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O atendimento propiciado por clínicas-escola, também embora o fato de pertencerem ao Sistema Único de Saúde
denominadas serviços-escola, a partir do 12º Encontro de Clí- demande a discussão de uma série de outras.
nicas-Escola do Estado de São Paulo em 2004 (Melo-Silva, Os atendimentos oferecidos em clínicas-escola de psi-
Santos, & Simon, 2005) tem sido alvo crescente de pesquisas cologia incluem, entre outros, triagem, psicodiagnóstico,
e debates (Ancona-Lopez, 1995; Herzberg, 1996, 2007; Ma- psicoterapia individual, de casal, familiar, atendimentos pre-
cedo, 1984; Melo-Silva, Santos, & Simon, 2005; Romaro e ventivos e grupos de espera (Guerrelhas & Silvares, 2000;
cols., 2005; Silvares, 2006). Por estarem ligadas ao contexto Melo, 1999). A triagem constitui, muitas vezes, a “porta de
da universidade, aos eixos de desenvolvimento de pesquisas, entrada” para o encaminhamento dos clientes às outras mo-
formação de alunos e serviços de extensão à comunidade, dalidades de atendimento, tendo, assim, relevante papel em
podem constituir-se em “laboratórios de excelência”. Neste uma clínica, dada sua função de escuta inicial, avaliação e
sentido, investigações que busquem desenvolver meios de encaminhamento. Como ocorre na maioria das instituições
simultaneamente estender o atendimento a um maior número de saúde, a demanda é geralmente maior do que o número
de pessoas e manter sua qualidade podem ser de grande va- de vagas oferecido, havendo rotineiramente pessoas que
lia. Dado o escopo deste trabalho, serão focalizadas algumas não conseguem atendimento (Chammas & Herzberg, 2006;
questões relacionadas ao funcionamento de clínicas-escola, Guerrelhas & Silvares, 2000; Herzberg, 1996; Melo, 1999;
Salinas & Santos, 2002).
Algumas pesquisas apontam resultados sobre o uso da
1 Apoio: FAPESP. As autoras agradecem a colaboração da Equipe Técnica triagem como atendimento clínico inicial (espaço de inter-
da Clínica Psicológica Dr. Durval Marcondes do Departamento de venção), com diferentes abordagens teóricas, utilizando um
Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo, onde a pesquisa foi realizada. O presente trabalho constitui a ou mais encontros (Ancona-Lopez, 1995; Ancona-Lopez,
apresentação e discussão parcial dos dados obtidos em pesquisa de 2005; Agostinho, 2003; Aguirre, 1987; Isaco, Gil, & Tardivo, 2004;
iniciação científica. Salinas & Santos, 2002). Salinas e Santos, por exemplo, re-
2 Endereço para correspondência:
Profa. Dra. Eliana Herzberg. Universidade de São Paulo. Instituto de
alizaram e interpretaram a triagem por meio de referencial
Psicologia. Departamento de Psicologia Clínica. Av. Prof. Mello Moraes, psicanalítico em contexto institucional, a qual denomina-
1721. CEP: 05508-030. São Paulo-SP, Brasil. E-mail: eherzber@usp.br ram Atendimento Imediato de Triagem, apontando que esta
deve ser mais do que a mera coleta de dados para subsidiar destes (Chammas & Herzberg, 2006; Salinas & Santos, 2002,
um encaminhamento, podendo constituir uma proposta de Souza Filho, Oliveira, & Lima, 2006). Quanto às queixas,
intervenção em si mesma. Encontramos eco, nesse mesmo podem ser encontradas discrepâncias entre as queixas mani-
sentido, em autores uruguaios tais como Bonomo, Domin- festas – motivos aos quais o cliente se refere explicitamente
guez e Tortorella (2002) que, ao tratarem de intervenções como aqueles que o levaram a buscar atendimento psicológico
nos diferentes âmbitos da área da saúde mental, enfatizaram – e as queixas latentes – motivos profundos, muitas vezes
a importância das entrevistas de triagem abarcarem dois não-conscientes, que o levaram a procurar este mesmo aten-
processos: a escuta do saber que o cliente tem acerca de si dimento (Ocampo & Arzeno, 1979/1981).
