Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SUSPEITA DO AVESSO
10
11
12
A história deve ser reescrita por cada nova geração, porque se o passado não
muda, é o presente que muda;
cada geração coloca ao passado perguntas diversas,
e ao reviver aspectos diversos das experiências dos seus predecessores,
descobre que tem com estes novos pontos em comum.
Christopher Hill
15
1
António Ramos Rosa, «Todas as possíveis possibilidades», A Pedra Nua, [RSV,
p. 226].
2
«Meu país de palavras...», Nos seus olhos de silêncio, [RSV, p. 169].
16
3
A comunicação intitulada «Experimentalismo, Barroco e Neobarroco» foi apresen-
tada no encontro ESCRIPTURA I COMBINATORIA, realizado em Barcelona em 1991,
e agora incluído in A. Hatherly, 1995: 190. Numa carta de 10 Abril de 1976 enviada a M.
Szabolcsi, Ana Hatherly fala nos mesmos termos do problema: «dans la poésie portugaise
contemporaine, la présence du baroque est un fait indiscutable, et accepté, notamment
par les “expérimentalistes” comme Melo e Castro et moi-même. Mais le phénomène peut
être détecté dans l’ouvre d’autres (et même de la plus part) poètes et prosateurs contempo-
rains», in Espólio de Ana Hatherly, [Res. N57], Biblioteca Nacional de Lisboa.
17
4
Sobre os riscos de inflação do termo, Pierre Charpentrat (1967) incluía ironica-
mente na sua «lista» barroca: o general De Gaulle, a vanguarda literária, a jogada de
um futebolista e as receitas de cozinha. Alguns anos depois, sempre em França, onde a
revalorização do barroco iniciara tarde relativamente a outras culturas, anunciava-se
paradoxalmente a morte da palavra barroco e da moda por ela originada: «Baroque:
mot à la mode dans le année 1950-1960, aujourd’hui veille et remplacé par d’autres
modes, par d’autres mots […] le baroque est mort entre-temps des abuses de langage»
(Dubois, 1973: 9).
18
5
«Più che del ritorno AL Barocco, è opportuno parlare del ritorno DEL Barocco (cosa
completamente diversa). In altre parole, non si tratta di ritornare indietro, in una prospet-
tiva archeologica, nostalgica, è il Barocco stesso che torna» (Scarpetta, 1991: 21).
19
6
Sobre este problema, veja-se P. Francastel, 1945: 208-245; e G. Briganti, 1950:
6-14. Mas sobretudo, acerca do livro de Benjamin e do seu contexto histórico, a leitura
do barroco proposta por Cesare Cases: «[barocco] visto non già come un’allegoria del
presente, ma come una soluzione letterale dei suoi problemi, [esso] poteva diventare un
richiamo alle autorità e alle gerarchie, alla sottomissione e al sacrificio assoluto, alla
vanità della politica e all’eccellenza dell’identificazione mistica, all’accettazione e al
culto della morte» (Schiavoni, 1999: XXII).
20
Agradecimentos
21
Advertência
22
G. Debord7
Aussi bien, ce qui compte, ce ne sont pas les débuts ni le fissù, mais le milieu.
Les choses et les pensées poussent ou grandissent par le milieu, et c’est là qu’il faut
s’installer, c’est toujours là que ça se plie.
G. Deleuze8
7
Debord, 1991: 151.
8
Deleuze, 1990: 219.
9
Para quem, como Deleuze, afirmou que a filosofia sempre consistiu em inventar
novos conceitos, este conceito de dobra aparece como o mais eficaz, o mais operativo,
tanto para caracterizar a vertente barroca da filosofia de Leibniz, quanto para instaurar
relações com a literatura barroca moderna (Deleuze 1988; 1990).
10
Sobre este sentimento de perda, de descentramento barroco entre intérieur
et extérieur, já reconhecível no paradigma religioso e científico de um pensador
como Pascal, Christine Buci-Glucksmann (1985: 174) escreve: «Dans ce monde
sans centre, sans site, sans point fixe de référence, “le centre est partout et la cir-
conférence nulle part”: “le point fixe est devenu point de vue” selon les termes de
Michel Serres».
25
11
Mas veja-se também Hocke, 1989: 221-234. Todavia o princípio de diferença
entre as duas formas geométricas já tinha sido preliminarmente avançado por Heinrich
Wölfflin, 1928,e também por Alois Riegl, 1908.
12
Do carácter de ex-centricidade da subjectividade barroca enquanto subjectivi-
dade da transição paradigmática fala Boaventura de Sousa Santos: «A relativa ausência
de poder central confere ao barroco um carácter aberto e inacabado que permite a
autonomia e a criatividade das margens e das periferias. Devido à sua excentricidade
e exagero, o próprio centro reproduz-se como se fosse margem e se torna mais forte
à medida que nos deslocamos das periferias internas do poder europeu para as suas
periferias externas na América Latina», (Santos, 2000: 331).
13
«Na nossa paisagem literária actual, a descoberta (ou a invenção) do barroco
tem mais importância do que a herança romântica, e o nosso Shakespeare não é o do
Voltaire, nem o de Hugo; ele é contemporâneo de Brecht e de Claudel, como o nosso
Cervantes é contemporâneo de Kafka. Uma época manifesta-se tanto por aquilo que lê
como por aquilo que escreve, e estes dois aspectos da sua “literatura” determinam-se
reciprocamente» (Genette, 1968: 391).
26
27
14
Cfr. para um apaixonado depoimento em primeira pessoa sobre a assim cha-
mada «vuelta a Góngora», as páginas dos «Recuerdos Gongorinos», agora em Dámaso
Alonso, 1976: 309-312.
15
Leia-se como melhor exemplo a sua conferência de 1927 «La imagen poética en
Don Luis de Góngora», Lorca, 1954: 67-90.
28
16
Raimondi sublinha que, no apêndice (imaginário diálogo entre o Editor e o Au-
tor) de La Cognizione del dolore, foi o próprio Gadda que escreveu no seu romance
que a sociedade da segunda metade do século XX estava representada por uma predi-
sposição «al grottesco e al barocco [che] albergano già nelle cose, nelle singole trovate
di una fenomenologia a noi esterna […] il grido-parola d’ordine “barocco è il G!”
potrebbe commutarsi nel più ragionevole e più pacato asserto “barocco è il mondo,
e il G. ne ha percepito e ritratto la baroccagine”», (Gadda, 2000: 198). Cfr. para o
aprofundamento desta relação Dombroski, 2002.
17
Cfr. Camporesi, 1991.
29
18
Umberto Eco, aliás, reflectindo acerca da possibilidade de assimilar os dois
conceitos (com a advertência de não ver na poética barroca uma teorização consciente
da «obra aberta»), cita os estudos pioneiros de Luciano Anceschi sobre o problema da
relação entre Novecento e barroco. O próprio Eco – como dentro daquilo que pode-
mos considerar um grande intertexto – recorda que as investigações anceschianas, pelo
contributo dado a uma história da obra aberta, foram objecto de uma sua recensão ao
livro de 1960 Novecento e Barocco, (Eco, 1960: 445-448).
30
19
Cfr. também Carlos Reis, 1995: 130-132.
31
32
33
Roland Barthes 20
20
Barthes, 1977: 147.
Walter Benjamin21
21
Benjamin, 1984: 63.
37
38
39
22
A tal ameaça está ligado o irónico comentário de Aguiar e Silva que a seguir se
reproduz: «Falar, por exemplo, de barroco, acerca de qualquer texto literário só por-
que nele ocorrem antíteses, equivale a diagnosticar como tuberculose qualquer doença
em cujo quadro sintomatológico se inclua a tosse…» (Silva, 1971: 13).
23
Benito Pelegrin (1983: 17) fazia um irónico compêndio de todas as “orações
fúnebres” por ocasião da morte do barroco, de todos os seus alegados “adeuses”: «On
ne cesse de le répéter: le baroque est mort. Frappé d’un ostracisme persistant en France,
objet de mépris, le catégorie du baroque, venue de l’étranger, s’imposa peu à peu durant
l’entre-deux-guerres pour triompher indiscrètement dans les années 50-60, devenue, de
qualification péjorative, terme superlativement laudatif. “Aimez-vous le baroque? On
en a mis partout” ironise A. Baique «pour déplorer ce “déplaisant” succès” du mot».
Tel autre trouve “laudative mais inquiétante” l’inflation de ce “mot-miracle”, “cliché
emphatique mais appauvrissant”».
40
41
24
Muito conhecida é a afirmação nietzscheana de que: «No domínio da arte a
música foi a contra-Renascença; foi dela que surgiu a pintura posterior dos Carracci, e
talvez dela também o estilo barroco: em qualquer caso, mais dela que da arquitectura
42
43
44
25
Estas mesmas reservas acerca da legitimidade desta passagem estavam ainda ex-
pressas de forma irónica por M. A. Kies, nos finais da década de 50, na linha da total
45
recusa defendida por Curtius: «En définissant le baroque littéraire d‘après le baroque
artistique, on se livre à un jeu d’analogies qui est à la méthode scientifique ce que la
recherche de la pierre philosophale est à la chimie moderne», in «Montaigne e saint
François de Sales sont-ils baroques?», (Sayce, 1973: 43). Mas confronte-se também
Curtius (1992) e Rousset (1954: 8) que se perguntava sobre quais seriam as condições
de um transfer legítimo das artes figurativas para as artes literárias.
26
«Generalizzando si può dire: mentre il Rinascimento si addentrava con amorosa
cura in ogni dettaglio, e si interessava alla sua vita particolare, tanto che l’arte si studia-
va con infinita cura di riprodurre la varietà e di conformare fin nel più intimo il singolo
oggetto, ora ci si allontana dall’oggetto, e non solo si cerca la grandezza nel singolo,
ma si vuole ottenere soltanto un’impressione generale: meno osservazione, cioè, e più
sentimento» (Wölfflin, 1928: 125-126): ao aplicar este esquema aos incipit dos poemas
de Ariosto e de Tasso, explicava a mudança do estado de ânimo de um estilo poético
para outro, com a advertência fundamental na nota de rodapé de que o Marinismo
nada teria a ver com o primeiro período do Barroco.
27
«In Germany the term succeeded because it found a vacuum: terms such as the
first and the second Silesian school, which were used before, were obviously inadequate
and purely external. Baroque has become a laudatory term in the fine arts and could
easily be used for literature which beauties was discovered during the change of taste
caused by expressionism», (Wellek, 1963: 88).
46
47
48
28
«Elaboré en histoire de l’art, le concept fut par le suite transféré en étude litté-
raires, par exemple par Strich (1916), Spoerri (1922), Walzel (1917)», (Moser, 1996:
408). Contudo, para uma lista completa dos nomes e das obras cfr. Wellek, 1963.
49
29
Para a consideração de G. Lukács importa aqui lembrar o que escreveu: «Julgamos
ver cair a máscara do barroco e surgir a caveira do vanguardismo», (Lukács, 1964: 47).
50
Barroco ad aeternum
30
A esta ideia de posteridade, de acontecimento futuro do barroco estão ligadas as
primeiras linhas de Klébaner (1979: 7): «Plus qu’un climat, qu’une culture, le baroque
me semble être une condition, je veux dire un destin».
31
Para uma história do conceito de barroco na música veja-se Beaussant, 1981;
para a questão do neobarroco musical – muito ligada, como veremos com a de um
neobarroco literário – veja-se Deshoulières, 2000.
51
52
rados pelo Renascimento, mas sim uma constante histórica que ressurge fatalmente no
final de todas as culturas, como termo de um processo que se inicia com o arcaico e tem
no classicismo a sua culminação» (Silva, 1996: 454).
33
Como é sabido, a reflexão crociana sobre a poesia e a literatura do século XVII
abrange um longo período: desde a publicação de I trattatisti italiani del concettismo
e Baltasar Gracián, 1899 até aos Nuovi saggi sulla letteratura italiana del Seicento,
1931.
53
54
55
34
«A excepção, a aventura, a evasão são indispensáveis com a plenitude das suas
possibilidades, com a sua riqueza. Convém que, assim como Anteu no contacto com
a terra, a Cultura venha de quando em quando refrescar-se nas águas vivas – vivas e
turvas – do Barroco Carnaval, férias da história» (D’Ors, 1990: 113).
56
35
«A l’image du genre félin (Felix leo, Felix tigris, Felix catus), [d’Ors] donne
au genre Barocchus une série d’espèces (buddichus, rococo, romanticus, vulgaris…).
Pourquoi ne pas continuer la liste, et se demander si n’est pas en train de naître un
Barocchus post-modernus, aux contours théoriques encore indéterminés, mais dont
les multiples manifestations n’échappent pas à l’observateur averti. C’est cela même
qu’induit l’aventure intellectuelle dont il vient d’être question: saisir à l’état naissant
une nouvelle manière d’être-ensemble fonde moins sur la causalité linéaire ou sur une
mécanique extérieure (politique ou économique) que sur une attraction organique à
partir d’images que l’on partage» (Maffesoli, 1990: 154-155).
36
«A história não é unilinear e puramente sucessiva ; pode ser considerada como
uma sucessão de presentes profundamente extensos» (Focillon, s.d.: 102).
57
58
C. Desoulières37
37
Deshoulières, 2000: 71-72.
38
Entre as muitas é de salientar aquela que faz derivar a palavra «barroco» do
nome de Federico Barocci, o iniciador da pintura barroca ou, se se quiser, «para entrar
no campo das etimologias desenfreadas», aquela que se baseia no termo alemão “Pe-
rücke” «peruca», objecto usado na sociedade barroca que, pronunciado em dialecto de
Viena, se aproxima a “Barucken” (Kurz, 1962: 17-18).
39
«Gli scrittori di logica medievale coniarono un numero di parole artificiali che
aiutavano a tenere in mente i vari sillogismi. Oggigiorno i primi due “Barbara, Cela-
rent”, sono i più famosi; vi è però anche un Baroco, come risulta dal I versus memoria-
lis che per molti secoli tutti gli studenti dovevano imparare a memoria
59
60
41
Para o aprofundamento da história “portuguesa” do termo «barroco», cfr. Silva,
1996: 438-444; Butler, 1959: 9 e ss.; Hatzfeld, 1972.
61
62
63
Gregório de Matos
64
65
66
67
43
Cfr. por exemplo, sobre a «teoria da propagação do erro» de Itália para a Penín-
sula Ibérica, Herculano, 1986: 17.
68
44
Mas, pelo menos relativamente a estas literaturas, o juízo de Teófilo Braga (1984:
17), por assim dizer, é mais conciliador: «As liberdades de elocução poética, chamadas
o culteranismo, tanto na Itália, França, Inglaterra e Espanha, que caracterizam o século
XVII não são uma perversão artística mas sim uma reforma ou renovação desordenada
e mal compreendida».
