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Administração

Financeira
Prof.ª Thaís A. Santos

2020/2
Unidades de ensino

1. Introdução às Finanças Corporativas


▪ Evolução histórica da administração financeira
▪ Papel da administração financeira, objetivos, inter-relação
com outras ciências
▪ As decisões financeiras
▪ Posicionamento das empresas no ambiente financeiro
nacional
Unidades de ensino

2. As decisões financeiras e a contabilidade


▪ Evoluções recentes no âmbito da contabilidade
▪ Demonstrações financeiras
▪ Estrutura das principais demonstrações financeiras
▪ Análise de demonstrações financeiras
▪ Análise horizontal e vertical
▪ Índices econômico-financeiros
Unidades de ensino

3. Finanças a curto prazo


▪ Administração do capital de giro
▪ Conceitos
▪ Cálculo e análise do capital circulante líquido
▪ Ciclos operacional e financeiro
▪ Administração de caixa
Unidades de ensino

3. Finanças a curto prazo


▪ Fluxo de caixa
▪ Ciclo de caixa
▪ Caixa mínimo operacional
▪ Custo de oportunidade
▪ Estratégias de administração de caixa
Unidades de ensino

3. Finanças a curto prazo


▪ Administração de duplicatas a receber
▪ Conceito, política geral de crédito
▪ Administração de estoques
▪ Modelo Dinâmico
Unidades de ensino

4. Análise de lucratividade e risco


▪ Risco operacional e financeiro
▪ Análise do ponto de equilíbrio
▪ Alavancagem operacional
▪ Alavancagem financeira
Unidades de ensino

5. Custo e estrutura de capital


▪ Estrutura de capital
▪ Teoria do custo de capital
▪ Modelo de precificação de ativos financeiros (CAPM)
▪ Custo médio ponderado de capital (CMPC)
Unidades de ensino

6. Criação de valor
▪ Valor econômico agregado
▪ Valor adicionado de mercado
▪ Introdução à análise de investimento
Evolução das finanças corporativas
Evolução das finanças corporativas

• O estudo de finanças se ajusta com os acontecimentos relacionados à


economia;
• Principalmente com o fim da era industrial, surgimento da era da
informação e da do conhecimento;
• A partir dos anos 20 do século XX, as finanças das empresas são
motivadas a evoluir de maneira a atender à crescente complexidade
assumida pelos negócios e operações de mercado.
Evolução das finanças corporativas

• Archer e D’Ambrosio (1969) apontam três abordagens para o


desenvolvimento do estudo em finanças:
I. Tradicional – tem suas prioridades voltadas para a vida e operações
financeiras descontínuas das empresas, conforme inseridas no ambiente
da época. A ênfase dessa abordagem recai sobre os fatos financeiros
das empresas que costumam ocorrer de tempos em tempos, não dando
maior destaque aos problemas administrativos de caráter mais rotineiro;
Evolução das finanças corporativas

II. Administrativa – priorizava as práticas rotineiras das empresas, atribuindo uma


natureza cotidiana, e não eventual como na tradicional. Nessa fase foram
introduzidos os estudos de orçamento, previsão de vendas, controles etc;
III. Atribui grande ênfase à importância da teoria econômica nas Finanças das
Empresas. Por exemplo, a partir do conceito econômico de “Investimento
Agregado” exposto na Teoria Geral de Keynes, chegou-se ao estudo do custo
de capital e taxa de retorno dos investimentos nas finanças das empresas.
Evolução das finanças corporativas

III. O comportamento das variáveis econômicas, como taxas de juros, inflação,


renda nacional, crédito, entre outros, é de fundamental importância para o
estudo do funcionamento das finanças das empresas;
• Na década de 1920, as indústrias se expandiram e houve o processo de fusões
das empresas para completar as linhas de comercialização. Embora fosse um
momento de apuração de grandes margens de lucros, os preços estavam
flutuando e havia escassez de recursos, reforçando a importância da estrutura
financeira da empresa.
Evolução das finanças corporativas

• Na década de 1930, verificou-se uma recessão econômica vinda da crise de


1929/30, destacando-se na época os estudos sobre solvência, liquidez e
recuperação financeira da empresa;
• Com a Segunda Guerra Mundial, na década de 1940, a função financeira
atribuiu maior importância à obtenção de recursos para financiar a produção de
bens;
• No início de 1950, houve uma rápida expansão econômica mundial, apesar do
receio quanto à possibilidade de uma recessão nesse período pós-guerra.
Evolução das finanças corporativas

