15 meses para a conclusão.
2. Setor: armamentos bélicos (manutenção do setor energético).
3. Fiscalização: realizada por uma organização internacional (de
preferência não governamental, mas podendo ser governamental). A
única limitação é que a fiscalização não pode ser feita por uma equipe
exclusiva do País A.
1. Obs.: a assinatura do TNP pode ser realizada, mesmo que a
não ocorrência seja preferida (pode ser usado como poder de
barganha).
b. Fim das sanções comerciais impostas a você:
a. Fim da proibição da compra de carvão mineral exportado pelo seu país
(seu principal recurso que pode ser exportado)
b. Fim da proibição da compra de títulos de sua dívida pública por
cidadãos estrangeiros (essa sanção prejudica muito sua economia,
tendo em vista que a dívida pública atual é alta e o volume de capital
circulante interno está baixo)
a. Recuperação de território perdido: Ao final da guerra você perdeu parte do seu
território e acabou ficando sem acesso ao mar, o que prejudica muito sua
capacidade comercial, e, consequentemente, seu desenvolvimento
socioeconômico. Este território passou a ser controlado pelo País A. É de
extrema importância para você reaver uma saída para o mar.   

Obs.: Você possui alguns milhares de prisioneiros (militares e civis) de guerra em seu
território que podem ser usados como troca/barganha. Dentre estes, existem alguns
prisioneiros de “alta prioridade”: diplomatas, jornalistas e militares de alta patente. A
outra parte provavelmente terá interesse na libertação de todos os prisioneiros, o que
você pode fazer, mas manter alguns sob seu poder pode ser interessante para futuras
disputas.   

Obs.: Seu líder passou instruções claras de que não se pode comprometer mais que
50% do seu contingente militar, sendo esta a maior redução aceitável.  

Lembre-se: a segurança e o futuro do seu país e da sua população estão em suas


mãos. Essa negociação não envolve apenas questões econômicas e políticas, envolve
a vida e o bem-estar dos seus cidadãos!

Fernando Mourão e Bruno Henrique Miranda.

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