69
45
Múrias, ao declarar que a história do século XVII, e também a de Portugal, está
ainda por fazer, recusa todo o preconceito “jacobino” da decadência da literatura do
século: os Jesuítas, o Index censório (que ele restauraria com todo o gosto), a Inqui-
sição não são incompatíveis com o florescer da cultura. As causas estão algures: e se
também Fidelino de Figueiredo excluíra os jesuítas, o domínio espanhol e a censura
da Inquisição, para explicar que o culteranismo era típico nas literaturas influenciadas
pelo Renascimento italiano (ao contrário do que acontecia com a literatura russa e
húngara que não tinham conhecido esta fase), o próprio Múrias não hesita em falar de
gongorismo em termos de «doença», produto certamente do «desenvolvimento natural
da escola clássica-italiana, com uma incompreensão manifesta do justo equilíbrio das
figuras de retórica que os seiscentistas admiravam nos autores do século precedente,
mas poucas souberam aplicar com medida e bom gosto», mas também de contribuição
para a riqueza da língua nacional: «A língua porém lucrou com a doença porque dela
saiu maleável e dúctil capaz de todos os requintes e pronta a todas as manifestações a
que pretendessem dispô-la […] sendo assim o idioma do Gongorismo um instrumento
muito mais rico, polido, e ágil do que lhe fora legado pelo século anterior», O Seiscen-
tismo em Portugal, Lisboa, 1923, pp. 46-47.
70
71
72
47
«Eis aí os motivos porque da noção de «barroco» nunca quis fazer eu uma
categoria histórica, ligada a uma época, senão que só psicológica (ou estético-psico-
lógica), isto é, uma forma de mentalidade de quem faz arte e letras. Podem aparecer
mentalidades barrocas em todos os momentos da história de um povo: mas topamos
um período em que estiveram em moda, em que se quis ser barroco, – período mais
longo nas nações hispânicas (de 1580, digamos, até 1680) do que no centro e no Norte
do continente da Europa. [...] Tal como o defino, o artista barroco, anti-intelectual e
fraudulento, visa sobretudo a suscitar o espanto, a provocar a estranheza, a deslum-
brar a mente, a realizar «maravilhas»; em suma: a estarrecer o seu público por uma
habilidade estrambótica, – com muita decoração, com muito espectáculo, com muito
rebuscamento, com muito artifício: prestidigitador, contorcionista, todo ornamental,
pirotécnico» (Sérgio e Cidade, 1997: XXV-XVVI).
73
48
Cfr. por exemplo, Oliveira, (1944) e Belchior, (1953: 178), onde a noção de bar-
roco aplicada à poesia portuguesa tem ainda limitações, ou é apenas aceite na acepção
hatzfeldiana de “barroquismo” como mera imitação de Góngora: «Parnaso barroco?
Sim, na medida em que segue e imita a poesia barroca de Espanha; não, se barroco cor-
responde a uma nova mentalidade, a uma atmosfera gnoseológica profundamente aba-
lada por problemas que implicam uma nova maneira de encarar a vida e o Homem».
49
A primeira edição, de 1955, da História da Literatura Portuguesa de A. J. Saraiva
e Ó. Lopes propõe uma divisão com correspondências entre épocas e séculos: Renas-
cença, século XVI; Época Barroca, séc. XVII; etc. Aguiar e Silva notou que a quinta
edição preferia, com um evidente retrocesso, à dicção estético-literária de “Época Bar-
roca” a histórico-política de “Restauração e época joanina”.
74
Antes de mais, uma dicotomia, que tem sido revelada como uma con-
tradição camoniana, entre o senso do real e o senso das formas ideais
válidas por si mesmo no seu contexto lúdico. [...] Em Camões, como
nos outros maneiristas, não há dois estilos. Há, sim, uma dialéctica
entre a realidade vital e a lição intelectual extratável dela, indepen-
dentemente de em Camões, haver, como em todos os grandes artistas,
uma adequação das formas e da linguagem ao tom e ao nível em que,
lùdicamente a criação se coloca. [...] O barroquismo traz a libertação
cultista. Se a vida humana tem uma realidade inescapável, o caso é que
ela se processa no “Grande Teatro do Mundo” (Sena, 1965: 44-47).
75
50
De facto, é de uma pesquisa arqueológica dos precedentes históricos da poesia
experimental (um pouco à maneira de Hocke, mas também de Giovanni Pozzi) que
arranca a recognição mais geral sobre os períodos do maneirismo e do barroco; cfr.
Hatherly, 1979.
76
77
78
Giorgio Ruffolo
81
82
83
84
53
Sem pretender, agora, resolver a inteira problemática, específica da crítica arqui-
tectónica, acerca da relação entre neobarroco e pós-moderno (que ultrapassa o campo
da nossa investigação), pode, todavia, constatar-se que se, por um lado, o neobarroco
dorflesiano tem uma dimensão histórica que o fixa num período, já ultrapassado, do
século XX e, por isso, anterior ao pós-moderno, como julga Calabrese; por outro lado,
o mesmo conceito parece, por assim dizer, “voraz”, de tal forma inclui correntes e
arquitectos da primeira metade do século, mas também o estilo pós-moderno: neobar-
roco aberto, portanto, às possibilidades do porvir. Na premissa do seu livro, Dorfles
frisa que o último grupo de escritos tem a ver com o problema do postmodern e dá
indicações sobre eventuais afinidades entre esta tendência (ou melhor algumas destas
tendências, mesmo distantes, são etiquetadas com esse nome) e o neobarocco: «Mi
guarderei bene dal volere identificare tout court il neobarocco da me difeso sin dagli
anni ’50 con il postmoderno dei nostri giorni. Eppure con le debite riserve circa i molti
limiti e i molti abbagli del postmoderno (o di quanto di solito viene indicato con questo
appellativo) credo di poter affermare come – davvero – esistono alcuni elementi del
postmoderno “migliore”che sono facilmente riconducibili a quel genere di concezione
architettonica che ebbi a definire come neobarocca», (Dorfles, 1984: 7).
85
86
87
54
Cfr. o «depoimento» de Décio Pignatari com o título «Poesia Concreta ou Ideo-
grámica», primeiro testemunho teórico do concretismo publicado em Portugal, Graal,
n.º 2, Junho-Julho de 1956.
55
Paul de Man, na esteira de Striele, explica que: «A palavra “pli” é um dos sím-
bolos-chaves do vocabulário tardio de Mallarmé, demasiado rica para tentar sequer
resumir a série de correlatos semânticos que implica. Striele sugere com razão que um
dos significados se refere ao livro, sendo o “pli” (dobra) a página por cortar que dis-
tingue o volume auto-reflexivo da mera informação contida no jornal não-dobrado e
não-reflexivo», (De Man, 1999: 200-201).
88
89
Les désaccords qui surgissent dans un même monde peuvent être vio-
lents, ils se résolvent en accords, parce que les seules dissonances ir-
réductibles sont entre mondes différents. Bref, l’univers baroque voit
s’estomper ses lignes mélodiques, mais, ce qu’il semble perdre, il le
regagne en harmonie, par l’harmonie. Confronté au pouvoir des dis-
sonances, il découvre une florescence d’accords extraordinaires, loin-
tains, qui se résolvent dans un monde choisi. Cette reconstitution ne
pouvait être que temporaire (Deleuze, 1988: 111-112).
90
91
Jorge de Sena56
56
Fragmento de uma carta enviada a Ana Hatherly dos Estados Unidos e datada de
9/5/1970, in Espólio de Ana Hatherly, [Res. N57], Biblioteca Nacional de Lisboa.
92
93
seulement pour l’heure de ce qui se voit dans tout les églises d’Europe, tout ce qui
s’accroche aux murs, tout ce qui croule, tout ce qui délice, tout ce qui délire. Ce que j’ai
appelé tout l’heure l’obscénité – mais exaltée», (Lacan, 1975 : 105).
94
95
96
97
Não me parece que seja correcto dizer (como está na Introdução, pág.
13) que: «entre as obras dos maneiristas e dos barrocos e as dos poetas
de vanguarda da segunda metade do nosso século» se podem encon-
trar «perturbantes paralelos estéticos e ideológicos».
Parece-me que quanto aos paralelos estéticos não há dúvida. Mas
quanto aos ideológicos é que não. [...] De facto a ideologia da Contra-
reforma não é a nossa hoje nem foi a nossa no período da resistência
à censura do Fascismo – através da escrita e da desconstrução dos
discursos oficiais Impostos.
Parece-me exactamente OPOSTA! Mesmo que alguns frades tenham
recheado os seus panegíricos de subreptícias denúncias. [...]
Julgo que se poderá esquematizar a seguinte evolução:
60
Cfr. Espólio de Ana Hatherly, caixa 8 [Res. N57], Biblioteca Nacional de Lisboa.
98
99
Torquato Accetto61
100
zione, non si concede le facilitazioni della dialettica, e non ha più bisogno di censurare
il barocco», (Guglielmi, 1987: 110).
101
63
«Si el barroco “histórico” vio el mundo como una biblioteca en la que todos los
libros habrían sido leidos, como un teatro en la que cada qual interpreta su papel hasta
el punto de integrar una pragmática del espectador en el drama, el neo-barroco – que
ha perdido además el horizonte del creer – se sitúa de golpe en el terreno de los juegos
de lenguaje, en el sentido de Wittgenstein» (Buci-Glucksmann, 1993: 29).
64
A procura de uma definição da “caótica” socialidade pós-moderna, enquanto
barroquização da existência, baseada na análise da transformação da ética em estética,
leva Maffesoli (1990: 201) a utilizar a noção de “sensibilidade barroca” para explicar
como a existência, considerada integralmente, se pode tornar numa obra de arte: «Les
diverses réincarnations de la sensibilité baroque sont toujours intervenues en période
de turbulence. La nôtre n’y échappe pas. Le passage de la modernité à la postmodernité
102
est l’occasion de nombreuses mises en question de ce qui était jusqu’alors des évidences.
On ne satisfait pas d’une Histoire souveraine et linéaire, le projet politique n’exerce
plus la même fascination, la nature n’est plus ressenti comme la raison ultime de toute
vie en société. Non pas que ces éléments n’existent plus, mais ils ne sont plus pris iso-
lément, ils s’inscrivent dans un ensemble qui dépasse et englobe chacun d’entre eux.
[…] A l’image de l’apparent désordre d’une église baroque toute en or flamboyant, en
frise végétale et en niches de saints, mais dont l’ensemble fait sens, il y a dans la baro-
quisation post-moderne une logique interne qui assure l’équilibre des masses, tribus et
énergies composites. Il s’agit d’un ordre mobile, mais qui tout en étant flexible n’en est
moins particulièrement résistant».
65
Para o sociólogo português, o Barroco, sendo uma metáfora cultural que define
uma forma de subjectividade e sociabilidade, é apenas um dos três tipos (juntamente
com a “fronteira” e o “Sul”) daquilo a que chama subjectividade da transição para-
digmática através da qual «o passado é uma metonímia de tudo o que fomos e não
fomos. E o passado que nunca foi exige uma reflexão especial sobre as condições que o
impediram alguma vez de ser. Quanto mais suprimido, mais presente. A subjectividade
emergente [em particular, aquela barroca, diga-se] é tão completamente contemporâ-
nea de si própria que, tratando o passado como se ele fosse presente, chega a parecer
anacrónica. Podemos falar de anacronismo virtual: o passado que é transformado em
presente é o passado que não foi autorizado a existir. Contudo, o passado é tornado
presente não como uma solução já pronta, conforme acontece na subjectividade reac-
cionária, mas como um problema criativo susceptível de abrir novas possibilidades. O
imperativo, é pois, de desfamiliarizar a tradição canónica sem ver nisso um fim em si
mesmo, como se essa desfamiliarização fosse a única familiaridade possível e legítima»,
(Santos, 2000: 321).
66
«On essaie donc de détacher les matériaux culturels baroques, le plaisir esthéti-
que qu’ils procurent, la fréquentation de textes, la visite des monuments, etc. de ce qui
les aurait conditionnés à l’époque baroque» (Moser, 1996: 411).
103
67
O uso da palavra pós-moderno (o título do sub capítulo é mesmo «Reflexão pós-
moderna») é abolido na terminologia scarpettiana por explícita admissão do próprio
crítico na fictícia «Conversa» de L’artificio (p. 17), em que é lembrada a renovada
necessidade (já exposta, de facto, em 1985) de não “aderir” a semelhante noção. A
contraditoriedade e provisoriedade dos conceitos que pós-moderno acarreta induzem
Scarpetta a escrever que: «il termine, inizialmente, poteva indicare un commiato all’ide-
ologia modernista; ha finito per diventare, per come è stato abusato, una vera macchina
da guerra, diretta non soltanto contro il modernismo, ma anche contro la modernità
in quanto tale». Mais adiante, Scarpetta tenta pelo menos estabelecer uma linha di-
ferencial entre o “seu” neobarroco e a estética de uma “cultura-armazém”, como a
pós-modernista, onde seja possível detectar, nas obras do primeiro tipo, para além
da prática eventual de uma arte “de segundo grau”, «un’esigenza di invenzione, di
stile (là dove il postmodernismo. Come d’altro canto il kitsch, potrebbe definirsi come
l’incapacità di creare uno stile, e la pura sostituzione della citazione all’invenzione)»
(Scarpetta, 1991).
68
«…Gracián fa del poeta latino Marziale un compatriota e un contemporaneo di
Góngora, anche noi possiamo allora considerare Gracián como nostro contemporaneo
o Picasso contemporaneo di Rubens e Velásquez. La storia non è percepita come uno
svolgersi lineare e continuo, ma come una circolarità, come un ritorno nella differenza,
e non nell’identità» (Pelegrin, 1987: 59).
104
69
Moser, ao retomar as análises sobre a «miscigenação» de Janice Theodoro, exa-
mina a prática pós-moderna de retorno do barroco através da fórmula «imitar sem
recordar», típica do artista indígena, que pode copiar – ou melhor, que pode aprender
a copiar – o modelo estético europeu (uma igreja, uma estátua, um soneto) conforme
uma fiel reprodução técnica e formal, embora não possa recordar (no momento da
«descodificação»), porque a sua memória cultural é outra relativamente à aquela do
artista europeu.
70
Cfr. sobretudo as posições “neo-retoricistas” de G. Morpurgo-Tagliabue, 1987;
e de J. Hansen, 1989; 1994. O crítico italiano, depois de ter discutido as diferenças
entre Barroco (falta de distinção opositiva entre campo estético e artístico; mentalidade
normativa, marcada por códigos e preceitos) e Pós-moderno (separação acabada en-
tre artístico/estético; mentalidade constativa moderna e pós-moderna, enquanto total-
mente individual e volúvel, acidental), reconhece que nós, os contemporâneos, somos
herdeiros «legítimos e abusivos» do Barroco: «”legittimi” in sede estetica, illegittimi in
sede “artistica”… legittimi in sede di pulchrum et aptum, abusivi in sede di poësis»,
(Morpurgo-Tagliabue, 1987: 133).
105
106
ci può essere del barocco in qualsiasi epoca della civiltà. Barocco è in-
somma quasi una categoria dello spirito, contrapposta a quella di clas-
sico. […] A me pare che la contrapposizione fra i due termini possa
essere riproposta nell’ambito del gusto contemporaneo, e addirittura
in quello dei giudizi di valore (Calabrese, 1991: 16).