• Isso acarretou uma mudança no foco do estudo de Finanças, que passou a se


caracterizar pela predominância das rotinas internas e pela preocupação com a
estrutura organizacional, que ficou conhecida como abordagem administrativa;
• No final da década dos anos 1950 e início da década de 1960, houve uma
redução na rentabilidade das empresas consolidadas. O elevado preço de
mercado das ações de novas indústrias resultou na escassez de recursos para
as empresas tradicionais, o que fez com que os estudos de custo de capital
ganhassem importância mais destacada.
Evolução das finanças corporativas

• Duas correntes são a base das finanças modernas, uma inaugurada por
Modigliani e Miller (1958), chamada de Finanças Corporativas, e a outra iniciada
por Markowitz (1952) e direcionada aos estudos de portfólio (carteira) e de risco
e retorno;
• No final da década de 1950, Modigliani e Miller (1958) demonstraram que o
valor de uma empresa independe de sua estrutura de capital, ou seja, eles
abordaram a irrelevância da estrutura de capital e da política de dividendos
sobre o valor de mercado da empresa.
Evolução das finanças corporativas

• Assim a forma como a empresa é financiada (quanto de dívidas e de recursos


próprios está financiando seus ativos), ou como paga dividendos aos seus
acionistas, não exerce influência sobre o seu valor. O valor de mercado da
empresa é o mesmo, independe dessas decisões;
Valor de mercado expressa o valor pelo qual um ativo pode ser negociado, em
determinado momento, no mercado. Esse valor é formado livremente pelas forças de
oferta e procura dos compradores e vendedores. O valor de mercado deve refletir as
expectativas de ganhos do ativo. Assim, por exemplo, se uma empresa prometer bons
lucros no futuro, seu valor de negociação (valor de mercado) é maior; caso contrário,
observa-se uma redução em seu valor.
Evolução das finanças corporativas

• A moderna gestão de risco começou a desenvolver-se a partir da Teoria


do Portfólio, inicialmente apresentada por Markowitz e estendida por
Sharpe, Fama e Lintner, entre outros importantes trabalhos;
• Markowitz em 1952 publicou um artigo, Portfolio Selection, o qual
difundiu a noção de que um investidor deve formar um portfólio com
base em seu retorno esperado e na variância dos retornos (risco).
Evolução das finanças corporativas

• A proposta básica para as decisões financeiras sugerida está em elevar o


retorno da empresa para certo nível de risco, ou reduzir o seu risco para
um determinado retorno;
• A redução do risco se daria por meio da diversificação dos ativos;
• Isso significa, na prática, ter ações de empresas de setores diferentes ou
tipos de ativos diferentes (imóveis e ações, por exemplo), de forma que
os retornos e os riscos se contrabalancem pela covariância inversa.
Evolução das finanças corporativas

• Com isso surge o modelo CAPM (Capital Asset Pricing Model) com o
objetivo de apresentar o retorno mínimo exigido por um ativo/investimento;
• Já a década de 1970, teve como principal característica a recessão mundial
oriunda do esgotamento do modelo de crescimento adotado no pós-
guerra. Além disso, o cenário econômico mundial enfrentou a crise do
petróleo e paralelamente a bolsa de Nova York entrou em crise,
aumentando ainda mais o ambiente de risco e incerteza.
Evolução das finanças corporativas

• Diante desse cenário, houve a retomada dos modelos quantitativos criados antes
da década de 1970, por Markowitz, Tobin e Sharpe. Nessa década, a Teoria de
Eficiência dos Mercados ganhou relevância com Eugene Fama, sendo essa uma
das mais importantes contribuições à Teoria de Finanças desenvolvidas nesse
período;
• Posteriormente, na década de 1980, o crescimento da economia norte-americana
teve como característica a manutenção de altos déficits orçamentários, importação
generalizada de produtos japoneses e europeus e adoção de uma política
monetária restritiva.
Evolução das finanças corporativas

• Esse cenário fez com que as taxas de juros internacionais aumentassem e


determinou que países em desenvolvimento tivessem dificuldades em honrar os
empréstimos adquiridos na década de 1970. Nessa década, a excessiva liquidez no
sistema financeiro mundial incentivou os bancos internacionais a concederem
crescentes financiamentos aos projetos de investimentos dos países em
desenvolvimento;
• Durante a década de 1990, houve o aumento da globalização da economia,
determinando o incremento do fluxo internacional de capitais, de produtos e de
serviços.
Evolução das finanças corporativas