mesmo e o parecer que o psicólogo pode emitir. Salienta- Torna-se imperioso propiciar aos clientes formas de
ram que a entrevista de recepção deveria possibilitar uma atendimento mais ágeis, sem substituir as já consagradas,
aproximação diagnóstica, por meio de uma clarificação da que possam contornar alguns dos inconvenientes existentes
problemática apresentada, e ainda uma elaboração conjun- no funcionamento das clínicas-escola. Ademais, a impossibi-
ta e hierarquizada do saber do consultante, resultando em lidade de suprir a grande demanda e as crescentes dificuldades
um encaminhamento e orientação, no sentido abrangente do financeiras e de locomoção na cidade compõem fatores que
termo. Triagens interventivas também têm sido alvo de dis- remetem à ampliação dos tipos de atendimento e à otimização
cussões no grupo de trabalho Atendimento Psicológico nas dos recursos disponíveis com base na reflexão sobre a orga-
Clínicas-Escola da Associação Nacional de Pesquisa e Pós- nização institucional.
graduação em Psicologia (ANPEPP). Visitas a centros de atendimento e formação profissional
Tendo como temática as entrevistas iniciais, outros pes- que prestam serviços à comunidade, intensificaram a con-
quisadores concordam quanto à necessidade frequente de vicção das autoras de que é necessário ampliar as formas de
abreviar a condução de um processo que à primeira vista atendimento psicológico oferecidas em clínicas-escola. O
assumiria as características de intervenção a longo prazo. projeto “Problemas Conjugais: Atendimento em Psicoterapia
Não se trata de concluir que o problema apresentado seja de Breve”, em andamento na Clínica Psicológica do Instituto
simples resolução ou mesmo que o profissional não esteja Sedes Sapientiae de São Paulo (Hegenberg, 2004), e as con-
detectando um aspecto mais profundo. Trata-se de promover cepções de dois Serviços da Clínica de Tavistock em Lon-
oportunidade delimitada de expressão e possibilitar ao usuá- dres, visitados em 2002, a saber, o Serviço de Consultas para
rio algum tipo de retorno, mesmo que limitado, por parte de Jovens (Young People’s Consultation Service) e o Serviço
um profissional psicólogo (Arzeno, 1993; Herzberg, 1996; para Pais (The Parents Service), tiveram grande influência na
Ocampo & Arzeno, 1979/1981; Verthelyi, 1989). constituição da proposta de triagem estendida (TE) oferecida
A prática tem revelado que, no intervalo de tempo de- pela Clínica Psicológica Dr. Durval Marcondes do Instituto
corrido entre a inscrição na clínica e o atendimento propria- de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Estudos
mente dito, o cliente pode percorrer uma longa e demorada como os de Fiorini (1973/1978), Hegenberg (2004), Simon
trajetória. Não raramente, ao ser atendido, o usuário demonstra (1989) e Wolberg (1965/1979) sobre o desenvolvimento de
que tanto a queixa apresentada quanto sua motivação já são formas de atendimento breve, em vários contextos e com re-
distintas das que originalmente o impulsionaram à busca ferencial psicanalítico, deram substrato à proposta.
pelo serviço (Salinas & Santos, 2002). Alguns dos fatores A proposta consistiu de intervenção em curto prazo
que provocam essa situação indesejável são difíceis, se não com objetivos delimitados, dentre os quais explicitar o mo-
impossíveis, de se contornar. Como escola, a clínica fica tivo da procura, verificar, em termos práticos, a viabilidade
geralmente submetida ao calendário letivo da universidade do atendimento buscado e suprir, mesmo que pontualmente,
e ao tempo necessário para a formação do aluno-estagiário a alguma(s) das demandas destes usuários. Visou oferecer
na aprendizagem de diversas modalidades. A recepção mais atenção ao cliente e também estender a um maior número
estendida ao cliente permite aprofundar os motivos que o le- deles a possibilidade de recebê-la. A fim de pesquisar as
varam a procurar a clínica e verificar o engajamento com o características e a eficácia desta modalidade, realizaram-
atendimento, o que pode contribuir para a redução de desis- se, simultaneamente, atendimentos e um levantamento de
tências e aumentar o número de pessoas contempladas pelo expectativas de clientes em sala de espera (Tognotti &
Serviço, considerando-se que há um melhor aproveitamento Herzberg, 2004).