107
71
«È stata la concezione dello “stile” – a me molto familiare da un periodo precedente
– che mi ha impedito per tanto tempo di liberarmi da questa impressione di illimitato plura-
lismo, ma lo ho fatto negativamente, operando sulla base della convinzione che lo stile per-
sonale come tale non fosse più possibile dopo il periodo di regime del soggetto individuale e
accentrato, mentre la riduzione di un intero periodo a un qualche stile generalizzato, come
il barocco o il gotico, mi pareva non solo intollerabilmente idealistica ma anche totalmente
non dialettica; quella concezione in ogni caso non sembrava tenere conto del ruolo svolto
nella produzione contemporanea o postmoderna dal semplice fatto della persistenza stori-
cistica di tutti quei periodi precedenti e dagli stili del mondo fin dentro il nostro presente,
che li applica con un sovrappiù di intenzioni e in una maniera quasi medianica. Il postmo-
derno, in altre parole, veniva definito nella sua stessa costituzione proprio per l’inclusione
di tutti quegli stili possibili e quindi per la sua stessa incapacità di essere caratterizzato
globalmente, e dal di fuori, tramite un particolare stile specifico: la sua resistenza, in altre
parole a ogni definizione estetica e stilistica totalizzante» escreve Jameson, The Seeds of
Time, New York, Columbia University Press, 1994 (Ceserani, 1997: 136).
108
72
Escreve Benito Pelegrin (1990: 37): «Quant à la notion encore très discutée et
contradictoire (ou abandonnée) de Post-moderne, si son abandon de la notion de pro-
grès et de linéarité de l’Histoire, si son refus de croire à l’Avant-Guarde et à la nouveau-
té, lui permettent, de se réclamer de catégories anciennes tirées vers le contemporanéité,
par la même, elle se différencie du baroque qui, lui, avait foi en sa nouveauté et dans
le progrès. De sorte que si le Baroque ou le Néo-baroque sont compris dans la Post-
modernité, celle-ci ne peut se résoudre à eux».
109
A CONSTELAÇÃO BARROCA
NA POESIA CONTEMPORÂNEA PORTUGUESA
DOS ANOS 50 AOS ANOS 70
Benito Pelegrin73
73
Pelegrin, 1990b: 85.
74
O crítico italiano evidencia não só a precocidade da data (1884) no uso deste
termo por parte de Menéndez y Pelayo, mas também como se dá a sua transposição
das artes figurativas para a literatura e como a referência ao «barroquismo precioso»
italiano se torna em Espanha numa «monstruosidad pedestre».
75
Para Hatzfeld, o “barroquismo” coincidiria com um hipotético terceiro momen-
to posterior ao Maneirismo e ao Barroco e que se apresentaria como a degeneração
artística deste último, «donde el equilibrio antes existente se hace de nuevo inoperante
y hasta el pensamiento vuelve a ser travieso» (Hatzfeld, 1972: 541).
115
76
Traço esse visível não só na poesia, e talvez constituísse um grande contributo o
estudo comparado entre prosa e poesia sobre a «barroquização literária» em Portugal.
116
117
77
«Quando há trinta anos…», Visão Perpétua, p. 152.
78
Baseado no testemunho de Pedro Tamen que fala de “família barroca” para a sua
poesia e a de alguns companheiros de geração, Fernando J. B. Martinho identifica no
mesmo Tamen, em Amorim, em Echevarría, em M.S. Lourenço, uma comum temática
religiosa (Martinho, 1996: 420). Cfr. para a definição de poesia incluída nesta «cepa
metafísica» Lopes, 1958: 380.
118
119
120
Severo Sarduy79
79
Sarduy, 1999: 1200.
121
122
80
De 1953 é também a publicação de um «Soneto» inédito de Jorge de Lima em
Árvore: Folhas de poesia, vol. II – Primeiro Fascículo, p. 36.
123
124
Sem darem por isso, estes jovens poetas condenaram-se à morte ne-
gando de peito feito aquilo mesmo que julgam consagrar. Tudo esta-
ria certo, porém, se não fosse dado entrever nesse «niilismo poético»
algo de que constitui em toda a forma de niilismo como que uma su-
blimação das próprias fontes da vida. Na atitude dos grandes niilistas,
81
Para J. Gaspar Simões é possível reconhecer uma linha francesa surrealista
(Éluard, Breton, Apolinnaire) e uma “ibérica” no moderno “barroquejar” da poesia
nacional. Esta última, em certo sentido em contradição com a condenação da “não-
portuguesidade” poética (já antes vista), teria correspondência com um «outro jeito
do barroco – um barroco em que realmente me parece participar qualquer coisa de
realmente muito mais nosso, senão de muito mais português, pelo menos de muito mais
peninsular», como em Fernando Echevarría (Simões, 1999: 413).
125
82
Fernando Guimarães tem razão ao sublinhar que o uso simoniano da expressão
“niilismo poético” (mas também se poderá dizer que a categoria «poesia hermética»
foi transposta da tradição crítica italiana, sendo esta uma causa do niilismo) foi apreen-
dido das considerações de um livro de grande sucesso, o conhecido Estrutura da lírica
moderna, de Hugo Friedrich, de 1956. O crítico alemão, de facto, defende a negativi-
dade em alguns aspectos (mais formais do que de conteúdo) da poesia contemporânea
que, na esteira da crítica estilística de Dámaso Alonso, se caracteriza por uma certa
resistência (pelo menos no estado actual) à sua completa definição, a não ser através
da aplicação de categorias negativas. Cfr. Guimarães, 1999: 23-24; e Friedrich, 1978.
É significativo que também Curtius, no fim do capítulo sobre o maneirismo, insistindo
em que o intelectualismo do siglo de oro tem afinidades com a sensibilidade do século
XX, cite entre os exemplos de «maneira moderna» a poesia hermética: «Che cosa è
l’intera opera di James Joyce se non un gigantesco esperimento manieristico? Il gioco di
parole (pun) è uno dei suoi pilastri. E quanto manierismo in Mallarmé! E che affinità
con l’odierna poesia ermetica», (Curtius, 1992: 334).
126
83
Em contrasto com esta posição, leia-se a recensão de 1961 a Voz Inicial de
António Ramos Rosa, onde o mesmo crítico exclui qualquer contaminação barroca
por “óbvias” razões biográficas: «Não é barroco António Ramos Rosa. E, se não é,
deve-o ao facto de ter nascido nas ribas do Atlântico, perto já das costas mediterrâneas,
enamorado de uma claridade solar que dissipa as trevas e se recusa a nebulosidades
comprometedoras» (Simões, 1976: 420).
84
Já em 1958, estes dois nomes, juntamente com os de João Maia e de António Ge-
deão, tinham sido incluídos naquela «tendência para o barroco na poesia portuguesa»,
em que se «dão mostras de um rebuscamento imagístico e de uma compenetração
em elementos dialécticos-formais que evocam épocas em que, à mingua de inspiração
criadora, a poesia preferiu complicar, alindar, gongorizar a sua forma, desdenhando os
caminhos novos e as novas aventuras de espírito» (Simões, 1958: 389).
127
J. de Sena85
85
Sena, 1965: 33-34.
128
86
«Contraponto», in Quarenta Anos de Servidão, Lisboa, Edições 70, 1989, p. 32.
87
[P III, p .222].
88
«Notas a alguns poemas», [P III, p. 261]. O poema deve também ser relacionado
intertextualmente com a comunicação de Sena com o título de «D. Juan, o Duplo, a
Dúvida, e os Arquétipos do Maneirismo», apresentada a “V Congresso da Associação
Internacional dos Hispanistas” em Setembro de 1974 (Sena, 1994).
89
A esta figura é dedicada o poema «Lamento de Don Juan» de Peregrinatio ad
Loca infecta, enquanto ao Hamlet se devem reconduzir o poema homónimo «Hamlet»
de Visão Perpétua, e outras variações sobre o tema: «To be or not to be» do mesmo
livro e «Helsingör» de Exorcismos.
90
Na diferença relativamente às duas duplas, Benito Pelegrin identifica a passagem
«Des mythes aux héros» nos seguintes termos: «Ainsi, Hamlet (1600) et Don Quichotte
ne sont plus des types mais semblent des êtres de chair, dotés d’une existence telle qu’on
129
ne peut ni les confondre ni les répéter sans affaiblissement ou caricature: eux ont mis
entre parenthèses le Ciel ou réglé le problème, et leurs soucis sont terrestres, politiques
ou moraux, non religieux comme pour Faust ou Don Juan. De ne pouvoir vivre sans
rêves, Hamlet se contenterait presque de rêver sa vie, quand le Chevalier à la Triste
Figure s’abandonne à eux et tente de les mettre en pratique sans l’ombre d’un doute.
L’hésitation, le flux de conscience même paralysent le prince dans la durée d’une parole
sans acte, tandis que c’est l’action qui installe l’hidalgo dans le temps de l’Histoire qu’il
veut retrouver de la chevalerie errante. Mais, ne se heurtant pas à la transcendance
comme Faust ou Don Juan, ils demeurant dans une humanité littéraire : cela les exclut
du mythe, qui tient toujours du sacrifice religieux», (Pelegrin, 2000: 417).
91
Como é sabido, a dupla etimologia do verbo errar (com a paronomásia errância/
erro), que antes do século XVI se fazia derivar exclusivamente do verbo latino itinerare
– será influenciada, a partir do século XVI, da interferência semântica do verbo errare:
desde então, “errar” passará a ter o duplo sentido, não só de errância, mas também de
erro (Zumthor, 1995: 200).
130
O livro está na origem das suas procuras e dos seus falhanços, das
suas dispersões. Se, como magistralmente escreveu Walter Benjamin
(1984: 116), «o Renascimento explora o Universo, o barroco as bi-
bliotecas», estas quatro personagens de Sena são o duplo livresco do
real. Bastou-lhes errar a leitura92 de um livro (ou de um monte de li-
vros, todos iguais, como os livros de cavalaria do hidalgo da Mancha)
para descarrilar da identidade para a alteridade, por intermédio de
um terceiro agente oculto (a sabedoria torna-se numa fáustica arro-
gância de adiar a morte, imposta pelo pacto com Lúcifer; a melanco-
lia de Hamlet transforma-se em encenada loucura depois da aparição
do fantasma do pai; a cavalaria, da página escrita, desdobra-se na
realidade da obsessão de Dom Quixote; Don Juan, o «burlador de
Sevilha» é burlado pela estátua do «comendador»):
92
Sobre a passagem de um conceito de leitura enquanto pensum, enquanto obri-
gação, ao conceito de ócio e de agradável passatempo, com toda a carga erótica e
transgressiva que isso implica, leiam-se as considerações de Roland Barthes, que vê
como primeira etapa dessa passagem a aparição do romance de amor ou de cavalaria,
a cuja leitura «Don Chisciotte si consacra spregiando ogni altra attività, [lettura] che
è all’origine delle sue avventure. All’opposto della lettura misurata, disciplinata dei
monaci, quella di Don Chisciotte è una trasgressione, una follia: in quanto tale, è nel
libro di Cervantes condannata da un canonico, rappresentante dell’ordine religioso e
sociale», (Barthes, 1998: 277).
93
Na verdade, utilizámos e adaptámos a Camões os versos de Sena escritos acerca
do príncipe de Venosa, Don Carlo Gesualdo, no poema homónimo «O Príncipe de
Venosa, ou o Epigrama Barroco Alemão» in Visão Perpétua, p. 130.
131
132
94
«O Príncipe de Venosa, ou o Epigrama Barroco Alemão» in Visão Perpétua, p. 130.
133
134
135
136
96
«Ronda europeia, nada sentimental» é composta de treze estrofes, cada uma com
um título; a citada é a estrofe doze «Ontem e hoje», in Peregrinatio, [P III, p. 167].
97
Leiam-se sobretudo os poemas «Roma», «Villa Adriana» de Peregrinatio, «Sen-
hora da Nazaré em Luanda» de Conheço o sal, «Piazza Navona e Bernini» de Exor-
cismos e «Roma no Verão» onde «a gente sua/ barrocamente em cúpulas de igreja»
de Quarenta Anos de Servidão, p. 111, ou ainda os versos (com ecos em Álvaro de
Campos) de «A uma calista de Milão» do mesmo livro: «Para quê obras de arte? Pra
quê a literatura?/ Há sempre em tudo, como nas ruas gloriosas/ da Roma do Império e
dos barrocos papas,/ um vago cheiro a estival merda que se escapa/ dos respiráculos sob
as galerias em que as lojas e bares/ são modern style como a catedral em Milão/ cheia
de agulhas ferroviárias e de confessionários/ para alívio dos borborigmas de alma/ desta
canalha humana esbarroigada ao sol/ de um Verão como que eterno», p.160. Pode fa-
lar-se de um certo “intertexto romano” ou mais geralmente italiano na poesia de Sena,
todavia comum ao de muitos poetas da segunda metade do século XX. A “passagem
em Italia” é um tema glosado por muitos: de Eugénio de Andrade a David Mourão-Fer-
reira, de Ruy Belo até os versos mais recentes de Ana Hatherly (a secção sobre Veneza
de A idade da escrita) mas também presente, por exemplo, em Tolentino Mendonça,
Luís Quintais, António Franco Alexandre, Jorge de Sousa Braga.
137
98
Explica Sena: «[a música] não é uma experiência análoga à das artes visuais ou à
da palavra, que vivem de representações significativas [...]. As formas de expressão po-
dem expressar e até fundir-se em algumas áreas de acção, mas não podem substituir-se
em si mesmas, umas às outras. O que, mais que para outro meio de expressão estética,
é verdade para a música que sempre leva consigo e sempre impõe, por sua mesma natu-
reza, os seus próprios limites», in «Post-Fácio», Arte de Música, [P II, p. 208].
138
139
99
«Homenagem a Baltazar Gracián», Visão Perpétua, pp. 213-214.
140
141
A. Gedeão100
Hoje já não oiço falar em escolas literárias, mas talvez que no futu-
ro se fale delas quando se olhar para trás. Houve-as entretanto nas
décadas anteriores, e a mim já me têm arrumado numa delas, na dos
neo-realistas. Sinto-me apertado nessa arrumação. Pessoalmente vejo-
me entre aqueles para quem as preocupações do mundo a tudo so-
brelevam e que falam de si e das flores nos intervalos que respiram
(Amaral, 1988: 174).
100
«Tempo de Poesia», Movimento Perpetuo, [PC, p. 28]
101
Leia-se o «Poema do Amor», Linhas de força, [PC, p. 132], supremo exemplo
de poesia da poesia, que «o poeta propositadamente escreveu/só para falar de amor,/
de amor,/de amor…Para que um dia, quando o Cérebro Electrónico/contar as pala-
142
vras que o poeta escreveu,/...conclua que a palavra que o poeta mais vezes escreveu/
foi amor, amor, amor.//Este é o poema de amor». Gedeão, em sessenta e nove versos,
repete quarenta vezes a palavra “amor” (ao contar caímos no jogo do poeta), a fim de
parodiar um futurista crítico-Cérebro Electrónico que determine, através da contagem
numérica, a mais importante isotopia poética.
102
Nesta linha parece colocar-se também a leitura de Claro (1983) que fala de
preciosismo do século XVII para composições como «Saudades de Roseta», ou «Esta é
a cidade», onde ele sente ecoar a poesia de Rodrigues Lobo.
143
103
O mesmo juízo, mais tarde retomado, é pelo menos em parte reformulado in
Simões, 1976: 404.