• Este fenômeno levou a uma interdependência maior entre as economias dos


países, implicando no incremento da possibilidade de que um eventual colapso
econômico em um país resulte no contágio dos demais. Diante disso,
aumentou a preocupação com os riscos, incentivando a utilização de
sofisticados modelos e estratégias de avaliação e gestão de risco;
• Já no início do século XXI, houve escândalos contábeis nos EUA envolvendo
empresas reconhecidas, demonstrando a existência de conflitos de interesse
nas organizações e a necessidade de se ampliarem os mecanismos de controle.
Evolução das finanças corporativas

• Surge as concepções de governança corporativa e de maior transparência


nas relações entre gestores e acionistas ganharam maior destaque. Em 2002
foi aprovada pelo congresso norte-americano a lei Sarbanes Oxley (SOX),
com a finalidade de oferecer maior proteção aos investidores;
• Posteriormente a tudo isto, as finanças pessoais ganham destaque e passam
a ser objeto de estudos e consequentemente se desenvolve.
Evolução das finanças corporativas

Período / Situação Teoria


Século XX Organização e Sistematização
Década de 20 – Novas empresas Criação de fundos
Década de 30 – Recessão Recuperação financeira e liquidez
Década de 40 – Guerra Investimentos e financiamentos
Década de 50 – Expansão Relação Risco x Retorno
Décadas de 60 e 70 Eficiência e arbitragem
Década de 80 – Inflação Teoria da Agência
Década de 90 – Produtividade Estrutura de mercado e estudos comportamentais
A partir de 2000 e século XXI- Finanças sustentáveis, empreendedorismo, finanças
Globalização e mecanismos de internacionais
controle
Novas responsabilidades da administração
financeira

• A administração financeira é um campo de estudo teórico e prático que objetiva,


essencialmente, assegurar um melhor e mais eficiente processo empresarial de
captação (financiamento) e alocação (investimento) de recursos de capital.
Assim, envolve-se tanto com a problemática da escassez de recursos, quanto
com a realidade operacional e prática da gestão financeira das empresas,
assumindo uma definição de maior amplitude.
Novas responsabilidades da administração
financeira

• A própria evolução das finanças imprimiu no administrador uma necessidade


maior de visualizar toda a empresa, realçando suas estratégias de
competitividade, continuidade e crescimento futuro. Em verdade, o
administrador financeiro no contexto atual não pode assumir posições menos
envolventes de centrar suas preocupações unicamente nos mecanismos de
captação de fundos e aplicações na atividade da empresa. Deve gerenciar esses
recursos de forma a manter a saúde financeira e econômica da empresa e lograr
ainda alcançar suas metas estabelecidas e criar valor aos seus proprietários
(acionistas).
Dinâmica das decisões financeiras

I. Planejamento financeiro: o qual procura evidenciar as necessidades de


crescimento da empresa, assim como identificar eventuais dificuldades e
desajustes futuros. Por meio desse planejamento, ainda, é possível ao
administrador financeiro selecionar, com maior margem de segurança, os
ativos mais rentáveis e condizentes com os negócios da empresa, de forma
a estabelecer uma rentabilidade mais satisfatória sobre os investimentos;
Dinâmica das decisões financeiras

II. Controle financeiro: o qual se dedica a acompanhar e avaliar todo o


desempenho financeiro da empresa, como custos e despesas, margens de
ganhos, volume de vendas, liquidez de caixa, endividamento etc. Análises
de desvios que venham a ocorrer entre os resultados previstos e
realizados, assim como propostas de medidas corretivas necessárias, são
algumas das funções básicas da controladoria financeira;
Dinâmica das decisões financeiras

III. Administração de ativos: que deve perseguir a melhor estrutura, em


termos de risco e retorno, dos investimentos (ativos) empresariais e
proceder a um gerenciamento eficiente de seus valores. A administração
dos ativos acompanha também as defasagens que podem ocorrer entre
entradas e saídas de dinheiro de caixa, o que é geralmente associado à
gestão do capital de giro;
Dinâmica das decisões financeiras

IV. Administração de passivos: que se volta para a aquisição de fundos


(financiamentos) e o gerenciamento de sua composição (proporção entre
capital próprio e capital de terceiros), procurando definir a estrutura de
capital mais adequada em termos de liquidez, redução de seus custos e
risco financeiro.
Dinâmica das decisões financeiras

• Toda decisão financeira tem um risco associado e podem ser do tipo:


✓ Risco econômico – também chamado de risco operacional ou do negócio.
É inerente à própria atividade da empresa e às características do mercado
em que a empresa está inserida. Esse risco não depende da forma como a
empresa é financiada, dizendo respeito exclusivamente às decisões de
investimento;
Dinâmica das decisões financeiras

✓ Risco financeiro – é o risco associado às decisões de financiamento, ou seja,


à capacidade de a empresa honrar os compromissos financeiros assumidos.
Empresas com alto nível de endividamento apresentam alto risco financeiro.
Já empresas com baixo nível de endividamento apresentam reduzido risco
financeiro.
Dinâmica das decisões financeiras no Brasil

• A teoria de finanças discutida incorpora preferencialmente seus pressupostos


originais, sem atribuir maior preocupação a desequilíbrios estruturais de
mercado bastante comuns em países em desenvolvimento;
• Taxas de juros subsidiadas, taxas de juros de curto prazo mais elevadas que as
de longo prazo, carência de recursos de longo prazo para investimentos,
elevado grau de concentração industrial, entre outros aspectos, constituem-se
em realidades dessas economias, direcionando o conjunto das decisões
financeiras para um contexto de variáveis diferenciadas e de forte influência
sobre os resultados.
Dinâmica das decisões financeiras no Brasil

• Não é somente a inflação que altera a consistência original da teoria


financeira, os aspectos mencionados anteriormente estão presentes nas
economias, associados a altas taxas de inflação;
• Isso causa uma situação de desequilíbrio das regras de mercado, gerando
uma necessidade de uma maior atenção na elaboração dos modelos
financeiros aplicados a esta realidade;
Dinâmica das decisões financeiras no Brasil

• Na realidade brasileira, as decisões financeiras em condições ideais de


equilíbrio são bastante prejudicadas pela persistente insuficiência de
recursos de longo prazo para as empresas;
• Os recursos oficiais são as grandes fontes de capital permanente e, mesmo
assim, em volume bastante aquém das efetivas necessidades de mercado. As
linhas de crédito oficiais são limitadas e geralmente direcionadas a
programas específicos, atendendo a um número reduzido de empresas.
Dinâmica das decisões financeiras no Brasil

• As instituições financeiras privadas por seu lado, diante do próprio


desequilíbrio da economia, não conseguem captar poupança de longo prazo
e, consequentemente, suprir as necessidades de capital para investimento;
• Ambiente de restrições aos recursos de longo prazo tem limitado a
capacidade de crescimento e competitividade das empresas nacionais, que
precisam utilizar de recursos próprios para financiar o seu crescimento, cujo
montante não é o suficiente para lastrear a demanda por capital determinada
pelo mercado.
Dinâmica das decisões financeiras no Brasil

• Nessas condições de carência de recursos de maior maturidade, o endivida-


mento da empresa brasileira vem-se concentrando no curto prazo, limitando a
folga financeira e sua capacidade de expansão em condições de equilíbrio. Na
convivência com essa estrutura financeira, as decisões das empresas reiteram
sua preferencia pela capitalização, privilegiando a sobrevivência financeira e
não a competitividade.
Dinâmica das decisões financeiras no Brasil

• Deve ser avaliada em nossa economia, ainda, a presença de taxas de juros


diferenciadas determinadas pela natureza da fonte de financiamento, e não
pelo risco oferecido pela decisão de crédito. Em verdade, no mercado
brasileiro não é o risco da operação que define com prioridade o custo do
dinheiro; em grande parte, o encargo financeiro é definido pela natureza da
fonte de financiamento;
• Recursos provenientes de agentes oficiais de crédito ainda são as principais
fontes de fundos de longo prazo.
Dinâmica das decisões financeiras no Brasil

• Deve ser avaliada em nossa economia, ainda, a presença de taxas de juros


diferenciadas determinadas pela natureza da fonte de financiamento, e não
pelo risco oferecido pela decisão de crédito. Em verdade, no mercado
brasileiro não é o risco da operação que define com prioridade o custo do
dinheiro; em grande parte, o encargo financeiro é definido pela natureza da
fonte de financiamento;
• Recursos provenientes de agentes oficiais de crédito ainda são as principais
fontes de fundos de longo prazo.
Referências

1. ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. 7ª edição. São Paulo: Atlas, 2014.
• Capítulo 1

2. ASSAF NETO, A.; LIMA, F. A. Fundamentos de Administração Financeira. 3ª


edição. São Paulo: Atlas, 2017
• Capítulo 1

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