da relação encaminhamentos/vagas (Herzberg, 1996). O objetivo geral deste artigo é apresentar e discutir uma
A experiência em triagem de entrevista única indica experiência de atendimento a clientes dentro da modalida-
que com frequência o cliente não tem idéia do que seja um de triagem estendida. A evolução de dez atendimentos foi
atendimento psicológico e não chega, necessariamente, com descrita incluindo a análise de suas implicações, tanto para
a expectativa de que este seja mais prolongado. Às vezes, os clientes quanto para a clínica-escola prestadora desse ser-
expressa dúvidas sobre questões de desenvolvimento próprio viço à população. As implicações foram analisadas através
ou dos filhos; outras vezes, está vivendo um momento parti- de indicadores, tais como: adesão às consultas, evolução da
cularmente crítico em sua vida; ou, ainda, afirma ter sido en- queixa, expectativas com relação ao trabalho do psicólogo e
caminhado por terceiros mas não tem muito claras as razões desenvolvimento do atendimento e encaminhamentos.
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Herzberg, E., & Chammas, D. (2009). Triagem psicológica estendida.
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visto que ele esperava um atendimento “mais objetivo”. En- pela triagem estendida. De maneira geral, foi alta a adesão ao
tendeu-se, assim, que aprofundar os motivos de sua queixa, modelo de atendimento em questão, pois foi aceito por todos
naquele momento, seria iniciar efetivamente um processo os excedentes para os quais foi oferecido e observou-se in-
terapêutico, o que não correspondia aos objetivos propostos tensa vinculação dos participantes em relação ao processo.
Tabela 1
Identificação, encaminhamento inicial e final dos participantes
Número de Encaminhamento ao
Participante Sexo Idade Estado civil Origem do encaminhamento
consultas final
Interno
1 M 31 Casado 6 Psiquiatra Psicoterapia
6 (1 mãe, 4 filha, 1 Externo
2 F 12 Solteiro Procura espontânea
mãe e filha) Psicoterapia
Pediatra
Unidade Básica de Saúde,
7 (2 mãe, 1 pai, 2 Externo
3 M 8 Solteiro descontinuou atendimentos
casal, 2 filho) Psicoterapia
psicoterápicos, encaminhou
para Clínica
Quanto à origem dos encaminhamentos neste grupo, outras queixas, compreensão da problemática e discussão de
pôde ser observado predomínio daqueles realizados por ou- possíveis modos de lidar com essa ou outras intervenções,
tros profissionais e/ou instituições, quando comparados ao dentre as quais destacamos as pontuais, ou orientações direti-
número de procuras espontâneas. Nos casos em que a pro- vas, consideradas nos casos de pais que buscavam orientação
cura não foi espontânea, notou-se, tal como o Participante 6 para lidar com a problemática do filho, bem como quando o
citado acima, que a triagem estendida possibilitou esclare- próprio cliente solicitava alguma orientação; (d) finalização
cimento da disponibilidade de dar continuidade a um aten- e/ou observações relevantes, incluindo sensações descritas
dimento. Quanto aos encaminhamentos realizados, um foi pelos participantes e interesse pela continuidade do atendi-
interno e sete foram direcionados a psicólogos cadastrados mento.
pela Clínica (externo), já o atendimento do Participante 4 Com frequência, alguma menção foi feita à figura do
foi finalizado sem encaminhamento, por determinação do terapeuta ou às expectativas com relação ao psicólogo e à
próprio. psicologia de forma geral. As expectativas e a dinâmica da
A Tabela 2 apresenta o panorama resumido de cada relação com a psicóloga puderam ser elaboradas ao longo
atendimento de modo a evidenciar a evolução de cada pro- dos encontros, em especial no fechamento de cada proces-
cesso – estudo de caso. Os dados foram subdivididos em so. Mais de um participante afirmou ter, a princípio, receio
quatro categorias: (a) queixa inicial; (b) expectativas em re- de receber julgamento ou diagnóstico que o rotulasse. No
lação ao papel do psicólogo ou da psicoterapia e aspectos entanto, surpreendeu-se e revelou satisfação com o fato do
relevantes da relação que se estabeleceu com o psicólogo; atendimento permitir a ele ser ouvido, podendo elaborar dis-
(c) desenvolvimento e evolução do atendimento, que inclui cursivamente (conversas, como citado por alguns) suas ques-
aprofundamento da queixa inicial, eventual acolhimento de tões pessoais.