104
Diga-se, de passagem, que a crítica já tinha reparado no facto de os títulos dos
livros mostrarem uma predilecção pelo imaginário barroco, ecoando o metaforismo
daquele universo em Movimento Perpétuo e em Teatro do Mundo.
144
145
146
105
«Poema para Galileo», Linhas de Força, [PC, pp. 123-125].
147
148
106
«Homem», Movimento Perpétuo, [PC, p. 10].
149
107
«Cabeçudos e gigantones», Movimento Perpétuo, [PC, p. 22].
108
«Máquina do mundo», Máquina de Fogo, [PC, p. 88].
150
É necessário tomar à letra o que nos ensina a visão: que através dela
atingimos o Sol, as estrelas, estamos ao mesmo tempo em todo o lado,
tão próximos das distantes como das coisas próximas, e que mesmo
o nosso poder de nos imaginarmos noutro lugar […] de visar livre-
109
«Impressão digital», Movimento Perpétuo, [PC, p. 13].
110
«A visão não é um certo modo de pensamento, ou da presença de si: é o meio
que me é dado de estar ausente de mim mesmo, de assistir de dentro à fissão do Ser, no
fim da qual, somente, me fecho sobre mim» (Merleau-Ponty, 1992: 64).
151
111
«Tempo de poesia», Movimento Perpétuo, [PC, pp. 31-32].
152
(Aliás
o engano, a ilusão,
a mentira, a falsidade,
o perjúrio, a invenção,
tudo, em Amor, é verdade.)113
112
«Tudo é foi», Movimento Perpétuo, [PC, p. 31].
113
«Memória sobre os teus olhos», Linhas de força, [PC, p. 136].
114
Ver, por exemplo, sobre a confiança na humanidade, no progresso das suas
conquistas, um poema como «Poema do homem-rã»: «Eu sou homem. O Homem/ Desço
ao mar e subo ao céu./ Não há temores que me domem./ É tudo meu, tudo meu.», Teatro
do Mundo, [PC, p. 69] mas também «Arma secreta», Máquina de Fogo, [PC, p. 96].
115
Cfr. os poemas «Natureza morta», «Flor de Baunilha», mas sobretudo «Hora
H», onde a referência, embora não explícita, é relativa à tragédia nuclear: «A prima-
vera cheira a laranjas.// (Há umas granadas de mão, redondas e pequenas, a que cha-
mam laranjas.)/ O cheiro das laranjas enche a noite luarenta de mistérios./ (Dizem que
as noites de luar são as melhores para bombardeamentos aéreos).», Linhas de Força,
[PC, p. 146].
153
116
«Enquanto», Linhas de Força, [PC, p. 115].
154
Baltasar Gracián117
117
Baltasar Gracián, Arte de ingenio, Tratado de la agudeza, Edición Emilio Blan-
co, Madrid, Ediciones Cátedra, 1998, p. 140.
157
118
Como é óbvio, de Eco não era citado o livro que viria a ser publicado só no ano
seguinte, mas o artigo «L’œuvre ouverte et la poétique de l’indétermination», saído no
número de Julho-Agosto de 1960 da Nouvelle Revue Française, corresponde grosso
modo ao primeiro capítulo da Opera Aperta, representando o seu impulso originário.
158
159
Barroco este que está longe do conceptismo, pois agora não se trata de
elementos decorativos actuando recìprocamente no espaço fechado do
poema, mas sim muito pelo contrário, os seus valores analógicos têm
uma função estrutural edificando-o como um texto em aberto, que age
num clima fenomenológico e polivalente sobre o leitor, envolvendo-o
portanto no processo da leitura e fazendo dele também o criador da
sua própria leitura do texto. Trata pois de um ressurgimento barroco
que nada tem a ver com as implicações históricas e religiosas do barro-
co do século XVII, mas que dele se pode aproximar crìticamente pela
valorização do elemento lúdico da Poesia, agora e desta vez sob a for-
ma da liberdade imagística, da busca fonética, da pesquisa linguística,
da investigação da estrutura do poético, da reformulação da sintaxe e
do alargamento do âmbito semântico, ou do aumento da temperatura
informacional dos textos (Menéres e Melo e Castro, 1971: XLIX ).
119
Lembrem-se as referências a uma corrente neobarroca feita por Carlo Vittorio
Cattaneo (1975) ou mais recentemente por Fernando Pinto do Amaral: «De qualquer
modo, é ainda nos anos 50 que uma atitude mais esteticizante vai ganhando terreno.
Mantendo-se fiéis aos sentimentos, poetas como Pedro Tamen, Fernando Guimarães,
Victor Matos e Sá, Fernando Echevarría e outros acolhem uma imaginação neobarroca
da linguagem poética, a par de uma lição de despojamento e de atenção à palavra que
vinha já de autores como Eugénio de Andrade e Sophia de Mello Breyner Andresen. Tais
obras reflectirão – de forma quase sempre discreta – esse esforço de depuração verbal de
efeitos pouco espectaculares e nem sempre acessíveis ao comum leitor» (Amaral, 1991).
160
161
121
De Alexandre O’Neill pode lembrar-se, de passagem, um divertido «Elogio Bar-
roco da bicicleta» (no livro A saca de orelhas, 1979): «Redescubro, contigo, o pedalar
eufórico/ pelo caminho que a seu tempo se desdobra,/ reolhando os beirais – eu que era
um teórico/ do ar livre – e revendo o passarame à obra.// Avivento, contigo o coração, já
lânguido/ das quatro soníferas redondas almofadas/ sobre as quais me entangui e boce-
jei, num trânsito/ de corpos em corrida, mas de almas paradas.// Ó ágil e frágil bicicleta
andarilha,/ ó tubular engonço, ó vaca e andorinha, ó menina travessa da escola fugida,/
ó possuída brincadeira, ó querida filha,// dá-me as asas – trimm! trimm! – pra que eu
possa traçar/ no quotidiano asfalto um oito exemplar», in Obra Poética, cit., p. 370.
122
«Note-se que pelos processos e concreções – quer dizer: pelo método de criação
de formas – a poesia de António José Forte é barroca, fragmentária. E objectiva. Cito
Walter Benjamin: “O homem barroco acumula fragmentos”. Porque é precária a sua
noção do tempo. A noção do espaço, essa, é nele dolorosamente aguda. A continuidade
do eu faz-se por inquilinato espacial, por socorro objectivo. Como muita poesia sur-
realista, ou afim, a de Forte molda-se num corpus de fragmentos soldados por pontos
magnéticos de analogia imaginística ou verbal, ou por enlaces rítmicos. É uma colagem
– orgânica – de fragmentos. O continuum, sempre perfeito, denota a ágil intuição dos
recursos de escrita e uma oficina atenta. Poesia com certeza barroca. Quando compare-
ce, o tempo é condição, ou só tradução, tradução obliterada, do espaço. E por regra das
figurações espaciais, directas ou desviadas, desenvolve-se visualmente. Os materiais, e a
norma do seu uso dispõem de textura e espessura objectiva», (Helder, 2003: 13-14)
162
123
«Quase 3 discursos quase veementes», [FD, p. 22].
124
[FD, p. 49].
163
Ah ninguém sabe
como ainda és possível poesia
neste país onde nunca ninguém viu
aquele grande dia diferente127
125
«O grande dia da minha vida: 25 de Abril de 1974, a queda do regime para-
fascista. Chorei como um cordeirinho. E creio que me embebedei» (Fernando Assis
Pacheco, 1995).
126
Pedro Tamen, «Deixámos as paredes…», O Sangue, a Água e o Vinho, [RM,
p. 110].
127
Ruy Belo, «Desencanto dos dias», Aquele Grande Rio Eufrates, [TP, p. 66].
164
128
«A primeira coisa por que devemos lutar é pela confiança nos destinos da poe-
sia, que nós confundimos com o próprio destino do homem. Um dos maiores perigos
que ela hoje enfrenta (perigo, aliás, necessário, pois sem perigo não há aventura poé-
tica) é o que podemos chamar a aventura da pureza poética, a tentativa de criar uma
linguagem onde a poesia cintile em cada palavra, em cada imagem, em cada verso. O
seu hermetismo, que se combate superficialmente, é muitas vezes o nome que se dá à
densidade, à riqueza, à liberdade, à imaginação ou à fantasia; numa palavra ao especi-
ficamente poético» (Ramos Rosa, 1953).
165
166
F. Echevarría129
129
«Reunidos à mesa da paciência», in A base e o timbre, [P I, p. 136].
130
Cfr. Martinho, 1996; mas também (Martinho, 1984: 18) onde, recenseando a
antologia italiana de C. V. Cattaneo, La Nuova Poesia Portoghese, (1975), escreve que
«a nova poesia portuguesa é representada [...] pelo neobarroquismo da geração que se
afirma sobretudo na segunda metade dos anos 50 e que na antologia de Ramos Rosa,
era substanciado por uma Maria Alberta Menéres e um Pedro Tamen, poetas a que, se
fizéssemos um ligeiro recuo temporal, poderíamos juntar Jorge de Amorim (n. 1928),
Fernando Echevarría (n. 1929) e ainda Helder Macedo (n. 1935)».
167
Intimidade exterior,
Pureza de impuras formas,
conhecimento e amor,
água límpida, estertor,
sem regras feita de normas132.
131
O primeiro poema é de Recôndito, [O, p. 41], o segundo de Difícil Passagem,
[O, p. 74].
132
A. Salvado, Difícil Passagem, [O, p. 68].
168
133
«É sempre delicado situar-se. A tarefa incumbe aos críticos. Mas podem, creio,
destacar-se nela dois factos essenciais: a inserção no subsolo longínquo da corrente
simbolista e a abertura à experiência do mundo a partir duma raiz cultural ibérica»
(Amaral, 1988: 178).
134
«A poesia pura (que é de todos os tempos, mas particularmente dos nossos – e
mais será dos futuros...) é imanente e transcendente a todas as coisas. Há certo género
de poesia (melhor: certo género de expressão poética) que tem mesmo as propriedades
ou dotes que a Teologia atribui ao corpo glorioso, ou ressuscitado: 1. Claridade...2.
Subtilidade...3. Agilidade…4. Impassibilidade…são estes os quatro dotes da poesia
pura ou gloriosa», (Amorim, 1956: 114-116).
169
tesouro, maravilha,
amor
– jóias incertas..
Sinto-vos já tão puras, tão amadas,
(Beleza minha eterna!) que parece
que sois como sereis,
que nunca sereis mais – já do que sois!138
135
«Pedra», A beleza e as lágrimas, p. 22.
136
«As Mãos», Ibidem.
137
Amorim fala, nestes termos, de inspiração: «A inspiração não é mais que uma
auto-possessão, ou possessão do próprio espírito alheio. O poeta – in actu – é sim-
plesmente um auto-possesso, ocupado luminosa e exaustivamente, pelo seu mesmo
espírito» (Amorim, 1956: 113).
138
«Beleza minha eterna», Anjos Tristes, p. 112.
170
139
«com um emprego abundante do enjambement [...] e uma técnica fulgurante do
corte do verso que faz do autor de Entre Dois Anjos o poeta que, em Portugal, mais
ousadamente enfrentou, dentro de uma versificação regular, a oposição verso-frase e
sistematicamente pôs em causa o conceito de pausa métrica» (Cruz, 1999: 201-202).
171
140
«Se ao fim que houvesse…», Sobre as horas, [P I, p. 114].
141
«Dentro da nossa sombra», ibidem, [P I, p. 111].
142
Cfr. (Villas-Boas, 1999) para uma leitura neobarroca, baseada na terminologia
conceptual deleuziana, da poesia de Echevarría e nomeadamente de Media Vita (1979).
172
Por vezes, como se fosse uma espécie de espiral, este mesmo ver-
so neutraliza-se na tensão dos opostos («Descalça de viver, andava
sempre./ Enchia a rua quando não passava/ Mas se passava, desfazia
o tempo/e apagava a rua, os homens e as lágrimas»144). Leia-se um
verso como «A sala está vazia só de entrarmos», onde nesta mestria
de fulminar em palavras o oximórico, de dizer o antitético, é possível
entrever toda uma arte poética que privilegia o «fazer», o construir, a
estrutura poemática e os seus instrumentos, conforme o próprio Eche-
varría escreveu nas suas reflexões sobre o poeta-faber (Echevarría,
1961), ou apenas, evidenciando a isotopia «laboratorial» dos títulos
dos seus livros, que remetem para a ideia de trabalho e de formali-
zação líricas como acontece em Ritmo Real, A base e o timbre ou no
mais recente (e ficticiamente “didáctico”) Introdução à Poesia (2001).
Desde os seus primeiros livros, a contínua pesquisa de Echeverría so-
bre a linguagem, metonímia da mais extensa investigação sobre a pa-
lavra, subverte qualquer tipo de linearidade discursiva, sem que por
isso essa resulta na sua única finalidade, mas apenas consequência da
sua poesia. Em suma, para além de qualquer agrado estético que, a
existir, não pode senão ajudar estes versos, a retoma barroca de toda
aquela série de artifícios estilísticos, formais, retóricos, é sobretudo
uma declaração da dificuldade do poeta em dominar a matéria, em
ultrapassar as aporias intrínsecas aos próprios nós temáticos eche-
varrianos, como a contiguidade de amor profano e de amor divino
(«Fizeste o coração de estar aqui,/ uma língua de amor, pétala vas-
ta/ de queimado deserto, que se arrasta/ pela ardência da areia para
143
«Procuramo-nos onde mover-se...», Sobre as horas, [P I, p. 113].
144
«Descalça de viver», ibidem, [P I, p. 89].
173
145
«Noite Escura», Tréguas para o amor, [P I, p. 63].
146
«Correspondência», Entre dois anjos, [P I, p. 17].
147
«Abraço», ibidem, [P I, p.15].
148
«A morte na morte...», Media Vita, [P I, p. 178].
149
«Não porque a morte na morte», ibidem, [P I, p. 179].
174
150
«Benzo-me em nome...», A Base e o timbre, [P I, p. 143].
151
Na base dos indícios disseminados pelo poeta, este ensaio tenta circunscrever
toda aquela constelação de influências reconhecíveis na formação poética echevarriana,
salientando em particular a função desempenhada pela genealogia “ibérica”: «A matriz
da poesia de Echevarría é essencialmente hispânica […] Um estudo aprofundado dos
seus primeiros livros permitiria ver o que neles resulta de uma confluência da vertente
ascética e mística da poesia espanhola (San Juan de la Cruz e Santa Teresa de Jesus)
com a vertente conceptista e cultista dessa mesma poesia (de Luís de Gôngora aos
poetas da “Geração de 1927” que o revalorizaram). Mas não podemos deixar de evo-
car os nomes de outros grandes poetas de língua castelhana, mais sintonizados com
uma poética romântica ou metafísico-existencial, que poderão ter marcado Fernando
Echevarría: Gustavo Adolfo Béquer e o “seu inefável sonhado”, António Machado e
seu lirismo essencialista, Juán Ramón Jiménez e o seu metaforismo concentrado, Pedro
Salinas e o seu conceito de “poesia total”, Jorge Guillén e a sua “poesia pura”, Dámaso
Alonso e a “claridade fervorosa da poesia» (Reynaud, 2001: 20).
175
Quem me dirá
quem guardará meu silêncio
no fundo do poço inaudível
sem bordas ou caldeiro que traga
à superfície
o branco disco da lua
que se repete e ondula?154
152
É preciso não esquecer que o último número da revista Folhas de poesia presta
homenagem a Ângelo de Lima, o poeta de inspiração decadentista-simbolista de Or-
pheu, com a publicação de alguns dos seus textos mais significativos: para a redesco-
berta deste poeta, contribuirá, passados alguns anos, também o grupo de Po.Ex., ao
incluir Ângelo de Lima numa alegada arqueologia experimental.
153
«Conclusão», A flor e a noite, [O, p. 9].
154
«Fábula», Recôndito, [O, p. 29].
176
P. Tamen155
155
«O último não entra...», Esparsos, [RM, p. 677].
156
«Desde cedo grande parte dos críticos acentuavam esse lado do jogo ou me
chamavam barroco usando a palavra em sentido pejorativo ou acentuavam o lado
hermético daquilo que eu escrevia» (Tamen, 2002b: 25).
177
157
O próprio Pedro Tamen refere-se ao barroco na sua poesia, falando da afinidade
que ligaria Proust (cuja Recherche foi traduzida pelo poeta) com uma «visão barroca»:
«isto é, o gosto por ver as coisas de vários lados e de vários lados ao mesmo tempo, e de
olhar para uma realidade que no fundo não se esgota nunca e que tem sempre facetas
que não acabamos de indicar ou de descrever», (Tamen, 2002a: 12).
158
É significativo que o primeiro livro de Tamen tenha como epígrafe os versos
a lo divino do poeta brasileiro da Invenção de Orfeu: «Nem sei dizer se esse mudado
verbo,/ nem sei dizer se essa gaguez furiosa,/ essa rosa de vento que é meu berro/ se
tornou uma asfixia de Teu perro/ –canto com que louvar-Te, canto-chão,/ nessa Tua
divina ventania».
178
159
O barroco da lírica de Pedro Tamen tinha já sido oportunamente apontado por
Joaquim Manuel Magalhães, ao evidenciar os traços de renovação estilístico-formal
e estrutural em geral: «Os suportes principais dessa renovação discursiva em Pedro
Tamen são o regresso a uma atenção ao verso enquanto unidade principal do discurso
do poema, o recurso a processos retóricos ampliadores do sentido e distorsores da
linearidade frásica ou rítmica [...], a recuperação da prática conceptual que traz para
o centro da preocupação poética uma certa tradição barroca sem vocação excessiva-
mente maneirista» (Magalhães, 1981: 186).
179
Se me escolho me encolho,
e passo ao limbo
fácil e solerte onde me tolho,
onde me nimbo163
160
«Porque, se amanhã…» in Primeiro Livro de Lapinova, [RM, p. 155].
161
«E agora que não tenho mais nada…» in Daniel na cova dos leões, [RM, p. 273].
162
Poemas a Isto, [RM, p. 198].
163
«Internato», Poemas a Isto, [RM, p. 177].
164
«Perto de Lapinova» in Primeiro Livro de Lapinova, [RM, p. 131].
180
165
Um dos exemplos mais paradigmáticos encontra-se no último verso desta «dé-
cima» de quinários – diga-se desde já, muito revelador do gosto ibérico-seiscentista –,
onde à negação («não») se segue um inesperado substantivo («estrada»), produzindo
um invulgar efeito de estranheza: «Futuro lenço,/ coelha arada, quando te penso/ não
penso nada/ – enxugo a sombra/ de um girassol,/ atiro um braço,/ pressinto o trigo;/
não penso, faço,/ não estrada, sigo», «Versos para o primeiro poema» in Primeiro
Livro de Lapinova, [RM, p. 132].
166
«Assim moído, gasto…» in Daniel na cova dos leões, [RM, p. 222].
181
167
E, acerca da tortuosidade enquanto mecanismo mental característico do autor,
diz Tamen: «E a palavra tortuosidade é bem utilizada. É um expediente de desespero. É
um desejo desesperado de encontrar a expressão, a forma, aquilo que diz efectivamente
o que eu gostaria de dizer. [...] Essa procura incessante da palavra exacta – sempre
impossível e sempre fugidia – é uma característica minha. Por isso eu às vezes me refiro
aos barrocos como meus parentes, porque de certo modo, o que é o trompe-l’oeil senão
a procura de algo que não está lá mas que se procura mostrar se lá estar?» (Tamen,
2002b: 20).
168
«(Redond/Ilha)» in Escrito de Memória, [RM, p. 283].
182
169
«Se dia, porque dia, como dia» in Primeiro Livro de Lapinova, [RM, p. 134].
170
«Aos que nasceram hoje...» in O Sangue, a Água e o Vinho, [RM, p. 117].
183
171
«Por me dizeres o nome…» in Escrito de Memória, [RM, p. 282].
172
Como acontece na esplêndida «Vou a Praga à boleia, meu amor», onde o tempo
do amor não é apenas o futuro e o presente, quanto também o intervalo entre os dois:
«Vamos a Praga os dois a pé-coxinho./ Eu brinco no teu peito, tu nos dedos/ de mim
calhados com que te encandeio. Temos nozes e pão, agudo vinho,/ bocas de carne,
matas sem enredos,/ o tempo todo à frente, e o do meio», [RM, p. 382].
173
Uma das três secções do livro Agora, Estar (1975) intitula-se significativamente,
«Os pronomes pessoais e outros poemas».
184
174
«Agora me esperas…» in Primeiro Livro de Lapinova, [RM, p.163].
185
186
175
«Quase não há palavras necessárias» in A Palavra imperceptível, [PE, p. 57].
176
«A palavra» in O Robot sensível, [PE, p. 145].
187
Tapete mágico
rápido
Este mindo sobre o mundo,
não rolando não parado
tapete mágico
rápido
sobre o desespero e o mundo
onde as árvores
são aves
onde as raízes são nuvens
onde os homens são vorazes
e insaciáveis de lumes
e de rapinas
sem aves. [PE, p. 13]
188
189
177
Ó Serdespanto, Almada, Íman Edições, [2001], p. 9.
190
191
178
«Penso numa linguagem...» in Nos seus olhos de silêncio, [RSV, p. 179].
179
Cfr. o exemplo de «Da grande página aberta do teu corpo»: «Da grande página
aberta do teu corpo/ sai um sol verde/ um olhar nu no silêncio de metal/ uma nódoa
no teu peito de água clara// Da grande página aberta/ sai a água de um chão vermelho
e doce/ saem os lábios de laranja beijo a beijo/ o grande sismo do silêncio/ em que
soberba cais vencida flor», ou em «Entre o papel e as árvores»: «Entre o papel e as
árvores, no apoio frontal do ar visível, vazio, vento, vocábulos, breves incoerências, ar
no ar», in Clareiras, [AP, p. 242].
192
180
«Um caminho de palavras» in Sobre o rosto da terra, [NPAC, p. 185].
181
«Fronte ou limiar» in A Pedra nua, [RSV, p. 229].
193
182
«O papel, a mesa, o sol, a pena…» in A construção do corpo, [RSV, p. 31].
194
183
«Estou vivo e escrevo sol» in Estou vivo e escrevo sol, [AO, p. 123].
195
196
197
186
«Telegrama sem classificação especial», Viagem através duma nebulosa, [NPAC,
p. 49].
198
De escadas insubmissas
de fechaduras alerta
de chaves submersas
e roucos subterrâneos
onde a esperança enlouqueceu
de notas dissonantes
dum grito de loucura
de toda a matéria escura
sufocada e controlada
nasce o grito claro [NPAC, p.57];
187
«O Único Sabor» in Voz Inicial, [NPAC, p. 53].
199
188
A pesquisa acerca dos mecanismos da criação e da comunicação, subjacentes
em todo o acto poético, com o relativo estudo sobre a materialidade da escrita, da
caligrafia, da leitura, da iconografia, torna-se, como veremos, uma das vertentes fun-
damentais da reflexão da Vanguarda Experimental e nomeadamente de Ana Hatherly.
É sabido que o próprio Ramos Rosa participou no primeiro (1964) dos dois números
dos Cadernos da Poesia Experimental.
200
201
189
«Daqui deste deserto em que persisto», in A Nuvem sobre a página, [AP,
pp.160-162].
202
Ana Hatherly190
190
«Texto para a génese do eros frenético» in Anagramático, [CI,
p. 176]
205
206
192
«Que é voar», in Um Ritmo Perdido, [P, p.24].
193
«A Corrida em Círculos», in As Aparências, [P, p. 27].
207
Chorando, me alegro
E sofrendo, embeleço
Entendendo a ordem
Oculta e evidente:
Ou amo e morro
Ou vivo e não amo.194
194
«O Regresso, II» in A dama e o cavaleiro, [P, p. 38].
195
Como simples informação, e por uma daquelas correspondências “casuais” no
intertexto neobarroco, podemos recordar que Gillo Dorfles organizou o volume de
versos de Salette Tavares publicado em Italia, Lex icon, 1977, a cura di Gillo Dorfles,
Trad. it A. Aletti.
208
Entorna
deita
verte
na minha orelha uma centelha vermelha.
Palavra
vinho
brasa
procissão,
livre, serena invasão
sob as nossas mãos em asa. [OP, p. 26]
209
Aqui me encontrarás
dormindo-me silêncio
no fumo que os telhados
perfumam de pinheiro,
aqui me encontrarás
e a lua no meu ombro
vermelha do ardor
meu sangue companheiro.
Eco que eu sou
na morte de uma era
aninham os meus braços
outonos de fulgores
e os pássaro da noite
em seus olhos de espera
escutam o arfar
do perfume das cores. [OP, pp. 58-59]
196
«Manada dos espaços que circundais o mundo», in Espelho Cego, [OP, pp.
47-49].
210
197
«É sempre difícil dizer concretamente, em poucas palavras, “foi por esta razão
ou foi por este caminho”; as coisas nunca são tão simples como isso. A verdade é que já
nos anos 50 me interessava bastante pelos problemas da Poesia Experimental e escrevi
mesmo um artigo publicado em Lisboa em 1959, sobre a Poesia Concreta», escreve
Ana Hatherly, referenciando o seu artigo saído no Diário de Notícias com o título «O
idêntico inverso ou o lirismo ultra-romântico e a poesia concreta», onde tinha apare-
cido, da mesma autora, o primeiro texto de poesia declaradamente concreto; cfr. com a
primeira citação e o artigo, (Ana Hatherly e E. M. de Melo e Castro, 1981: 19 e 91-94).
Cfr. também, acerca dos antecessores “concretos” na literatura portuguesa, (Martinho,
1996: 446), onde é lembrada a proposta antecipadora de um texto com características
concreto-visuais de Jaime Salazar Sampaio, incluído em Poemas Propostos (1954).
211
198
«A verificação da coincidência de vários processos criativos entre algumas cria-
ções poéticas barrocas e as actuais, foi o que levou os Experimentalistas mais conscien-
tes a defender os vilipendiados poetas barrocos (autores de textos-visuais e não) e a
adoptarem, como singular signo da sua ruptura, a defesa da tradição maneirista e bar-
roca. No número I da Revista Poesia Experimental, de 1964, ao lado de alguns poetas
ilustrativos do mais radical vanguardismo, estão Felix Krull [na verdade, trata-se de
Quirinus Kuhlmann] e Luiz Vaz de Camões, que haveria de ser um dos mestres mais
amados e glosados por Melo e Castro e por mim própria», mas também «Desde o
início, até, do Concretismo e da Arte Experimental, os Experimentalistas portugueses
estavam interessados na tradição maneirista e barroca. No primeiro número da Poesia
Experimental, sua Revista-Manifesto, ao lado dos vanguardistas de várias proveniên-
cias, havia obras do poeta barroco alemão Quirinus Kuhlman e Luís de Camões, que
viria a ser uma espécie de santo padroeiro de Melo e Castro e meu, e não só» (Hatherly,
1995: 13 e 198).
212
213
214
199
Cfr. Gomes, 1993 para uma aplicação deste princípio à Po.Ex., relacionada res-
pectivamente com os Cancioneiros medievais e a produção portuguesa do Maneirismo
(Camões) e Barroco (textos visuais).
200
«Há, todavia, que se assinalar, para se entender melhor uma tal novação de
gôsto estético, que a atração exercida pelo barroco sôbre a inteligência e a sensibilidade
modernas decorre, sem dúvida, das similitudes e afinidades que aproximam duas épo-
cas cronològicamente distanciadas entre si, dois instantes porém da civilização ociden-
tal que colocam em crise os mesmos valores, dois homens que experimentam com isso
uma análoga perplexidade existencial, duas artes que repercutem em sua linguagem
uma bem parecida pressão de historicidade e uma idêntica instabilidade das formas»,
in «Atualidade e Permanência do Barroco» (Ávila, 1971: 11).
215
201
A própria natureza de indeterminação e de ambiguidade apela para um fruidor,
o qual, diga-se de passagem, é sempre diferente, para que ajude o autor a “fazer” a
obra. A obra, como nos ensinou Eco, procura o seu fruidor e os seus colaboradores:
o significado da “obra aberta” remete portanto para aquela «possibilidade de uma
multiplicidade de intervenções pessoais», mas que «não é convite amorfo à intervenção
indiscriminada: é o convite não necessário nem unívoco à intervenção orientada, para
nos inserirmos livremente num mundo, que contudo, é sempre o desejado pelo autor»
(Eco, 1989: 89-90).
202
Ana Hatherly, «Prefácio», in CI, p. 8.
216
O poeta é
um calculador de improbabilidades limita
a informação quantitativa fornecendo
reforçada informação estésica.
É uma máquina eta-erótica em que as discrepâncias
são a fulgurância da máquina.
A crueldade elegante da máquina resulta da
competição pirotécnica da circulação íntima
e fulgurante do seu maquinismo erótico.
[...]
Digo com precisão fenomenológica: o maquinal
circula em sua hiperesfera da maneira mais
excêntrica.
Digo
e garanto:
o maquinal absolutamente absorve suas águas
variáveis e isso é o seu amplexo.
[...]
A história agrega a dificuldade essencial
das variáveis e o ensejo das coisas
prática difícil
está para o maquinal como uma indústria apócrifa203
203
«Um calculador de improbabilidades», in Sigma [CI, pp. 61-2].
217
204
«Prefácio», in CI, p. 11.
205
«Tipo A – A descolocação no espaço e no tempo» in Estruturas Poéticas – Ope-
ração 2 [CI, p.75].
218
206
Parece importante salientar o facto deste crítico individuar na poesia concreta a
origem da produção do «acaso» no campo literário, sendo posterior – como sublinha –
ao seu aparecimento na música.
207
«Programa», in Eros Frenético [CI, p.122].
208
Estruturas Poéticas – Operação 2 [CI, p. 71].
219
209
Escreve E. M. de Melo e Castro numa nota ao livro: «1) O Silêncio é barroco. 2)
Assim passei a uma fase de experimentação ainda mais aberta no campo da linguagem,
interessando-me não já a uma projecção do poema em duas ou três dimensões mas
sim a poligonia total da experimentação poética [...]. A recusa de modelos estáticos é
uma dimensão da arte de vanguarda e por aqui se pode fazer uma aproximação com
a dinâmica barroca. É que o barroco tem um significado de dinamização e abertura e
desprende-se do período histórico definido» [T, pp. 495-496].