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Herzberg, E., & Chammas, D. (2009). Triagem psicológica estendida.
Tabela 2
Evolução do processo de triagem estendida dos participantes
Expectativas e relação
Participante Queixa inicial Desenvolvimento Finalização e observações
com o psicólogo
Do ponto de vista da diversidade inicial das queixas, atendimento. Em outros momentos, esta pôde ser melhor
verificamos que, embora todos os participantes tenham ma- descrita pelo cliente com exemplos de situações, resgatando
nifestado desejo de ajuda relacionado ao mundo interno e às sentimentos que achasse relevante em sua experiência.
questões de relacionamentos interpessoais, houve predomí- A ampliação da queixa e uma primeira compreensão do
nio do primeiro. Estes tipos de queixas não apareceram de indivíduo em seu contexto e momento de vida ajudaram o
forma excludente, apesar dos clientes abordarem prioritaria- participante a elaborar o que estava vivenciando. Estas elabo-
mente alguma delas, houve em cada caso uma diversidade de rações possibilitaram ao cliente pensar novos modos de lidar
questões elaboradas. com as dificuldades (posicionamentos ou perspectivas de aná-
Uma especificidade dos atendimentos nesta modalidade lise), caracterizando o aspecto clínico interventivo da triagem
evidenciou-se no aprofundamento que pôde ser dado a cada estendida. Cabe lembrar ainda que, para alguns, a experiência
caso no que tange à explicitação de angústias que ficaram de compartilhar e contar com um interlocutor presente e inte-
latentes ou que não puderam ser abordadas (ditas) em um ressado foi ponto relevante de alívio psicológico.
primeiro momento. Na maioria dos casos, a queixa expressa Foi frequente a ocorrência de pedido (implícito ou ex-
no primeiro dia pôde ser elaborada, surgindo outros aspec- plícito) por ajuda ou orientação pontual. Dentre os casos que
tos de dificuldades dos clientes. Por vezes, a queixa inicial tiveram orientação diretiva destacaremos o Participante 3, a
não expressava o conflito vivido (queixa latente), mas algum fim de explicitar um aspecto interventivo possível em tria-
sintoma desencadeador (queixa manifesta) da procura por gem estendida. O participante apresentava medo (do escuro,
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“de monstros”) e ao mesmo tempo reações de imposição e Do ponto de vista institucional, houve recepção ou aco-
controle: determinava regras para as rotinas, tais como, o lhimento imediato da demanda, tendo em vista que os clien-
lugar ocupado pelos familiares dentro do carro, o lugar de tes foram atendidos, em sua maioria, no momento em que
dormir, horários para certas atividades, todos justificados procuraram pela primeira vez a Clínica. A triagem estendida
pelo seu medo. Após o acolhimento do sentimento de culpa caracterizou-se como primeiro atendimento possível de for-
presente nos pais (pelo acidente aos 8 meses), escuta e iden- ma a lidar, em alguma medida, com a angústia do cliente,
tificação de alguns pontos importantes do funcionamento possibilitando uma experiência terapêutica. Esta modalida-
familiar e entrevista com a criança, a psicóloga apontou as- de de atendimento pode ser concluída sem a necessidade de
pectos trazidos por eles que poderiam estar dificultando um encaminhamento, devido a um amplo leque de razões que
funcionamento mais tranquilo da família. Os pais puderam incluem desde o fato do processo ser considerado clinica-
discutir pontos sobre os quais tinham opiniões divergentes mente suficiente, casos em que os clientes buscam orientações
ou em relação aos quais não sabiam como agir, e sobre como específicas, até situações em que os clientes mostram-se
poderiam ouvir os desejos do filho na busca de um rearranjo indisponíveis para uma continuidade. Tais finalizações das
dos limites possíveis. Combinaram entre si algumas novas triagens podem contribuir para a eficiência e otimização do
maneiras de lidar com o filho, ampliando diálogo e entro- funcionamento do serviço como um todo.