220
Correr o risco
o risco que se corre
Escorrer o visco
O visco não escorre
risco no risco
visco nu visto
risco corrido
visco fundido
risco avistado
o visco de viver
como se vive
ou também em:
mudar mas que mudança
é ficar ou não ficar ou
mesmo começar ou mudando
ou até mesmo nada acon-
221
po ou de léguas em re-
dor da dor do tempo
so ne to
só neto
som eto
só teto
te so no
se re no
co se no
ti ra no [T, p. 178]
em «Mausoléu»:
MAU SOL EU
AU SO LEUM
U SOL EUMA
MARSUPIAL [T, p. 171]
222
210
O livro está dividido em 8 partes: «Vectores», «Tetraktys», «Séries», «Combi-
natórios», «Cânones», «Discursos», «Silêncios», «Mutatis Mutandis».
211
Situam-se aproximadamente nestes anos (início da década de 60) as primeiras
provas de «literatura combinatória» do OULIPO e seu conseguinte interesse, até à
admiração, pela produção poética barroca.
223
A poesia é um gozo
Um uso sabido
Do erro errado
A poesia é um gozo
e se não o é
a culpa é do vizinho do lado
A poesia é um gozo
de palavras paralelas
daquelas
que não há
A poesia é um gozo
como um osso
encravado
A poesia é um gozo
o leitor
deve sentir-se gozado212
212
«Poética Pícara», in Os Erros de Eros [T, pp. 322-323].
224
213
«aruspicismo», in Os entes e os contraentes [OQI, p. 87].
225
214
Os entes e os contraentes [OQI, p. 87].
226
227
228
229
isto é, não têm de fazer crer ao leitor que aquelas são as únicas
combinações possíveis. O processo de construção combinatória dos
trinta e um tipos legitima-se apenas no momento em que ele é entendi-
do como «aberto», ou seja, o amplo espectro de variações que vai do
menor grau de transformação («Variação I –1.º desenvolvimento do
tema. Discurso sem interferência»215) para o maior: «Variação XXXI
– Variação sobre o 8.º desenvolvimento do tema. Obscurecimento por
logização e submissão formal»
215
«a manhã acontece quando no movimento aparente da sucessão/ dos dias e das
noites a terra de súbito ilumina o sol não/ tão de súbito porém que o dia acontece len-
tamente acontece/ tudo lentamente porém que o dia só de súbito se torna real e súbito/
é tudo o que foi lentamente acontecendo até ao momento de/ explodir em realidade
súbita de súbito é manhã como de súbito...», in Anagramático [CI, p. 197].
230
216
«O movimento da poesia concreta é fundamental para a evolução da leitura na
medida em que contribui para que o texto deixe de ser apenas uma expressão lírico-lite-
231
rária para se tornar por fim uma pura combinação de sinais, estabelecendo desse modo
uma nova trajectória da palavra para o signo» (Hatherly, 1975: 21).
232
233
217
Lembre-se que, pelo menos a nível etimológico, as duas condições básicas para
a existência e actividade de qualquer vanguarda são, segundo Matei Calinescu: «(1) a
possibilidade de os seus representantes serem concebidos ou conceberem-se a si pró-
prios como estando em avanço em relação ao seu tempo (obviamente isto não pode
processar-se sem uma filosofia da história progressiva ou pelo menos orientada para
um objectivo); e (2) a ideia de que existe uma luta feroz que deve ser prosseguida contra
um inimigo que simboliza as forças de estagnação, a tirania do passado, as velhas for-
mas e modos de pensamento, que a tradição nos impõe como grilhões que nos impedem
de avançar», in As cinco faces da Modernidade, cit., p. 112.
218
As palavras de Ana Hatherly, todavia, não estão isentas de uma espécie de repre-
sentação de si (dos expoentes da vanguarda), onde ecoa um certo tom de autocomise-
234
ração: «E os vitupérios com que, sobretudo em Portugal, tem sido acolhida e analisada
a poesia barroca, assim como a poesia de vanguarda, são um digno exemplo de incom-
preensão desse fenómeno, um exemplo gritante da incapacidade de a crítica oficial se
libertar do academismo basicamente burguês, moralista, que exige uma inflexibilidade,
no fundo uma estreiteza de vistas, que exclui a noção de abertura, como foi definida,
por exemplo, por Umberto Eco. A transgressão da moral vigente é característica da arte
de vanguarda, é mesmo seu aspecto fundamental. Quando os poetas de vanguarda se
insurgem contra “a literatura”, insurgem-se também “contra a burguesia”, na medida
em que essa classe, detentora do Poder, cultural, político, religioso, exerce a sua pre-
potência repressiva, escudada na exigência moral, autoritária, paternalista. A poesia
barroca, como a poesia de vanguarda, tem precisamente este aspecto de ruptura com a
moral dominante, que era, esteticamente falando, e na mais rigorosa acepção do termo,
o culto do academismo, da arte moralista e didáctica» (Hatherly, 1979: 103-104).
235
236
219
Cfr. para estes aspectos, A. Hatherly (1983: 13), onde, por exemplo, se fala do
«interesse pelas áreas menos conhecidas da literatura antiga tem sido apanágio de al-
guns poetas experimentais de todo o mundo, inclusive os portugueses e os brasileiros»
que revelaria paralelos estéticos como «a importância do papel desempenhado, então
como agora, pelo conceito de criação artística como acto lúdico, de que deriva o gosto
pela experimentação, e transformação do jogo sagrado em jogo profano, sem que se
perca de vista a sua origem mística ou mágica».
237
238
239
240
220
De facto, já num texto de Ana Hatherly (1995: 13), podemos encontrar uma
referência à arbitrariedade na sobreposição de uma versão pós-moderna de neobarroco
com aquela moderna própria da vanguarda. Ana Hatherly resume desta forma as três
razões que a levaram (juntamente com Melo e Castro) a defender a poesia barroca: «1)
porque ela era condenada pela crítica oficial, e assim, defendê-la era pôr em prática um
programa de subversão; 2) porque se encontravam nos processos de criação barroca –
visual ou não – valores processuais, retóricos e lúdicos que, tendo caído em desuso, à
luz duma nova consideração surgiam como extraordinariamente dinâmicos e belos; 3)
porque encontraram nessas obras paralelos idiossincráticos que ajudam a compreender
algo da nossa estrutura mental e da nossa sensibilidade artística ainda hoje, uma visão
diferente da ideia pós-moderna de neobarroco, que surgiu muito depois» (o itálico é
nosso).
241
242
Eu jogo
eu juro
Eu rezo
eu rio
Adília Lopes221
221
Adília Lopes, César a César, Lisboa, & etc, 2003.
Herberto Helder222
222
«As musas cegas, V», in A Colher na Boca [PTII, p. 77].
223
Magalhães, 1989.
224
«Não consegue ele, para além de um certo barroquismo ou preciosismo, que é o
perigo que o espreita e o grave defeito que num ou noutro passo lhe podemos assinalar,
não consegue, dizíamos, ser ele um dos raros a atingir, momentos de exemplar depura-
ção formal e interior» (Rosa, 1962: 152).
245
225
Gastão Cruz (1999: 106) pretende que do comum substrato da poesia discur-
siva surrealista, seminalmente protagonista da destruição linguística, se irradiem, por
um lado, as brilhantes e vastas arquitecturas frásicas de Herberto Helder e, por outro,
o desmantelamento sistemático dos esquemas lógicos e sintácticos das últimas duas
vanguardas (concretismo e Poesia 61), reservando a Ruy Belo uma terceira solução de
compromisso e síntese entre estes dois tipos de organização da linguagem.
246
226
«Teoria sentada, II», in Lugar [PTII, p.149].
247
227
«As musas cegas, II», in A Colher na boca [PT II, p. 71].
228
Húmus [PT II, p. 286].
229
«O Poema, VII», in A Colher na boca [PT II, p. 39].
230
Poemacto [PT II, p. 101]
231
«Elegia múltipla VI», in A Colher na boca, [PT II, p. 64].
248
232
«Tríptico», in A Colher na boca [PT II, pp. 14-15].
249
250
III
[...]
Penso que deve existir para cada um
uma só palavra que a inspiração dos povos deixasse
virgem de sentido e que,
vinda de um ponto fogoso da treva, batesse
como um raio
nos telhados de uma vida, e o céu
com águas e astros
caísse sobre esse rosto dormente, essa fechada
exaltação.
251
234
«O Poema, I» e «O Poema, III», in A Colher na boca [PTI, pp. 40-41 e pp.
46-47].
235
«IV», in Poemacto [PII, pp. 105-107].
252
236
«Lugar último», in Lugar [PT, p. 140].
253
254
237
«Em 1961 Nanni Balestrini realizou em Milão uma curiosíssima experiência.
Escolhendo alguns fragmentos de textos antigos e modernos, forneceu-os a uma cal-
255
culadora electrónica que, com eles, organizou, segundo certas regras combinatórias
previamente estabelecidas, 3002 combinações, depois seleccionadas. O autor destes
poemas aproveitou da referida experiência o princípio combinatório geral nele implí-
cito. Assim, utilizando um limitado número de expressões e palavras mestras, promo-
veu a sua transferência ao longo de cada poema, sem no entanto se cingir a qualquer
regra. Sempre que lhe apeteceu, recusou os núcleos vocabulares iniciais e introduziu
outros novos que passavam a combinar-se com os primeiros ou simplesmente entre si.
Devido ao uso de restrito número de palavras, as composições vinham a assemelhar-se,
nesse aspecto certos textos mágicos primitivos, a certa poesia popular, a certo lirismo
medieval. A aplicação obsessiva dos mesmos vocábulos gerava uma linguagem encan-
tatória, espécie de fórmula mágica, de que o refrão popular é um vestígio e de que é
vestígio também o paralelismo medieval, exemplificável com as cantigas dos cancionei-
ros» (Helder, 1964: 49-50).
238
Comunicação Académica [PTII, pp. 245-246].
256
257
Ruy Belo240
A minha vida passou para o dicionário que sou. A vida não interessa.
Alguém que me procure tem de começar – e de se ficar – pelas pala-
vras. Através das várias relações de vizinhança, entre elas estabeleci-
das no poema, talvez venha a saber alguma coisa. Até não saber nada,
como eu não sei.
240
Extraído de «Ao correr dos dias» (Belo, 1984: 290) e agora com o título de
«Breve programa para uma iniciação ao canto» [TP, p. 267].
258
241
«Ao lavar dos dentes», in Toda a Terra [TP, pp. 484-486].
259
Árvore-cântaro-âmago-estrela
hera-mênfis-ocre-ontem
e hoje um álamo de uivos
Fui-vos fiel, vogais? Conforme consoante...
Venho da vida e trago uma gramática243
242
Cfr. por exemplo, «Sobre um simples significante», in Transporte no Tempo,
significativa narração em verso do «desconcerto» do poeta perante a diferença entre
signo e significado: o extenuante jogo rímico (todos os versos acabam em “-al”), mais
do que simples suporte formal, remete para o tratamento lúdico, típico da sua poética,
daquela irreduzibilidade semântica das palavras (neste caso, de uma palavra fortemente
conotada como “natal”): «Ainda que me considerem um filólogo profissional/ e tenha
escrito páginas e páginas sobre qualquer fenómeno fonético banal/ não conheço a pa-
lavra».
243
«Certas formas de nojo», in Boca Bilingue, [TP, p. 117].
244
«Enganos e desencontros», in Despeço-me da Terra da Alegria [TP, p.642].
245
«...escrever não constitui nem pode constituir uma profissão. Poeta de profissão
pode sê-lo o paladino dos movimentos literários, não o criador, que às vezes, apesar
disso, é. Não há horário nem remuneração, nem em geral protecção sindical que contem-
260
e vã é a palavra do poeta
se não atenuar a dor da vida e preparar
a serenidade visual visível na iminência do futuro248
ple, esgotando-a, a criação literária. O acto poético não se insere no tempo contínuo,
sucessivo. A duração de um breve mas intenso pensamento talvez equivalha às sete ou
oito horas de trabalho diário previstas pela legislação corporativa», (Belo, 1984: 44).
246
Neste sentido julgamos que devem ser lidas as considerações de Ruy Belo ao
destacar, na poesia contemporânea portuguesa, três correntes: «a do realismo, a da
vanguarda e a daqueles que estão atentos aos problemas levantados por uma e pela
outra mas se empenham sobretudo em solucionar as questões que a sua própria obra
lhe vai pondo», filiando a sua própria obra naquele terceiro grupo que define «dos não
alinhados» (Belo, 1984: 24-25). A este propósito veja-se ainda (Belo, 1984: 248-251).
247
«Primeiro poema de madrid», in Transporte no Tempo [TP, p. 292].
248
A margem da Alegria [TP, p. 421].
261
Iniciar e ficar, iniciar para ficar, para residir nas palavras do po-
ema: é este o convite de Ruy Belo. O dicionário aberto, ilimitado,
representado por esta poesia, regista ou aspira a registar, todas as
palavras que formam a língua (as línguas, melhor dizendo) do poeta.
A aspiração de resolver toda a experiência e todo o conhecimento na
língua, a circunscrever-se a si próprio dentro da construção textual
é evidente na recusa da vida, de cada acção, de cada gesto, de cada
atitude, de cada papel ou exigência que ela comporta («Curriculum
atestado testemunho opinião…/ [...] A mínima palavra não será como
prestar/ em certo tipo de papel qualquer declaração»): viver das pa-
lavras, pelas palavras, incidir a priori o seu próprio epitáfio para ser,
embora inutilmente, lembrado como artesão de versos («Trinta dias
tem o mês/ e muitas horas o dia/ todo tempo se lhe ia/ em polir o seu
poema/ a melhor coisa que fez/ ele próprio coisa feita/ ruy belo portu-
galês/ Não seria mau rapaz/ quem tão ao comprido jaz/ ruy belo, era
uma vez»250).
Se a vida e a biografia do poeta não garantem algum conheci-
mento, algum saber prévio, isso acontece porque toda a arte poética
de Ruy Belo é uma forma de resistência à vida pessoal, às intromis-
sões da realidade e da existência: «perguntam-me quem fui e fico
mudo/ …A minha vida é hoje um sítio de silêncio»: a vida, por se ter
tornado ininterrogável, impede uma qualquer compreensão definiti-
va («não peço nada à vida que a vida era ela/ e que sei eu da vida sei
menos que nada»), ela subtrai-se a uma sua unívoca representação.
Há uma certa calculada predilecção, digamos assim, pela relutância
em Ruy Belo, um prazer de nunca se expor por inteiro, um gos-
to no desfrutar do fluxo barroco dos seus versos, o discursivismo
torrencial, para dizer-se sem realmente se dizer inteiramente, para
mostrar-se ocultando-se, redesenhar-se a cada momento na instabi-
lidade das palavras («Não perguntem quem sou/ neste momento em
que recordo e escrevo»); tal como o homem da “tarde” de «Relató-
rio e Contas» o poeta é, ao mesmo tempo, quem «no maior número
249
«Ce funeste langage», in Boca Bilingue [TP, p. 131].