samento familiar. Pediram à psicóloga que marcasse a 6ª Tendo em vista os aspectos acima descritos, e em
consulta após 15 dias da anterior, para que tivessem tempo concordância com Bonomo e cols. (2002) e Salinas e San-
para experimentar uma nova rotina, fato decorrido. Relata- tos (2002), verificamos que a triagem estendida cumpre a
ram que apesar do filho ainda solicitar a presença da mãe ao proposta de realizar uma recepção clínica diferenciada e
seu lado antes de dormir, dormia em seu quarto, sem mani- expandida, além de aprofundar a investigação das queixas,
festar medo. No último encontro da psicóloga com a criança, servindo como elemento seletivo à instituição. O maior con-
esta relatou que seus medos haviam diminuído. O estudo e o tato com o cliente permite realizar um encaminhamento mais
acompanhamento, com novas avaliações, poderiam ter apro- adequado, tanto pela clareza que o profissional pode ter so-
fundamentos não cabíveis na triagem estendida, em função bre sua demanda e possibilidades, quanto pela maior ciência
de morarem distante da USP, o caso recebeu encaminha- que aquele pode ter em relação a desejar ou não a continuidade
mento externo. do atendimento psicológico. A triagem estendida permite
Além dos já citados aspectos de acolhimento, de pri- avaliar, em alguma medida, antes de proceder os encami-
meiras compreensões psicodinâmicas e de intervenções nhamentos, as possibilidades psicológicas de vinculação e
pontuais, o atendimento em triagem estendida possibilitou adesão a um atendimento, tais como, distância e meios de
esclarecimentos sobre diversas temáticas, dentre as quais: o transportes, visto que nem todos tinham automóvel ou faci-
papel e a imagem do psicólogo e da psicoterapia, a disponi- lidade de acesso à Clínica. Nestes casos, o encaminhamento
bilidade psíquica necessária para iniciar atendimento, os ti- mais adequado consistiu em dirigir o participante para serviços
pos de atendimentos psicológicos e alternativas práticas para mais próximos a sua residência ou local de trabalho.
sua realização, levando em conta fatores como localização Ressalta-se, por fim, que este modelo de triagem, como
geográfica, disponibilidade de tempo e financeira. Podemos qualquer outro atendimento psicológico, versa sobre uma
citar como exemplo o Participante 4, que não estava dispo- relação particular entre o psicólogo e cliente, produzindo,
nível, naquele momento, para continuidade de atendimento neste sentido, efeitos e significações que não podem ser
psicológico. Neste sentido, a triagem estendida possibilita generalizados. Do mesmo modo, a compreensão obtida no
maior amplitude na avaliação dos clientes para encaminha- decorrer da triagem estendida deve ser considerada em sua
mentos subsequentes. parcialidade interpretativa.
O contato direto com um psicólogo e o diálogo esta-
belecido no transcorrer da triagem estendida foram citados Considerações finais
por diversos participantes como uma experiência relevante
e um modo de vivenciar, ainda que de forma abreviada, o Como se trata de um estudo feito com um pequeno nú-
que poderia ser uma psicoterapia, servindo como uma refe- mero de participantes, faz-se necessário aprofundamento
rência de trabalho e contribuindo na decisão quanto ao per- quanto a vários aspectos. A avaliação da satisfação dos parti-
curso posterior. O processo permite que o cliente explicite as cipantes e um follow-up a médio e longo prazo parecem ser
expectativas (positivas e negativas) com relação ao trabalho essenciais para conferir maior solidez ao desenvolvimento
do psicólogo, possibilitando maior segurança quanto ao seu desta modalidade de atendimento. A formação e treinamento
objetivo de iniciar uma psicoterapia. Na medida do possí- de profissionais também constituem questões importantes
vel, a triagem estendida permite que os encaminhamentos para a realização desta tarefa, que pode em muito contribuir
sejam realizados com uma participação mais ativa por parte como forma de atenção à saúde em um contexto carente de
do cliente na definição de como será a continuidade de seu recursos nesta área.
próprio percurso.
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Herzberg, E., & Chammas, D. (2009). Triagem psicológica estendida.
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Paideia, 19(42), 107-114
Recebido: 07/06/2008
1ª revisão: 21/01/2009
Aceite final: 10/02/2009
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