250
«Cólofon ou epitáfio», in Homem de Palavra(s) [TP, p. 264].
262
251
«Corpo de Deus», in Homem de Palavra(s) [TP, p. 253].
263
264
265
255
«Breve programa para uma iniciação ao canto», in Transporte no Tempo [TP,
p.268].
256
«Pequena História Trágico-Terrestre», in País Possível, [TP, p. 392]
257
«Há muito que considero isto de escrever versos em Portugal como uma fatali-
dade, muito menos grave aliás do que outras que afectam um país que as pessoas, não
contentes de verem já de si pequeno, procuram empequenecer, se possível, ainda mais.
No meu caso pessoal, confesso que, se faço versos, é porque, a bem dizer, não sei fazer
outra coisa, tanto assim que um dos não menores bens que desejo para os meus filhos é
que não se lembrem um dia de cultivar essa doença da linguagem que segundo alguns,
a poesia é», in «Poesia e luta pelo poder» (Belo, 1984: 274).
266
258
«Emprego e desemprego do poeta», in Aquele Grande Rio Eufrates [TP, p.28].
259
«Temos então que a palavra poética supõe a palavra prática [...] A palavra
que na origem, quando nova, foi poética corrompeu-se pela sua ligação à realidade
quotidiana ou às coisas contidas no conceito e pode, num terceiro tempo, voltar a ser
poética mediante a acção artística [...] O que fica debaixo é a palavra lógica e não a
palavra poética, quando esta, como vimos, é a primeira. E, se naquela extensão residia
o primeiro fingimento, reside nesta inversão o segundo fingimento do poeta» (Belo,
1984: 64-65).
267
268
260
«Esta rua é alegre», in Homem de Palavra(s) [TP, p.224].
261
Leia-se pelo menos este passo retirado de uma entrevista: «Odeio os génios,
as obras-primas. Em Fernando Pessoa está tudo. Meu santo Fernando Pessoa. É tão
perigoso, não é? Só conheço um livro mais perigoso. – Qual é? Adivinhe... – A Bíblia»
(Belo, 1984: 36).
262
Cfr. «Necrologia», in Homem de Palavra(s), «Portugal tem nove milhões de ha-
bitantes/ Lisboa talvez tenha um milhão/ Nada disto me pode consolar bem sei/ Morreu
antónio gião/ Eu não o conhecia nunca o conhecerei» [TP, p. 205].
269
263
«Em cima de meus dias», in Boca Bilingue [TP, p.145].
264
«Escrever é desconcertar, perturbar e, em certa medida, agredir. Alguém se en-
carregará de institucionalizar o escritor, desde os amigos, os conterrâneos, os com-
panheiros de luta, até todas aquelas pessoas ou coisas que abominou e combateu.
Acabarão por lhe encontrar coerência, evolução harmoniosa, enquadramento numa
tradição. Servir-se-ão dele, utilizá-lo-ão, homenageá-lo-ão. Sabem que assim o conse-
guirão calar, amordaçar, reduzir», in «Breve programa para uma iniciação ao canto»
[TP, p.267].
270
265
«De como um poeta acha não se haver desencontrado com a publicação deste
livro», [TP, p.186]. Esta confissão escrita em 1978, dez anos depois da primeira edição
do livro, talvez pelo seu tom conciliador parece querer justificar as críticas de Gaspar
Simões feitas à sua poesia irrevogavelmente comprometida no amplo processo de «bar-
roquização» da moderna poesia portuguesa.
271
266
«Saudades de melquisedeque», in Aquele Grande Rio Eufrates [TP, p.46].
267
«Elogio da amada», in Aquele Grande Rio Eufrates [TP, p. 33].
268
«Composição de lugar», in Aquele Grande Rio Eufrates [TP, p. 39].
269
«Jerusalém, jerusalém...ou o alto da serafina», in Aquele Grande Rio Eufrates
[TP, p.76].
272
270
«Imaginatio Locorum», in O Problema da Habitação – Alguns aspectos [TP,
p.105].
271
«Tempora Nubila», in O Problema da Habitação – Alguns aspectos [TP,
p.116].
273
272
«Meditação montana», in Transporte no Tempo [TP, p.324].
273
Cfr. sobre a experimentação formal de tipo barroco no poema longo, leiam-se
estas considerações: «Ao mesmo tempo intervêm, sobretudo em Boca Bilingue, ten-
tativas que se inscrevem na problemática, contemporânea de então, da necessidade
experimental da poesia. A experimentação aí proposta, porém, está sobretudo ligada
ao Barroco peninsular que é uma das grandes influências na sua obra. O jogo concep-
tual e cultista começa a afirmar-se ainda que só em ocasionalidades de versos, e não
extensamente presente ao longo de todo um poema, como será em obras posteriores
(por exemplo, “Agora o verão passado”). As aliterações e as assonâncias acompanham
ritmicamente um encadeado de variações, sobre temas próprios e alheios, onde a pre-
sença de Pessoa se faz sentir, quer no afirmado quer na própria sintaxe» (Magalhães,
1981: 152).
274
274
«Meditação anciã», in Toda a Terra [TP, p.533].
275
275
«Agora o verão passado», in Toda a Terra [TP, pp. 540-544].
276
276
«To helena», in Transporte no Tempo [TP, pp. 312-313].
277
277
«Comovida Homenagem a Jerónimo Baía», in Transporte no Tempo [TP, p.
310]. Em toda a obra (poética e ensaística) de Ruy Belo existem referências à arte e à
poesia barroca, nomeadamente em «O beneficiado Faustino das Neves» ou «O tempo
sim o tempo porventura» de Toda Terra. Sobre a sua inicial desconfiança para com o
termo barroco aplicado a toda a arte em geral do século XVII, veja-se o artigo (1957)
«Roma volta a ser seiscentista. Exposição de pintura e escultura em via nazionale»: «A
designação de barroco, aposta a este período, é pelos menos perigosa e suspeita. Peri-
gosa por reunir tendências tão diversas como as que o século XVII contempla; suspeita
porque proveniente do século seguinte», publicado em Rumo, n.º 2, Abril, 1957, pp.
243-250 e agora em Belo, 1984: 308.
278
279
280
278
«La dissertazione tende sempre a imporre un significato finale: si costruisce un
senso, un ragionamento per concludere, per dare significato a ciò che si dice. Ma il
problema per me è quello di esentare il senso, di colpirlo con una sorta di turbamento»,
(Barthes, 1998: 451).
281
279
«Para além do acentrismo e do cosmopolitismo a forma cultural da fronteira
apresenta ainda outra característica: a dramatização e a carnavalização das formas.
Dado o carácter babélico, assíncrone e superficial das incorporações e das apropriações
forâneas, a forma fronteiriça tende a identificar-se, nessas incorporações e apropria-
ções, com as formas mais do que com os conteúdos dos produtos culturais incorpora-
dos. O substantivismo é residual e consiste no modo como tais formas são vernaculiza-
das. O desequilíbrio entre forma e conteúdo que assim se dá tem como efeito uma certa
dramatização das formas que é também uma certa carnavalização das formas, isto é,
um atitude de distanciação mais lúdica que profiláctica, mais feita da consciência da in-
consequência do que da consciência da superioridade. Nisto reside também o carácter
barroco da forma cultural portuguesa» (Santos, 1999: 146).
282
Ruy Belo280
280
«Da poesia que posso», in Homem de Palavra[s], [TP, p.249].
283
JORGE DE SENA
ANTONIO GEDEÃO
285
Fernando Echevarría
JORGE DE AMORIM
286
PEDRO TAMEN
LIBERTO CRUZ
287
SALETTE TAVARES
E. M. MELO E CASTRO
288
289
RUY BELO
290
Amorim, Jorge
1956 «Notas», in Anjos Tristes, Lisboa, Ática.
Belo, Ruy,
1984 Obra Poética, Org. Joaquim Manuel Magalhães e Maria Jorge Vilar
de Figueiredo, Lisboa, Presença, vol. 3.
291
Conrado, M. Fernanda,
1996 Ekphrasis e Bildgedicht. Processos ekphrásticos nas Metamorfoses
de Jorge de Sena, Dissertação de Mestrado, Universidade de Lis-
boa.
Crespo, Ángel,
1982 «Introducción», in Antología de la poesia portuguesa contempora-
nea, vol. II, Madrid, Ediciones Júcar.
Cruz, Gastão,
1999 Poesia portuguesa hoje (1973), 2ª ed. Corrigida e aumentada, Lis-
boa, Relógio d’Água.
Echevarría, Fernando
1961 «Arte e Ofício», in O Comércio do Porto, 26 de Setembro de
1961.
292
Guimarães, Fernando,
1989 A poesia contemporânea portuguesa e o fim da modernidade, Lis-
boa, Caminho.
1994 Os Problemas da Modernidade, Lisboa, Presença.
1999 «A Poesia de Jorge de Amorim», Tabacaria, n.º 8, Lisboa, Contexto
e Casa Fernando Pessoa, pp. 76-77.
Gusmão, Manuel,
2002 «Para a dedicação de um homem – Algumas variações em resposta
à poesia de Ruy Belo», in Belo, Duarte e Figueiredo, Rute, Ruy Belo
– Coisas do Silêncio, Lisboa, Assírio & Alvim, pp. 115-133.
Hatherly, Ana,
1975 A Reinvenção da Leitura, Lisboa, Ed. Futura.
1979. O espaço crítico – do Simbolismo à Vanguarda, Lisboa, Caminho,
1995 A Casa das Musas, Lisboa, Estampa.
2001 «Entrevista» de Fernando J. B. Martinho, Hablar/Falar de Poesia,
n.º 4, 2001.
Helder, Herberto
1964 «Nota final», in Electronicolírica, Lisboa, Guimarães Ed.
2003 «Nota Inútil», in António José Forte, Uma faca nos dentes, 2ª ed.
aumentada, Lisboa, Pareceria A. M. Pereira, pp. 9-16.
Langerdorff, Matthias,
1991 «Ruy Belo, “Muriel”», As escadas não têm degraus, n.º 4, Lisboa,
Cotovia, pp. 109-127.
Lopes, Óscar,
1958 «Panorama», in Costa Barreto, (Orient. e Org.), Estrada Larga n.º
3, Porto, Porto Editora, pp. 376-384
293
Reis, Pedro,
1998 Poesia Concreta: uma prática semiótica, Porto, Edições da Universi-
dade Fernando Pessoa.
294
Rocha, Clara,
1990 «Prefácio», in Obra Poética de Alexandre O’Neil, 3ª ed. revista e
aumentada, Lisboa, INCM, 1990, pp. 11-28.
Saraiva, Arnaldo,
2001 «A efervescência e a mundivivência da poesia portuguesa da década
de 1960», Poesia Sempre, Revista Trimestral de Poesia, n.º 12, Rio
de Janeiro, Abril de 2001, pp. 187-197.
Serra, Pedro,
2003 Um nome para isto. Leituras da poesia de Ruy Belo, Coimbra-Bra-
ga, Angelus Novus.
295
Tamen, Pedro,
1990 «Auto-retrato», Diário de Lisboa, 30/1/1990.
2002a «Entrevista por Pedro Mexia», DNa, n.º 273, 23/2/2002.
2002b «Entrevista por Carlos Vaz Marques», Ler, n.º 55, Verão 2002.
Villas-Boas, A. J. Leite,
1999 Poesia e Música. O Neobarroco em Media Vita de Fernando Eche-
varría, Dissertação de Mestrado em Estudos Portugueses e Brasilei-
ros apresentada a Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
296
Alonso, Damaso,
1950 Poesia española, Madrid, Gredos.
Anceschi, Luciano,
1953 Del barocco e altre prove, Firenze, Vallecchi.
1960 Barocco e Novecento con alcune prospettive fenomenologiche, Mi-
lano, Rusconi e Paonazzi.
1984 L’idea del barocco. Studi sul problema estetico, Bologna, Nuova
Alfa.
Ávila, Affonso,
1971 O lúdico e as projecções do mundo barroco, São Paulo, Editora
Perspectiva.
Baltrušaitis, Jurgis,
1978 Anamorfoses ou magie artificielle des effets merveilleux (1969); ed.
ut. Anamorfosi o magia artificiale degli effetti meravigliosi, Trad. it.
P. Bertolucci, Milano, Adelphi.
Barraclough, Geoffrey,
1992 Introduction to contemporary history (1965); ed. ut. Guida alla
storia contemporanea, 2ª ed., Trad. it. M. Andreose, Bari-Roma,
Laterza.
Barthes, Roland,
1977 Essais Critiques (1964); ed. ut. Ensaios Críticos, Trad. port. A.
Massano e I. Pascoal, revista por Madalena Cruz Ferreira, Lisboa,
Ed. 70.
1998 Scritti: società, testo, comunicazione, a cura di G. Marrone, Torino,
Einaudi.
Bataille, George,
1967 La notion de dépense, in La part maudite précédé de La notion de
dépense, Paris, Ed. de Minuit.
297
Beaussant, Philippe,
1981 Vous avez dit «baroque»?, Paris, Actes Sud.
Benjamin, Walter,
1984 Ursprung des deutschen Trauerspiels (1928); ed. ut. O drama bar-
roco alemão, Trad. port. Sérgio Paulo Rouanet, São Paulo, Editora
Brasileirense.
Bense, Max,
1974 Aesthetica (1965); ed. ut. Estetica, a cura di G. Anceschi, Milano,
Bompiani.
Blanchot, Maurice,
1955 L’espace littéraire, Paris, Gallimard.
Braga, Teófilo,
1984 História da Literatura Portuguesa (1917), Lisboa, INCM.
Briganti, Giuliano,
1950 «Barock in Uniform», Paragone, n.º 3, 1950, pp. 6-14.
Buci-Glucksmann, Christine,
1984 La raison baroque: de Baudelaire à Benjamin, Paris, Galilée.
1986 La folie du voir, Paris, Galileé.
1993 «La manera o el nacimiento de la estetica», in Barroco y Neobarro-
co, Madrid, Visor.
Bürger, Peter,
298
Calabrese, Omar,
1988 L’età neobarocca (1987); ed. ut. A Idade Neobarroca, Trad. port.
Carmen de
Calafate, Pedro,
2001a «Rétorica e padrões do gosto: o neoclassicismo», in História do
Pensamento Filosófico Português, Dir. Pe-
dro Calafate, Lisboa, Caminho, vol. III.
2001b «As polémicas sobre o passado nacional: a questão do Seiscentis-
mo», in História do Pensamento Filosófico Português, Dir. Pedro
Calafate, Lisboa, Caminho, vol. V.
Calcaterra, Carlo,
1949 «Il problema del barocco», in Questioni e correnti di Storia lettera-
ria, Milano, Marzorati, pp. 405-501.
Calinescu, Matei,
1998 The Five Faces of Modernity (1979); ed. ut. As cinco faces da Mo-
dernidade: modernismo, vanguarda, decadência, kitsch, pós-moder-
nismo, Trad. port. J. Teles de Menezes, Lisboa, Vega.
Calloway, Stephen,
1995 Baroque baroque: the culture of excess (1988); ed. ut. Barocco, Ba-
rocco: la cultura dell’eccesso, Milano, Mondadori.
Camporesi, Piero,
1991 Le officine dei sensi, Milano, Garzanti.
299
Ceserani, Remo,
1997 Raccontare il postmoderno, Torino, Bollati Boringhieri.
Charpentrat, Pierre,
1967 Le mirage baroque, Paris, Minuit.
Chiampi, Irlemar,
1998 Barroco e Modernidade, São Paulo, Perspectiva.
Cidade, Hernâni,
1943 «O conceito da poesia em D. Francisco Manuel de Melo» in Li-
ções de cultura e de literatura, Coimbra, Coimbra Ed., vol. I, pp.
375-391.
1945 «O Século Barroco», in O conceito de poesia como expressão da
cultura, Coimbra, Arménio Amado Editor, pp.112-137.
Cioranescu, Alejandro,
1957 El barroco o el descrubimento del drama, Santa Cruz de Tenerife,
Universidad de la Laguna.
Corominas, Joan
s.d. Diccionario crítico etimológico de la lengua castellana, vol. I, Berna,
Francke, pp. 450-451.
Coutinho, Afrânio,
1950 Aspectos da literatura barroca, Rio de Janeiro, s.n..
Couto e A. Galhardo,
1990 «Moda portuguesa e Sensibilidade barroca», Claro-Escuro, n.º 4-5,
pp. 57-61.
Croce, Benedetto,
1957 Storia dell’età barocca in Italia (1929), Bari-Roma, Laterza.
Curi, Fausto,
300
Debord, Guy,
1991 La société du spectacle (1967); ed. ut. A sociedade do espectáculo,
Trad. port. Francisco Alves e Afonso Monteiro, Lisboa, Edições mo-
bilis in mobile.
Deleuze, Gilles,
1988 Le pli. Leibniz et le Baroque, Paris, Ed. de Minuit.
1990 Pourparlers, 1972-1990, Paris, Ed. de Minuit.
De Man, Paul,
1999 Blindness and Insight, Essays in the Rhetoric of Contemporary Cri-
ticism (1983); ed. ut. O ponto de vista da cegueira, Trad. port. Mi-
guel Tamen, Braga-Coimbra-Lisboa, Angelus Novus & Cotovia.
Deshoulières, Christophe,
2000 L’opéra baroque et la scène moderne, Paris, Fayard.
Dorfles, Gillo,
1984 Architetture ambigue dal Neobarocco al Postmoderno, Bari, Deda-
lo.
D’Ors, Eugenio,
1990 Du Baroque (1935); Ed. ut. O Barroco, Trad. port. Luís Alves da
Costa, Lisboa, Vega.
Palma-Ferreira, João,
1982 Academias Literárias dos séculos XVII e XVIII, Lisboa, INCM.
Dubois, C. G.
1973 Le Baroque: profondeurs de l’apparence, Paris, Larousse.
301
Eco, Umberto,
1989 Opera Aperta (1962); ed. ut. Obra Aberta, Trad. port. João Rodri-
go Narciso Furtado, Lisboa, Difel.
1960 «Recensione a Novecento e Barocco», Rivista di estetica n.º III, pp.
445-448.
Eliot, T. S.,
1992 Ensaios Escolhidos, Selec., Trad. e Notas de M. A. Ramos, Lisboa,
Cotovia.
Focillon, Henri,
s.d. Vie des formes (1934); ed. ut. O Mundo das Formas, Trad. port.
Maria João Lagos Trindade e Alexandre Pinheiro Torres, Porto,
Edições Sousa & Almeida.
Foucault, Michel,
1998 Les mots et les choses (1966); ed. ut. As palavras e as coisas, Trad.
port. António Ramos Rosa, Lisboa, Edições 70.
Francastel, Paul,
1945 L’histoire de l’art, instrument de la propagande germanique, Paris,
Libraire de Médicis.
Friedrich, Hugo,
1978 Die Struktur der modern Lyrik (1956); ed. ut. Estrutura da lírica
moderna: da metade do século XIX a meados do século XX, Trad.
port. Marise M. Curioni, São Paulo, Duas Cidades.
302
George, Waldemar
1929 Le dessin français de David à Cézanne et l’esprit de la tradition ba-
roque, Paris, Editions chronique du jour.
Getto, Giovanni,
1960 «La polemica sul Barocco», in Letteratura e critica nel tempo, Mila-
no, Marzorati, pp. 131-218.
Guerin, Jean
1983 «Errances dans un archipel introuvable. Notes sur les résurgences
baroques au XX siècle», in J. M. Benoist, (Éd.) Figures du Baroque,
Paris, P.U.F., pp. 339-364.
Guglielmi, Guido,
1987 «Barocchi e moderni», Il verri, Milano, Mucchi Editore, marzo-
giugno 1987, pp. 97-110.
Habermas, Jürgen,
2000 Der philosophische Diskurs der Moderne (1985); ed. ut. Discurso
filosófico da modernidade, 3ª ed., Trad. port. A. M. Bernardo et alii,
Lisboa, Dom Quixote, 2000.
Hatherly, Ana,
1979 «Para uma arqueologia da poesia experimental: anagravuras portu-
guesas do século XVII», Sep. Colóquio/Artes, n.º 40.
1983 A experiência do prodígio. Bases teóricas e antologia de textos visuais
portugueses o século XVII e XVIII, Lisboa, INCM.
1995 A Casa das Musas, Lisboa, Ed. Estampa.
1997 O Ladrão Cristalino. Aspectos do imaginário barroco, Lisboa, Cosmos.
303
Hauser, Arnold,
1989 The Social History of Art (1951); ed. ut. História social da Arte e
da Cultura. Renascença, Maneirismo e Barroco, Trad. port. Berta
Mendes, Antonino de Sousa e Alberto Candeias, Lisboa, Vega e Es-
tante Editora, vol. III.
Herculano, Alexandre,
1986 «Qual é o estado da nossa literatura? Qual é o trilho que ela hoje
tem a seguir?» (1834), in Opúsculos V, Org., Introd. e Notas de J.
Custódio e J. M. Garcia, Lisboa, Presença.
Klébaner, Daniel,
1978 L’adieu au baroque, Paris, Gallimard.
Kurnitzky, Horst,
1997 «Barroco y Postodernismo: una confrontación postergada» in Rin-
cón, C. y Schumm, P. (Eds.) Crítica literaria hoy. Entre las crisis y
los cambios: un nuevo escenario. Nuevo Texto Crítico, n.º 14-15,
pp. 355-368.
Kurz, Otto,
1960 «Barocco: storia di una parola», Lettere italiane, ottobre-dicembre,
pp. 415-444.
1962 «Storia di un concetto», in Vittore Branca (a cura di ), Barocco Eu-
ropeo e Barocco Veneziano, Firenze, Sansoni, pp. 15-31
Lacan, Jacques,
1975 Le séminaire, Livre XX, Encore 1972-1973, Paris, Seuil.
304
Lukács, Georgy,
1964 Zur Gegenwartsbedeutung des kritischen Realismus; ed. ut. O sig-
nificado presente do realismo crítico, Trad. Port. Carlos Saboga,
Lisboa, Cadernos de Hoje.
Luperini, Romano
1998 «Introduzione. Due nozioni di canone», Allegoria, n.º 29-30, Paler-
mo, Palombo, pp. 5-7.
Macrì, Oreste
1962 «La storiografia sul barocco spagnolo», in Manierismo, Barocco,
Rococò: Concetti e Termini, Roma, Accademia Nazionale dei Lin-
cei, pp.149-198
Maffesoli, Michel
1990 Au creux des apparences, Paris, Plon.
Marzot, Giulio,
1944 L’ingegno e il genio del seicento, Firenze, La Nuova Italia.
Migliorini, Bruno
1962 «Etimologia e storia del termine barocco», in Manierismo, Barocco,
Rococò, cit., pp. 39-49.
Milizia, Francesco
1822 Dizionario delle belle arti e del disegno, 2ª ed., Bassano, 1822, vol. I.
Mendes, João,
1939-40 «Poesia e Gongorismo», Brotéria, vol. XXIX, 1939, pp. 365-382 e
499-526; e Brotéria, vol. XXX, 1940, pp. 5-26.
305
Moisés, Massaud,
1997 As estéticas literárias Portugal: séculos XIV a XVIII, Lisboa, Caminho.
Morpurgo-Tagliabue, Guido,
1987 Anatomia del Barocco, Palermo, Aesthetica.
Moser, Walter,
1993 «Baroque and Neo-Baroque: The emergence of a postmodern ca-
non» versão inédita e apresentada em forma resumida no Colóquio
promovido pela Universidade de Brasília e publicado com o título:
«Versões do Barroco: moderno e postmoderno», Sociedade e Esta-
do, Revista do Departamento de Sociologia da mesma Universidade,
vol.8, n.1/2, Janeiro-Dez. 1993.
1996 «Le retour du Baroque», in Literatura Comparada: os novos para-
digmas, Actas do segundo congresso da Associação Portuguesa de
Literatura Comparada, Porto, APLC, pp. 405-422.
1998 «Baroque colonial et baroque postcolonial», in Petra Schumm (Eds.)
Barroco y Modernos: Nuevos caminos en la investigación del Barro-
co Iberamericano, Frankfurt am Main, Vervuert, pp. 67-82
Múrias, Manuel,
1923 O Seiscentismo em Portugal, Lisboa, s.n..
Nencioni, Ernesto,
1898 «Barocchismo», Saggi critici di letteratura italiana, Firenze, s.n..
Nietzsche, Friedrich,
1973 Menschliches, Allzumenschliches. Ein Buch für freie Geister (1878);
ed. ut. Humano, Demasiado Humano, Trad. port. de Carlos Grifo
Babo, Lisboa, Editorial Presença.
Orlando, Francesco,
1997 Illuminismo, barocco e retorica freudiana, Torino, Einaudi.
306
Pelegrin, Benito,
1983 «Visages, Virages. Rivages du Baroque. Rives et Dérives», in Be-
noist, J. M. (Éd.) Figures du Baroque, Paris, P.U.F., pp. 17-41.
1987 «Fra Antichi e Moderni. Gracián: dall’Agudeza al Criticón», in Bal-
tasar Gracián. Dal Barocco al Postmoderno, Palermo, Aesthetica,
pp. 55-64.
1990a «Relação entre o Barroco dos séculos XVII/ XVIII e o Neobarroco
do século XX», Claro-Escuro, n.º 4-5, pp. 33-38
1990b «Typologies des écritures baroques» in Le Baroque Littéraire. Thé-
orie et Pratiques, Paris, Fondation Calouste Gulbenkian, Centre
Culturel Portugais.
2000 Figurations de l’infini: l’age baroque européen, Paris, Seuil.
Perniola, Mario,
1981 «Barocco e Espressionismo», in AA.VV, L’espressionismo, Roma,
Newton Compton, pp. 30-37.
1987 «Saperi intermedi», in AA.VV., Baltasar Gracián. Dal Barocco al
Postmoderno, Palermo, Aesthetica, pp. 95-102
Pessoa, Fernando,
2000 «Prefácio à Antologia de Poemas Portugueses Modernos», in Críti-
ca, Lisboa, Assírio & Alvim, pp. 409-410.
Alfredo Pimenta,
1932 História da literatura portuguesa ilustrada, Lisboa, Bertrand, v. III.
Raimondi, Ezio,
1962 «Per la nozione di manierismo letterario», in Manierismo, Barocco,
Rococò: Concetti e Termini, Roma, Accademia Nazionale dei Lin-
cei, pp. 57-79.
307
Reis, Carlos,
1995 O Conhecimento da Literatura, Coimbra, Almedina.
Rincón, Carlos,
1996 Mapas y Pliegues: ensayos de Cartografía cultural y de lectura del
neobarocco, Bogotà, Colcultura.
Rousset, Jean,
1985 La littérature de l’âge baroque en France. Circé et le Paon (1954);
ed. ut. La letteratura dell’età barocca in Francia. Circe e il pavone,
Trad. it. L. Xella, Bologna, Il Mulino.
Runcini, Romolo,
1987 «Le inquietudini del mondo e l’ordine delle acutezze», in AA.VV.,
Baltasar Gracián. Dal Barocco al Postmoderno, Palermo, Aestheti-
ca, pp.75-93
Russo, Luigi,
1990 «Le Baroque: préhistoire du postmoderne?», in Routes de Baroque.
La contribution du Baroque à la pensée et à l’Art Européens, Comu-
nications au colloque de Queluz (Portugal 9-11 novembre) réunies e
publiées par Alain Roy et Isabel Tamen, Lisboa, S.E.C..
Sanguineti, Eduardo,
1987 La missione del critico, Genova, Marietti.
308
Sarduy, Severo,
1999 Obra Completa, edición crítica, G. Guerrero y F. Wahl coordenado-
res, Madrid, ALLCA XX.
Sayce, Richard
1972 «Périodisation du Maniérisme: Quelques réflexions générales», AA.VV.,
Renaissance, Maneirisme Baroque, Actes du XIe stage international de
tour Paris, Librairie Philosophique J.-Vrin, 1972, pp. 43-55.
Scarpetta, Guy,
1985 L’Impureté, Paris, Grasset.
1991 L’Artifice (1988); ed. ut. L’Artificio, estetica del XX secolo, Trad. it.
D. Bellomo, Milano, SuGarco.
Schiavoni, Giulio,
1999 «Fuori dal coro», in Benjamin, Walter, Il dramma barocco tedesco,
Trad. it. F. Cuniberto, Torino, Einaudi, pp.VII-XXXV.
Sérgio, António,
1926 O Seiscentismo, Lisboa, Seara Nova.
1976 «O Reino Cadaveroso», in Ensaios, vol. II Lisboa, Sá da Costa, pp.
27-57.
309
Theodoro, Janice,
1992 América barroca. Tema e variações, São Paulo / Rio de Janeiro,
Nova Fronteira/EDUSP
Varderi, Alejandro,
1996 Severo Sarduy y Pedro Almodovar: del barroco al kitsch en la nar-
rativa y el cine postmodernos, Madrid, Pliegos.
Weisbach, Werner,
1948 Der Barock als Kunst der Gegenreformation (1921); ed. ut. El bar-
roco: arte de la Contrareforma, 2ª ed., Traducción y ensayo prelimi-
nar de E. Lafuente Ferrari, Madrid, Espasa-Calpe.
Wellek, René,
1963 Concepts of Criticism, New Haven and London, Yale University
Press.
Wölfflin, Heinrich,
1928 Renaissance und Barock (1888); ed. ut. Rinascimento e barocco,
Trad. it. L. Filippi, Firenze, Vallecchi.
1984 Kunstgeschichtliche Grundbegriffe (1915); ed. ut. Conceitos fun-
damentais da História da Arte, Trad. port. João Azenha Júnior e
Marion Fleischer, São Paulo, Martins Fontes.
Zumthor, Paul,
1993 La Mesure du monde. Représentation de l’espace au Moyen Âge,
Paris, Seuil.
310
SÉRIE QUASAR
EXISTE UMA LINGUAGEM POÉTICA? SEGUIDO DE OBRA E INTERTEXTUALIDADE
Karlheinz Stierle
Tradução de Rui Mesquita
VINCENZO RUSSO
www.quasi.com.pt
quasi@doimpensavel.pt
TEL. 252 371 724
FAX. 252 375 164